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Universidade Federal de Viçosa

Centro de Ciências Agrárias


Departamento de Solos

CADERNO DE FERTILIDADE DO SOLO

Edson Marcio Mattiello


Júlio César Lima Neves
Leonardus Vergutz
Reinaldo Bertola Cantarutti
Renildes Ferreira Fontes
Roberto Ferreira Novais
Samuel Vasconcelos Valadares
Victor Hugo Alvarez V.

Viçosa/MG
Novembro – 2016
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APRESENTAÇÃO

“Somos o que repetidamente fazemos. A excelência, portanto, não é um feito, mas um


hábito.”

Aristóteles

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Introdução
A agricultura constitui um marco na história da humanidade. Ao se tornar sedentário e
produzir alimentos, o homem alterou o rumo da sociedade que a milhares de anos constituía-
se de caçadores-coletores. A agricultura inicialmente se deu em solos de boa fertilidade,
normalmente próximos aos rios. Logo percebeu-se que o cultivo sucessivo levava a redução
da produtividade das culturas e a exaustão dos nutrientes do solo. Surge então o pousio das
áreas de cultivo. Mais tarde, a adição de estercos de animais, restos de vegetais ou cinzas ao
solo foi a maneira encontrada pelo homem para a recuperação e manutenção da fertilidade do
solo-surge então a adubação, que alterou os patamares de produtividades das culturas e
permitiu o aumento da produção de alimentos e o crescimento da população mundial.
O manejo nutricional é um dos importantes fatores de produção podendo afetar
grandemente a produtividade das culturas. A avaliação da fertilidade e o uso eficiente de
corretivos e fertilizantes, sobretudo em solos pobres, são fundamentais para obtenção de
maiores produtividades e melhor qualidade dos produtos agrícolas. Portanto, o conhecimento
e a pesquisa em fertilidade do solo devem ser plenamente usados no manejo dos solos e
orientação das correções das limitações nutricionais.

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SOL375-MÓDULO 1

ABORDAGEM INTRODUTÓRIA À FERTILIDADE DO SOLO

Propriedades físico-químicas do solo

Fases do Solo

Um solo mineral, próximo à superfície, com condições físicas ótimas para o


crescimento de plantas, apresenta, teoricamente, a seguinte composição volumétrica: 50 % de
espaço poroso, ocupados por partes iguais de ar e de água, 45–48 % de sólidos minerais e 2 a
5 % de matéria orgânica (MO). Têm-se, em média, então, 50 % constituídos pela fase sólida,
25 % pela fase líquida e 25 % pela fase gasosa (Figura 1).

A fase sólida é constituída de agregados que se apresentam, até certo ponto,


individualizados. Os agregados são formados de partículas unitárias, cimentadas entre si por
matéria orgânica, óxidos e hidróxidos de Fe e Al, sílica, etc. As partículas individuais são
obtidas após a dispersão dos agregados. Limites de tamanho definem as partículas como
pertencentes a diferentes frações (Figura 2).

Argila Silte Areia muito Areia fina Areia média Areia grossa Areia Muito Cascalho
fina grossa
0 0,002 0,02 0,05 0,2 0,5 1 2
Tamanho (mm)

Figura 2. Limites dos tamanhos das partículas dos solos

Sistema Coloidal
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O solo pode ser considerado como um sistema disperso, uma vez que é constituído de
mais de uma fase, estando a fase sólida em estado de acentuada subdivisão. Há, portanto, um
sistema coloidal1 no solo, constituído de partículas diminutas, de tamanho coloidal, minerais
ou orgânicas, ou organominerais, como fase dispersa na solução (ou no ar) do solo, como
meio de dispersão. Nesse sistema, ocorrem muitas das reações químicas, físico-químicas e
microbianas de maior importância no estudo dos solos. Nessa fase dispersa, é que se
encontram as argilas.

A seguir são discutidas algumas propriedades das partículas do sistema coloidal do


solo:

a) Superfície específica – refere-se à área por unidade de massa do material e é,


usualmente, expressa em m2/g, porém em desacordo com o sistema internacional de
unidades (SI), em que dever-se-ia expressar em m2/kg,

A redução do tamanho da partícula aumenta sua área superficial em relação à sua


massa e, consequentemente, ocorre aumento de sua superfície específica. Em virtude do
menor tamanho da fração argila do solo em relação às outras frações, ela contribui em maior
proporção com o valor da superfície específica do solo. Deve-se, portanto, esperar grandes
variações entre solos quanto às suas superfícies específicas. Dentre os fatores responsáveis
por essas variações, encontram-se a textura, os tipos de minerais de argila e o teor de matéria
orgânica.
Quanto ao tipo de mineral de argila, sabe-se, por exemplo, que a caulinita apresenta
superfície específica em torno de 10 a 30 m2/g (1 a 3 hm2/g), os óxidos de Fe de 100 a 400
m2/g, e a montmorilonita, no outro extremo, de 700 a 800 m2/g. É de se esperar, portanto, que
solos tropicais, que têm nos óxidos e na caulinita os maiores constituintes da fração argila,
tenham menor superfície específica, em geral, que solos de regiões temperadas, onde há
predominância de montmorilonita e de outras argilas silicatadas mais ativas.
A matéria orgânica, embora se apresente teores relativamente baixos na maioria dos
solos, contribui significativamente para o valor da superfície específica destes, graças ao seu
alto grau de subdivisão. Assim, um solo com maior teor de matéria orgânica deverá ter maior
superfície específica que outro com menor teor, se outras características, como tipo e

1 Nos sistemas coloidais, componentes da fase dispersa (a fase constituída pelas partículas)
-9
apresentam, pelo menos, uma de suas dimensões entre 1 μm e 1 nm (1 nm = 10 m), e encontram-
se em uma segunda fase, o meio de dispersão (neste caso água ou ar).
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quantidade de argila, forem mantidas constantes.

b) Cargas Elétricas- Propriedade muito importante de uma dispersão coloidal é a presença de


cargas elétricas. As partículas coloidais do solo, as argilas de modo geral, são eletronegativas.
Porém, em solos muito intemperizados pode-se encontrar maior número de cargas positivas
do que negativas, principalmente em subsuperfície. Essas cargas elétricas corroboram para a
adsorção de íons de cargas opostas, retendo-os no solo.

c) Cinética- As partículas dispersas em meios líquidos apresentam movimentos. O


movimento browniano é caracterizado pelo movimento brusco e irregular de partículas
individuais no meio de dispersão. Esse movimento deve-se à energia cinética das partículas.

Origem das Cargas Elétricas do Solo

Cargas Negativas

Em geral, as cargas negativas são predominantes nos solos. Essa predominância é


expressiva em solos de regiões temperadas, graças à presença de argilas silicatadas mais
ativas, por conseguinte mais eletronegativas. Por outro lado, nos solos mais intemperizados
de regiões tropicais, o predomínio de cargas negativas tende a diminuir e, em alguns casos,
até mesmo inverter com predomínio de cargas positivas.

As cargas eletronegativas do solo podem ter diferentes origens:

a) Dissociação de Grupos OH nas Arestas das Argilas Silicatadas

O grupo OH nas terminações tetraedrais ou octaedrais, em faces quebradas das


unidades cristalográficas das argilas silicadas, pode-se dissociar, gerando uma carga negativa.
Verifica-se que com elevação do pH do meio (solo) há a neutralização dos íons H+ liberados
na dissociação do grupo OH. Este tipo de cargas dependentes do pH é o tipo predominante
em argilas 1:1, como a caulinita.

b) Substituição Isomórfica

Durante a gênese de argilas do tipo 2:1, alguns átomos de Si dos tetraedros podem ter
sido substituídos por Al, bem como o Al dos octaedros pode ser substituído por Mg ou por
outros cátions de valência menor que a do Al3+ (Figura 2). A substituição do Si4+, que se
encontrava, inicialmente, neutralizando quatro cargas negativas por Al3+, irá condicionar
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sobra de uma carga negativa. De maneira semelhante, uma carga negativa será gerada pela
substituição de um Al3+ de um octaedro por um cátion divalente, como o Mg2+.

Deve-se ressaltar que o número de cargas geradas por este processo não é variável
com alterações do pH do meio.

Figura 2. Modelo ilustrativo da substituição isomórfica em argilominerais.

c) Matéria Orgânica

Na matéria orgânica do solo, as cargas negativas originam-se, principalmente, da


dissociação de grupos carboxilícos e fenólicos (Figura 3). Quanto maior o pH do solo, mais
cargas negativas serão disponibilizadas.

Figura 3. Grupamentos fenol e carboxil da matéria orgânica do solo.

Cargas Positivas

As cargas eletropositivas do solo têm sua origem nos óxidos e hidróxidos (óxidos
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hidratados) de Fe e Al, principalmente. Tal situação se dá de maneira mais significativa em
condições mais ácidas de solo. O esquema abaixo mostra que o hidróxido de Al (gibsita) pode
dar origem a cargas eletropositivas, eletronegativas ou permanecer com carga neutra na
superfície, dependendo do pH do solo (Figura 4).

Figura 4. Modelo de geração de cargas em gibsita (Al(OH3))

De modo geral, o ponto em que o balanço de carga dos óxidos é nula corresponde a
um valor de pH na faixa alcalina. O PCZ (ponto de carga zero) é o pH em que o solo
apresenta carga líquida nula. Seu valor é variável de acordo com a natureza dos materiais
trocadores de íons constituintes do solo. Assim sendo, os óxidos de Fe e Al apresentam cargas
positivas em solos ácidos.

Adsorção e troca iônica

As propriedades de adsorção iônica do solo são devidas, principalmente, aos minerais


de argila e à matéria orgânica do solo, materiais de elevada superfície específica. Essas
partículas coloidais do solo são anfóteras, apresentam cargas elétricas negativas e positivas,
podendo adsorver ou “reter”, tanto cátions como ânions.

As cargas negativas são neutralizadas por íons eletropositivos, ou seja, pelos cátions, o
que se denomina adsorção catiônica. Na neutralização de cargas positivas pelos ânions tem-se
a adsorção aniônica. Os íons envolvidos nesse processo de adsorção ligam-se por
eletrovalência ou por covalência às partículas coloidais do solo. Os cátions mais envolvidos
quantitativamente nesse processo são: Ca2+, Mg2+, Al3+, H+, K+, Na+ e NH4+, sendo o Ca2+,
comumente, o mais abundante em alguns solos, enquanto, em outros, é o Al3+. Alguns
micronutrientes estão, também, sujeitos ao mesmo processo, embora em quantidades muito
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pequenas se comparadas aos cátions referidos anteriormente. Os íons adsorvidos às partículas
coloidais podem ser deslocados e substituídos, estequiometricamente, por outros íons de
mesmo tipo de carga, dando-se uma troca iônica.

Como as cargas da fase sólida se manifestam na superfície das partículas coloidais do


solo, há estreita relação entre o fenômeno de troca e a área superficial dessas partículas. Essa
área é a superfície específica do solo, expressa em m2/g, conforme mostrado acima. Assim, o
fenômeno de troca iônica do solo, que é basicamente a expressão de suas propriedades físico-
químicas, depende de sua superfície específica e da densidade de cargas elétricas que se
manifestam nesta superfície.

Na solução do solo, que envolve as partículas coloidais, os íons estão se deslocando


constantemente. Os íons em movimento representam os elementos em estado trocável ou
disponível.

Esquematicamente, o fenômeno de adsorção e troca iônica pode ser representado pela


figura 5.

Figura 5. Adsorção e troca iônica em superfície eletronegativa e eletropositiva.

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Capacidade de Troca Catiônica (CTC)

Representa a quantidade de cargas negativas presentes em determinado solo e,


portanto, a capacidade deste em adsorver cátions. Assume-se que os cátions adsorvidos na
CTC do solo encontram-se em uma forma tal que possam ser rapidamente trocados por outros
cátions introduzidos na solução do solo, que essa reação de troca ocorra rapidamente, de
forma estequiométrica e que seja reversível.
Na determinação da CTC do solo é importante considerar o pH em que a troca
catiônica se verifica. Isto porque, além das cargas negativas permanentes (substituição
isomórficas) os solos apresentam cargas dependentes de pH (H ligado covalentemente).
Portanto, quanto maior o pH da solução de medida da CTC, maior será a quantidade de cargas
negativas encontradas. À CTC medida no pH natural do solo damos o nome de CTC efetiva
(t), ou seja, aquela que realmente está sendo expressa naquele pH. Adicionalmente, também
determinados a CTC potencial, ou CTC a pH 7 (T), que é determinada utilizando-se uma
solução tamponada a pH 7. Essa CTC potencial é uma referência e nos da uma ideia do
tamponamento do solo e da quantidade de cargas que poderão ser disponibilizadas por
ocasião da realização da calagem e eventual elevação do pH do solo.
Dentre os cátions que neutralizam as cargas negativas da CTC efetiva do solo,
incluem-se, principalmente, os de caráter básico (Ca2+, Mg2+, K+, Na+ e NH4+), os de caráter
ácido (Al3+, principalmente) e, também, cátions H+ ligados a cargas negativas da CTC de
caráter eletrovalente. O conjunto dos cátions que estão ocupando a CTC do solo, saturando-a,
juntamente com as cargas negativas dos colóides é denominado complexo sortivo (ou de
troca) do solo.
Quando se usa uma solução salina não tamponada, como KCl 1 mol/L ou CaCl2 0,5
mol/L , para a determinação da CTC do solo, o valor obtido corresponderá à CTC efetiva. Por
outro lado, se a solução salina for tamponada a um definido pH, o valor obtido corresponderá
à CTC potencial do solo naquele pH, englobando a CTC permanente e a CTC dependente do
pH. Para determinar a CTC a pH 7,0, utiliza-se uma solução tamponada de acetato de cálcio
0,5 mol/L , ou de acetato de amônio 1 mol/L , a pH 7,0.
Dessa maneira, conforme citado acima, os princípios que caracterizam a CTC são:
a) O fenômeno de troca é reversível. Os cátions adsorvidos podem ser deslocados por outros,
e, assim, sucessivamente.
b) O fenômeno de troca é uma reação estequiométrica, isto é: um molc de um cátion é trocado

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(substituído) por um molc de outro cátion.
c) É um processo rápido
Muitas condições do solo têm influência sobre a CTC, dentre as quais: pH,
características dos cátions trocáveis, como valência e raio iônico hidratado, concentração da
solução e natureza da fase sólida.
A natureza dos cátions trocáveis afeta suas trocas no solo. A depender da densidade de
carga dos cátions, isto é, Z/r (Z = carga do íon e r = raio do íon hidratado) esses elementos
podem ser mais fortemente retidos no complexo sortivo. Os cátions que têm maior densidade
de carga são mais retidos nas cargas negativas do solo. Por isso, os cátions polivalentes são
geralmente mais fortemente retidos no solo. A sequência de preferencialidade de troca de
cátions para uma mesma concentração foi estabelecida por Hofmeister, sendo conhecida
como sequência de Hofmeister (Mengel & Kirkby, 1982), ou série liotrópica (Russel &
Russel,1973). Esta sequência é a seguinte:
Li+ <Na+ <K+ <Rb+ <Cs+ <Mg2+ <Ca2+ <Sr2+ <Ba2+<Al³+
A diferença na preferencialidade de troca entre cátions da mesma carga se deve à
diferença entre os raios iônicos hidratados (espessura da camada de hidratação do íon). O
Al3+, sendo trivalente, é mais fortemente retido que os divalentes. O H+, em razão de suas
propriedades específicas, com ligações preferenciais covalentes, não se comporta como
monovalente quanto à preferencialidade de troca. Seu papel depende, também, da natureza do
material trocador.
A concentração dos cátions na solução do solo afeta a preferencialidade de troca,
interagindo com a carga dos cátions envolvidos. Assim, à medida que se dilui a solução
mantendo-se constantes as proporções entre os cátions presentes, verifica-se um aumento na
preferência de troca dos cátions de menor pelos de maior valência. Em razão disso, em solos
de regiões úmidas, as bases vão sendo lixiviadas e o cátion que acaba predominando no
complexo é o Al3+. Por outro lado, em solos de regiões áridas e semi-áridas, a tendência é de
acúmulo de cátions monovalentes, principalmente o Na+.
A natureza do material trocador influi, principalmente, na densidade de cargas
negativas responsáveis pela CTC do solo, que se expressa em cmolc/kg. Em solos de regiões
tropicais, como na maior parte do território brasileiro, a matéria orgânica apresenta,
geralmente, maior participação no valor da CTC total.
Uma idéia da amplitude de variação destas características relacionadas com a CTC do
solo, bem como a sua divisão em classes, de acordo com a magnitude das mesmas, é dada no
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quadro abaixo (Quadro 1). Deve-se salientar que esta classificação é válida para solos de
regiões tropicais.

Quadro 1. Amplitude e classificação das características relacionadas à CTC dos solos


tropicais

a) CTC efetiva (t) e Potencial a pH 7,0 (T)

No pH da solução extratora correspondente ao do solo, tem-se a CTC efetiva (t), que é


a CTC permanente mais parte da CTC dependente de pH que se manifesta até o pH do solo.
No pH 7 tamponado (T), além de medir a CTC efetiva adiciona-se a esta as cargas
dependentes de pH que encontram-se bloqueadas por H covalentemente ligados aos
grupamentos funcionais dos argilominerais e da matéria orgânica do solo. Portanto, essas
cargas bloqueadas são aquelas que encontram-se entre o pH do solo e o pH da suspensão, no
equilíbrio do poder tampão a pH 7. A matéria orgânica do solo é um material que apresenta
CTC tipicamente dependente de pH.

b) Soma de bases (SB)

A soma de bases (SB) é calculada somando-se os teores de Ca2+, Mg2+, K+ e, quando


disponíveis, os teores de Na+ e NH4+ trocáveis. Porém, nos solos ácidos de regiões tropicais,
como a maioria dos solos brasileiros, os teores dos cátions trocáveis Na+ e NH4+ geralmente
têm magnitude desprezível.

c) Saturação por bases (V)

A participação das bases no complexo sortivo do solo a pH 7, expressa-se em


percentagem e é conhecida como saturação por bases (V). Indica a quantidade relativa de
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bases com relação à CTC potencial. Ela é calculada pela expressão abaixo.

d) Acidez trocável (Al3+)

A acidez trocável é constituída pelo Al3+, o Mn2+ e em menor quantidade por Fe2+,
mais os íons de H+ que fazem parte da CTC efetiva. Como, em geral, a participação do Mn2+,
Fe2+ e do H+ é pequena em relação à acidez trocável, este valor é representado pelo Al
trocável (Al3+). Cátions de caráter ácido, como o Al3+ e o Mn2+, são considerados como
acidez trocável porque, em solução, pela hidrólise da água, geram acidez, de acordo com a
equação abaixo:

e) Acidez potencial
A determinação da acidez potencial (a pH 7,0) é feita utilizando-se como extrator uma
solução tamponada de acetato de cálcio 0,5 mol/L , pH 7,0. Esta acidez inclui tanto o H (H+
trocável e H de ligações covalentes que é dissociado com a elevação do pH) quanto o Al3+.
Por esse motivo é chamada de H + Al. O H covalentemente ligado representa as cargas
negativas dependentes do pH. Esta fração é chamada acidez dependente do pH.
f) Saturação pela acidez trocável (m)

A saturação pela acidez trocável (Al3+) representa a quantidade relativa (em termos
percentuais) da CTC efetiva (t) que está ocupada por Al3+. Ela é calculada pela seguinte
expressão:

Informações sobre os valores de T, SB e V de um solo podem indicar o tipo de


mineral presente na fração argila e possíveis problemas na sua utilização, bem como sobre o
procedimento adequado a ser tomado para otimizar sua utilização.

O solo A (Quadro 6), com valor baixo de T, provavelmente tem sua fração argila
constituída por caulinita e óxidos de Fe e Al e, ou, o teor de argila do solo é baixo (solo
arenoso). Outro aspecto provável é a existência de baixo teor de matéria orgânica neste solo.

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A adição de matéria orgânica a este solo para aumentar, pelo menos temporariamente, seu
valor T, poderia ser recomendada. O valor de V é médio e a percentagem de saturação por
Al3+ (m) é baixa, em razão dos baixos valores de Al3+.

O solo B (Quadro 6), muito ácido, tem baixo V. Logo, alta participação da acidez
potencial (H + Al) no complexo de troca, podendo apresentar alta percentagem de saturação
por Al (m). Para uso agrícola, deverá ter o seu pH elevado por meio de calagem, o que irá
causar aumento dos valores de SB e V, aumentando, consequentemente, o seu pH e
diminuindo o valor de Al3+ e de m. Os valores de T e SB indicam que o material constituinte
da fração coloidal é mais ativo, provavelmente com teor de matéria orgânica mais elevado
neste solo, embora apresente poucas bases no seu complexo de troca.

O solo C (Quadro 2) apresenta-se em boas condições quanto ao seu complexo de troca


e características a ele relacionadas.

Quadro 2. Valores de pH, Al3+, SB, t, (H + Al), T, V e m de amostras de três solos.

Capacidade de Troca Aniônica

A capacidade de troca aniônica é definida como o poder do solo de reter ânions na


fase sólida, numa forma trocável com outros ânions da solução. Entretanto, a manifestação
desta propriedade não é tão característica quanto a troca catiônica, isto é, nem sempre são
atendidas as condições de rapidez, reversibilidade e estequiometria. Por esta razão, a troca
aniônica é mais frequente e convenientemente denominada adsorção aniônica e pode ser
específica para cada ânion, sugerindo um processo mais complexo do que a simples troca.

Um aspecto particular do comportamento de certos ânions no solo é a adsorção


específica. Por este processo os ânions são retidos pela fase sólida, por meio de ligações
fortes (covalentes), passando a fazer parte da estrutura dos minerais, em sua superfície. Este
tipo de adsorção é de baixa reversibilidade e é bem conhecido para o P, sendo o principal

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responsável pela fixação de P no solo, principalmente nos solos ricos em óxidos e hidróxidos
de Fe e Al. Uma reação desta natureza é apresentada de forma simplificada na figura 6.:

Figura 6. Esquema ilutrativo da adsorção específica (covalente) do ion fosfato em óxido de


Fe.

Os ânions que podem deslocar o P (H2PO4-) da fase sólida do solo com maior
eficiência são flúor (F-) e o silicato (H3SiO4-), seguido de sulfato (SO42-). O nitrato (NO3-) e o
cloreto (Cl-) não têm, praticamente, poder de substituir o fosfato. Pode-se dizer que a retenção
de nitrato e cloreto no solo se dá por adsorção não-específica, que tem caráter reversível.

Da mesma forma que a CTC, a capacidade de adsorção de ânions dos solos também
pode ser determinada em laboratório. Para tanto utilizam-se, usualmente, curvas de adsorção
conhecidas como “isotermas de adsorção”. Uma das mais utilizadas para ânions do solo, de
interesse na nutrição das plantas, é a isoterma de Langmuir, a qual permite determinar a
capacidade máxima de adsorção do ânion em estudo, como por exemplo a capacidade
máxima de adsorção de P (CMAP) e de sulfato (CMAS).

A capacidade máxima de adsorção de ânions varia com as características do solo,


notadamente seu teor e tipo de argila, podendo atingir valores bastante elevados para solos
muito intemperizados com altos teores de argila. Por exemplo, valores de CMAP variando de
220 a 1 260 mg/kg de P para Latossolos do Planalto Central do Brasil correspondem a uma
retenção de, aproximadamente, 1 000 a 5 800 kg ha-1 de P2O5 na camada arável (20 cm de
profundidade). De maneira geral, solos com menor teor de argila apresentam valores de
CMAP e CMAS menores em relação aos mais argilosos. Porém, o tipo de argila também tem
grande influência.

CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA FERTILIDADE DO SOLO


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A fertilidade do solo refere-se à capacidade do solo em suprir elementos essenciais às
plantas. A boa fertilidade do solo implica em suprir quantidades e proporções adequadas de
nutrientes para o crescimento e produtividade das plantas.

Solo produtivo é um solo fértil, ou seja, que contém os nutrientes essenciais em


quantidades adequadas e balanceadas para o normal crescimento e desenvolvimento das
plantas cultivadas e que apresenta ainda boas características físicas e biológicas, está livre de
elementos tóxicos e encontra-se em local com fatores climáticos favoráveis. Assim, um solo
pode ser fértil sem necessariamente ser produtivo.
Um solo pode apresentar boa fertilidade natural ou, por meio de correções e do
manejo adequado de nutrientes, podemos construir fertilidade em solos pobres. No Brasil é
comum a ocorrência de solos com baixa fertilidade natural, principalmente os Latossolos e
Argissolos. Destacam-se pela longa gênese do solo e o alto grau de intemperismo como
principais fatores causadores da baixa fertilidade, particularmente em grande parte das regiões
tropicais e subtropicais, onde a remoção de nutrientes do solo é mais acelerada, em razão das
condições de altas temperaturas e precipitações pluviais.
Da mesma forma, o manejo inadequado do solo pode levar a perda da fertilidade ao
longo do tempo. Destacam-se a erosão, a redução dos teores de MO, a acidez ou salinidade e
a exaustão de nutrientes do solo provocada pelas retiradas pelas culturas, maiores que pelas
adições via adubação, como as principais causas da perda da fertilidade do solo.
A baixa fertilidade de um solo pode ser expressa pela elevada acidez, toxidez por Al,
baixa reserva de nutrientes como K, Ca e Mg, elevada adsorção de P e baixos teores de
matéria orgânica do solo.

Fatores Intensidade, Quantidade e Capacidade Tampão

As plantas absorvem os nutrientes, na forma de íons, da solução do solo. Por sua vez,
na fase sólida é que está a reserva desses íons. Estes são repostos para a solução quando sua
concentração é diminuída, decorrente da absorção pelas plantas ou de algum outro tipo de
perda.

É importante, portanto, conhecer o teor de nutrientes em solução, a reserva desse teor


na fase sólida e o poder de reposição dessa reserva para a solução do solo. Estas três
grandezas, inter-relacionadas, determinam a disponibilidade dos nutrientes no solo e são

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denominadas:

- Fator quantidade (Q): é a reserva do íon disponível na fase sólida do solo, trocável como o
Ca2+, Mg2+, K+ ou lábil como para P, mas em equilíbrio com sua concentração na solução,
durante o ciclo de vida das plantas.

- Fator Intensidade (I): é a concentração, ou, mais precisamente, a atividade do íon na


solução do solo.

- Fator capacidade ou capacidade tampão (FC ou CT): é a relação entre os fatores


quantidade e intensidade, em dada faixa de concentração (atividade) considerada (∆Q/∆I).

O esquema abaixo demonstra essa inter-relação entre os fatores Q, I e Q/I:

Da mesma maneira, a figura 7 exemplifica bem essa relação entre os fatores


quantidade (Q), intensidade (I) e capacidade tampão (CT) de um nutriente no solo,
comparando dois solos (A e B) hipotéticos.

Figura 7. Relação entre os fatores intensidade (I) e quantidade (Q) para dois solos
hipotéticos, demonstrando a diferença de capacidade tampão para um dado nutriente.

Observa-se que o solo A tem maior CT (mais tamponado) que o solo B (∆Q/∆I do

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solo A > ∆Q/∆I do solo B – Figura 7). Na prática, pode-se dizer que, para a mesma dose de P
aplicada nos dois solos, o aumento da concentração de P em solução (I) será maior no solo B
do que no A.
Uma possibilidade para justificar isto seria o solo A ser mais argiloso que o solo B,
mantendo-se a mesma qualidade (atividade) de argila para ambos os solos.
Outra maneira de representar a inter-relação entre os fatores I, Q e CT é por meio de
um sistema de vasos comunicantes (Figura 8).

Figura 8. Esquema de vasos comunicantes representando os fatores intensidade (I),


quantidade (Q), o inverso do fator capacidade (∆I/∆Q) e também formas do nutriente em
estudo que não encontra-se em equilíbrio com I, também conhecido como não-lábil (Ñ-Q).

Verifica-se, nessa representação, que a quantidade trocável ou lábil (adsorvido ou Q),


do elemento E (um elemento qualquer) está em equilíbrio com a quantidade em solução (I)
deste elemento. A tubulação que liga esses dois compartimentos representa (∆I/∆Q, ou o
inverso da CT; logo, quanto maior o diâmetro da tubulação, menor a CT para o elemento
(caso do solo arenoso) em relação a um menor diâmetro (solo argiloso, como comparação). A
quantidade total de nutriente no solo disponível à planta é igual a Q+I. Como o valor de I é
muito menor que o de Q, nas determinações de Ca trocável ou de P-lábil de um solo, que
representam medidas de Q, a contribuição de I pelo seu valor muito pequeno, não altera para
fins práticos o valor de Q.
A quantidade máxima que pode atingir Q, em dado solo, é dada pela CTC desse solo,
para elementos trocáveis com ligação eletrostática como Ca2+, Mg2+, K+, Na+ e pela
capacidade máxima de adsorção do elemento (CMAE) por esse solo, para elementos com
ligações covalentes (adsorção específica), como o P e Zn, dentre outros. O equilíbrio entre Q
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e I indica que, quando o solo tiver seu valor máximo de Q de um elemento, ele terá também
seu valor máximo de I; logo quando Q tende para zero, I também tende a zero.

O diâmetro da tubulação da figura acima será muito maior para elementos adsorvidos
por troca iônica que para aqueles adsorvidos por covalência. O “transporte” indica que, para
uma planta absorver um nutriente, não basta que o solo seja capaz de cedê-lo; é necessário
que o nutriente seja transportado desde a solução, próximo às partículas sólidas do solo, até à
solução junto à raiz.

Resposta à adubação

As plantas respondem ao aumento da concentração de nutrientes disponíveis no solo e tal


aumento é consequência das doses aplicadas de fertilizantes. A resposta à adubação pode ser
representada nos gráficos A, B ou C da Figura 9. Existe ainda situações em que podemos
observar a ausência de resposta ou resposta nula à adubação (D).

800
(A) (B)
Produção (kg/ha)

600

400

200

800
(C) (D)
Produção (kg/ha)

600

400

200

0
0 50 100 150 200 250 300 0 50 100 150 200 250 300

Dose do nutriente (kg/ha) Dose do nutriente (kg/ha)

Figura 9. Resposta das culturas à adubação. A: resposta linear; B: resposta curvilinear platô;
C:resposta quadrática e D: resposta nula

19
A análise, interpretação e compreensão da resposta à adubação, baseia-se em princípios que
são denominados de leis da adubação.

Lei da restituição

“para manter a fertilidade do solo, deve-se restituir os nutrientes absorvidos pelas plantas e
exportados com as colheitas mais os perdidos no solo, ou seja, aqueles que não foram
reciclados”

Restrição: Eficiente e adequada desde que o solo tenha uma boa fertilidade

Lei do mínimo (Liebig 1862)

“cada campo pode conter a disponibilidade mínima de um mínimo de um ou mais nutrientes.


Com esse mínimo, seja calcário, K, N, ácido fosfórico, magnésio ou qualquer outro nutriente,
as produtividades apresentam uma relação direta com o suprimento deste nutriente em
menor disponibilidade. Este é o fator que governa e controla ... produtividades. Se o mínimo
for calcário a produtividade será a mesma e não maior mesmo se as quantidades de K, sílica,
ácido fosfórico, etc ... sejam aumentados em cem vezes”.

Os rendimentos das colheitas são proporcionais à disponibilidade do nutriente que se encontra


em menor quantidade no solo, conforme as necessidades das plantas (Voisin, 1963).

Conforme a Lei do mínimo a resposta é linear até um ponto onde se alcança um "plateau"
devido à insuficiência de outro nutriente que, então, se torna o limitante (visão quantitativa)
representada na figura 10.

Figura 10. Modelo ilustrativo da lei do mínimo

20
Lei dos incrementos decrescentes (Mitscherlich, 1930)

“Os aumentos de produção de uma cultura, obtidos pela adição de quantidades crescentes de
um nutriente, são decrescentes”, conforme ilustra a figura 11 e o quadro 3.

800
dy1 > dy2 > dy3 > dy4

700
dy4
600
dy3
Produção (kg/ha)

500 Produtividade de
dy2 máxima eficiência
econômica
400
dy1
300

200

100
0 50 100 150 200 250 300
dx1 dx2 dx3 dx4 dx5 dx6
Dose do nutriente (kg/ha)

Figura 11. Produção em função da dose aplicada do nutriente. Na medida em que se aumenta
a dose de fertilizante os incrementos de produtividade são cada vez menores.

21
Quadro 3. Produção de algodão em função da adubação nitrogenada. Resultados médios de
15 experimentos em Latossolo Vermelho

Incremento Produção de Aumento


da dose de N algodão 2300

Produção de algodão (kg/ha)


----------------kg/ha---------------- 2200
0 1790 - 2100
+10 1934 144
2000
+10 2032 98
1900
+10 2099 67
1800
+10 2146 47
+10 2177 31 1700
0 10 10 10 10 10 10
+10 2199 22 Incremento da dose de N (kg/ha)

• Lei da interação/equilíbrio

“Cada nutriente é mais eficaz quando os outros estão em quantidades mais próximas
do ótimo”. Ganhos em produtividades poderão ocorrer quando os nutrientes estão em
quantidades equilibradas no solo (Figura 12).

2300

2200 /ha P
0 kg
10
Produção (kg/ha)

2100
eração NxP
In t
2000

1900 sem P

1800 Efeito do N

1700
0 10 20 30 40 50 60

Dose de N (kg/ha)
22
Figura 12. Modelo ilustrativo da interação N e P e ganho de produtividade.

Lei do máximo

“O excesso de um nutriente no solo reduz a eficácia dos outros e, por conseguinte,


pode diminuir a produção”, conforme demostrado na figura 13. Destaca-se uma região de
aumento linear (a); de estabilização (b) e de decréscimo da produção (c).

Figura 13. Modelo quadrático de resposta à adubação indicando redução de produtividade nas
maiores doses do nutriente.

EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DAS PLANTAS

Os nutrientes são elementos químicos de específica e essencial função fisiológica no


metabolismo de plantas (Epstein, 1965; Marschner, 1995). Dezessete elementos são
considerados essenciais para o crescimento e desenvolvimento das plantas: carbono (C),
hidrogênio (H), oxigênio (O); nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio
(Mg), enxofre (S), boro (B), cloro (Cl), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), molibdênio
23
(Mo), níquel (Ni) e zinco (Zn). Outros elementos são classificados como benéficos para
algumas plantas, como o sódio (Na), silício (Si), selênio (Se) e cobalto (Co).
Carbono, H e O (3) são estudados nas suas múltiplas funções na fisiologia vegetal. Sob
o ponto de vista da nutrição mineral, os elementos essenciais são classificados em macro e
micronutrientes, de acordo com as quantidades exigidas pelas plantas. Os macronutrientes (N,
P, K, Ca, Mg e S) (6) são exigidos em maiores quantidades (da ordem de g/kg de matéria seca
da planta). Já os micronutrientes (B, Cl, Cu, Fe, Mn, Mo, Ni e Zn) (8) são absorvidos pelas
plantas em pequenas quantidades (da ordem de mg/kg de matéria seca da planta). Na figura
14 são destacados os elementos químicos essências na tabela periódica.

Figura 14. Tabela periódica dos elementos químicos e destaque para os nutrientes para as
plantas.

Critérios de essencialidade

Nutrientes são elementos essenciais às plantas. Para que um elemento seja classificado
como essencial, deve satisfazer alguns critérios (Arnon & Stout, 1939):
Critério 1: Um elemento é essencial se sua deficiência impede que a planta complete o seu
ciclo vital;

Critério 2: Para ser essencial, o elemento não pode ser substituído por outro elemento com
propriedades similares;

Critério 3: O elemento deve participar diretamente no metabolismo da planta.

24
“A presença de elementos químicos nas cinzas de uma planta não é indicador da
essencialidade dos diferentes elementos para esta planta”

Resumindo: ainda que um elemento possibilite melhorar o crescimento ou um


processo fundamental de uma planta, não é considerado como essencial se não atender aos
três critérios da essencialidade. Todos os 17 elementos apresentados (Quadro 4) cumprem
estas exigências e devem ser fornecidos às plantas para que estas germinem, cresçam,
floresçam e produzam sementes.

Quadro 4. Relação dos elementos essenciais às plantas superiores, com as concentrações


médias na matéria seca da parte aérea e os respectivos autores que demonstraram a
essencialidade e o ano em que ocorreu a descoberta

25
As plantas absorvem íons da solução do solo conforme descritos no quadro 5.

Quadro 5. Nutrientes e as formas químicas como são absorvidas pelas plantas


Macronutrientes Forma absorvida Micronutriente Forma absorvida
N NO3- ou NH4+ Cu Cu2+
- 2-
P H2PO4 ou HPO4 Mn Mn2+
+
K K Zn Zn2+
Ca Ca2+ Fe Fe2+, Fe3+, Fe-quelato
2+
Mg Mg B H3BO3; H2BO3-
Mo MoO4-2
S SO42- Ni Ni2+
Cl Cl-

Para bom desenvolvimento e crescimento vegetal é necessário que haja


disponibilidade e absorção dos nutrientes em proporções adequadas. Desequilíbrios em suas
proporções podem causar deficiência ou excesso de nutrientes, causando limitações ao
crescimento das plantas ou mesmo sua morte.

Diagnose visual de sintomas de deficiência nutricional

Os sintomas de deficiência de nutrientes em diferentes espécies podem ser utilizados


para diagnosticar o estado nutricional das plantas. A essa técnica de diagnóstico dá-se o nome
de diagnose visual. A observação de sintomas é uma forma rápida e pouco dispendiosa de
diagnóstico do estado nutricional, porém sua principal limitação refere-se ao fato de que,
quando há manifestação visível de sintomas de carência ou de excesso, expressiva parte da
produção das plantas já está comprometida.
“o aparecimento do sintoma representa o estádio tardio de um processo no qual o
crescimento e a produção podem sofrer perdas irreversíveis”.
A diagnose visual requer uma análise criteriosa dos fatores bióticos e, ou, abióticos
que possam alterar o estado nutricional da planta ou induzir padrões de danos similares à
deficiência ou toxidez de nutrientes. Neste sentido, destacam-se a deficiência ou excesso do
suprimento de água, variações bruscas de temperatura, textura e compactação do solo, reações
entre misturas de produtos fitossanitários, toxidez causada por herbicidas, senescência natural
de folhas, ataque de pragas e doenças, práticas de cultivo inadequadas, dentre outros fatores.
Na avaliação das desordens nutricionais devem ser observados ao menos três critérios:
 Evolução no tempo: relaciona-se ao período em que as reservas dos vacúolos estão
sendo utilizadas
26
 Evolução no espaço: relaciona-se à mobilidade diferencial dos nutrientes na planta (no
floema) havendo um gradiente de intensidade das folhas velhas para as jovens em
caso de nutrientes móveis no floema e, o contrário, para os imóveis.
 Simetria: tecidos de mesma idade fisiológica devem mostrar o mesmo sintoma, em
condições de deficiência nutricional
Esses critérios devem ser utilizados, em conjunto, para melhor discernir se o sintoma é
devido primariamente à deficiência nutricional ou se deve a outras causas, de natureza não
nutricional primariamente.
A seguir, serão descritos os sintomas de deficiência mais comuns relacionados com a
carência de macro e micronutrientes.

Nitrogênio

Sua falta se traduz em plantas pequenas e de crescimento lento. O sintoma típico da


falta de N é a clorose (amarelecimento) generalizada (uniforme) de folhas. Como é um
elemento de boa mobilidade no floema, o sintoma aparece primeiro nas folhas mais velhas,
progredindo, com o tempo, para as mais novas.

Fósforo

Plantas deficientes apresentam crescimento mais lento e, frequentemente, coloração


verde escura nas folhas mais velhas. Em muitos casos, o progresso da deficiência leva ao
surgimento de coloração avermelhada em caules e folhas velhas. Os sintomas progridem das
folhas mais velhas para as mais novas, porque, assim como o N, o P é um elemento bastante
móvel no floema. A cor avermelhada é causada pela concentração de antocianina.

Potássio

A deficiência de K retarda o crescimento e aumenta a susceptibilidade ao ataque de


patógenos, havendo retranslocação de K de folhas velhas e caules para as regiões de cresci-
mento ativo. Os sintomas de carência caracterizam-se por clorose e necrose de bordos
foliares. Murcha e quebra dos caules também caracterizam a deficiência de K.

Cálcio

Seu movimento de ascensão acompanha o fluxo transpiratório pelo xilema. Por ter
27
funções estruturais, é muito pouco remobilizado no floema para atender à demanda em locais
de crescimento ativo da parte aérea ou da raiz. O sintoma típico de deficiência de Ca é a má
formação das paredes celulares e o colapso dos tecidos jovens.

Magnésio

Sua deficiência caracteriza-se, tipicamente, por uma clorose internerval das folhas
totalmente expandidas - mais velhas.

Enxofre

Sua carência manifesta-se por clorose generalizada, muito semelhante à que ocorre
com deficiência de N, porém, iniciando-se em folhas mais jovens.

Ferro

Os sintomas de deficiência se manifestam como clorose e, às vezes, assemelha-se à


deficiência de Mg, com a diferença de que, para o Fe, os sintomas de carência se manifestam
sempre nas folhas mais novas. De modo geral, as folhas jovens mostram nervuras verdes
sobre um fundo amarelado. O sintoma evolui para o completo branqueamento das folhas
jovens, seguindo-se necrose.

Manganês

Para dicotiledôneas, a deficiência assemelha-se à de Fe, caracterizando-se por clorose


internerval de folhas jovens, que se inicia por surgimento de pontuações amareladas. Já nas
monocotiledôneas, manifesta-se como faixas verdes cinzentas na parte basal das folhas. Pode
ocorrer em altas concentrações em solos minerais ácidos causando toxidez, que se caracteriza
por enrugamento de folhas jovens, clorose e pontuações necróticas na lâmina de folhas
velhas. Os pontos necróticos correspondem a locais de acúmulo do elemento.

Boro

Sua deficiência caracteriza-se por crescimento lento e anormal das regiões


meristemáticas. Em fase avançada, ocorre morte de meristemas apicais, superbrotamento e
folhas jovens grossas e deformadas, bem como podridão, cavidades e rachaduras em raízes,
como beterraba e cenoura. Formação de cortiça pode ocorrer em caules de tomate e couve-
flor. A formação de flores e frutos é restrita ou totalmente inibida, havendo também perda da

28
qualidade. As brássicas são particularmente sensíveis à carência de B.

Para o B, o limite entre a carência e a toxidez é estreito, e os sintomas de toxidez


caracterizam-se por amarelecimento das pontas e margens das folhas mais velhas, seguido de
necrose e queda.

Cobre

Os sintomas de deficiência variam bastante entre espécies. As folhas jovens podem


apresentar-se cloróticas ou verde-azuladas. Devido seu papel na lignificação, em condições de
deficiência, as cascas das árvores podem apresentar rachaduras com exsudação de goma
nesses pontos. O florescimento e a frutificação são também diminuídos. Os efeitos tóxicos do
Cu, por sua vez, parecem relacionar-se com sua capacidade de deslocar outros cátions
metálicos, especialmente Fe, de sítios fisiologicamente importantes. Assim sendo, clorose que
lembra deficiência de Fe pode ser sintoma de toxidez de Cu.

Molibdênio

A deficiência caracteriza-se por clorose internerval de folhas jovens, semelhante à


deficiência de Mn. As margens das folhas tendem a enrolar-se ou curvar- se para cima ou
para baixo. Nas brássicas, a lâmina foliar constitui uma faixa estreita em torno da nervura
principal, conhecida como “ponta de chicote”.

Zinco

A carência do elemento leva a reduções na produção de auxina, responsável pela


elongação de ramos, sendo as folhas pequenas e a formação de rosetas sintomas típicos da
carência desse elemento. O florescimento e a frutificação podem ser muito reduzidos em
condições de deficiência severa de Zn. A toxidez caracteriza-se por redução do crescimento
de raízes e da expansão foliar, ao que se segue clorose.

Cloro

A deficiência de Cl caracteriza-se por murcha, bronzeamento, clorose e necrose,


porém não tem importância econômica, pois nunca foi observada em campo. Por outro lado, a
toxidez de Cl pode representar sério problema caracterizado por bronzeamento e necrose de
pontas e margens de folhas velhas, seguidos de amarelecimento e abscisão prematura.

29
CONTINUUM SOLO-SOLUÇÃO-PLANTA

Os nutrientes na solução do solo estão em equilíbrio com os colóides do solo, minerais


e orgânicos, que podem retê-los de forma trocável (CTC e CTA), formas não trocáveis ou não
lábeis (K fixado em argilas silicatadas 2:1; P fixado em formas não-lábeis, etc.) ou formar
complexos estáveis com a matéria orgânica do solo. Os nutrientes em concentrações elevadas,
que ultrapassam o produto de solubilização, podem ser precipitados, a partir de suas formas
iônicas da solução do solo. Com relação às perdas dos nutrientes da solução do solo elas
podem ocorrer por meio de erosão, lixiviação e perdas gasosas (desnitrificação e volatilização
de NH3, por exemplo). As trocas da solução do solo (fase líquida) com a fase sólida (mineral
e orgânica) e com a planta, e ganhos e perdas de seus componentes estão representados na
figura 15.
Os nutrientes na solução do solo poderão ter suas concentrações diminuídas pela
absorção pelas plantas. Para manter o equilíbrio, ocorre a reposição pela fase sólida. Além
disso, a solução do solo pode ter ganhos de nutrientes por meio da aplicação de fontes de
nutrientes, minerais (fertilizantes) ou orgânicos (adubos), fixação livre ou simbiótica do N2
atmosférico, e pelas chuvas.

30
Figura 15. Modelo do sistema solo-solução-planta

Mecanismos de transporte de nutrientes na solução do solo


A absorção de nutrientes pelas plantas exige seu transporte até a superfície radicular
(Figura 16), com destaque para os mecanismos de fluxo de massa (transporte convectivo) e
difusão (transporte difusivo) (Fried & Shapiro, 1961). A intercepção radicular, sugerido por
Barber (1962), tem sido desconsiderada por alguns autores, não sendo considerada por eles
um mecanismo de transporte de nutrientes até as raízes.

Figura 16. Ilustração do transporte de nutrientes no solo

O fluxo de massa está associado ao gradiente de potencial hídrico que regula o


movimento da água no sistema solo-planta-atmosfera (Figura 17). Assim, a concentração do
íon na solução do solo e a taxa de transpiração do vegetal determinam a quantidade de íons
transportada por meio desse mecanismo (Barber, 1974). Elementos que se encontram em
maiores concentrações na solução do solo, como Ca, N e mesmo o S são transportados
predominantemente por fluxo de massa. Matematicamente, o transporte de nutrientes por
fluxo de massa (FM, kg/dm-2/s) é dado pela equação:
FM  qC (1)
em que
q: fluxo de massa, dm3 dm-2 s-1; e
31
C: concentração média do soluto, kg dm-3

Figura 17. Esquema ilustrativo do transporte de nutrientes por fluxo de massa

A difusão, por sua vez, se deve ao movimento dos íons em meio líquido em função do
gradiente de concentração (Figura 18). Esse movimento da maior para a menor concentração
deve-se à formação de uma zona de depleção do nutriente nas regiões de absorção da raiz.
Isso ocorre para os nutrientes que encontram-se em baixas concentrações na solução do solo,
como P, K e Zn. A adaptação das leis de Fick para solos permitiu quantificar o transporte
difusivo. A primeira lei de Fick pode ser escrita na forma:

F = - D ∂C/∂x

em que D = D1  f I/Q
F: fluxo do nutriente, kg dm-2 s-1; D=coeficiente de difusão (dm2 s-1)
D: coeficiente de difusão, dm2 s-1; e D1=coeficiente de difusão do elemento em agua pura
2 -1
∂C/∂x: gradiente de concentração, kg (dm s )
dm-3 = conteúdo volumentrico de agua no solo (dm3 dm-3)
f=fator de impedancia (adimensional)
I/Q=inverso do fator capacidade

(2)

32
Figura 18. Esquema ilustrativo do transporte de nutrientes por difusão

A disponibilidade de água no solo afeta grandemente o transporte de nutrientes, seja


por fluxo de massa ou difusão. A falta de água no solo afeta a aquisição de nutrientes pelas
raízes e por essa razão os sintomas de deficiência nutricional são mais comuns nos períodos
secos do ano, diminuindo em intensidade ou desaparecendo durante os períodos chuvosos.
A figura 19 ilustra o caminho a ser percorrido pelo nutriente conforme o
preenchimento de água nos poros do solo (mais ou menos água disponível).
Comente:
a) O caminho pontilhado e contínuo do
nutriente e as implicações na nutrição da
planta.

Figura 19. Modelo ilustrativo do transporte de nutriente por diferentes poros do solo

O fósforo é um nutriente transportado, predominantemente, por difusão e esse


processo é afetado por diversos fatores. A difusão de P em solos mais intemperizados parece
ser praticamente interrompida em condições de umidade ainda, aparentemente, elevadas. A
elevada capacidade de adsorção de P neste tipo de solo, caracterizada por baixo valor de
I/Q, parece ser a razão, conforme ilustrado pela figura 20.

33
Figura 20. Influência do conteúdo de água sobre a difusão dos nutrientes no solo.

As menores respostas à adubação observadas em nossos solos, com os anos de cultivo,


seriam, em boa parte, resultantes da degradação das propriedades físicas desses solos, levando
ao aumento de suas densidades e, como consequência, à retenção com maior energia pelo solo
de nutrientes com menores coeficientes de difusão. Com a compactação, aumenta a
participação de microporos; com o aumento da energia de retenção da água no solo, aumenta
a interação desses íons com os colóides ao longo de sua trajetória de difusão, fazendo com
que o íon tenha de se difundir cada vez mais próximo de superfícies adsorventes, que os
retêm. Para que o íon continue chegando até às raízes, doses cada vez maiores terão de ser
aplicadas, com vistas em aumentar a saturação nessas superfícies adsorventes pelo elemento e
em manter o fluxo difusivo em níveis pelo menos razoáveis, em termos de demanda da
planta. A figura 21 ilustra o efeito da compactação no transporte e disponibilidade de P e no
crescimento da planta.

34
Figura 21. Efeito da compactação sobre a difusão e disponibilidade de P no solo.
D=densidade do solo de 0,9 a 1,3 kg dm-3 e mesma dose de P aplicada (450 mg dm-3).

Outro aspecto importante relacionado com a mobilidade dos nutrientes no solo diz
respeito a competição das raízes por nutrientes. Observa-se que, à medida que aumenta a
densidade de plantio ou população de plantas, a competição pelo nutriente mais móvel
aumenta grandemente, o que não acontece para o nutriente “ menos móvel no solo” (Figura
22). A competição pelo “ menos móvel” somente vai existir em pequena ou mínima
intensidade, uma vez que o transporte desses elementos ocorre predominantemente por
difusão, que ocorre em curtas distâncias. Assim, apenas naqueles locais onde raízes de duas
plantas se aproximam muito haverá competição entre elas pelo H2PO4-. Como o volume de
solo explorado pelas raízes de uma planta é, em média, 1 %, o contato de raízes entre plantas
vizinhas é bastante pequeno. Disso, pode-se dizer que a quantidade de P a ser utilizada em um
plantio de milho com 40 000 plantas/ha será, basicamente, a mesma a ser utilizada se essa
população for aumentada para 60 000 plantas/ha, para produtividades semelhantes nas duas
condições. Para N, esse aumento na densidade de plantio de milho requererá um aumento
expressivo na sua dose, comparativamente à recomendada para a menor densidade.

Figura 22. Competição entre plantas por nutrientes móveis e imóveis no solo.

35
Amostragem de solo e planta para fins de avaliação da fertilidade do solo

O procedimento de amostragem se faz necessário quando da impossibilidade ou


impraticidade de se medir toda a população. Neste caso, as amostras são tomadas com
objetivo de representar a população. Se a população em estudo for constituída de indivíduos
idênticos (totalmente homogênea), bastaria a avaliação de um deles para caracterizá-la. Como
existem variações entre indivíduos da população, a amostragem deve medir um número
suficiente de indivíduos que seja representativo da população. Dessa forma, o número de
amostras (n) depende, fundamentalmente, da variabilidade e não do tamanho da população.
O valor médio (ȳ) de uma determinada característica de uma amostra é representado pela
média real ou paramétrica (), mais um erro (ε), conforme a equação:
ȳ = +ε
O erro na estimativa da média pode ser devido ao erro de amostragem (εam), por exemplo
quando é tomado número insuficiente de indivíduos e ao erro analítico (εan), devido ao
método de medição. Assim,
ε = εam+ εan
Em geral, para solos, o erro de amostragem é maior que o erro analítico. Isso torna o processo
de amostragem muito mais influenciador na exatidão dos valores obtidos. Assim, uma
amostra não representativa da população não representará  satisfatoriamente, por maior que
seja a acurácia do método de medição.

Amostragem de solo

A amostragem do solo é a primordial etapa para avaliação da fertilidade do solo e


recomendação de fertilizantes. O solo é uma população naturalmente heterogênea nas suas
características e as variações ocorrem intensamente e a curtas distâncias. Essas variações são
classificadas como macro (> 200 cm); meso (5-200 cm) e microvariações (<5 cm). As
macrovariações decorrem de processos pedogenéticos, mas podem ser acentuadas pelo
manejo do solo. Tais variações dependem da topografia, vegetação, textura e mineralogia do
solo e do tipo de manejo. As meso e microvariações, que também decorrem de fatores de
formação do solo, são mais intensificadas pelas práticas de manejo, tais como preparo do
solo, aplicação localizada de fertilizantes, plantio em linhas, etc. As microvariações são
importantes para culturas de menor extensão do sistema radicular, como aquelas de ciclo

36
curto, e devem ser pouco relevantes para culturas perenes de porte arbóreo, pela maior
extensão do sistema radicular.
A heterogeneidade ocorre também no sentido vertical (profundidade), pela
organização do solo em horizontes, muitas vezes com transições abruptas. As práticas de
manejo, como adubação e a localização do sistema radicular das plantas podem acentuar as
variações entre as camadas do solo. A profundidade de amostragem deve ser definida de
acordo com a cultura que está sendo ou será cultivada na gleba. Deve-se amostrar a camada
de solo que será explorada pelo maior volume do sistema radicular da planta que, usualmente,
é associado à profundidade de preparo do solo. Para plantio de culturas anuais ou de
estabelecimento de pastagens, amostra-se, geralmente, a camada de 0–20 cm; para pastagens
já estabelecidas, a amostragem pode ser de 0–10 cm e, para culturas perenes (café, fruteiras,
essências florestais, etc.), a amostragem deve ser feita por horizontes do solo. Por falta de
informações de horizontes, usualmente define-se camadas para a amostragem como, por
exemplo: 0–20, 20–40 e 40–60 cm, constituindo uma amostra composta horizonte ou por
camada por gleba. Amostras mais profundas podem também contribuir para conhecer
camadas subsuperficiais de culturas anuais e pastagens, o que muitas vezes é importante em
algumas tomadas de decisão, como para recomendação de gesso agrícola.
A variabilidade não é uniforme entre as características do solo. O pH do solo, o teor de
argila e MOS são características que apresentam menor variabilidade (menor coeficiente de
variação-CV), comparados aos teores de P, K e Ca, como demostrado no quadro 6.
Quadro 6. Coeficiente de variação (CV) de características química do solo em três regiões
distintas
Local P K Al3+ Ca + Mg MO pH
-------------------------------------- %---------------------------------------
Viçosa-MG 142 5
P > K > Ca+Mg > Al > MO > pH
Cascavel-PR1 100 7
P > Ca > Mg > Al > K > MO > pH
Ponta Grossa-PR1 40 7
P > Mg > K > Ca > Al > MO > pH
1
Fonte: Alvarez V. & Carraro (1974)

Como princípio, a amostragem visa obter a média da fertilidade do solo de uma determinada
área ou prover informações da estimativa da variabilidade dos nutrientes. Nesse sentido, o
esquema de amostragem pode ser dividido em duas categorias: ao acaso e sistematizada.

37
Amostragem ao acaso (sistema convencional)
1º passo: dividir a área em unidades de amostragem-UA(glebas ou talhões)
Neste método de amostragem considera-se que os teores dos nutrientes no solo apresentam
variações aleatórias. Uma etapa importante nesse processo de amostragem é a definição de
áreas mais homogêneas (glebas) quanto a topografia, cobertura vegetal natural ou uso
agrícola, textura, cor, condições de drenagem do solo e histórico de manejo. Dentro da gleba,
a variabilidade é menor e permite a estimativa da fertilidade média do solo com um menor
número de amostras. A figura 23 demonstra a definição de glebas, de acordo com relevo e a
alocação dos pontos de forma aleatória, num caminhamento em zig-zag. Isso somente é
possível em áreas menores, normalmente inferior a 10 ha. Em maiores extensões de terra,
quando as glebas são também maiores, o uso de ferramentas de geoprocessamento é
imprescindível. A figura 24 demostra o uso de imagem georreferenciada para definição de
glebas conforme cobertura vegetal e histórico de uso da área e alocação de pontos de coleta
para localização com auxílio de GPS.

Figura 23. Exemplo de separação de glebas e caminhamento em zigue-zague para coleta das
amostras simples.

38
Figura 24. Exemplo de separação de glebas com imagem georreferenciada e alocação de
pontos de coleta para localização com auxílio de GPS.

Por mais uniforme que seja a gleba, haverá, sempre, a variabilidade intrínseca ao solo
– meso e microvariações. As características químicas, em especial, têm intensa variabilidade
a curtas distâncias no solo. Para isso são retiradas várias amostras denominadas “amostras
simples”, cuja mistura homogênea irá formar a “amostra composta” a ser enviada ao
laboratório. São condições fundamentais que cada amostra simples tenha o mesmo volume de
solo e a mistura seja o mais homogênea possível. As amostras simples devem ser colocadas
em recipientes plásticos, para evitar a contaminação com metais, muito bem homogeneizadas,
obtendo-se então a “amostra composta”. Uma porção de aproximadamente 0,5 dm3 de solo
deve ser colocada em sacos plásticos ou caixa de papel, identificada e enviada para o
laboratório para análise. Caso seja necessário o preparo da amostra antes do envio para o
laboratório, esta deve ser seca a sombra sobre papel e passada sua totalizada por uma peneira
com malha de 2 mm para obtenção da terra fina seca ao ar (TFSA).

O número de amostras simples é definido a priori de acordo com as características de


maior variabilidade. Alguns trabalhos mostram que são necessárias no mínimo 20 a 40
amostras simples por gleba para representar a média das características do solo. Esse número
39
deve aumentar à medida que as condições naturais ou o manejo imprimam maior
variabilidade nas características do solo, tais como plantio direto (pelo não revolvimento do
solo), aplicação localizada de corretivos e fertilizantes e da decomposição localizada de
resíduos orgânicos.

O número de amostras para representar a média de uma característica com variância


conhecida (CV) pode ser calculado pela seguinte equação:

n=(t/2 CV/f)2
em que:
n=número de amostras simples
t/2=valor tabelado da distribuição t de students
CV=coeficiente de variação (%)
f= variação tolerada em torno da média (%)

Exemplo: utilizando os CV para P (100 %) e pH (7 %) no solo da região de Cascavel-PR


(Quadro 6), e admitindo uma variação de 25 % em torno da média e um valor de t tabelado
igual 2, tem-se:
P  n = (2x 100/25)2 = 64 amostras
pH  n = (2x 7/25)2 = 1 amostra
Observa-se que um grande número de amostras (64) deveria ser coletado para caracterizar o
teor de P do solo (maior variabilidade) e, bastaria uma amostra para caracterizar o seu pH
(menor variabilidade), para um mesmo limite de variação em torno da média. Sabe-se que o
erro amostral diminui na medida que se aumenta o número de amostra, conforme demostrado
na figura 25.

50
variação dos erros (%)

40

30

20

10

0
20 40 60 80 100 120
Número de amostras simples/compostas

Figura 25. Variação do erro amostral em função do número de amostras

40
Uma diferenciação importante no método de amostragem ao acaso tem sido verificada em
sistemas de plantio direto, onde são observadas maiores variabilidades das características do
solo pela aplicação localizada de fertilizantes e ao não-revolvimento do solo por meio da
aração e gradagem. Neste caso, tem sido recomendada a coleta não de um único ponto, mas
de uma faixa ou vários pontos localizados transversalmente à linha de plantio, de modo a
representar a média da fertilidade entre a linha de plantio (influência direta da adubação
anterior) e a metade da entrelinha (pouco influenciada pela adubação anterior), conforme
ilustra a figura 28.
A adubação de culturas perenes também implicará num procedimento de amostragem
apropriado. As amostras simples devem ser coletadas na área sob a projeção da copa (figura
29), onde, usualmente, são feitas as adubações, há maior crescimento de raízes e maior
influência da queda de resíduos.

Figura 28. Amostragem em sistema de plantio direto mostrando a coleta transversal na linha
de adubação.

41
Figura 28. Amostragem de solo em áreas de culturas perenes e arbóreas.

Amostragem sistematizada (Agricultura de Precisão)


Neste método de amostragem considera-se que os teores dos nutrientes no solo apresentam
variações espaciais, com gradientes de concentração, e, portanto, busca-se conhecer e corrigir
diferenciadamente a área de plantio. Para a coleta das amostras de forma sistemática são
definidos grids (quadrados ou retangulares) em um mapa ou imagem georreferenciada,
conforme ilustra a figura 29. Os pontos de amostragem dentro de cada grid (malha) podem ser
definidos previamente ou coletados aleatoriamente. O GPS tem sido ferramenta fundamental
na identificação dos pontos a serem coletados no campo. Com os resultados de análise de solo
de cada amostra, são confeccionados mapas da fertilidade do solo (Figura 30) e a aplicação de
corretivos e fertilizantes passa a ser em dose variável.
O espaçamento dos grids para amostragens de solo é variável. Normalmente são usadas
espaçamentos de 60 x 60 m a 150 m x 150 m, dependendo da exatidão desejada e dos custos.
42
A definição de grids, normalmente grandes, e a coleta de apenas um ponto central (Figura 29
a), ou poucos pontos próximos a este (Figura 29 b), são insuficientes para conhecer de forma
confiável a média da fertilidade da área considerada. Assim, poderá existir uma imprecisão na
estimativa da fertilidade média a qual o grid representa. Por outro lado, a definição de grids
com menor tamanho e a coleta de um número maior de amostra dentro de cada um deles
aumenta a exatidão do resultado da análise de solo, com boa representatividade (Figura 29 c),
da mesma forma que aumenta os custos com a coleta e análise de solo.

Figura 29. Amostragem sistematizada de solo em sistema de “agricultura de precisão”.


Procedimento de amostragem dentro de cada grade a) baixa representatividade; b) não
satisfatório; c) boa representatividade.

Figura 30. Mapa ilustrativo da fertilidade de P do solo. Os teores de P apresentam variações


espaciais e não aleatório na área.

Ferramentas para coleta de amostras de solo


Considerando que se busca estimar a fertilidade média e que esta será obtida de uma amostra
43
composta, todas as amostras simples devem ter o mesmo volume de solo e coletadas na
mesma profundidade. Isto é conseguido pelo uso de trados ou sondas específicas para
amostragem de solo (Figura 31), devendo se evitar enxadão ou pá para este fim.

Figura 31. Exemplos de ferramentas utilizadas para amostragem de solo. Tipos de trados da
esquerda para direita: tipo rosca, calador, holandês, caneco, sonda. No centro: furadeira
adaptada para coleta de solo e a direita: Quadriciclo adaptado para coleta de solo.

A interdependência entre resultados analíticos, nível crítico, doses, formas de aplicação e


amostragem é o ponto chave na avaliação da fertilidade do solo. A forma e a dose aplicada
poderão alterar o procedimento de amostragem, que irá interferir no resultado e no nível
crítico do nutriente no solo, que por sua vez se relacionam com as doses recomendadas.
Assim sendo, a avaliação adequada da fertilidade do solo e, por conseguinte, das
recomendações de corretivos e fertilizantes advindas do diagnóstico da fertilidade, depende
essencialmente de criteriosa amostragem. Isto quer dizer que, a partir de uma amostra não-
representativa de um solo, nunca se terá uma adequada estimativa da fertilidade média, por
mais exato que seja o método de análise e laboratório.

Amostragem de tecido vegetal (folhas)

44
A amostragem de tecido vegetal para diagnose nutricional, normalmente folhas, baseia-se na
premissa de que existe uma relação entre os teores de nutrientes disponíveis no solo e os
teores de nutrientes na planta, e que, os aumentos ou decréscimos nas concentrações na folha,
correspondem aos aumentos ou decréscimos nas produtividades da planta, respectivamente.
A amostragem de folhas para diagnóstico nutricional deve ser feita em talhões, áreas com
maior homogeneidade dos plantios, em épocas definidas, coletando-se folhas em posições
específicas. A diagnose nutricional é feita pela comparação dos teores de nutrientes da
lavoura em diagnóstico com valores de referência, normas (Figura 32). É fundamental que as
condições de amostragem (época, parte colhida) sejam as mesmas usadas na elaboração das
normas. No quadro 7 são apresentadas sugestões para coleta de folhas para algumas culturas.

45
Figura 32. Distribuição da produtividade de lavouras em função da concentração de nutrientes
na folha.

Discutir a figura 32. “A boa nutrição é condição necessária, mas não


suficiente à obtenção de altas produtividades”

Quadro 7. Recomendação da amostragem para diagnose foliar


Cultura Tipo de folha Época de amostragem Quantidade/talhão
homogêneo
Cana de açúcar Folha + 3, sendo a folha +1 a 4 – 5 meses de idade 20 – 30 folhas
primeira com bainha visível.
Coletar os 20 cm centrais sem
a nervura
Milho Folha oposta e abaixo da Aparecimento da 30 folhas
espiga inflorescência (cabelo)
Soja 3ª folha a partir do ápice na Florescimento 30 folhas
haste principal, com pecíolo
Feijão Folhas do terço mediano Florescimento 30 folhas
Café 3º e 4º pares de folhas, a partir Estádio de chumbinho 100 folhas, 4/planta
do ápice de ramos produtivos,
em altura mediana na planta
Mamão Folha F, com a primeira flor Florescimento 18 folhas
completamente expandida
Tomate Pecíolo da folha oposta ao 3º Florescimento do 3º 40 folhas
cacho. Limbo foliar da folha cacho
oposta ao 3º cacho
Eucalipto Folhas recém-maduras de Verão - outono 18 folhas
ramos primários

46
Pastagem Folhas recém-maduras ou Primavera - verão 30 folhas
retiradas de todas as posições
na parte aérea
Fonte:5ªaproximação MG,páginas X

ANÁLISE QUÍMICA DE SOLO

A determinação da quantidade de nutrientes que se encontram no solo em formas disponíveis para as


plantas é um dos principais objetivos dos estudos de avaliação da fertilidade do solo.

Mas, o que é o disponível?

No conceito realístico: É a quantidade do nutriente no solo que é passível de ser absorvida


pela planta durante o seu ciclo de vida.

EX: 50 kg/ha de K 400 kg/ha de Ca 2 kg/ha de Zn

No conceito operacional: É teor do nutriente recuperado (extraído) por um método de


extração que se correlaciona estreitamente com a quantidade do nutriente absorvido pela
planta.

EX: 70 mg dm-3 de K 2 cmolc dm-3 de Ca2+ 1 mg dm-3 de Zn

A análise química do solo baseia-se no uso de extratores (químicos ou resinas de troca) para
determinação da quantidade de nutrientes que se encontram no solo em formas disponíveis
para as plantas.

O que é um extrator químico para análise de solo?

Solução composta de água e certa concentração de substâncias químicas (ácidos, bases ou


sais) que extraem quantidades de nutrientes (NH4+, NO3-, K+, H2PO4-, SO42-, Ca2+, Mg2+,
Zn2+, Cu2+, Fe2+, H3BO3) da amostra e que apresentem correlação com a quantidade de
nutriente absorvida e acumulada (conteúdo) pelas plantas. Os extratores também são usados
para determinar os teores de elementos potencialmente tóxicos para as plantas, como o Al3+ e
os metais pesados. A figura 33 mostra a correlação (r) entre o teor de P no solo e sua absorção
pela planta (conteúdo) para dois métodos (extratores). O método A indica baixa correlação
(r=0,31) entre a quantidade extraída pelo extrator e a quantidade do nutriente acumulada na
planta (método ruim). Ao contrário, o método B indica alta correlação (0,98) e é eficiente
para predizer a disponibilidade do nutriente (P) no solo. Dessa forma, vários métodos foram
selecionados e são usados nas análises de solo para fins de fertilidade.

47
100 100
Conteúdo de P (mg/planta)
80 80

60 60

40 40

20 20
r=0,31 r=0,98**
0 0

0 10 20 30 40 50 60 0 10 20 30 40 50 60

Teor de P no solo (mg dm-3) Teor de P no solo (mg dm-3)


método A método B
Figura 33. Correlação entre o teor de P no solo e o conteúdo do nutriente na planta para dois
métodos de análises. A (extrator ruim) e B (bom extrator)

A correlação assegura que o extrator estime o nutriente disponível mas não estabelece
critérios para o diagnóstico da disponibilidade. Para isso, são realizados ensaios de calibração
do método (extrator) para estabelecer critérios de interpretação e definir doses do nutriente.

Nos ensaios de calibração são definidas curvas de resposta da planta ao aumento da


disponibilidade do nutriente no solo (Figura 34), que se dá por meio da aplicação doses de
fertilizantes, e curvas de recuperação do nutriente com o aumento da sua disponibilidade no
solo (Figura 35).

48
3500 35
3200 kg/ha- produção de MEF
30
Produtividade da soja (kg/ha)

3000

Teor de P no solo (mg dm-3)


2889 kg/ha- produção de MEE 25
2500 Nível crítico-NC
20 18 mg dm-3
2000
15
1500
10
1000
5
500 0
238 kg/ha 357 kg/ha 238 kg/ha
0
0 80 160 240 320 400 0 80 160 240 320 400

Doses de P (kg/ha PO5) Doses de P (kg/ha PO5)

Figura 34. Produtividade de soja em resposta a Figura 35. Teor de P recuperado pelo extrator em
aplicação de doses P. MEF=máxima eficiência função das doses aplicada de P.
física e MEE= máxima eficiência econômica

O nível crítico (NC) do nutriente refere-se ao teor do nutriente no solo, extraído por um método, que
condiciona a produção de máxima eficiência econômica. Nos trabalhos de calibração tem-se atribuído
que a produção de MEE corresponde a 90 % da produção de MEF. Na prática, a MEE é variável e
depende da relação de troca dos insumos (fertilizantes) e do produto agrícola. Em situações em que a
produção está valorizada (preço alto) em relação aos fertilizantes, a produção de MEE poderá ser
maior que 90% da produção de MEF, muitas vezes pode atingir até 99 % da produção de MEF, como
demonstrado para o abacaxi (ref).

A partir do NC, são definidas as classes de disponibilidade do nutriente no solo (Figura 36),
considerando a produção relativa, assim constituídas:
 Muito baixa- teor do nutriente no solo com expectativa de se obter menos que 50 % da
produção de MEF.
 Baixa- Faixa do teor do nutriente no solo com expectativa de se obter entre 50 e 70 %
da produção de MEF.
 Média- Faixa do teor do nutriente no solo com expectativa de se obter entre 70 e 90 %
da produção de MEF.
 Alta- Faixa do teor do nutriente no solo com expectativa de se obter entre 90 e 100 %
da produção de MEF
 Muito alta- teor no solo que indica boa reserva ou até excesso do nutriente, com
expectativa de resposta nula à adubação.

Dessa forma, foram elaboradas tabelas com as classes de disponibilidade de nutrientes para a
interpretação dos resultados de análise de solo. As tabelas de interpretação são encontradas
nos manuais de adubação de cada estado/região. Nas tabelas também são informados os NCs
dos nutrientes. Na 5ª aproximação de MG, os NCs correspondem o limite superior da classe
de disponibilidade média.

(ver e discutir tabelas de interpretação dos resultados de análise de solo nos manuais)

49
Exercício. Calcular o ponto de máximo da curva (Figura 34) e encontrar o valor de x e y
correspondentes a 90 % da produção máxima. Calcular o teor de P no solo associado a 90 % y
máximo, usando a curva de recuperação do extrator (Figura 35).

Passo 1. Encontrar o ponto de máxima da Passo 1. Calcular o teor de P no solo


curva de produção (Figura 34) associada a 90 % Y máximo, usando a curva
de recuperação do extrator (Figura 35)

Passo 2. Calcular 90 % da produção máxima,


substituir Y na equação e calcular o valor de
X para atingir 90 % de Ymáximo:

50
Classe Produção Classe de
relativa (%) disponibilidade
100 (mg dm-3 de P)
90
Produtividade relativa (%)

80 Muito <50 <8


70
baixa
60
50
baixa 50-70 8-12
40
média 70-90 12-18
30 alta 90-100 18-26
20 Muito >100 >26
muito
10 baixa baixa média alta muito alta alta
0
0 80 160 240 320 400

91 152 238 357


Doses de P (kg/ha P2O5)

8 12 18 26
Teor de P no solo (mg dm-3)

Figura 36. Definição das classes de disponibilidade de P no solo para o método calibrado
considerando a produção relativa.

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