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DIREITO

PROCESSUAL CIVIL III

Maytê Ribeiro Tamura Meleto Barboza


Processo de execução
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar as partes e as respectivas competências nos processos de


execução.
 Ordenar os requisitos para a execução.
 Descrever tutela de urgência na execução.

Introdução
Para que seja possível executar uma dívida, é necessário que haja um título
executivo, sendo que este pode ser tanto judicial quanto extrajudicial.
A execução é basicamente a transformação de um direito em realidade.
Desde que possua um título executivo, o exequente pode cobrar do
executado aquilo que lhe é devido, por meio de um processo de execução.
Em outras palavras, conforme o art. 786 do Código de Processo Civil (CPC)
de 2015, caso o devedor não satisfaça a obrigação certa, líquida e exigível
consubstanciada em título executivo, a execução pode ser instaurada.
Neste capítulo, você vai ler sobre o processo de execução e sobre
como são identificadas as respectivas partes nesse tipo de processo,
além da competência para o seu julgamento. Após, serão ordenados os
requisitos para que se possa iniciar um processo de execução e, por fim,
você vai ler sobre a tutela de urgência na execução.

Partes e competências nos processos de execução


Existem dois tipos de título executivo: o judicial (art. 515 do CPC de 2015) e
o extrajudicial (art. 784 do CPC de 2015) (BRASIL, 2015). Segundo Câmara
(2015), quando a execução se consubstancia em um título executivo judicial,
o procedimento recebe o nome de cumprimento de sentença. Quando a exe-
cução se funda em um título executivo extrajudicial, é chamada de processo
de execução e está prevista no Livro II da Parte Especial do CPC de 2015.
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Portanto, o processo de execução tem o intuito de satisfazer o direito daquele


que se afirma credo de uma obrigação comprovada por um título executivo
extrajudicial. Segundo Didier Júnior et al. (2017, p. 143):

Entende-se por procedimento executivo o conjunto de atos praticados no sentido


de alcançar a tutela jurisdicional executiva, isto é, a efetivação/realização/satisfa-
ção da prestação devida, seja ela uma prestação de fazer, de não fazer, de pagar
quantia ou de dar coisa distinta de dinheiro. [...] a execução pode ser buscada por
meio de processo autônomo de execução ou de uma fase instaurada no bojo de
um processo já em curso. Tanto num como noutro caso, a execução se desenvolve
com observância de um dado procedimento, que é o procedimento executivo.

Entretanto, conforme o art. 783 do CPC de 2015, tal direito deve ser líquido,
certo e exigível, além de estar consubstanciado em um título executivo (BRASIL,
2015). De acordo com o art. 515 do CPC de 2015, são títulos executivos judiciais:

Art. 515 [...]


I — as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade
de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa;
II — a decisão homologatória de autocomposição judicial;
III — a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer
natureza;
IV — o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inven-
tariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal;
V — o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas, emolumentos ou
honorários tiverem sido aprovados por decisão judicial;
VI — a sentença penal condenatória transitada em julgado;
VII — a sentença arbitral;
VIII — a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça;
IX — a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à
carta rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça (BRASIL, 2015, documento
on-line).

O art. 784 do mesmo diploma legal elenca as hipóteses de títulos executivos


extrajudiciais:

Art. 784 [...]


I — a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque;
II — a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor;
III — o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas;
IV — o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela
Defensoria Pública, pela Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores
ou por conciliador ou mediador credenciado por tribunal;
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V — o contrato garantido por hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real


de garantia e aquele garantido por caução;
VI — o contrato de seguro de vida em caso de morte;
VII — o crédito decorrente de foro e laudêmio;
VIII — o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imó-
vel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio;
IX — a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos
na forma da lei;
X — o crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de
condomínio edilício, previstas na respectiva convenção ou aprovadas em
assembleia geral, desde que documentalmente comprovadas;
XI — a certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a valo-
res de emolumentos e demais despesas devidas pelos atos por ela praticados,
fixados nas tabelas estabelecidas em lei;
XII — todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir
força executiva (BRASIL, 2015, documento on-line).

De acordo com Câmara (2015), no processo de execução, existem o polo ativo e o


passivo. O ativo, que pode ser composto por um ou mais sujeitos, recebe o nome de
exequente. O passivo, que também pode ser constituído por um ou mais sujeitos, recebe
o nome de executado. Aquele que possui um título executivo possui legitimidade
ativa para a execução. Trata-se da legitimidade ativa ordinária.

O Ministério Público também pode ser um legitimado ativo ordinário,


naqueles casos que a lei prevê. Além disso, também há:

 legitimados secundários, como o espólio, os herdeiros ou os sucessores


do credor, quando este venha a falecer, momento em que se transfere
o direito existente no título executivo;
 cessionário, quando o direito presente no título executivo for transferido
por ato inter vivos;
 sub-rogado, quando haja sub-rogação legal ou convencional.

No processo de execução, haverá sempre o exequente, que é aquele que


possui o direito à prestação da obrigação, e o executado, que deve prestar a
obrigação ao exequente. Quanto ao polo passivo da demanda, a legitimidade
também pode ser originária ou secundária.
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Originária será a legitimidade passiva do devedor, assim reconhecido no


título executivo em questão. Será secundária ou superveniente quando se
tratar (CÂMARA, 2015):

 do espólio ou dos sucessores do devedor original;


 do novo devedor que assumiu a obrigação presente no título executivo
com o consentimento do credor;
 do fiador do débito constante de título executivo extrajudicial, mas não
aquele de débito representado por título judicial, a não ser que tenha
participado do processo de conhecimento;
 do responsável titular do bem vinculado por garantia real ao pagamento
do débito;
 do responsável tributário, de acordo com a legislação.

A legitimidade para figurar no processo de execução, em ambos os casos,


possui duas espécies: a originária e a secundária. A legitimidade originária é
sempre referente àquele que é mencionado no título executivo; a secundária
é referente àquele que adquiriu essa condição posteriormente.
Com relação à competência no processo de execução, existem dois tipos
de regime no Direito Processual Civil brasileiro. O primeiro está relacionado
às execuções consubstanciadas em títulos executivos judiciais, ou seja, ao
cumprimento de sentença. O segundo é referente às execuções fundadas em
títulos executivos extrajudiciais, isto é, ao processo de execução (CÂMARA,
2015). De acordo com o art. 781 do CPC de 2015:

Art. 781 A execução fundada em título extrajudicial será processada perante


o juízo competente, observando-se o seguinte:
I — A execução poderá ser proposta no foro de domicílio do executado, de
eleição constante do título ou, ainda, de situação dos bens a ela sujeitos;
II — tendo mais de um domicílio, o executado poderá ser demandado no
foro de qualquer deles;
III — sendo incerto ou desconhecido o domicílio do executado, a execução
poderá ser proposta no lugar onde for encontrado ou no foro de domicílio
do exequente;
IV — havendo mais de um devedor, com diferentes domicílios, a execução
será proposta no foro de qualquer deles, à escolha do exequente;
V — a execução poderá ser proposta no foro do lugar em que se praticou o
ato ou em que ocorreu o fato que deu origem ao título, mesmo que nele não
mais resida o executado (BRASIL, 2015, documento on-line).
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Portanto, o juízo competente dependerá desses detalhes dispostos nos


incisos do art. 781 do CPC de 2015. (BRASIL, 2015) Primeiro, poderá ser
proposta a execução no foro de domicílio do executado. Caso haja mais de
um, poderá ser em qualquer um deles e assim por diante.

Requisitos para execução


Existem dois requisitos básicos para se realizar qualquer execução. Em pri-
meiro lugar, deve haver um título executivo. Em segundo, a obrigação contida
nesse título executivo deve ser certa, líquida e exigível. O art. 786 do CPC de
2015 prevê que “A execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça
a obrigação certa, líquida e exigível consubstanciada em título executivo”
(BRASIL, 2015, documento on-line). Segundo Câmara (2015, p. 321):

Deve-se dizer, porém, e em primeiro lugar, que a verdadeira exigência para que
se instaure e se desenvolva o procedimento executivo não é a de que efetivamente
exista uma obrigação não adimplida. Isto porque é perfeitamente possível que o
executado demonstre que a obrigação a rigor nem existe (e, claro, se não existe não
pode ser exigível). A verdadeira exigência é a de que o exequente, ao demandar a
execução, afirme a existência de obrigação certa, líquida e exigível apresentada por
título executivo, sob pena de se considerar ausente o interesse de agir in executivis.

O primeiro requisito do título executivo, como mencionado, é o documento


no qual se funda a obrigação exequível. O segundo é que a obrigação seja
certa, líquida e exigível.

Para Neves (2017), a certeza é a indiscutibilidade da obrigação, quando não existe


controvérsia em relação à sua existência. Já a liquidez é quando o quantum debeatur,
isto é, o quanto é devido, já está determinado, sem a necessidade de se recorrer a
elementos externos para fixá-lo. A exigibilidade, por sua vez, refere-se ao fato de a
obrigação poder ser cobrada. Deve ter havido um inadimplemento, e a obrigação não
pode estar sujeita a termo, condição suspensiva ou ainda a uma contraprestação. Em
geral, sua prova é a data do vencimento ou ainda a prova da inexistência do termo
ou de condição para o cumprimento da obrigação.
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Desse modo, os requisitos para que seja possível a execução são os seguintes:

 que haja um título executivo;


 que a obrigação seja certa, líquida e exigível.

Tutela de urgência na execução


A tutela provisória é um instituto desprovido de definitividade. De acordo
com Câmara (2015), são fundadas em cognição sumária e podem ser de dois
tipos: de urgência e de evidência. A tutela de urgência, por sua vez, pode ser
cautelar ou satisfativa.
É possível requerer a tutela provisória de urgência também no processo de
execução, caso sejam verificados dois elementos fundamentais: a probabilidade
do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

A tutela cautelar é a tutela de urgência do processo, que objetiva o asseguramento do


futuro resultado útil do processo (CÂMARA, 2015). Por exemplo, quando um devedor,
antes de ter sua dívida vencida, tenta se desfazer de todos os seus bens penhoráveis.
Não é justo que o credor fique no prejuízo, e claramente se verifica uma situação de
perigo, isto é, perigo de prejuízo ao credor. Nesse caso, é possível que este requeira
uma tutela de urgência, garantindo a satisfação de seu direito.
Portanto, se uma pessoa possuir um título executivo em face de determinado
devedor e descobre que este vem dilapidando seu patrimônio a fim de se esquivar
do cumprimento de suas obrigações, ela pode fazer uso desse mecanismo processual
para se resguardar e garantir o sucesso de uma futura execução. Afinal, a má-fé de uma
pessoa não pode prejudicar outra, de modo que a tutela de urgência na execução é
um meio de defesa e de proteção do credor.

O art. 302 do CPC de 2015 frisa que:

Art. 302 Independentemente da reparação por dano processual, a parte res-


ponde pelo prejuízo que a efetivação da tutela de urgência causar à parte
adversa, se:
I — a sentença lhe for desfavorável;
II — obtida liminarmente a tutela em caráter antecedente, não fornecer os
meios necessários para a citação do requerido no prazo de 5 (cinco) dias;
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III — ocorrer a cessação da eficácia da medida em qualquer hipótese legal;


IV — o juiz acolher a alegação de decadência ou prescrição da pretensão do
autor (BRASIL, 2015, documento on-line).

BRASIL. Lei no. 13.105, de 16 de março de 2015. Código de processo civil. Diário Oficial
da União, 17 mar. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 18 nov. 2019.
CÂMARA, A. F. O novo processo civil brasileiro. São Paulo: Editora Atlas, 2015.
DIDIER JÚNIOR, F. et al. Curso de direito processual civil: execução. 7. ed. Salvador: Editora
JusPODIVM, 2017.
NEVES, D. A. A. Manual de direito processual civil: volume único. 9. ed. Salvador: Editora
JusPODIVM, 2017.

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