Você está na página 1de 64

Direito Processual Civil Executivo e Recursos – aulas teóricas 2º ponto escrito

Processo Executivo
Artigo 10º CPC

Nas espécies de ações temos o nº4, nº5 e nº6 ➭ as execuções são aquelas em que o
credor requer as providencias adequadas à realização coativa / coerciva do que lhe é
devido / de uma obrigação.

Exemplos: arrombar uma porta e tirar os bens móveis. Vai-se à conta bancaria e retira-
se um deposito bancário. Notifica-se a entidade patronal e pede-se uma X daquela
quantia.
Um terreno rustico ou apartamento, conseguimos que esse ato de coação seja através
do registo do meu ato de apreensão fortemente indiciador desta realização coativa.

Com isto, vamos efetivar um direito

Nota: uso da força para fazer cumprir o nosso direito – o agente de execução vai
coercivamente fazer valer um direito, através da execução do património do devedor

As ações executivas podem ter 3 fins distintos:


1) Pagamento de quantia certa – é aquela que mais completamente rege os interesses
do credor e a forma como as coisas que acontecem
2) Entrega de coisa certa
3) Prestação de um facto positivo ou negativo

Atenção: coisas incertas não se executam

Voltando ao artigo 10º CPC, vamos entender que (nº5 – norma imperativa) – toda a
execução tem por base um título pelo qual se determinam o fim e os limites da ação
executiva.
Um título é um documento no sentido jurídico da palavra e nós vamos estudar os
documentos a que a lei atribui a qualidade de título executivo. Este nº5 vai ser a base
de uma serie de verificações que temos de fazer quando queremos avançar com uma
ação executiva.

Vamos ainda referir a sistemática, ou seja ➭ como esta organizada a ação executiva

Pagamento de quantia certa – é aquela que maioritariamente encontramos nos tribunais


e mereceu uma maior positivação de regras e, por isso, vamos falar dela em 1º lugar

Nesta execução, a obrigação que está em causa tem de ser uma obrigação para
pagamento de quantia certa

1 Gabriela Pinto
Na ação para pagamento de quantia certa e, sendo certo que temos de ter como base
um título executivo ➭ vamos ter um documento que expresse a obrigação de alguém
ao pagamento de uma quantia certa.

Artigo 724º e seguintes CPC – ação executiva para pagamento de quantia certa

Título 3; Capítulo 1 – a ação executiva está dividida entre ordinária e sumária.

No processo declarativo, a regra é a do processo ser comum e seguir forma única. A


única divisão é do artigo 5?7º CPC que permite ao juiz aligeirar o procedimento, mas só
temos forma única.

Relativamente às ações executivas, temos ações executivas que seguem forma de


processo especial, tais como ações de execução por alimentos devidos.

Agora estamos a falar nas ações executivas de processo comum

Quando estamos a falar na ação executiva para entrega de coisa certa ou para
prestação de facto ➭ aqui a forma é única

Ação Executiva para Pagamento de Quantia Certa:


à Pode seguir a forma ordinária ou sumária

Importa desde logo, termos a ideia de que o tipo de título vai ditar grandes diferenças
a nível da ação executiva

As ações executivas pressupõem a existência deste interveniente que é o agente de


execução ➭ que veio de facto absorver uma serie de funções que estavam dispersas
quer pelo juiz quer pelos próprios funcionários judiciais.

Eles (agentes de execução) chamaram a eles essas funções de forma incontornável.

No processo ordinário vamos ter uma situação em que, logo que entra o Requerimento
Ordinário VS Sumário

Inicial, a parte contraria vai ter conhecimento de que foi interposta uma ação executiva
➭ vai ser 1º citada e só depois vai ser executada

No âmbito do processo sumário ➭ a pessoa não sabe logo que a ação esta a correr contra
ela e só mais tarde, já depois de acontecer a coercibilidade é que vai perceber que existe
uma ação executiva contra ele.

O legislador por força daquilo que são as situações em que pode fazer o processo na
forma sumária (excecional face à forma ordinária), inverte o contraditório:
➭ a distinção entre o processo ordinário e sumário depende sempre se o
contraditório é produzido logo antes do ato coercivo ou não.

2 Gabriela Pinto
Nesta execução o ato comum é a penhora, ou seja, o ato coativo corresponde à penhora
➭ ato de apreensão judicial de bens que pode ser física ou jurídica (exemplo: através do
registo predial)

Este ato de apreensão de bens, sendo que o património do devedor é aquele que
responde pelas obrigações do mesmo, é a garantia do credor

Atenção: legislador ao fazer esta diferenciação não se esqueceu que estas situações de
ações sumárias são situações em que o devedor já devia saber que contra ele iria ser
interposta uma ação de execução.
Aqui o tipo de título executivo vai ter uma importante função, porque só pela sua
existência, o devedor pode deduzir que contra ele será interposta uma ação executiva
➭ é nestas situações que faz sentido a inversão do contraditório

Vamos ter 2 regimes diferentes:


Æ o mais completo no sentido de prever todas as fases é o ordinário; por sua vez,
o sumário vai ser mais restrito e aplicam-se regras que já estão aqui previstas no
âmbito do processo ordinário.
o O nº de artigos na ação sumária é reduzido em relação aos do processo
ordinário ➭ quando estivermos a falar do momento da penhora, é igual
em ambos os regimes.
o Se eu estou a fundamentar um ato de penhora num processo sumário,
temos de usar o artigo 550º CPC ➭ é este artigo que nos permite aplicar
normas do processo ordinário.

550º CPC norma remissiva – temos sempre de fazer esta referência

Quanto aos outros fins de processo:


ö também têm normas reduzidas, porque também têm esta particularidade ➭
estas ações executivas que se iniciam de facto com este fim com base no título
que nos termos do 10º/5 CPC obriga a que isso assim seja.
Exemplo: vamos supor que A me deve um carro, mas imaginemos que eu sei que o carro
ardeu e já não há carro para entregar.

Æ Então eu vou intentar uma ação executiva para entrega de coisa certa?
Nº4 – o título é que vai ditar o fim e os limites da ação executiva.

A coisa, não existindo, podemos convolar / converter o título em ação executiva para
pagamento da quantia certa fazendo a liquidação do valor do carro que desapareceu.

3 Gabriela Pinto
O mesmo vai acontecer em algumas circunstâncias com a prestação de facto: A não
pinta o muro a que se comprometeu ➭ começa com uma ação executiva para prestação
de facto, e depois esta é convertida em ação executiva para pagamento de quantia certa
à não vamos agarrar o homem e pô-lo lá a pintar

Relação entre o direito processual e substantivo


Artigo 827º, 828º, 829º CC

O direito substantivo vai definir os regimes de responsabilidade patrimonial e de


sujeição à execução dos bens objeto de garantia real e de obrigação de prestação de
coisa determinada bem como também no que diz respeito à exequibilidade intrínseca
da prestação que se quer fazer valer através do tribunal.

Há uma referência à execução específica enquanto entrega de coisa determinada


prestação de facto fungível ou prestação de facto negativa.

O que é que isto quer dizer? – quando nós estamos a falar em execução especifica nas
ações executivas não estamos a falar em contratos promessa e execução específica do
contrato promessa.

Temos também ainda no código civil referências dos artigos 400º, 548º 777º

Tudo isto normas substantivas que devem ser conhecidas ou relembradas porque
podem ser da maior importância para compreender o regime e compreender a
efetivação da obrigação que está em causa

Artigo 829º al. a)


® Aqui estamos a falar em medidas de coação indireta, portanto, o devedor ao
cumprimento das obrigações que são impostas, mas que são insuscetíveis de execução
específica.

Este artigo funciona precisamente para ligações que não são possíveis executar “in
totum” – se a pessoa obrigada (o devedor obrigado) as não quiser cumprir, portanto,
porque estamos perante obrigações que são insuscetíveis de obrigação específica a
pressão que este 829º al. a) gera em quem tem de cumprir, fará eventualmente com
que esse cumprimento seja efetivado, mas não enquanto execução específica da própria
obrigação.

Há princípios que também têm de se verificar na ação executiva atendendo a que estamos
perante uma realidade em que o ponto de partida na ação executiva é a de que já há um
acertamento do direito já há uma declaração do direito

4 Gabriela Pinto
Isto representa algo de completamente diferente do que aquilo que se passa na ação declarativa

Eu quero que se diga o direito, seja sob a


Recorro ao Tribunal para forma de mera apreciação, seja na forma de
que seja dito o direito, para condenação, seja na forma constitutiva
que seja acertado o direito

Na fase seguinte, a execução relativamente às decisões proferidas nas ações cujas


sentenças são título executivo (nem todas as sentenças são título executivo) aqui já
parto de outro pressuposto

o direito está dito e agora passamos


para a fase coativa – coercibilidade

• Há também outras situações em que esse se acertamento do direito, essa


declaração do direito, já está pressuposta num determinado documento, portanto,
o valor que eu tenho na sentença condenatória.

o único tipo de sentença ou de decisão que pode estar na base de uma ação executiva são as
decisões ou sentenças ou acórdãos condenatórios

Portanto, enquanto pressuposto para avançar para a ação executiva, estou no mesmo
patamar tenha:
o Uma sentença;
o Uma decisão condenatória;
o Um documento a que a lei atribuiu essa mesma força executiva, por
consubstanciar uma declaração de direito.

Exemplo: tenho um documento autenticado, um documento autêntico e vou ao notário


e digo que devo 10.000€ ao Manuel, que me comprometi com ele. Dito isto à frente do
notário, este plasma esse acontecimento tendo em conta a sua autoridade num
documento.

Este documento autêntico cuja declaração de vontade é feita perante a entidade que tem esse
poder para recolher a minha declaração e a formalizar num texto – é título executivo

Documentos autênticos vs Reconhecimento presencial de assinaturas


Documentos autenticados ou autênticos não se confundem com reconhecimento
presencial de assinaturas ou por semelhança, são coisas distintas, podem ser feitas
também por notários umas e outras como por advogados umas e outras, mas não são a
mesma coisa.

5 Gabriela Pinto
Portanto...
Quando eu tenho um documento onde o Manuel diz eu devo 10.000€ ao Joaquim e vou
reconhecer a assinatura a um advogado ou ao notário ou a um solicitador – não tenho um título
executivo

Estes pormenores não são pormenores são por maiores e podem ditar o desfecho fatal numa
altura em que estamos a pensar que podemos avançar com uma ação executiva e não podemos,
não temos título.

Continuando...
Quando se fala de a ação executiva ser uma declaração ao acertamento do direito é para
que se perceba que:
® O que o legislador fez ao definir o que é um título executivo, o que é que pode no fundo
alcançar esta qualidade de título executivo para depois poder ser o fundamento da ação
executiva, transversalmente aos vários tipos de títulos executivos está patente e está
subjacente a esta ideia de acertamento do direito, declaração do direito.

Se isto é comum a todos os títulos ➭ quando falamos nas formas de o executado se defender
numa ação executiva, vamos perceber que o peso de uma declaração de direito resultante duma
sentença de um despacho judicial é mais forte do que a obtida num documento autenticado,
num documento autêntico, nalgum daqueles documentos em que a lei determina
expressamente que aquele documento é título executivo.

A lei determina que o documento autêntico ou documento autenticado, de


acordo com o artigo 703º é título executivo e não explica mais nada, mas subjaz
a isto o quê?
Alguém vai fazer uma declaração de vontade perante uma autoridade a quem é reconhecido
esse poder de receber essa declaração e conferir-lhe autenticidade e, portanto, posso
perfeitamente imaginar que este documento nestes termos possa servir já para avançar para a
fase coerciva

Então qual é a diferença?

A diferença é que naquilo que são decisões condenatórias eu tive o


privilégio de ver escrutinado pela via judicial a obtenção daquele título

Aquilo que será a maior expressividade da concretização da declaração do direito e, por outro
lado, a possibilidade de nessa fase prévia se exercer contraditório, haver um verdadeiro
princípio de igualdade de armas a ser concretizado, a oportunidade de defesa.

® Terei a possibilidade de usar mais argumentos quando o título não passou pelo crivo
judicial do quando passou pelo crivo judicial.

Não podemos dizer que o princípio da igualdade de armas e o princípio do contraditório não
estão presentes na ação executiva, mas podemos dizer que:

6 Gabriela Pinto
Quando olhamos para a ação executiva sozinha, ela não é vista da mesma forma que é vista uma
ação declarativa.

Na ação executiva já temos dito direito, portanto, já partimos para uma fase seguinte com
alguma desigualdade no sentido formal que, por um lado tem alguém que tem o título onde
está dito o direito e, por outro lado, o outro que se vai sujeitar às consequências da
coercibilidade, isto é, da determinação de medidas coativas para cumprir a obrigação que está
ínsita no título.

Temos a forma e temos a substância no título:


• A forma é a que é ditada pela lei;
• A substância porque um título tem de ter subjacente uma obrigação exequenda à uma
obrigação que tenha certas características, que reúna determinados pressupostos para
poder ser considerada passível de ser executada.

Conclusão
Apesar de não nascerem na mesma igualdade de circunstâncias vão ser garantidas ao
executado o princípio da igualdade de armas e o princípio do contraditório com as adaptações
próprias deste tipo de ação, e por outro lado há que reunir determinados pressupostos para
podermos estar verdadeiramente perante um título executivo.

Pressupostos Processuais
Quando estamos para entrar com uma ação é o mesmo que imaginar...

Vou levar o carro para a revisão, para a oficina e depois os mecânicos têm que primeiro fazer
uma checklist onde colocam:
ü Travões;
ü Direção;
ü Mudança do óleo;
ü Ar-condicionado;
ü Mudança de pneus, etc...

Eu tenho de saber se está tudo direito porque sem isto não posso fazer nenhuma viagem longa,
o que significa que...
® Eu tenho a parte estática que é o checkpoint, ou seja, tenho tudo – é competente o
tribunal, é parte legítima, tenho patrocínio judiciário e depois temos o desenrolar das
ações.

Em executivo é a mesma coisa


Temos de saber fazer o checklist dos pressupostos processuais na ação executiva para verificar
se efetivamente posso avançar para a dinâmica do processo executivo propriamente dito
porque senão ele morre logo na praia

7 Gabriela Pinto
Qual é a particularidade aqui?
Na ação executiva (porque ela tem de facto características diferentes), vamos ter além das
referências aos pressupostos processuais gerais (competência do tribunal, legitimidade das
partes, patrocínio judiciário, etc.)

Vamos ter um outro conjunto de pressupostos que são chamados pressupostos processuais
específicos da ação executiva que têm que ver com características qualitativas da obrigação que
subjaz ao tipo, então o que é que eu tenho de ter aqui?

Para além de ter de ver e ter de saber encontrar qual é o tribunal competente e se as partes são
legítimas para estar a litigar nesta execução e saber se é obrigatório ou não o patrocínio
judiciário...
Tenho de saber se a obrigação exequenda que está ínsita,
que está enformada no título, é certa, líquida e exigível.

Porque se não for certa, não for líquida e se não for exigível
• Não posso querer avançar com uma ação executiva.

Não temos isto na ação declarativa:


Na ação declarativa irei tornar eventualmente uma obrigação como certa, como líquida e como
exigível se, por exemplo, depois resultar numa condenação, naturalmente passou a ser exigível
se não era líquida ficou líquida por força da ação executiva se não fosse certa também ficaria
durante todo o processo declarativo a determinação da liquidez e da certeza da obrigação e
chego ao fim e vou ter – uma sentença que vai representar uma obrigação certa líquida e
exigível

Só essas sentenças com obrigações certas, líquidas e exigíveis podem vir a ser alvo de uma
ação executiva

Portanto...
® Na ação executiva temos dois grupos de pressupostos: pressupostos processuais
especiais e os pressupostos processuais gerais.

Pressupostos processuais gerais – são os do tribunal, da legitimidade das partes, do patrocínio


judiciário, da capacidade judiciária, da personalidade judiciária.

Mas depois vamos ter normas específicas para a ação executiva que estão num capítulo próprio.

Pressupostos processuais especiais ➭não os encontramos na ação declarativa, temos de os


identificar a priori no título executivo.

Este é o princípio geral


No fundo é o princípio e é o fim

8 Gabriela Pinto
Ou seja...
Imaginando que estamos perante uma obrigação que se torna exigível com a interpelação do
executado, isto é, o devedor que depois vai ser executado.

Estamos perante uma obrigação que ainda não é exigível e que só se torna exigível com a
interpelação do executado

Interpelação essa que vai coincidir com a citação na ação executiva

A partir do momento em que depois há o momento da citação, a interpelação produz o efeito


de exigibilidade de obrigação exequenda.

O certo é que...
1) Vou ter de iniciar a ação executiva;
2) Identificar qual é a obrigação;
3) Dizer que a partir do momento em que o réu é citado a obrigação se tornou exigível;
4) Verificar se os outros requisitos e pressupostos estão cumpridos para poder estar perante
o título executivo e avançar com ação executiva.

Todos estes conceitos, obrigações líquidas, obrigações certas, obrigações exigíveis – vamos
encontrá-las no direito substantivo.

Obrigação Exigível
àÉ aquela que já pode ser efetivamente pretendida obter coercivamente junto do devedor
porque o devedor já foi interpelado a tal;

Obrigação Certa
àÉ a obrigação que é qualitativamente determinada, a líquida e quantitativamente
determinada.

Exemplo: tu deves-me dinheiro, quanto? – não sei.


Isto ainda não é líquido, ainda não está quantitativamente determinado, e porque não é? – eu
posso estar a dever o capital mutuado e juros e ainda não os quantifiquei, portanto enquanto
não os quantificar não tenho a quantificação, a liquidez absoluta da obrigação que eu quero dar
à execução através do título.

Portanto, vou agora apreender os bens do devedor para que, com o produto da venda deles me
pagar da obrigação, mas então quanto é que ele te deve? – pois isso não sei.

Não faz sentido, primeiro tenho de saber quanto é que me devem, ou seja, tenho de tornar
possível que se quantifique quanto é que me devem para depois poder ir atrás dos bens

Ao fazer a apreensão dos bens e os converter por exemplo em venda e


com a venda converto-os em euros para pagarem aquilo que me devem.

9 Gabriela Pinto
Qualitativamente determinado à estamos a falar de outro assunto:

Exemplo: Deves-me imensos alimentos (obrigação de entregar imensos alimentos), isto é,


produtos alimentares, quais? – Pois isso não sei, tenho tanta coisa no meu armazém, tenho latas
de salsichas, de grão-de-bico, de feijão vermelho, feijão frade, atum em lata, imensas coisas,
tudo se come, o que é que eu me obriguei a fornecer? – isso agora não sei.

• Isto é admissível de poder ser executado?


• De poderem ser levadas a cabo medidas coercivas para alguém cumprir uma obrigação
que eu nem sei qual é?

No bom rigor qualitativo não posso, tenho de as tornar qualitativamente determinadas

Eu posso estar perante uma obrigação em que eu digo que estou obrigado a entregar uma coisa
ou a pagar a outra porque isto é possível: “ou me entregas X produtos ou então entregas-me
uma determinada quantia para eu poder adquirir num outro sítio” – nisso têm de estar
cumpridas as regras também do código civil, determinadas no momento em que avanço para a
ação executiva, porquê?

Porque eu tenho de decidir o que é que vou fazer, se


vou cobrar uma quantia ou se vou querer a medidas
coativas para entrega de um conjunto de coisas.

Portanto, onde estão essas normas sobre como é que isso faz? – no código civil

A escolha por exemplo na obrigação alternativa pode ser do devedor ou pode ser do credor:
® Se a escolha da obrigação alternativa for do devedor o que é que acontece? – quando
avanço para a ação executiva, dou a possibilidade ao executado de decidir qual é a
obrigação pela qual ele vai responder

® Se a escolha da obrigação alternativa for do credor, segundo as regras do código civil,


quando avanço com a ação executiva preambularmente (logo lá no requerimento),
identifica-se tudo, “fulano X vem intentar ação executiva” e vou escolher qual é a ação
executiva.

Vou avançar porque tenho um título que permite os dois fins de ação executiva e segundo as
regras substantivas eu é que escolho qual é a alternativa que eu quero seguir...

Portanto...
1. Se decidir que é a quantia em dinheiro – vou lhe chamar ações para o pagamento de
quantia certa;
2. Se decidir que quero a entrega da coisa – vou lhe chamar ação executiva para entrega
da coisa

No preâmbulo digo que intento uma ação executiva contra o fulano X, sou portadora do título
X que vou anexar e no título o devedor obrigou-se alternativamente a X.

10 Gabriela Pinto
Segundo as leis de normas de direito substantivo a escolha é do credor exequente e, portanto,
o exequente escolhe esta obrigação e daí vai dar à execução – ou se penhoram bens para pagar
a coisa ou se vai atrás do bem e vai-se apreender o bem (dependendo da escolha).

Uma coisa e certa


Ou porque já está no título;
Ou porque eu posso preambularmente definir estes requisitos especiais;

Eu só posso avançar passa a ação executiva quando a obrigação for certa, líquida e for
exigível

Exemplos à contrário no que diz respeito à liquidez e no que diz respeito à


exigibilidade:
A emprestou 10.000€ a B, B não devolveu a quantia, entretanto, venceram-se juros uma vez que
era um mútuo oneroso.

Avanço com o requerimento executivo para o tribunal competente, sou a parte legítima – tenho
de ver se sou eu mesmo a assinar ou se é o mandatário judicial quando o patrocínio for
obrigatório, e eu digo que tenho este título, documento autenticado ou autêntico (pode ser um
ou outro, são ambos títulos executivos) e, portanto, agora quero receber esses 10.000€ e
também quero os juros.

Só que eu não posso dizer só isto, que quero os juros, tenho de dizer que ➭ quero juros e tenho
de fazer as continhas aritméticas.

Foi aprovado por lei naturalmente uma portaria que definiu quais são as minutas para as ações
executivas, tem lá um local onde a pessoa coloca o valor do capital depois põe o valor calculado
aritmeticamente precisamente para discriminar:
1) Qual é o valor do capital que eu estou a dar à execução;
2) Para fazer a tal liquidez, tornar líquida a obrigação exequenda porquanto o título diz
para além do capital o devedor é obrigado a pagar-me juros de mora.

Portanto...
® Eu tenho de calcular, isto é, fazer uma conta aritmética para depois diferenciadamente
colocar lá quais são os juros calculados segundo a tabela, segundo a taxa legal também
publicada em lei, isto vai dar um valor total e o valor de execução à data em que entra o
valor da soma do capital mais daqueles juros calculados e vem num total ser o valor
daquela ação.

Com esta pequena operação o que é que eu fiz?


Æ Fiz um cálculo aritmético, ou seja, tornei líquida a obrigação in totum, capital + juros.

Exemplo: as letras são títulos executivos, têm uma data de emissão e, por regra, uma diferente
data de vencimento.

Podem vencer no mesmo dia, mas, por regra, isso não acontece, uma vez que, a letra existe para
que haja a possibilidade de trocas comerciais em que estas representam dinheiro e que se
justifica quando a pessoa não vai pagar no mesmo dia.

11 Gabriela Pinto
Imaginado que...
Tenho seis letras de uma sequência de uma relação comercial que tenho com um fornecedor e,
portanto, fui fornecida e para pagamento da mercadoria emiti, assinei e entreguei ao credor seis
letras de câmbio, devidamente preenchidas com datas de vencimento sucessivamente ao dia
cinco de cada mês.

Tinham sido transações durante todo o ano, até agosto e a primeira letra vencia-se a cinco de
outubro e as restantes cinco venciam-se no mesmo dia cinco dos meses subsequentes.

Hoje a 31 de outubro, quantas letras já se teriam vencido das seis que o credor tinha? – apenas
uma

Imaginando agora que a de outubro não foi paga, espera pela de novembro e também não foi
paga, isto é, vai ao banco para descontar a letra e não está lá fundo, diz então que vai pegar nas
outras e executá-las já.

O que vai acontecer? – vamos ter quatro letras inexigíveis porque a obrigação ainda não se
venceu.

• Estamos a falar de uma obrigação de prazo certo e determinado e o prazo ainda não
ocorreu.

A obrigação exequenda tem de ser certa, líquida e exigível

Quando estamos a analisar um caso prático de executivo vamos ter a necessidade de


recorrer ao livro I do CPC, nomeadamente ao artigo 10º para justificar e fundamentar
que estamos perante uma ação executiva, que provém do direito de ação ➭ artigo 2º
CPC

Em relação às partes nos vamos ter 4 capítulos inseridos no capítulo IV.

Como vamos fazer a leitura da sistemática das normas que temos de recorrer para
resolver um caso prático?

® Temos disposições gerais;


® Temos disposições especiais;

As disposições especiais são específicas (aprofundadas) em relação ao regime geral, e


por essa razão não podemos esquecer de nos socorrermos ao regime geral.

Exemplo destas disposições especiais:


As relativas às regras sobre a personalidade e capacidade judiciária

São aplicáveis diretamente também para as ações executivas

12 Gabriela Pinto
Ou seja...
¶ temos disposições especiais e, portanto, elas são especificas em relação ao
regime geral, mas não nos podemos esquecer de ir ao regime geral. São normas
especiais e não excecionais, portanto, há normas gerais às quais temos de nos
socorrer.

Regras sobre a personalidade e capacidade judiciaria


são aplicáveis diretamente também às ações executivas

Se virmos as epígrafes do capítulo IV CPC à Aqui não há nenhuma norma que indicie
que vai haver um regime especial para a personalidade e capacidade judiciária.

Ou seja...
Se for colocada uma questão sobre um menor que pretende interpor uma ação
executiva para pagamento de quantia certa, e eu quero colocar em causa a sua
capacidade judiciária, não vou encontrar qualquer norma especial para o efeito à vou,
aliás, levantar a questão relativa à sua capacidade judiciária com recurso às disposições
gerais do título I.

Porém ➭ no que diz respeito à legitimidade das partes e ao patrocínio judiciário já vão
existir normas especiais.

Legitimidade
Artigo 53.º CPC
(Legitimidade do exequente e do executado)

1 - A execução tem de ser promovida pela pessoa que no título executivo figure como credor e
deve ser instaurada contra a pessoa que no título tenha a posição de devedor.

O título executivo é de fundamental importância no âmbito de uma ação executiva,


demonstrando, também, essa importância para a determinação do pressuposto da
legitimidade è É com base no que consta do título (expressamente, por escrito) que
posso e vou determinar a legitimidade na ação executiva

No nº1 do artigo 53º à A execução tem de ser promovida pela pessoa que no título
executivo tenha a posição de credor e deve ser instaurada sobre a pessoa que conta
como devedor no título.

2 - Se o título for ao portador, será a execução promovida pelo portador do título

13 Gabriela Pinto
No nº2 temos uma especificação / particularidade em relação a esta regra porque posso
estar na posse de um título que não expresse o credor, desse modo, como será a
execução promovida?

Exemplo: é o caso dos documentos ao portador (cheque ao portador / letra ao portador)


à Significa que o título tem uma ordem de pagamento, mas não diz a quem é que se
tem de se pagar (não é obrigatório que esteja indicado), ou seja, vai ser pago a quem
estiver na posse do título

Outros desvios à regra


Artigo 54.º CPC
(Desvios à regra geral da determinação da legitimidade)

1 - Tendo havido sucessão no direito ou na obrigação, deve a execução correr entre os


sucessores das pessoas que no título figuram como credor ou devedor da obrigação exequenda;

è Artigo 54º CPC – Morre o credor e agora os herdeiros querem dar andamento a uma
ação executiva, todavia, não são eles que constam do título à Mas, há uma exceção à
regra, sendo por isso, possível darem início a uma ação executiva.

É feita uma habilitação, são alegados os factos e é legitimada a posição de sucessão


hereditária à Posto isto, está justificada a legitimidade para interpor uma ação
executiva por parte dos herdeiros, desde logo porque o título é anterior à morte do
decujos.

O mesmo em relação ao lado passivo à Eu vou avançar contra o decujos mas alegando,
desde logo, que é contra os herdeiros do mesmo.

Portanto...
❀ A sucessão ativa ou passiva está aqui protegida

Nota: A habilitação faz-se durante o processo executivo, vem-se ao processo fazer esta
legitimação por sucessão hereditária ➭ isto caso o credor ou devedor morram durante
o decurso da ação.
O artigo 54º diz na 2ª parte à “no próprio requerimento para a execução o exequente
deduz os factos constitutivos da sucessão”

É claro que aqui o artigo não nos fala em sucessão por morte, mas sim sucessão no
direito (intervivos) ou na obrigação (mortiscausa).

Há sucessão por morte ou por cessão de créditos – essa sucessão intervivos (cessão de
créditos) pode também funcionar aqui e, portanto, temos que alegar
complementarmente, logo no início do requerimento esta figura da cessão de créditos
à É na fase preambular da ação executiva que eu tenho de vir demonstrar / alegar todas
estas coisas.

14 Gabriela Pinto
2º conjunto de exceções:

Artigo 54.º CPC


(Desvios à regra geral da determinação da legitimidade)

2 - A execução por dívida provida de garantia real sobre bens de terceiro segue
diretamente contra este se o exequente pretender fazer valer a garantia, sem prejuízo
de poder desde logo ser também demandado o devedor.

è A realidade de execuções por dívidas providas de garantias reais sobre bens de 3º

Que situações figuram neste caso?


Exemplo: Imaginemos um documento autêntico (que é um título executivo – 703º) em
que o B deve 30.000€ ao A. Só que paralelamente a isto, A só empresta mediante uma
garantia. B diz que não tem nada, e arranja um amigo C, que vai dar em garantia um
pequeno terreno rústico em Baião sob a forma de hipoteca (garantia real). Este amigo C
de Baião, não é devedor de nada à O bem dele é que é um garante de uma dívida de
outrem.

Os garantes só estão presentes para garantir que se o devedor


não pagar, então o credor tem como liquidar o valor em dívida
à Tem um bem afeto à garantia de uma obrigação de B

Portanto, se o credor assim o pretender segue diretamente contra este (terceiro) a


execução da dívida.

Continuação do exemplo...
Temos o documento autêntico e, entretanto, foi constituída uma garantia por registo na
conservatória, de uma hipoteca a favor do credor A.
O devedor não paga, ele até foi com os 10.000€ de A jogar para o casino da Póvoa.

Como vamos recuperar o dinheiro? Ele não tem bens e já não tem dinheiro à Temos de
avançar para o bem do 3º (garante), mas apesar deste não ser devedor e não estar
inscrito no título, podemos considerar, desse modo, que este artigo estabelece uma
exceção

è Tenho de recorrer a este artigo para que coloquemos C (3º) na qualidade de


executado e tenhamos a possibilidade de ser C a responder pela dívida, mesmo não
sendo ele o devedor.

Para que possa existir uma penhora sobre os bens de alguém é necessário que a parte
seja devedor e seja executado

15 Gabriela Pinto
Se não for executado à Nunca os bens dessa pessoa podem ser penhorados

à Ultrapassamos esta questão qualificando alguém como executado

Isto, de acordo com as especificidades previstas na lei que preveem estes


desvios à regra, onde só é executado quem consta no título.

Temos de criar as condições para dar cumprimento à máxima de só penhorar


o património do executado à Temos de qualificar, primeiramente, o terceiro
como executado para podermos penhorar aquele bem dado em hipoteca.

Porém...
Podemos ter B que afinal tem uma mota e tem mais a sua conta bancária com 300€, ou
seja, tem bens. Mas, mesmo assim, eu posso preferir ir de imediato à garantia.

Uma das alternativas a ficar com o produto da venda do bem, é ficar mesmo com o bem.

A lei também o diz à Podemos começar, de imediato, por atacar o bem de 3º ➭


qualificá-lo como executado e chamar à colação a garantia real.

à Ou posso querer chamar ambos (quer o devedor, quer o bem de terceiro);

à Ou posso chamar só B e depois C

É uma prerrogativa que tenho

Este artigo reflete estas possibilidades todas alternativas ou cumulativas.


A escolha dos bens que quero atacar é que está dependente dos bens que são
efetivamente existentes.

Artigo 54.º CPC


(Desvios à regra geral da determinação da legitimidade)
3 - Quando a execução tenha sido movida apenas contra o terceiro e se reconheça a
insuficiência dos bens onerados com a garantia real, pode o exequente requerer, no
mesmo processo, o prosseguimento da ação executiva contra o devedor, que é
demandado para completa satisfação do crédito exequendo.

4 - Pertencendo os bens onerados ao devedor, mas estando eles na posse de terceiro,


pode este ser desde logo demandado juntamente com o devedor.

16 Gabriela Pinto
O bem dado em garantia é um bem próprio do devedor (tudo aquilo que seja suscetível de
ser penhorado é o que vai responder pela dívida àresponde pelas obrigações todo o
património do devedor).

Acontece que o devedor pode ter afetado um bem em concreto àquela dívida e então,
eu, exequente embora não esteja impossibilitada de querer penhorar outros bens que
não o onerado, serei burra se não for buscar logo em 1º o bem onerado, salvo se tenha
perdido valor (ou seja, o bem que foi onerado já não tem qualquer valor, desvalorizou
com o tempo – se o devedor tem um salário será esse bem que quererei que seja
penhorado em 1º).

à Deve ser por esse bem que se começa a penhora. Mas podemos ter outra preferência
e não fazer uso do bem onerado para pagamento daquela verba.

Já coisa diferente é...

Se eu tiver um 3º fiador

Atenção: Não confundir a oneração de um bem ao pagamento de uma dÍvida vs uma


garantia pessoal dada por 3º e pelo seu património.

Há garantias reais e há garantias pessoais.


• A garantia real é um bem em concreto a garantir uma dívida, se o credor não quiser
esse bem não pode se pode socorrer a mais nada desse 3º;
• A garantia pessoal é a pessoa que está afeta ao pagamento da dívida, incluindo todo o
seu património ➭ aquele terceiro garantirá a dívida com todo o seu património.

Se eu quiser que responda pela dívida o património do fiador à É evidente que aí o


fiador tem de estar a assumir essa qualidade através de um documento e poderá ser
executado porque consta no título.

Se ele (fiador) renunciar, expressamente, ao benefício da excussão prévia, pode ser ele
o primeiro a responder por esta dívida. Portanto, quem dá a garantia sabe que à partida
só vão ser atacados os seus bens depois de excutido todo o património do devedor
principal à o fiador é devedor subsidiário

Se o fiador tiver renunciado (uma vez que é um direito disponível) dessa sua
subsidiariedade na resposta à divida, então o credor vai escolher entre um e outro

Nota: O fiador não é terceiro, não podemos confundir à O fiador é um devedor


subsidiário, mas é devedor e há de constar no título e portanto, é executado se assim o
exequente entender.

Se eu tiver vários devedores no título, eu posso para já só avançar para um, quer o
devedor principal como o fiador (caso tenhamos o benefício da excussão prévia
afastado).

17 Gabriela Pinto
à Está na minha livre disponibilidade, como credor, só querer ir contra o devedor
principal. Se a meio do processo o devedor principal ficar sem bens, sucessivamente,
posso chamar o fiador.

Artigo 55.º CPC


(Exequibilidade da sentença contra terceiros)

A execução fundada em sentença condenatória pode ser promovida não só contra o


devedor, mas ainda contra as pessoas em relação às quais a sentença tenha força de
caso julgado.

Temos aqui um caso específico de exequibilidade de sentença condenatória

Artigo 56.º CPC


(Coligação)

1 - Quando não se verifiquem as circunstâncias impeditivas previstas no n.º 1 do artigo


709.º, é permitido:

A coligação também é possível com impedimentos previstos no 709º/1 – a contrario


permite várias conjugações de pluralidade ativa e passiva, a única coisa que temos de
relembrar é se há algum tipo de impedimento no artigo específico da fase da execução
(709º/1) à Faz aqui uma referência sobre cumulação de execuções fundadas em títulos
diferentes.

O que é que significa os desvios à regra geral da legitimidade?


Quando estou perante normas violadas relativamente à legitimidade ➭ as
consequências irão ser as mesmas, quer para as normas gerais quer para as específicas

Das duas uma ➭ temos uma situação de litisconsórcio necessário onde podemos
suprir essa falta de pressuposto processual (1); ou então temos uma situação de
legitimidade singular ou onde o litisconsórcio não poderá ser suprido, dando origem à
absolvição da instância (2).
Artigo 58.º CPC
(Patrocínio judiciário obrigatório)
1 - As partes têm de se fazer representar por advogado nas execuções de valor superior
à alçada da Relação e nas de valor igual ou inferior a esta quantia, mas superior à alçada
do tribunal de 1.ª instância, quando tenha lugar algum procedimento que siga os termos
do processo declarativo.

3 - As partes têm de se fazer representar por advogado, advogado estagiário ou


solicitador nas execuções de valor superior à alçada do tribunal de 1.ª instância não
abrangidas pelos números anteriores.

18 Gabriela Pinto
Nestas normas especiais temos uma particularidade também no que diz respeito ao
patrocínio judiciário (subponto da legitimidade no que diz respeito à representação por
advogado / advogado estagiário / solicitador).

Não podemos justificar o pressuposto de patrocínio judiciário através dos artigos 40º
e ss. (disposições gerais), o que não significa que partindo deste artigo em concreto (58º)
eu não tenha de ir ao regime supletivo dos artigos 40º e ss aplicável ao processo
declarativo.
® Nas execuções superiores a 30,000€ as partes têm de fazer representar-se por
advogado (é obrigatória a constituição de advogado).
® Nas execuções superiores a 5,000€ e inferiores a 30,000€ também é necessário
que as partes se façam se representar por advogado, caso haja algum
procedimento que siga os termos do processo declarativo.

Voltamos aqui a ter o valor como requisito determinante para a verificação do


pressuposto processual de patrocínio judiciário

Neste último patamar, desde que noa haja incidentes de cariz declarativo, não é
necessário o patrocínio judiciário.

® No nº3 é necessário que as partes se façam representar por advogado, advogado


estagiário ou solicitador nas execuções superiores a 5,000€ (no exemplo anterior,
se não existir um incidente de cariz declarativo não irá ser obrigatória a
constituição de advogado, mas sim de apenas advogado estagiário ou solicitador)

Consequências ➭ Falta de Constituição Obrigatória de Mandatário Judicial


❀ Agora se quisermos ver as consequências da falta da constituição obrigatório de
advogado, aí sim já vamos para o regime geral ➭ art.º 41º CPC

No artigo 58º está definido o critério (específico), as consequências estão previstas no regime geral
Muito importante
É necessário que façamos uma conjugação fundamentada do recurso a regimes gerais
quando há regimes especiais e, para esse efeito temos os artigos 550º + 551º à são
muito importantes e estão previstos no livro II. Ou seja, não podemos aplicar
diretamente à ação executiva o artigo 41º sem que façamos referência ao artigo 551º/1
CPC.

No Teste / Exame: Artigo 41º ➭ 58º ex vi 551/1º CPC

É por força do 551º/1 CPC que podemos aplicar artigos do processo declarativo na
ação executiva
Caso contrário não temos fundamento – temos de explicar muito bem

19 Gabriela Pinto
Títulos Executivos (703º Código de Processo Civil)
Na ação executiva, até mais ainda do que na ação declarativa, a abordagem que fazemos está
muito suportada na lei ➭ o suficiente para resolvermos questões práticas.

Artigo 703.º
Espécies de títulos executivos
1. À execução apenas podem servir de base:
a) Os documentos exarados ou autenticados, por notário ou por outras entidades
(advogados, solicitadores, cônsules) ou profissionais com competência para tal, que
importem constituição ou reconhecimento de qualquer obrigação;

O conceito base do que é um título consubstancia-se num documento, ou seja, vamos ter de ter
presente o que são documentos a existência de vários tipos deste.
O tipo de documentos que, juridicamente, tem uma relevância para este efeito e para efeitos
probatórios está definido na lei substantiva do CC.

Para efeitos de ação executiva, tenho de qualificar o documento para saber se efetivamente se
trata de um título executivo

A qualificação dos vários tipos de documentos encontra-se estatuída no código civil.

è Temos, portanto, os documentos particulares / autênticos / autenticados.

O reconhecimento da assinatura é um ato próprio formal em que a entidade que o reconhece


apenas confirma se a assinatura é da titularidade de quem assinou.

Um documento autêntico vai recolher as declarações de vontade de alguém e plasmá-las num


documento.

Quando falo em documentos autênticos ou autenticados:

® Ou eu declaro algo perante uma entidade oficial que tem poderes para, no fundo, depois
a plasmar num documento ➭ conferindo-lhe autenticidade na declaração que eu
prestei.
® Ou eu trago perante aquela entidade um documento já com uma declaração de vontade
aposta e apenas, perante a parte que a proferiu, vou confirmar que esta quis declarar o
que está escrito no documento (trazido por si).

Nada disto é confundível com o reconhecimento de uma assinatura

O que faz com que não seja título executivo ➭ um documento assinado por João que diz que
deve 1M€ ao Manuel, por força do empréstimo que este lhe fez há 6 meses atrás, este data e
assina, e depois vai reconhecer a assinatura a um notárioà isto é um documento particular com
uma assinatura reconhecida (não é nem um instrumento autêntico, nem autenticado).

São os documentos autênticos e autenticados que podem


ser títulos executivos verificados, naturalmente os
restantes requisitos.

20 Gabriela Pinto
Exemplo: Se eu tiver um documento elaborado por um particular que vai a um cartório notarial
ou advogado em que o João diz que deve muito dinheiro a Manuel que este último lhe foi
emprestando ao longo da sua vida, dato e assino, e depois levo para que o documento seja
autenticado.

É possível que este documento consubstancie um título executivo? Não, não tem os restantes
pressupostos especiais, ora, não basta ter a confirmação legal de documento autêntico, mas
terá que ter também inserido em si ➭uma obrigação que tenha de ser certa, líquida ou exigível.

São estas condições que vão permitir verificar se tenho um título executivo que me permita
avançar com uma ação executiva ou se tenho outro tipo de declaração de vontade que não
consubstancia essa possibilidade.

Exemplo: Uma declaração feita perante um notário / advogado em que alguém diz ➭ “Estou no
Estado civil de divorciada” Esta declaração não permite avançar para uma ação executiva, apesar
de ser um documento que até foi realmente confirmado por uma autoridade oficial e que desse
modo, em abstrato, se consubstancia num documento próprio típico a que podemos considerar
um título executivo à A verdade é que não configura essa qualidade

Este requisito formal do documento ser autêntico / autenticado é muito importante

Outra nota relativamente aos títulos executivos que vêm referenciados no artigo 703º CPC ➭ A
aplicação da lei no tempo, naquilo que foram sendo os títulos executivos ao longo da nossa vida
processual em Portugal e efetivamente antes do Código de Processo Civil de 2013.

Antes do CPC de 2013, tínhamos como sendo possível, títulos executivos correspondentes a
documentos particulares, desde que neles estivesse consubstanciado uma obrigação pecuniária
ou de entrega de coisa, ou de prestação de facto assinada pelo devedor (aqui nem sequer era
necessário o reconhecimento da assinatura ou o documento ser autêntico / autenticado).

Apesar disto já não constar no artigo 703º, existe uma realidade que pode hoje ser utilizada à
luz do CPC anterior:

Imaginemos que eu tenho um documento particular de 2000 assinado pelo A, a dizer que A deve
10.000€ a B. Nunca foi utilizado o documento para nada, certo é que a certa altura A incumpre
total ou parcialmente.

Se demonstrar, objetivamente, que está perante um documento feito naquela data e caso
queira usar o documento como título executivo para se poder lançar mão de uma ação
executiva, poderá fazê-lo. Ora, só não será se se tratar de um documento falso.

Se, objetivamente e verdadeiramente, estiver perante um documento feito naquela


data (até pode estar com a assinatura reconhecida ou não, porque não era
pressuposto) e quiser usar o documento como título executivo ➭ posso fazê-lo

21 Gabriela Pinto
A jurisprudência andou em desconformidade, uns consideravam que não havia um título
executivo e outros consideravam que havia. Até que foi fixada jurisprudência e aliás, foi
declarado inconstitucional à O entendimento de que um documento particular (realizado
aquando da vigência da lei anterior) fosse impedido de ser usado com esse fim.

Atualmente, temos esta certeza, porque há houve declaração com força obrigatória geral por
parte do Tribunal Constitucional (por força de mais de 3 decisões nesta matéria), por essa razão,
podemos ser confrontados com a existência de um documento particular que tenha sido obtido
à luz da lei anterior à E isso servirá como título executivo

Hoje, à luz do CPC não temos os documentos particulares como títulos executivos.

Na altura, foi importante possibilitar a hipótese de admissibilidade de qualificação de


documentos particulares como títulos executivos, para acelerar algumas situações de cobranças
de dívidas que as pessoas assumiam para pagamentos em prestações e depois incumpriam, e
para não ter de se inundar os tribunais com ações declarativas (a fase prévia declarativa) à O
legislador abriu a possibilidade a este tipo de título, porém, em 2013 retirou esta hipótese

Atualmente, apenas podem configurar títulos executivos as hipóteses previstas no 703º

Artigo 703.º
(Espécies de títulos executivos)
1 - À execução apenas podem servir de base:
b) As sentenças condenatórias;

Desde logo, temos as sentenças condenatórias.

Quando falamos de sentenças enquanto decisões pura e simplesmente de mera apreciação ou da


constatação da existência, modificação ou extinção do direito potestativo à Estas sentenças não são
exequíveis.

à Não se executa uma extinção de um contrato de casamento;


à Não se executa a constituição de uma servidão de passagem.

Isto não precisa de força coerciva para produzir efeitos


jurídicos, uma vez que produz os seus efeitos
independentemente de ser necessário requerer medidas
coativas ou coercivas para o cumprimento do direito.

Isto relaciona-se com os direitos potestativos e direito subjetivos propriamente ditos

Não significa que não olhemos para uma sentença e vejamos que apesar de lá estar inserida uma
decisão que diz “António e Maria consideram-se divorciados e ao mesmo tempo condene o marido
a ter de pagar uma pensão de alimentos de 500€ por mês” por força da dissolução do casamento
correu por apenso naquele processo.

Eu não posso querer executar o divórcio propriamente dito, uma vez que pela mera decisão judicial
que decreta o divórcio já produz, naturalmente, os seus efeitos.

22 Gabriela Pinto
Mas...

Posso ter de ir atrás do património da ex-cônjuge mulher porque esta não paga a
pensão de alimentos na qual ficou condenada ➭ aqui já temos uma componente da
sentença condenatória. Uma sentença pode ter vários pedidos cumulados

® Podemos ter a mera apreciação;


® Podemos ter um pedido constitutivo;
® Podemos ter ainda, uma condenação.

Podemos ter todos estes pedidos cumulados na mesma sentença.


à Sendo que só podemos executar a parte da condenação.

Exemplo: Interponho uma ação declarativa para que seja declarado que o terreno é meu, porque
o outro diz que não é. A seguir que me reconheça a necessidade que tenho, uma vez que, tenho
um terreno encravado e necessito da constituição de uma servidão de passagem para aceder à
via pública e no fim que condene o meu vizinho que resolveu ter um portão com grades de 3m
fechadas com cadeado e eu não conseguia passar à Neste exemplo, eu tenho 3 pedidos
distintos para apreciar.

Artigo 703.º
Espécies de títulos executivos

1. À execução apenas podem servir de base:


c) Os títulos de crédito (letras, livranças e cheques), ainda que meros quirógrafos, desde que,
neste caso, os factos constitutivos da relação subjacente constem do próprio documento ou
sejam alegados no requerimento executivo;

Temos aqui 2 possibilidades:

à Quando estamos perante títulos de crédito, temos, então, uma divisão entre o título de
crédito propriamente dito (quando ele reúne todos os requisitos formais que a lei perspetiva),
estes títulos têm uma lei própria que os regula è A lei uniforme das letras e livranças e a lei
uniforme dos cheques.

Portanto, estes títulos, desde que os requisitos estejam preenchidos ➭ são


títulos executivos por si só, sem necessidade de invocar a relação subjacente.

Sendo detentora ou até possuidora de um título ao portador (sem designação do seu possuidor)
ou seja, estando na posse física do documento, apresentando a execução e verificados estes
requisitos dos quais, naturalmente, vão se salientar o preenchimento devido do título (com a
data de vencimento, a data de emissão, a ordem dada a “quem” à tem que ser alguém)
elaborado e apresentado à execução pelo menos, no prazo de 6 meses a contar da sua data de
emissão ➭ isto para as letras e para as livranças

Vou ter um título executivo onde não irá ser preciso,


sequer, demonstrar qual a razão de ser dele aparecer

23 Gabriela Pinto
Exemplo: Imaginemos um cheque emitido por A para pagar a B uma quantia à Em que A saca
uma ordem ao banco para que este pague a B uma quantia de 10000€. A não dirige o cheque
em nome de B (tem, no cheque, um sítio específico para lá colocarmos o nome da pessoa a
quem queremos fazer o pagamento com a ordem que damos ao banco para este proceder ao
pagamento).

Temos aqui um triângulo:


• A deve dinheiro a B. A tem um banco onde deposita dinheiro. A adquire os cheques do
banco à onde, mais tarde, emite uma ordem de pagamento ao banco para o banco
pagar a B os 10000€ que deve.

Mas...
Não é necessário que coloque, no cheque, o nome de B à No sítio onde se diz: “Pague-se à
ordem a”, se A não colocar o nome de B, se este estiver na posse do cheque, quando for ao seu
banco leva este cheque, deposita e ele é depositado na sua conta.

Se B perdeu o cheque e se qualquer outra pessoa o encontrou, essa pessoa leva o cheque ao
seu banco e deposita-o

Agora, se depois A pode ir ou não contra essa pessoa exigir enriquecimento sem causa porque
não existia qualquer razão para A lhe ter dado aqueles 10000€ já se afigura uma situação
diferente. Mas a pessoa pode, efetivamente, depositar o cheque na conta dele uma vez que o
cheque é ao portador.

Portanto, é importante a posse do título

Se utilizar esses títulos de crédito como a lei exige, nos termos de preenchimento e nos termos
do tempo em que se apresentam estes títulos à execução ➭ nem preciso de dizer que este
cheque foi devolvido.

Exemplo: Imaginemos, B, entretanto, deposita o cheque a pagamento no banco e ele vem


devolvido, vai à compensação (que é uma entidade que vai confirmar ou não se existe fundo na
conta da qual eu saquei o cheque para pagar) e vê que não tem lá dinheiro. Essa entidade
carimba “sem provisão”, devolve o cheque a B, e B fica, com um título executivo.

B vai poder proceder para uma execução à “Execute este título” - sem ter que dizer se foi
dinheiro emprestado, se foi para pagar uma mota que A lhe vendeu (o motivo é irrelevante)

Agora, quando não estão verificados esses requisitos:

® Quando já passou o prazo, por exemplo, tenho um cheque com 4 anos, uma letra com
5 à tenho-os na minha posse e fui confiando sempre que me iam pagar aquilo e agora
quero apresentar-me com este documento à execução.

O artigo diz que eu posso usá-los (aos títulos quando já não preenchem os requisitos)
como meros quirógrafos ➭ ele vale por si como título executivo, mas tem de ser
acompanhado de uma prévia alegação dos factos que estão na base da emissão daquele
documento
Agora sim, eu já tenho de fazer referência à relação subjacente

24 Gabriela Pinto
E faço logo no início do requerimento executivo, portanto, como preâmbulo

Quando morre o exequente ou morre o executado, previamente já sei que morreu, uma vez que
começo a execução, embora sabendo que tenho de cumprir a regra de que o título é que define
quem é parte legítima ativa ou passiva, por dizer:

® Apesar do título ser em nome de “B” como ele morreu... ➭ faço a habilitação logo
naquele momento prévio, momento em que deu entrada a execução.

O mesmo se passa aqui à Aqui diz “ainda que meros quirógrafos, desde que, neste caso” ou
seja, enquanto meros quirógrafos, constem do título esses factos indiciários da relação
subjacente ou se não constarem eu tenho que os alegar.

Æ Não é normal num cheque ao portador, onde depois passe o período para ele poder ser
apresentado sem a alegação da relação fundamental, estar escrito o porquê de se passar
o cheque àquela pessoa (a razão de ser do cheque).
Æ Por vezes nas letras está ➭ costuma dizer: “para pagamento da fatura número X de
fornecimento de tubos, por exemplo”. Porque as letras e as livranças são utilizadas em
relações comerciais. As letras enquanto, títulos de crédito puro, que pretendem ser
documentos que agilizam as relações comerciais, é normal haver uma referência, no
próprio documento, à relação subjacente

Se não estiver no documento a relação subjacente, a lei diz que deve ser alegada no
requerimento executivo.

Remissão à Lei uniforme às letras e às livranças (DL nº262/83, de 16 de Junho).

Artigo 703.º
Espécies de títulos executivos

1. À execução apenas podem servir de base:

d) Os documentos a que, por disposição especial, seja atribuída força executiva.

Neste caso, tem de ser o legislador a dizer, através de disposição especial (norma específica, que
diga que naquele caso, o documento é um título executivo) a atribuir força executiva aos
documentos.
Exemplo mais comum: As atas de condomínio. Porém, nem todas as atas de condomínio podem
ser títulos executivos:
São títulos executivos as atas de condomínio nas quais, se
determine e se decida, que é conforme a existência de uma
divida de um determinado condómino quanto às quotas que ele
tem de pagar mensalmente ao condomínio pelas partes
comuns.
Tem de haver na ordem de trabalhos, a indicação de que
se vai discutir as quantias que estão em divida àquela data
pelos condóminos ➭ a título de quotas de condomínio ou a
título de quotas extraordinárias de participação, por
exemplo, em obras extraordinárias.
Æ Tem de estar identificado quem é o condómino;
Æ Qual é que é a quantia;
Æ Depois disso, tem de ser deliberado, e a ata tem de
25 estar válida (formalizada de acordoGabriela
com aPinto
lei)
A partir daqui, com esta ata, porque a lei o diz no DL Nº268º/94, de 25 de Outubro, constitui-se
um título executivo.

Atencao: Existe uma alteração relativamente à lei da propriedade horizontal, alterada em 2022,
de maneira a incluir também naquilo que pode ser à execução por força de uma ata de condomínio
➭ as penalizações constantes de regulamentos de condomínio, e honorários devidos, também
previstos nos regulamentos de condomínio
Era uma dúvida que os tribunais iam criando nas suas
decisões, quando entendiam que apenas podia ser título
executivo uma ata que se referisse às quotas de
condomínio não pagas.

® Se o regulamento determinasse uma penalização no atraso no cumprimento de +10


euros por cada mês, por exemplo, ou todas as despesas que fossem suportadas pelo
condomínio por força deste incumprimento, são de responsabilidade do condómino
faltoso ➭ Os tribunais tinham dúvidas em relação ao facto de também puderem integrar
isto na execução.

Agora não há dúvidas ➭ A lei foi alterada pelo legislador

Ha outros titulos executivos:


o As contas hospitalares ➭ há regulamentação própria que diz que a notificação dessas
contas hospitalares aos destinatários, é título executivo.
o As contas de emolumentos nas conservatórias de registo comercial ou nas
conservatórias de registo predial também são título executivo.

Atencao: É necessário fazer remissões dos exemplos que estão no livro para o artigo 703º.

Requisitos de Exequibilidade da Sentença


Voltando para as sentenças condenatórias...
Se repararmos na sistémica do nosso Código de Processo Civil, vemos que o título I tem como
epígrafe: “Do título executivo” ➭ temos aqui, portanto, uma preocupação sobre as espécies do
título. E depois fala-nos dos requisitos de exequibilidade e requisitos dos diversos títulos com
as particularidades que o legislador entendeu que seriam relevantes ➭ São de verificação
obrigatória (caráter imperativo).

Aqui iremos fazer a “ponte” do que já estudamos sobre os recursos.

Artigo 704.º
(Requisitos da exequibilidade da sentença)
1 - A sentença só constitui título executivo depois do trânsito em julgado, salvo se o recurso
contra ela interposto tiver efeito meramente devolutivo.

Na 2ª parte deste nº1, eu posso estar perante um título executivo de uma sentença que não
tenha transitado em julgado caso esta tenha efeito meramente devolutivo.

26 Gabriela Pinto
A contrario, apesar de não ter transitado em julgado a sentença, ainda assim está perante um
título executivo ➭ esta é a ilação e conclusão da leitura deste número 1

1. Sentenca condenatoria ou decisao condenatoria ➭ As decisões também podem


ter exequibilidade enquanto equiparadas a sentenças ou acórdãos. Se recorrer de uma
decisão, o que vou ter a seguir é um acórdão, depois o que vamos executar será o
acórdão, eventualmente.

2. Tem de estar a decisão à partida, esta é a regra, transitada em julgado. Uma decisão
transitada em julgado é aquela que já não admite recurso ou reclamação ➭ Esta noção
de trânsito em julgado não sofre exceções, o que sofre exceções são as regras que fazem
depender a prática de um ato, do eventual trânsito em julgado ou não de uma decisão.

3. Eu tenho ainda a exceção a esta regra, quando recorro da decisão e esse recurso tem
efeito meramente devolutivo. O devolutivo opõe-se ao suspensivo e como o nome indica
por suspensivo ➭ suspendem-se os efeitos da decisão, entre eles a possibilidade de
executar a mesma. No devolutivo não se impede a possibilidade de executar a sentença,
ou seja, interposto o recurso, posso ainda assim avançar para a ação executiva.

A espécie de título vai ser muito relevante para regras procedimentais da dinâmica do processo
executivo, desde logo o legislador faz uma separação:

Sentenças judiciais ou arbitrais Outros títulos

® Também faz depender do tipo de título, a forma do processo da ação executiva

A análise que se segue é no âmbito da verificação dos pressupostos processuais e de seguida


a dinâmica da ação.
Especiais ➭ certeza, exigibilidade e a liquidez da
obrigação exequenda vão determinar que esses
Temos dois grupos de pressupostos processuais mesmos pressupostos estejam verificados.

Gerais ➭ são aqueles que a nomenclatura


conhecemos da ação declarativa

Estes pressupostos são retirados e verificados, sejam eles gerais ou especiais perante o título,
que é onde vamos determinar tudo na ação executiva

Há exceções a estas regras por exemplo ➭ a questão da legitimidade: O executado já morreu,


consta o nome dele no título, naturalmente não vou interpor ações contra este.

Æ Quando avançamos para a ação executiva, não sabemos tudo acerca dos executados,
nem podemos saber devido á questão da proteção de dados. O agente de execução vem
informar ao processo de que o executado morreu antes de interdita a ação executiva,
neste caso a professora (foi uma situação da vida real dela, enquanto advogada) não
sabia que o executado estava morto.

27 Gabriela Pinto
O que é que vai acontecer?

O agente de execução comunica e é uma das questões que tem de ser levada a conhecimento
do juiz...

Mesmo que estejamos perante uma ação executiva que não comece com despacho liminar
(processo sumário) neste caso tem de ir ao juiz ➭ o juiz indeferiu liminarmente esta execução,
porque pelo que consta do título a pessoa já não é viva, e como não houve qualquer
habilitação feita previamente à A execução não pode versar contra um morto

O que é que eu posso fazer a seguir?


Justifico que o executado já morreu ➭ Faço uma habilitação prévia logo ali no requerimento
inicial, e já consigo ir contra os herdeiros do executado.

Este indeferimento liminar não quarta o pedido, impede-me é a nível de pressupostos


processuais, que vá contra aquela pessoa pois à Ela já não tem personalidade jurídica, logo
não pode ser demandada numa ação.

Depois em relação a esta organização, os pressupostos gerais e os pressupostos especiais

• Ambos os pressupostos têm de estar verificados para se poder ter sucesso no


desenrolar da parte dinâmica da ação executiva, tal como aprendemos na ação
declarativa.

Se não se verificarem os pressupostos, no limite, a ação não prossegue:

ü Se o tribunal for incompetente em razão da matéria ➭ Absolve-se o réu da instância;


ü Se a parte não for legítima ➭ Absolve-se a parte da instância;
ü Se o patrocínio judicial for obrigatório e não for suprido ➭ Também se absolve da
instância ou dependendo do lado em que está a faltar o patrocínio desconsidera-se por
exemplo a defesa apresentada.

Portanto, aquilo que são as consequências da não verificação dos pressupostos, onde tenho de
os (pressupostos) encontrar também, na ação executiva, serão as mesmas?

Tenho de ver primeiro se tem título, tenho de ter a verificação dos pressupostos gerais

Se não se verificarem, o que é que acontece processualmente?


➭ Isto é o OJ da ação executiva

Temos de saber o que é que acontece quando os pressupostos especiais não se verificam, como
também tem de se saber o que é que acontece quando os pressupostos gerais não se verificam.

28 Gabriela Pinto
• Não basta identificar o que é que não está verificado, tem de se ir mais além e dizer qual
a consequência.
Se estivermos perante um problema de incompetência territorial na ação
executiva ➭ a consequência vai ser a mesma da incompetência em razão do
território na ação declarativa: Que é a remessa para o tribunal competente.

Nota: Não podemos aplicar artigos que estão previstos para a ação declarativa, quando há
artigos específicos para ação executiva.

O que temos de ter em atenção:

Os critérios são diferentes na ação executiva VS ação declarativa.

As consequências no que diz respeito pressupostos gerais, são as que já conhecemos,


naturalmente adaptadas à nossa ação.

Exemplo: Se tiver um problema de legitimidade no âmbito da ação executiva, as consequências


que vou procurar serão na mesma: Se é uma absolvição da instância ou não, agora com certeza
que não é do réu, mas sim do executado.

Se ando à procura das consequências da incompetência de um tribunal, com certeza que não
posso ter a dúvida sobre se a ação executiva corre ao nível declarativo ou a nível executivo à
Será com certeza ao nível executivo

Æ A verdadeira questão é saber se é num juízo onde correm as ações declarativas, ou se


é num juízo de competência especializada onde correm as ações executivas ➭ As
consequências depois vão ser as mesmas.

Se concluir por uma incompetência em razão da matéria à As consequências processuais são


comuns quer ação declarativa, quer à ação executiva, quer até a um processo especial.

O artigo 550º do CPC vai determinar entre outras coisas, a forma de processo.

Forma sumária Forma ordinária

o Dependendo do título.

Resulta desse artigo (550º) que a regra geral ➭ É que o processo siga a forma ordinária. E depois
também vimos que no nº3 estão previstas as hipóteses que excluem a forma do processo
sumário se verificadas essas condições obrigatórias.

Portanto, quando estou perante uma decisão judicial, proferida num juízo local cível, para o
qual foi distribuído numa injunção à qual foi deduzida oposição pelo requerido ➭ E o processo
foi para a distribuição como manda a lei, e na distribuição foi parar ao juízo da instância local
cível, e depois o requerido foi condenado.
Temos de saber em que tribunal é que vai correr a
execução desta decisão. atendendo a que o condenado
não pagou a dívida.

29 Gabriela Pinto
ü Os artigos 85º a 90º são específicos para a ação executiva.

Quando andamos a percorrer a sistemática do código, encontramos “nichos” de normas


próprias para a ação executiva, começamos no artigo 10º, depois fomos aos artigos sobre as
partes, portanto, quer a legitimidade, quer o patrocínio já referimos no 53º e 58º, e depois no
que diz respeito, especificamente, à competência dos tribunais, temos também um nicho de
artigos que estão previstos nos artigos 85º a 90º ➭ Sob a epígrafe de “disposições especiais
sobre execuções”.

Qual é a dificuldade que não devemos ter?

É que resulta desta secção V, sobre a competência dos tribunais para tramitar as ações
executivas, onde estas podem, no fundo, agrupar-se em 2 conjuntos de realidades:

❀ Umas que resultam de decisões proferidas de tribunais judiciais ou arbitrais;


❀ E as outras todas, ou seja, todas as execuções que tem na sua base um título que não seja
uma decisão, seja ela judicial ou arbitral, são todas as outras que representam execuções
baseadas noutros títulos (extrajudiciais).

Com base nisso, temos aqui normas diferentes:

Æ Uma, por exclusão de partes, é o artigo 89º ➭ Que é o que representa o critério que
temos de observar quando a execução é baseada em título que não uma decisão, seja
ela judicial ou arbitral.

Æ E depois temos artigos específicos para a execução baseada em decisões, sejam elas
judiciais ou arbitrais. A maior dificuldade por vezes, é precisamente a dos títulos
judiciais.

Quando fazemos uma leitura do artigo 85º, que é o mais importante e aquele a que mais
facilmente se recorre.
O percurso que se deve fazer quando há uma decisão condenatória
proferida (é a única pode ser com título executivo) que vai ser a base de
uma execução, a regra diz-nos que ➭ Essas execuções proferidas por
tribunais portugueses, correm no próprio juízo que proferiu a decisão
A não ser que haja algum juízo de competência
especializada para tramitar execuções
E para além disto a não ser que os tribunais e os
juízes onde foi proferida aquela decisão, tenham
competências próprias para executar as suas
próprias decisões

Este artigo levanta várias questões:


1) Todos os tribunais são competentes para executar as suas decisões condenatórias?
2) Haverá alguma regra especial que diga que há juízes ou tribunais especiais para executar
decisões?
3) Independentemente de haver esta realidade, será que há tribunais que executam as
suas próprias decisões ainda assim?

30 Gabriela Pinto
É isto que resulta da leitura que nós fazemos da remissão, que aqui é feita no nº2 do 85º Código
de Processo Civil.

❀ A sistemática da LOSJ pressupõe divisões em razão da matéria, em razão da hierarquia,


em razão do território e em razão do valor.

ü Neste âmbito temos os juízos cíveis, depois em razão do valor pode ser local ou central;
ü Temos ainda os juízos de família e menores;
ü Os juízos de comércio;
ü Os juízos do trabalho;
ü Os juízos criminais;
ü E ainda os juízos de execução;

Como é que eu compatibilizo uma decisão proferida, numa fase declarativa nestes tribunais de
competência especializada em razão da matéria, com existência de um juízo, ele próprio
contendo em razão da matéria só para executar?

Os juízos de execução não são juízos da fase declarativa

à São tribunais especializados em executar, portanto, têm isto de diferente em relação a todos
os outros tribunais em relação da matéria ➭ Todos eles tramitam processos na fase declarativa,
que vão culminar numa decisão final que pode ser condenatória e logo teremos um título
executivo nestes casos em concreto e não nos outros.

E então como é que sei onde vou executar uma decisão condenatória, num destes tribunais,
quando existem juízes de execução?

Conjugadamente com a LOSJ ➭ o requerimento executivo (estamos a falar em execuções


fundadas em sentenças - artigo 85º) é apresentado no processo em que aquela foi proferida.

à Uma coisa é apresentar o requerimento inicial da execução, outra coisa é onde se tramita,
ou seja, onde vai decorrer o processo executivo propriamente dito, a lei também diz o que é que
acontece: “É apresentado no processo em que aquela foi proferida, correndo a execução nos
próprios autos, e sendo tramitado de forma autónoma.”

Esta parte do artigo parece-nos dizer que, sendo declarado que o réu é condenado a pagar
10 000€ num juízo cível ➭ É lá que entra o requerimento e é lá que vai correr nos próprios autos
tramitado de forma autónoma, a execução.

Temos que agora compatibilizar o que acabámos de ler, com o nº2 desse artigo 85º ➭ “Que
quando nos termos da LOSJ, seja competente para a execução, um juízo especializado execução,
deve ser remetido a este com carácter de urgência, cópia da sentença, do requerimento que deu
início à execução e dos documentos que o acompanham.”

O que é que isto quer dizer?


Vou além da organização do sistema judiciário e vou ver qual é a competência dos juízes de
execução à Havendo instalado, na comarca, um juízo de execução, e sendo territorialmente
aquela a comarca competente.
É para aquele juízo de execução que tem de ser remetido o
requerimento, a sentença e os documentos que a acompanham, para a
tramitação prosseguir nos juízos de execução ➭ Que se considera o
tribunal materialmente competente para tramitar esta decisão
Gabriela Pinto
31
– sob pena de incompetência em razão da matéria
Mas ainda aqui ha outra variacao...

Indo outra vez a esta 1º parte do nº2 do artigo 85º, sendo que, a LOSJ assim o diz também ➭
Há determinados tribunais de competência especializada, que podem executar as suas próprias
decisões. Exemplo: Os juízos de trabalho, ou os juízos de família e menores.

Concluindo:
Se tiver um título executivo que resulte de uma decisão condenatória, eu tenho de ir verificar
por articulação deste artigo 85º com a LOSJ:

1) Qual é o tribunal onde foi proferida a decisão;


2) Se essa decisão foi proferida num tribunal de competência especializada, que tem
competência para executar as suas próprias decisões.

Afastando, portanto, a remessa (que este nº2 refere) para um juízo de execução. Se não for à
então sei, que vou ter de dar entrada ao requerimento na ação onde foi proferida a decisão,
mas este requerimento tem de ser remetido para ser tramitado num juízo de execução.

E, portanto, se isto não se verificar, e se tivermos um caso prático onde foi condenada a Maria
no juízo central cível do Porto (“juiz 3”) a pagar 60 000 EUR ao réu, não pagou e agora a ação
executiva está a correr naquele juízo de instância central cível, quid iuris?

Incompetência em razão da matéria.

® Não pode ficar a correr naquele juízo.

Isto só é assim, e aplicando integralmente o nº1 do artigo 85º, se na comarca onde foi proferida
a decisão condenatória que se quer executar, não houver instalado um juízo de execução.

Æ Não havendo instalado um juízo de execução (temos de ir sempre ver à LOSJ aos mapas)
para perceber se naquela região/município tem, por exemplo, um determinado juízo de
competência especializada ao qual eu me posso dirigir, seja para as execuções seja para
outras coisas.

As consequências da não verificação são as mesmas ➭ Mesmo em relação à não verificação dos
outros pressupostos.

! Atencao !
O patrocínio judiciário quando é obrigatório na execução por parte do lado passivo à Há a
consequência da absolvição do executado da instância?

Claro que não ➭ Se o patrocínio é obrigatório numa ação executiva, numa intervenção que o
executado queira fazer no processo, tenho de querer intervir para ser exigido a verificação do
pressuposto do patrocínio
Tenho de perceber que, se ele tinha de estar patrocinado e não está ➭
aquilo que ele quis que tivesse dado entrada no processo, deixa de dar
entrada, esta é a consequência.
Porém ele tem de ter a possibilidade de suprir, pois é suprível a falta de
patrocínio judiciário quando ele é obrigatório, mas dando a oportunidade
de suprir, se ele não o fizer à Aguenta com as consequências processuais

32 Gabriela Pinto
❀ Temos de adaptar o que antes era autor e réu, para agora ser exequente e executado.

Se estivermos perante um título executivo (estes têm de ter determinados requisitos) que não
uma sentença, então tenho o artigo 89º a funcionar aqui para determinar qual o tribunal
competente.

O artigo 89º/nº1 é claro: “salvos os casos especiais previstos noutras disposições (todos os
anteriores ao artigo 89º são especiais), é competente para a execução o tribunal do domicílio
do executado (estamos a falar aqui territorialmente, porque hierarquicamente os tribunais
de primeiro acesso, são os tribunais de 1º instancia), podendo o exequente optar pelo tribunal
do lugar em que a obrigação deva ser cumprida quando o executado seja pessoa coletiva ou
quando, situando-se o domicílio do exequente na área metropolitana de Lisboa ou do Porto, o
executado tenha domicílio na mesma área metropolitana”

No nº1 do artigo 89º, existe uma subdivisão de critérios, no nº2 temos ➭ O caso específico de
haver uma execução para entrega de coisa certa, ou uma dívida com garantia real.

Porque é que nas ações para entrega de coisa certa ou para eu executar já um bem que foi dado
em garantia, o tribunal competente é onde o bem está?

Æ Porque as diligências físicas da apreensão do bem, seja para entregar a quem estava
obrigado, seja para penhorar um bem que está onerado, devem correr o mais próximo
possível onde a coisa está.

Voltando ao nº1, este tem 2 vertentes: “Salvos os casos especiais previstos noutras disposições,
é competente para a execução o tribunal do domicílio do executado ➭ Esta é a regra geral.

“...podendo o exequente optar (aqui vamos ter duas opções) pelo tribunal do lugar em que a
obrigação deva ser cumprida quando o executado seja pessoa coletiva ou quando, situando-se o
domicílio do exequente na área metropolitana de Lisboa ou do Porto, o executado tenha domicílio
na mesma área metropolitana.”

Tendo ele a possibilidade de optar entre a 1º parte da norma ➭ a do Domicílio do executado, ou


de alguma destas nuances na 2º parte do artigo.

Se ele decidir por uma delas, o tribunal nunca é incompetente

Portanto nesta 2º parte do artigo 89º/nº1, ele tem 2 opções:


1) Pode optar pelo tribunal do lugar em que a obrigação deva ser cumprida quando o
executado seja pessoa coletiva, ou seja, aqui o critério não é o domicílio do executado
porque esse é o critério que existe no código civil.

à Se fosse no domicílio do devedor, não fazia sentido nenhum haver esta opção, para o
exequente poder escolher no domicílio do executado ou no domicílio do devedor da execução,
era a mesma coisa.

2) “ou quando, situando-se o domicílio do exequente na área metropolitana de Lisboa ou do


Porto, o executado tenha domicílio na mesma área metropolitana.”

33 Gabriela Pinto
➭ Aqui estamos a falar de pessoas singulares, pode escolher o tribunal onde quer
avançar com a ação executiva, desde que residam na mesma área metropolitana, seja
ela a do Porto ou a de Lisboa.

A ação executiva para pagamento de quantia certa


Quando chegamos à fase da ação executiva sob a forma ordinária (ação mais completa) não
obstante a referência às outras ações executivas que traduzem outras formas de processo, que
vamos conhecer ➭ Mas esta é aquela com que se inicia, de facto, a tramitação no código.

A grande distinção entre a opção (que é imposta pelo legislador, ou seja, não está dependente
da vontade das partes) do legislador em permitir que o processo não seja ordinário e seja
sumário, está dependente, desde logo, do tipo de título, e por outro lado, do valor desse título
executivo (artigo 550º CPC).

A forma de processo comum, ordinário e sumário, está previsto no artigo 550º, sendo que, o
legislador sentiu a necessidade de justificar quais são as situações em que temos de prosseguir
a forma de processo sumário

Æ O que vai significar que, a contrário, quando eu não estiver perante


essas situações ➭ será processo ordinário, a que eu tenho de obedecer
e tenho de observar.

E a principal diferença é precisamente:


® Na existência ou não de despacho liminar, por um lado.
® Na ação executiva para pagamento de quantia certa temos primeiro a penhora a ser
realizada e só depois é citado o executado de que a mesma já foi efetuada para que, a
seguir, exerça o contraditório (isto acontece no processo sumário, mas no processo
ordinário já não é assim).

Nas duas situações (processo ordinário e sumário) vamos ter de ter a entrada da ação através
de um requerimento inicial:

1. Tem de observar, tal como a petição, determinados pressupostos e determinados


requisitos, que aqui também não deixam de existir.

Naturalmente, sabemos que o facto de termos um título executivo que a lei determina como
tal, nos facilita e nos retira, por vezes, a necessidade de termos de falar, necessariamente, da
causa de pedir que está subjacente ao título...

Porque o legislador diz “eu posso executar, desde que tenha um título, à luz da lei, para o
fazer”, ou seja, um documento ➭ A partir daí, com base nesse documento, desde que dele
conste aquilo que o faz ser um título executivo, não será necessário explicar mais nada

É por isso que estamos numa ação executiva e não numa ação declarativa.

34 Gabriela Pinto
a) Tem de identificar as partes;
b) Tem de estar dirigido ao tribunal;
c) Tem de ter valor;
d) Tem de ter o pedido que se vai fazer, no sentido de:
ö “Penhore-se” (se for para pagamento de quantia certa)
ö “Apreenda-se a coisa e entrega-ma” (se for para entrega de coisa)
ö “Faça-se a interpelação para o cumprimento e/ou alternativamente puder ser feita
através de um terceiro” (se for para prestação de facto).

Portanto, tudo isto acontece também nas ações executivas, claro que, adaptado àquilo que é
a realidade de uma ação executiva

No requerimento executivo, quando falamos de títulos executivos que sejam sentenças


condenatórias ➭ Junta-se na ação onde foi preferida a sentença o requerimento inicial e depois
é remetida para o tribunal competente com carater urgente, para o juízo de especialidade
(se houver).

Nas situações em que assim não seja, e em que vá, diretamente, para um juízo executivo,
naturalmente, também vai sobre a forma de um requerimento inicial.

Nota: A propósito da competência dos tribunais, em relação às normas específicas do


título executivo “sentença judicial” ➭ O que acontece é que entra o requerimento inicial no
processo onde foi proferida a decisão, e depois a secretaria remete com carácter de urgência, o
requerimento executivo, para se o houver, o juízo de especialidade (juízo executivo).

A questao e:

Há ou não há despacho liminar?

A perceção que ficamos da ação declarativa, é que a regra é ➭ Não há despacho liminar.

Primeiramente, decorre toda a fase dos articulados, e


só depois é que o processo vai ao juiz (esta é a regra)

No processo ordinário, enquanto processo mais completo e mais extenso no âmbito de toda a
sua regulamentação à O requerimento inicial vai ao juiz.

Portanto...
Primeiramente entra o requerimento, depois vai ao juiz para ele proferir um despacho liminar
que pode ter diferentes conteúdos:

a) Pode mandar citar o executado;


b) Pode mandar suprimir alguma lacuna a nível dos pressupostos;
c) pode ainda indeferir liminarmente o requerimento inicial, nesta execução.

Só depois é que irá ao conhecimento do executado

35 Gabriela Pinto
Uma nota importante relativamente ao que acontece, na fase seguinte, relativamente a esta
forma de processo:

Se estou a demandar um executado que nunca esteve presente numa ação


executiva ou numa ação judicial que tivesse sido antecedente desta ação executiva
➭ naturalmente que este executado tem de ser citado (e não notificado)

Imaginemos o tal requerimento executivo, que dá entrada num juízo local cível do Porto para
executar uma sentença. Faz-se o requerimento executivo, que vai ter de ser remetido pela
secretaria para o juízo de execução, sendo que, a maioria das situações são que estes títulos
seguem a forma sumária, mas há exceções a isto...

Se não seguir a forma sumária, vai significar que o executado tem de ser, neste caso,
notificado porque já foi conhecedor da ação declarativa prévia, e não propriamente
citado.
Se o título for extrajudicial, nunca houve um ato praticado numa ação declarativa prévia,
que tivesse sido levado ao conhecimento deste executado, então nós temos a figura da
citação.

Temos de verificar e não dar por assente, automaticamente, que todas as sentenças ou decisões
condenatórias, são necessariamente títulos executivos que seguem a forma sumária ➭ podem
não seguir a forma sumária.

Basta imaginar uma sentença que condena uma parte líquida, e, condena outra parte a liquidar
(ou seja, que ainda não se encontra líquida) posteriormente danos que ainda decorrem de uma
indemnização num processo, de um acidente de viação, por exemplo, em que já há condenação
➭ Contudo, ainda há danos que sabe que se vão produzir e que vão ter de ser liquidados.

Depois vão ter de ser objeto de um contraditório prévio à


determinação do valor que possa estar em causa quando
eu vou passar à fase executiva

Exemplo: Imaginemos que alguém sofre um acidente e a ação entra em tribunal, decorre a ação
declarativa, com todos os seus formalismos e fases necessárias, até chegar a uma fase de uma
sentença final. Vamos imaginar que estamos perante uma ação contra uma companhia de
seguros, para a qual tinha sido transmitida responsabilidade civil, por exemplo, da condução de
viatura de automóveis, que é obrigatória.
➭ Na sentença final fica efetivamente determinado que a companhia ficava condenada a pagar
15 mil euros, desde logo, já apurados, enquanto danos patrimoniais e morais ao autor, e
atendendo a que o autor iria ter de ser submetido, a mais 3 operações estéticas para corrigir o
dano físico sofrido com o acidente, tais valores depois seriam a apurar após a realização dessas
mesmas cirurgias.

O que é que pode acontecer?


Prosseguir, precisamente, com a execução da parte que já está líquida (por isso quando nos
referirmos aos requisitos sobre a certeza, liquidez e exigibilidade, seriam os pressupostos
específicos na ação executiva).
Não podemos conceber uma ação executiva em
que isso não esteja determinado

36 Gabriela Pinto
Se depois da sentença, que condenou a companhia a pagar 15 mil euros, e o valor que se apurar
dos danos sofridos com a recuperação e com as cirurgias que o autor terá de fazer à Como é
que iremos saber o que executar à seguradora?

Precisamente o que a lei determina é que as diligências iniciais na ação executiva terão de ser,
no sentido de tornar líquida a obrigação.

Como é começaríamos um requerimento executivo deste género?


Æ Para além de querer que se iniciassem as diligências coercivas para a cobrança dos 15
mil euros (que a companhia não pagou voluntariamente) ➭ iniciava-se o requerimento
executivo da seguinte forma: sobre a “liquidez da obrigação exequenda irá dizer-se o
seguinte” e alegando que, por sentença, foi condenado, nomeadamente, no pagamento
da indemnização dos danos sofridos, também com a recuperação através de 3
intervenções cirúrgicas que se demonstram aqui que já foram feitas.

1. Similarmente ao que se faz numa ação declarativa, no âmbito do preâmbulo do


requerimento executivo, era necessário elencar os factos que justificam que
chegássemos ao final da parte inicial, e disséssemos que: “porque fiz 3 cirurgias”,
“porque estive internada 4 meses”, “porque estive sem trabalhar x dias”, “porque tive
dores”, “porque perdi ganho x que deixei de ganhar”, “porque tive várias anestesias
gerais”, “porque sofri”, “porque estive sem dormir” ➭ eu pretendo então que seja
liquidado adicionalmente 20 mil euros de indemnização, para ser agora objeto daqui
desta execução

O que acontece aqui é que temos uma parte da decisão que já é exequível, e outra que não o
é, porque não é líquida ➭ apesar dos danos, entretanto, já puderem ter ocorrido, há que
determinar qual é o montante.

Não pode ser o credor a dizer que são 100 mil euros sem qualquer justificação, e o executado
ter de se sujeitar a isso.

Nestas situações, em que é necessário tornar líquida a obrigação ➭ É preciso despoletar no início
do requerimento inicial/ executivo, um momento declarativo para a determinação deste valor

Que resulta de uma condenação objetiva da seguradora em pagar aqueles danos, mas que
àquela data, não se sabiam ainda em quanto se consubstanciavam esses danos. Irá ter de
se determinar os danos agora na ação ➭ e vai ser exercido o contraditório.

Nota: Neste caso é um exemplo de uma necessidade em tornar a obrigação líquida, mas podia
ser para a tornar em certa ou exigível.

O executado tem de ser conhecedor destes valores à Tem de ser chamado a exercer o
contraditório porque aí poderá dizer, por exemplo: “não, que a pessoa aproveitou para meter
uns silicones, e quanto a isso, nós não temos nada haver, então, não vamos pagar essa operação”
ou até dizer que o “valor é exagerado”, fundamentando.

Ou seja, vai exercer o contraditório de maneira que se


torne líquido, porque depois por decisão do juiz, fazendo
as diligências probatórias necessárias, vai determinar
essa liquidez
Nestes casos, em que é preciso este momento declarativo,
é bom ver que não podemos estar perante uma ação
executiva que siga a forma sumária em Pinto
Gabriela que 1º lugar
37
penhore e depois é que vão querer saber se o executado
quer dizer alguma coisa.
Este é um dos exemplos daqueles que extravasam o que diz o número 3 do artigo 550º Código
de Processo Civil ➭ “não segue a forma sumária, os que estão previstos no número 3”.

Segundo a leitura do artigo 550º Código de Processo Civil, vemos que:

® O nº1, fala-nos das duas formas de processo: ordinário e o sumário.


® O nº2 diz-nos qual segue a forma de processo sumário, ou seja, não nos diz qual é que
segue a forma de processo ordinário. A contrario, significa que se não for os casos desse
nº2 é porque a ação executiva segue a tramitação da forma ordinária.
® O nº3, por sua vez, vem excecionar o que está disposto no nº2. Onde, mesmo que a
situação se encaixe em uma das alíneas do nº2, ainda iremos ter de verificar se não
existe algumas exceções previstas no artigo 550º/3 CPC.

Este nº3 dita-nos algumas exceções, por exemplo, o que à pouco referimos da alínea b) do nº3,
que diz que “não é, porém, aplicável a forma sumária, quando a obrigação exequenda careça de
ser liquidada na fase executiva e a liquidação não dependa de simples cálculo aritmético”

➭ Aquilo que vamos querer apurar enquanto valor líquido, para ser objeto de execução, no caso
das operações, não é uma mera soma aritmética.

Exemplo de uma soma aritmética em que isto já não é exceção ao número 3: Imaginando que A
foi condenado em 2019, a pagar uma determinada quantia, entretanto, teve sempre a tentar
evitar a ação executiva por causa dos custos com o agente de execução, etc., então andou atrás
do executado para ver se ele pagava, mas ele não pagou.

Estamos em 2022, quase 2023, e agora A quer avançar com a ação executiva, e este executado
é obrigado a pagar ao A, o capital e os juros que se venceram, e esses juros não são iguais aos
que seriam à data em que o executado foi condenado, portanto, temos de fazer soma
aritmética ➭ uma multiplicação, uma aplicação da taxa de juro.

Æ Portanto, esta não precisa de ser uma exceção à regra da ação sumária,
porque aqui a liquidez obtém-se e alcança-se por simples cálculo
aritmético.

Como é que calculamos os juros?


• Temos de ver quando é que se venceu a dívida;
• Temos de ver qual é o juro legal, se é comercial ou se é civil. Se for civil é 4% ao ano,
face à taxa quanto é que ela representa aplicada ao capital em divida;
• E, depois, temos de ver quantos dias passaram, e multiplicar pelo número de dias.

® Já as cirurgias, por exemplo, exigem o contraditório.

O legislador faz, então, a ressalva que nos casos do nº3 onde não podemos avançar desde logo,
para a forma sumária...

Porquê?
Porque é extremamente intrusivo começar uma ação executiva, atacando, logo, o património do
devedor.

38 Gabriela Pinto
Vamos imaginar...

Uma ação executiva, com base numa sentença condenatória, que não sofre nenhuma das
limitações do número 3, e onde no local em causa existem juízos de execução, e, o executado
que foi réu, está farto de saber que foi condenado.

Æ Ora, se alguém que tem um cheque contra outro, ou tem uma letra, pode se esquecer
que passou a letra.

à Mas no caso da condenação, não faz muito sentido que se esqueça que foi condenado, uma
vez que já houve a oportunidade do contraditório, e do princípio da defesa do réu.

O princípio do contraditório e “igualdade de armas” também tem a sua aplicabilidade na ação


executiva, naturalmente que parte, à priori, com um certo desequilíbrio, a partir do momento
em que já tenho dito o direito (porque posso ter dito o direito sobre a forma de título executivo
mas esse título já não ser passível de execução, p.ex, porque já prescreveu).

Nunca podemos deixar de fazer funcionar o princípio do contraditório

Contudo, isto começa na forma sumária, de uma maneira muito agressiva, em


que ➭ Entra o requerimento inicial, penhora-se, e só depois é que a pessoa vai
ser juridicamente conhecedora, para depois puder exercer a sua defesa, etc.

• Há momentos que vão ser comuns às duas formas de processo, o que é diferente é esta
parte inicial à Que é saber o que é que acontece em primeiro lugar

Forma sumária ➭ 1º penhora-se; 2º Forma ordinária ➭ 1º notifica-se o executado


cita-se o executado para se opor para se opor; 2º penhora-se

Quando olhamos para o nosso CPC, na ação executiva, também temos algumas disposições
importantes no título II quando falamos, por exemplo, no artigo 713º CPC (é por aqui que se
percebe que a execução principia pelas diligências a requerer pelo exequente destinadas a tornar
a obrigação certa, líquida e exigível).

Portanto, quando falamos em pressupostos, falamos


relativamente ao que tem de estar verificado para se puder ir
atacar o património do executado-devedor, sob a forma
coerciva, e aqui percebemos que diferentemente da ação
declarativa, temos os pressupostos principais (na ação
executiva) que são estes 3.

E aquele exemplo, anteriormente referido, de podermos ou não seguir a forma sumária quando
temos ainda de determinar a liquidez da obrigação exequenda ➭ temos plasmado neste artigo
713º Código de Processo Civil.

39 Gabriela Pinto
Portanto, porque temos de obter essa liquidez, certeza e exigibilidade ➭ o legislador prevê aqui,
exatamente na lei, que o requerimento inicial tem de começar, se for necessário, por essas
diligências para tornar a obrigação certa, líquida e exigível.

Artigo 714º CPC e ss. à Estão aqui elencadas as regras de como é que se tramita quando,
por exemplo, se não for uma questão de liquidez, e for uma questão de escolha de prestação,
como é que isto se faz.

O devedor obrigou-se alternativamente perante o credor a cumprir a obrigação A ou a obrigação


B, seja um pagamento integral de uma vez só, seja um pagamento em prestações de uma coisa
só, e agora à Há que decidir como é que sabemos o que é que prevalece e qual é a obrigação
que se torna exequível face à alternatividade aceite, por exemplo, pelas partes num contrato
que depois não foi cumprido.
No início do requerimento executivo, começa-se por pedir isto ao juiz

Todas estas realidades, nestes artigos, contendem com a necessidade que temos de
avançar para a execução ➭ só depois de estar certa, líquida e exigível a obrigação, e
de ter o título executivo

Æ É importante salientar o facto de podermos ter ações executivas com pedidos


cumulativos.

Apesar da cumulação de pedidos não ser novidade ➭ Aqui temos contornos diferentes, na
medida em que, apenas, o que eu peço na ação são medidas coativas/ coercivas para a
realização de um direito, mas...

Que podem ter vários títulos executivos na sua origem, e que eu vou cumuladamente
utilizar na demanda contra o executado, e por isso, vou aqui também ter algumas
regras que me dizem o que faço quando cúmulo, por exemplo, execuções baseadas em
títulos diferentes.

Podemos ter contra o mesmo devedor:

Uma injunção nunca posta em Mas depois podemos ter outra


causa, a qual foi atribuída injunção, mais tarde, que também
uma forma executória deu entrada sob a forma executória

Aqui, o devedor resolveu opor-se à execução,


Aqui neste caso, iremos ter um título
e então essa injunção foi convertida em
executivo nos termos da alínea b) do
ação especial e ele depois foi condenado
artigo 703º código penal, porque não
existiu uma oposição à injunção.

Neste caso, iremos ter uma sentença/decisão


condenatória nos termos da alínea a) do
artigo 703º Código de Processo Civil

40 Gabriela Pinto
Æ Os títulos são diferentes.

Se isto tiver algum impacto, nomeadamente, quanto à forma de processo, as regras estão
definidas no artigo 709º/5 ➭ De como podemos resolver o problema.

Temos aqui as alternativas que o legislador deu à cumulação de vários títulos, criando, portanto,
soluções práticas para que não se fique na dúvida se tivermos dois títulos diferentes à E
podemos fazer isso tudo em relação ao mesmo devedor.

Æ O mais importante é depois perceber se depois temos de ir pela forma ordinária ou


sumária.

Também na cumulação temos a dúvida acerca do tribunal territorialmente competente para


executar quando temos vários títulos executivos. O legislador também resolve o problema
quando temos vários títulos, sem termos de interpor 10 execuções quando os 10 títulos podem
ser todos encaixados numa única execução ➭ nos termos do artigo 709º/2/3/4 quando há este
conflito, que gerem, p. ex. diferenças quanto ao tribunal competente, então este artigo vai dizer
como devemos proceder.

Outra questão muito importante: Título II, livro IV do CPC

Aqui percebemos, para além do que já falamos acerca dos requisitos da obrigação exequenda,
que há uma repartição de competências que vem aqui espelhada, desde logo, com a
determinação das competências do agente de execução, no artigo 719º CPC.

Este nº1, deste preceito legal, explica aquilo que é a realidade da distribuição de competências
por estes intervenientes processuais.

Na ação declarativa estamos habituados ao triângulo: Partes, juiz e oficiais de justiça da


secretaria judicial (da parte do funcionamento da secretaria judicial).

Na ação executiva será um quadrado: Agente de execução, Partes, Juiz (podemos ter ou não) e
temos também a secretaria judicial ➭ O que faz questionar quem é que faz o quê ou que
competências tem todos estes intervenientes judiciais na ação executiva:

Æ Tem de haver partes;


Æ O tribunal tem de estar constituído;
Æ Tem de haver um juiz para a intervenção (a lei determina
nos diversos casos em que realmente o juiz tem de intervir);
Æ O agente de execução;
Æ A secretaria.

Artigo 719º Código de Processo Civil ➭ Competências do agente de execução.

Cabendo a este as diligencias que não sejam da secretaria ou da competência do juiz (exclusão
das partes)
Temos de verificar o que faz o juiz, o que faz a secretaria, ficando o resto para o
agente de execução.

41 Gabriela Pinto
O agente de execução é uma figura obrigatória na ação executiva, regra geral (157º
Código de Processo Civil).

Quando há incidentes declarativos na ação executiva (como aquele para liquidar os danos das
cirurgias) é a secretaria que irá tramitar isso, como faria na ação declarativa.

No artigo 619º/4 CPC vem uma incumbência para a secretaria notificar oficiosamente o
agente de execução quando há a dedução destes incidentes declarativos.

Quando se exerce o contraditório sobre a forma destes incidentes, a parte que os suscita fá-los
através do Citius e não diretamente ao agente de execução ➭ Daí que, depois, a secretaria
tenha de avisar o agente de execução sobre tal.

Exemplo: Estamos na fase da penhora e o executado vê um bem executado que não poderia ser
alvo de penhora...

É um incidente declarativo
de oposição à penhora
Que vai decorrer por apenso, mas
que tem contornos declarativos

A secretaria, a partir do momento em que o executado deduz este incidente, vai


avisar o agente de execução.

Não há novidade no que diz respeito às consequências processuais pela falta de verificação
dos pressupostos à já conhecemos da ação declarativa.

O que há de diferente relaciona-se com os critérios para aferir (ou não) a verificação desses
pressupostos.

A partir do momento em que se verifica uma incompetência...

- Quer em razão da matéria; Temos de verificar que tipo de exceção é que


- Quer em razão do Tribunal; configura e qual a consequência correspondente
- Quer em razão do valor;
- Quer em razão do território;
Poderá ser a absolvição
Nunca do réu, mas
sim do executado

Na ação executiva temos...

Exequentes – Executados ou Embargantes – Embargados ou Oponentes – Opostos

Nunca temos Autores – Réus

42 Gabriela Pinto
Consequências processuais na falta de verificação dos pressupostos

Por exemplo, se estivermos perante uma exceção dilatória teremos de saber se é conhecimento
oficioso ou não.

Como é que isto se conjuga com a tramitação na ação executiva?

Nós sabemos que só no fim da ação declarativa, só no fim dos articulados (por regra) é que o
juiz toma conhecimento do processo e vai aferir, por sua iniciativa própria (se ninguém levantar
nenhuma questão) se estão verificados ou não os pressupostos.

Na ação executiva, isso só acontece quando, das duas uma:


1. Há despacho liminar, e ele vai aferir se em relação ao requerente executivo, ou seja, ao
exequente e a quem ele vai demandar, se está tudo direito, isto é, se os pressupostos
processuais estão cumpridos.

2. Não havendo despacho liminar, ou seja, estando perante uma ação executiva para
pagamento de quantia certa que segue a forma sumária, então...

Quem é que vai receber o requerimento inicial?


Relativamente às competências
Será que é o oficial de justiça, a chamada secretaria, que recebendo a ação vai ver que afinal
aquilo que não está bem.

Será que é a secretaria que pode aferir a competência dos tribunais? à Não pode, tal como
não podia em declarativo, aqui também não pode.

Os poderes da secretaria são aqueles que estão previstos na lei e não outros

Veremos se isto está distribuído pelas outras figuras (que não são as partes)

O juiz e o agente de execução, será que eles são concorrentes nesta análise da verificação dos
pressupostos ou não? à temos de ver o que a lei diz

Prosseguindo no CPC as tais competências, quando vamos ao artigo sobre as competências do


agente de execução, já tínhamos visto que, por um lado, excluímos a parte das competências
do juiz do artigo 723º CC, que definiu que ele profere o despacho liminar onde pode e deve
analisar se estão verificados os pressupostos

Mas depois temos outras questões que podem ser suscitadas quando não há despacho liminar,
significa que vão ser suscitadas perante o agente de execução e não perante o juiz.

Então qual é a nossa resposta para a repartição de competências do agente de


execução?

O artigo 719º CC faz uma referência genérica que depois remete à secretaria no nº3, para além
do que possa estar aqui especificamente determinado sobre o que é que a secretaria pode fazer,
temos de relembrar sempre o artigo 157º que diz o que é que a secretaria pode fazer, portanto,
a contrario à não pode fazer tudo o resto.

43 Gabriela Pinto
Exemplo: Não pode andar a aferir os pressupostos processuais.

Relativamente ao agente de execução

O agente de execução faz tudo aquilo que não seja atribuído à secretaria, ou que seja da
competência do juiz

Se da competência do juiz é proferido o que aqui está no artigo 723º, então, quer dizer que o
agente de execução, se calhar, lhe pode levantar questões sobre verificação dos pressupostos
processuais (723º/d).

Importância da distinção das formas de processo

É importante distinguir porque quando vamos ao processo sumário na ação executiva que está
reduzido a seis artigos. O processo ordinário estava na outra parte do livro do capítulo I que
engloba tudo. Isto não significa que no processo sumário não haja penhora, pagamento, regras
sobre os bens penhoráveis, etc., o que há é uma remissão do processo sumário depois para as
regras que estão no processo ordinário

O artigo 855º/2 faz-nos perceber bem aquilo que é a conjugação das competências, sobre o
que é que faz ou não faz o agente de execução.

Quando temos uma ação que corre num tribunal, mas não é o juiz o primeiro a entrar em
contacto com o processo, aí fica a dúvida de como é que isto se passa.
E, portanto, verificamos que este artigo 855º/2 nos ajuda a perceber o que é que o agente de
execução faz quando é ele o primeiro que recebe a ação executiva, e não vai ao juiz (e ele pode
nunca ir ao juiz).

O artigo 855º/2, diz ainda que cabe ao agente de execução recusar o requerimento, aplicando
com as necessárias adaptações, o preceituado no artigo 725º.

Temos aqui normas remissivas porque o artigo 855º/2 remete para o artigo 725º que está
na fase introdutória do processo ordinário, e diz o que é que pode acontecer.

Nestes casos em que é o agente de execução que recebe a ação executiva...

O agente de execução vai ter as funções que correspondem às que têm a


secretaria quando o requerimento executivo entra diretamente para ir a
despacho liminar

Portanto, temos de imaginar as personagens do nosso processo onde temos:


• Balcão de um tribunal;
• Um agente de execução;
• Um juiz;
• As partes.

E depois, o que é que temos? àTemos regras que dizem que se entrar com requerimento
numa ação, que entrando na secretaria, a seguir vai para o juiz, eu tenho umas competências
prévias da secretaria para filtrar algumas questões que se possam levantar sem ter de ir parar
às mãos do juiz antes disso.

44 Gabriela Pinto
Mas...
Se eu tiver uma forma do processo em que não é o juiz (logo a seguir a entrar na secretaria) que
vê o processo, embora possa ter passado pela secretaria propriamente dita, é o agente de
execução que vai filtrar essas questões, vai ter essa função, vai ter essas competências.

Este artigo 855º/2 também diz que o agente de execução vai suscitar a intervenção do juiz.

Portanto, o agente de execução, no fundo, é um fiscal porque o processo não vai ao juiz em
primeira mão, primeiro vai para ele, vai suscitar a intervenção do juiz nos termos do disposto
na alínea d) do n.º 1 do artigo 723º, portanto, ele suscita perante o juiz alguma das questões
que possam ser objeto da competência do juiz nos termos do artigo 723º.

Este artigo diz ainda que, para além de nos termos do disposto na alínea d) do n1 do artigo
723º, quando se lhe afigure provável a ocorrência de alguma das situações previstas nos nºs 2
e 4 do artigo 726º, ou quando duvide da verificação dos pressupostos de aplicação da forma
sumária.

O artigo 550º refere quando é que segue a forma de processo ordinária ou sumária, há quatro
casos taxativos em que pode ser sob a forma sumária, e o n3

Refere as exceções à forma sumária.

Artigo 726º/ 2 e 4

Fala sobre a questão das exceções dilatórias, da inexistência do título, que são por natureza
questões que associamos a que o juiz é que toma conhecimento, nos termos do artigo 855º,
porque ele é o primeiro a aferir isto.

Qual é a diferença?
É que ele não decide se se verificam ou não as exceções dilatórias, ele suscita ao juiz a
apreciação.

Portanto, nestes casos...


O agente de execução leva o processo ao juiz, e aí o juiz vai proferir o despacho

Quando o juiz interfere no processo altera a sua forma?

Sim

Mais cedo ou mais tarde, pode ser preciso fazer intervir do juiz, mesmo na forma sumária, em
que vai primeiro ao agente de execução, pode vir a remeter ao juiz.

A ordem é diferente: primeiro penhora-se, depois é que eventualmente, se for necessário


(porque pode não ser) vai ao juiz.

No ordinário vai sempre primeiro ao juiz porque em regra fala-se em títulos não judiciais, ou
títulos de forma não judicial, onde nunca houve um escrutínio judicial feito pelo juiz.

45 Gabriela Pinto
É mais normal que comecemos uma ação que vai correr em tribunal atacando logo o património
de uma pessoa, que é a coisa mais coerciva que podemos imaginar no direito.

Primeiro, nestes casos, avisa-se a pessoa para pagar e, se a pessoa não pagar é que passamos
para a penhora, mas a pessoa tem essa possibilidade.

Quando temos um título executivo que foi uma sentença, a pessoa já lá andou, já sabe o que é
que a espera, portanto neste caso, é mais normal que não haja surpresa, e por isso, começa-se
logo por atacar o património.

É esta lógica que não muda a forma do processo, mas há uma intervenção que quando for
necessária ele tem de intervir porque só o juiz é que pode decidir de direito e mesmo naqueles
outros incidentes como o caso de tornar a obrigação certa, para escolher uma obrigação
alternativa à também tem de ser o juiz depois a dar o seu contributo enquanto órgão de
soberania judicial.

Não muda a forma do processo, apenas se altera a tramitação.

Qual é o conteúdo do despacho liminar nas ações executivas?

O despacho liminar surge quando o juiz tem contacto com a peça processual pela primeira vez,
sendo que, nas ações executivas de pagamento de quantia certa sobre forma de processo
ordinário, que normalmente admite despacho liminar, o conteúdo do despacho liminar pode
ser:

1. Quando estamos a falar em ação executiva para pagamento de quantia certa sob a forma
de processo ordinário, que por natureza, tem despacho liminar.

Ele pode dizer que está tudo certo e, por isso, cita o executado para pagar ou para nomear bens
à penhora.
Quem é que vai citar o executado?

O agente de execução, que já tem de estar indicado, nomeado, designado aquando da entrada
da ação executiva.

Se o exequente se esquecer de nomear o agente de execução, a secretaria fá-lo


automaticamente.

Não é possível termos uma ação executiva a correr sem associarmos um agente de execução

2. Para aperfeiçoar o requerimento executivo, naquilo que é aperfeiçoável, ou seja, suprível;


3. Ou indeferir liminarmente.

Voltando ao processo ordinário...


Outras diferenças: nesta fase introdutória, artigos 724º a 727º, temos o que é que tem de
compor o requerimento executivo.

46 Gabriela Pinto
Artigo 724º/1º alínea j) CPC:

1- No requerimento executivo, dirigido ao tribunal de execução, o exequente:


j) Requer a dispensa da citação prévia, nos termos do artigo 727.º;

Portanto, porque não é uma sentença judicial, eu tenho obrigatoriamente, à partida, de ter o
juiz primeiro a ver o processo, a mandar citar o executado, a dar-lhe o tempo dele, nomear os
bens do património, etc. à nesse tempo fico sem a minha garantia patrimonial.

Estas ações que correm sob esta forma de processo, normalmente têm a ver com títulos
extrajudiciais, pode haver a necessidade de fazer funcionar aqui quase como que uma
providência cautelar, quase como um momento de urgência, em previamente levar ao
conhecimento do executado, posso requerer que se faça um sistema similar ao da ação sumária

Primeiro apreendo e só depois é que cito (o executado)

Estamos a analisar a tramitação da ação executiva para pagamento de quantia certa,


de processo comum sob a forma ordinária
Livro IV CPC ➭ 703º e seguintes
Quando vamos para o título 3º do processo ordinário, já foram chamados à colação as
particularidades necessárias e mais relevantes, sendo certo que todo o artigo 724º CPC
merece ser lido na sua totalidade ➭ dada a imensidade de pormenores, nomeadamente
aquilo que deve constar do Requerimento Inicial de uma ação executiva.

Relativamente ao artigo 724º CPC:


Muito importante o nº4

Necessidade de fazer acompanhar o


requerimento executivo do original ou da
cópia do título executivo se o Requerimento
executivo for entregue por via eletrónica

Podemos estar a executar um título de crédito (letra ou cheque) e o nº5 deste artigo
refere expressamente a necessidade aqui de juntar, seja em papel ou não, o título
executivo à fazê-lo chegar em título original à ação executiva.

! Importante !
Não confundir o nº4 com o nº5 à porquanto o nº4 se refere à necessidade dessa junção
do título original, nos casos em que a entrega do requerimento for em suporte papel.

47 Gabriela Pinto
Ainda que o Citius seja a plataforma virtual, não podemos esquecer (até porque há
regras processuais que estão dependentes da prática do ato através do advogado ou
através da parte) que podemos ter, na mesma, atos praticados em suporte de papel,
nomeadamente e desde logo quando o patrocínio judicial não é obrigatório

a parte vai subscrever, ela própria, a peça processual ➭


o que vai significar que subscrevendo a peça processual
não tem acesso ao citius e, como tal, naturalmente o
suporte em papel vai assinado pelas partes e
acompanhado dos títulos ou das cópias dos títulos a que
se reporta

No caso específico do nº5, este artigo ultrapassa esta questão de ser ou não a parte a
fazer entrega do requerimento inicial / prática dos atos à é obrigatório juntar o título
executivo, independentemente de ser a parte.

Porquê?
® Muitas vezes os títulos podem ser ao portador, podem não estar nominados e, portanto,
isto significa que se eu tiver um cheque e o apresentar digitalizado e o cheque apenas
estiver a dar a ordem ao banco para pagar aquele que for portador do documento;

® Chego ao banco e na parte onde diz “à ordem de...” posso não por nada e então, quem
tiver na posse daquele cheque chega ao banco e levanta o dinheiro que ele representa;

® Ora, isto numa ação executiva poderia significar que eu poderia fazer tantas ações
executivas quantas as fotocopias que eu tirasse de um cheque ao portador;

Inaptamente o título não está nominado e, sem esta limitação poderia suscitar que o
mesmo cheque fosse utilizado em diversas frentes

A dispensa de citação prévia funciona aqui com este caráter procedimental urgente –
tal qual como a providência cautelar, na medida em que eu vou alegar que tenho receio
de que seja dissipado o património, então o senhor Juiz deve dispensar a citação prévia
e, portanto, evitar essa dissipação.

Isto não impede que durante uma ação executiva, eu não tenha necessidade de, por
razões várias, deitar mão de um procedimento cautelar.

Como e Porquê?
A ação executiva não é um processo urgente e, por isso, não se praticam atos durante
o período de férias judiciais (16 julho ao 31 de agosto), o que significa que durante este
mês e meio, não são praticados quaisquer atos na ação executiva. Durante este período,
eu posso ter conhecimento de que está para ser alienado um determinado bem que eu
iria nomear à penhora.

48 Gabriela Pinto
Tendo em conta esta paragem relativa às férias processuais, posso ter todo o interesse
em avançar com o Procedimento Cautelar, de modo a garantir na ação executiva a
penhora daquele bem.

Evidentemente neste artigo 727º não basta pedir a dispensa da citação ➭ esta tem
de ser requerida com fundamento e depois vai haver um ajuizamento por parte do juiz
para decidir se este pedido é ou não procedente ➭ aferindo se este pode ser concedido
ao exequente.

Quando a citação é dispensada, é fácil perceber que vai ser aplicado nos termos do
727º/4 (norma remissiva) o regime estabelecido nos 856º e 858º que são normas que
determinam o processo sumário que dispensa a citação prévia e começa logo com o
ataque ao património do executado.

Nota: exige-se-nos estas referências rigorosas em relação às remissões porque só


podemos aplicar um regime remissivo se indicarmos qual a norma remissiva.

Enquadramento Legal:
Este capítulo está subdividido numa secção introdutória, depois temos uma secção de
oposição à execução. Depois se virmos a secção seguinte temos a penhora com várias
subdivisões. E depois vamos para a secção IV sobre citação e concurso de credores ➭
segue-se depois outra secção sobre o pagamento.

Temos tendência para baralhar formas de defesa, isto é, as formas de exercício do


contraditório na ação executiva à misturando a execução propriamente dita e o seu
ataque, com a penhora – Errado

O próprio índice divide, desde logo, 2 realidades distintas:


1. parte do ataque à execução propriamente dita;
2. depois a realidade da penhora, que é desenvolvida toda ela, incluindo o ataque
à penhora, nesta secção 3ª.
Temos uma ação executiva, temos o momento em que eu posso atacar a execução
propriamente dita e temos depois regras (secção 3ª) que falam sobre a penhora que é
o ponto alto da ação executiva para pagamento de quantia certa

A não ser que estejamos perante uma ação ordinária


para pagamento de uma quantia certa e ele pague
depois de citado (em que aí não há penhora) ➭ fora
disso, não há execução sem penhora

49 Gabriela Pinto
Forma de Oposição à Penhora
– Forma de o executado exercer o seu contraditório

O executado (parte passiva desta relação processual) tem de exercer contraditório, seja
no momento inicial na ação ordinária, ou na ação sumária onde a coisa muda de figura.

No âmbito da ação sumária, no momento da penhora ➭ quando o seu património está


a ser atacado através de um ato coercivo, o executado pode exercer contraditório.

a penhora e a oposição à execução:


São dois momentos que podem ocorrer na ação executiva que têm objetivos e
fundamentos diferentes ➭ o ponto comum é estarem todos inseridos numa ação
executiva.

Portanto, são institutos diferentes (penhora e oposição à execução): são


ambas exercícios de manifestação do contraditório, mas com objetivos diferentes.

Quando é que isto se pode fazer?


❀ Não só na perspetiva do fundamento substantivo, ou seja à quais os motivos que
podem levar a que o executado se oponha à execução VS penhora.
❀ A questão está em saber: em que momento processual é que eu posso exercer este meu
direito ao contraditório?

Consoante a forma de processo sumária ou ordinária, a possibilidade de praticar


qualquer um destes institutos pode ser em simultâneo, mas isso não significa que não
tenha de ter os fundamentos de cada uma das figuras.

A questão é que consoante a forma de processo, a


contagem do prazo que eu tenho para exercer este meu
contraditório pode começar ao mesmo tempo

Ou seja...
A oposição à execução é uma forma de defesa do executado através do exercício do
contraditório que tem um momento para ser invocado e exercido processualmente ➭
também aqui funciona o princípio da preclusão

Vai haver aqui algo que vai chegar ao


conhecimento do executado e que vai ditar, se
ele assim o entender e se tiver motivos para o
fazer, que este possa opor-se à execução

50 Gabriela Pinto
Esta oposição faz-se de que forma?
Artigos 728º e seguintes
Chama-se ao ato processual onde se consubstancia esta oposição à execução ➭
oposição mediante embargos de executado

Quem tem legitimidade para se opor à execução?


ö Os executados ➭ só quem tem a posição de executado é que pode querer praticar um
ato de embargos de executado;
ö Um terceiro não pode embargar de executado, uma vez que não é executado e não
pode opor-se à execução nesta qualidade.

Artigo 728º nº1 ➭ esta oposição à execução tem um prazo a contar da citação.
Conjugando isto com a ação sumária, percebemos que estamos no âmbito do processo
ordinário em que, regra geral, há despacho liminar e a seguir cita-se o executado para
ele pagar ou nomear bens à penhora ➭ naturalmente a partir do momento em que ele
é citado terá 20 dias para se opor à execução por embargos.

Artigo 728º nº2 ➭ Temos aqui uma referência sobre a superveniência para objeção à
execução ➭ tendo sido conhecido ou ocorrido posteriormente aos 20 dias, pode haver
na mesma uma oposição.

Atenção: aqui poderá haver excecionalmente a oposição, desde que devidamente


fundamentada ➭ a lógica é parecida aos articulados supervenientes, ou seja, não estava
no meu conhecimento ou não tinha ocorrido determinado facto, o que fez com que não
pudéssemos invocá-lo nos 30 dias.

Todavia, nada obsta que, mais tarde fundamentando, alegando e provando se possa
fazer uma oposição tardia.

se passados 20 dias ocorrer ou eu tiver conhecimento de um facto que obste


à execução, posso trazer ao processo com o devido fundamento

Fundamentos da oposição à execução ➭ conforme já vimos que há tipos de títulos


diferentes, aqui temos também uma divisão relativamente aos fundamentos que
podem ser utilizados pelo executado na sua defesa no âmbito de uma ação executiva.

Quando já houve previamente uma ação declarativa (base em título judicial), alguns
fundamentos que eu poderia pensar utilizar, agora já não posso, porque tinham de ter
sido utilizados na fase declarativa porque eu tive oportunidade.

Portanto...
O legislador reduziu os fundamentos de oposição à execução com base numa sentença,
relativamente aos fundamentos possíveis quando estamos perante a defesa de um título que
não é judicial 1

1
Sobre o qual ainda ninguém se pronunciou ➭ nenhum juiz apreciou nada

51 Gabriela Pinto
O leque de argumentos de defesa quando o título não
é judicial, mas sim extrajudicial, é muito mais amplo
A lei diz mesmo ‘podem usar-se, nos embargos de
executado, todos aqueles argumentos que eu
poderia usar no âmbito de uma ação declarativa’

Neste artigo 729º CPC, o legislador taxativamente referenciou quais os fundamentos


podem ser usados para eu me opor à execução sobre a forma de embargos

Vamos analisar individualmente as alíneas g) e h) uma vez que são as mais polémicas e
suscetíveis de dúvidas. As restantes alíneas têm sobretudo a ver com os pressupostos
processuais especiais ou gerais que podem fundar a oposição à execução.

Alínea g) Facto extintivo ou modificativo da obrigação ➭ tem de ter ocorrido depois


de ter sido encerrada a discussão no processo de declaração, isto porque se não tiver
sido encerrado ainda há a possibilidade de o fazer, superveniente, na ação declarativa.

Exemplo: uma ação para pagamento de uma dívida – a ação declarativa entrou a 1 de
janeiro de 2020 e a sentença é dada a 30 de setembro de 2022 e eu (ré) fiz o pagamento
no dia 1 julho de 2022. Agora há 20 dias entrou uma ação executiva e eu tomo
conhecimento da mesma à venho dizer que me oponho a execução porque paguei em
julho ➭ MAS não posso invocar isto

Temos o ónus de ter dito que já


pagamos na ação declarativa

Isto significa que podem ser penhorados os bens porque eu não tenho fundamento para
me opor à execução, apesar de já ter pago. Não obstante, se for procedida a penhora,
depois temos de intentar uma ação sobre o exequente por enriquecimento sem causa
Nota: funciona quase como a inversão do contencioso (é um erro dizer isto, é só para
percebermos).

Depois diz que ‘não só tem de ser posterior’ à a sentença foi decretada em setembro
e eu paguei dia 1 de novembro, ou seja, já foi depois do encerramento da discussão, já
posso invocar.
Mas eu não posso apenas invocar que paguei

Desde que seja posterior e se prove por documento ➭ requisito cumulativo

Portanto, se eu não provar por documento, não posso ir para lá provar por testemunhas

O resto do artigo agora fala na prescrição do direito ➭ o legislador especifica um muito


comum facto que pode extinguir a obrigação que é a prescrição.

52 Gabriela Pinto
Diz que: ‘a prescrição do direito ou da obrigação poder ser provada por qualquer meio’
➭ ou seja, qualquer facto modificativo e extintivo tem de ser provado por documento,
com exceção da extinção da obrigação por prescrição, onde podemos provar por
qualquer meio.

Alínea h) contra crédito sobre o exequente com vista a obter a compensação de créditos
Estamos aqui no âmbito de um fundamento muito específico que tem de ser arguido
neste momento quando temos a compensação ➭ resulta da alteração ao processo
relativa à obrigatoriedade da reconvenção quando há compensação de créditos

Nas ações declarativas...


Quando a compensação é igual ao valor que se está a cobrar não há nada que impeça
que seja usado o argumento como mera exceção perentória. Agora se eu quiser invocar
um crédito que excede o valor que me está a ser cobrado numa ação declarativa, aí terei
de recorrer à reconvenção.

Na ação executiva...
Aqui na ação executiva apenas se faz referência ao contra-crédito sobre o exequente ➭
este apenas funciona como compensação e não como condenação no excedente.

Exemplo: eu posso ter uma dívida de 100.000€ para com o exequente, mas a certa altura
venho invocar que o exequente me deve 200.000€ à na ação declarativa isto pode
anular, no sentido de fazer desaparecer os efeitos que o autor me quer ver condenado
a pagar, porque no fundo ele é que me deve mais a mim.

Mas então como é que eu vou obter nessa ação declarativa algo que juridicamente
tenha efeito em relação a este reconhecimento de que eu tenho o direito de receber
mais 100.000€? ➭ tenho de ter uma reconvenção
Na reconvenção, o juiz irá condenar o reconvindo
autor ao pagamento da quantia em excesso

Mas...
ö Se eu for para a execução invocar que o exequente me deve X quantia superior
ao executado, enquanto executado posso obstar que a execução prossiga em
relação aos 100.000€, mas não vai formar-se um título para depois ir executar o
exequente.

Artigo 731º CPC ➭ não se baseando a execução a sentença ou a requerimento de


injunção a qual tenha sido aposta forma executória.

53 Gabriela Pinto
Portanto, aqui o legislador fez uma coisa muito polémica e já existe inclusive um acordao
que fixou jurisprudência sobre isto que é ➭ vai remeter para este artigo os fundamentos
à oposição a execução baseada noutros títulos que não a sentença.

Além dos fundamentos à oposição especificados no 729º CPC, podem ser alegados
quaisquer outros que possam ser invocados como defesa no processo de declaração

O legislador estende, contudo, esta maior amplitude de meios de defesa se o título for
um requerimento de injunção a qual tenha sido aposta forma executada

Portanto...
Equiparou de certa forma, o título da injunção ao título sentença para alargar o âmbito
dos meios de defesa

Estes 3 primeiros artigos 729º; 730º; 731º têm a ver com os fundamentos substantivos
para utilizar a figura, ou seja, para na oposição à execução fazer funcionar este incidente
➭ é um incidente que não é necessário na ação executiva e só funciona se efetivamente
houver fundamentos

Estes incidentes ao serem suscitados são autuados por apenso à execução. Tal como
acontece nos incidentes de intervenção de terceiros, aqui também os embargos são
autuados por apenso ao processo ➭ artigo 732º CPC

O que é que significa serem autuados por apenso?


Vão suscitar a intervenção do juiz ➭ trata-se de um incidente que tem de ser
julgado por juiz, logo vamos ter de chamar o juiz ao processo.
Claro está que na ação ordinária o juiz já lá está e, aliás já proferiu despacho liminar,
mas como vamos ainda ver à no processo sumário em que o juiz não começou por
conhecer do processo, mas onde é possível deduzir oposição à execução, quando isto se
verificar então vai ser chamado o juiz e ele vai intervir.

Portanto...
Æ Tudo o que tenha a ver com oposição à execução é, necessariamente objeto de decisão
do juiz.

Estes embargos correm de forma simplificada: o executado foi citado, depois embarga
com os devidos fundamentos. Posteriormente, o juiz conhece da sua petição de
embargos e só depois, se os receber, é que notifica o exequente de que foram deduzidos
embargos naquela execução.

54 Gabriela Pinto
Nota: temos aqui uma situação similar ao despacho liminar ➭ na ação declarativa
tínhamos o princípio de que, em regra, não há despacho liminar. Depois chegamos à
ação executiva sob a forma ordinária e há despacho liminar.

Agora estamos a falar de um incidente que corra, quer na ação sob a forma ordinária
quer sob a forma sumária, quando o juiz recebe o Requerimento Inicial da oposição à
execução vai ver se pode ou não receber os embargos

Exemplo: vai lá um advogado que não sabe o que anda a fazer, no âmbito daquele
exemplo anterior que perante uma ação declarativa a parte foi condenada a pagar a 30
de setembro mas, entretanto, já tinha pago a dívida a 1 de julho ➭ vem a parte dizer ao
Sr. Juiz “vou embargar porque não devo este dinheiro”

Isto é logo liminarmente indeferido pelo juiz de execução,


desde logo, porque não cumpre o fundamento para que
com base num título executivo de sentença judicial o
executado possa embargar esta execução

A tramitação é a seguinte:
1. Entra o requerimento de oposição à execução sob a forma de embargos;
2. O juiz conhece-o em primeira linha e vai aferir se é para rejeitar liminarmente (732º/1
+ 734º/1) ou se os admite;
3. Admitindo-os, pode mandar aperfeiçoar;

4. Se ele mandar prosseguir os embargos, será notificado o exequente para exercer o


contraditório, contestando os embargos ➭ sob a forma de contestação aos embargos

Pode ser necessário o aperfeiçoamento antes da notificação do exequente:


ö Vamos imaginar uma execução na qual não seja obrigatório o patrocínio judiciário, mas
em que, entretanto, a própria pessoa embarga e aí para os litígios enxertados na ação
executiva de cariz declarativo há regras diferentes quanto ao patrocínio onde já pode
ser exigível o patrocínio judiciário à não pode por exemplo ser um advogado estagiário
a fazê-lo;
ö O juiz pode mandar aperfeiçoar para que seja suprida a falta de patrocínio judiciário.

Só se suspende a execução com a dedução dos embargos nos casos


expressamente previstos na lei, caso contrário a execução prossegue a
sua tramitação enquanto os embargos estão a decorrer

Ainda sobre a questão do exercício da oposição à execução propriamente dita:

55 Gabriela Pinto
à O facto de a doutrina questionar se é possível ou não por mero requerimento,
levantar uma questão que poderia ser objeto da oposição à execução naquele momento
próprio, mas que por ser superveniente relativamente ao momento da prática
processual não era possível.
Podia ou não se aceitar que o juiz conhecesse dessa
questão que fosse então, suscitada já num momento
posterior?

Æ Vamos encontrar isto referenciando na sequência dos fundamentos da


oposição ➭ artigo 729º/g). E de facto, parece que quando lemos a lei no artigo
729º do CPC que quando faz referência à oposição à execução diz: “só pode” à
É porque não pode outra forma.

Isto é algo que na prática pode ter a sua relevância e faz algum sentido face ao que
conhecemos atualmente em relação à intervenção oficiosa do juiz em determinados
momentos e também porque pode haver uma situação que legitime que só depois de
percorrido o prazo da oposição, tenha tido conhecimento de algo que possa colocar em
causa a execução propriamente dita.

Temos os fundamentos da oposição quando olhamos para a enunciação de facto do


artigo 729º ➭ Ficamos, portanto, com a ideia de que só podem ser estes fundamentos
para a sentença judicial, e depois quando o título é extrajudicial podem ser outros
fundamentos ser mais abrangentes, mas...

Em nome do princípio do contraditório, podemos imaginar que a falta de um


pressuposto processual da qual não se tenha invocado no momento da oposição à
execução, não faz sentido que não possa mais tarde, ser suscitada, desde que, isto
represente, nomeadamente, uma nulidade p.ex.

Portanto, se são vícios nos pressupostos, que inclusivamente são do conhecimento


oficioso, mesmo que o momento que o executado o invoca já não seja o dos 20 dias
após a citação prévia para pagar e nomear bens à penhora (tem aquele período para se
pronunciar), mas suscitando esses vícios ➭ O juiz deverá atender a essa realidade

Evidentemente que isto não pode ser nada que traga elementos novos ao processo.
® Porque se os elementos já estão no processo, tenho de os utilizar como argumento na
minha defesa, a partir do momento em que tenho a contagem de um prazo para me
defender, sob pena de preclusão.

Se há algo que possa suscitar e que não necessite de alegar factos novos, isto é, seja
relativo a elementos que já constam no próprio processo ➭ Pois então, é possível esta
inclusão do momento defensivo

56 Gabriela Pinto
Artigo 723º (competência do juiz) nº1 /d) ➭ Função que o juiz tem de decidir
outras questões suscitadas pelas partes ou por um terceiro interveniente.

Que questões são estas?

Podem ser questões de facto, que não tenham ainda sido suscitadas, que viciem de uma
forma substancial e grave o decurso da ação e sejam, portanto, invocadas/suscitadas ao
juiz e que ele deva conhecer, no prazo de 5 dias.
Temos, então situações que valem a pena
suscitar já depois de passado o prazo dos
tais 20 dias para pagar ou para se opor

Relembrar onde estamos situados...


o Ação executiva para pagamento de quantia certa sob a forma ordinária, em que houve
a citação prévia do executado.

Naturalmente, nada impede que a partir do momento em que há citação no processo


sumário, depois de feita a penhora, também se coloque a mesma questão:

A partir do momento em que já tenha decorrido o prazo para a dedução da oposição é


aí que pode valer a pena suscitar a alternativa das questões que viciam de forma
substancial e grave o decurso da ação e que ainda não tenham sido suscitadas.

à Se estamos dentro do prazo devemos tudo fazer para exercer o contraditório em


relação à execução, caso aconteça que dos elementos que já constam no processo, não
tenha sido possível alegar algum vício que possa contender com o decurso da ação
executiva, então, levantá-lo em outro momento parece o mais acertado

Fazendo uma breve súmula...


Temos um incidente que ocorre por apenso à ação executiva onde se levantam as
questões dos fundamentos quando o título é uma sentença ou quando é um título
extrajudicial.

Temos duas vertentes que temos de analisar quando resolvemos questões práticas:

• O que pode ser fundamento da oposição à execução propriamente dita;


• Tramitação (prazos, forma que tenho de fazer, que impacto tem na ação executiva)

A lei determina que, à partida, a oposição à execução não faz suspender o decurso da
ação propriamente dita, ou seja, este incidente declarativo de oposição não faz parar o
processo ao qual está apenso.
Imaginemos de uma forma metafórica a coluna de um peixe
que depois tem várias espinhas – a coluna é o processo e as
espinhas são os incidentes ➭ O processo executivo não tem
necessariamente de ter estes incidentes declarativos, eles
57 acontecem quando se verificam os seus pressupostos
Gabriela Pinto
Se o efeito principal dos embargos do executado é a não suspensão do decurso da ação
executiva, isto vai significar que ➭ Tenho de estar atenta ao decurso da ação executiva
de maneira que não deixe de praticar um ato enquanto parte, se o ónus de praticar o
ato estiver do meu lado, porque estou à espera que se decida algo no incidente de
embargos de executado.

Exemplo: Imaginando que indiquei um determinado bem para ser penhorado e vem
uma informação do agente de execução, dizendo que o bem não está no local que
indicou, e pede que o indique ➭ Terei de praticar o ato no âmbito daquilo que me
compete, ou seja, terei de vir dizer alguma coisa ao processo.

Æ Se um processo estiver parado por falta de impulso processual da parte que o deveria
praticar ➭ extingue-se a instância por falta da prática do ato.

Se tiverem passados 4 meses (sendo que, o período mais perigoso são 3 meses sem
praticar nenhum ato), por exemplo, e ao fim desses 4 meses vem o executado e diz que
o exequente não praticou nenhum ato e por essa razão o juiz tem de levantar a penhora
e extinguir a execução ➭ Porque tinha o ónus de praticar o ato e não o praticou

Efetivamente, quando deduzo embargos, não posso deixar de tramitar o processo


executivo porque estou à espera de algo que aconteça neste apenso.

Temos o artigo que no diz quando é possível suspender a ação executiva: Artigo 733º
➭ Também estão lá os motivos que podem justificar essa suspensão, mas essa
suspensão tem de ser requerida à Nada disto é automático.

Nota: Também nos recursos podemos querer atribuir ao efeito de um recurso o efeito
suspensivo, mas temos de invocar o argumento para que este seja concedido.

Artigo 733.º
(Efeito do recebimento dos embargos)
1 - O recebimento dos embargos suspende o prosseguimento da execução se:

c) Tiver sido impugnada, no âmbito da oposição deduzida, a exigibilidade ou a


liquidação da obrigação exequenda e o juiz considerar, ouvido o embargado, que se
justifica a suspensão sem prestação de caução.

São aqui dois casos de pressupostos especiais da ação executiva

Também há aqui o despacho liminar neste incidente, pagam-se taxas ➭ é como se fosse
uma ação declarativa enxertada na ação executiva.

Ou seja, temos um primeiro momento em que o juiz recebe ou rejeita ou manda


aperfeiçoar o requerimento dos embargos de executado e depois prossegue conforme
está estatuído nos artigos 733º e 734º.

58 Gabriela Pinto
Penhora
(Da maior importância)

Sabemos que é a realidade mais conhecida pelas pessoas, até porque hoje, com mais
facilidade, alguém vê um bem penhorado quando temos na base de uma execução, um
título executivo que legitime a utilização da forma sumária ➭ em que, primeiramente,
o agente de execução penhora e só depois é que o executado vem a saber exatamente
os contornos da ação executiva.

Sempre que temos uma dívida relacionada com os serviços essenciais, em que é comum
e se deve utilizar o processo especial de injunção, e onde não irá ser deduzida oposição
e é constituído um título executivo (fórmula executória aposta ao título injuntivo) ➭ A
seguir, vou para uma execução que começa sem despacho liminar, onde irá ser realizado
primeiramente a penhora e depois é que me lembro que tinha uma divida já com base
num título executivo constituído.

Isto não é surreal, mas sim muito comum

A penhora é, no fundo, a expressão máxima da coercibilidade naquilo que consubstancia


a apreensão material de bens (física numas situações/ jurídica noutras/ jurídica
acompanhada de física noutras). São o instrumento último que se utiliza com o objetivo
de fazer cumprir a obrigação pecuniária ➭ Por essa razão, associamos a penhora a
pagamentos de quantia certa.

Sabemos que não é a única forma de apreensão de bens:

o Figura do arresto;
o Figura do arrolamento.

Ou seja, temos outras figuras espalhadas no ordenamento que apreendem bens em


nome de um objetivo final de um processo principal, e que no bom rigor, vão ficar
sujeitas a um similar regime ao da penhora.

A penhora está associada ao processo executivo à O arresto e o arrolamento podem


não estar associadas ao processo executivo, mas continuam a ser formas de apreensão
de bens.

Os embargos de terceiro não são exclusivos dos incidentes e por isso mesmo é que se
encontra na parte geral do CPC à Pode acontecer numa ação executiva em relação aos
bens que estão a ser penhorados, pode acontecer em relação àquilo que é o arresto ou
arrolamento.

Figura principal:

Penhora na ação executiva para pagamento de quantia certa

59 Gabriela Pinto
Nota generalista em relação à penhora ➭ Então isto quer dizer que nas ações para
prestações de facto e entrega de coisa, não tenho penhoras

À partida não ➭ Se estiver perante uma coisa que é insuscetível de ser transformada/
transmutada, não irá existir penhora. Porque o objetivo da penhora, é efetivamente, a
apreensão de bens do devedor que está garantida com o património deste, e se não tiver a
necessidade de transformar a obrigação do executado em quantia pecuniária, não posso
usar a figura da penhora

Quando é que posso utilizar a penhora para uma ação executiva para prestação de
facto ou para entrega de coisa?

Quando, não sendo possível cumprir essa obrigação específica de entrega de coisa ou
prestação de facto, essa execução seja convertida em ação executiva para pagamento
de quantia certa ➭ no valor correspondente àquele que vai substituir a obrigação de entrega
ou a obrigação de prestação que não se consegue obter.

O processo vai ser transformado numa ação executiva para pagamento de quantia certa
na medida em que, não tenho, p.ex., o bem para entrega, vou ter de encontrar qual era
o valor que o executado teria que entregar, líquido esse valor e de seguida vou atrás dos
bens do devedor para pagar.

Temos 3 tipos de ação executiva:


• Prestação de facto
• Entrega de coisa certa
• Pagamento de quantia certa ➭ Tipicamente com a penhora enquanto fase última,
quando o executado, naturalmente, não cede ao cumprimento da obrigação (sendo que
ele pode obstar à penhora se pagar antes).

Nos outros tipos de ação executiva, só podemos ter a penhora na medida em que, seja
convertida qualquer uma dessas outras execuções numa execução que vai entroncar
nas regras da ação executiva para pagamento de quantia certa

1) Quando não é possível cumprir aquela obrigação de entrega, ou quando não é possível
prestar;
2) Tem de haver uma liquidação correspondente ao valor do objeto;
3) Então aí, continuamos atrás dos bens do devedor, para que, com o produto da sua venda
nos pagarmos da obrigação pecuniária em que se transforam estas outras obrigações.

60 Gabriela Pinto
Voltando à penhora... (o livro explica muito bem)

Notas principais:

É o património do devedor que garante o cumprimento da obrigação pecuniária, isto está


regulado no código civil. No código civil, temos uma série de normas sobre o
cumprimento coativo da prestação que temos de entroncar com as normas da penhora
processuais do Código de Processo Civil.

Isto significa, que temos aqui os instrumentos técnicos processuais para o


funcionamento da penhora, mas temos em complemento disto, a matéria sobre a
parte coativa que está no código civil ➭ Que devemos colocar remissivamente os
artigos do CC na fase da penhora, que ajudam a perceber melhor esta questão

O cumprimento e incumprimento das obrigações começa no artigo 762º CC, mas depois
temos ainda uma parte relacionada com o cumprimento coativo da prestação ➭ Nos
termos do artigo 817º ss CC (devemos fazer uma remissão deste artigo para a fase da
penhora no Código de Processo Civil).

As normas do CC são as que legitimam que eu use o processo para fazer a penhora.

O que temos da figura da penhora enquanto ato de apreensão de bens?

Temos várias realidades, desde logo:

® A questão de penhorar bens de terceiro, por exemplo, estamos a associar aqui aos bens
do executado, mas também podemos penhorar bens de terceiro, e isto liga-se à
legitimidade e aos desvios à legitimidade na ação executiva.

Exemplo: Desvio à legitimidade na ação executiva ➭ Houve um terceiro, amigo do executado


devedor, que disse ao credor, para emprestar o dinheiro ao executado devedor porque lhe dava
em garantia um penhor do relógio de ouro do seu avô, para o credor ficar mais calmo e tranquilo
de que o devedor lhe iria pagar o empréstimo.
O credor empresta então os 5000€, e o terceiro dá de penhor o relógio e transfere para posse
do credor, e o devedor seu amigo vai pagando em prestações tal como disse só que ➭ A certa
altura incumpriu.

O que é que acontece?

Se eu tiver na presença de um título executivo a assumir esta dívida com uma forma de
pagamento que, entretanto, foi incumprida à Avanço para uma ação executiva e vou querer
que responda pela dívida o bem que foi dado em garantia a esta dívida por um terceiro.

Nos desvios à legitimidade, apesar deste terceiro não ser devedor, e não constar no título nessa
qualidade (ele não assume a dívida com seria se fosse fiador), o que vai acontecer é que:

61 Gabriela Pinto
® Vai poder ver aquele bem a responder pela dívida apesar de não ser executado, aquele
bem vai ser chamado à execução nessa qualidade, ou seja, aquela pessoa vai lá estar
enquanto proprietário do bem que vai ser penhorado e que foi dado em garantia.

E aí ele pode ser executado nessa ação, não por via de ser
devedor, mas ➭ por ser proprietário de um bem que foi dado
em garantia àquela divida.

Nota: temos aqui uma situação que é diferente da normal que teríamos, que é quando
os bens do devedor vão responder pela divida.

Penhor ≠ Penhora
O penhor é uma garantia real A penhora é o ato de apreensão de bens
processualmente falando

Æ Eu posso penhorar um bem dado em penhor

Hipoteca ➭ Se tiver um bem hipotecado por um terceiro (que será um bem imóvel ou móvel
sujeito a registo), se a tal dívida para a qual foi dada esta garantia não se cumpra, a seguir
acontece exatamente o mesmo ➭ Posso ter este terceiro que deu o bem em garantia a vir ser
demandado, no sentido que ele tem de vir para a ação para ser considerado executado, e para
poder nos termos da lei do processo, ver aquele bem a ser objeto de uma penhora.

Nota: O penhor é a garantia real correspondente para os bens que não são sujeitos a hipoteca,
porque que não são imóveis ou móveis sujeitos a registo.

No processo executivo, temos de arranjar sempre um fundamento legal em relação a quem


queremos atacar (ou seja, aquele cujo património queremos atacar). Esse terceiro tem de vir
para a ação sob a forma processual de executado, mesmo que não seja o devedor perante aquele
credor, ou não conste o seu nome no título executivo ➭ Isto são as chamadas exceções à
legitimidade.

Questão da Apreensão Judicial de Bens


Como é que eu apreendo um bem?

Por exemplo, vou penhorar o veículo automóvel do devedor à como faço isso?
Æ A lei diz – temos de compreender a lei

Podemos ter uma apreensão física, desde logo se penhorar um bem móvel tal como um
automóvel ou for necessário arrombar a porta de uma casa para penhorar o recheio da
mesma.

62 Gabriela Pinto
Então e se forem penhorados Direitos de Autor?
Ou uma Patente?
Ou uma Marca?
ö Aqui temos a apreensão jurídica, não material ➭ isto é possível desde que os bens
sejam penhoráveis (ex. não posso penhorar ser mãe de alguém)

Este tipo de imaterialidade é suscetível de penhora, porque depois vai haver a


possibilidade de, perante terceiros e perante aquilo que é o comércio jurídico aquele
bem não poder ser comercializado, isto é, ficar restringido quanto aos efeitos da sua
utilização, nomeadamente a posse sobre esse direito que vai ter efeito prático sobre o
devedor.

Ou ainda...
Por exemplo, penhorar o imóvel de alguém ➭ não vai para o armazém que o agente de
execução tem para meter os bens penhorados J

Então como penhoro uma casa? Uma moradia?


Vamos ver – a prof. não disse ainda

Efeitos da Penhora
Ao ser concretizada a penhora, seja de que forma for (apreensão material ou jurídica ou
registo), o que se passa de diferente relativamente ao que acontecia antes da penhora?

Temos vários efeitos daqui decorrentes, desde logo, uma indisponibilidade factual da
posse daquele direito ➭ é um dos efeitos principais

Os poderes sobre a posse / disposição do


bem vão ser transferidos para o Tribunal
➭ essa transferência pode ser física ou
não
Nota: quando falamos aqui em tribunal, falamos em agente de execução uma vez que é
ele que atua em nome do tribunal

Esta indisponibilidade da posse, no que diz respeito à detenção sobre o próprio bem que
foi objeto de penhora vai ter impacto naturalmente, mas não é igual a dizer que eu não
posso dispor do bem

Há a chamada indisponibilidade relativa do bem e não uma indisponibilidade total


daquilo que é a propriedade que eu tenho sobre um determinado bem.

Exemplo: A tem a sua casa penhorada, ou seja, já foi submetida ao ato de penhora no
sentido da sua apreensão jurídica que é feita através de um registo desse ato
materializado na conservatória do registo predial.

63 Gabriela Pinto
A partir de agora A não pode vender o imóvel?
¶ Pode

O que acontece é que os efeitos do negócio jurídico que eu faça posteriormente à


penhora (temos aqui o tempo a ter uma relevância fulcral na sequência temporal,
portanto a penhora acontece e eu quero vender o bem a seguir) ➭ os efeitos decorrentes
daquela venda ficarão dependentes do desfecho final do processo executivo em relação
à penhora daquele bem.

Mas como?
Imaginemos uma pessoa que quer comprar um imóvel sujeito à penhora, podendo ser
vendido na ação executiva, e nos vem pedir conselhos:
® Aquilo que lhe devemos dizer é que ele pode comprar, isto é, celebra a Compra e Venda
e os efeitos plenos e totais ficarão dependentes da ação executiva

Isto na medida em que, se o bem for vendido na ação


executiva por força da penhora, paga ao fisco 6.000€ e o
resto do dinheiro é o senhor que o recebe

Se o senhor quiser evitar a venda do bem na ação


executiva, quando chegar a hora H paga a dívida ao
fisco e fica o bem livre de qualquer penhora
➭ o bem torna-se totalmente disponível

Portanto...
A indisponibilidade é relativa na medida em que nada impede que o executado venda a
um terceiro, mas é preciso ter atenção de que o vai vender com tudo o que o bem
acarreta.
Significa que vai vender o bem com a penhora que incide sobre ele

64 Gabriela Pinto

Você também pode gostar