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Solos e
Fertilidade

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Título:
Constituição do solo – Apresentação de apoio ao estudo (módulo 2)

Curso:
Solos e Fertilidade

Data da última atualização:


16 de setembro de 2022

Propriedade e edição:
Espaço Visual – Consultores de Engenharia Agronómica, Lda.

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Índice
1. Origem e importância do solo

2. Constituição do solo

3. Caraterização do solo

4. Erosão e conservação

5. Nutrição vegetal

6. Fertilizantes: adubos e corretivos

Solos e Fertilidade
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Constituição do solo
2. Constituição do solo
2.1 Fração mineral

2.2 Matéria orgânica

2.3 Água do solo

2.4 Atmosfera do solo


2.1 Fração mineral

FRAÇÃO MINERAL

Óxidos e hidróxidos
Minerais primários Minerais secundários de ferro, alumínio e
sais não combinados

Solos e Fertilidade
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Constituição do solo
2.1 Fração mineral

Minerais primários

Constituem a rocha-mãe. Estão expostos a alterações Nestes minerais incluem-se sobretudo:


constantes e graduais, provocadas por um conjunto de • Feldspato;
fenómenos físicos, químicos e biológicos. Estes minerais • Quartzo;
predominam nas frações areia e limo. • Micas.

Feldspato Quartzo Mica

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Constituição do solo
2.1 Fração mineral

Minerais secundários

Os minerais secundários predominam na fração argila (por Os minerais argilosos vão influenciar as propriedades
isso também são designados de minerais argilosos). Estes do solo, refletindo-se em:
minerais resultam da meteorização dos minerais primários. • Efeito tampão no pH;

As partículas de argila de maior dimensão podem ainda • Elevado poder de retenção de água;
apresentar quartzo e mica, contudo, as de menor dimensão • Proteção das substâncias orgânicas (solos mais ricos
são formadas por minerais argilosos (filossilicatos) ou por em argilas são solos com maiores teores de MO).
óxidos e hidróxidos de ferro, alumínio e magnésio.
Minerais argilosos mais frequentes pertencem aos grupos:
• Caulinite;
Meteorização
• Esmectite;
Conjunto de todos os processos de deterioração
e destruição das rochas por uma combinação da • Vermiculite;
fraturação física e alteração química. • Ilite.

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Constituição do solo
2.1 Fração mineral

Oxi-hidróxidos de ferro, alumínio,


magnésio e silicatos não cristalinos

Incluem vários compostos de origem primária


e/ou secundária:
• Óxidos de ferro – goethite e hematite;
• Óxidos de alumínio – gibsite;
• Carbonatos (sempre de origem secundária)
– calcite e dolmite (mais comuns).

Dependendo do teor de carbonatos, os solos


podem ser classificados desde não calcários
até fortemente calcários.

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Constituição do solo
2.1 Fração mineral

Relação entre as frações granulométricas


e o tipo de minerais presentes
Fonte: Amarilisde Varennes, 2003

• O quartzo predomina nas frações areia e limo; Outros minerais secundários

• Outros minerais primários (micas e feldspatos) estão


Outros minerais primários
presentes na areia e no limo (em menor quantidade);

• Os minerais secundários, principalmente os argilosos,


predominam na fração argila; Minerais argilosos

• Outros minerais secundários (óxidos e hidróxidos de Quartzo


ferro e alumínio) predominam nas frações mais finas
do limo e nas mais grosseiras da argila.

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Constituição do solo
2. Constituição do solo
2.1 Fração mineral

2.2 Matéria orgânica

2.3 Água do solo

2.4 Atmosfera do solo


2.2 Matéria orgânica

Constituintes da Matéria Orgânica (MO)

A matéria orgânica (MO) consiste num conjunto CONSTITUINTES DA MATÉRIA ORGÂNICA


heterogéneo de substâncias que podem ser: Material não
não
Material
decomposto
• Seres vivos (organismos do solo);
< 10%
< 10%
Húmus
• Tecidos mortos vegetais e animais Seres vivos Húmus
Seres vivos 33% a 50%
33% a 50%
em diversos estádios de decomposição; 5% 5%

• Mistura complexa de material orgânico


decomposto ou sintetizado de novo – húmus.

Material
Materialem
em
transformação
transformação
33%
33% a 55%
a 55%

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Constituição do solo
2.2 Matéria orgânica
SOL
O ciclo da matéria orgânica compreende 4 etapas

DE MATÉRIA MINERAL DAS PLANTAS PARA


PARA ORGÂNICA OS CONSUMIDORES
Consumidores
(animais)
A matéria mineral é transformada na As plantas podem ser consumidas
fotossíntese em compostos orgânicos por outros animais ou restituírem
dos quais a planta se alimenta, naturalmente os recursos consumidos
passando a fazer parte da própria. através do próprio material vegetal. CONSUMO-

Produtores Decompositores
DE MATÉRIA ORGÂNICA DOS CONSUMIDORES PARA (plantas verdes) (bactérias e fungos)
PARA MINERAL OS DECOMPOSITORES

A matéria orgânica composta pela Quando os órgãos vegetais da planta são


decomposição dos tecidos animais destacados da mesma ou os animais
e vegetais continua a ser degradada morrem, os cadáveres são decompostos
até ser reduzida a compostos simples por agentes saprófagos do solo Solo
(mineralização). (ex: insetos, fungos e bactérias).
(sais minerais e água)

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Constituição do solo
2.2 Matéria orgânica

Decomposição da Matéria Orgânica (MO)


DETRITOS
Na decomposição da MO existem duas fases distintas:

• Mineralização Fragmentação
Condições
Lixiviação
Processo que conduz à desorganização e Catabolismo
ambientais

transformação da estrutura dos resíduos orgânicos


em compostos simples, solúveis ou gasosos.
Mineralização Humificação
• Humificação
Processo que conduz à formação de complexos
coloidais estáveis e resistentes à decomposição
— HÚMUS.

CO2, H2O, Nutrientes Húmus

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Constituição do solo
2.2 Matéria orgânica

Em condições normais, a MO representa 1% a 6% da massa


Camada arável
total da camada arável de um solo mineral e influencia as
suas propriedades físicas e químicas. Solo agrícola
Camada inerte

Camada arável
Carateriza-se por ser rica em MO, apresentando
uma cor escura. Camada que por ser frequentemente
remexida apresenta boas condições de temperatura,
arejamento e humidade. Apresenta uma intensa vida Subsolo

microbiana e boas condições para a vida das plantas.

Rocha-mãe

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Constituição do solo
2.2 Matéria orgânica

Húmus

O húmus representa 60% a 80% da MO total dos solos.

Compreende todas as moléculas orgânicas provenientes


de detritos que se encontrem altamente decompostos
ou modificados, ou sintetizados por organismos do solo.
Apresenta uma natureza coloidal. É amorfo, muito poroso
e apresenta elevado poder tampão.

É responsável por:
• Agregação das argilas
(estabilidade da estrutura do solo);
• Capacidade de retenção de água
e nutrientes do solo.

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Constituição do solo
2.2 Matéria orgânica

Húmus

O húmus é constituído por: CONSTITUINTES DA MATÉRIA ORGÂNICA


Substâncias
• Substâncias húmicas Substâncias
húmicas
húmicas
Moléculas aromáticas complexas com aminoácidos, açúcares 70% a 80%
70% a 80%
aminados, péptidos e compostos alifáticos ligados aos grupos
aromáticos. Divididas em 3 classes:
• Ácidos fúlvicos (solúveis em ácidos e bases);
• Ácidos húmicos (solúveis em bases mas insolúveis
em ácidos);
• Humina (insolúvel em bases e ácidos).

• Substâncias não húmicas


Menos complexas e menos resistentes à degradação
em comparação com as húmicas: Substâncias
• Glúcidos, aminoácidos, proteínas, ácidos orgânicos, Substâncias
não húmicas
lípidos, ácidos nucleicos, lenhinas. 20%
não a 30%
húmicas
20% a 30 %

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Constituição do solo
2.2 Matéria orgânica

Húmus

ÁCIDOS FÚLVICOS ÁCIDOS HÚMICOS HUMINA

Amarelo claro Castanho amarelado Castanho escuro Cinzento escuro Preto

Intensidade de cor

Grau de polimerização

Teor de carbono
45% 62%

Capacidade de troca catiónica

Solubilidade

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Constituição do solo
2.2 Matéria orgânica

Complexo argilo-húmico

No solo existem:
CATIÕES ANIÕES
• Iões de carga positiva – catiões;

• Iões de carga negativa – aniões. Cálcio (Ca++) Fósforo (PO4–)

Na solução do solo é possível encontrar em simultâneo Magnésio (Mg++) Carbonato (CO3–)


catiões e aniões oriundos de sais dissolvidos.
Potássio (K+) Sulfato (SO4–)
Existem também as partículas de argila e húmus,
que apresentam carga negativa. Amónio (NH4++) Nitrato (NO3-)

Sódio (Na+) Cloreto (Cl-)

Hidrogénio (H+)

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Constituição do solo
2.2 Matéria orgânica

Complexo argilo-húmico

Quando num solo o ião predominante é o H+ (solo ácido) ESQUEMA DO COMPLEXO ARGILO-HÚMICO
as partículas mantêm-se muito juntas, sem organização,
conferindo uma estrutura muito compacta.
- + +
-
Para a formação do complexo argilo-húmico é preciso

+
+ +
que estes elementos deixem de estar compactados

+
e passem a estar floculados. Assim que isto acontece, +
- - - -
-
+

formam-se agregados de maiores dimensões com

+ +
Húmus
carga negativa e com capacidade de reter à sua superfície - -

+ +
+ +

os catiões. Para isto acontecer é necessário existir


+
+
-
- -

+ +
uma quantidade razoável de argila, húmus e cálcio. Argila
- + +
- + +

Cálcio

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Constituição do solo
2.2 Matéria orgânica

Complexo argilo-húmico

Quando as quantidades destes 3 elementos não SOLO COMPACTADO DEVIDO À


são suficientes ocorre a desfloculação do complexo, BAIXA QUANTIDADE DE CÁLCIO
ficando a argila sozinha e comportando-se com
muita fragilidade e passando a reter à sua superfície
catiões de hidrogénio, tornando os terrenos ácidos. - -
- -
-
- - -
Floculação
- + + - - - Húmus
A floculação consiste na aglutinação de partículas
formadas na coagulação que, por possuírem - - -
ainda dimensões reduzidas e baixa densidade,
-
Argila
apresentam dificuldade de sedimentação. + +

Cálcio

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Constituição do solo
2.2 Matéria orgânica

Benefícios da matéria orgânica (MO)

Exemplos de efeitos benéficos da matéria orgânica nos solos:


• Maior capacidade de retenção de água;
• Maior capacidade de adsorção de nutrientes;
• Maior produção macroporos;
• Maior agregação do solo;
• Melhora o arejamento;
• Fornece nutrientes;
• Estabiliza o pH do solo;
• Reduz perdas de água e nutrientes
por escoamento superficial;
• Reduz perdas de solo por erosão.

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Constituição do solo
2. Constituição do solo
2.1 Fração mineral

2.2 Matéria orgânica

2.3 Água do solo

2.4 Atmosfera do solo


2.3 Água do solo
Água higroscópica
No solo, a água encontra-se de diversas formas:
Poros
Água higroscópica: está retida pelas partículas,
não sendo utilizável pelas plantas.
Água gravitacional
Água gravitacional: encontra-se no solo quando
este está encharcado, desaparecendo para as camadas
mais profundas por infiltração, devido ao seu peso. Água de capilaridade

Água de combinação: está quimicamente combinada


dando origem a compostos.

Água de capilaridade: encontra-se dentro dos canais


capilares e pode efetivamente ser aproveitada pelas plantas.

Poros

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Constituição do solo
2.3 Água do solo

Teor de água do solo

Capacidade máxima de Capacidade Ponto de


água ou nível de saturação de campo emurchecimento

Todos os poros estão A água do macroporos foi substituída por ar Quando o solo seca e as plantas
preenchidos com água. e só há água nos microporos. Corresponde deixam de absorver água, murchando.
ao limite superior de água utilizável.

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Constituição do solo
2.3 Água do solo

Capacidade de campo: Capacidade de campo


Água utilizada pelas plantas
(ponto de emurchecimento)

Teor de água no solo


Água utilizável pelas plantas

Coeficiente de emurchecimento

Teor de argila

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Constituição do solo
2.3 Água do solo

Práticas aconselhadas

• Em solos arenosos devem realizar-se regas Deve-se fornecer às plantas água de qualidade, na medida
frequentes e com dotações mais baixas do das suas necessidades, com recurso a métodos de rega
que em solos argilosos; eficientes que permitam reduzir as perdas de água e evitar
a contaminação de aquíferos.
• Deve ajustar-se o intervalo entre regas e as
dotações às necessidades hídricas das culturas
ao longo do seu ciclo vegetativo;

• Não se devem utilizar grandes dotações de rega,


nos dias posteriores à aplicação de adubos azotados
(NO3).

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Constituição do solo
2. Constituição do solo
2.1 Fração mineral

2.2 Matéria orgânica

2.3 Água do solo

2.4 Atmosfera do solo


2.4 Atmosfera do solo

Composição do ar do solo

A composição é determinada pelas interações


solo-água-microrganismos-planta.

CONSTITUINTE AR DO SOLO – % (v) AR ATMOSFÉRICO – % (v)

Oxigénio 15 - 10,5 21

Dióxido de carbono 0,2 - 4,5 0,03

Azoto 79 - 81 79

Vapor de água Saturado Variável

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Constituição do solo
2.4 Atmosfera do solo Solo seco

Composição do ar do solo
Espaços
lacunares
O ar do solo situa-se nas lacunas, tal como a água.
Água da
Assim, a quantidade de ar vai depender da quantidade chuva
de água que existe nesses poros. Ao longo de um perfil,
o dióxido de carbono aumenta com a profundidade
e o oxigénio diminui.
Partículas
do solo Solo sem ar nos espaços
Nos solos compactados ou solos alagados predomina
a anaerobiose, onde apenas alguns microrganismos
toleram estas condições.
Condições para
se verificar
Anaerobiose asfixia radicular

Ocorrência de reações químicas na ausência


de oxigénio.

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Constituição do solo
2.4 Atmosfera do solo

Importância da atmosfera do solo

• É indispensável à vida das plantas;

• Influencia algumas propriedades do solo (porção


e tipo de MO, pH, forma e quantidade de nutrientes).

Influência nas reações químicas


Variação da composição do ar Consequências
e processos biológicos

Teor de oxigénio deficiente Humificação da MO é retardada Acumulação de MO

Acumulação de dióxido de carbono Redução de alguns constituintes do solo Deficiência ou excesso de nutrientes

Variação do pH; Influi na solubilidade dos


Formação de ácido carbónico
nutrientes; Influi na evolução do solo

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Constituição do solo
2.4 Atmosfera do solo
Minerais primários Feldspato; Quartzo; Micas
Matéria mineral
(46%) Minerais argilosos; Oxi-hidróxidos;
Minerais secundários
Silicatos não cristalizados; Carbonatos
FASE SÓLIDA
(50%)
Porção viva Raízes das plantas; Fauna do solo
Matéria orgânica
(4%) Restos de organismos vegetais e animais com vários graus
Porção não viva
de decomposição e produtos de decomposição

Água higroscópica Fortemente retida por adsorção

FASE LÍQUIDA Microporos: fracamente retida,


Solução do solo Água capilar
disponível para as plantas
(25%)

Água gravitacional Macroporos: não é retida pelo solo

FASE GASOSA
Atmosfera do solo Oxigénio; Dióxido de carbono; Azoto; Vapor de água
(25%)

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Constituição do solo
Em resumo…
• Conhecer os diferentes constituintes de um solo;

• Atender à importância da matéria orgânica no solo,


para o desenvolvimento das culturas;

• Atender à importância da água e do ar no solo,


para o desenvolvimento das culturas.

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Constituição do solo
Bibliografia recomendada
• COSTA, Joaquim Botelho (1973). Caraterização e constituição do solo.

• GARCIA, GinésNavarro; BLAYA, Simon Navarro (2000). Química agrícola, el suelo y los elementos
químicos esenciales para la vida vegetal.

• GONZÁLEZ, Gabriel Alcántar; TREJO-TÉLLEZ, Líbia I. (2007). Nutrición de cultivos.

• LOUÉ, André (1988). Los Microelementos en agricultura.

• SANTOS, J. Quelhas (1996). Fertilização, fundamentos da utilização dos adubos e correctivos, 2ªedição.

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