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Introdução

Ao longo da história da humanidade, o homem sempre conviveu intimamente com o


solo.

Inicialmente, colhendo da terra seus produtos através do extrativismo e, com o passar


dos tempos, aprendendo a cultivá-lo, cada vez mais racionalmente, para a produção de
bens de consumo; a utilizá-lo como matéria-prima na fabricação de cerâmica e vidraria
e como material de construção e substrato para obras de engenharia.

morfologia e classificação dos solos. A Pedologia é a ciência da gênese, busca


compreender a interação entre os fatores e processos de formação do solo e sua
influência nos atributos morfológicos, físicos, químicos e mineralógicos do solo.

PALAVRAS-CHAVE: Pedogênese; Perfil de solo; Morfologia de solos.

Conceito

Segundo OMBE et al., (2007, p. 87) “solo é um agregado de minerais não consolidados
e de partículas orgânicas produzido pela acção combinada do vento, água e dos
processos de desintegração orgânica”. É uma camada da superfície terrestre resultante
da ação dos organismos vivos (plantas e animais) e do clima sobre a rocha matriz,
acondicionada pelo relevo, num dado tempo.

Objecto de Estudo da Geografia dos Solos

O objecto de estudo da geografia dos solos (pedologia) estuda a pedogénese, a


morfologia dos solos e a classificação de solos todos e fenómenos que nele ocorrem
bem como as diferenças de tipos de solos que a terra apresenta.

FACTORES DE FORMAÇÃO DE SOLOS

O solo é formado a partir da decomposição das rochas, por meio de um conjunto de


processos físicos, químicos e biológicos, que podem ser denominados intemperização.
Dentre os processos físicos podemos alistar o atrito entre as partículas de solo, a
temperatura, o vento, a pressão, entre outros factores. Como existem diferentes tipos de
rochas na crosta terrestre, é fácil entender por que existem diferentes tipos de solos.

No entanto, existem outros factores de formação dos solos, além da rocha, que são
responsáveis pelos diferentes tipos de solos que vemos hoje nos locais por onde
passamos. Esses factores são o clima, os organismos, o relevo e o tempo. Assim, com o
passar do tempo, a rocha, seu principal material de origem, é cada vez mais reduzida de
tamanho (diz-se que é decomposta) pela acção do clima (chuva, vento e temperatura,
principalmente) com ajuda dos organismos vivos (fungos, líquens, bactérias, o próprio
homem, e outros), promovendo adições, perdas, transportes e transformações de matéria
mineral e orgânica ao longo de sua formação, originando os solos na paisagem em
diversas formas de relevo.

Assim, a rocha dura, em que as plantas não conseguem crescer, é transformada em


material macio, os solos, em que as raízes das plantas conseguem penetrar e retirar água
e nutrientes para a sua sobrevivência.

Segundo Lepsch (2011), a existência de diferentes tipos de solos é controlada por cinco
factores, sendo estes: o clima, os organismos vivos, o material de origem (rocha), o
relevo e a idade da superfície do terreno (tempo). A interação dinâmica desses factores
propicia a formação do solo e conforme as características do local, no qual envolve tipo
de rocha, relevo, macro e micro-organismos, clima, em um determinado tempo, são
responsáveis pela origem de diversos tipos de solos.

O relevo

A acção do relevo reflete directamente sobre a dinâmica da água, tanto no sentido


vertical (infiltração) como lateral (escorrimentos superficiais – enxurradas – e dentro do
perfil); e indirectamente sobre o clima dos solos (temperatura e humidade), através da
incidência diferenciada da radiação solar, do decréscimo da temperatura com o aumento
das altitudes, e sobre os seres vivos os tipos de vegetação natural importantes na
formação dos solos.

A água que cai sobre um terreno e não evapora tem apenas dois caminhos: ou penetra
no solo ou escorre pela superfície.
Geralmente, segue concomitantemente ambos os caminhos, com maior ou menor
participação de um ou outro, dependendo das condições do relevo (declividade e
comprimento da vertente); da cobertura vegetal; e de factores intrínsecos do solo.

Em terrenos declivosos, a quantidade de água que penetra no solo é, em igualdade de


incidência de precipitação pluvial, normalmente menor que nos menos inclinados.

Na coexistência de ambas as situações, compartilhando uma porção da paisagem, as


áreas com menos declive recebem o acréscimo de água do escoamento superficial e
subsuperficial proveniente das áreas mais altas.

Os solos de relevo íngreme (muito inclinado) são submetidos ao rejuvenescimento,


através dos processos erosivos naturais e, em geral, apresentam clima mais seco do que
aqueles de relevo mais suaves.

Os solos rasos e pouco profundos das vertentes declivosas são naturalmente co-
habitados por matas mais secas do que as dos terrenos contíguos menos íngremes.

Em regiões montanhosas, por exemplo, dependendo da orientação das encostas, a


variação de incidência da radiação solar é significativa.

A variação do relevo origina uma sequência de perfis geneticamente ligados entre si,
mas diferenciados por características morfológicas.

Os solos formados nas partes altas do terreno diferem dos de terrenos baixos. Em
função da topografia os solos podem apresentar as seguintes denominações:

a) Solos Eluviais: são definidos como os que mantêm estreita correlação com o material
de origem, não são influenciados pelo transporte de partículas minerais de regiões
próximas e estão sujeitos a influências das características mineralógicas, físicas e
químicas da rocha mãe (rocha matriz).

b) Solos Coluviais: são aqueles geralmente encontrados em locais de declive. Estes


resultam da mistura de fragmentos minerais de rochas de camada mais profundas e
também são enriquecidos por partículas transportadas de locais mais elevados e que
podem ter origem de material rochoso diferente.
c) Solos Aluviais: os materiais que entram na constituição desses solos originam-se da
acumulação gradativa dos resíduos minerais provenientes de regiões próximas, ou seja,
daquelas dentro da bacia hidrográfica.

O clima

O clima constitui um dos mais ativos e importantes factores de formação do solo. De


seus elementos, destacam-se, pela acção directa na pedogénese:

 A temperatura;
 A precipitação pluvial;
 A deficiência e o excesso hídrico.

latitude influi directamente nos regimes térmicos regionais. É muito importante no


desenvolvimento dos solos, pois a velocidade das reacções químicas que neles se
processam é directamente proporcional ao aumento da temperatura.

Além da temperatura, a quantidade de água de chuva que atinge a superfície, nela


penetra, seja mantida ou percole, é factor igualmente importante no processo de
formação do solo. Regiões com abundância de água apresentam, normalmente, solos
mais evoluídos do que regiões secas.

Da conjugação de variados regimes de temperatura e humidade, resulta essencialmente


a ocorrência de climas distintos e, por conseguinte, de acções formadoras de solo
também diferenciados.

Nos planaltos as baixas temperaturas e a constante humidade favorecem a formação de


solos com espessas camadas superficiais escuras e ricas em matéria orgânica,
conferindo-lhes particular morfologia, além de influenciar mais activamente os
processos de transformações e neoformações. Por exemplo: solos não muito
desenvolvidos, pouco profundos, por vezes cheios de pedras, quimicamente pobres,
muito lixiviados, de reacção bastante ácida e consideravelmente ricos em constituintes
orgânicos.

Os Organismos

Os organismos microflora e macroflora, microfauna e macrofauna pelas suas


manifestações de vida, quer na superfície quer no interior dos solos, actuam como
agentes de sua formação. O homem também faz parte desse contexto, pois, pela sua
atuação, pode modificar intensamente as condições originais do solo.

Dos organismos, sobressai por sua intensa e mais evidente acção como factor
pedogenético a macrofauna. A cobertura vegetal tem uma acção passiva como agente
atenuante do clima; porém, é como agente ativo na formação do solo que ela se destaca.
Sua acção protetora depende de sua estrutura e tipo. Por exemplo: Regiões com a
cobertura vegetal é eficaz (protege o solo contra a acção das chuvas).

Evapotranspiração - é a perda de água do solo por evaporação e a perda de água da


planta por transpiração.

A acção pedológica passiva da cobertura vegetal desempenha ainda outras funções


protetoras, intervindo na fixação de materiais sólidos, como nas dunas ou nas planícies
aluviais.

A acção mais importante da cobertura vegetal ocorre, nos fenômenos de adição, tanto na
superfície, através dos resíduos vegetais aí depositados, como no interior do solo,
mediante restos que se decompõem.

O homem é um elemento perturbador da constituição e arranjo das camadas dos solos,


através das modificações que imprime na paisagem, como:

 Desmatamento,
 Reflorestamento,
 Abertura de estradas,
 Escavações.

Ou através de alterações que realiza diretamente no solo, como:

 Aplicação de fertilizantes,
 Irrigação,
 Drenagem e deposição de resíduos.

O tempo

O período de tempo necessário para que um solo desenvolva-se e alcance seu equilíbrio
com o meio depende da rocha matriz que lhe deu origem, das condições do clima, dos
organismos vivos e da topografia. O tempo é o fator de formação do solo que define o
quanto a acção do clima e dos organismos vivos atuam sobre a rocha matriz em um
determinado tipo de relevo. Dos factores de formação do solo, o tempo é o mais
passivo, porque não adiciona, não exporta material, não gera energia que possa acelerar
o intemperismo físico ou químico necessário para a formação do solo. Contudo, o
sistema solo não é estático, variando, com o passar do tempo e ao longo de sua
formação, suas transformações, transporte, adição e perdas.

Solos

Tipologia de solos do Distrito de Namacurra

A distribuição dos solos no Distrito de Namacurra. No Distrito do Namacurra


predominam solos de aluviões argilosos, FG, (cerca de 30% da área total do distrito),
com fertilidade boa a moderada. Seguem-se, em termos de área ocupada, os solos
arenosos amarelados (AA) que podem ocorrer em associação com os solos de
Manangam com cobertura arenosa (MA) e solos de coluviões argilosos (MC). Estes
solos ocorrem maioritariamente no interior do distrito e apresentam fertilidade, em
geral, baixa. No interior do distrito ocorrem ainda solos vermelhos de textura média
(VM) em associação, em alguns casos, com solos castanhos de textura média (KM),
solos arenosos castanhoacinzentados (KA) e solos de coluviões de textura média (CG).

Na zona costeira ocorrem, para além de solos aluvionares, solos de sedimentos


marinhos estuarinos (FE). Apenas cerca de 5% da área do distrito (na zona costeira)
apresentam solos de dunas costeiras (DC), por vezes em associação com solos arenosos
hidromórficos (DC+Ah). Estes solos não têm praticamente aptidão para a agricultura.

Latossolos

Em Namacurra, os Latossolos ocupam mais de 30% do território, sendo, portanto, a


ordem de maior expressão. Devido a intensa intemperização, são solos profundos, de
boa drenagem, em sua grande maioria de baixa fertilidade natural e ocorrem em relevo
plano a suave ondulado. São caraterizados pela presença
do horizonte diagnóstico subsuperficial B latossólico, um horizonte espesso, com baixo
conteúdo de minerais primários facilmente alteráveis, baixa capacidade de troca
catiônica e relação molecular SiO2 /Al2 O3 (ki) inferior a 2,2 (Santos et al., 2018).

Encontram-se amplamente distribuídos por todas as regiões do país, especialmente em


ambientes mais úmidos que favorecem a intensa intemperização.

ARGISSOLOS

Os Argissolos ocupam a segunda maior extensão de área no, Caracterizam se pela


presença de um horizonte subsuperficial de acúmulo de argila, classificado como B
textural (Santos et al., 2018), em sua grande maioria com baixa capacidade de troca
catiônica e baixa fertilidade natural. Ocorrem predominantemente no terço superior e
médio da paisagem, normalmente em relevo suave ondulado e ondulado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo dos solos como corpos naturais vem do conceito clássico de pedogênese, em
que os solos resultam da interação entre cinco fatores de formação:

clima, organismos, relevo, material de origem e tempo. Por essa perspectiva, o solo
deixa de ser um substrato e passa a ser tratado como entidade/indivíduo. Os seres
humanos, como componentes da biosfera, tornaram-se cada vez mais um fator
significativo interagindo com as outras esferas. Consequentemente, a “antroposfera”

é agora considerada uma grande influência na formação do solo. O solo é um recurso


essencial para todos os organismos terrestres, incluindo o homem, razão pela qual
deriva em grande parte sua importância – as funções do solo permitem que ecossistemas
e sociedades se desenvolvam e evoluam. Representa a interface entre atmosfera,
biosfera, hidrosfera e litosfera. Os ambientes nos quais esses quatro elementos
interagem são, muitas vezes, os mais complexos e diversificados da Terra. Portanto a
compreensão completa dos solos requer conhecimentos de muitas outras ciências, sendo
a Pedologia uma ciência interdisciplinar. Para finalizar, pode-se afirmar que o estudo
dos atributos do solo é potencialmente útil para a interpretação da relação solo-
paisagem, além de fornecer informaçõe
REFERÊNCIAS

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