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Direito Processual Civil Profª.

Darling Lopes Vasques

Processo de Execução

O processo civil brasileiro prevê um processo de conhecimento para acertamento do direito, definição
do credor e da quantia devida e também uma fase de execução, que pode ser consequência procedimental dessa
ação de conhecimento (título executivo judicial) ou uma própria ação de execução (título executivo extrajudicial).

Vejamos algumas diferenças entre ação de conhecimento e ação executiva:

A tutela jurisdicional executiva visa efetivar uma situação jurídica subjetiva ativa ou seja, concretizar o
direito subjetivo reconhecido no título executivo judicial ou extrajudicial.

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1. Procedimento e classificações

O procedimento executivo, pode se de dar em:

a) Processo autônomo = título executivo extrajudicial


b) Fase de processo já instaurado = título executivo judicial

Buscando atender a finalidade da tutela executiva, temos duas formas de execução:

a) Execução direta = sub-rogatória = Estado-juiz se substituiu à vontade do devedor;


b) Execução indireta = meios coercitivos

Temos ainda:

a) Execução definitiva = é a execução do título definitivo, acobertada por coisa julgada material ou dó título
executivo extrajudicial;
b) Execução provisória = é a execução do título provisório, aquele que ainda pode ser substituído face ao julgamento
de recurso pendente.

2. Princípios no processo executório

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3. Partes no processo executório

3.1 - Art. 778: Legitimidade ativa: exequente = credor = legitimidade ordinária

OBS: sucessão ao exequente originário: §1º


Inciso I – legitimidade extraordinária
Incisos II a IV – legitimidade superveniente

3.2 - Art. 779: Legitimidade passiva: executado = devedor = legitimidade ordinária

OBS: sucessão ao exequente originário: §1º


Incisos II e III – legitimidade superveniente
Inciso IV, V e VI – legitimidade extraordinária

4. Competência – art. 781, CPC

Os critérios de competência são definidos em razão da matéria e do território, ou seja, define-se o


órgão materialmente para conhecer a causa e a comarca:
a) Domicílio do executado
b) Foro de eleição
c) Situação dos bens sujeitos à execução

Situações especiais:

5. Pressupostos para ação Executiva – art. 783

É aplicado ao processo de execução e à fase de cumprimento de sentença, todas os pressupostos e


condições da ação. (Arts. 2º, 17, 18, 337 e 485, CPC)

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Existem ainda pressupostos específicos :

a) Demanda executiva:

Quando há um processo de execução, a demanda se materializa por uma petição inicial. Quando há
fase de execução, a demanda executiva se materializa por simples petição nos autos.

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b) Título executivo

O título executivo comprova a presença das condições da ação executiva, materializa a obrigação e é o
documento indispensável à propositura da demanda. É indispensável para a admissibilidade da execução, mas não
implica na sua procedência.
Dever ser:
a) Líquido: objeto definido ou definível e com quantidade definida ou definível;
b) Certo: existência de obrigação exequenda; a certeza da obrigação não significa sua
imutabilidade ou indiscutibilidade.
c) Exigível: consubstancia o direito a uma prestação de forma eficaz, é aquela que não se
submete a qualquer condição ou termo que impeça o exercício do direito do credor.

A não satisfação pelo devedor, o torna inadimplente. Se o devedor não paga, o credor pode exigir a
execução forçada, com base no título executivo:
a) Judicial: decorrem do resultado de prestação da atividade jurisdicional: art. 515, CPC
b) Extrajudicial: decorrem do encontro de vontade das partes em uma relação de direito
material: art. 784, do CPC

6. Poderes do Juiz na execução

Na execução, a atuação do Judiciário se destina à satisfação do crédito, tendo em vista que visa a
realizar o interesse do exequente: receber o que lhe é devido!
A atuação do juiz importa um caráter inquisitorial: Arts. 772 e 773 + 139, todos do CPC.
Também existem diversas situações em que terceiros deverão cooperar com o órgão jurisdicional para a
satisfação do processo executivo, vejamos:

a) a vizinhança do imóvel a ser penhorado pode contribuir caso possua informações a respeito do
executado não encontrado;
b) os bancos devem apresentar, uma vez ordenados, a documentação relativa às movimentações
financeiras do executado;
c) os cartórios de registro de imóveis devem apresentar, uma vez ordenados, a documentação relativa a
imóveis de propriedade do executado.

Atenção: a interpretação do conteúdo normativo de medidas necessárias precisa ser feita de acordo com o poder
geral de efetivação das decisões judiciais (art. 139, CPC); não já um rol típico de medidas que podem ser tomadas
visando dar cumprimento à ordem de entrega de documentos e dados.

7 . Atos atentatórios à dignidade da justiça

O comportamento das partes, sujeitos do processo, independentemente de sua intenção, deve ser
transparente, legal e a conduta não deve ser contraditória. No CPC, devemos somar as normas dispostas no art. 77,
IV com art. 774. Nesses artigos, existe um rol de atuações omissivas e comissivas comuns na execução.

A consequência? Multa! Art. 774, do CPC

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Atenção: O art. 77, §2º, prevê que a multa aplicada pelo ato atentatório à dignidade da justiça é revertida ao Estado,
tendo em vista que o ato é diretamente contra o Judiciário. No caso do art. 774, a multa será revertida a favor do
exequente, que pode exigi-la nos próprios autos do processo de execução.

8. Responsabilidade Patrimonial – art. 789

O adimplemento da obrigação deve recair sobre o patrimônio do devedor.


A responsabilidade se caracteriza como a sujeição patrimonial à satisfação de um crédito; os bens que
respondem pela dívida são os presentes e futuros. Os presentes são os que já existiam no momento do ajuizamento
da ação e os futuros, aqueles que, impossibilitado o adimplemento pelos presentes, podem vir a responder caso
adentrem na esfera patrimonial do devedor ou responsável. Porém, o executado não pode estar permanentemente
à mercê da execução, isso significa que o atingimento dos bens futuros não é eterno. Já ouviu falar de prescrição
intercorrente? Pesquisar!!!

8.1 - Responsabilidade subjetiva da execução

Quem será o responsável, individualmente, na execução, pela obrigação constante do título executivo?
Temos os responsáveis originários, elencados no art. 789, CPC e os responsáveis secundários, dispostos no art. 790,
CPC.

8.2 - Responsabilidade objetiva

Deve ser analisada na conjunção de dois artigos : 790 + 832, ambos do CPC. Permite-se que os bens
indicados no art. 790 garantam a execução, desde que tais bens não estejam gravados pela impenhorabilidade.

8.2.1 - Responsáveis patrimoniais: são sujeitos que, em regra não são parte da relação material obrigacional, mas
tem seu patrimônio atingido pela execução.

8.2.2 - Responsabilidade executória primária: é do devedor solvente, que é titular da relação jurídica material,
responde primeiramente com seus bens face ao adimplemento da obrigação, ainda que seus bens estejam em poder
de terceiros.

8.2.3 - Responsabilidade executória secundária: sujeição de bens pertencentes a sujeitos não titulares da relação
material. Se bens de terceiros forem penhorados para garantir determinada execução, tem eles à disposição os
“embargos de terceiros”, ação própria, de conhecimento, que possui o objetivo livrar da construção judicial injusta
bens que foram apreendidos em um processo no qual o seu proprietário ou possuidor não figura como parte.

Todos os bens, salvo aqueles que a lei proíbe, podem ser objeto de execução!
8.3 - Bens submetidos ao regime de superfície:

O direito de superfície pode ser definido como sendo um direito real sobre coisa alheia que autoriza o
terceiro não proprietário a construir ou plantar em terreno de outrem, por tempo determinado, ou ainda, o direito
real de ter coisa própria de ter coisa própria incorporada em terreno alheio. (art. 1.369 a 1.377, CC)
Se a execução tiver por objeto obrigação de que seja sujeito passivo o proprietário de terreno
submetido ao regime do direito de superfície ou superficiário, responderá pela dívida, exclusivamente, o direito real
do qual é titular o executado, recaindo a penhora ou outros atos de constrição exclusivamente sobre o terreno ou
sobre a construção ou a plantação, a depender do legitimado passivo.

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A penhora anotada no registro de imóvel, deve deixar claro que se faz sobre o direito de superfície ou
sobre o domínio do terreno.

8.4 - Fraude à execução – art. 792

A verificação da fraude à execução não leva à invalidação do negócio jurídico de alienação ou oneração
do bem. Perante o credor, caracterizada e reconhecida a fraude, o negócio jurídico realizado pelo devedor é ineficaz,
permitindo-se a penhora regular do bem. Para o terceiro adquirente do bem, haverá responsabilidade sem débito
(haftung sem schuld).
A fraude à execução não exige necessariamente a propositura de processo executivo, esta pode ocorrer
na pendência de processo de conhecimento, o que é necessário é que o responsável tome ciência da existência da
ação.
Configurando-se a fraude, a ineficácia do ato é decretada com efeitos ex tunc.

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A caracterização da fraude à execução independe da demonstração do elemento subjetivo consistente


no consilium fraudis (conluio fraudulento, pois alienante (devedor) e adquirente (comprador) têm ciência do prejuízo
que causarão ao credor em vista da alienação de bens que garantiriam o adimplemento da obrigação), sendo
suficiente a prova do eventus damni (é a prática de ato que diminui o patrimônio do devedor, prejudicando o credor,
seja porque o ato o tornou insolvente ou porque praticado quando já estava em estado de insolvência)

O artigo 792 do CPC, elenca as situações em que a fraude à execução ocorre

I - quando sobre o bem pender ação fundada em direito real ou com pretensão reipersecutória, desde
que a pendência do processo tenha sido averbada no respectivo registro público, se houver;
II - quando tiver sido averbada, no registro do bem, a pendência do processo de execução, na forma do
art. 828;
III - quando tiver sido averbado, no registro do bem, hipoteca judiciária ou outro ato de constrição
judicial originário do processo onde foi arguida a fraude;
IV - quando, ao tempo da alienação ou da oneração, tramitava contra o devedor ação capaz de reduzi-
lo à insolvência;
V - nos demais casos expressos em lei.

As três primeiras versam casos de presunção absoluta de fraude à execução, amparadas na


oponibilidade erga omnes do conteúdo dos registros públicos; a quarta hipótese é idêntica àquela constante no art.
593, II, do CPC; a quinta compreende os demais casos previstos em lei.
Excluindo-se os casos do art. 792, incisos I – III, caberá ao exequente demonstrar a má-fé do exequente,
ou seja, deverá provar que o terceiro adquirente: tinha conhecimento do processo que, em tese, poderia levar o
executado à insolvência; tinha conhecimento do processo que se discutia a coisa alienada; vinha conhecimento da
constrição judicial. Logo, se o bem alienado comportar alguma forma de registro, e o exequente fizer a averbação no
respectivo registro, presumir-se-á, de forma absoluta, a má-fé do terceiro adquirente.
O reconhecimento da fraude à execução depende da publicidade e consequente conhecimento erga
omnes da situação do bem. Uma vez averbada no registro a situação do bem, o patrimônio do terceiro deverá ser
atingido pela execução!
O efeito da fraude à execução é que o negócio jurídico realizado entre devedor e terceiro é válido entre
eles, mas não produz efeitos conta o exequente. A venda do bem existe e vale entre os figurantes do negócio
jurídico, “mas é ‘como se’ não existisse perante o credor, que pode ignorá-lo, penhorando, desde logo, o bem
fictamente ‘presente’ no patrimônio do obrigado.

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Outras responsabilidades:

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