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43a SEMANA DO PRODUTOR RURAL

16 a 20 de julho de 2012

CURSO

AMOSTRAGEM DE SOLO, RECOMENDAÇÃO DE ADUBAÇÃO


E TÉCNICAS CONSERVACIONISTAS

INSTRUTORAS:
Dra. Eliane De Paula Clemente
Dra. Aline Pacobahyba Oliveira
MÓDULO I - INTRODUÇÃO
Conceito de solo

O Solo é a coletividade de indivíduos naturais, na superfície da terra, eventualmente


modificado ou mesmo construído pelo homem, contendo matéria orgânica viva e servindo ou
sendo capaz de servir à sustentação de plantas ao ar livre. Em sua parte superior, limita-se com o
ar atmosférico ou águas rasas. Lateralmente, limita-se gradualmente com rocha consolidada ou
parcialmente desintegrada, água profunda ou gelo. O limite inferior é talvez o mais difícil de
definir. Mas, o que é reconhecido como solo deve excluir o material que mostre pouco efeito das
interações de clima, organismos, material originário e relevo, através do tempo.

O solo é constituído por material mineral e, ou orgânico inconsolidado na superfície da


terra que serve como meio natural para o crescimento e desenvolvimento de plantas terrestres.

Observação: O termo solo, quando empregado em sistemas taxonômicos, se refere a todas


as partes do perfil do solo, presentes acima do material de origem (camadas e horizontes
genéticos).

A ação dos fatores de formação do solo dá origem aos processos de formação de solos,
que consistem em um conjunto de processos físicos, químicos e biológicos que resultam em solos
com características distintas e particulares.

Tais processos se caracterizam como adição (incorporação de materiais), perda (remoção


de materiais), transformação, e translocação (movimentação de materiais dentro do solo). Estes
processos promovem a transformação e homogeneização dos materiais geológicos (rochas e
sedimentos), ao mesmo tempo em que produzem uma diferenciação de porções paralelas à
superfície.

Assim, de um lado, restos vegetais são depositados à superfície, escurecendo-a, enquanto


por outro lado partículas sólidas se movimentam pela ação da gravidade de uma parte para outra,
no solo, resultando em camadas diferenciadas. Essas camadas são chamadas de horizontes do
solo.

A seqüência vertical de horizontes do solo é caracterizada como o perfil do solo. O perfil de


um solo bem desenvolvido possui três horizontes principais, identificados pelas letras A, B e C.

O horizonte A é o horizonte mineral mais superficial, escurecido pela adição de matéria


orgânica, parcial ou totalmente decomposta.

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O horizonte B aparece logo abaixo do horizonte A, e apresenta características como cor,
textura, consistência, etc, uniformes e homogêneas, resultado de transformação, remoção e, ou
translocação intensas.

O horizonte C, situado abaixo do horizonte B, corresponde à rocha alterada e é também


conhecido como saprolito. Além desses, às vezes parece também o horizonte O, que consiste de
uma camada delgada de restos orgânicos que recobre o solo.

Os horizontes dos solos apresentam características próprias que são resultado dos seus
processos de formação. São propriedades morfológicas, físicas e químicas, que, em conjunto, vão
caracterizar os diferentes tipos de solos.

O solo é constituído por partículas sólidas e poros (ocupados por água e ar). A proporção
de cada uma destas partes pode variar bastante, sendo que, normalmente, a fase sólida
corresponde a 50% do volume do solo. Esta fase é constituída por partículas minerais e material
orgânico.

As partículas minerais podem ser classificadas tanto quanto a sua origem e composição,
como quanto a seu tamanho. Assim temos os minerais primários e fragmentos de rocha e os
minerais secundários (formados do intemperismo dos minerais das rochas), que podem ser
encontrados nos tamanhos argila, silte e areia, ou maiores (cascalho, calhau e seixo).

A matéria orgânica inclui os restos de origem vegetal ou animal e os organismos que


habitam o solo (fungos, bactérias, insetos, minhocas e outros).

A fase líquida do solo ocupa parcial ou totalmente o espaço poroso do solo, tanto macro
como microporos (poros menores que 0,05 mm). A água do solo contém quantidades variáveis de
partículas em suspensão, de sais minerais em solução, e de gases dissolvidos (oxigênio e gás
carbônico, entre outros), formando a solução do solo.

A fase gasosa, ou ar do solo encontra-se nos poros do solo, tanto livre como dissolvida na
fase líquida. O ar do solo caracteriza-se por possuir quantidades de gás carbônico maiores que a
atmosfera, devido à respiração das raízes e dos organismos existentes no solo.

Desde que o oxigênio é essencial para o desenvolvimento da vida, é necessário que o solo
contenha ar. A ausência de ar no solo, como, por exemplo, quando saturado por água, resulta em
uma situação em que ocorrem condições redutoras e acumulação de matéria orgânica. Esta
acumulação, que pode até formar solos orgânicos se deve à menor capacidade de decomposição
dos microorganismos anaeróbicos.
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Os solos podem apresentar cores bastante diferentes que variam de acordo com a sua
composição. Assim, solos podem ser escuros, quando são ricos em matéria orgânica (resultante da
decomposição de plantas e animais); podem ser amarelos quando têm um mineral chamado
goethita; vermelhos quando têm um mineral chamado hematita; escuros ou acinzentados quando
estão em condições com excesso de água, como por exemplo, os solos situados nas partes
encharcadas próximas aos rios e riachos (brejos).

Os solos são compostos por partículas de diferentes tamanhos, desde bem pequenas
(argila) até mais grosseiras (areia). A textura é a proporção relativa das frações de tamanho em
um solo. Em solos onde predominam partículas de tamanho areia, a sensação é de aspereza, e o
material é pouco pegajoso e difícil de modelar. Naqueles solos em que predominam partículas de
tamanho argila, a sensação é de suavidade e o material é pegajoso e fácil de modelar. Quando
predomina o silte a sensação é de sedosidade, parecido com o talco.

Normalmente as partículas do solo encontram-se associadas formando agregados. O


arranjo e a forma destes agregados constituem a estrutura do solo. Entre os agregados do solo,
assim como dentro deles, há espaços vazios, que são os poros do solo.

A quantidade e tamanho dos poros dependem do tipo de estrutura do solo. O tamanho


das partículas que constituem o solo, e a sua estrutura, vão influenciar na infiltração de água no
solo. Assim, podemos observar que a água infiltra mais rápido em solos arenosos do que em solos
argilosos, em solos com estrutura granular, do que em solos com estrutura em blocos ou maciça.

O tipo de partículas de argila existentes no solo vão conferir a ele uma maior ou menor
pegajosidade, que pode ser observada na facilidade ou dificuldade com que modelamos a massa
de solo. Por outro lado, a consistência do solo é uma propriedade que se relaciona ao seu
comportamento mecânico (resistência ao rompimento), e está relacionada à sua umidade e
estrutura.

O conjunto das propriedades de um solo é característico dele, e é resultante da atuação


mais ou menos intensa dos processos gerais de formação de solos, consubstanciada em processos
específicos de formação de solos, que vão então dar origem a tipos diferentes de solos.

Os principais processos específicos de formação de solos são: latossolização, podzolização,


hidromorfismo e salinização.

O primeiro forma os Latossolos, solos de grande ocorrência no Brasil. São solos profundos,
muito intemperizados, que sofreram intensa transformação e remoção de materiais.
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O processo de podzolização se caracteriza por intensa translocação de argila entre os
horizontes A e B, e forma principalmente solos conhecidos como Argissolos.

O hidromorfismo é um processo característico de áreas inundadas periódica ou


continuamente. Nestes solos, conhecidos principalmente como Gleissolos, ocorre acumulação de
matéria orgânica e perda da coloração avermelhada e amarelada, tornando-os escuros, cinzentos
ou esbranquiçados.

O processo de salinização consiste da acumulação de sais em solos, tornando-os


inadequados para a maioria das plantas. É um processo comum em ambientes áridos ou semi-
áridos, costeiros, e em áreas irrigadas.

À superfície do solo, se encontra uma camada rica em nutrientes e materiais orgânicos que
permite o crescimento das plantas. A vegetação é um dos fatores que protege o solo da erosão,
tanto pela interceptação da chuva pelas copas das árvores, como pelas raízes que favorecem a
infiltração da água da chuva. Assim, a vegetação tanto protege o solo do impacto direto da chuva,
e também, da insolação direta, como contribui para a maior infiltração de água, diminuindo o
escoamento superficial, potencialmente erosivo.

O desmatamento e a remoção das camadas superficiais do solo interferem neste


equilíbrio, e o solo vai perdendo a sua capacidade de manter a vida natural e os sistemas de
produção agrícola. Além disso, os materiais de solos arrastados com a chuva por escoamento
superficial vão sendo depositados nos rios e lagos, provocando o enchimento de seus leitos.

O manejo e a conservação dos recursos naturais e a orientação da mudança tecnológica e


institucional, devem ser feitos de maneira a assegurar a obtenção e a satisfação contínua das
necessidades humanas para as gerações presentes e futuras. Tal desenvolvimento resulta na
conservação do solo, da água e dos recursos animais e vegetais, além de não degradar o meio
ambiente.

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MÓDULO II - AMOSTRAGEM DE SOLO

Introdução

A amostragem do solo é o primeiro passo para que os produtores saibam sobre a


qualidade química e física do solo onde irão plantar. Isto permite melhor recomendação para o
manejo do solo e dos nutrientes a serem complementados, visando uma boa produtividade das
culturas

Quando melhoramos as condições de desenvolvimento das plantas a tendência é


obtermos boa produtividade e plantas mais resistentes às pragas e doenças. Com isso tem-se
reduçãor nos gastos com agrotóxicos (inseticidas, herbicidas e fungicidas) e até diminuição da
aplicação de adubos químicos, nos casos em que os solos apresentem boa fertilidade.

Amostra é uma pequena porção de solo (terra) coletada de forma que represente bem
cada talhão da propriedade rural. Cada hectare de terra tem centenas de toneladas de solo, e a
amostra só vai ter cerca de meio quilo. Assim, é muito importante coletar o solo da melhor
maneira para que a amostra indique realmente o que ele pode oferecer para as culturas.

A amostra pode ser de diferentes tipos: simples, compostas, deformadas ou indeformadas,


variando de acordo com sua finalidade. Em geral, para avaliação da fertilidade do solo são
utilizadas amostras compostas e deformadas. Já para avaliação físico-hidrica do solo utilizam-se
amostras indeformadas e simples.

Os solos variam intensamente em curta distância, tanto em superfície como em


profundidade. Assim, quanto mais heterogênea for a área a ser representada pela amostra, maior
deverá ser o número de amostras a ser coletadas para que se obtenha uma estimativa que
aproxime do verdadeiro valor médio de determinada característica da área a ser avaliada.

A amostragem tem então como finalidade estimar as características do solo de uma


determinada área com precisão que satisfaça às necessidades do uso das informações ou do
estudo específico, a um custo mínimo.

Objetivos

As técnicas de amostragem de solos devem ajustar-se às necessidades dos estudos nos


campos da gênese e classificação, da química, da fertilidade, da microbiologia, considerando-se os
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objetivos para os quais destinam os resultados das análises. Por exemplo, se serão utilizados para
pesquisas ou para assistência a agricultores.

Assim, em trabalhos de gênese e classificação de solos, estes são caracterizados


morfológica, mineralógica, física e quimicamente. Para isto, seleciona-se um perfil representativo,
do qual se retiram amostras em cada um dos seus horizontes ou camadas.

Em trabalhos de pesquisa em química e em fertilidade de solos, em alguns casos, procura-


se estudar as relações entre características edáficas (por exemplo, quantidades e formas de ferro
e sua influência na disponibilidade de fósforo). Nesses estudos o que interessa é ter um conjunto
de amostras que se distribuam adequadamente em toda a amplitude de variação das
características que se quer relacionar, sem importar se definida amostra é representativa, ou não,
de certa população. Neste caso, tomam-se amostras de pedons ou conjuntos de pedons
específicos.

Em outros casos as características determinadas analiticamente na amostra serão


generalizadas para um determinado conjunto de pedons (unidade de amostragem ou estrato
relativamente homogêneo em relação a topografia, vegetação, cor, textura e umidade) dos quais
a amostra deve representar as características médias. Desta forma, a amostra deve ser
representativa da unidade de amostragem ou estrato. Nesta situação se encontram as
amostragens para a avaliação da fertilidade do solo com o propósito de prestar assistência técnica
aos agricultores.

Na avaliação da fertilidade de um solo é necessário o conhecimento de níveis ótimos


(níveis críticos) de nutrientes no solo para que não haja limitação da produção pela sua fertilidade.
Estes níveis ótimos permitem que os nutrientes em níveis inadequados sejam corrigidos pela
adubação. Torna-se, então, necessário analisar o solo a ser cultivado, o que será possível com a
obtenção de um a amostra representativa do solo.

Considerando que as análises são feitas a partir de amostras, estas devem ser mais
representativas possível da área porque nenhum resultado é melhor que o verdadeiro resultado
da amostra, portanto, nada que seja realizado no laboratório melhora a qualidade do resultado
por sobre a qualidade da amostra, ou seja, para que a análise de solo tenha resultados confiáveis,
é necessário que a amostragem seja correta, uma vez que ela representa o terreno que se quer
analisar (SQUIBA, 2002). É importante salientar que a maior fonte de erro na análise de solo está
na amostragem inadequada, o que pode conduzir a resultados incorretos (FRÁGUAS, 1992).

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A variabilidade do solo

O solo como um corpo tridimensional apresenta suas características químicas (teor de


elementos, por exemplo) e físicas (textura, por exemplo) são distribuídas de um a maneira não
uniforme, tanto superficialmente como em profundidade.

Superficialmente as variações ocorrem em grandes e pequenas distancias, compreendendo


macro e micro variações, respectivamente.

As macro variações caracterizam-se por mudanças morfológicas e,ou mineralógicas e,ou


físicas e, ou químicas dos solos que se manifestam com o unidades superficiais que permitem
subdividir um a paisagem (área) a ser amostrada, em estratos ou unidades de amostragem mais
homogêneas possíveis (Figura 1).

O processo de estratificação é feito considerando-se a uniformidade da vegetação, da


topografia, da drenagem, da cor do solo, da textura, e independe da área (tamanho) que possa
ocupar cada estrato ou unidade de amostragem. Ao se fazer a estratificação, elimina-se, em parte
a macro variação superficial que há nos solos.

A vegetação é um dos principais fatores de estratificação, porque ao mesmo tempo que é


um fator pedogenético, permite estimar as diferenças entre solos. Para fins de amostragem de
solos devem ser consideradas a vegetação passada, a atual e também as culturas a serem
implantadas.

A topografia é um fator tão importante que poderá determinar a presença de diferentes


solos, além de determinar variações em fertilidade e de disponibilidade de água.

A cor do solo pode indicar diferenças no material parental, na quantidade e qualidade de


matéria orgânica, nos teores de Mn, Fe e Al.

A textura, que é de difícil avaliação, deve ser considerada com muito cuidado para não
agrupar unidades de solo de textura diferente. A textura, além de influenciar na variabilidade das
características químicas dentro das unidades de amostragem, será considerada com o um critério
específico na interpretação dos resultados e na recomendação do uso de fertilizantes.

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Figura 1. Exemplos de estratificação da paisagem em unidades (estratos ou glebas) de amostragem.

Em outro nível, as micro variações referem-se às diferenças nas características dentro das
unidades de amostragem ou estratos, verificadas a pequenas distancias (da ordem de a
centímetros).

A variabilidade das características químicas a curta distância dentro de um a unidade de


amostragem é intensa. Esta variabilidade é inerente à gênese do solo, mas é acentuada pela
decomposição localizada de resíduos orgânicos e aplicação localizada de fertilizantes. Assim, esta
variabilidade é mais intensa em solos agricultados e em solos sob pastagem do que sob as
vegetações naturais (mata, cerrado, campo, etc). Da mesma forma ela é mais intensa em solos
argilosos do que em solos arenosos e mais em solos aluviais do que em solos das encostas e do
topo da paisagem. Deste modo, pode-se assumir o solo como um conjunto de pedons com baixos,
médios e altos teores de determinado nutriente, distribuídos aleatoriamente. Deste complexo de
pedons com fertilidade diferente, o sistema radicular das plantas integra todos os componentes e
a cultura se desenvolve de acordo com a fertilidade média do solo.

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Portanto, com a amostragem de solo para avaliação da fertilidade, procura-se estimar a
fertilidade média do estrato. Diante das micro variações, para obter-se esta estimativa várias
amostras, denominadas amostras simples, devem ser tomadas do estrato.

Assim a fertilidade média da unidade de amostragem pode ser estimada de duas maneiras,
conforme esquematizado abaixo. Pelo cálculo da média aritmética para os resultados das análises
das amostras (Esquema A), ou então pela a análise química de um a amostra composta formada
da mistura homogênea das amostras simples (Esquema B). O segundo procedimento é,
seguramente, o mais racional.

X1
X2
X3 X
...
Xn

A B
n

  Xi F X
F i 1

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A intensidade da micro variação na unidade de amostragem é acentuada pelos fatores
mencionados anteriormente, mas depende intrinsecamente, da característica avaliada. Em razão
da escala de distância em que as micro variações ocorrem, estas não dependem da extensão da
unidade de amostragem.

A heterogeneidade existente no solo faz com que sejam retiradas de áreas estratificadas
(unidades de amostragem) certo número de amostras simples para formar uma amostra composta.
E forma-se uma amostra composta em cada unidade de amostragem.

Em razão desta heterogeneidade surge a indagação: com que número de amostras simples
tem-se a melhor estimativa dos parâmetros que caracterizam a fertilidade da unidade amostrada.

Sobre o número de amostras simples por estrato, ALVAREZ V. & CARRARO (1976)
verificaram que além de levarem-se em consideração as características em estudo, deve considerar
a variabilidade do solo, em função dos fatores já mencionados. Portanto, é importante ressaltar
que o número de amostras simples deve variar em função da intensidade de variação e não da área
das unidades de amostragem.

A variabilidade vertical do solo deve-se a presença das camadas e/ou horizontes, que
geralmente apresentam transições paralelas à superfície. Estas transições muitas vezes são
abruptas, razão pela qual, diferenças de poucos centímetros em profundidade, leva à amostragem
de diferentes horizontes. Para evitar-se a influência da variabilidade em profundidade as amostras
simples em uma unidade de amostragem devem ser coletadas à uma mesma profundidade do solo.

Resume-se que, para evitar as grandes variações da paisagem (macro variações) procede-se
a sua estratificação (demarcação de unidade de amostragem ou estratos). Para evitar a intensa
variação em superfície e a curta distância dentro da unidade de amostragem, faz a coleta de um
determinado número de amostras simples para constituir uma composta. E para evitar a variação
em profundidade, as amostras simples devem ser coletadas a uma mesma profundidade.

Considerando que a amostra composta está substituindo ‘n’ amostras simples para então
obter a média aritmética para os valores das características analisadas, ressalta-se que as amostras
simples devem apresentar o mesmo volume de solo.

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Amostragem

Diante as considerações sobre a variabilidade do solo, trataremos a seguir de aspectos


específicos da amostragem para a avaliação da fertilidade do solo.

O primeiro passo no procedimento da amostragem é a estratificação da paisagem, com o


propósito de reduzir a heterogeneidade do universo, controlando as macro variações. Os principais
fatores a serem considerados na estratificação são a vegetação natural, o relevo, o uso passado, o
atual e o futuro e as características do solo como textura e cor. Não há um a indicação de tamanho
(m2 ou ha) para cada estrato ou unidade de amostragem. Recomenda-se, no entanto, que, estratos
muito grandes sejam subdivididos em subestratos para facilitar a operação de amostragem. Assim,
para grandes unidades de amostragens, áreas entre 10 e 20 ha são consideradas as mais
adequadas.

A definição do número de amostras simples por estrato é a preocupação seguinte. De modo


geral, recomenda-se a coleta de 20 a 40 amostras simples por unidade experimental (ALVAREZ V. &
CARRARO, 1976; BARRETO et al., 1974), A escolha do número exato de amostras simples
dependerá das condições que determinam a intensidade de variabilidade (micro variações) do
estrato. Assim dependendo das características a analisar deve se decidir por um maior número de
amostras simples em áreas de pastagem e intensamente agricultadas, do que em áreas com
vegetação natural ou com exploração florestal.

Outro aspecto importante é a profundidade de amostragem. Esta deve ser definida


considerando a cultura que esta sendo ou vai ser implantada no terreno. Deve-se considerar a
camada de solo que será explorada pela maior porção do sistema radicular da planta para a
absorção de nutrientes. Um critério prático para definir a espessura da camada é saber até que
profundidade será preparado o terreno para o plantio. Para cultivos de ciclo curto usualmente
amostra-se a camada de 0 a 20 cm. Para pastagem recomenda-se a amostragem de 0 a 10 cm. Para
culturas perenes, com café e essências florestais a profundidade poderá ir até 40 ou 60 cm. Nestas
situações a amostragem deve ser feita por camadas, como por exemplo: de 0 a 20 cm; de 20 a 40
cm e de 40 a 60 cm, constituindo-se uma amostra composta por camada.

Deve-se considerar também a distribuição dos pontos de coleta das amostras simples
dentro do estrato. É fundamental que os pontos de coleta estejam distribuídos por toda a área para
que a amostra composta seja representativa do estrato. Recomendas-se que a escolha dos pontos
seja ao acaso, percorrendo em zigue-zague toda a área da unidade de amostragem, conforme

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ilustra a Figura 2. Apesar da localização aleatória dos pontos de amostragem, devem-se evitar
acidentes estranhos na área, tais como formigueiros, cupinzeiros, locais de queimada e deposições
de fezes em pastagens. Além deste aspecto os resíduos vegetais sobre o solo devem ser removidos
no ponto de coleta.

Considerando que a adubação acentua as micro variações, cuidados especiais devem ser
tomados na amostragem de área com cultura estabelecida, ou intensamente cultivada. Para tanto
se sugere distribuir os pontos de coleta das amostras simples entre a área de influência direta do
fertilizante e a área não afetada.

Figura 2. Esquema de distribuição aleatória dos pontos de coleta de amostras simples em uma
unidade de amostragem, segundo caminhamento em zigue-zague.

A retirada da amostra simples é feita utilizando-se enxada, enxadão, pá ou instrumentos


próprios denominados de trados ou sondas ilustrados na Figura 3. Independente do instrumento a
ser utilizado e da padronização do volume de solo coletado em cada amostra simples. Maiores
cuidados são requeridos quando se utiliza enxada, enxadão ou pá. Com a utilização de sondas o
volume de solo em cada amostra é mais uniforme.

Durante o procedimento de amostragem as amostras simples são agrupadas em uma


vasilha limpa (um balde, por exemplo). Ao final, o solo deve ser totalmente destorroado e
intensamente misturado para uma perfeita homogeneização. Desta retira-se aproximadamente,
500 g de solo, que se constitui na amostra composta, que deve ser devidamente embalada e
identificada para ser enviada ao laboratório.

A amostra deve ser acompanhada por um formulário preparado pelo laboratório onde se
encontram o nome e endereço do remetente, a identificação das amostras e informações
complementares tais como: cultura a ser feita, cultura anterior, adubação anterior, topografia etc.

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Figura 3. Procedimentos e equipamentos utilizados na coleta de amostras de solo.

Concluindo, ressalta-se que a precisão com que uma amostra composta representa a
unidade de amostragem depende da amplitude de variação da característica em estudo, do
número de amostras simples coletadas e da maneira como estas são retiradas.

O resultado das análises define especificamente a característica de uma pequena alíquota


de solo (a que foi usada na análise). Este valor aproxima-se da característica real do solo apenas
quando:

• A amostra composta é representativa do volume total do solo da unidade d e


amostragem;

• Nenhuma alteração (modificação ou contaminação) tenha ocorrido na amostra antes


da análise;

• As alíquotas usadas na análise sejam representativas das amostras originais;

• A análise é precisa e representa realmente o desejado.

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Referências bibliográficas

ALVAREZ V., V.H.; CARRARO, I.M. 1976. Variabilidade do solo numa unidade de amostragem em
solos de Cascavel e de Ponta Grossa, Paraná. Rev. Ceres, 23:503-510.

BARRETO, A.C.; NOVAIS, R.F.; BRAGA, J.M. 1974. Determinação estatística do número de amostras
simples de solo por área para avaliação de sua fertilidade. Rev . Ceres, 21:142-147.

SQUIBA, L.M., PREVEDELLO, B.M.S., LIMA, M.R. Como coletar amostras de solo para análise química
e física (culturas temporárias). Curitiba: Universidade Federal do Paraná, Projeto Solo Planta,
2002. (Folder).

FRÁGUAS, J.C. Amostragem de solo para análise em vinhedos. Comunicado Técnico EMBRAPA-
Bento Gonçalves, RS, Nº 8, dezembro 1992, p. 1-4.

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MÓDULO III – INTERPRETAÇÃO DE ANÁLISE DE SOLO

No processo de recomendação de corretivos e fertilizantes, é indispensável a utilização dos


resultados da análise de solo da maneira mais eficiente possível.

Para aumentar a eficiência do trabalho de diagnose de problemas de fertilidade do solo, é


necessário que o técnico esteja familiarizado com conceitos básicos sobre o assunto e como estes
podem ser utilizados de uma forma mais abrangente.

Conceitos básicos sobre acidez de solo e CTC

Apesar dos conceitos básicos de acidez e capacidade de troca de cátions (CTC) serem
bastante conhecidos, tanto na região temperada como na região tropical, ainda existe muita
confusão gerada pelo uso inadequado destes conceitos na solução de problemas ligados à
fertilidade do solo.

Deve-se salientar que nem os princípios fundamentais da acidez do solo, nem aqueles
ligados a CTC podem ou devem ser considerados em termos isolados, sendo óbvia a necessidade de
se avaliar as inter-relações entre os mesmos.

Neste sentido, cabem algumas definições isoladas destes conceitos, como meta para avaliá-
los em conjunto na diagnose de problemas ligados à fertilidade do solo.

Acidez ativa: é dada pela concentração de H + na solução do solo, sendo expressa em termos de pH,
em escala que, para a maioria dos solos do Brasil, varia de 4,0 a 7,5. Esse tipo de acidez seria muito
fácil de ser neutralizado, se não fossem outras formas de acidez, notadamente a acidez trocável,
que tende a manter, ao final de reações no solo, altos índices de acidez ativa. Estima-se que um
solo com pH 4,0 e 25 % de umidade necessitaria apenas 2,5 kg de carbonato de cálcio puro, por
hectare, para corrigir este tipo de acidez (acidez ativa).

Acidez trocável (cmolc/dm3 ou mmolc/dm3): refere-se ao alumínio (Al3+) e hidrogênio (H+) trocáveis
e adsorvidos nas superfícies dos colóides minerais ou orgânicos por forças eletrostáticas. Este tipo
de acidez é, nas análises de rotina, extraído com KCl 1 mol/L, não tamponado, que também é
utilizado, em alguns laboratórios, para extrair cálcio e magnésio trocáveis. Uma vez que existe

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muito pouco H+ trocável em solos minerais (solos orgânicos já apresentam altos níveis de H+
trocável), acidez trocável e Al trocável são considerados como equivalentes. Nos boletins de
análise, este tipo de acidez é representado por Al trocável e expresso em cmolc/dm3 ou mmolc/dm3.
A acidez trocável, também conhecida por Al trocável ou acidez nociva, apresenta efeito detrimental
ao desenvolvimento normal de um grande número de culturas. Quando se fala que um solo
apresenta toxidez de alumínio, isto significa que este solo apresenta altos índices de acidez trocável
ou acidez nociva. Um dos principais efeitos da calagem é eliminar este tipo de acidez.

Acidez potencial ou acidez total (cmolc/dm3 ou mmolc/dm3): refere-se ao total de H+ em ligação


covalente mais H + Al trocáveis, sendo usada na sua determinação uma solução tamponada a pH
7,0. Muitos laboratórios de rotina em fertilidade do solo, no Brasil, já incorporaram a determinação
do H + Al, com todas as implicações benéficas do conhecimento e utilização deste parâmetro.

Soma de bases trocáveis (S) (cmolc/dm3 ou mmolc/dm3): este atributo, como o próprio nome
indica, reflete a soma de cálcio, magnésio, potássio e, se for o caso, também o sódio, todos na
forma trocável, do complexo de troca de cátions do solo. Enquanto os valores absolutos dos
resultados das análises destes componentes refletem os níveis destes parâmetros de forma
individual, a soma de bases dá uma indicação do número de cargas negativas dos colóides que está
ocupado por bases. A soma de bases, em comparação com a CTC efetiva e Al trocável, permite
calcular a percentagem de saturação de alumínio e a percentagem de saturação de bases desta
CTC. Em comparação com a CTC a pH 7,0, permite avaliar a percentagem de saturação por bases
desta CTC (V %),parâmetro indispensável para o cálculo da calagem, pelo método utilizado em
alguns estados do País.

S = Ca2+ + Mg2+ + K+ + (Na+),


com valores expressos em cmolc/dm3 ou mmolc/dm3.

CTC efetiva (t): (cmolc/dm3 ou mmolc/dm3): reflete a capacidade efetiva de troca de cátions do solo
ou, em outras palavras, a capacidade do solo em reter cátions próximo ao valor do seu pH natural.
Quando se compara a CTC efetiva de um solo virgem sob cerrado (1,0 cmol c/dm3) com a de um
Latossolo Roxo Eutrófico, por exemplo, 15,0 cmolc/dm3, fica óbvio o comportamento diferencial
destes solos em termos de retenção de cátions, perdas por lixiviação, necessidade de parcelamento

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das adubações potássicas, etc. Avaliando-se este parâmetro em conjunto com textura e teor de
matéria orgânica, pode-se inferir uma série de dados adicionais relevantes ao adequado manejo da
fertilidade dos solos

t = S + Al3+,
com os valores expressos em cmolc/dm3 ou mmolc/dm3.

CTCpH 7,0 (T) (cmolc/dm3 ou mmolc/dm3): esta CTC, também conhecida como capacidade de troca
de cátions potencial do solo, é definida como a quantidade de cátions adsorvida a pH 7,0. É um
parâmetro utilizado nos levantamentos de solos no Brasil e, em geral, sub-utilizado em termos de
avaliação de fertilidade. Sob o ponto de vista prático, é o nível da CTC de um solo que seria
atingido, caso a calagem deste solo fosse feita para elevar o pH a 7,0; ou o máximo de cargas
negativas liberadas a pH 7,0 passíveis de serem ocupadas por cátions. A diferença básica entre a
CTC efetiva e a CTC a pH 7,0 é que esta última inclui hidrogênio (H+) que se encontrava em ligação
covalente (muito forte) com o oxigênio nos radicais orgânicos e sesquióxidos de ferro e alumínio,
tão comuns nos solos brasileiros.

T = CTCpH 7,0 = S + (H + Al),


com os componentes expressos em cmolc/dm3 ou mmolc/dm3.

Saturação por bases (V %): este parâmetro reflete quantos por cento dos pontos de troca de
cátions potencial do complexo coloidal do solo estão ocupados por bases, ou seja, quantos por
cento das cargas negativas, passíveis de troca a pH 7,0, estão ocupados por Ca, Mg, K e, às vezes,
Na, em comparação com aqueles ocupados por H e Al. É um parâmetro utilizado para separar solos
considerados férteis (V % >50) de solos de menor fertilidade (V % < 50). É indispensável para o
cálculo da calagem pelo método da elevação da saturação por bases, em uso em vários estados.

V % = (100 x S) / T
com os componentes expressos em cmolc/dm3 ou mmolc/dm3.

Subtraindo-se a percentagem de saturação por bases (V %) de 100 %, obtém-se a


percentagem de saturação por ácidos, H + Al, (m %) da CTC a pH 7,0.

18
Saturação por alumínio (m %): expressa a fração ou quantos por cento da CTC efetiva estão
ocupados pela acidez trocável ou Al trocável. Em termos práticos, reflete a percentagem de cargas
negativas do solo, próximo ao pH natural, que está ocupada por Al trocável. É uma outra forma de
expressar a toxidez de alumínio. Em geral, quanto mais ácido é um solo, maior o teor de Al trocável
em valor absoluto, menores os teores de Ca, Mg e K, menor a soma de bases e maior a
percentagem de saturação por alumínio. O efeito detrimental de altos teores de Al trocável e, ou,
da alta percentagem de saturação por alumínio no desenvolvimento e produção de culturas
sensíveis a este problema é fato amplamente comprovado pela pesquisa.

m % = (100 x Al3+) / (S+Al3+)


com os componentes expressos em cmolc/dm3 ou mmolc/dm3.

Subtraindo-se a percentagem de saturação por Al (m %) de 100 %, obtém-se a percentagem


de saturação por bases da CTC efetiva.

Uma representação esquemática conjunta dos conceitos de acidez do solo e da CTC é


mostrada na Figura 1. A acidez ativa é aqui mostrada no valor do pH atual do solo (pH 4,9). A CTC a
pH 7,0 é representada pelo reservatório que abrange a soma de bases (Ca 2+ + Mg2+ + K+ + (Na+)), a
acidez trocável (Al3+) e a acidez não trocável (H +). Outro aspecto interessante nesta ilustração é que
as bases (Ca2+ + Mg2+ + K+ + (Na+)) ocupam cerca de 50 % da CTC efetiva e cerca de 20 % da CTC a
pH 7,0. Conseqüentemente, o conceito de saturação por bases depende do conceito de CTC
envolvido.

Ainda na Figura 1, pode-se deduzir que, à medida que se incorpora calcário ao solo,
aumenta-se o nível de Ca e Mg, reduz-se o teor de Al, sendo que a pH 5,6 no solo não deve existir Al
e, conseqüentemente, a percentagem de saturação por Al da CTC efetiva deve ser praticamente
zero ou, em outras palavras, a percentagem de saturação por bases da CTC efetiva deve ser 100 %,
ou a acidez trocável deixa de existir. Para certas culturas, calagem apenas para neutralizar esta
acidez trocável seria mais recomendável.

É importante comentar ainda que grande parte da CTC a pH 7,0 é ocupada por H+, que
precisa ser neutralizado pela ação da calagem, se se deseja liberar cargas negativas que se
encontram não dissociadas. Isto somente irá ocorrer com a elevação do pH acima do valor 5,6,
onde o Al ou acidez trocável já deixa de atuar. Muitas culturas mostram efeitos benéficos da
incorporação de calcário em doses mais elevadas, que irão neutralizar parte deste H +, ou parte

19
desta acidez não trocável. Esta é a base do método da recomendação de calcário pelo critério de
elevação de saturação por bases da CTC a pH 7,0, uma vez que elevar a saturação por bases
corresponde a elevar o pH, diminuir a saturação por Al e gerar mais pontos de troca catiônica
dependentes de pH.

A tolerância ou sensibilidade das culturas à acidez ativa, acidez potencial, saturação por
bases, saturação por alumínio e disponibilidade de nutrientes é muito variável. Assim, cada situação
deve ter uma interpretação de acordo com a exigência específica quanto a classe de fertilidade.

Uma das condições para que os resultados da análise de solo e sua interpretação sejam
válidos é que existam correlações entre os valores obtidos por um determinado método de
extração e a resposta de culturas à adubação ou calagem em condições de campo. Por essa razão é
que são desenvolvidos estudos de correlação e calibração de métodos de análise de solo.

Figura 1. Representação esquemática conjunta dos conceitos da acidez dolo e da CTC.


Fonte: Raij, 1981.

Na fase de correlação, por exemplo, são avaliados diferentes extratores, sendo selecionados
os que melhor se aproximam do método padrão, que é a quantidade absorvida e acumulada pelas
plantas de um dado nutriente. Na fase de calibração são, então, definidos os níveis críticos e as
doses dos nutrientes a serem aplicados.

Como os métodos de extração podem variar entre laboratórios de estados diferentes, que,
por sua vez, possuem experimentação agronômica própria, os critérios de interpretação deixam de
ser, assim, únicos.

20
As classes de interpretação para os resultados das análises químicas de solos emitidos pelos
laboratórios em Minas Gerais encontram-se nas Tabelas 2, 3, 4, 5 e 6. Embora essas classes sejam
gerais, a utilização delas permite separar glebas com probabilidades diferentes de resposta à
aplicação de nutrientes.

Considerando especificamente a cultura do milho, uma proposta de interpretação exclusiva


para fósforo é apresentada na Tabela 6.

Acidez do solo

Na avaliação da acidez do solo, deve-se levar em consideração as características acidez ativa


(ou pH) e a trocável, a saturação por alumínio e por bases, a acidez potencial e o teor de matéria
orgânica, que estão relacionadas entre si. Relacionada também com a acidez do solo está a
disponibilidade dos nutrientes cálcio e magnésio e de micronutrientes como manganês, ferro,
cobre e zinco (Tabelas 1 e 2).

Fósforo, enxofre e potássio

A eficiência de extração do fósforo disponível pelo método Mehlich-1 sofre grande


influência da capacidade tampão de fosfatos do solo. Por isso, na interpretação da disponibilidade
de fósforo, são usadas características que estão relacionadas com a capacidade tampão , como o
teor de argila ou o valor do fósforo remanescente (Tabela 3). O enxofre disponível, extraído com
fosfato monocálcico em ácido acético, semelhantemente, é também afetado pela capacidade
tampão de sulfatos do solo. Na interpretação do enxofre disponível de amostras compostas da
camada subsuperficial, as classes de fertilidade apresentadas estão de acordo, como para o fósforo
disponível, com a concentração de fósforo remanescente (Tabela 4). Para o potássio disponível,
como a capacidade tampão para potássio não afeta a eficiência de extração pelo método Mehlich-
1, sendo também de pouco significado para a maioria dos solos de Minas Gerais, é adotada apenas
uma classificação para esse nutriente (Tabela 3).

Micronutrientes

Embora seja freqüente a deficiência de zinco e, ou, de boro em várias culturas em Minas
Gerais, sendo a de zinco mais comum na cultura do milho, especialmente em solos de cerrado, há

21
uma limitação de estudos detalhados no que se refere a trabalhos de calibração para interpretação
de resultados de análise de solo para micronutrientes. Apesar disso, é apresentada uma primeira
aproximação de interpretação, sendo incluídas classes de fertilidade para zinco, manganês, ferro e
cobre, extraídos com o extrator Mehlich-1, e para boro, extraído com água quente (Tabela 5).

Tabela 1.Classes de interpretação para a acidez ativa do solo (pH)1/.


Classificação química
Ac. muito Acidez Acidez Acidez Alcalinidade Alcalinidade
Neutra
elevada elevada média Fraca fraca elevada
> 4,5 4,5 - 5,0 5,1 - 6,0 6,1 - 6,9 7,0 7,1 - 7,8 >7,8
Classificação agronômica
Muito baixo Baixo Bom Alto Muito alto
< 4,5 4,5 - 5,4 5,5 - 6,0 6,1 - 7,0 > 7,0
Fonte: ALVAREZ V. et al. (1999).
1/
pH em H2O, relação 1:2,5, TFSA: H2O.

Tabela 2. Classes de interpretação de fertilidade do solo para a matéria orgânica e para o complexo
de troca catiônica.
Classificação
Característica Unidade1/
Muito baixo Baixo Médio2/ Bom Muito Bom
Carbono orgânico
dag/kg ≤ 0,40 0,41 - 1,16 1,17 - 2,32 2,33 - 4,06 > 4,06
(CO)2/
Matéria orgânica
dag/kg ≤ 0,70 0,71 - 2,00 2,01 - 4,00 4,01 - 7,00 > 7,00
(MO)3/
Cálcio trocável
cmolc/dm3/ ≤ 0,40 0,41 -1,20 1,21 - 2,40 2,41 - 4,00 > 4,00
(Ca2+)4/
Magnésio trocável
cmolc/dm3/ ≤ 0,15 0,16 - 0,45 0,46 - 0,90 0,91 - 1,50 > 1,50
(Mg2+)4/
Acidez trocável
cmolc/dm3/ ≤ 0,20 0,21 - 0,50 0,51 - 1,00 1,01 - 2,0011/ > 2,00 11/
(Al3+)4/
Soma de bases
cmolc/dm3/ ≤ 0,60 0,61 - 1,80 1,81 - 3,60 3,61 - 6,00 > 6,00
(S)5/
Acidez potencial
cmolc/dm3/ ≤ 1,00 1,01 - 2,50 2,51 - 5,00 5,01 - 9,0011/ > 9,00 11/
(H + Al)6/
CTC efetiva
cmolc/dm3/ ≤ 0,80 0,81 - 2,30 2,31 - 4,60 4,61 - 8,00 > 8,00
(t)7/
CTC pH 7
cmolc/dm3/ ≤ 1,60 1,61 - 4,30 4,31 - 8,60 8,61 - 15,00 > 15,00
(T)8/
3+
Saturação por Al
% ≤ 15,0 15,1 - 30,0 30,1 - 50,0 50,1 - 75,011/ > 75,0 11/
(m)9/
Saturação por bases
% ≤ 20,0 20,1 - 40,0 40,1 - 60,0 60,1 - 80,0 > 80,0
(V)10/
Fonte: ALVAREZ V. et al. (1999).
1/
dag/kg = % (m/m); cmolc /dm3. 2/ O limite superior desta classe indica o nível crítico. 3/ Método Walkley &
Black; MO = 1,724 x CO. 4/ Método KCl 1 mol/L. 5/ S = Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+. 6/ H + Al, Método Ca (OAc) 20,5
mol/L, pH 7. 7/ t = S + Al3+. 8/ T = S + (H + Al). 9/ m = 100 Al3+ /t. 10/ V = 100 S/T. 11/ A interpretação dessas
características nessas classes deve ser alta e muito alta em lugar de bom e muito bom.

22
Tabela 3. Classes de interpretação da disponibilidade para o fósforo, de acordo com o teor de argila
do solo ou do valor de fósforo remanescente (P-rem) e para o potássio.
Classificação
Característica
Muito baixo Baixo Médio Bom Muito bom
3/ 1/
---------------------------------(mg/dm ) ------------------------------------------
Argila (%) Fósforo disponível (P)2
60 - 100 ≤ 2,7 2,8 - 5,4 5,5 - 8,03/ 8,1 - 12,0 > 12,0
35 - 60 ≤ 4,0 4,1 - 8,0 8,1 - 12,0 12,1 - 18,0 > 18,0
15 - 35 ≤ 6,6 6,7 - 12,0 12,1 - 20,0 20,1 - 30,0 > 30,0
0 - 15 ≤ 10,0 10,1 - 20,0 20,1 - 30,0 30,1 - 45,0 > 45,0
P-rem4/ (mg/L)
0-4 ≤ 3,0 3,1 - 4,3 4,4 - 6,03/ 6,1 - 9,0 > 9,0
4 - 10 ≤ 4,0 4,1 - 6,0 6,1 - 8,3 8,4 - 12,5 > 12,5
10 - 19 ≤ 6,0 6,1 - 8,3 8,4 - 11,4 11,5 - 17,5 > 17,5
19 - 30 ≤ 8,0 8,1 - 11,4 11,5 - 15,8 15,9 - 24,0 > 24,0
30 - 44 ≤11,0 11,1 - 15,8 15,9 - 21,8 21,9 - 33,0 > 33,0
44 - 60 ≤ 15,0 15,1 - 21,8 21,9 - 30,0 30,1 - 45,0 > 45,0
2/
Potássio disponível (K)
≤ 15 16 - 40 41 - 70 71 - 120 > 120
Fonte: ALVAREZ V. et al. (1999).
1/
mg/dm 3 = ppm (m/v).
2/
Método Mehlich-1.
3/
Nesta classe apresentam-se os níveis críticos de acordo com o teor de argila ou com o valor do fósforo
remanescente . O limite superior desta classe indica o nível crítico. P-rem = Fósforo remanescente.

Tabela 4. Classes de interpretação da disponibilidade para o enxofre1/, de acordo com o valor de


fósforo remanescente (P-rem).
Classificação
P-rem
Muito baixo Baixo Médio2/ Bom Muito bom
3 3/
------------------------------- (mg/dm ) ---------------------------------
mg/L
Enxofre disponível (S)
0-4 ≤ 1,7 1,8 - 2,5 2,6 - 3,6 3,7 - 5,4 > 5,4
4 - 10 ≤ 2,4 2,5 - 3,6 3,7 - 5,0 5,1 - 7,5 > 7,5
10 - 19 ≤ 3,3 3,4 - 5,0 5,1 - 6,9 7,0 - 10,3 > 10,3
19 - 30 ≤ 4,6 4,7 - 6,9 7,0 - 9,4 9,5 - 14,2 > 14,2
30 - 44 ≤ 6,4 6,5 - 9,4 9,5 - 13,0 13,1 - 19,6 > 19,6
44 - 60 ≤ 8,9 9,0 - 13,0 13,1 - 18,0 18,1 - 27,0 > 27,0
Fonte: ALVAREZ V. et al. (1999).
1/
Extrator Ca(H2PO4 )2, 500 mg/L de P, em HOAc 2 mol/L.
2/
Esta classe indica os níveis críticos de acordo com o valor de P-rem.
3/
mg/dm 3 = ppm (m/v).

23
No caso do fósforo disponível obtido pela Resina podem ser consideradas as seguintes faixas de
disponibilidade.

Faixa de disponibilidade Fósforo disponível (Resina)


------mg/dm3 ------
Baixo 0 - 20
Médio 21 -40
Alto ≤ 40

Tabela 5. Classes de interpretação da disponibilidade para os micronutrientes.


Classificação
Micronutrientes
Muito baixo Baixo Médio1/ Bom Muito bom
3 2/
mg/L ------------------------------- (mg/dm ) ---------------------------------
Zinco disponível (Zn)3/ ≤ 0,4 0,5 - 0,9 1,0 - 1,5 1,6 - 2,2 > 2,2
3/
Manganês disponível(Mn) ≤2 3-5 6-8 9 - 12 > 12
3/
Ferro disponível (Fe) ≤8 9 - 18 19 - 30 31 - 45 > 45
Cobre disponível (Cu)3/ ≤ 0,3 0,4 - 0,7 0,8 - 1,2 1,3 - 1,8 > 1,8
Boro disponível (B)4/ ≤ 0,15 0,16 - 0,35 0,36 - 0,60 0,61 - 0,90 > 0,90
Fonte: ALVAREZ V. et al. (1999).
1/
O limite superior desta classe indica o nível crítico.
2/
mg/dm3 = ppm (m/v).
3/
Método Mehlich-1.
4/
Método água quente.

O princípio geral da adubação, especialmente fosfatada e potássica, para grandes culturas e


culturas perenes, é que, quando o solo estiver na classe baixa, a adubação deve ser feita com a
dose total; na classe muito baixa, 1,25 vezes essa dose; na classe média, com 0,80 da adubação
básica; na classe de boa disponibilidade, 0,60 da adubação básica e, na classe muito boa, 0,40 da
adubação básica, apenas com o intuito de reposição. Para hortaliças, a adubação para solos da
classe baixa deve ser feita com a dose total; na classe muito baixa, com 1,20 vezes essa dose; na
classe média, com 0,77 vezes a adubação básica; na classe boa, com 0,53 vezes a dose básica e, na
classe muito boa, com 0,30 da adubação básica.

Também, como princípio geral de fertilização com fosfatos, a dose básica (recomendação
para a classe baixa) não somente deve ser diferente de acordo com a cultura, mas de acordo com a
capacidade tampão do solo. Considerando que a dose básica, para certa cultura, corresponde
àquela a ser utilizada em solos argilosos (35 – 60 %); para solos muito argilosos (> 60 %) a
recomendação deve ser 1,25 vezes a dose básica; para solos de textura média (15 – 35 %), 0,8 a
adubação básica e, para solos arenosos (< 15 % de argila), 0,6 vezes a dose básica. Analogamente, e
24
de acordo com a concentração do Prem, os fatores para ajustar as recomendações básicas
indicadas por cultura devem ser:

P-rem
0-4 4 - 10 10 - 19 19 - 30 30 - 44 44 - 60
(mg/L)

Fator 1,30 1,15 1,00 0,85 0,70 0,60

Deve-se ter em mente, entretanto, que, para certas condições de solo e de culturas, já
existem, no Estado, trabalhos de correlação e de calibração em experimentos de campo, que
permitem alterações das classes de interpretação gerais propostas. Alterações destes critérios de
interpretação e as recomendações, quando cabíveis e com base em trabalhos de campo, são
apresentadas na parte referente a sugestões de adubações para culturas específicas.

Tabela 6. Interpretação das classes de teores de fósforo no solo indicadas para a cultura do milho.
Classes de teor de fósforo no solo
Classe textural do solo1/ Extrator de fósforo
Baixo Médio Alto
--------------------- ppm ------------------
Argilosa (36 a 60 %) Mehlich-1 <5 6 a 10 > 10
Média (15 a 35 %) Mehlich-1 < 10 11 a 20 > 20
Arenosa (< 15 %) Mehlich-1 < 20 21 a 30 > 30
Resina < 15 16 a 40 > 40
Fonte: COELHO & FRANÇA (1995).
1/
Porcentagem de argila.

25
Apresentação dos resultados das análises de solos
Alfredo Scheid Lopes e
Victor Hugo Alvarez V.

As amostras recebidas nos laboratórios são colocadas para secar ao ar, na sombra, e
passadas em peneira com malha de 2 mm de abertura. Feitas as respectivas análises, os resultados
são expressos com base em volume (dm3) ou em massa (kg) de terra (terra fina seca ao ar – TFSA)
de acordo com a forma de medida da subamostra na análise correspondente, conforme listado a
seguir.

FUNDAMENTAIS:
pH em água.
Carbono orgânico – Método Walkley & Black (CO, em dag/kg = % (m/m)).
Cálcio trocável – Método KCl 1 mol/L (Ca2+, em cmolc/dm3 = meq/100 cm3).
Magnésio trocável – Método KCl 1 mol/L (Mg2+, em cmolc/dm3 = meq/100 cm3).
Acidez trocável – Método KCl 1 mol/L (Al3+, em cmolc/dm3 = meq/100 cm3).
Soma de bases (S = Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+, em cmolc/dm3 = meq/100 cm3).
Acidez potencial – Método Ca(OAc)2 0,5 mol/L, pH 7 (H + Al, em cmolc/dm3 = meq/100 cm3).
Capacidade efetiva de troca de cátions (t = S + Al3+, em cmolc/dm3 = meq/100cm3).
Capacidade de troca de cátions a pH 7 (T = S + (H + Al), em cmolc/dm3 = meq/100 cm3).
Saturação por alumínio (m = 100 Al3+/t, em %).
Saturação por bases (V = 100 S/T, em %).
Fósforo disponível – Método Mehlich-1 (P, em mg/dm3 = ppm (m/v)).
Fósforo remanescente – Método do P em solução de equilíbrio (P-rem, em mg/L).
Potássio disponível – Método Mehlich-1 (K, em mg/dm3 = ppm (m/v)).

FACULTATIVAS:
Enxofre disponível – Método Hoeft et al. (S, em mg/dm3 = ppm (m/v)).
Zinco disponível – Método Mehlich-1 (Zn, em mg/dm3 = ppm (m/v)).
Manganês disponível – Método Mehlich-1 (Mn, em mg/dm3 = ppm (m/v)).
Ferro disponível – Método Mehlich-1 (Fe, em mg/dm3 = ppm (m/v)).
Cobre disponível – Método Mehlich-1 (Cu, em mg/dm3 = ppm (m/v)).
Boro disponível – Método água quente (B, em mg/dm3 = ppm (m/v)).

26
Observações:

Para a determinação de pH em água usar 10 cm3 TFSA mais 25 mL H2O.

O carbono de compostos orgânicos de amostra de 0,5 g de TFSA triturada em almofariz é


oxidado pelo Cr2O72-.

A extração de Ca2+, Mg2+ e Al3+ é feita com KCl 1 mol/L na relação 10 cm3 TFSA: 100 mL
extrator, 5 min de agitação e decantação durante o pernoite (16 h).

A extração de H + Al é realizada com Ca(OAc)2 0,5 mol/L, pH 7, na relação 5 cm3 TFSA: 75 mL


extrator, 10 min de agitação e decantação por 16 h. H + Al, também pode ser estimado por meio da
determinação de pH em solução tampão SMP.

P, K disponíveis e Na (quando necessário) são determinados usando, como extrator Mehlich-


1 (HCl 0,05 mol/L + H2SO4 0,0125 mol/L), na relação 10 cm3 TFSA: 100 mL extrator, 5 min de
agitação e decantação por 16 h. Para transformar mg/dm3 de K em cmolc/dm3 de K+, dividir o valor
em mg/dm3 por 391. Para transformar mg/dm3 de Na em cmolc/dm3 de Na+, dividir o valor em
mg/dm3 por 230.

A extração de S disponível é feita com Ca(H2PO4)2, 500 mg/L de P, em HOAc 2 mol/L (Hoeft
et al., 1973). A 10 cm3 TFSA adicionar 0,5 g de carvão ativado e 25 mL de extrator. Agitar 45 min,
decantar 5 min e filtrar em papel de filtração lenta.

A extração de Zn, Mn, Fe e Cu disponíveis é feita em conjunto com P e K disponíveis com


extrator Mehlich-1.

A extração de B disponível é realizada com água deionizada, adicionando a 10 cm3 TFSA,


acondicionados em saco grosso de polietileno com 0,4 g de carvão ativado, 20 mL H2O e aquecendo
por 4 min a 630 W ou por 5 min a 450 W de emissão de ondas, em forno de microondas (ABREU et
al., 1994).

Fósforo remanescente é a concentração de P da solução de equilíbrio, após agitar, durante 1


h, 5 cm3 TFSA com 50 mL de solução de CaCl2 10 mmol/L, contendo 60 mg/L de P.

A pedido do interessado realiza-se a análise granulométrica.

As determinações de nitrogênio, de enxofre e de micro-nutrientes, ainda não são realizadas


em forma rotineira, especialmente porque não se têm critérios totalmente comprovados para sua
interpretação. Entretanto, caso haja interesse do técnico que presta orientação ao agricultor,
alguns laboratórios podem executar essas análises.
27
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29
MÓDULO IV – CALAGEM E ADUBAÇÃO

CALAGEM

Introdução

A grande maioria dos solos de brasileiros são muito pobres quimicamente, apresentando
elevada acidez, altos teores de Al e Mn trocáveis e deficiência de nutrientes como Ca, Mg e P.

A correção da acidez do solo e a adubação das culturas são, portanto, práticas


comprovadamente indispensáveis ao manejo dos solos.

Além do efeito marcante da calagem no aumento da produtividade, nenhuma outra prática


agrícola pode ser considerada mais econômica do que a calagem. Estudos mostram que a calagem
representa apenas 5% do custo total da produção, o que pode ser considerado, em relação às
outras práticas, um dispêndio financeiro muito baixo, principalmente levando-se em conta o seu
alto retorno em termos de benefícios econômicos.

A prática da calagem, além de corrigir a acidez do solo, aumenta a disponibilidade de


fósforo, já que diminui os sítios de fixação no solo, diminui a disponibilidade de alumínio e
manganês através da formação de hidróxidos, que não são absorvidos. Assim, promove melhorias
na microbiota do solo, estimulando o desenvolvimento de sistemas radiculares saudáveis, a
atividade microbiana e a melhoria da fixação de N pelas leguminosas e, ainda, o aumento da
disponibilidade da maioria dos nutrientes essenciais às plantas e a manutenção dos teores de
matéria orgânica do solo. A calagem favorece também a agregação, uma vez que o cálcio é um
cátion floculante e, com isso, diminui a compactação, melhorando assim as condições físicas do
solo.

Diante dessas informações, verifica-se que a calagem é essencial para que haja melhorias na
produtividade e na sustentabilidade da produção agrícola.

A necessidade de calagem não está somente relacionada com o pH do solo, mas também
com a sua capacidade tampão e a sua capacidade de troca de cátions. Solos mais argilosos são mais
tamponados e necessitam de mais calcário para aumentar o pH do que os menos argilosos ou
tamponados. A capacidade tampão relaciona-se diretamente com os teores de argila e de matéria
orgânica no solo, bem como com o tipo de argila.

30
Os critérios de recomendação de calagem são variáveis segundo os objetivos e princípios
analíticos envolvidos, e o próprio conceito de necessidade de calagem irá depender do objetivo
dessa prática. Assim, a necessidade de calagem é a quantidade de corretivo necessária para
diminuir a acidez do solo, de uma condição inicial até um nível desejado. Ou é a dose de corretivo
necessária para se atingir a máxima eficiência econômica de definida cultura, o que significa ter
definida quantidade de Ca e de Mg disponíveis no solo e condições adequadas de pH para boa
disponibilidade dos nutrientes em geral.

Por outro lado, a pesquisa tem demonstrado que os maiores benefícios da calagem são
obtidos com aplicação adequada de fertilizantes (N, P, K, S e micronutrientes) e outras práticas
agrícolas.

Em rotação de culturas, pela sensibilidade diferencial à acidez, a calagem deve ser feita,
visando à cultura mais rendosa.

Logo, o primeiro passo que o produtor deve dar é proceder à análise do solo. Esse é o
instrumento valioso e insubstituível para avaliar não somente a necessidade da calagem, mas
também a da adubação mais adequada. Evidenciada a necessidade da calagem, as perguntas mais
freqüentes dos produtores são como e quando aplicar o calcário, quais seriam suas melhores fontes
e qual a quantidade apropriada.

Em relação à época de aplicação, os calcários geralmente são pouco solúveis e, portanto,


necessitam que sua utilização seja realizada com suficiente antecedência, desde que haja umidade
no solo. Apesar disso, pode-se muito bem pensar em distribuir o calcário no período de maior
ociosidade das máquinas na propriedade.

Quanto à forma de aplicação, é necessário levar em conta o sistema de cultivo adotado.


Caso o agricultor faça o plantio convencional, o calcário, dada sua baixa solubilidade, deve ser bem
incorporado por meio de arações e gradagens, a fim de permitir o máximo de contato com as
partículas do solo.

Determinação da Necessidade de Calagem

Para estimar a necessidade de calagem (NC), ou seja, a dose de calcário a ser recomendada,
são usados em Minas Gerais dois métodos com base em dois conceitos amplamente aceitos, para
os solos do Estado, por técnicos especialistas em fertilidade do solo: o “Método da neutralização da

31
acidez trocável e da elevação dos teores de Ca e de Mg trocáveis” e o “Método da Saturação por
Bases”.

Cabe lembrar que, quando os teores de Al, de Ca e de Mg trocáveis e a CTC são expressos
em cmolc/dm³, nos métodos indicados, os valores calculados indicam t/ha de calcário, sendo este
equivalente a CaCO3, ou seja, corretivo com PRNT = 100 % e que um hectare representa 2.000.000
dm³ (camada de solo de 20 cm de espessura).

Método da neutralização do Al3+ e da elevação dos teores de Ca2+ + Mg2+

Neste método, consideram-se ao mesmo tempo características do solo e exigências das


culturas. Procura-se, por um lado, corrigir a acidez do solo e para isto leva-se em conta a
susceptibilidade, ou, a tolerância, da cultura à elevada acidez trocável (considerando a máxima
saturação por Al3+ tolerada pela cultura (mt)) e a capacidade tampão do solo (Y) e, por outro, se
quer elevar a disponibilidade de Ca e de Mg de acordo com as exigências das culturas nestes
nutrientes (X) (Quadro 8.1).

A necessidade de calagem (NC, em t/ha) é assim calculada:

NC = CA + CD

Em que:

CA = correção da acidez até certo valor de m (mt), de acordo com a cultura (Quadro 8.1) e a
capacidade tampão da acidez do solo (Y).

CD = correção da deficiência de Ca e de Mg, assegurando um teor mínimo (X) desses


nutrientes.

CA = Y [Al3+ – (mt . t/100)]

Em que:

Al3+ = acidez trocável, em cmolc/dm³

mt = máxima saturação por Al3+ tolerada pela cultura, em %

t = CTC efetiva, em cmolc/dm3

OBS.: Sendo o resultado de CA negativo, considerar seu valor igual a zero para continuar os
cálculos.

32
CD = X – (Ca2+ + Mg2+)

Em que:

Ca2+ + Mg2+ = teores de Ca e de Mg trocáveis, em cmolc/dm3.

OBS.: Também sendo o resultado de CD negativo, considerar seu valor igual a zero para
continuar os cálculos.

Com as duas restrições apontadas:

NC = Y [Al3+ – (mt . t/100)] + [X – (Ca2+ + Mg2+)]

Y é um valor variável em função da capacidade tampão da acidez do solo (CTH) e que pode
ser definido de acordo com o teor de argila:

Solo Argila (%) Y


Arenoso 0 a 15 0,0 a 1,0
Textura média 15 a 35 1,0 a 2,0
Argiloso 35 a 60 2,0 a 3,0
Muito argiloso 60 a 100 3,0 a 4,0

Y também pode ser definido de acordo com o valor de fósforo remanescente (P-rem), que é
o teor de P da solução de equilíbrio após agitar durante 1 h a TFSA com solução de CaCl2 10
mmol/L, contendo 60 mg/L de P, na relação 1:10.

P-rem (mg/L) Y
0a4 4,0 a 3,5
4 a 10 3,5 a 2,9
10 a 19 2,9 a 2,0
19 a 30 2,0 a 1,2
30 a 44 1,2 a 0,5
44 a 60 0,5 a 0,0

O uso da determinação do P-rem como estimador da CTH, em lugar do teor de argila, além
das vantagens práticas e operativas que apresenta, deve-se ao fato de a CTH e o valor de P-rem
dependerem não somente do teor de argila, mas também da sua mineralogia e do teor de matéria
orgânica do solo.

E, por último, X é um valor variável em função dos requerimentos de Ca e de Mg pelas


culturas (Tabela 1).

33
Tabela 1. Valores máximos de saturação por Al 3+ tolerados pelas culturas (mt) e valores de X para o método
do Al e do Ca + Mg trocáveis adequados para diversas culturas e, valores de saturação por bases (Ve) que se
procura atingir pela calagem.
Culturas mt X Ve Observações (sempre que possível)
3 %
% cmolc/dm
Cereais
Não utilizar mais de 3 t/ha de calcário por
Arroz sequeiro 25 2,0 50
aplicação.
Não utilizar mais de 4 t/ha de calcário por
Arroz irrigado 25 2,0 50
aplicação.
Não utilizar mais de 4 t/ha de calcário por
Milho e sorgo 15 2,0 50
aplicação.
Não utilizar mais de 4 t/ha de calcário por
Trigo (sequeiro ou irrigado) 15 2,0 50
aplicação.
Leguminosas
Feijão, soja e adubos verdes 20 2,0 50
Outras leguminosas 20 2,0 50
Oleaginosas
Amendoim 5 3,0 70
Mamona 10 2,5 60
Plantas Fibrosas
Algodão 10 2,5 60 Utilizar calcário contendo magnésio
Crotalárea-juncea 5 3,0 70
Fórmio 15 2,0 50
Rami 5 3,5 70
Sisal 5 3,0 70 Exigente em magnésio
Plantas Industriais
Café 25 3,5 60
Não utilizar mais de 10 t/ha de calcário por
Cana-de-açúcar 30 3,5 60
aplicação
Chá 25 1,5 40
Raízes e Tubérculos
Batata e batata-doce 15 2,0 60 Exigentes em magnésio
Não utilizar mais de 2 t/ha de calcário por
Mandioca 30 1,0 40
aplicação
Cará e inhame 10 2,5 60 Exigentes em magnésio
Plantas Tropicais
Cacau 15 2,0 50
Não utilizar mais de 2 t/ha de calcário por
Seringueira 15 1,0 50
aplicação. Usar calcário dolomítico.
Pimenta-do-reino 5 3,0 70
Hortaliças
Chuchu e melão 5 3,5 80 Exigentes em magnésio
Abóbora, moranga, pepino,
melancia, alface, almeirão 5 3,0 70 Exigentes em magnésio
e acelga
Chicória e escarola 5 3,0 70
Milho verde 10 2,5 60
Tomate, pimentão, pimenta,
5 3,0 70 Para tomate utilizar relação Ca/Mg = 1.
beringela e jiló
Beterraba, cenoura, mandioquinha,
5 3,0 65 Exigentes em magnésio.
nabo e rabanete
Repolho, couve-flor, brócolos
5 3,0 70 Exigentes em magnésio.
e couve
Alho e cebola 5 3,0 70
Quiabo, ervilha, feijão
5 3,0 70 Exigentes em magnésio.
de vagem e morango
34
Culturas mt X Ve Observações (sempre que possível)
Fruteiras de Clima Tropical
Abacaxizeiro 15 2,0 50
Banana 10 3,0 70 Utilizar calcário dolomítico.
Citros 5 3,0 70
Mamoeiro 5 3,5 80
Abacateiro e mangueira 10 2,5 60
Maracujazeiro e goiabeira 5 3,0 70
Fruteiras de Clima Temperado
Ameixa, nêspera, pêssego,
nectarina, figo, maçã, marmelo, 5 3,0 70
pêra, caqui, macadâmia e pecã
Videira 5 3,5 80
Plantas Aromáticas
e, ou, Medicinais
3
Fumo 15 2,0 50 Teor de magnésio mínimo de 0,5 cmolc/dm .
Gramíneas aromáticas (capim-limão,
25 1,5 40
citronela e palmarosa)
Menta 10 2,5 60
Piretro 10 2,5 60
Vetiver 10 2,5 60
Camomila 5 3,0 70
Eucalipto 30 1,5 40
Funcho 15 2,0 50
Plantas Ornamentais
Herbáceas 10 2,5 60
Arbustivas 10 2,0 60
Arbóreas 10 2,0 50
Não utilizar mais de 2 t/ha de calcário por
Azálea 10 2,0 50
aplicação.
Cravo 5 3,0 70
Gladíolos 5 3,0 70
Roseira 5 3,0 70
Crisântemo 5 3,0 70
Gramados 5 3,0 70
Plantios de Eucalipto 45 1,0 30
Pastagens

Leguminosas:
Para o estabelecimento de pastagens, prever o
Leucena (Leucaena leucocephala);
cálculo da calagem para incorporação na
Soja-perene (Neonotonia wightii);
camada de 0 a 20 cm. Para pastagens já
Alfafa (Medicago sativa) e Siratro 15 2,5 60
formadas, o cálculo de QC1/ deverá ser feito,
(Macroptilium atropurpureum)
prevendo-se a incorporação natural na camada
de 0 a 5 cm.
Kudzú (Pueraria phaseoloides);
Calopogônio (Calopogonio
mucunoides); Estilosantes
(Stylosanthes guianensis); Guandu
25 1,0 40
(Cajanus cajan); Centrosema
(Centrosema pubescens); Arachis
ou Amendoin forrageiro (Arachis
pintoi) e, Galáxia (Galactia striata)

35
Culturas mt X Ve Observações (sempre que possível)
Gramíneas:

Grupo do Capim Elefante: Cameron,


Napier, Pennisetum hibrido
(Pennisetum purpureum); Coastcross,
Tiftons (Cynodon); Colonião,
Vencedor, Centenário, Tobiatã 20 2,0 50
(Panicum maximum); Quicuio
(Pennisetum clandestinum) e,
Pangola, Transvala (Digitaria
decumbens)
Green-panico, Tanzânia, Mombaça
(Panicum maximum); Braquiarão ou
Marandú (Brachiaria brizantha); 25 1,5 45
Estrelas (Cynodon plectostachyus)
e, Jaraguá (Hyparrrenia rufa)
Braquiaria IPEAN, Braquiaria
australiana (Brachiaria decumbens);
Quicuio da Amazônia (Brachiaria
humidicola); Andropogon (Andropogon 30 1,0 40
guianensis); Gordura (Melinis
minultiflora) e, Grama batatais
(Paspalum notatum)

Método da saturação por bases

Neste método, considera-se a relação existente entre o pH e a saturação por bases (V).
Quando se quer, com a calagem, atingir definido valor de saturação por bases, pretende-se corrigir
a acidez do solo até definido pH, considerado adequado a certa cultura.

Para utilizar este método, devem-se determinar os teores de Ca, Mg e K trocáveis e, em


alguns casos, de Na trocável, além de determinar a acidez potencial (H + Al) extraível com acetato
de cálcio 0,5 mol/L a pH 7, ou estimada indiretamente pela determinação do pHSMP.

A fórmula do cálculo da necessidade de calagem (NC, em t/ha) é:

NC = T(Ve – Va)/100

Em que:

T = CTC a pH 7 = SB + (H + Al), em cmolc/dm3

SB = Soma de bases = Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+, em cmolc/dm3

Va = Saturação por bases atual do solo = 100 SB/T, em %.

Ve = Saturação por bases desejada ou esperada (Tabela 1), para a cultura a ser implantada e
para a qual é necessária a calagem.

36
Forma mais simples para calcular a NC por este critério é:

NC = (Ve /100) T – SB

Em que:

SB = Soma de bases atual do solo.

No caso de ser o valor Ve igual a 60 %, a fórmula fica:

NC = 0,6 T – SB

Exemplo de cálculos da NC para o cafeeiro a ser cultivado em solo com as seguintes


características:

Argila P-rem Al Ca Mg H+Al SB t T V


% mg/L ----------------------------- cmolc/dm3 ----------------------------- %
60 9,4 0,8 0,1 0,1 7,8 0,21 1,01 8,01 2,6

Cálculo pelo método da neutralização do Al3+ e da elevação dos teores de Ca2+ + Mg2+,
considerando o teor de argila e os valores da Tabela 1.

NC = 3 [0,8 – (25 x 1,01/100)] + 3,5 – 0,2 = 1,64 + 3,3 = 4,94 t/ha

Cálculo pelo método da neutralização do Al3+ e da elevação dos teores de Ca2+ + Mg2+,
considerando Y de acordo com o valor de P-rem e os valores do Quadro 8.1.

NC = 2,96 [0,8 – (25 x 1,01/100)] + 3,5 – 0,2 = 1,62 + 3,3 = 4,92 t/ha

Cálculo pelo método da saturação por bases, considerando os valores da Tabela 1.

NC = 8,01 (60-2,6)/100 = 4,6 t/ha ou NC = 0,6 (8,01) – 0,21 = 4,6 t/ha

Quantidade de calcário a ser usada

A NC calculada com os critérios ou métodos anteriormente apresentados indica a


quantidade de CaCO3 ou calcário PRNT = 100 % a ser incorporado por hectare, na camada de 0 a 20

37
cm de profundidade. Portanto, indica a dose de calcário teórica. Na realidade, a determinação da
quantidade de calcário a ser usada por hectare deve levar em consideração:

1) A percentagem da superfície do terreno a ser coberta na calagem (SC, em %)

2) Até que profundidade será incorporado o calcário (PF, em cm)

3) O poder relativo de neutralização total do calcário a ser utilizado (PRNT, em %).

Portanto, a quantidade de calcário a ser usada (QC, em t/ha) será:

QC = NC x (SC / 100) x (PF / 20) x (100 / PRNT)

Por exemplo, a quantidade de calcário (PRNT = 90 %) a ser adicionada numa lavoura de café
de cinco anos, se a NC é de 6 t/ha, a área a ser corrigida (faixas das plantas) é de 75 % e,
considerando a profundidade de incorporação (pela esparramação) de 5 cm, será:

QC = 6 x (75 / 100) x (5 / 20) x (100 / 90) = 1,25 t/ha

Escolha do Corretivo a Ser Utilizado

O calcário é comercializado com base no peso do material, portanto a escolha do corretivo


por aplicar deve levar em consideração o uso de critérios técnicos (qualidade do calcário) e
econômicos, procurando maximizar os benefícios e minimizar os custos.

Na qualidade do calcário, devem-se considerar a capacidade de neutralizar a acidez do solo


(poder de neutralização – PN), a reatividade do material, que considera sua natureza geológica e
sua granulometria, e o teor de nutrientes, especialmente de Ca e de Mg.

O poder de neutralização avalia o teor de materiais neutralizantes do calcário, ou seja, a


capacidade de reação dos ânions presentes. Considera-se o CaCO3 como padrão igual a 100 %.
Determina-se o PN por neutralização direta com ácido clorídrico, sendo expresso em %.

A capacidade de neutralizar a acidez que apresenta um calcário também pode ser estimada,
aproximadamente, determinando-se seus teores de Ca e de Mg, teores que se expressam em
dag/kg de CaO e de MgO. A conversão desses óxidos em “CaCO 3 equivalente” é denominado Valor
Neutralizante (VN) e é expresso em %.

38
Como parte desses cátions pode estar combinada com ânions de reação neutra, o VN pode
superestimar o PN do calcário. VN e PN são duas determinações diferentes. Ambas são usadas para
expressar a alcalinidade do calcário, isto é, sua capacidade de neutralizar a acidez do solo.

O VN de várias substâncias é dado na Tabela 2. Este valor se expressa também em


percentagem, considerando como padrão o CaCO 3 (VN = 100 %).

Como 1 kg de CaCO3 neutraliza 20 molc H+ (20 eq), porque apresenta 20 molc, considera-se
para toda substância alcalina que se 1 kg de material contém 20 molc, esta tem VN = 100 %.
Apresentando menos de 20 molc/kg terá VN < 100 % e, evidentemente, mais de 20 mol c/kg terá VN
> 100 %.

O PN igual a 120 % de um calcário indica que 100 kg deste corretivo tem a mesma
capacidade neutralizante do que 120 kg de CaCO3.

A reatividade de um calcário depende, em parte, de sua natureza geológica. Os de origem


sedimentar, de natureza mais amorfa, são mais reativos do que os metamórficos, que têm
estrutura mais cristalina. A reatividade depende fundamentalmente da granulometria do material,
a qual permite estimar a eficiência relativa (ER), ou sua reatividade (RE). A granulometria indica a
capacidade de um corretivo reagir no solo e envolve a velocidade de reação e seu efeito residual.

Em relação à granulometria, a legislação atual determina as seguintes características


mínimas: passar 95 % por peneira de 2 mm (ABNT no 10); 70 % por peneira de 0,84 mm (ABNT no
20) e, passar 50 % por peneira de 0,30 mm (ABNT no 50).

Considerando a granulometria, pode-se avaliar a reatividade do calcário para o período de


aproximadamente três anos (Tabela 3). Combinando o poder de neutralização (PN) com a
reatividade (RE) de um calcário, tem-se seu poder relativo de neutralização total (PRNT), que
estima quanto de calcário irá reagir em um período de aproximadamente três anos.

PRNT = (PN x RE) / 100

39
Tabela 2. Número de molc em 1 kg de diferentes materiais neutralizantes da acidez e seus
correspondentes valores neutralizantes.
Material neutralizante Fórmula N° molc/kg VN (%)

Carbonato de cálcio CaCO3 20,0 100


Carbonato de magnésio MgCO3 23,7 119
Hidróxido de cálcio Ca(OH)2 27,0 135
Hidróxido de magnésio Mg(OH)2 34,3 172
Óxido de cálcio CaO 35,7 179
Óxido de magnésio MgO 49,61/ 2482/
Silicato de cálcio CaSiO3 17,2 86
Silicato de magnésio MgSiO3 19,9 100
1/
1 kg de MgO corresponde a 49,6 molc, porque 1 molc de MgO (6,02 x 1023 cargas positivas) tem-se em 20,15 g de
MgO 1.000/20,15. 2/ Como 20 molc/kg de CaCO3 = 100 % VN, 49,6 molc/kg de MgO = 248,14 % VN.

Tabela 3. Reatividade de calcário de acordo com sua granulometria.

Fração granulométrica (mm) Peneira ABNT Reatividade (%)


> 2,00 Retida n° 10 0
0,84 - 2,00 Passa n° 10, retida n° 20 20
0,30 - 0,84 Passa n° 20, retida n° 50 60
≤ 0,30 Passa n° 50 100

Por exemplo, na análise de uma amostra de calcário, têm-se os seguintes resultados:

Característica química Granulometria


CaO 39 dag/kg mm g
MgO 13 dag/kg > 2,00 5
PN 96 % 0,84 - 2,00 25
0,30 - 0,84 50
≤ 0,30 120

O PN (96 %) é menor que o VN {[ 39 x (179/100)] + [13 x (248/100)]} = 102 %

O VN superestima a capacidade de neutralização do calcário, decorrente talvez da presença


de Ca e de Mg em compostos químicos que não neutralizam a acidez.

A reatividade (RE) é igual à média ponderada da eficiência relativa das classes de partículas
(Tabela 3), considerando a granulometria da amostra analisada.

40
Assim:

RE = [(0 x 5) + (20 x 25) + (60 x 50) + (100 x 120)] / (5 + 25 + 50 + 120) = 77,5 %

PRNT = (96 x 77,5) / 100 = 74,4%

A legislação atual determina, também, que os corretivos comercializados devem possuir as


seguintes características mínimas (Tabela 4).

Tabela 4. Valores mínimos de PN e da soma dos teores de CaO e MgO de corretivos


da acidez do solo .
Material PN CaO + MgO
% dag/kg
Calcário 67 38
Cal virgem agrícola 125 68
Cal hidratada agrícola 94 50
Calcário calcinado agrícola 80 43
Escória 60 30
Outros 67 38

Assim, pela legislação, ficou estabelecido que um calcário deve-se apresentar para
comercialização os valores mínimos de 67 % para PN, e de 45 %, para PRNT.

Um dos fatores limitantes de um solo ácido é, geralmente, o seu baixo conteúdo de Ca e,


ou, de Mg disponíveis. Assim, a aplicação de um calcário que contenha Mg terá, aliada ao seu efeito
neutralizante da acidez, a adição de Mg, o que evidentemente não acontece quando se utiliza
calcário calcítico, pobre em Mg.

A relação Ca/Mg do corretivo, às vezes, é mais importante do que a quantidade de corretivo


a ser aplicada ao solo. A relação ideal sofre alteração de acordo com o solo e com as culturas (ver
observações da Tabela 1), sendo algumas espécies mais exigentes em relações estreitas e outras
tolerando corretivos com relações Ca/Mg mais amplas. Uma relação comumente recomendada é a
de 3:1 ou 4:1 mols de Ca/Mg. Não se deve descartar o uso de calcário extremamente calcítico.
Pode-se usá-lo como corretivo e complementar a adubação com fertilizantes que contenham
magnésio, como sulfato de magnésio ou carbonato ou mesmo o óxido de magnésio.
Freqüentemente, o calcário rico em magnésio chega ao agricultor mais caro do que o calcário
calcítico.

41
Pelos teores de Mg, os calcários podem ser classificados em:

a) Calcíticos – menos de 5 dag/kg de MgO

b) Magnesianos – entre 5 e 12 dag/kg de MgO

c) Dolomíticos – mais de 12 dag/kg de MgO

Pelo PRNT os calcários podem ser classificados em grupos:

a) Grupo A – PRNT entre 45 e 60 %

b) Grupo B – PRNT entre 60,1 e 75 %

c) Grupo C – PRNT entre 75,1 e 90 %

d) Grupo D – PRNT superior a 90 %

Cabe ao técnico avaliar as várias alternativas de qualidade e de preço oferecidas no


mercado para decidir qual a solução mais adequada técnica e economicamente. A decisão final
deverá considerar o preço por tonelada efetiva do corretivo.

Preço por tonelada efetiva = 100 (Preço por tonelada na propriedade)/PRNT.

Época e Modo de Aplicação do Calcário

Por ser material de baixa solubilidade, de reação lenta, o calcário deve ser aplicado dois a
três meses antes do plantio, para que as reações esperadas se processem. O calcário é
uniformemente distribuído sobre a superfície do solo, manualmente ou por meio de máquinas
próprias, e é, então, incorporado com arado e grade até à profundidade de 15, ou de 20, ou mais
cm (camada arável).

A profundidade de incorporação (PF) deve ser considerada no cálculo da quantidade de


calcário a ser usada (QC). O período compreendido entre a calagem e o plantio deve ser
considerado, levando-se em conta a presença de umidade suficiente no solo, para que existam as
reações do solo com o calcário.

Sem umidade no solo, não há como o calcário reagir. Nesse caso é preferível realizar a
calagem e o plantio numa seqüência única de operações.

A análise do solo três ou quatro anos depois da calagem pode indicar sobre a necessidade
ou não de nova aplicação.

42
Com intuito de diminuir o custo da calagem (principalmente quantidade e modo de
aplicação), alguns agricultores têm usado, no sulco de plantio, doses menores de um calcário de
alto PRNT, prática denominada “Filler”. Para fornecer os nutrientes Ca e Mg em solos deficitários
nestes nutrientes, ainda se poderia usar o “Filler”. Entretanto, como corretivo de acidez, algumas
pesquisas têm demonstrado a ineficiência deste modo de aplicação, corre-se o risco de a planta
desenvolver seu sistema radicular naquele pequeno volume de solo corrigido, favorecendo o
tombamento e aumentando o prejuízo da seca devido ao “confinamento” do sistema radicular.

Para certos tipos de solos (menos oxídicos) e para atividades agropecuárias específicas
(covas para plantio de árvores perenes, pastagens tolerantes à acidez do solo), é importante
prolongar o efeito residual da calagem. Para isto, o uso de calcários mais grossos pode ser
recomendável.

Supercalagem

A quantidade de calcário por aplicar deve ser definida pela análise de solo, para evitar uma
aplicação de quantidade superior à necessária. A calagem em excesso é tão prejudicial quanto à
acidez elevada, com o agravante de que a calagem excessiva é de muito mais difícil correção. Com a
supercalagem há a precipitação de diversos nutrientes do solo, como o P, Zn, Fe, Cu, Mn, além de
induzir maior predisposição a danos nas propriedades físicas dos solos.

A supercalagem acontece, por exemplo, quando a dose de calcário (NC) é aplicada e


incorporada na camada de 0 a 10 cm de profundidade. Neste caso, existe a duplicação da
quantidade de calcário necessária. Também há supercalagem quando se aplicam 500 g de calcário
na cova de 40 x 40 x 40 cm (64 dm3), em solo onde a NC é 5 t/ha, caso em que se adiciona 3,125
vezes a dose indicada pela NC, que seria de 160 g/cova.

43
MÉTODO SIMPLES DE INTERPRETAR ANÁLISES DE SOLO E RECOMENDAR CALCÁRIOS E
FERTILIZANTES PARA CULTURAS ANUAIS, OLERÍCOLAS E PERENES

Fonte: NOVAIS (1999)

Extensionistas mais envolvidos com a recomendação de fertilizantes para as culturas


podem ser, historicamente, divididos em dois grandes grupos: aqueles que sobreviveram sem as
tabelas de interpretação de análise de solos que simplificariam sua convivência com os resultados
das análises e suas interpretações e o segundo grupo, mais recente, constituído por aqueles que
tiveram nessas tabelas parceiros inseparáveis e a garantia de uma convivência pacífica entre os
extensionistas, as análises de solo e os fazendeiros.

Hoje, a grande maioria dos estados brasileiros adota suas próprias tabelas de interpretação
da análise de solo e recomendação de fertilizantes.

A consulta às tabelas leva às mesmas recomendações, quando duas pessoas estão de posse
da análise de solo. Isso significa que houve uma evolução agronômica com o advento das tabelas.

Entretanto, quando não estamos de posse dessas tabelas, de imediato, ficamos incapazes
de interpretar os resultados de uma análise de solo e recomendar fertilizantes para as culturas.

Outro problema que se imagina existir é quanto a fidelidade dos números que constituem
essas tabelas, ou seja, se eles se repetem entre tabelas de diferentes estados e se são
aproximações grosseiras do valor real.

A fim de contornar esses problemas, NOVAIS (1999) elaborou, com base nas tabelas
clássicas, um método simples de interpretar análises de solo e recomendar calcários e fertilizantes
para culturas anuais, olerícolas e perenes, de fácil memorização, que pode ser impresso, como um
pequeno cartão, e ser plastificado e levado no bolso.

Essa pequena tabela permite, de forma prática e com razoável acerto a recomendação de
fertilizantes NPK para culturas anuais, hortícolas e perenes, tendo-se apenas a análise de solo em
mãos, conferindo autonomia ao usuário, mesmo não estando de posse das tabelas clássicas.

Segundo TOMÉ JUNIOR & NOVAIS (2000), a lógica envolvida num possível modelo de
recomendação de adubação é conceitualmente simples: as doses de nutrientes dos fertilizantes
seriam a diferença entre as quantidades necessárias para as plantas e o que é fornecido
naturalmente pelo solo, podendo ser considerado que níveis mínimos de nutrientes no solo devem

44
permanecer nele, evitando o esgotamento de sua capacidade de sustentação de futuros cultivos
(sustentabilidade da prática agrícola), além da necessária correção de acordo como o
aproveitamento dos nutrientes aplicados.

Interpretação dos resultados de fósforo e potássio disponíveis no solo.

FÓSFORO
Teor de argila (%) POTÁSSIO
> 30 15 - 35 < 15 Disponível
Resina (Trocável)
P-rem (mg/L)
< 15 35 - 15 > 35
Faixa de
Mehlich-1 (mg/dm3)
disponibilidade
Baixo 0-5 0 - 10 0 – 20 0 – 20 0 - 30
Médio 6 – 10 11 – 20 21 – 40 21 – 40 31 – 60
Alto > 10 > 20 > 40 > 40 > 60

Recomendação de calcário

QC = 2 Al3+ + 2 – (Ca2+ + Mg2+) = t/ha calcário


(PRNT = 100 %)

Recomendação de NPK aplicado na linha de plantio (N parcelado), para culturas anuais e para
hortícolas.
Culturas anuais Hortícolas
P e K disponíveis (2,3,4) (2) (2) (2,3,4)
N P2O5 ou K2O N P2O5(2) ou K2O(2)
----------------------------------------- kg/ha -----------------------------------------
Baixo 40 – 60 80 – 100 120 – 180 240 – 300
Médio 40 – 60 55 – 70 120 – 180 165 – 210
Alto 40 – 60 30 – 40 120 – 180 90 - 120
(1)
As doses recomendadas para as hortícolas são três vezes maiores do que para as culturas anuais.
(2)
Recomende doses maiores quando produtividades maiores são esperadas. (3)Para solos com muito alto P-
disponível, a dose de N pode ser aumentada em até três vezes; para culturas com efetiva fixação de N2,
fertilização nitrogenada não é recomendada. (4)Parte do fertilizante nitrogenado mineral pode ser suprida
em formas orgânicas (estercos).

45
Recomendação de adubação NPK para aplicação em cova (ou em solo/substrato para produção
de mudas), para plantas perenes.

Implantação

 10 kg de superfosfato simples (ou equivalente) por m3 de cova ou volume de substrato (a dose de


P poderá ser reduzida a 1/3 para solos com mais de três vezes o disponível para a faixa de
disponibilidade considerada alta).
 N: 50 g/m3 de cova ou substrato.
 K: (150 mg/dm3 – K disponível no solo) x 1,2 = g de K2O/m3 cova ou substrato.

Manutenção (cobertura)

1º ano Adulto (produção)


100 – 150 g(1) 300 g (1)
466 – 600 g(1) 800 – 1200 g(1)
Café Café
Fruteiras Fruteiras
Eucalipto Eucalipto
Árvores Árvores
Geral Geral
(1)
Dose por planta, na forma de 20-5-20 ou 2/3 da dose na forma de 15-10-30. Dividir a dose recomendada
em três aplicações a serem feitas durante o período chuvoso.

Recomendação de micronutrientes (quando necessário)

 5 kg/ha do elemento (sulco de plantio, cobertura ou cova). Mo é exceção – recomendam-se


20 g/ha.

Recomendação de enxofre (quando necessário)

 30 kg/ha do elemento (sulco de plantio, cobertura ou cova).

Observações:

 Ureia – 45 % de N
 Sulfato de Amônio – 20 % de N
 superfosfato simples – 20 % de P2O5
 superfosfato triplo – 45 % de P2O5
 KCl – 60 % de K2O
46
USO DE GESSO AGRÍCOLA
Victor Hugo Alvarez V.1
Luiz Eduardo Dias2
Antonio Carlos Ribeiro3
Ronessa Bartolomeu de Souza4

Introdução

O gesso é um importante insumo para a agricultura, mas, por suas características, tem seu
emprego limitado a situações particulares bem definidas, uma vez que o uso indiscriminado e sem
critérios pode acarretar problemas em vez de benefícios para o agricultor.

De uns anos para cá, algumas indústrias de fertilizantes vêm estimulando o uso de gesso
agrícola. Apesar de vários estudos mostrarem o potencial da utilização do gesso na agricultura,
existem muitas dúvidas no que se refere a como, quando e quanto utilizar deste insumo.

Em anos recentes, acumularam-se informações sobre o uso de gesso agrícola na melhoria


do ambiente radicular das plantas, em razão da movimentação de Ca para camadas subsuperficiais
do solo e, ou, diminuição dos efeitos tóxicos de teores elevados de Al.

O gesso agrícola é basicamente o sulfato de cálcio diidratado (CaSO 4.2H2O), obtido como
subproduto industrial. Para a produção de ácido fosfórico, as indústrias de fertilizantes utilizam,
como matéria-prima, a rocha fosfática (apatita, especialmente a fluorapatita) que ao ser atacada
por ácido sulfúrico mais água, produz, como subprodutos da reação, o sulfato de cálcio e o ácido
fluorídrico, conforme a reação abaixo:

Ca10(PO4)6F2(s) + 10H2SO4 + 20H2O → 10 CaSO4.2H2O(s) + 6H3PO4 + 2HF

O gesso agrícola é um sal pouco solúvel em soluções aquosas (2,5 g/L), mas que pode atuar
sobre a força iônica da solução do solo, de maneira que haja contínua liberação do sal para a
solução por longos períodos de tempo.

Essa característica, aliada aos teores de Ca (17 a 20 dag/kg), de S (14 a 17 dag/kg), de P 2O5
(0,6 a 0,75 dag/kg), de F (0,6 a 0,7 dag/kg), de Mg (0,12 dag/kg), à presença de micronutrientes (B,

1
Prof. Titular, Departamento de Solos – UFV. Bolsista CNPq. vhav@mail.ufv.br
2
Prof. Adjunto, Departamento de Solos – UFV. led@mail.ufv.br
3
Professor Titular Aposentado, Departamento de Solos – UFV. Bolsista FAPEMIG/EPAMIG. aribeiro@mail.ufv.br
4
Bolsista Recém-Doutor, FAPEMIG/EPAMIG. rbs@solos.ufv.br
47
Cu, Fe, Mn, Zn, Mo, Ni) e de outros elementos (Co, Na, Al, As, Ti, Sb, Cd), permite que o gesso
agrícola possa ser utilizado na agricultura:

a) Como fonte de Ca e de S

b) Na correção de camadas subsuperficiais com altos teores de Al3+ e, ou, baixos teores de
Ca2+, com o objetivo de melhorar o ambiente radicular das plantas.

A recomendação do uso de gesso agrícola com esta última finalidade pode implicar a
utilização de doses elevadas, devendo ser feita com base no conhecimento das características
físicas e químicas dos solos, não apenas da camada arável, mas também das camadas
subsuperficiais.

Para decidir sobre a recomendação de aplicação de gesso agrícola, deve-se observar que as
camadas subsuperficiais do solo (20 a 40 cm ou 30 a 60 cm) apresentem as seguintes
características: ≤ 0,4 cmolc/dm3 de Ca2+ e, ou, > 0,5 cmolc/dm3 de Al3+ e, ou, > 30 % de saturação
por Al3+

Gesso Agrícola como Fonte de Ca e de S para as Culturas

Em termos de recomendação de gesso agrícola para fornecimento de S, doses de 100 a 250


kg/ha de gesso seriam suficientes para corrigir deficiências do elemento para a maioria das
culturas. Deve-se considerar o emprego de outros fertilizantes que possuem S em sua formulação,
tais como superfosfato simples (12 dag/kg de S), sulfato de amônio (24 dag/kg de S) e “Fosmag” (11
dag/kg de S). Outro aspecto que deve ser considerado na recomendação de adubação com S é que,
como na adubação fosfatada, a textura do solo deve ser observada. Solos argilosos tendem a
apresentar maior capacidade de adsorção de sulfatos, daí serem exigidas maiores doses de S para a
adequada disponibilidade do elemento para as plantas.

Com relação ao uso de gesso como fonte de Ca para as culturas, devem-se levar em
consideração alguns aspectos importantes: existem diferenças entre as culturas quanto à demanda
de Ca, plantas como café e tomate são muito responsivas ao elemento, ao passo que espécies
florestais como o eucalipto apresentam baixas exigências de Ca. Também as características do solo
que podem permitir maior movimentação de Ca em profundidade no perfil do solo devem ser
consideradas igualmente, uma vez que excesso de movimentação pode arrastar o elemento para
camadas além daquelas onde se encontra o maior volume de raízes; a descida de Ca em

48
profundidade modifica o perfil de distribuição das raízes das plantas, aumentando o volume de solo
a ser explorado em nutrientes e especialmente em água.

Correção de Camadas Subsuperficiais Visando à Melhoria do Ambiente Radicular

A prática da calagem, visando à correção da acidez e neutralização do Al trocável do solo, é


realizada incorporando-se o material corretivo à camada arável do solo, por isso seus efeitos
normalmente restringem-se à profundidades em torno de 0 a 20 ou de 0 a 30 cm. Aspectos
relacionados com a textura do solo, granulometria do corretivo e intensidade pluviométrica podem,
ao longo do tempo, determinar que a calagem corrija camadas um pouco mais profundas com
baixos teores de Ca e, ou elevados teores de Al trocáveis.

A presença de camadas subsuperficiais com baixos teores de Ca e, ou elevados teores de Al


trocáveis pode determinar a perda de safras, principalmente em regiões susceptíveis à ocorrência
dos “veranicos”, uma vez que conduzem ao menor aprofundamento do sistema radicular,
refletindo em menor volume de solo explorado, ou seja, menos nutrientes e água disponíveis para
a planta.

Em solo com umidade suficiente, o gesso agrícola sofre dissolução:

2CaSO4.2H2O H O Ca 2 + SO4 2- + CaSO4 o + 4H2O


2

Uma vez na solução do solo, o íon Ca2+ pode reagir no complexo de troca do solo,
deslocando cátions como Al3+, K+, Mg2+, (H+) para a solução do solo, que podem, por sua vez, reagir
com o SO42- formando AlSO4+ (que é menos tóxico às plantas) e os pares iônicos neutros: K 2SO4o,
CaSO4o, MgSO4o. Em função da sua neutralidade, os pares iônicos apresentam grande mobilidade
ao longo do perfil, ocasionando uma descida de cátions para as camadas mais profundas do solo.
Entretanto, sais muito solúveis, como os nitratos de sódio, de potássio, cujos íons têm pouca ou
nenhuma interação com a fase sólida do solo, têm alta mobilidade no perfil, sendo arrastados pela
água. Assim, a solubilidade dos sais na solução do solo, considerada a interação de seus íons com a
fase sólida, é que define a mobilidade destes. Por sua vez, os fosfatos são pouco móveis, em razão
da adsorção aniônica.

De maneira geral, pode-se dizer que diferentes fatores condicionam maior ou menor
movimentação dos cátions pelo perfil do solo que recebeu gesso. Entre eles destacam-se:
49
1) Quantidade de gesso aplicado ao solo;

2) Capacidade de troca catiônica do solo;

3) Condutividade elétrica da solução do solo;

4) Textura do solo e,

5) Volume de água que se aporta ao solo.

Desta forma, para um solo de textura arenosa, com baixa CTC e pequena capacidade de
adsorver sulfato, a movimentação de bases seria, potencialmente, maior que aquela para um solo
de textura argilosa com alta capacidade de adsorção de sulfato e elevada CTC. Portanto, nestes
solos onde o potencial de movimentação de bases é elevado, o cuidado com a quantidade de gesso
aplicada ao solo deve ser maior, a fim de evitar o risco de uma movimentação além das camadas
exploradas pelo sistema radicular da planta cultivada.

Normalmente, a aplicação de gesso agrícola não provoca alterações significativas no pH do


solo.

Contrariamente à reduzida capacidade de alteração do pH do solo, a aplicação de gesso


pode proporcionar significativa redução no teor de Al trocável e em sua saturação (m). Estudos de
lixiviação têm demonstrado que o Al pode ser encontrado nos lixiviados de perfis reconstituídos de
latossolos brasileiros. A neutralização do Al trocável pela adição de gesso pode ocorrer,
basicamente, a partir das seguintes reações:

1) Precipitação na forma de Al(OH)3 pela liberação de OH- para a solução em decorrência da


adsorção de sulfato;

2) Formação do complexo AlSO4+ que é menos tóxico às plantas;

3) Formação do par iônico AlF2+ decorrente da presença de F- no gesso agrícola;

4) Precipitação de minerais de sulfato de Al, como alunita e basaluminita, por exemplo,


decorrente do aumento da concentração de sulfato na solução.

No entanto, um aspecto importante que não se pode refutar refere-se ao aumento de Ca2+
no complexo de troca, promovendo a redução da saturação por Al3+ (m), que, para vários autores,
tem papel mais importante no controle da toxidez do Al para as plantas do que o teor de Al 3+ ou a
sua concentração em solução.

50
Apesar de boa parte dos mecanismos que envolvem a dinâmica do gesso no solo ser
conhecida, existem, ainda, dúvidas quanto aos critérios a serem utilizados para sua recomendação
e para se chegar à quantidade do produto a ser recomendada.

Com relação aos critérios de quando e quanto recomendar sua aplicação, visando à correção
de camadas subsuperficiais ou melhoria do ambiente radicular das plantas, vale relembrar que o
gesso deve ser utilizado quando a camada subsuperficial (20 a 40 cm ou 30 a 60 cm) apresentar
teor inferior ou igual a 0,4 cmolc/dm3 de Ca2+ e, ou, mais que 0,5 cmolc/dm3 de Al3+ e, ou, mais que
30 % de saturação por Al3+(m). Para calcular a quantidade a ser aplicada do produto, atualmente
existem algumas fórmulas baseadas nas características químicas e físicas do solo.

O gesso agrícola deve ser recomendado para correção de camadas subsuperficiais. Assim, as
quantidades recomendadas, indicadas a seguir, destinam-se a camadas de 20 cm de espessura
(exemplos: 20 a 40 cm, ou 30 a 50 cm). A camada a considerar não deve ultrapassar a profundidade
até onde se prevê que, predominantemente, o sistema radicular ativo na absorção de nutrientes
deverá se desenvolver. As quantidades recomendadas podem ser adicionadas junto com a calagem,
ou após a calagem.

A quantidade de gesso agrícola a ser aplicada, individualmente ou em conjunto com a


calagem, pode ser estimada independentemente da necessidade de calagem ou de acordo com a
sua estimativa por um dos dois critérios em uso em Minas Gerais.

Recomendação com base na textura do solo

A necessidade de gessagem (NG), ou seja, as doses a serem recomendadas para camadas


subsuperficiais de 20 cm de espessura, de acordo com o teor de argila dessas camadas, são
apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1. Necessidade de gesso (NG) de acordo com o teor de argila


de uma camada subsuperficial de 20 cm de espessura.
Argila NG
% t/ha
0 a 15 0,0 a 0,4
15 a 35 0,4 a 0,8
35 a 60 0,8 a 1,2
60 a 100 1,2 a 1,6

51
Exemplo: Deseja-se a melhoria do ambiente radicular de uma camada de 20 a 50 cm de
profundidade, com 45 % de argila.

NG = 0,8 + [(45 – 35) (1,2 – 0,8)]/(60 – 35) = 0,8 + 0,16 = 0,96 t/ha

A quantidade de gesso (QG) a ser recomendada depende da espessura da camada a ser


corrigida:

QG= NG (EC/20)

Neste exemplo, a quantidade de gesso (QG) a ser usada na camada de 20 a 50 cm (EC = 30


cm) será:

QG = 0,977 (30/20) = 1,465 t/ha

Se a camada subsuperficial (EC) a ser enriquecida com S e com Ca situa-se sob a copa do
cafeeiro, cuja superfície coberta (SC) pelas plantas é de aproximadamente 75 % do terreno
(calagem e gessagem a ser feita embaixo das copas das plantas de café), a quantidade de gesso
(QG) a ser usada neste caso será:

QG = NG (EC/100) (EC/20)

QG = 0,977 × (75/100) × (30/20) = 1,10 t/ha

Recomendação com base na determinação do fósforo remanescente

Aproveitando a informação existente para uso de calcário (NC) e de gesso (NG) e,


considerando que o PROFERT recomenda aos laboratórios de análises de solos do Estado de Minas
Gerais a análise de fósforo remanescente (P-rem), indica-se o uso dessa determinação nos cálculos
para recomendar gessagem e calagem, em substituição ao teor de argila do solo (Souza et al.,
1992). A Tabela.2 resume esta adaptação para a recomendação de gesso.

52
Tabela.2. Necessidade de gesso (NG) de acordo com o valor de fósforo remanescente (P-rem)
de uma camada subsuperficial de 20 cm de espessura.
P-rem Ca1/ Gesso2/

mg/L kg/ha t/ha

0a4 315 a 250 1,680 a 1,333

4 a 10 250 a 190 1,333 a 1,013

10 a 19 190 a 135 1,013 a 0,720

19 a 30 135 a 85 0,720 a 0,453

30 a 44 85 a 40 0,453 a 0,213

44 a 60 40 a 0 0,213 a 0,000
1/
Valores de NG adaptados e aproximados dos de Souza et al., dados não publicados, citados por
Souza et al. (1992), para que o Ca2+ retido em camada de 20 cm de espessura esteja em equilíbrio com
a concentração de 0,394 mmol/L de Ca na solução do solo. 2/ Gesso agrícola (15 dag/kg de S e 18,75
dag/kg de Ca).

E a necessidade de gesso (NG, em t/ha) poderá ser calculada de acordo com a


recomendação de Ca, estimada com a equação anterior, e o teor de Ca do gesso (T Ca, em dag/kg) a
ser usado, utilizando a fórmula:

NG = Ca/(10TCa)

Exemplo: Deseja-se a melhoria do ambiente radicular de uma camada de 25 a 60 cm de


profundidade, que apresentou P-rem = 15 mg/L.

NG = 1,013 [(15 - 10) (1,013 - 0,720)]/(19 - 10) = 1,013 - 0,163 = 0,850 t/ha

A quantidade de gesso (QG) para cobrir 75 % da superfície do terreno (SC) e para uma
camada de 35 cm de espessura (EC) será:

QG = 0,851 (75/100) (35/20) = 1,12 t/ha

53
Recomendação com base na determinação da NC pelo método do Al 3+, e do Ca2+ + Mg2+ ou pelo
método de saturação por bases

A correção da acidez do solo e das deficiências de Ca e de Mg da camada arável realiza-se


pela incorporação de calcário. A melhoria do ambiente radicular das camadas abaixo da arável,
quando necessária, efetua-se incorporando gesso na camada arável, na dose de 25 % da NC da
camada subsuperficial onde se quer melhorar o ambiente radicular.

Assim, a necessidade de gesso é:

NG = 0,25 NC

Exemplo 1: Deseja-se a melhoria do ambiente radicular da camada de 25 a 60 cm de


profundidade, que apresentou NC = 4,8 t/ha.

NG = 0,25 x 4,8 = 1,2 t/ha

A QG para a camada de 25 a 60 cm ou de 35 cm de espessura será:

QG = 1,2 (35/20) = 2,1 t/ha

Exemplo 2: Deseja-se corrigir a acidez da camada arável (0 a 25 cm) e melhorar o ambiente


radicular da camada subsuperficial (25 a 60 cm) do solo para o cultivo da cana-de-açúcar, sendo a
NC das duas camadas 4,0 e 5,2 t/ha, respectivamente. A QC para a camada superficial, com o uso
de calcário PRNT 80 % será:

QC = 4 x (100/100) (25/20) (100/80) = 6,25 t/ha

A NG e a QG para a camada subsuperficial serão:

NG = 0,25 x 5,2 = 1,3 t/ ha

QG = 1,3 (100/100) (35/20) = 2,275 t/ha

Assim, na camada arável, seriam incorporadas 6,25 t/ha de calcário PRNT = 80 % mais 2,275
t/ha de gesso agrícola.
54
Enfim, sempre que possível, o gesso deve ser aplicado juntamente com calcário magnesiano
ou dolomítico. Amostragens periódicas das camadas subsuperficiais devem ser realizadas com a
finalidade de acompanhar a movimentação de bases pelo perfil. Esta movimentação pode provocar
drástica remoção de bases do volume de solo explorado pelo sistema radicular das plantas.

Para solos onde existe bom manejo de resíduos orgânicos e sem a presença de camadas
subsuperficiais com elevado teor de Al3+ e, ou, baixo teor de Ca2+, o potencial de resposta ao gesso
será muito pequeno. Situação semelhante poderia ser considerada para plantas de ciclo curto com
sistema radicular pouco profundo, como muitas hortaliças. Por outro lado, para culturas perenes já
implantadas, como por exemplo, café e citrus, ou para pastagens, quando cultivadas em solos
declivosos e ácidos, a mistura gesso mais calcário pode ser utilizada com o objetivo de carrear
cátions para camadas mais profundas, uma vez que a incorporação de calcário nestes sistemas é
problemática.

55
Referências bibliográficas

COMISSÃO DE FERTILIDADE DO SOLO DO ESTADO DE MINAS GERAIS (CFSEMG). Recomendações


para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais (4ª Aproximação). Lavras,
CFSEMG, 1989. 159p.
NOVAIS, R.F. International WORKSHOP on Decision Processe for Determining Diagnostic and
Predictive Criteria for Soil Nutrient Management. Philippine Rice Research Institute.
Muñoz, Nueva Ecija. Philippines. 1999.
TOMÉ JUNIOR, J.B. & NOVAIS, R.F. Utilização de modelos como alternativa às tabelas de
recomendação de adubação. Viçosa, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. 2000
(Boletim Informativo).
SOUZA, D.M.G.; REIN, T.A.; LOBATO, E. & RITCHEY, K.D. Sugestões para diagnose e recomendação
de gesso em solos de cerrado. In: SEMINÁRIO SOBRE O USO DO GESSO NA AGRICULTURA, II.
Uberaba-MG, 1992. Anais... São Paulo. IBRAFOS, 1992. p.139-158.

56
MÓDULO V - MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO

A erosão dos solos é um processo geológico, porém o seu agravamento em solos agrícolas
se deve à quebra do equilíbrio natural entre o solo e o ambiente, geralmente promovida e
acelerada pelo homem. A erosão, principalmente a antrópica, vem preocupando os agrônomos,
técnicos e órgãos governamentais e não governamentais, sendo uma das maiores ameaças à
agricultura e ao meio ambiente, devido à utilização inadequada e intensiva desse recurso natural
não renovável.

A velocidade do processo está diretamente associada aos fatores extrínsecos e intrínsecos


do solo. Os seus efeitos negativos são sentidos, progressivamente, devido à perda das camadas
mais férteis do solo, tendo como consequência a perda de produtividade das culturas e o aumento
dos custos de produção, com a demanda de mais insumos para poder manter a mesma
produtividade anterior. Finalmente, tem-se o esgotamento total do solo e seu posterior abandono.
O problema da erosão assume proporções alarmantes em muitas regiões do país e tende a se
agravar, sendo observadas variadas formas, desde a erosão laminar, imperceptível nos seus
estágios iniciais, até grandes voçorocas.

Diante desse fenômeno desolador, ou se protege devidamente o solo, manejando-o


adequadamente dentro das suas potencialidades, ou, em breve, restarão apenas terras
improdutivas.

Para se começar a proteger o solo devidamente, tem-se de criar uma mentalidade


conservacionista. Por isso, torna-se vital ter em mente os princípios básicos da conservação do solo.
Principalmente em áreas agrícolas, devem-se considerar os seguintes pontos: em primeiro lugar,
procurar manter o solo coberto o máximo de tempo possível durante o ciclo das culturas e após a
colheita, com o objetivo de minimizar e/ou impedir o impacto direto da gota da chuva sobre o solo,
que causa a destruição dos agregados do solo, o entupimento dos poros e a formação de crosta
superficial. Essa crosta, além de dificultar a germinação das sementes, reduz a infiltração da água
no solo e contribui para a formação de enxurradas. Em segundo lugar, devem-se adotar práticas
agrícolas que mantenham e, ou elevem a capacidade de infiltração da água no solo e reduzam o
escorrimento superficial e a formação de enxurradas, outro agente muito importante que acelera a
erosão (BERTOLINI; LOMBARDI NETO, 1993).

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Para que esses princípios básicos possam ser seguidos, uma série de técnicas agrícolas deve
ser utilizada por todos que lidam com as atividades rurais a fim de se alcançar o perfeito controle
da erosão.

Conceitos de erosão dos solos

Erosão significa desgaste e é ela a responsável pela formação dos solos, sendo chamada de
erosão geológica ou natural (CURI et al., 1993). No aspecto físico, a erosão é a realização de uma
quantidade de trabalho no desprendimento do material de solo e no seu transporte (BAHIA et al.,
1992). Porém, o problema ocorre quando o processo é acelerado pela ação antrópica e atinge
níveis danosos ao meio ambiente. Com o incremento das atividades agropecuárias, houve o
aumento de pressão pelo uso do solo, que tem sido feito de forma inadequada, gerando o que se
pode chamar de erosão agrícola dos solos, que é o processo de desagregação e arrastamento das
partículas de solo produzido pela ação da água das chuvas ou do vento. Com a erosão dos solos,
além do empobrecimento pela perda de nutrientes e matéria orgânica e do próprio solo, ocorre,
também, a contaminação dos recursos hídricos.

Erosão e qualidade do solo

A qualidade do solo, que é definida por valores relativos à sua capacidade de cumprir uma
função específica, é afetada diretamente pelos processos erosivos e pode ser determinada para
diferentes escalas: campo, propriedade agrícola, ecossistema e região.

Tipos de degradação dos solos

Erosão hídrica: perda de horizontes superficiais, deformação do terreno, movimento de


massa, deposição.

Erosão eólica: perda de horizontes superficiais, deformação do terreno, movimento de


massa, deposição.

Química: perda de nutrientes e/ou matéria orgânica, desbalanço de nutrientes, salinização,


acidificação, poluição.

Física: compactação, selamento ou encrostamento superficial, inundação, aeração


deficiente, excesso ou falta de água.

Biológica: redução da biomassa, redução da biodiversidade (HERNANI et al., 2002).

58
Vale ressaltar que, em ambientes tropicais e subtropicais, a principal causa da degradação
do solo é a erosão hídrica e as atividades que contribuem para o aumento das perdas do solo. De
acordo com estudos do ISRIC/UNEP, em parceria com a Embrapa Solos, 15% das terras do planeta
já foram severamente degradados por atividades humanas. Dentre as formas mais comuns de
degradação, destacam-se a perda da camada superficial (70%), a deformação do terreno (13%), a
perda de nutrientes (6,9%) e a salinização (3,9) (HERNANI et al., 2002).

Principais agentes de erosão nas regiões tropicais

Água: A erosão hidrica é provocada pela ação da água. Ela faz parte do ecossistema e está
relacionada com o escoamento superficial, que é uma das fases do ciclo hidrológico,
correspondente ao conjunto de águas que, sob a ação da gravidade, movimenta-se na superfície do
solo no sentido da sua pendente. A forma e a intensidade da erosão hídrica, embora estejam
relacionadas com atributos intrínsecos do solo, são mais influenciadas pelas características das
chuvas, da topografia, da cobertura vegetal e do manejo da terra, ocorrendo a interação de todos
esses fatores.

As características das chuvas determinam o seu potencial erosivo, isto é, a capacidade de


causar erosão. O potencial erosivo é avaliado em termos de erodibilidade, que é a medida dos
efeitos de impacto, salpico e turbulência provocados pela queda das gotas de chuva sobre o solo,
combinados com os da enxurrada, que transportam as partículas do solo (EMBRAPA, 1980).

As principais formas de expressão da erosão hídrica são a laminar, em sulcos e em


voçorocas. Sendo a erosão hídrica o agente mais importante em regiões tropicais, a ela será dada
maior ênfase nesta publicação.

Etapas do processo de erosão hídrica:

Segundo Bahia et al. (1992), a erosão hídrica é um processo complexo que ocorre em
quatro fases: impacto das gotas de chuva; desagregação de partículas do solo; transporte e
deposição.

Impacto: as gostas de chuva que golpeiam o solo contribuem para a erosão, pois
desprendem as partículas do solo no local do impacto; transportam, por salpicamento, as
partículas desprendidas e imprimem energia em forma de turbulência à água da superfície.

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Desagregação: a precipitação que atinge a superfície do solo, inicialmente provoca o
umedecimento dos agregados, reduzindo suas forças coesivas. Com a continuidade da chuva e o
impacto das gotas, os agregados são desintegrados em partículas menores e ocorre o processo de
salpicamento. A quantidade de agregados desintegrados em partículas menores e salpicados
cresce com o aumento da energia cinética da precipitação, que é função da intensidade, da
velocidade e do tamanho das gotas da chuva.

Transporte: só ocorre a partir do momento em que a intensidade da precipitação excede a


taxa de infiltração, que tende a decrescer com o tempo, tanto pelo umedecimento do solo
como pelo efeito decorrente do selamento ou encrostamento superficial. Uma vez estabelecido o
escoamento, a enxurrada se move no sentido da declividade (morro abaixo), podendo concentrar-
se em pequenas depressões, mas sempre ganhará velocidade à medida que o volume da
suspensão e a declividade do terreno aumentarem. Com isso, a sua capacidade de gerar atrito e
desagregação se amplia.

Deposição: ocorre quando a carga de sedimentos é maior do que a capacidade de


transporte da enxurrada.

As formas de erosão hídrica são:

Erosão por salpicamento: deve-se ao impacto das gotas de chuva sobre os agregados
instáveis num solo desnudo. Produzem-se pequenos buracos devido ao impacto da gota da chuva
com a liberação de partículas de solo. O processo de salpicamento pode ocasionar o
selamento/encrostamento da superfície do solo, reduzindo ou eliminando a infiltração da água. As
partículas de deslocam, no máximo, 150 cm, sendo mais afetados os solos constituídos de areias
finas. Não há muita perda de material, pois as partículas não atingem grandes distâncias e,
também, porque o processo ocorre em todas as direções. Quando o processo ocorre numa
pendente, produz-se movimento lento e repetitivo, com trajetória no formato de serra (PORTA et
al., 1999).

Vista lateral Vista superior

60
Erosão laminar: consiste na perda de camada superficial de forma uniforme do solo em
terreno com certa declividade. Afeta as partículas liberadas por salpicamento. É um processo pouco
aparente, só se identificando pela faixa do solo em que, depois de uma chuva, os elementos
grossos na superfície aparecem limpos. Esse tipo de erosão pode ser facilmente eliminado com a
utilização de equipamentos agrícolas adequados. Caracteriza-se pela remoção de camadas
delgadas do solo em toda a área. Nesse caso, não há concentração da água.

Erosão por sulcos, ravinas e voçorocas: caracteriza-se pela formação de canais (sulcos) de
diferentes profundidades e comprimentos na superfície do solo. Ocorre a concentração das águas
das chuvas nesses canais, aumentando, assim, o poder erosivo devido ao ganho de energia
cinética pelo volume e velocidade da enxurrada.

Sucessivamente, a erosão passa de laminar para sulcos, ravinas e, logo em seguida, para o
estágio chamado de voçorocas. As suas dimensões e a extensão dos danos que podem causar
estão intimamente relacionadas com o clima, com a topografia do terreno, sua geologia, tipo de
solo e forma de manejo (ALVES, 1978).

As voçorocas são classificadas pela sua profundidade e pela área de contribuição de sua
bacia. Ireland (1934), citado por Bertoni e Lombardi (1985), afirma que as voçorocas são profundas
quando têm mais de cinco metros de profundidade; médias, quando têm de um a cinco metros de
profundidade e pequenas, quando têm menos de um metro de profundidade. Pela área de
contribuição da bacia, as voçorocas são consideradas pequenas quando a área de drenagem é
menor do que dois hectares; médias, quando têm de dois a vinte hectares e grandes, quando têm
mais de vinte hectares.

Erosão por solapamento e deslocamento ou escorregamento: são formas de erosão


características de áreas declivosas ou de que o processo de erosão por voçorocamento continua
ativo.

As ravinas e voçorocas podem produzir movimento de massa em suas paredes pela


liberação brusca de partículas, fazendo aumentar os efeitos da água quando passa pelo canal. Se o
horizonte subsuperficial for siltoso, pode haver remoção preferencial deste material, provocando o
desbarrancamento, ou ainda, caso a mineralogia da argila for de atividade alta, os processos de
expansão e contração fazem com que o material na borda do talude se fragmente e acelere o
processo de erosão.

61
Vento: A erosão também pode ser provocada pela ação dos ventos. No Brasil, não é a forma
mais grave de degradação. Porém, em algumas regiões específicas do país, ocorre processo
acelerado de desertificação, principalmente nas regiões Nordeste e Sul.

A erosão eólica é provocada pela ação do vento e será mais intensa quanto maior a sua
velocidade e a área livre de vegetação ou obstáculos naturais. A erosão eólica está mais relacionada
às grandes planícies sem cobertura vegetal. Nessas regiões, a energia cinética do vento desloca as
partículas do solo. Dependendo da força e da velocidade do vento, são removidas as partículas mais
finas (argila e silte) e, posteriormente, as partículas mais grosseiras (areia). A distância de deposição
está diretamente relacionada à intensidade e à duração do processo.

Métodos de controle da erosão

Os dois fatores que concorrem diretamente para a erosão do solo são a declividade do
terreno e o volume e intensidade da precipitação. Os diversos métodos de conservação do solo
visam reduzir/evitar a ação da água da chuva sobre o terreno.

a) Nivelamento, cálculo da declividade e determinação das curvas de nível;

b) Nivelamento utilizando régua e nível de pedreiro;

c) Nivelamento com esquadros;

d) Nivelamento com nível de mangueira;

e) Nivelamento com clinômetro;

f) Nivelamento com nível de precisão;

g) Nivelamento composto.

Locação de curvas de nível

As curvas de nível podem ser locadas em campo por meio de instrumental rudimentar ou
com aparelhos de precisão. Os processos mais utilizados são: locação com esquadros; locação com
nível de mangueira; locação com nível de precisão; e locação com teodolito.

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Terraceamento

Para se controlar o escoamento superficial, nem sempre são suficientes as técnicas de


aumento da cobertura vegetal e da infiltração, principalmente quando ocorrem chuvas de grande
intensidade, havendo necessidade de procedimentos para reduzir a velocidade e a capacidade de
transporte através de barreiras mecâncias e, às vezes, até obras de engenharia, como terraços,
canais escoadouros ou divergentes, bacias de captação de águas pluviais, barragens etc.
(BERTOLINI; LOMBARDI NETO, 1994).

Terraceamento é um dos métodos de conservação do solo mais antigos e, também, dos


mais utilizados, que visa reduzir a velocidade da água das chuvas erosivas que escorrem sobre o
terreno. É um método mecânico, que visa formar obstáculos físicos e parcelar o comprimento de
rampa, possibilitando, assim, a redução da velocidade e subdividindo o volume do deflúvio
superficial, aumentando a infiltração da água no solo. Os terraços visam, também, disciplinar o
escoamento das águas até um leito estável de drenagem natural ou artificial.

Devido ao custo relativamente alto de construção e manutenção do sistema de


terraceamento, deve-se fazer estudo criterioso das condições locais de clima, solo, sistema de
cultivo, culturas a serem implantadas, declividade do terreno e equipamentos disponíveis, para que
se tenha segurança e eficiência no controle da erosão.

O terraceamento é indicado para terrenos com declividade entre 6 e 12 %, porém pode ser
usado, com sucesso, em declives maiores, como também pode ser necessária a sua indicação em
encostas menos íngrimes, dependendo da intensidade das chuvas e da suscetibilidade do solo à
erosão (Figuras 1 e 2).

É importante ressaltar que essa prática deve, obrigatoriamente, estar associada a outras
práticas conservacionistas, como plantio em curva de nível, plantio em faixas de retenção, rotação
de culturas, cordões vegetados, alternância de capinas, manutenção da cobertura morta etc.

Mesmo o terraço sendo a prática conservacionista mais difundida entre os produtores,


ainda existe muita erosão nas áreas terraceadas, sendo as seguintes as principais causas
diagnosticadas:

 Utilização do terraço como prática conservacionista isolada, o que diminui a sua


eficiência.
 Dimensionamento do espaçamento entre terraços utilizando tabelas empíricas ou
adaptadas de outros países, com número pequeno e insuficiente de informações que não
63
levam em conta as classes de solos identificadas em levantamentos pedológicos mais
recentes.

Figura 1 - Associação de práticas conservacionistas em Lagoa Dourada-MG.


Terraços com gradiente e plantio de milho em curvas de nível (abril/96).

Figura 2 - Detalhe de terraço com gradiente construído com arado de disco.


Prados-MG (out/95).

Maioria dos terraços construídos em nível sem considerar o tipo de solo. Dessa forma, nos
solos menos permeáveis, principalmente aqueles com horizonte B textural ou que sejam rasos
(profundidade menor do que 50 cm), ocorrem fracassos, pois o fundo do canal do terraço pode vir
a se localizar no horizonte B, que se caracteriza por ter baixa taxa de infiltração, ou no próprio
substrato rochoso. Como consequência, a água acumula-se no canal até transbordar, quando
rompe o camalhão do terraço que é construído predominantemente com material mais arenoso do
horizonte A.

64
Nos solos com horizonte B latossólico, principalmente o Latossolo Vermelho-escuro, o uso
intensivo e inadequado de máquinas e implementos pesados tem ocasionado a formação de
camada compactada e pouco permeável, à profundidade de 10 a 20 cm. Essa camada diminui a
infiltração da água da chuva, aumenta o volume da enxurrada e contribui para o rompimento dos
terraces devido ao transbordamento de água sobre os camalhões.

Sistemas de cultivo

O sistema de cultivo tem grande importância nas perdas de solo, pois interfere diretamente
na cobertura vegetal e nas características físicas e biológicas do solo.

O preparo do solo é uma prática agrícola que tem como objetivo oferecer condições ideais
para a semeadura, germinação, emergência das plântulas, desenvolvimento e produtividade das
culturas.

O preparo do solo resulta, geralmente, na diminuição do tamanho dos agregados, aumento


temporário do espaço poroso e da atividade microbiana, além da incorporação dos resíduos,
deixando o solo descoberto. Com o passar do tempo, ocorre a diminuição do conteúdo de
material orgânica e, consequentemente, do número de micro-organismos, resultando na redução
da agregação promovida por eles. Isso faz com que haja maior suscetibilidade à desagregação e ao
transporte, ou seja, maior suscetibilidade à erosão. Além disso, o peso das máquinas e
implementos pode imprimir a aproximação das partículas, decorrendo na formação de camadas
compactadas. Em função dessas alterações físicas, o preparo é a prática que mais induz à erosão do
solo na agricultura.

Portanto, os implementos de preparo do solo devem se adaptar às condições e aos tipos de


solo, visando, principalmente, à preservação das características físicas e biológicas na camada de
preparo, evitando a desagregação excessiva, aumentando a infiltração e, consequentemente,
diminuindo as perdas de solo.

De forma geral, o preparo do solo pode ser dividido em três categorias:

Preparo primário: refere-se às operações mais profundas e grosseiras que visam,


principalmente, eliminar e enterrar as ervas daninhas estabelecidas, enterrar os restos da cultura
anterior e, também, tornar o solo mais friável. Exemplo: aração, escarificação etc.

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Preparo secundário: são todas as operações subsequentes ao preparo primário, como o
nivelamento do terreno, destorroamento, incorporação de herbicidas e fertilizantes, e eliminação
de ervas daninhas no início de seu desenvolvimento, produzindo ambiente favorável ao
desenvolvimento inicial da cultura implantada. Exemplo: gradagem, operação com enxada rotativa
etc.

Cultivo do solo após o plantio: utilização de práticas após a cultura ser implantada visando,
basicamente, eliminar as ervas daninhas, fazer amontoa etc. Exemplo: capina mecânica etc.

O efeito do preparo do solo sobre suas propriedades químicas, físicas e biológicas não
depende apenas do implemento empregado, mas, também, da forma e intensidade de seu uso. Em
muitas ocasiões, o efeito benéfico de determinado implemento pode ser anulado pelo uso
inadequado. Sob o ponto de vista da conservação, o melhor preparo é aquele que envolve menor
número de operações e deixa o máximo de resíduos culturais na superfície, de forma a proteger os
agregados do solo do impacto direto das gotas de chuva. Deve-se considerar, no entanto, que
nenhum implemento de preparo promove melhorias na estrutura do solo. Isso só é conseguido
através de atividade biológica (macro e micro-organismos e sistema radicular).

Baseado no tipo de implemento e na intensidade de seu uso, podem ser identificados três
tipos básicos de preparo do solo:

Convencional: envolve uma ou mais arações e duas ou mais gradagens.

Reduzido: o principal aspecto desse sistema de preparo é o reduzido número de operações.

Plantio direto: pode ser definido como a técnica de colocação da semente ou muda em
sulco ou cova no solo não revolvido, com largura e profundidade suficientes para obter a adequada
cobertura e o adequado contato da semente ou muda com a terra. As entrelinhas permanecem
cobertas pela resteva de culturas anteriores ou de plantas cultivadas especialmente com essa
finalidade. Segundo esses preceitos, o solo permanece com no mínimo 50 % da cobertura e o
revolvimento máximo para a abertura do sulco ou cova é de 25 a 30 % da área total.

Alguns resultados de pesquisa vislumbram as diferenças entre os métodos de preparo de


solo e suas vantagens e desvantagens. Em trabalhos efetuados em Campos de Lages, com sete
lavouras de alho sob preparo com subsolagem + aração + duas gradagens + enxada rotativa, Bertol
(1989) observou que, passados apenas seis anos de preparo, houve aumento da densidade global
do solo, da resistência à penetração de raízes e da microporosidade. Também houve formação de

66
camada compactada subsuperficial, acompanhada de redução da macroporosidade, da porosidade
total e da infiltração de água no solo.

Nas figuras a seguir, podem ser observados os efeitos do preparo do solo com arado de
disco tracionado por trator morro abaixo (Figura 3) e arado de aiveca com tração animal em nível
(Figura 4). Observa-se, na Figura 4, maior densidade e aprofundamento das raízes. Além disso, os
dados de penetrômetro indicam adensamento do perfil do solo, que pode ser constatado na Figura
3, pelo aspecto maciço e pela linha de pé de arado.

Figura 3- Aspecto visual do perfil de solo preparado com arado de


disco tracionado por trator, sentido morro abaixo (Paty do Alferes-
RJ, 1995).

Figura 4- Aspecto visual do perfil de solo preparado com arado de


aiveca com tração animal (Paty do Alferes-RJ, 1995).

67
Wünsche e Denardin (1980) compararam dois manejos da palhada com
preparoconvencional nas culturas de soja e trigo em Passo Fundo-RS, observando que a perda de
solo quando houve a incorporação da palhada foi de somente 30 % em relação à perda verificada
quando foi feito o manejo com queima dos restos culturais (Tabela 1).

Tabela 1. Perda média de solo por erosão em dois anos agrícolas, sob chuva natural, nas
culturas de trigo e soja em Latossolo Vermelho-Escuro.

Tratamento Perda de solo (t/ha)


Preparo convencional
12,8
(1 aração + 2 gradagens) com queima de palhada

Preparo convencional
3,7
(1 aração + 2 gradagens) com incorporação da palhada

Esses resultados foram atribuídos à incorporação da palhada ao contrário da queima,


aumentando a quantidade de matéria orgânica no solo, com reflexos positivos na melhoria da
estrutura, o que proporcionou o aumento da infiltração de água no solo.

A queima dos restos vegetais deve ser feita apenas por medidas fitossanitárias, quando,
então, os restos deverão ser amontoados e enleirados para a queima.

Sentido de preparo do solo

Outro aspecto a ser considerado é a realização do preparo do solo em contorno, ou seja,


transversal ao sentido do declive. A simples adoção dessa prática representa redução de até 50 %
nas perdas de solo. O preparo do solo “morro abaixo” sempre deve ser evitado, pois, nessas
condições, a erosão é intensificada, o que promove perda de nutrientes, matéria orgânica e
sementes, além de assorear rios e açudes e de formar voçorocas.

Condições de umidade no solo

As alterações que ocorrem no solo por ocasião do prepare são determinadas, em grande
parte, pelo tipo de implemento utilizado, mas o conteúdo de umidade no momento da realização
da prática também é importante.

68
As forças de atração entre as partículas são a coesão, quando na ausência de umidade, e a
adesão, na presença de água.

Deve-se efetuar o preparo do solo num ponto de umidade onde ele apresenta a menor
atração entre as partículas, dada pelo somatório das forças de coesão e de adesão. Isso ocorre
quando o solo se encontra úmido, ou seja, com teor de umidade que possibilite fácil esboroamento
dos agregados, que é a condição de friabilidade (Figura 5).

Plasticidade
Friabilidade

Fluidez
Grau de Consistencia

seco ligeiramente úmido úmido muito úmido saturado


Conteúdo de água
Figura 5 - Relação entre as forças de coesão e de adesão que atuam no solo sob
diferentes condições de umidade. Fonte: Kohnke (1968), adaptado pelos autores.

Se o solo estiver muito úmido no momento do preparo, haverá maior consumo de energia e
ocorrerá compactação, já que o solo se molda com facilidade (caráter denominado de plasticidade).
Se estiver muito seco, também haverá maior consumo de energia, devido à maior necessidade de
potência do maquinário utilizado, bem como a formação de torrões sem, no entanto, ocorrerem
significativos prejuízos à estrutura.

Planejamento conservacionista

O planejamento conservacionista é essencial para se obterem melhores rendimentos na


exploração das culturas, visando obter o máximo rendimento da terra por unidade de área
plantada, proporcionando o desenvolvimento socioeconômico do produtor rural e sua família,
assim como a conservação dos recursos naturais da propriedade agrícola (Figura 6). A
caracterização ambiental e o planejamento de uso das terras da propriedade devem ser feitos por
técnicos atuantes na área agrícola.

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É necessário ter em mente que a propriedade não é constituída somente por um tipo de
solo e este não ocorre em apenas um tipo de relevo. Via de regra, a propriedade rural é dotada de
terras planas, inclinadas, grotas, brejos etc. Por isso, a distribuição dos cultivos na propriedade é o
ponto chave no planejamento conservacionista. Em consonância com a adequada distribuição dos
cultivos, devem-se associar outras técnicas vegetativas e mecânicas, pois o planejamento
conservacionista não é composto de técnicas isoladas, mas sim integradas.

Figura 6: Visão panorâmica de uma propriedade no município de Lagoa


Dourada-MG, com planejamento conservacionista. Terraços ao fundo
associados com capineira protegendo o curral (nov./95).

Embora possa parecer que as terras possuam características pedológicas semelhantes, é


certo que essas características podem variar de área para área, dentro da mesma propriedade.
Nesse caso, é necessário identificar essas diferentes áreas. O planejamento determinará as áreas
mais apropriadas para o plantio de culturas anuais, perenes, pastagem e reflorestamento, entre
outras e determinará as medidas de controle à erosão a serem adotadas. Cada tipo de solo tem sua
aptidão (RAMALHO; BEEK, 1994), isto é, os solos devem ser usados com culturas mais adequadas a
sua capacidade de uso.

A caracterização ambiental consiste, essencialmente, em:

 Reconhecimento e levantamento topográfico da área a ser explorada;


 Levantamento e anotações das informações básicas a respeito das características
principais dos solos e hidrologia;
 Reconhecimento das características da flora para preservá-la em locais a serem
estudados em função dos levantamentos anteriores;
 Mapeamento da área.

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As principais características dos solos que devem ser levantadas são: profundidade efetiva,
textura, permeabilidade, reação do solo (alcalinidade ou acidez), teor de matéria orgânica,
inclinação, grau de erosão e uso atual.

Cobertura vegetal/cobertura morta

O fator isolado mais importante que influi sobre a erosão ou perdas de solo por enxurrada é
a cobertura do solo, seja ela com plantas em crescimento (cobertura viva) ou com a palhada dessas
plantas (Figura.7).

A cobertura do solo pode ser alcançada com um rápido crescimento da cultura, que
permitirá a proteção contra as gotas da chuva. O rápido crescimento das culturas é proporcionado
por adequadas características físicas, químicas e biológicas do solo. Ao contrário, é prejudicada pela
baixa fertilidade, compactação (pé de grade), drenagem imperfeita etc.

O conhecimento do estado nutricional do solo, ou seja, do nível de macro e micronutrientes


disponíveis à cultura, através da análise química, é de grande importância, pois permitirá ao
produtor programar a calagem e as adubações minerais, verde e orgânica, que permitirão o rápido
crescimento das plantas e a cobertura de toda a área de plantio. Isso reduzirá o risco potencial de
erosão e permitirá que maior quantidade de massa vegetal seja devolvida ao solo, promovendo
melhor proteção após a colheita, mantendo e aumentando o teor de matéria orgânica.

Figura 7 - Cobertura morta de mucuna protegendo o solo


contra a erosão.

Quando determinadas culturas não fornecerem adequada cobertura do solo, o plantio


consorciado com outras culturas deve ser efetuado. Os resíduos das culturas não devem ser
71
queimados, mas sim preservados sobre a superfície do solo, evitando-se a sua incorporação, a não
ser por medidas fitossanitárias, quando, então, deverão ser amontoados para a queima.

A permanência dos restos culturais ou de qualquer outro tipo de palhada é fundamental


para a proteção dos solos contra a ação da chuva, do sol e do vento. Além disso, a palhada ajuda a
manter a umidade do solo, oferecendo às culturas melhores condições para resistirem, por maior
tempo, a períodos de seca. A palhada também atenua a variação brusca da temperatura,
mantendo-a adequada para o desenvolvimento dos macro e micro-organismos do solo, tão
importantes para a manutenção de suas características físicas, químicas e biológicas.

Em solos desnudos ou sem cobertura, por exemplo, a temperatura pode facilmente atingir
60 a 65 ⁰C durante o dia. Nessas condições, as bactérias que fixam nitrogênio no sistema radicular
das leguminosas, como o feijoeiro e a soja, têm sua sobrevivência comprometida. A palhada ainda
reduz a incidência de ervas daninhas, diminuindo a necessidade da capinas e, consequentemente, a
exposição do solo à ação dos agentes erosivos (SATURNINO; LANDERS, 1997).

Outras formas de se manter o solo coberto e protegido durante o ciclo da lavoura e após a
colheita é adotar o sistema de plantio direto, cultivo mínimo ou, simplesmente, roçar o mato, em
vez de capinar.

Quebra-ventos ou cortinas vegetais

Existe uma forma de erosão, muitas vezes pouco perceptível ou valorizada, que é a erosão
eólica (ação dos ventos). Além da erosão, os ventos fortes são extremamente prejudiciais às
culturas, desidratando, queimando e acamando as plantas.

Uma das principais técnicas utilizadas para minimizar os efeitos nocivos dos ventos sobre os
solos e culturas é o uso de cortinas vegetais. Elas podem ser plantadas sobre a crista dos camalhões
ou mesmo em linhas, demarcando os talhões que estarão protegidos.

A regra básica a ser observada na instalação de quebra-ventos é a proporção entre a altura


da cortina vegetal e a área protegida. Normalmente, considera-se 1 metro de altura de quebra-
vento para 10 metros de proteção.

Os vegetais mais usados para esse fim são o capim “camerun” (capim elefante), capim
cidreira, feijão guandu, eucalipto, grevilea, cedrinho, acácia negra e outros.

72
Cordão vegetal

É uma prática simples, recomendada para a pequena e média propriedade, em áreas que
não possibilitam a construção de terraços devido à declividade, ou nas quais a mecanização é
realizada por tração animal.

Consiste no plantio de espécies que apresentem rápido crescimento do sistema radicular e


da parte aérea, possibilitando segurar a terra e não deixar que a água da chuva, correndo morro
abaixo, provoque erosão.

Para se formar o cordão vegetal abre-se dois ou três sulcos com arado de tração animal,
numa faixa de até um metro, plantando-se as mudas das espécies recomendadas.

Algumas espécies usadas são a cana-de-açúcar, capim “camerun anão” (elefante anão),
capim cidreira e capim vetiver, entre outras, que podem ser plantadas em nível ou desnível,
dependendo das características do solo. O espaçamento entre um cordão e outro não deve ser
menor que 10 metros.

O cordão vegetal funciona como barreira física, evitando que a água da chuva que não se
infiltrar ganhe velocidade e provoque erosão. Portanto, é considerada uma prática conservacionista
complementar. Além disso, é bom salientar, que algumas espécies utilizadas para formar o cordão
vegetal podem ser usadas na alimentação animal, humana ou na industrialização caseira,
aumentando a renda familiar.

Cordão de pedra

É também uma prática adaptada à pequena propriedade, logicamente naquelas localizadas


em áreas com pedras soltas aflorando à superfície. Além de ajudar no controle da erosão, reduz a
velocidade de escoamento das águas das chuvas e possibilita o aproveitamento da área, antes
cheia de pedras. Sua construção consiste na abertura de um canal, geralmente em nível, onde as
pedras vão sendo empilhadas.

Adição de matéria orgânica

A adição de matéria orgânica ao solo tem por objetivo melhorar suas condições físicas,
químicas e biológicas, permitindo o adequado crescimento das culturas. Esse aporte de matéria
orgânica pode ser feito de várias maneiras, através da adubação verde, adubação com esterco de
73
animais (boi, suínos etc), restos de culturas, composto orgânico e húmus de minhocas, entre
outras. Entretanto, o agricultor nem sempre tem a chance de encontrar com facilidade o esterco de
animais (seja pela disponibilidade do produto, seja pelo custo) ou de fazer a adubação verde. Uma
forma de conseguir adubo orgânico de boa qualidade é através do composto.

Adubação verde

A adubação verde pode ser conceituada como o manejo de plantas visando à melhoria ou à
manutenção da capacidade produtiva do solo. Esse conceito abrange a tradicional prática de
incorporação de leguminosas, como também a utilização de outras espécies vegetais, em rotação
ou não, para cobertura do solo ou incorporação. Quando a rotação é feita utilizando-se
leguminosas como cultura principal ou na forma de adubo verde, consegue-se, ainda, incorporar
nitrogênio ao sistema de plantio, reduzindo os custos com fertilizantes nitrogenados. As
gramíneas, com seu sistema radicular abundante, contribuem para estruturar o solo ao mesmo
tempo em que aumenta o aporte de matéria orgânica abaixo da superfície (SANTA CATARINA,
1994).

Atualmente, o conceito de adubação verde não se resume, apenas, na incorporação da


massa produzida, já que é considerada, também, como participante do processo de conservação de
solo, através da prática de rotação de cultura, sucessão ou consorciação, sendo deixada na
superfície do solo, sem incorporação. Desse modo visa-se proteger o solo contra as variações de
temperatura, impacto direto da gota da chuva e ação dos ventos. Nesse contexto, a adubação
verde entra no planejamento conservacionista da propriedade.

Benefícios da adubação verde:

 Proteção da camada superficial do solo contra as chuvas de alta intensidade, sol e


vento;
 Manutenção de elevadas taxas de infiltração de água pelo efeito combinado do
sistema radicular e da cobertura vegetal. As raízes, após sua decomposição, deixam
canais no solo, enquanto a cobertura evita a desagregação e o selamento superficial,
reduzindo a velocidade do escoamento superficial;
 Promove grande e contínuo aporte de massa vegetal ao solo, mantendo ou até
mesmo elevando, ao longo dos anos, o teor de matéria orgânica;

74
 Atenua a amplitude térmica e diminui a evaporação, aumentando a disponibilidade
de água para as culturas comerciais;
 O sistema radicular rompe camadas adensadas e promove a aeração e a
estruturação das partículas, induzindo ao “preparo biológico do solo”;
 Promove a reciclagem de nutrientes. O sistema radicular bem desenvolvido de
muitos adubos verdes tem a capacidade de translocar os nutrientes que se
encontram em camadas profundas para as camadas superficiais, tornando-os
novamente disponíveis para as culturas de sucessão;
 Diminui a lixiviação de nutrientes. A adubação verde, por reter os nutrientes na
fitomassa e liberá-los de forma gradual durante a decomposição do tecido vegetal,
atenua esse problema.
 Promove a adição de nitrogênio ao solo através da fixação biológica por parte das
leguminosas, podendo representar importante economia desse nutriente na
adubação das culturas comerciais, além de melhorar o balanço de nitrogênio no solo.
 Reduz a população de ervas daninhas através do efeito supressor e,ou alelopático,
devido ao rápido crescimento inicial e exuberante desenvolvimento da massa
vegetal;
 O crescimento vegetal dos adubos verdes e sua decomposição ativam o ciclo de
muitas espécies de macro-organismos e, principalmente, micro-organismos do solo,
cuja atividade melhora a dinâmica física e química do solo;
 Apresenta múltiplos usos na propriedade. Alguns adubos verdes possuem elevada
qualidade nutritiva, podendo ser utilizados na alimentação animal (aveia, ervilhaca,
guandu e lab-lab), na alimentação humana (tremoço e guandu) ou como fonte de
madeira e lenha (leucena e sabiá);

Características importantes para a escolha dos adubos verdes:

 Apresentar rápido crescimento inicial e eficiente cobertura do solo;


 Produção de elevadas quantidades de fitomassa (massa verde e seca);
 Capacidade de reciclagem de nutrientes, apresentando elevadas quantidades de
nutrientes na fitomassa;
 Facilidade de implantação e condução a campo;
 Apresentar baixo nível de ataque de pragas e doenças, não se comportando como
planta hospedeira;
75
 Apresentar sistema radicular profundo e bem desenvolvido;
 As espécies devem ser de fácil manejo (incorporação ou acamamento) para
implantação dos cultivos de sucessão;
 Apresentar potencial para múltipla utilização na propriedade;
 Apresentar tolerância ou resistência à seca e à geada;
 Apresentar tolerância à baixa fertilidade e facilidade de adaptação a solos
degradados;
 Produção de elevadas quantidades de sementes;
 Não devem comportar-se como invasoras, dificultando o cultivo de culturas de
sucessão;

Modalidades de adubação verde

Adubação verde de primavera/verão: consiste no plantio de adubos verdes no período de


outubro a janeiro. As principais espécies utilizadas são: mucuna, feijão-de-porco, guandu e
crotalárias. As principais vantagens são: grande produção de massa vegetal, elevada quantidade de
N fixado biologicamente e cobertura do solo durante o período de chuvas de alta intensidade. O
maior incoveniente é a ocupação do solo durante o período em que são cultivadas as principais
culturas. Para atenuar o problema, recomenda-se subdividir a propriedade em glebas e utilizar a
adubação verde de forma escalonada.

Adubação verde de outono/inverno: prevê a utilização desses adubos no inverno,


geralmente na entressafra das principais culturas comerciais. As principais espécies utilizadas são:
aveia preta, ervilha forrageira, ervilhaca, espégula ou gorga, xinxo e nabo forrageiro. As principais
vantagens são: proteção de áreas agrícolas na entressafra para o controle da erosão, diminuição da
infestação de ervas daninhas, redução das perdas de nutrientes por lixiviação, aporte de nitrogênio,
possibilidade de utilização na alimentação animal e cobertura morta para preparos
conservacionistas do solo.

Adubação verde intercalar com culturas: o adubo verde é semeado na entrelinha da cultura
comercial. É especialmente adaptada a situações em que o solo deve ser utilizado da forma mais
intensiva possível (Figura 8).

Adubação verde perene em áreas de pousio: a utilização de adubos verdes em áreas


degradadas pelo manejo, ou para controlar a erosão, como cordões de vegetação, ou ainda em
76
áreas que temporariamente não estão sendo cultivadas pode ser uma prática viável. As principais
espécies utilizadas são: guandu, indigófera, leucena e tefrósia. Essas plantas, por possuírem sistema
radicular profundo e elevada produção de fitomasssa, apresentam as vantagens de recuperação
das características do solo e possibilidade de utilização na alimentação animal.

Figura 8. Consórcio da cultura de maracujá com feijão-de-


porco no município de Capitão Poço-PA (novembro de 1992).

Alguns resultados de pesquisa indicam que, em geral, o efeito da intercalação da mucuna é


excelente em solos com cultivos contínuos, porém o efeito em solos em pousio é pequeno e
variável com o ano.

Numa avaliação de leguminosas anuais no período de cinco anos, foi observado que a
mucuna intercalada ao milho promoveu aumento de 21 % na produção de grãos em relação à
testemunha (4.440 kg/ha), seguindo-se o feijão- de-porco (14 %) e a ervilhaca (10 %).

Compostagem

Os resíduos de origem vegetal e animal contêm apreciáveis quantidades de nutrientes, que


podem ser aproveitados através de processamento simples, como a compostagem, possível de ser
realizada pelo produtor na propriedade.

A compostagem é o processo de decomposição aeróbia dos resíduos orgânicos em húmus,


relativamente estável. Os dejetos animais, ricos em nitrogênio, podem ser compostados de forma
exclusiva ou combinada com outros materiais de elevada relação carbono/nitrogêrnio, como
palhadas, bagaços de frutas, serragem etc.
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As principais condições para a decomposição efetiva são a qualidade e o tamanho das
partículas do material usado, o teor de umidade, a temperatura, a presença de oxigênio, nitrogênio
e carbono em proporções adequadas e pH.

Qualidade e tamanho das partículas do material

A relação carbono/nitrogênio deve propiciar o crescimento e atividade dos micro-


organismos envolvidos. A variação da relação C/N pode ser de 30 a 50, sendo ideal no máximo de
30. Quando a relação é inferior a 20 e 25, ocorre a amonificação, ocasionando perdas de nitrogênio
do material. Relação superior a 50 provoca o retardamento do início da compostagem, sendo o
tempo de processamento 50 % maior, gerando um produto menos estável e de menor qualidade.

Quando os resíduos agrícolas apresentam-se em partes inteiras (colmo e palha de milho,


cana e arroz), recomenda-se a fragmentação em pedaços menores. Estercos de animais geralmente
apresentam relações C/N inferiores a 25 e sua compostagem exclusiva acarreta perdas de
nitrogênio em forma de amônia. Essas perdas podem ser reduzidas pela incorporação de
superfosfatos ou termofosfatos à razão de 7 a 12 kg/t de resíduo compostado.

A concentração final de nitrogênio do composto fica em torno de 2,5 a 3,0 %, sendo que,
desse total, 50 a 70 % se apresentam em forma prontamente assimilável pelas plantas.

Teor de umidade

O nível adequado de umidade no composto é entre 40 e 60 %. A intensa atividade do


processo provoca altas temperaturas, que tendem a secar o material, prejudicando o processo. O
excesso de água tende a provocar condições anaeróbias com consequente liberação de odores
desagradáveis. Em casos de falta d’água, ela pode ser regada uniformemente sobre o material em
compostagem. Em caso de excesso de água, materiais absorventes, como palhas e serragem,
devem ser incorporados até a adequação do teor de umidade. A necessidade de rega verifica-se
pela temperatura do composto; sua elevação demasiada exige umedecimento.

78
Aeração do composto

A quantidade de oxigênio é de vital importância para a eficiente oxidação da matéria


orgânica. O adequado suprimento de oxigênio é atingido pelo revolvimento do material em
compostagem em intervalos de duas semanas.

Temperatura e pH

A temperatura e o pH variam de modo interdependente de acordo com o estágio da


compostagem. O monitoramento da temperatura pode ser realizado mantendo-se introduzidos no
composto, até o fundo, alguns pedaços de barras de ferro. Retirando-se essas barras e tocando-as
com a mão, podem ocorrer três situações:

 O contato suportável indica que o processo de fermentação está normal;


 O contato insuportável indica demasiada elevação da temperatura, devendo-se
compactar o material, se úmido, ou regar uniformemente com água, se estiver seco;
 O contato é frio ou levemente morno, indicando necessidade de revolvimento ou
ainda que o processo de compostagem já está no final. Se após a aeração, a
temperatura se mantiver baixa, o produto está pronto, podendo ser utilizado.

O material pronto apresenta-se quebradiço quando seco e moldável quando úmido. O


composto pronto não atrai moscas, não oferece condições para sua multiplicação e não tem cheiro.

Preparo da meda ou leira

O preparo do composto requer local próprio e próximo do local de sua utilização e de fonte
de água. O local deve ser plano ou ter pequeno caimento.

A pilha deve ter 3 a 4 m de largura por 1,5 a 1,8 m de altura para facilitar o manuseio. Seu
comprimento pode variar de acordo com a quantidade de material disponível e com o espaço para
revolvimento. O local das pilhas deve ser protegido das enxurradas, contornado com valas de
escoamento da água de chuva. A compostagem deve obedecer à proporção de três partes de
resíduos vegetais para uma parte de dejetos animais (Figura 9).

Inicia-se a construção da pilha de composto distribuindo-se uniformemente uma camada de


resíduos vegetais, de 15 a 25 cm de espessura, de preferência bem fragmentados. Quando os
resíduos dessa primeira camada se constituírem por partes de plantas inteiras, devem ser
79
molhados e, após, comprimidos por meio de varas, como se fosse bater feijão. Por cima dessa
camada, espalha-se uma camada de 5 a 7 cm de esterco de curral, molhando-se novamente o
material. Segue-se essa sequência até completar a altura desejada. A última camada deve ser de
resíduos vegetais, sobre a qual se depositará ainda uma camada de sapé ou outro capim para
proteção contra a chuva e evaporação. O tempo de duração é, normalmente, de oito a dez
semanas.

Figura 9. Montagem da meda de compostagem. Fonte: Oliveira Filho et al. (1987)

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Utilização do composto

Quanto mais rápida a utilização composto, melhor. Entretanto, quando não for possível, o
composto deve ser armazenado em local protegido do sol e da chuva, de preferência coberto com
lona de polietileno ou sacos velhos de fibra.

As concentrações dos elementos fertilizantes dos compostos orgânicos variam, sendo


normalmente de 1 a 2 % de N e de 0,5 a 1 % de P e K, além dos micronutrientes. Uma boa
adubação exige dosagens de 15 a 30 toneladas de composto por hectare. A utilização do fertilizante
orgânico pode ser combinada com a adubação mineral. No caso da associação, a adubação mineral
deverá ser aplicada alguns dias após a distribuição do composto orgânico. Não se deve misturar o
composto com calcário, pois esse processo provocaria perdas de N, o que poderá ser percebido
pelo cheiro de amônia.

Outro método de produção de matéria orgânica de boa qualidade é a vermicompostagem,


que consiste na decomposição de restos orgânicos por minhocas.

Rotação de culturas

Entende-se por rotação de culturas a sequência ordenada de diferentes culturas, no tempo


e no espaço. A condição ideal do sistema de rotação de culturas é a que adiciona matéria orgânica
ao solo de forma contínua.

A rotação de culturas é fundamentada no fato de uma cultura extrair do solo maiores


quantidades de determinados nutrientes do que outros; nos diferentes sistemas radiculares que
exploram profundidades variáveis do solo; nos diferentes tipos de cobertura do solo; na adição de
materiais orgânicos de qualidade diferenciada; no controle de pragas e doenças.

Principais vantagens da rotação:

 Otimiza a fertilidade do solo;


 Diminui a incidência de pragas e doenças;
 Melhores resultados econômicos, através do adequado planejamento das culturas;
 Controla ervas daninhas com o mínimo de despesas.

Em relação ao sistema de rotação de culturas, duas situações devem ser consideradas:

Médias e grandes propriedades rurais, nas quais, pela disponibilidade de área, é possível
adotar um sistema de rotação para culturas econômicas.
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Pequenas propriedades rurais, que não dispõem de área suficiente para um programa de
rotação das culturas econômicas, necessitando, muitas vezes, de toda a área disponível para
determinada cultura, cuja produção será utilizada na própria propriedade (exemplo: milho x suíno).

Com vistas à pequena propriedade, recomenda-se que o técnico oriente diretamente os


agricultores para:

 Adotar sistemas de consórcio visando ao melhor aproveitamento das áreas e maior


resultado econômico;
 Utilizar culturas de inverno para adubação verde e, ou pastagem;
 Utilizar leguminosas de verão nas áreas de milho solteiro, como é o caso da mucuna;
 Intercalar culturas que permitam o máximo de rendimentos por efeitos positivos de
alelopatia e, ou incorporação de nutrientes para a cultura seguinte (leguminosa x
gramínea);
 Procurar fazer rotação mesmo nas culturas mais sujeitas a doenças, caso do feijão,
tomate e pimentão.

Quando da adoção de programa de rotação de culturas, é desejável que:

 A cultura anterior beneficie a posterior;


 Haja o completo aproveitamento do adubo aplicado, plantando-se, de preferência,
uma cultura aproveitadora após uma exigente;
 Os implementos agrícolas sirvam para as diferentes culturas;
 As culturas mantenham o solo sempre coberto;
 As culturas conservem a bioestrutura do solo;
 Haja controle de doenças, pragas e invasoras;
 As culturas tenham mercado compensador e,ou possam ser utilizadas na
propriedade.

Locação de estradas e caminhos

Um dos principais fatores causadores de erosão nas áreas agrícolas são as estradas vicinais,
tão importantes no escoamento da produção.

82
A má locação dessas estradas é responsável, muitas vezes, pelos mais graves problemas de
erosão, pois faz com que a água da enxurrada acumule em determinados pontos e em grande
volume, ganhando velocidade, o que aumenta o seu potencial erosivo.

As estradas devem ser localizadas procurando acompanhar os espigões ou ser construídas


de maneira a ficarem com declives suaves. No caso de construção perpendicular aos espigões, os
terraços (quando existirem) devem ser respeitados, acompanhando as elevações dos camalhões.

É de fundamental importância, ainda, a construção de caixas de retenção (ou bacias de


captação de água) laterais, que têm a função de segurar a água que escorre na estrada.

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