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Capítulo 1

Classes
de Solo
e Irrigação

Derli Prudente Santana


Luiz Marcelo Aguiar Sans
Classes de Solo e Irrigação

o solo em perspectiva

Conceito de solo

Ao longo da história, o solo tem sido um elemento bastante familiar


ao homem, que dele sempre dependeu para satisfazer suas necessidades
básicas de locomoção, abrigo e alimentação. Assim, os conceitos de solo
são quase tão variados quanto são as atividades humanas que nele se
desenvolvem. Cada indivíduo tem uma concepção mais identificada com
as próprias atividades e interesses, mas quase sempre muito pouco
relacionada com o conhecimento da natureza do próprio solo. Por exemplo,
enquanto, para o agricultor, o solo pode ser visto apenas como meio de
desenvolvimento de plantas, para o engenheiro, ele é o material de
enchimento em aterros e barragens.
Os cientistas do solo preferem ver o solo como um "corpo natural da
superfície da terra, alterada e biologicamente modelada, que suporta ou é
capaz de suportar plantas". O solo faz a ligação entre litosfera, atmosfera
e biosfera, sofrendo muita influência de todos esses elementos nas suas
propriedades. A posição peculiar de pedosfera torna-a uma das peças
cruciais na estrutura dos ecossistemas terrestres.
O solo (incluindo o relevo) está relacionado com todas as qualidades
ecológicas, enquanto o clima do solo relaciona-se com radiação solar, água,
temperatura e arejamento. Ele é, além disso, o substrato principal da produ-
ção de alimentos e uma das principais fontes de nutrientes e sedimentos
que vão para rios e mares. Disponibilidade de água, nutrientes e ar nos solos
variam bastante, condicionando, nos vários solos, uma produtividade dife-
rente das culturas, quando outros fatores são considerados constantes. Solo,
planta e água são fatores críticos e interdependentes na prática da irrigação:
o balanço adequado desse trio deverá propiciar sucesso naquela prática.

Gênese do solo

Estudos de solos em diversas partes do mundo têm mostrado que os


solos têm propriedades decorrentes do efeito integrado de clima e organismo
com o material de origem (rocha), durante um certo período. Essesfatores
de formação do solo determinam a gênese dos vários solos existentes na
face da crosta terrestre. A resultante da ação de interdependência desses

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Uso e Manejo de Irrigação

fatores é que estabelece as características de cada solo. Como os fatores


de formação do solo variam pronunciada mente na face terrestre, há, neces-
sariamente, uma variação paralela das características dos solos.

Solo = f (clima, organismos, material de origem e tempo)

Na formação dos solos, ocorrem reações físicas, químicas e biológicas


que determinam os diferentes processos, e respectivas tendências (Tabela 1).

Tabela 1. Tipos de processos de formação do solo e exemplos.

Processos Exemplos
Transformação • Ruptura da rede cristalina dos minerais primários
• Gênese dos minerais de argila
• Decomposição da matéria orgânica
Remoção • Lixiviação de elementos para o lençol freático
Translocação • Eluviação de matéria orgânica, argila silicatada e óxidos do
horizonte A para o B
Adição • Incorporação de matéria orgânica ao solo
• Sedimentação ligeira
Fonte: Simonson (1959).

Os processos de pedogênese estão ligados ao tempo que, por sua


vez, é controlado pelo relevo. Os fatores ativos (clima e organismos) atuam
de cima para baixo, isto é, os solos são mais intemperizados (velhos) na
superfície do que em camadas mais profundas. A Fig. 1 ilustra a interde-
pendência entre os fatores e os processos de formação do solo.

Horizonte A

Os agentes de intemperismo atuam na rocha de cima para baixo.


Amedida que aumenta a intensidade de intemperismo, formam-se camadas
mais ou menos paralelas à superfície, chamadas "horizontes".
A primeira camada "terrosa" que se forma é mais rica em matéria
orgânica e, por estar na superfície, é a camada que é mais afetada por
fatores externos. Essa primeira camada mais escura é chamada de
"horizonte A".

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Classes de Solo e Irrigação

Clima e organismos

Processos

Tempo

Rocha Solo
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -~
Controlado pelo relevo

Fig. 1. Fatores de formação do solo e da pedogênese.


Ilustração: Idmar Pedra.

Principais tipos de horizonte A

Horizonte hístico: horizonte que se caracteriza pela acumulação


de resíduos orgânicos depositados superficialmente. Apresenta coloração
escura e constitui-se de camadas superficiais espessas em solos orgânicos
ou de espessura maior ou igual a 20 cm quando sobrejacente a material
mineral.
Horizonte A húmico: horizonte superficial, muito rico em matéria
orgânica (mesmo quando tem alto teor de carbono % peso - em relação à
profundidade e ao teor de argila), espesso, bastante escuro e com baixa
saturação de bases.
Horizonte A chernozêmico: horizonte mineral superficial, relativa-
mente espesso, escuro, rico em matéria orgânica (> 1 %), no qual cátions
divalentes (principalmente o cálcio) dominam o complexo sortivo. A saturação
de bases é igualou superior a 65 %, e o teor de PPs solúvel em ácido
cítrico ;:::1 % é inferior a 250 mg kq' de solo. Apresenta estrutura granular
ou grumosa, normalmente bem desenvolvida, e consistência macia quando
seco, e friável quando úmido.
Horizonte A proeminente: semelhante ao horizonte A cherno-
zêmico em cor, consistência, estrutura, conteúdo de carbono orgânico e de

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Uso e Manejo de Irrigação

PPs e espessura, mas apresentando saturação de bases inferior a 65 % e


diferindo do horizonte A húmico por não satisfazer os requisitos quanto ao
teor de carbono orgânico em relação à profundidade e ao teor de argila.
Horizonte A moderado: horizonte superficial que apresenta teores
de carbono orgânico variáveis, espessura e/ou cor que não satisfaçam
aquelas requeridas para caracterizar um horizonte A chernozêmico ou
proeminer-te. além de não satisfazer os requisitos para caracterizar um
horizonte A antrópico, horizonte A fraco e horizonte turfoso. É o mais
comum nos solos brasileiros.
Horizonte A fraco: horizonte superficial, que apresenta teores de
carbono orgânico inferiores a 0,6 % (1 % de matéria orgânica), cores muito
claras, com valores superiores a quatro quando úmidos, e sem
desenvolvimento de estrutura ou fracamente desenvolvida. É um horizonte
característico da grande maioria dos solos da zona sem i-árida, com
vegetação de caatinga hiperxerófila e bastante freqüentes em solos bem
arenosos.
Horizonte A antrópico: horizonte formado ou modificado pela ação
do homem. Caracteriza-se por apresentar teor de P20s solúvel em ácido
cítrico mais elevado que na parte inferior do so/um, em geral superior a
250 mg kq' de solo.
Solos em que o horizonte A ocorre diretamente sobre a rocha (R) são
chamados de "Neossolos Litólicos" (Fig. 2). °
prefixo lito (= rocha) indica
que o solo tem características diretamente herdadas da rocha.

R
Fig. 2. Seqüência
de horizontes tipo
AR e ACR, típica
de Neossolos
Litólicos.
Ilustração: Idmar Pedra.

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Horizonte C

Continuando o processo de intemperismo, em seguida há uma camada


composta que é mais influenciada pela matéria orgânica superficial (Horizon-
te A), camada essa composta predominantemente de fragmentos de rochas
e algum material "terroso". Ela é conhecida por "Horizonte C". Solos com
seqüência de horizontes tipos A, C, R são também chamados de Neossolos
Litólicos (Fig. 2).

Horizonte B

Continuando o processo de pedogênese, a camada de intemperismo


vai aumentando de espessura. Os fragmentos de rocha do Horizonte C vão
se decompondo até o ponto em que o material "terroso" predomina sobre
o material que ainda guarda a estrutura da rocha. Ao atingir o ponto em que
o horizonte adquire uma estrutura típica do solo, embora ainda possa apre-
sentar algum vestígio de estrutura da rocha, diz-se que há um Horizonte B.
Horizonte B incipiente: quando o horizonte B apresenta uma certo
grau de evolução, porém não suficiente para meteorizar completamente
minerais primários de fácil intemperização, lhe é dado o nome de "Horizonte
B Incipiente". Os solos mais comuns que apresentam um Horizonte B
Incipiente são chamados de Cambissolos (Fig. 3).
Horizonte B textural: com a evolução da pedogênese, pode-se ter
a translocação de argila (textura) do horizonte A para o horizonte B, criando

Fig. 3. Solos com


Horizonte B
Incipiente.
Ilustração: Idmar Pedra. Ida-(B)

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um gradiente textural pronunciado, isto é, média dos teores de argila dos


horizontes B dividida pelo dos horizontes A. Cerosidade, isto é, películas de
argila que envolvem os agregados, geralmente blocos subangulares, definem
essa translocação (Fig. 4). O fato de o horizonte superficial ser menos argiloso
do que o horizonte B quase sempre significa uma mudança (diminuição) na
permeabilidade com o aumento da profundidade. É o horizonte típico dos
Argissolos (antigos Podzólicos), entre outros.

Foto: Luiz Marcelo Aguiar Sans

Fig. 4. Solos
com Horizonte B
Textural.
BI Ilustração: Idmar Pedro.

c
R

Horizonte B nítico: diferencia-se do B textural por não apresentar


incremento de argila do horizonte A para o B, ou quando o incremento não
é suficiente para caracterizar a relação textural B/A do B textural.

Horizonte B latossólico: à medida que o intemperismo atua e se a


taxa de pedo-gênese for maior do que a taxa de remoção (erosão), aumenta-
se a espessura do manto de intemperismo. Nessas condições, o material
tem mais tempo de exposição aos processos pedogenéticos e o solo torna-
se mais "velho". Solos em avançado estágio de intemperismo apresentam
um horizonte B que se caracteriza por uma concentração relativa de óxidos
de ferro e de alumínio, argilas pouco ativas e totalmente floculadas, virtual
ausência de minerais facilmente intemperizáveis. Esse tipo de horizonte é
chamado de B Latossólico. (Fig. 5). Solos B Latossólico são chamados de
Latossolos (lato =amplo). Sãb solos muito profundos, muito friáveis, tendo
a massa do solo um aspecto maciço e muito poroso. Apresentam seqüência

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Classes de Solo e Irrigação

de horizonte ABC com transição normalmente difusa e plana entre os sub-


horizontes do B.

~
C
ru
V)

A
'"
'S
rn
<l:
Fig. 5. Os o
ai
Latossolos
AS
~
ro
apresentam perfis 2
N
muito profundos 3
e transições o
difusas entre os ~
sub-horizontes. Sw

Ilustração: Idmar Pedro.

Horizonte glei

Em virtude da posição na paisagem, há, na gênese de alguns solos, a


atuação de um fator local- a topografia =, condicionando um lençol freático
elevado e, conseqüentemente, condições de baixo potencial de oxirredução
(deficiência de oxigênio). Nessas condições, há uma intensa redução do
ferro, evidenciada nas cores cinzento-oliváceas, esverdeadas, azuladas,
típicas do horizonte glei. Essascores apresentam-se em colorido uniforme
ou compondo mosqueamento (manchas), em quantidade comum ou
abundante.
Esseé o horizonte glei e sua presença, a menos de 50 cm de profun-
didade, é um dos critérios utilizados para identificar os Gleissolos.
Nos solos Neossolos Flúvicos, aqueles formados em depósitos alu-
viais recentes e caracterizados por uma sucessão de camadas estratifica-
das sem relação pedogenética entre si, é comum a presença de horizonte
glei em maiores profundidades (Fig. 6).

Horizonte vértico

Caracteriza-se pela expansão e contração das argilas, o que lhe


confere feições pedológicas típicas denominadas "superfícies de fricção"

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Uso e Manejo de Irrigação

c, N

3
B Fig. 6. Solos Neossolos
c, ~ Flúvicos (Aluviais):
apresentam uma
sucessão de camadas
c, sem relações
pedogenéticas entre si.
c, Ilustração: Idmar Pedra.

(slickensides). Deve ter, no rmrumo, 20 cm de espessura e coeficiente de


expansão de Cole deve ser 0,06 ou expansibilidade linear de 6 cm ou mais.

Horizonte plíntico

Horizonte com, no mínimo, 15 cm de espessura, com presença de plinti-


ta (conglomerado ferro-manganífero) em quantidade igualou superior a 15 %.

Horizonte cálcico

Caracteriza-se por conter 15 % ou mais de carbonato de cálcio


equivalente.

Atividades das argilas

Refere-se à capacidade de troca de cátions (valor T) da fração mineral,


deduzida a contribuição da matéria orgânica. Atividade alta: valor igualou
superior a 27 meq 100 s
de argila. Atividade baixa: inferior a esse valor,
após a dedução da contribuição do carbono orgânico. A equação que se
segue pode ser utilizada:

T100gargila = [T1009S010 - (%C.4,5)]. 100. (1)


% argila
Em que T é a capacidade de troca de cátion, e C o conteúdo de
carbono orgânico do solo.

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Eutrofismo, distrofismo e característica álica

Eutrófico: solo que apresenta saturação de bases (valor V) igualou


superior a 50%.
Distrófico: solo que apresenta saturação de bases (valor V) inferior
a 50%.
Álico: denominação empregada para especificar "saturação com
alumínio trocável" igualou superior a 50%, calculada pela expressão
(100 AI3+AI3++ S), em que S = soma de cátions básicos trocáveis (Ca2+ +
Mg2+ + K+ + Na+) e, concomitantemente, teor de alumínio extraível igualou
superior a 0,3 cmol kq'. Normalmente, A13+representa a acidez por solução
neutra de KCI 1N.

Classificação de solos
A classificação de objetos é essencial para organizar os nossos
conhecimentos, propiciando à mente uma visão global e sistemática dos
objetos classificados e facilidade em relacioná-Ios. A classificação tem
ocupado uma posição central em todos os ramos das ciências naturais,
incluindo os estudos de solo. A ciência do solo, uma disciplina relativamente
nova comparada a outros campos, como botânica, biologia, zoologia e
mineralogia, sente a falta de um sistema taxonômico internacionalmente
aceito. Muitos fatores são responsáveis pela larga variedade de esquemas
de classificação, mas tal proliferação é talvez devida em parte a propriedades
peculiares dos solos, os quais existem como sistemas multidimensionais no
espaço e no tempo.
Portanto, o propósito da classificação é:
a) Organizar os conhecimentos (contribuindo, dessa maneira, para a
economia de pensamento).
b) Salientar e entender relações entre indivíduos e classes da popula-
ção, ao ser classificada.
c) Relembrar propriedades dos objetos classificados.
d) Apreender novas relações e princípios da população que está sendo
classificada.
e) Estabelecer grupos ou subdivisões (classes) de objetos em estudo,
de uma maneira útil para propósitos práticos, aplicados em:
- predizer seu comportamento;
- identificar seus melhores usos;

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Uso e Manejo de Irrigação

- estimar sua produtividade;


- prover objetos ou unidades para pesquisa e para extensão e
extrapolação dos resultados de pesquisa ou de nossas obser-
vações.
Uma classificação natural ou taxonãmica é aquela em que o propósito
é, tanto quanto possível, o de revelar relações das propriedades mais
importantes da população, sendo classificada sem referência a nenhum
objetivo específico. A classificação aplicada seria, por exemplo, o mapa de
aptidão agrícola dos solos de uma determinada propriedade agrícola. Numa
classificação natural, praticamente todos os atributos da população são
considerados e aqueles que têm maior número de características co-
variantes ou associadas são selecionados para definir e separar as várias
classes. Nos atuais sistemas de classificação do solo, tenta-se aproximar o
mais possível do sistema de classificação natural, embora haja a tendência
de dar-se peso a propriedades de maior relevância agrícola (FINKL, 1982).

Classificação brasileira de solos

A classificação usada no Brasil é profundamente relacionada com a


ocorrência do solo na paisagem. Objetiva principalmente servir ao
levantamento de solos. Isso torna a correspondência entre os conceitos de
cada classe e a ocorrência dos solos na paisagem muito estreita.
Os sistemas de classificação que eram usados no Brasil são, de certa
forma, uma mistura de nomes antigos com conceituações novas. Alguns
nomes dos sistemas americanos de 1938 (com revisões de 1949) foram
adotados, mas definidos de uma forma mais precisa; algumas conceituações
de Soi! taxonomy (SOlL..., 1975) são usadas, mas não estritamente, assim
como alguns conceitos da FAO (FAO, 1979).
O Sistema Brasileiro de Classificação de Solos, a partir da década de
1970, passou a ser objeto de um projeto nacional do qual participam várias
instituições, buscando definir um sistema hierárquico multicategórico e aberto,
que permita a inclusão de novas classes e que torne possível classificar
todos os solos do território nacional. Essa parceria foi desenvolvida na forma
de aproximações sucessivas, de modo a permitir o aprimoramento constante.
Em 2006, após a quarta aproximação e segunda edição, foi publicado o que se
denominou Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (EMBRAPA, 2006).
Aqui será apresentado apenas um esboço das principais classes de
solos do Brasil, extraído diretamente daquela publicação (EMBRAPA, 2006).

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Classes de Solo e Irrigação

Nomenclatura das classes

No primeiro nível categórico (ordem), os nomes das classes são


formados pela associação de um elemento formativo com a terminação
"solos". Na Tabela 2, são apresentados os nomes das classes, os respectivos
elementos formativos e seus significados.

Tabela 2. Nomes das classes de solos brasileiros, respectivos elementos


formativos e seus significados.

Classe Elemento formativo Termos de conotação de memorização


Neossolo Neo Novo. Pouco desenvolvimento
Vertissolo Verti Vértico. Horizonte vértico
Cambissolo Cambi Cambiar. Horizonte B incipiente
Chernossolo Cherno Chernozêmico. Preto, rico em base
Luvissolo Luvi Saturado. Acumulação de argila com elevada
capacidade de troca de cátions
Argissolo Argi Argiluviação. Horizonte B textural com baixa
capacidade de troca de cátions
Nitossolo Nito Nítido. Horizonte B nítico
Latossolo Lato Latossolo. Horizonte B latossólico
Espodossolo Espodo Spodos. Horizonte B espódico
Planossolo Plano Plânico. Horizonte B plânico
Plintossolo Plinto Plintita. Horizonte plíntico
Gleissolo Glei Glei. Horizonte glei
Organossolo Organo Orgânico. Horizonte H ou O hísticos

Fonte: Embrapa (2006).

Base e critérios

A "base" é definida como ordem de consideração que governa a


formação das classes. Os "critérios" são elementos por meio dos quais as
classes são diferenciadas na aplicação do sistema aos solos, isto é, atributos
que distinguem as classes das demais de mesmo nível categórico. Constituem
as características diferenciais da classe.
A base e os critérios envolvidos na conceituação e na definição das
classes ora reconhecidos são os que se seguem.
Neossolos: grupamento de solos pouco evoluídos, com ausência de
horizonte B diagnóstico.

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Uso e Manejo de Irrigação

Base - solos em via de formação, seja pela reduzida atuação dos pro-
cessos pedogenéticos, seja por características inerentes ao material originário.

Critérios - insuficiência de manifestação dos atributos diagnósticos


que caracterizam os diversos processos de formação. Exígua diferenciação
de horizontes, com individualização de horizonte A, seguido de C ou R.
Predomínio de características herdadas do material originário.

Vertissolos: grupamento dos Vertissolos.

Base - desenvolvimento restrito pela grande capacidade de movimen-


tação do material constitutivo do solo em conseqüência dos fenômenos de
expansão e contração causados pela alta atividade das argilas.

Critério - expressão e profundidade de ocorrência dos atributos resul-


tantes dos fenômenos de expansão e de contração do material argiloso
inorgânico constitutivo do solo.

Cambissolos: grupamento de solos pouco desenvolvidos com horizon-


te B incipiente.

Base - pedogênese pouco avançada, evidenciada pelo desenvolvi-


mento da estrutura do solo, pela ausência ou quase ausência da estrutura
da rocha, pelo croma mais forte, por matizes mais vermelhos ou por
conteúdo de argila mais elevado que os horizontes subjacentes.
Critério - desenvolvimento de horizonte B incipiente, em seqüência a
horizonte superficial de qualquer natureza, inclusive o horizonte A cherno-
zêmico, quando o B incipiente deverá apresentar argila de atividade baixa
e/ou saturação por base baixa.

Chernossolos: grupamento dos Chernossolos com ou sem acumula-


ção de carbonato de cálcio.
Base - evolução não muito avançada, segundo atuação expressiva
de processo de bissialitização, manutenção de cátions básicos divalentes,
principalmente cálcio, que conferem alto grau de saturação dos colóides e
eventual acumulação de carbonato de cálcio, promovendo reação
aproximadamente neutra, com enriquecimento em matéria orgânica, e
ativando a complexação e a floculação de colóides inorgânicos e orgânicos.

Critério - desenvolvimento de horizonte superficial, diagnóstico,


A chernozêmico, seguido de horizonte C, desde que cálcio ou carbonático,
ou conjugado com horizonte B textural, ou B nítico, ou B incipiente, com ou
sem horizonte cálcico ou caráter carbonático, sempre com argila de atividade
alta e saturação por base alta.

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Classes de Solo e Irrigação

Luvissolos: grupamento de solos com B textural, argila de atividade


alta e saturação por base alta.
Base - evolução, segundo atuação de processos de bissialitização,
conjugada à produção de óxidos de ferro e à mobilização de argila da parte
mais superficial, com acumulações em horizonte superficial.
Critério - desenvolvimento (expressão) de horizonte diagnóstico
B textural em vinculação com cores vivas (bastante cromadas ou com matizes
avermelhados), aliada a alta atividade de argilas e a alta saturação por base,
em seqüência a horizonte A fraco, ou moderado, ou horizonte E.
Argissolos: grupamento de solos com B textural, com argila de
atividade baixa.
Base - evolução avançada com atuação incompleta de processo de
ferralitização, em conexão com paragênese caulinítica - oxídica ou
virtualmente caulinítica, na vigência de mobilização de argila da parte mais
superficial, com concentração ou acumulação em horizonte subsuperficial.
Critério - desenvolvimento (expressão) de horizonte diagnóstico B textural
em vinculação com atributos evidenciadores de baixa atividade de argilas.
Nitossolos: grupamento de solos com horizonte B nítico, com argila
de atividade baixa.
Base - avançada evolução pedogenética, pela atuação de ferratiliza-
ção com intensa hidrólise, originando composição caulinítico-oxídica, com
estrutura em blocos subangulares, angulares ou prismática moderada ou
forte, apresentando superfícies reluzentes relacionadas a cerosidade e/ou
a superfície de compressão.
Critério - desenvolvimento (expressão) de horizonte diagnóstico
B nítico (reluzente) em seqüência a qualquer tipo A. sem gradiente textural,
porém apresentando estrutura em blocos subangulares, angulares ou
prismáticos moderada, forte ou muito forte, com unidades estruturais
apresentando superfície reluzente relacionada a cerosidade e/ou a superfície
de compressão.
Latossolos: grupamento de solos com B latossólico.
Base - evolução muito avançada, com atuação expressiva de processo
de latolização (ferralitização ou laterização), segundo intemperização intensa
dos constituintes minerais primários, e mesmo secundários menos
resistentes, e concentração relativa de argilominerais resistentes e/ou óxidos
e hidróxidos de ferro e alumínio, com inexpressiva mobilização, ou hidróxidos

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Uso e Manejo de Irrigação

de ferro e alumínio, com inexpressiva mobilização ou migração de argila,


ferrólise, gleização ou plintitização.

Critério - desenvolvimento (expressão) de horizonte diagnóstico


B latossólico, em seqüência a qualquer tipo A e quase nulo, ou pouco
acentuado aumento de teor de argila de A para B.

Espodossolos: grupamento de solos com B espódico.

Base - atuação de processo de podzolização (queluviação), com


aluviação de compostos de alumínio com ou sem ferro em presença de
húmus ácido e conseqüente acumulação iluvial desses constituintes amorfos.

Critério - desenvolvimento de horizontes diagnóstico B espódico, em


seqüência a horizonte E (álbico ou não) ou A.

Planossolos: grupamento de solos minerais com horizonte B plânico,


subjacente a qualquer tipo de horizonte A, podendo ou não apresentar
horizonte E (álbico ou não).

Base - desargilização vigorosa da parte mais superficial e acumulação


ou concentração intensa de argila no horizonte superficial.

Critério - expressão de desargilização intensa, evidenciada pela nítida


diferenciação entre o horizonte diagnóstico B plânico e os horizontes
precedentes A ou E, que apresentam mudança textural abrupta; restrição
de permeabilidade em subsuperfície, que interfere na infiltração e no regime
hídrico, com evidências de processos de redução, com ou sem segregação
de ferro, que se manisfesta nos atributos de cor e na mobilização e sorção
do cátion Na'.

Conceito e definição das classes de 1° nível (ordens)

Argissolos
Conceito: compreendem solos constituídos por material mineral os
quais têm, como características diferenciais, argila de atividade baixa e
horizonte B textural (Bt), imediatamente abaixo de qualquer tipo de horizonte
superficial, exceto o hístico, sem apresentar, contudo, os requisitos
estabelecidos para serem enquadrados nas classes dos Alissolos, Planossolos,
Plintossolos ou Gleissolos.

Parte dos solos dessa classe apresenta um evidente incremento


no teor de argila, com ou sem acréscimo, do horizonte B para baixo no perfil.
A transição entre os horizontes A e Bt é geralmente clara, abrupta ou gradual.
Classes de Solo e Irrigação

São de profundidade variável, desde forte a imperfeitamente


drenados, de cores avermelhadas ou amareladas, e, mais raramente,
brunadas ou acinzentadas. A textura varia de arenosa a argilosa no horizonte
A, e de média a muito argilosa no horizonte Bt, sempre havendo aumento
de argila daquele para este.
São forte a moderadamente ácidos, com saturação por bases alta,
ou baixa, predominantemente cauliníticos e com relação molecular Ki
variando de 1,0 a 2,3, em correlação com baixa atividade das argilas.
Definição: solos constituídos por material mineral com argila de
atividade baixa e horizonte B textural imediatamente abaixo de horizonte
A ou E, apresentando, ainda, os seguintes requisitos:
• Horizonte plíntico, se presente, não está acima, nem coincide com
a parte superficial do horizonte B textural .
• Horizonte glei, se presente, não está acima nem coincide com a
parte superficial do horizonte B textural.
Abrangência: nesta classe estão incluídos os solos que foram classi-
ficados pela Embrapa Solos como Podzólico Vermelho-Amarelo, argila de
atividade baixa, pequena parte de Terra Roxa Estruturada, de Terra Roxa
Estruturada Similar, de Terra Bruna Estruturada e de Terra Bruna Estruturada
Similar, todos com gradiente textural necessário para B textural, em qualquer
caso eutróficos, distróficos ou álicos, e, mais recentemente, o Podzólico
Vermelho-Escuro com B textural e o Podzólico Amarelo.

Cambissolos

Conceito: compreendem solos constituídos por material mineral, com


horizonte B incipiente subjacente a qualquer tipo de horizonte superficial,
desde que, em qualquer dos casos, não satisfaçam os requisitos
estabelecidos para serem enquadrados nas classes Vertissolos, Chernossolos,
Plintossolos ou Gleissolos. Têm seqüência de horizontes A ou hístico, Bi, C,
com ou sem R.
Por conta da heterogeneidade do material de origem, das formas de
relevo e das condições climáticas, as características desses solos variam
muito de um local para outro. Assim, a classe comporta desde solos forte-
mente até imperfeitamente drenados, de rasos a profundos, de cor bruna
ou bruna imperfeitamente drenados, de rasos a profundos, de cor bruna ou
bruno-amarelada até vermelho-escura, e de alta a baixa saturação por bases
e atividade química da fração coloidal.

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Uso e Manejo de Irrigação

o horizonte B incipiente (Bi) tem textura franco-arenosa ou mais


argilosa, e o solum geralmente apresenta teores uniformes de argila,
podendo ocorrer ligeiro decréscimo ou pequeno incremento de argila do
A para o Bi. Admite-se diferença marcante do A para o Bi em casos de solos
desenvolvidos de sedimentos aluviais, ou em outros casos em que há
descontinuidade litológica.

A estrutura do horizonte Bi pode ser em blocos, granular ou prismática,


havendo casos, também, de estruturas em grãos simples ou maciça.

Horizonte com plintita ou com gleização pode estar presente em solos


dessa classe, desde que não satisfaça os requisitos exigidos para ser incluído
nas classes dos Plintossolos ou Gleissolos, ou que se apresente em posição
não-diagnóstica com referência à seqüência de horizontes do perfil.

Alguns solos dessa classe possuem características morfológicas


similares às dos solos da classe dos Latossolos, mas distinguem-se desses
por apresentar uma ou mais das características abaixo especificadas, não-
compatíveis com solos muito evoluídos:

.4 % ou mais de minerais primários alteráveis ou 6 % ou mais de


muscovita na fração areia total.
• Capacidade de troca de cátions, sem correção para carbono,
~17 crnol, kq' de argila.
• Relação molecular SiO/AI203(ki) > 2,2.
• Teores elevados em silte, de modo que a relação silte/argila seja
> 0,7 nos solos de textura média ou > 0,6 nos de textura argilosa,
principalmente nos solos do cristalino.
• 5 % ou mais do volume do solo constando de fragmentos de rocha
semi-intemperizada, saprolito ou restos de estrutura orientada da
rocha que deu origem ao solo.

Definição: solos constituídos por material mineral, os quais apresentam


horizonte A ou hístico com espessura < 40 cm, seguido de horizonte
B incipiente, e que satisfaçam os seguintes requisitos:

• B incipiente não coincida com horizonte glei dentro de 50 cm da


superfície do solo.
• B incipiente não coincida com horizonte plíntico.
• B incipiente não coincida com horizonte vértico dentro de 100 cm
da superfície do solo.
• Não apresente a conjugação de horizontes A chernozêmico e
horizonte B incipiente com alta saturação por bases de argila de
atividade alta.

32
Classes de Solo e Irrigação

Abrangência: esta classe compreende os solos anteriormente clas-


sificados como Cambissolos, inclusive os desenvolvidos em sedimentos
aluviais. São excluídos dessa classe os solos com horizonte A chernozêmico
e horizonte B incipiente com alta saturação por bases e argila de atividade alta.

Chernossolos

Conceito: compreendem solos constituídos por material mineral, os


quais têm, como características discriminante: alta saturação por bases,
argila de atividade alta e horizonte A chernozêmico sobrejacente a um horizonte
B textural, B nítico, B incipiente ou horizonte C cálcico ou carbonático.
São solos normalmente pouco coloridos (escuros ou com tonalidades
pouco cromadas e matizes pouco avermelhadas), bem a imperfeitamente
drenados, tendo seqüências de horizontes A-Bt-C ou A-Bi-C, com ou sem
horizonte cálcico, A-C cálcio ou carbonático, sem apresentar, contudo,
requisitos para serem enquadrados nas classes dos Vertissolos, Planossolos
ou Gleissolos.
É admitida, nessa classe, a presença de gleização ou de horizonte
glei, assim como de propriedade sádica, superfície de fricção e mudança
textural abrupta, desde que com expressão insuficiente, quantitativa e
qualitativamente, ou sem posição não-diagnástica quanto à seqüência de
horizontes no perfil, para serem enquadrados nas classes dos Vertissolos,
Plantossolos ou Gleissolos.
São solos moderadamente ácidos a fortemente alcalinos, com relação
molecular Ki normalmente entre 3,0 e 5,0, argila de atividade alta, com
valor T por vezes superior a 100 crnol, kq' de argila, saturação por bases
alta, geralmente superior a 70 %, e com predomínio de cálcio ou cálcio e
magnésio entre os cátions trocáveis.
Embora sejam formados em condições de clima bastante variáveis e
de diferentes materiais de origem, o desenvolvimento desses solos depende
da conjunção de condições que favoreçam a formação e a persistência de
argilominerais 2: 1, especialmente do grupo das esmectitas, e de um horizonte
superficial rico em matéria orgânica e com alto conteúdo de cálcio e
magnésio.
Definição: solos constituídos por material mineral, que apresentam
A chernozêmico seguido por:
• Horizonte B incipiente, B textural ou B nítico, com argila de atividade
alta e saturação por bases alta.

33
Uso e Manejo de Irrigação

• Horizonte cálcico ou com caráter carbonático, coincidindo com o


horizonte A chernozêmico e/ou com horizonte C. admitindo-se entre
dois horizontes Bi com espessura < 10 cm .
• Contato lítico, desde que o horizonte A chernozêmico contenha
15 % ou mais de carbonato de cálcio equivalente.
Abrangência: está incluída nesta classe a maioria dos solos que foram
classificados pela Embrapa Solos como Brunizem, Rendzina, Brunizem
Avermelhado, Brunizem Hidromórfico.

Espodossolos

Conceito: compreendem solos constituídos por material mineral com


horizonte B espódico subjacente a horizonte eluvial E (álbico ou não), ou
subjacente a horizonte A, que pode ser de qualquer tipo, ou, ainda, subja-
cente a horizonte hístico com menos de 40 cm de espessura. Apresentam,
geralmente, seqüência de horizontes A, E, Bh, Bhs ou Bs e C. com nítida
diferenciação de horizontes.
A cor do horizonte A varia de cinzenta até preta, e a do horizonte E
de cinzenta ou acinzentado-clara até praticamente branca (bleicherde).
A cor do horizonte Bh varia desde cinzenta, de tonalidade escura, até preta,
enquanto no Bs as cores são variáveis, desde avermelhadas até amareladas.
São solos cuja profundidade é bastante variável, havendo constatações
de horizonte E com 3 m a 4 m de espessura.
A textura do solum é predominantemente arenosa, sendo menos
comumente textura média e raramente argilosa (tendente para média ou
siltosa) no horizonte B. A drenagem é muito variável, havendo estreita relação
entre profundidade, grau de desenvolvimento, endurecimento ou cimenta-
ção do B e a drenagem do solo.
São solos muito pobres, moderada a fortemente ácidos, normalmente
com saturação por bases baixa, sendo peculiares elevados teores de alumínio
extraível. Podem apresentar fragipã, duripã, ortstein ou orterde.
São desenvolvidos principalmente de materiais areno-quartzosos, em
condições de umidade elevada, em clima tropical e subtropical, em relevo
plano, suave ondulado, áreas de surgente, abaciamento e depressões, sob
diversos tipos de vegetação.
Definição: solos constituídos por material mineral, apresentando
horizonte B espódico, imediatamente abaixo de horizonte E ou A, dentro
de 200 cm da superfície de solo, ou de 400 cm, se a soma dos horizontes
A + E ou do horizonte hístico + E ultrapassar 200 cm de profundidade.

34
Classes de Solo e Irrigação

Abrangência: nesta classe estão incluídos todos os solos que foram


classificados pela Embrapa Solos como Podzol, inclusive podzol hidromórfico.

Gleissolos

Conceito: compreendem solos hidromóricos, constituídos por material


mineral, e apresentam horizonte glei dentro dos primeiros 50 cm da superfície
e
do solo, ou a profundidades entre 50 cm 125 cm, desde que imediatamente
abaixo de horizontes A ou E (gleisados ou não), ou precedidos por horizonte
B incipiente, B textural ou C com presença de mosqueados abundantes
com cores de redução. Excluem-se da presente classe os solos com carac-
terísticas distintas dos Vertissolos, Espodossolos, Planossolos, Plintossolos
ou Organossolos.

Os solos dessa classe são permanente ou periodicamente saturados


por água, salvo se artificialmente drenados. A água de saturação ou
permanece estagnada internamente, ou a saturação é por fluxo lateral no
solo. Em qualquer circunstância, a água do solo pode se elevar por ascensão
capilar, atingindo a superfície.

Caracterizam-se pela forte gleização, em decorrência do regime de


umidade redutor, que se processa em meio anaeróbico, com muita
deficiência ou mesmo ausência de oxigênio, em virtude do encharcamento
do solo por longo período ou durante todo o ano.

O processo de gleização implica a manifestação de cores acinzentadas,


azuladas ou esverdeadas, por conta dos compostos ferrosos resultantes da
escassez de oxigênio causada pelo encharcamento. Provoca, também, a
redução e a solubilização de ferro, promovendo translocação e reprecipi-
tação dos seus compostos.

São solos mal ou muito mal drenados, em condições naturais, que apre-
sentam seqüência de horizontes A-Cg, A-Big-Cg, A-E-Btg-Cg, A-Eg-Bt-Cg,
Ag-Cg, H-Cg, tendo o horizonte A cores desde cinzenta até preta, espes-
sura normalmente entre 10 cm e 50 cm e teores médios a altos de carbono
orgânico.

O horizonte glei, que pode ser um horizonte C, B, E ou A, possui cores


predominantemente mais amarelas que 10Y, de cromas bastante baixos,
próximos do neutro.

São solos que ocasionalmente podem ter textura arenosa (areia ou


areia franca) somente nos horizontes superficiais, desde que seguidos de
horizonte glei, textura franco-arenosa ou mais fina.

35
Uso e Manejo de Irrigação

Afora os horizontes A, H ou E que estejam presentes, a estrutura é


em blocos ou prismática composta, ou não, de blocos angulares e subangu-
lares. Quando molhado, o horizonte apresenta-se, em geral, com aspecto
maçico.
Podem apresentar horizonte sulfúrico, cálcico, propriedade solódica,
sódica, caráter sálico, ou plintita em qualidade ou posição não-diagnóstica
para enquadramento na classe dos Plintossolos.
São solos formados em materiais originários estratificados, ou não, e
sujeitos a constante ou periódico excesso d'água, o que pode ocorrer em
diversas situações. Comumente, desenvolvem-se em sedimentos recentes
nas proximidades dos cursos d'água e em materiais colúvio-aluviais sujeitos
a condições de hidromorfia, podendo formar-se também em áreas de relevo
plano de terraços fluviais, lacustres ou marinhos, como também em materiais
residuais em áreas abaciadas e depressões. São eventualmente formados
em áreas inclinadas, sob a influência do afloramento de água subterrânea
(surgentes). São solos formados sob vegetação hidrófila ou higrófila
herbácea, arbustiva ou arbórea.
Definição: solos constituídos por material mineral, com horizonte glei
dentro dos primeiros 50 cm da superfície, ou entre 50 cm e 125 cm, desde
que imediatamente abaixo de horizonte A ou E, ou precedido por horizonte
B incipiente, B textural, ou horizonte C, com presença de mosqueados
abundantes, com cores de redução, e que satisfaçam os seguintes requisitos:
• Ausência de qualquer tipo de horizonte B diagnóstico acima do
horizonte glei.
• Ausência de horizonte vértico ou plíntico acima do horizonte glei ou
coincidente com esse.
• Ausência de horizonte B textural com mudança textural abrupta.
• Ausência de horizonte hístico com 40 cm ou mais de espessura.
Abrangência: esta classe abrange os solos que foram classificados
pela Embrapa Solos como Glei Pouco Húmico, Glei Húmico, parte do
Hidromórfico Cinzento (sem mudança textural abrupta), Glei Tiomórfico e
Solonchack com horizonte glei.

Latossolos

Conceito: compreendem solos constituídos por material mineral, com


horizonte B latossólico imediatamente abaixo de qualquer um dos tipos de
horizonte diagnóstico superficial, exceto H hístico.

36
Classes de Solo e Irrigação

São solos em avançado estágio de intemperização, muito evoluídos,


como resultado de energéticas transformações no material constitutivo
(salvo minerais pouco alteráveis). Os solos são virtualmente destituídos de
minerais primários ou secundários menos resistentes ao intemperismo, têm
baixa capacidade de troca de cátions, inferior a 17 cmoVkg de argila sem
correção para carbono, comportando variações desde solos predominan-
temente cauliníticos, com valores de ki mais altos, em torno de 2,0,
admitindo-se o máximo de 2,2, até solos oxídicos de ki extremamente baixo.

Variam de fortemente a bem drenados, embora ocorram variedades que


têm cores pálidas, de drenagem moderada ou até mesmo imperfeitamente
drenados, transicionais para condições de maior grau de gleização.

São normalmente muito profundos, sendo a espessura de solum


raramente inferior a 1 m. Têm seqüência de horizontes A, B, C, com pouca
diferenciação de horizontes, e transição geralmente difusas ou graduais.
Diferentemente das cores escuras do A, o horizonte B tem uma aparência
viva, cujas cores variam de amarelas a bruno-acinzentadas, nos matizes
2,5YR a 10YR, dependendo da natureza, da forma e da quantidade dos
constituintes - mormente dos óxidos e hidróxidos de ferro - segundo
condicionamento de regime hídrico e drenagem do solo, dos teores de ferro
na rocha de origem e se a hematita é herdada dele ou não. No horizonte C,
comparativamente menos colorido, a expressão cromática é bem variável,
mesmo heterogênea, dada a natureza mais saprolítica. O incremento de
argila do A para o B é pouco expressivo, e a relação textural B/A não satisfaz
os requisitos para B textural. De um modo geral, os teores da fração argila
no solum aumentam gradativamente com a profundidade, ou permanecem
constantes ao longo do perfil. Tipicamente, é baixa a mobilidade das argilas
no horizonte B, ressalvados comportamentos atípicos, de solos desenvol-
vidos de material arenoso quartzoso, de constituintes orgânicos ou com
~pH positivo nulo.

São, em geral, solos fortemente ácidos, com baixa saturação por bases,
distróficos ou álicos. Ocorrem, todavia, solos com média e até mesmo alta
saturação por bases, encontrados geralmente em zonas que apresentam
estação seca pronunciada, semi-áridas ou não, como também em solos
formados de rochas básicas.

São típicos das regiões equatoriais e tropicais, ocorrendo também


em zonas subtropicais, distribuídos, sobretudo, por amplas e antigas
superfícies de erosão, pedimentos ou terraços fluviais antigos, normalmente
em relevo plano e suave ondulado, embora possam ocorrer em áreas mais

37
Uso e Manejo de Irrigação

acidentadas, inclusive em relevo montanhoso. São originados das mais


variadas espécies de rochas, em condições de clima e tipos de vegetação
os mais diversos.
Definição: solos constituídos por material mineral, apresentando
horizonte B latossólico, imediatamente abaixo de qualquer tipo de horizonte
A, dentro de 200 cm da superfície do solo ou dentro de 300 cm, se o
horizonte A apresentar mais que 150 cm de espessura.
Abrangência: nesta classe estão incluídos todos os Latossolos, exce-
tua das algumas modalidades anteriormente identificadas como Latossolos
plínticos.

Luvissolos

Conceito: compreendem solos minerais, não-hidromórficos, com


horizonte B textural ou B nítico, com argila de atividade alta e saturação
por bases altas, imediatamente abaixo de horizonte A fraco ou moderado,
ou horizonte E.
Esses solos variam de bem a imperfeitamente drenados, sendo nor-
malmente pouco profundos (60 cm a 120 em), com seqüência de horizontes
A, Bt e C, nítida diferenciação entre horizontes A e Bt, em virtude do
contraste da textura, da cor e/ou da estrutura entre eles. Transição para o
horizonte B textural é clara ou abrupta, e grande parte dos solos dessa classe
possui mudança textural abrupta. Em todos os casos, podem apresentar
pedregosidade na parte superficial e caráter solódico ou sódico na parte
subsuperficial.
O horizonte Bt é de coloração avermelhada, amarelada e, menos
freqüentemente, brunado-acinzentada. A estrutura é geralmente em blocos,
moderada ou fortemente desenvolvida, ou prismática, composta de blocos
angulares e subangulares.
São moderadamente ácidos a ligeiramente alcalinos, com teores de
alumínio extraível baixos ou nulos, e com valores elevados para a relação
molecular Ki no horizonte Bt, normalmente entre 2,4 e 4,0, denotando
presença em quantidade variável, mas expressiva, de argilominerais do
tipo 2: 1.
Definição: solos constituídos por material mineral com argila de
atividade alta, saturação por bases alta e horizonte B textural ou B nítico
imediatamente abaixo de horizonte A fraco ou moderado, ou horizonte E,
e que satisfaçam os seguintes requisitos:

38
Classes de Solo e Irrigação

• Horizonte plíntico, se presente, não esteja acima ou não coincida


com a parte superficial do horizonte B textural ou B nítico.
• Horizonte glei, se ocorrer, não esteja acima do horizonte B textural
ou B nítico, e inicie após 50 cm de profundidade, não coincidindo
com a parte superficial desses horizontes.

Abrangência: nesta classe estão incluídos os solos que foram classifi-


cados pela Embrapa Solos como Bruno Não-Cálcico, Podzólico Vermelho-
Amarelo eutrófico com argila de atividade alta e Podzólico Bruno-Acinzen-
tado eutrófico e alguns Podzólicos Vermelho-Escuro eutróficos com argila
de atividade alta.

Neossolos

Conceito: compreendem solos constituídos por material mineral ou


por material orgânico pouco pedogenéticos em conseqüência da baixa
intensidade de atuação desses processos, que não conduziram ainda a
modificações expressivas do material originário, de características do próprio
material, pela sua resistência ao intemperismo ou composição química e do
relevo que podem impedir ou limitar a evolução desses solos.

Possuem seqüência de horizonte A-R, A-C-R, A-Cr-R, A-C r, A-C, O-R


ou H-C, sem atender, contudo, aos requisitos estabelecidos para serem
enquadrados nas classes dos Chernossolos, Vertissolos, Plintossolos,
Organossolos ou Gleissolos. Essa classe admite diversos tipos de horizontes
superficiais, incluindo o horizonte O ou H hístico, com menos de 30 cm de
espessura quando sobrejacente à rocha ou a material mineral.

Alguns solos têm horizonte B com fraca expressão dos atributos (cor,
estrutura ou acumulação de minerais secundários e/ou colóides). não se
enquadrando em qualquer tipo de horizonte B diagnóstico.

Definição: solos constituídos por material mineral ou por material


orgânico com menos de 30 cm de espessura, não apresentando qualquer
tipo de horizonte B diagnóstico, e que satisfaçam os seguintes requisitos:

• Ausência de horizonte glei, exceto no caso de solos com textura de


areia ou areia franca dentro de 50 cm de superfície do solo, ou
entre 50 cm e 120 cm de profundidade, se os horizontes sobreja-
centes apresentarem mosqueados de redução em quantidade
abundante.
• Ausência de horizonte vértico imediatamente abaixo de horizonte A.

39
Uso e Manejo de Irrigação

• Ausência de horizonte plíntico dentro de 40 cm, ou dentro de 200 cm


da superfície se imediatamente abaixo de horizontes A, e/ou
precedidos de horizontes de coloração pálida, variegada ou com
mosqueados em quantidade abundante, com uma ou mais das
seguintes cores:
- matiz 2,5Y ou 5Y; ou
- matizes 10YR a 7,5Y com cromas baixos, normalmente iguais ou
inferiores a 4, podendo atingir 6, no caso de matiz 10YR .
• Ausência de horizonte A chernozêmico conjugado a horizonte cálcico
ou C carbonático.

Abrangência: nesta classe estão incluídos os solos que foram reco-


nhecidos pela Embrapa Solos como: Litossolos e Solos Litólicos, Regossolos,
Solos Aluviais e Areias Quartzosas (Distróficas, Marinhas e Hidromórficas).
Solos A-C com caráter sálico pertencem à classe dos Gleissolos, pois todos
os Solonchaks (identificados no País) têm horizonte glei.

Pertencem ainda a essa classe solos com horizonte A ou hísticos, como


menos de 30 cm de espessura, seguidos de camadats) com 90 % ou mais
(expresso em volume) de fragmentos de rocha ou do material de origem,
independentemente de sua resistência ao intemperismo.

Nitossolos

Conceito: compreendem solos constituídos por material mineral, com


horizonte B nítico (reluzente) de argila de atividade baixa, textura argilosa
ou muito argilosa, estrutura em blocos subangulares, angulares ou prismática
moderada ou forte, com superfície dos agregados reluzentes, relacionada a
cerosidade e/ou a superfícies de compressão.

Esses solos apresentam horizonte B bem expresso em termos de


desenvolvimento de estrutura e cerosidade, mas com inexpressivo gradiente
textural.

Essa classe não engloba solos com incremento no teor de argila


requerido para horizonte B textural, sendo a diferenciação de horizontes
menos acentuada que aqueles, com transição, clara ou gradual, do A para
o B, e difusa entre sub-horizontes do B. São profundos, bem drenados, de
coloração que varia de vermelha a brunada.

São, em geral, moderadamente ácidos a ácido, com saturação por


bases de baixa a alta, às vezes álicos, com composição caulinítico-oxídica e,
por conseguinte, com argila de atividade baixa.

40
Classes de Solo e Irrigação

Podem apresentar horizonte A de qualquer tipo, inclusive A húmico,


não admitindo, entretanto, horizonte H hístico.

Definição: solos constituídos por material mineral, que apresentam


horizonte B nítico com argila de atividade baixa, imediatamente abaixo do
horizonte A ou dentro dos primeiros 50 cm do horizonte B.

Abrangência: nesta classe se enquadram solos que foram classi-


ficados, na maioria, como Terra Roxa Estruturada, Terra Roxa Estruturada
Similar, Terra Bruna Estruturada, Terra Bruna Estruturada Similar e alguns
Podzólicos Vermelho-Escuros, Podzólicos Vermelho-Amarelos.

Organossolos

Conceito: compreendem solos pouco evoluídos, constituídos por


material orgânico proveniente de acumulações de restos vegetais em grau
variável de decomposição, acumulados em ambientes mal a muito mal
drenados, ou em ambientes úmidos de altitude elevada, que estão saturados
com água por poucos dias no período chuvoso, de coloração preta, cinzenta
muito escura ou marrom e com elevados teores de carbono orgânico.

Se sujeitos a altas taxas de recepção de água (maiores que as causa-


doras de gleização), a formação dos solos é denominada pela acumulação
de material orgânico sobre a superfície. Quando os horizontes ou as camadas
superficiais permanecem saturados de água na maior parte do ano, os
processos de alteração mineral e translocações de produtos secundários
são "substituídos" pela acumulação de matéria orgânica sobre as seções
superficiais e pela formação de peat.

Apresentam, comumente, um horizonte H ou O hístico sobre camadas


orgânicas, por material orgânico do tipo sáprico ou fíbrico, com grande
proporção de resíduos vegetais em grau variável de decomposição.

Apesar da relevância dos contribuintes orgânicos, esses solos apresen-


tam materiais minerais em proporções variáveis, sendo sempre elevados os
teores de carbono orgânico.

Geralmente, são solos fortemente ácidos, apresentando alta capaci-


dade de troca de cátions e baixa saturação por bases, com esporádicas
ocorrências de saturação média ou alta. Podem apresentar horizonte
sulfúrico, materiais sulfídricos, caráter sálico, propriedade sódica ou solódica,
podendo estar recobertos ar deposição pouco espessa « 40 cm de
espessura) de uma camada de material mineral.

41
Uso e Manejo de Irrigação

Ocorrem normalmente em áreas baixas de várzeas, depressões e


locais de surgentes, sob vegetação hidrófila ou higrófila, quer do tipo
campestre, quer florestal. Ocorrem também em áreas que estão saturadas
com água por poucos dias (menos de 30 dias consecutivos) no período das
chuvas, situadas em regiões de altitude elevada e úmidas durante todo o
ano, estando normalmente assentes diretamente sobre rochas.

Definição: solos constituídos por material orgânico em mistura com


maior ou menor proporção de material mineral, e que satisfaçam um dos
seguintes requisitos:
• Solos saturados com água no máximo por 30 dias consecutivos por
ano, durante o período mais chuvoso, e apresentando horizonte
O hístico, sobrejacente a um contato lítico ou sobrejacente a material
fragmentar constituído por 90 % ou mais (em volume) de fragmentos
de rocha (matacões, calhaus e cascalho) e que apresentem um dos
seguintes requisitos:
- 30 cm ou mais de espessura, quando sobrejacente a um contato
lítico; ou
- 40 cm ou mais de espessura; ou
- 60 cm ou mais de espessura se 50 % ou mais do material orgânico
consistir de restos de ramos finos, raízes finas, cascas de árvores e
flores, parcialmente decompostos e com diâmetros menores que 2 cm .
• Solos saturados com água durante a maior parte do ano, na maioria
dos anos (ou artificialmente drenados), e que apresentem uma das
seguintes espessuras:
- 60 cm ou mais, se 50 % ou mais do material orgânico for formado
por fibras de esfagno e/ou sua densidade aparente (úmida) for
< 0,15 g em": ou
- 40 cm ou mais, quer se estendendo em seção única a partir da
superfície, quer tomado, cumulativamente, dentro dos 80 cm
superficiais.
Abrangência: nesta classe estão incluídos os Solos Orgânicos, Sem i-
Orgânicos, Solos Tiomórficos de constituição orgânica ou semi-orgânica e
parte dos Solos Litólicos Turfosos com horizonte O hístico com 30 cm ou
mais de espessura.

Planossolos

Conceito: compreendem solos minerais imperfeitamente ou mal


drenados, com horizonte superficial ou subsuperficial eluvial, de textura

42
Classes de Solo e Irrigação

mais leve, que contrasta abruptamente com o horizonte B imediatamente


subjacente, adensado, geralmente de acentuada concentração de argila,
permeabilidade lenta ou muito lenta, constituindo, por vezes, um horizonte
pã, responsável pela detenção de lençol d'água sobreposto (suspenso), de
existência periódica e presença variável durante o ano.
Podem apresentar qualquer tipo de horizonte A ou E, mas nem sempre
horizonte E álbico, seguidos de B plânico, tendo seqüência de horizonte A,
AB ou A, E (álbico ou não), ou Eq, seguidos de Bt, Btg, Btn ou Btng.

A característica distintiva é a acentuada diferença entre horizontes


A ou E e o B, em virtude da mudança textural abrupta entre eles, requisito
essencial para os solos dessa classe. Decorrência bastante notável nos solos
secos é a exposição de um contato paralelo à disposição dos horizontes,
formando limite drástico, que configura um nídio fraturamento entre os
horizontes A ou E e o B.

Tipicamente, um ou mais horizontes subsuperficiais apresentam-se


adensados, com teores elevados de argila dispersa, constituindo, por vezes,
um horizonte pã, condição essa que responde pela restrição à percolação
de água, independentemente da posição do lençol freático, ocasionando
retenção de água por algum tempo acima do horizonte B, o que se reflete
em feições associadas à umidade.

É característico do horizonteB a presença de estrutura forte em blocos


angulares, freqüentemente com aspecto cúbico, ou então de estrutura
prismática ou colunar, pelo menos na parte superior do referido horizonte.
Por efeito da vigência cíclica de excesso de umidade, ainda que por
períodos curtos, as cores no horizonte B, até mesmo na parte inferior do
horizonte sobrejacente, são predominantemente pálidas, tendendo a acizen-
tadas ou escurecidas, podendo ou não haver ocorrências e até predomínio
de cores neutras de redução, com ou sem mosqueados, conforme especifi-
cado para o horizonte B plânico.

Solos dessa classe podem ou não ter horizonte cálcico, caráter


carbonático, fragipã, duripã, propriedade sódica, solódica, caráter salino
ou sálico. Podem apresentar plintita, desde que em quantidade ou em
posição não-diagnóstica para enquadramento na classe dos Plintossolos.
Os solos dessa classe ocorrem preferencialmente em áreas de relevo
ou suave ondulado, onde as condições ambientais e do próprio solo
favorecem a vigência periódica anual de excesso de água, mesmo que de
curta duração, especialmente em regiões sujeitas a estiagem prolongada,
e até mesmo sob condições de clima sem i-árido.

43
Uso e Manejo de Irrigação

Nas baixadas, várzeas e áreas de depressões, sob condições de clima


úmido, esses solos são verdadeiramente solos hidromórficos, com horizonte
que é simultaneamente glei e de concentração de argila. Entretanto, em
zonas semi-áridas e até mesmo em áreas onde o solo está sujeito a excesso
de água por um curto período, principalmente sob condições de relevo suave
ondulado, não chegam a ser propriamente solos hidromórficos.

Definição: solos constituídos por material mineral com horizonte A


ou E, seguido de horizonte B plânico, e que satisfaçam os seguintes
requisitos:

• Horizonte plíntico, se presente, não esteja acima nem coincida com


o horizonte B plânico .
• Horizonte glei, se presente, coincida com o horizonte B plânico ou
ocorra sob ele.

Abrangência: essa classe corresponde aos solos classificados como


Planossolos, Solonetz-Solodizado e Hidromórficos Cinzentos, que
apresentam mudança textural abrupta.

Plintossolos

Conceito: compreendem solos minerais formados em condições de


restrição à percolação da água, sujeitos ao efeito temporário de excesso
de umidade, de maneira geral imperfeitamente ou mal drenados, que se
caracterizam fundamentalmente por apresentar expressiva plintitização com
ou sem petroplintita ou horizonte litoplíntico, na condição de que não
satisfaçam os requisitos estipulados para as classes dos Neossolos, Cam-
bissolos, Luvissolos, Alissolos, Argissolos, Latossolos, Plantossolos ou
Gleissolos.

São solos que apresentam horizonte B textural sobre ou coincidente


com horizonte plíntico, ocorrendo, também, solos com horizonte B incipiente,
B latossólico, horizonte glei e solos sem horizonte B.

Geralmente são solos bem característicos, podendo o horizonte A


ser de qualquer tipo, tendo seqüência de horizonte A, AB, ou A, E (álbico ou
não), ou Eg, seguidos de horizonte Btf, Bwf ou Cf.

Apesar de a coloração desses solos ser bastante variável, verifica-se


o predomínio de cores pálidas, com ou sem mosqueados de cores
alaranjadas a avermelhadas, ou coloração variegada, acima do horizonte
plíntico. Esse apresenta cores acinzentadas, esbranquiçadas ou até amarelo-

44
Classes de Solo e Irrigação

claras, com mosqueados predominantemente vermelhos ou de coloração


variegada, composta desta última com uma ou mais das cores referidas.
A textura desses solos é variável, sendo franco-arenosa ou mais fina
no horizonte plíntico. Alguns solos possuem mudança textural abrupta.
Predominam os solos fortemente ácidos, com baixa saturação por
bases. Todavia, verifica-se a existência de solos com saturação por bases
média a alta, como também solos com propriedades solódica e sódica.
Em geral, a ocorrência de solos dessa classe está relacionada a terre-
nos de várzeas, áreas com relevo plano ou suavemente ondulado, e menos
freqüentemente ondulado, em zonas geomórficas de baixada. Ocorrem
também em terços inferiores de encostas ou em áreas de surgentes, sob condi-
cionamento quer de oscilação de lençol freático, quer de alagamento ou
de encharcamento periódico por efeito de restrição à percolação ou ao
escoamento de água.
Os plintossolos são típicos de zonas quentes e úmidas, mormente
com estação bem definida, ou que pelo menos apresentem um período
com decréscimo acentuado das chuvas. Ocorrem também na zona equatorial
perúmida e esporadicamente em zona semi-árida.
As áreas mais expressivas desses solos estão situadas no Médio
Amazonas (interflúvios dos rios Madeira, Purus, Juruá, Solimões e Negro),
na Ilha de Marajó, no Amapá, na Baixada Maranhense-Gurupi, no Pantanal,
na Ilha do Bananal e na região de Campo Maior do Piauí.
Definição: solos constituídos por material mineral com horizonte plíntico
começando dentro de 40 cm, ou dentro de 200 cm quando imediatamente
abaixo de horizonte A ou E, ou subjacentes a horizontes que apresentam
coloração pálida ou variegada, ou com mosqueados em quantidade
abundante, e que apresentem uma das seguintes cores:
a) Matizes 2,5Y ou 5Y; ou
b) Matizes 10YR ou 7,5YR, com cromas baixos, normalmente iguais
ou inferiores a 4, podendo atingir 6, no caso de matiz 10YR; ou
c) Mosqueados, quando presentes, em quantidade abundante,
apresentando matizes e cromas de acordo com os itens a ou b,
podendo a matriz do solo apresentar coloração de avermelhada a
amarelada; ou
d) Horizontes de coloração pálida (cores acinzentadas, brancas ou
amarelo-claras), com matizes e croma de acordo com os itens a ou
b. podendo ocorrer ou não mosqueados de coloração de avermelha-
da a amarelada;

45
Uso e Manejo de Irrigação

e) Coloração variegada, com pelo menos uma das cores apresentando


matiz e croma de acordo com os itens a e b.
Abrangência: compõem esta classe os solos que foram reconhecidos
pela Embrapa Solos como Lateritas Hidromórficas de modo geral, parte dos
Podzólicos plínticos, parte dos Glei Húmico e Glei Pouco Húmico e alguns
dos possíveis Latossolos plínticos.

Vertissolos

Conceito: compreendem solos constituídos por material mineral


apresentando horizonte vértico e pequena variação textural ao longo do
perfil, nunca suficiente para caracterizar um horizonte B textural ao longo
do perfil. Apresentam pronunciadas mudanças de volume com o aumento
do teor de umidade no solo, fendas profundas na época seca, evidências
de movimentação da massa do solo, sob a forma de superfície de fricção
(slickensides). Podem apresentar microrrelevo do tipo gilgai e estruturas do
tipo cuneiforme, que são inclinadas e formam ângulo com a horizontal.
Essas características resultam da grande movimentação da massa do solo,
que se contrai quando seco e se expande quando úmido, tornando-se muito
pegajoso, por conta da presença de argilas ou da mistura dessa com outros
tipos de argilominerais.
Apresentam seqüência de horizonte do tipo A-Cv ou A-Biv-C e, neste
último caso, sem atender aos requisitos dos solos da classe dos Chernossolos.
Normalmente, variam de pouco profundos a profundos, mas há ocorrência
de solos rasos. Em termos de drenagem, variam de imperfeitamente a mal
drenados. Quanto à cor, podem ser escuros, acinzentados, amarelados ou
avermelhados. Fisicamente, quando úmidos, têm permeabilidade muito lenta.
Do lado químico, são solos de alta capacidade de troca de cátions, alta
saturação por bases (> 50 %), com teores elevados de cálcio e magnésio, e
alta relação Ki (> 2,0). A reação de pH mais freqüente situa-se da faixa
neutra para a alcalina, podendo, menos freqüentemente, ocorrer na faixa
moderadamente ácida.
A parte correspondente ao horizonte subsuperficial, que já sofreu
transformação suficiente para não ser considerada como saprólito, possui
estrutura prismática composta de blocos ou estrutura em blocos angulares
e subangulares ou cuneiformes. A textura é normalmente argilosa ou muito
argilosa, embora possa ser média nos horizontes superficiais; quanto à
consistência, varia de muito duro a extremamente duro quando seco, sendo
firme e extremamente firme quando úmido, e muito plástico e muito
pegajoso quando molhado.

46
Classes de Solo e Irrigação

São solos desenvolvidos normalmente em ambiente de bacias


sedimentares ou de sedimentos com predomínio de materiais de textura
fina e com altos teores de cálcio e magnésio ou, ainda, diretamente de
rochas básicas ricas em cálcio e magnésio. Estão distribuídos em diversos
tipos de clima, dos mais úmidos (com estação seca definida) aos mais secos,
tendo grande expressão nas bacias sedimentares localizadas na Região Semi-
Árida do Nordeste brasileiro. Quanto ao relevo, esses solos distribuem-se
em áreas aplanadas a pouco movimentadas e, menos freqüentemente, em
áreas movimentadas, como encostas e topos de serras ou serrotes.
Prevalecem as características dos solos dessa classe, mesmo que eles
apresentem horizonte glei, cálcico, duripã, caráter solódico, sódico, salino ou sálico.
São considerados intermediários para Vertissolos os solos com presença
de horizonte vértico, que não atendam, porém, à definição dessa classe, os
quais são adjetivados pela expressão "vértices".
Definição: solos constituídos por material mineral com horizonte vértico
entre 25 cm e 100 cm de profundidade e relação textural insuficiente para
caracterizar um B textural, e que apresentem, além disso, os seguintes requisitos:

• Teor de argila de, no mínimo, 30 % nos 20 cm superficiais, após mistu-


rados.
• Fendas verticais no período seco, com pelo menos 1 cm de largura,
atingindo, no mínimo, 50 cm de profundidade, exceto no caso de
solos rasos, onde o limite mínimo é de 30 cm de profundidade.
• Ausência de contato lítico, ou horizonte petrocálcico, ou duripã
dentro dos primeiros 30 cm de profundidade.
• Em áreas irrigadas ou mal drenadas (sem fendas aparentes), o
coeficiente de expansão linear (COLE) deve ser igualou superior a
0,06, ou a expansibilidade linear deve ser de 6 cm ou mais.
• Ausência de qualquer tipo de horizonte B diagnóstico acima do
horizonte vértico.

Abrangência: nessa classe estão incluídos todos os Vertissolos, inclusive


os hidromórficos.

Correlação entre as classesdo sistema


e a classificação anteriormente usada na Embrapa Solos

Para facilitar o entendimento entre o Novo Sistema e a Classificação


anteriormente usada no Brasil, a Tabela 3 apresenta a correlação entre os
dois sistemas.

47
Uso e Manejo de Irrigação

Tabela 3. Correlação entre as classes do sistema e a classificação anterior-


mente usada pela Embrapa Solos.
Sistema Brasileiro Classificação
de Classificação anteriormente usada
(2006)(1) pela Embrapa Solos
Argissolos Podzólico Vermelho-Amarelo Tb, pequena parte de terra roxa
estruturada, de terra roxa estruturada similar, de Terra Bruna
Estruturada e de Terra Bruna Estruturada Similar, com gradiente
textural necessário para B textural, em qualquer caso Eutróficos,
Distróficos ou Álicos, e, mais recentemente, o Podzólico Vermelho-
Escuro Tb com B textural e o Podzólico Amarelo

Cambissolos Cambissolos Eutróficos, Distróficos e Álicos Ta e Tb. Exceto os com


horizonte A chernozêmico e B incipiente Eutróficos Ta. Cambissolos
Eutróficos, Distróficos e Álicos Ta e Tb. Exceto os com horizonte A
chernozêmico e B incipiente Eutróficos Ta

Chernossolos Brunizem, Rendzina, Brunizem Avermelhado e Brunizem Hidromórfico

Espodossolos Podzol, inclusive Podzol Hidromórfico

Gleissolos Glei Pouco Húmico, Glei Húlico, parte do Hidromórfico Cinzento (sem
mudança textural abrupta), Glei Tiomórfico e Solonchak com horizonte
glei

Latossolos Latossolos, excetuadas algumas modalidades anteriormente


identificadas, como Latossolos Plínticos

Luvissolos Bruno Não-Cálcico, Podzólico Vermelho-Amarelo Eutrófico Ta, Podzólico


Bruno-Acinzentado Eutrófico e os Podzólicos Vermelho-Escuros
Eutróficos Ta

Neossolos Litossolos, Solos Litólicos, Regossolos, Solos Aluviais e Areias Quartzosas


(Distróficas, Marinhas e Hidromórficas)

Nitossolos Terra Roxa Estruturada, Terra Roxa Estruturada Similar, Terra Bruna
Estruturada, Terra Bruna Estruturada Similar e alguns Podzólicos
Vermelho-Escuros Tb e alguns Podzólicos Vermelho-Amarelos Tb

Solos Orgânicos, Solos Sem i-Orgânicos, Solos Tiomórficos Turfosos e


Organossolos
parte dos Solos Litólicos Turfosos com horizonte hístico com 30 cm ou
mais de espessura

Planossolos Planossolos, Solonetz-Solodizado e Hidromórficos Cinzentos, que


apresentam mudança textural abrupta

Plintossolos Lateritas Hidromórficas, parte dos Podzólicos Plínticos, parte dos Glei
Húmico e Glei Pouco Húmico Plínticos e alguns dos possíveis Latossolos
Plínticos

Vertissolos Vertissolos, inclusive os hidromórficos

(1) Embrapa (2006).

48
Classes de Solo e Irrigação

Classes de solo e disponibilidade de água

Assim que termina a chuva e/ou a irrigação, se a água da superfície


tiver desaparecido, diz-se que o processo de infiltração terminou. Na
realidade, o processo de infiltração não pára bruscamente como se alguém
tivesse fechado uma torneira. Num solo saturado, a água tem diferentes
caminhos. Parte move-se para baixo, ou seja, para camadas mais profundas
do solo, sob a ação do potencial gravitacional; outra parte move-se segundo
outros potenciais, fenômeno que é conhecido por" redistribuição".
A infiltração é uma das características físicas que diferenciam os tipos
de solo. Para cada tipo de solo, a água tem um comportamento característico.
Como exemplo, observem-se os diferentes valores de condutividade
hidráulica, o que permite verificar um movimento característico da água
para cada solo. A textura tem também grande influência sobre a capacidade
de armazenamento de água no solo. Utilizando-se curvas características
de umidade provenientes de estudos de solos brasileiros desenvolvidos em
vários locais, foram definidas as funçôes para estimar a disponibilidade de
água no solo. Sans et aI. (2001) estabeleceram funções que permitiram
agrupar as classes de solos segundo a disponibilidade de água. A análise de
tendência foi feita por meio do ajuste de distribuições probabilísticas
determinadas pelas funções, nas suas formas derivadas, a saber:

Gama ~ y' = cxxPe-xly


Logística ~ y' = cxerx/(~ + erx)2
Weibull ~ y' = cx~'Ye-PX\Y-l

em que:

a, ~, 'Ysão os parâmetros de ajustes,


x é a água disponível no solo.

Tomou-se o quadrado médio dos resíduos como critério para a seleção


do modelo mais eficiente para explicar as tendências observadas.
Com base na capacidade de retenção de água disponível, os dados
foram agrupados em classe de freqüência. Fez-se uma análise de tendências
por meio do ajuste de distribuições probabilísticas utilizando o quadrado
médio como critério para a seleção do modelo mais eficiente para explicar
as tendências observadas (Tabela 4).

49
Uso e Manejo de Irrigação

Tabela 4. Parâmetros de ajustes e quadrado médio do resíduo das funções


utilizadas.

Parâmetros de ajuste
Modelo Q.M.R.
(.(
~ y
Gama 0,000567 9,4309 0,8921 10,4753
Logística 0,89106 0,009169 -0,54383 7,5291
Weibull 174,9000 0,000699 3,19040 10,4823

Observa-se, na Tabela 4, que a função logística foi a que melhor


descreveu a tendência de distribuição dos dados, indicando, assim, uma
configuração similar à descrita pela curva normal.

Com base nos resultados, procedeu-se à classificação dos solos em


três tipos, a saber:

Tipo 1 - solo de baixa retenção de água: solos com menos de 5 % de


água disponível (representado por solos com mais de 60 % de areia e teores
de argila menores do que 15 %).

Tipo 2 - solos de média retenção de água: solos com 5 % a 15 % de


água disponível (teores de argila entre 15 % e 35 %).

Tipo 3 - solos com alta retenção: solos com mais de 15 % de água


disponível (teores de argila maiores do que 35 %).

Ficaram, portanto, agrupados em apenas três grupos, ou seja, de


baixa, de média e de alta retenção. Agruparam-se os solos, segundo o
armazenamento de água na zona radicular, em 20 mm (solos de baixa
retenção de água, normalmente solos arenosos), 40 mm (solos de retenção
de água média, geralmente textura média) e 60 mm (solos de alta retenção
de água, normalmente solos de textura argilosa).

O índice de satisfação da necessidade de água para a cultura é uma


função da quantidade de água disponível (CAO) às plantas e das condições
climatológicas. Como a CAO está relacionada com as propriedades físico-
químicas do solo, a classe de solo por si só não define a capacidade de água
disponível. Numa mesma classe de solos, podem ocorrer diferentes CAOs.
Se não for conhecida a capacidade de água disponível, será possível usar a
Tabela 5 como referência, que é uma tentativa de agrupar os solos segundo
sua capacidade de retenção de água.

50
Classes de Solo e Irrigação

Tabela 5. Tabela de classes de solos conforme sua capacidade de retenção


de água, a ser utilizada como referência no caso de ausência de dados
específicos.

Grupo Classes de solo


De baixa a média Neossolos Quartzarênicos
Latossolos álico e distrófico textura média
Latossolos eutróficos textura média fase floresta e caatinga
Argissolo distróficos latossólicos textura arenosa/média
Regossolo eutrófico e distróofico textura arenosa e média
Neossolos Litólicos álicos, distróficos, eutróficos textura arenosa
Solos Concrecionários indiscriminados
Neossolos Flúvicos textura arenosa

Média Latossolo álico, distrófico, eutrófico textura argilosa/média


Argissolos e Luvissolos distróficos eutróficos textura argilosa/média
Neossolos textura argilosa
Cambissolos textura argilosa/média
Neossolos Litólicos textura argilosa
Planossolo Solódico textura arenosa/média
Chernossolos textura média
Neossolo Fluvícos textura média
Plintossolos textura média
Gleissolos textura média
Latossolos férricos textura média

Alta Latossolos textura argilosa/muito argilosa


Latossolos Roxo textura argilosa
Luvissolos e Argissolos textura argilosa/média
Nitossolos estruturada similar textura argilosa
Cambissolos eutróficos textura argilosa
Planossolo Solódico textura argilosa
Planossolos textura média/argilosa
Chernossolos avermelhado textura argilosa
Neossolos flúvicos textura média/argilosa
Gleissolos textura indiscriminada
Luvissolos textura média/argilosa
Vertissolos
Gleissolos textura argilosa

Recentemente, vêm sendo utilizadas funções de pedotransferência


(PTF) para estimar a água disponível nos solos. Várias PTFs, com distintos
graus de sofisticação, têm sido desenvolvidas para estimar a água disponível
tomando como base as propriedades físicas do solo. Porém os modelos mais
simples têm-se baseado na textura do solo. Os modelos normalmente utilizam

51
Uso e Manejo de Irrigação

dados de silte e de argila para estimar os limites superior e inferior de água


disponível, por meio do uso de equações de regressão (ASSAD et al.. 2001).
O uso de valores de argila muitas vezes pode levar a erros de análise,
principalmente no que se refere à dispersão. Portanto, foram estabelecidas
funções embasadas no teor de areia. Além disso, é uma variável que pode
ser determinada até mesmo no campo. As melhores PTFs derivadas do teor
de areia estão discriminadas abaixo:
a) Para o conteúdo volumétrico de água no solo no potencial de
-10 kPa foi: y = a + bx-: em que x é o teor de areia e a, b e c são
parâmetros de ajustes.
b) Para estimar a água no limite inferior (-1500 kPa) foi:
y = d + bx * Inx.
sendo a, b, c e d. e parâmetros de ajuste.

A água disponível (AD) é calculada pela equação:


AD % vol = q10 - q1500
AD % vol = ( a + bx- ) - ( d + bx * In x)

a = 39,07; b = -0,041; c = 1,455; d = 26,17; e = -0,0545


sendo:

q 10 e q 1500 a quantidade de água retida no solo sob tensões de 0,01 e


1,5 MPa; e a, b e c os parâmetros de ajuste.

Um aspecto de grande importância quanto ao uso da água é a sua


redistribuição nas diferentes classes de solo. Em qualquer situação, a
velocidade de redistribuição decresce pelo gradiente de potencial matricial
entre zonas secas e úmidas e, à medida que a zona úmida perde água,
a condutividade hidráulica decresce. Embora os princípios que regem a redis-
tribuição de água sejam os mesmos em qualquer tipo de solo, a intensidade
de cada um varia conforme o tipo de solo.
Cessada a drenagem, o movimento da água no solo passa a ser
governado pelo potencial matricial. Pode-se observar, em qualquer situação,
que o fluxo e a velocidade de variação do teor de água decrescem ao longo
do tempo, após cessada a infiltração. Ao teor de umidade do solo no
momento em que a drenagem interna praticamente cessa dá-se o nome
de "capacidade de campo", mas uma denominação mais apropriada seria
"limite superior de água disponível". É bom deixar claro que a capacidade

52
Classes de Solo e Irrigação

de campo não é uma característica física do solo, pois ela está relacionada
com o tempo e a composição textural.
Outro conceito importante é o chamado "ponto de murcha
permanente", que poderia ser substituído por outro, mais apropriado, que
é "limite inferior de água disponível". Ele consiste no conteúdo de água no
solo adsorvida, que uma planta não consegue retirar, ficando, portanto,
sob estresse, que a conduz à murcha permanente, ou seja, à morte.
Normalmente, é considerada como água retida a -1,5 MPa.
É importante conhecer a diferença entre os limites superior e inferior.
Entre ambos os limites, ocorre o que é denominado de "água disponível".
O solo de textura mais fina tem maior capacidade de armazenar água. De
uma maneira geral, o teor de argila é o fator que governa a adsorção de
água, sendo argilas do tipo 2: 1 as que apresentam maior retenção de água.
No que respeita ao uso do solo, não é aconselhável utilizar os conceitos
"capacidade de campo" e "ponto de murcha" isoladamente, mas substituí-
los por" disponibilidade de água nos solos". A demanda de água pela cultura
é ditada pelas condições climáticas até um determinado nível de água no
solo, denominado" conteúdo crítico", a partir do qual a retirada de água é
governada pelas condições físicas do solo. Daí a importância de conhecer a
disponibilidade de água no solo e não apenas sua capacidade de retenção.
É vasta a literatura, sobre as mais variadas culturas, identificando o ponto
crítico de água no solo, que está em torno de 30 % a 35 % da água extraível,
ou seja, até que a planta retire 65 % a 70 % da água extraível do solo, não
ocorrerá limitações edáficas.
Em conclusão, o importante é conhecer a quantidade de água
disponível, fator que está relacionado com a textura, a porosidade, o tipo
de argila e outras características físicas do solo. Como essas características
também são usadas para caracterizar as diferentes classes de solos, logo,
para cada classe, haverá características físico-hídricas específicas.

Classes de solo e irrigação


Nesta seção, será analisado um pouco mais a respeito das classes
apresentadas anteriormente, no que tange à prática de irrigação.
Os Latossolos têm geralmente profundidades maiores de que todos
os demais solos; estão nas posições mais estáveis da paisagem (relevo plano),

53
Uso e Manejo de Irrigação

enquanto os Litólicos, quase sempre associados aos afloramentos de rocha,


ocupam posições muito instáveis (de relevo acidentado). Os solos com
B textural constituem um grupo muito heterogêneo, mas com espessura,
em geral, intermediária entre Latossolos e Cambissolos.

latossolos
Os tatossolos ocorrem tipicamente nos chapadões, em relevo plano,
e normalmente apresentam baixa fertilidade natural e excelentes condições
para mecanização. Mesmo sendo muito argilosos (nos Latossolos, o teor de
argila varia muito pouco conforme a profundidade), podem apresentar uma
grande permeabilidade, graças à estrutura granular muito pequena e muito
bem expressa. Os Latossolos apresentam boa conformação mesmo sob
relevo um pouco mais acidentado do que o comum (plano e suave ondulado).
Essa conformação faz a água das chuvas escorrer sob a forma de uma
lâmina uniforme, não localizada, o que é de grande importância para o arma-
zenamento de água e a resistência à erosão. A grande permeabilidade e a
profundidade aliadas a essa boa conformação conferem ao solo uma alta
taxa de infiltração, fazendo desse solo uma grande caixa de armazenamento
de água. Tal fato explica o aproveitamento da água pelas raízes a grande
profundidade, proporcionando à planta umidade suficiente durante pratica-
mente todo o ano.
Esses solos podem ter mais de 80 % de argila até o limite da classe
textura franco-arenosa. As classes texturais areia e areia franca já passam
a pertencer à classe dos Neossolos Quartzarênicos, nos quais a predo-
minância quase total da fração areia implica um sistema extremamente
aberto, e a capacidade de retenção de água, mesmo a altas tensões, é
muito reduzida.
O tipo especial no arranjo das partículas de argila nos Latossolos pode
também influir sobre a disponibilidade de água. Isto é, quando se trata de
Latossolos, não há muita diferença de disponibilidade de água entre os
solos quando se varia a textura, desde que a areia seja predominantemente
mais fina.
Em alguns Latossolos mais argilosos, há um aumento no teor de argila
e de silte em profundidade, tornando o sistema mais fechado e aumentando
a sua capacidade de retenção de umidade. Noutros, a distribuição granulo-
métrica (proporção de argila e areia fina, como 20 % e 70 %, respectiva-
mente) leva a criar uma grande predisposição ao encrostamento do solo em

54
Classes de Solo e Irrigação

uso, principalmente com culturas expositoras. A irrigação poderá agravar esse


processo.

Cambissolos

Ocorrem principalmente nas áreas mais acidentadas, associados


geograficamente com os Litossolos. Por este aspecto, os Cambissolos
tendem a apresentar maiores teores de silte, pouca espessura do solum,
isto é, dos horizontes A e B, tendência ao encrostamento, portanto, consti-
tuindo-se num grande desafio no que se refere ao seu uso (RESENDE, 1985).
Tudo isso em conjunto sugere que tais solos devem ser considerados como
marginais para irrigação, até que se tenham maiores informações de pesquisa
sobre o uso e manejo deles.
Em regiões mais secas e em depósitos aluviais antigos, há ocorrência
de Cambissolos em relevo plano, os quais já têm maior probabilidade de
sucesso com culturas irrigadas. Mesmo aí, a baixa permeabilidade, os teores
de silte elevados e a grande tendência ao encrostamento são dignos de
registro.

Neossolos Litólicos

São rasos, possuindo, em geral, uma fina camada de material terroso


sobre a rocha. Normalmente estão associados a muitos afloramentos de
rocha.
Os sistemas de solos Litólicos são, portanto, altamente instáveis, o
que, em associação aos afloramentos de rocha, sugerem que, por ora,
apenas os sistemas de irrigação por aspersão e localizada mereçam atenção.

Solos com B Textural

Ao contrário dos solos comentados até agora, os solos com B textural


caracterizam-se por uma grande diferença no teor de argila, que aumenta
conforme a profundidade. O horizonte A é menos argiloso que o horizonte
B. Isso quase sempre significa uma mudança (diminuição) na permeabilidade,
conforme a profundidade.
O conjunto de solos B textural é tão heterogêneo que não permite
sintetizar comentários relativos à irrigação. Há necessidade de fazer
subdivisões.

55
Uso e Manejo de Irrigação

Planossolos

Esta subdivisão corresponde a solos que apresentam algumas


evidências de drenagem deficiente.

Os solos dessa subdivisão podem ser ordenados de acordo com a


saturação de sódio (Fig. 7).

(teor de sódio x 100/T)

Fig. 7. Esquema ilustrando o relacionamento dos Planossolos.


Fonte: Resende e Rezende (1983).

O aumento relativo do teor de sódio torna o solo um ambiente inóspito


para a maioria das culturas.

O Planossolo típico (Hidromórfico Cinzento) é apropriado ao cultivo


de arroz irrigado, podendo, com sistemas eficientes de drenagem, ser
cultivado com milho, soja e pastagem. Nos Planossolos que ocupam relevo
mais plano e cotas baixas, deve ser considerado o risco eventual de
inundações em épocas chuvosas (KLAMT at aI., 1985).

Os Planossolos com horizonte A espesso e arenosos apresentam


limitações para uso com lavouras irrigadas por inundação ou infiltração, por
requererem maior consumo de água.

No levantamento de reconhecimento dos solos do Rio Grande do Sul,


representando aproximadamente 5 % da área mapeada, foi registrado o
Brunizem Hidromórfico (BRASIL, 1973), solo que apresenta horizonte
B textural ou B incipiente. É de difícil manejo por conta da presença de
argilo-minerais expansivos; mas o arroz irrigado apresenta alta produtividade
nesses solos (KLAMT et aI., 1985).

Solos Hidromórficos

Ocupam, geralmente, as partes de depressão da paisagem. Em


condições de lençol freático elevado, a irrigação por superfície deve ser

56
Classes de Solo e Irrigação

preferida (SCALOPPI, 1986). Segundo Finkel e Nir (1959). Somente se


houvesse um sistema de drenagem subterrânea efetivo e um controle
rigoroso do volume de água aplicada, é que se justificaria a irrigação
superficial. Há, no entanto, solos hidromórficos de surgente (formados nas
cabeceiras das veredas-várzeas ou em clareiras de vegetação rasteira, com
palmáceas) que apresentam declives acentuados.
Os solos hidromórficos gleizados, de coloração cinza e esbranquiçada,
possuem permeabilidade muito baixa. Ao longo dos canais de drenagem, é
comum a ocorrência de desbarrancamento, que é criado pelo desnível entre
o fundo do canal e a superfície do terreno.
Como o conjunto dos solos hidromórficos é bastante diversi-
ficado, serão feitos comentários sobre alguns tipos, isoladamente ou em
conjunto.

Gleissolos

São solos minerais que apresentam um horizonte A espesso e escuro


(antigo Glei Húmico) sobre horizonte geralmente gleizado. A textura é média
(menos de 35 % de argila e mais de 15 % de areia, excluídas as classes
texturais areia e areia franca) ou argilosa (35 % a 60 % de argila) a muito
argilosa (> 60 % de argila) em todos os horizontes, apresentando ausência
de gradiente textural, o que os diferenciam dos Planossolos. Se um solo
parecido Aluvial (sucessão de camadas estratificadas) apresentar cores
acinzentadas nos primeiros 60 cm de profundidade, ele será considerado
como um Solo Hidromórfico.
São solos apropriados ao cultivo de arroz irrigado. Se drenados, podem
ser utilizados com pastagem, hortaliças, milho, feijão, cana-de-açúcar e
outras.

Como sugestões básicas de manejo, sugere-se a drenagem artificial


das partes mais alagadas e a correção da fertilidade por meio de calagens
e adubações, conforme as recomendações baseadas na análise de solo,
observados os aspectos econômicos.

O Gleissolo Tiomórfico apresenta compostos de enxofre e mos-


queados (comumente alaranjados) de jarosita. Após drenagem artificial e
conseqüente oxidação, torna-se bastante ácido - pH em HP (1: 1) < 3,5 =,
o que o torna impróprio a qualquer uso agrícola. Esse tipo de solo exala
mau cheiro.

57
Uso e Manejo de Irrigação

Organossolos

Diferem dos demais solos de várzea por apresentarem horizonte


turfoso, contendo teor de carbono orgânico acima de {19 + 0,15 x (% argila)}.
Por exemplo, se possuir 60 % de argila, deverá ter mais de 18 % de carbono
orgânico, maior que 50 % nos primeiros 80 cm de profundidade. São as
"turfas", que se incendeiam com facilidade.
Essa classe abrange solos geralmente pobres (alguns podem ser ricos
na camada mais superficial), ácidos e com elevada relação C/N. Tanto a
espessura da camada de material orgânico e seu estágio de decomposição,
como a composição química, a mineralógica e a textura do substrato podem
variar bastante. O grau de subsidência, o armazenamento da água, a
densidade do solo e o espaço poroso, entre outros, são muito afetados pelo
teor de fibras do material. São características de grande ajuda na
identificação desses solos: seu aspecto orgânico e a sensação turfosa ao
tato, além da impressão que passam, ao se caminhar sobre eles, de estarem
flutuando sobre a água (sensação de colchão d'água) (KLAMT et ai., 1985).
Tais solos, quando drenados e cultivados, estão sujeitos a mudanças
significativas e contínuas nas suas características e propriedades. Em caso
de substrato arenoso e raso, tiomorfismo (quantidades elevadas de sulfetos
e/ou sulfatos), alta salinidade, teores muitíssimo elevados de carbono
orgânico (> 38 %), posição inadequada à drenagem por gravidade e locais
de impacto sobre o ecossistema local, os solos orgânicos devem ser evitados
para fins agrícolas (SIMPÓSIO NACIONAL DE SOLOS ORGÂNICOS, 1984).
Quando esses solos têm condições adequadas ao uso agrícola, podem
ser aproveitados para o cultivo de hortaliças.
Esses solos exigem muitos cuidados no uso e na preservação. Os dre-
nosdevem ter talude inclinado, para evitar o desbarrancamento. A drenagem
não deve ser profunda, para diminuir a taxa de subsidência (rebaixamento
da superfície) e a desidratação irreversível da camada superficial. Por essa
razão, seria conveniente fazer a irrigação por superfície (CURI et ai., 1988)
ou por aspersão (SIMPÓSIO NACIONAL DE SOLOS ORGÂNICOS, 1984),
observadas as viabilidades econômica e operacional.

PIi ntossolos

A presença do horizonte plíntico (horizonte contendo mosqueados


vermelhos, amarelos, macios quando úmidos, mas que endurecem

58
Classes de Solo e Irrigação

irreversivelmente quando secam, formando nódulos duros), dentro dos


primeiros 40 cm, é tida como a principal característica distintiva desse tipo
de solo (EMBRAPA, 1982). Apresenta restrições temporárias à percolação
da água ou oscilação do lençol freático.
Deve ser utilizado preferivelmente com arroz irrigado ou pastagens,
em virtude da possibilidade de endurecimento irreversível da plintita quando
esse solo sofre ressecamento no horizonte B, o que vai limitar a profundidade
desses solos para o desenvolvimento do sistema radicular (KLAMT et aI.,
1985).
Vale ressaltar que nem todo Plintossolo é hidromórfico.

Vertissolos

São solos com alto teor de argila - 2:1 expansiva (argila do grupo das
esmectitas) =, têm alta fertilidade, mas apresentam problemas relacionados
com suas propriedades físicas (ressecamento e fendilhamento no período
seco e expansão no período chuvoso). São indicados para pastagens e
cultivos de arroz irrigado. Quando bem drenados, podem ser utilizados com
outras culturas.
Apenas parte da classe dos Vertissolos é hidromórfica.

Solos Halomórficos

Encontram-se em depressões onde pode ocorrer excesso de sais, que


são trazidos, pela enxurrada, das elevações circunvizinhas, ou pelo lençol
freático. Muitas vezes o local é rico em sais por causa de depósitos marinhos.
Nessas depressões, com excesso de água (pelo menos temporários) e de
sais, são formados os solos Salinos.
A drenagem deficiente, observada em áreas irrigadas, pode ser o
principal fator responsável pela salinização de solos originalmente não-
salinos (SCALOPPI; BRITO, 1986). Também o excesso de fertilizantes, de
corretivos, de herbicidas e de inseticidas pode contribuir para isso.
A remoção dos sais solúveis provocada pela lixiviação, utilizando-se
água não-salina, favorece a germinação de sementes e o desenvolvimento
radicular, tornando os solos normais. A tolerância da cultura ao excesso de
sais é também um fator crítico. Geralmente, o feijoeiro, o rabanete, as
rosáceas, os citros, o morango e o abacateiro são enquadradas como

59
Uso e Manejo de Irrigação

culturas sensíveis; a maioria dos cereais e das culturas olerícolas, como


figueira, videira e meloeiro, são consideradas tolerantes; e as de cevada,
beterraba açucareira, algodão, capim-rhodes, capim-bermuda, aspargo,
espinafre, muito tolerantes.

Neossolos Flúvicos

Se os solos hidromórficos estão associados a depressões, os aluviais,


por sua vez, encontram-se em posição um pouco mais elevada - calha do
rio - (Fig. 8).

Fig. 8. Esquema mostrando uma várzea com os solos aluviais na calha do rio. Os solos
hidromórficos dispõem-se em diferentes graus de hidromorfismo em relação a uma depressão
central, onde estão os solos orgãnicos.
Fonte: Resende e Rezende (1983).

Os solos aluviais são caracteristicamente muito variáveis a pequenas


distâncias, tanto na horizontal quanto na vertical. A disposição de camadas
(depositadas durante as inundações nas margens dos rios e lagoas - camadas
estratificadas), de textura arenosa e textura mais fina, pode ter muita
influência sobre o regime hídrico do solo. Sob esse aspecto, uma das melhores
combinações ocorre quando, a uma parte mais superficial, espessa e arenosa,
seguem-se lâminas de textura mais fina. A água da chuva ou da irrigação
infiltra-se com facilidade, mas é impedida de deixar, em grande parte, o
sistema, pela baixa permeabilidade de um lado e pela baixa capilaridade de
outro.

Na maioria dos casos, a fertilidade natural, aliada ao relevo plano


ou quase plano, em que se encontram os solos dessa classe, praticamente
não havendo problemas para o emprego de maquinaria agrícola, confere a

60
Classes de Solo e Irrigação

esses solos condições adequadas para uma utilização agrícola intensiva,


com as mais diversas culturas anuais, destacando-se milho, feijão, arroz e
algodão. Podem, no entanto, apresentar limitações quanto à fertilidade e
ao excesso de umidade, variando esta última limitação conforme a estação
do ano.
Nas partes mais úmidas, onde os riscos de inundação são mais freqüen-
tes, deve ser feita a drenagem. Também recomenda-se, quando for o caso,
a correção da fertilidade, por meio de calagens e adubações, tendo por
base a análise de solo.
Rotação de culturas e sistemas variados de preparo do solo (gradagem,
plantio direto, lavração profunda, cultivo mínimo, etc.) são importantes
quando se tem em mente a manutenção das condições físicas satisfatórias
desses solos.
Para superar a elevada variabilidade segundo as características físicas,
químicas, mineralógicas e morfológicas dos solos Neossolos Flúvicos, os
sistemas de irrigação por aspersão convencional, localizada e subsuperficial
parecem ser as melhores alternativas (SCALOPPI, 1986). Por meio de simples
modificações operacionais, ou mesmo dimensionais, esses sistemas podem
atender a eventuais variações de características de armazenamento e
movimentação de água no perímetro irrigado, o que, sem sombra de dúvida,
seria mais difícil de se conseguir nos sistemas por superfície, ou em alguns
equipamentos mecanizados por aspersão, como o pivô central, o
deslocamento linear e o autopropelido.

Classes de drenagem

Nos levantamentos de solos, o arejamento é inferido da classe de


drenagem do solo (Fig. 9), que é determinada por um critério de avaliação
comparativa entre cada solo e um conjunto de oito padrões referenciais.
A descrição sumária desses padrões (Tabela 6) tende, na prática, a
ser substituída por alguns referenciais, aferidos por um processo de compa-
ração, principalmente visual. Esse processo é chamado de correlação na
Geociências.
A atmosfera do solo é uma das características ambientais mais
rebeldes à quantificação, e os critérios de correlação mencionados são
baseadas principalmente na cor, em particular nas cores gleizadas, isto é, a
cor cinza é indicadora, por esse critério, de deficiência de oxigênio.

61
Uso e Manejo de Irrigação

... ..
VI
Solos arenosos e
Latossolos Gibbsíticos:
. Latossolos

Textura média Textura


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Hidromórficos

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Arejamento

Fig. 9. Classes de drenagem de solos brasileiros controlados pela altura do lençol freático,
pela textura, pela natureza do substrato e pelo declive.
Fonte: Resende (1986).

Tabela 6. Descrição das classes de drenagem e exemplos.

Renovação Classe Exemplo


Muito rápida, por excessiva permeabilidade, Excessivamente Solos muito arenosos e Latossolos
declives muito íngremes ou ambos drenado gibbsíticos ("pó de café")

Rápida, em perfis permeáveis com Fortemente Latossolos de textura média


pequena diferenciação drenado

Rápida em perfis permeáveis com Acentuadamente Latossolos de textura argilosa


pequena diferenciação drenado a média

Fácil, mas não rapidamente, tem Bem drenado Nitossolos, Argissolos e


mosqueado de redução, exceto a Latossolos com baixos teores
grandes profundidades de ferro e cauliníticos

Lenta, perfil molhado por pequena parte Moderadamente Argissolos e Cambissolos


do tempo, camada de permeabilidade drenado desenvolvidos de rochas
lenta e lençol freático no horizonte B, ou pelíticas
logo abaixo, e/ou remoção lateral interna

Lenta, perfil molhado por muito tempo, Imperfeitamente Vertissolos e Planossolos


indício de gleização nas partes baixas drenado
Lençol freático na superfície ou próximo Mal drenado Gleissolos
a ela em boa parte do ano

Lençol freático na superfície ou próximo a ela Muito mal Orgânicos, Glei Húmico (alguns)
na maior parte do ano; estagnação de água drenado e Glei Tiomórfico

Fonte: Resende (1986)

62
Classes de Solo e Irrigação

A cor cinza ou esbranquiçada (croma baixo), no entanto, é dada pela


ausência de ferro oxidado, Fe+++, podendo ou não existir ferro reduzido,
Fe++,e como o nível de lençol freático mudou bastante no Brasil, tendendo,
em geral, a baixar, é muito comum a existência de solos de cores gleizadas
na paisagem, mas não mais sujeitos a lençol freático elevado, evidenciando
uma paleodrenagem mais restrita.

Mesmo em se considerando esse aspecto, é facilmente constatado


na paisagem brasileira que os solos ricos em ferro dificilmente apresentam
cores cinzentas, isto é, suas cores são mais vivas do que aquelas dos solos
mais pobres em ferro, quando situados nas mesmas condições em termos
de lençol freático. Assim, os solos dos terraços da Zona da Mata de Minas
Gerais, de cores vivas e até um pouco avermelhadas, decorrentes dos
relativamente altos teores de ferro que possuem, apresentam considerável
deficiência de oxigênio na época chuvosa, fato que prejudica algumas
culturas, como o feijoeiro, sendo até mesmo um ambiente desfavorável a
culturas mais sensíveis, como o abacateiro.

A redução dos compostos de manganês, evidenciada pela formação


de películas escuras, que efervescem com água oxigenada, indica que houve
um ambiente com acentuada deficiência de oxigênio, o qual não se
manifesta em cores vivas.

levantamento de solos
Unidade de mapeamento

Levantamento de solo nada mais é do que o inventário dos recursos


de solo de uma área.

Solo é um corpo natural que sustenta plantas, cujas propriedades


resultam do efeito integrado do clima e de organismos sobre o material de
origem, sendo também condicionado pelo relevo durante um determinado
período. A morfologia expressa no perfil de cada solo reflete o efeito
combinado da intensidade relativa desses fatores de formação do solo. Um
solo não pode ser identificado por uma única característica, mas pela
combinação de características consideradas coletivamente. Quando bem
definido, um solo específico pode ser distinguido de outros. Esse conjunto
particular de características e qualidades, que permite identificar sua
ocorrência durante os trabalhos de levantamento, é registrado em mapas,

63
Uso e Manejo de Irrigação

ou melhor, em unidades de mapeamento. Unidades de mapeamento são,


portanto, delineação de sistemas de paisagens que são representadas nos
mapas, limitadas por uma linha fechada.

Unidades taxonômicas

Os solos, na natureza, variam como um contínuo, sem se individualiza-


rem, como ocorre com plantas e animais. Para melhorar sua compreensão,
os solos são enquadrados em unidades taxonômicas - concepção que consis-
te em um núcleo (perfil moda I) com variações dentro de limites definidos.

A unidade taxonômica é um solo. É um sistema vertical. Não ocupa


espaço.

A unidade é um sistema horizontal. Ocupa espaço


de mapeamento
na paisagem. A unidade de mapeamento é constituída, na maioria dos casos,
de várias unidades taxonômicas, levando, em geral, o nome da unidade
taxonômica dominante.

Alguns conceitos:
• Solo variante (variação): desvio da unidade taxonômica, pelo menos
em uma característica diferencial (aquela usada como base do
grupamento), área não suficiente para constituir nova unidade
taxonômica.
• Associação de solos: agrupamento de unidades definidas taxonomi-
camente, em associação geográfica regular (ocorrem juntas na
paisagem). É uma unidade de mapeamento.
• Complexo de solos: associação cujos componentes não podem ser
separados em mapas, mesmo nos de escala maior, por causa do
padrão intrincado em que ocorrem.
• Grupo indiferenciado de solos: unidades de mapeamento cujas
unidades taxonômicas semelhantes, que não ocorrem em associação
geográfica regular, são reunidas.

Mapas de solo

Um mapa representa, graficamente, a distribuição dos solos na paisagem.

A proporção entre mapa e imagem natural constitui a escala de um


mapa. Por exemplo: 1:50.000 (1 cm no mapa = 50.000 cm no terreno).

64
Classes de Solo e Irrigação

Nota-se que, à medida que a escala diminui (aumenta o denominador),


decresce a precisão de representação dos detalhes (escala muito pequena).
Como é de se esperar, os mapas de solos variam conforme sua escala, o
que quer dizer, quanto aos seus detalhes.

Tipos de mapa de solos

Os mapas de solos variam de acordo com os objetivos para os quais


foram feitos.
Os mapas de solos podem ser (EMBRAPA, 1979; LARACH, 1983):
I) Autênticos e originais, podendo apresentar as seguintes características:
a) Ultradetalhado.
b) Detalhado.
c) Semidetalhado.
d) De reconhecimento (baixa, média e alta intensidade).
e) Exploratório.

11) Compilados:
a) Generalizados.
b) Esquemáticos.
O Serviço Nacional de Levantamento de Conservação de Solos, da
Embrapa, lançou o mapa de solos do Brasil, na escala de 1:5.000.000, fato
que representou um marco para o nosso sistema de classificação de solos
(EMBRAPA, 1982).

Mapa ultradetalhado

São separadas as unidades de mapeamento, com variação muitíssimo


estreita e muito homogêneas. No trabalho de separação no campo, toda
área é percorrida, com intervalos mínimos entre observações.

Esse tipo de levantamento é utilizado para planejamento e localização


de área de exploração muito pequena, como parcelas de experimentos,
áreas residenciais, etc. Em geral, são conduzidos para atender a tomadas
de decisão sobre pequenas áreas para o planejamento de sistemas
sofisticados de agricultura, para áreas urbanas e industriais e para projetos
especiais e de irrigação.
Escala de publicação: > 1: 10.000.
Área mínima separável: 0,4 ha.

65
Uso e Manejo de Irrigação

Mapa detalhado

São separadas unidades de mapeamento, com variação bem estreita,


bastante homogêneas. As classes de solos são identificadas no campo por
observações sistemáticas ao longo de transversais.
Esse tipo de levantamento é utilizado para provimento de bases
adequadas para mostrar diferenças significativas de solos em: projetos
conservacionistas, áreas experimentais, uso da terra e práticas de manejo
em áreas de uso agrícola, pastoril ou florestal intensivos, em projetos de
irrigação de engenharia civil.

Mapa básico

(Usado no campo para mapeamento): deve ter escala maior que


1:20.000.
Escala de publicação: > 1: 10.000 a 1:25.000.
Área mínima mapeável: de 0,4 ha a 0,5 ha.

Mapa semidetalhado

As classes de solos são identificadas no campo por observações a


pequenos intervalos no interior das áreas de padrões diferentes.
Este tipo de levantamento é utilizado para provimento de bases para
seleção de áreas com maior potencial de uso intensivo da terra e para
identificação de problemas localizados nos planejamentos gerais de uso e
conservação dos solos.
Escala de publicação: de 1:25.000 a 1: 100.000.
Área mínima mapeável: de 2,5 ha a 40 ha.

Mapa de reconhecimento

As unidades de mapeamento são bem menos homogêneas do que


no levantamento detalhado. No trabalho de separação no campo, obser-
vações e prospecções são feitas a intervalos regulares, mas continuamente,
em toda a área.
O antigo Serviço Nacional de Levantamento e Conservação do Solo,
hoje Embrapa Solo, tem um programa de levantamento de reconhecimento
sistemático de todo o território nacional. O levantamento é básico e atende
ao propósito de planejar o desenvolvimento de novas áreas, indicando a

66
Classes de Solo e Irrigação

melhor localização de estações experimentais. A finalidade desse tipo de


levantamento não é fornecer soluções imediatas para os problemas
específicos de utilização do solo, embora, de maneira generalizada, possa
ser incluída, entre os seus objetivos, a solução de problemas de uso agrícola
dos solos, como programas de adubação, práticas conservacionistas, de
reflorestamento e outros, sobretudo em casos como o do Brasil, onde esses
estudos apenas começaram.

Mapa básico: de 1: 100.000 a 1: 125.000.


Escala de publicação: de 1: 100.000 a 1:750.000.
Área mínima mapeável: de 40 ha a 2.250 ha.

Mapas exploratórios

As unidades empregadas são muito pouco homogêneas. São


estudadas no campo, mas os limites são largamente compilados de outras
fontes. Empregados em grandes áreas não desbravadas ou pouco utilizadas.

Escala de publicação: de 1:750.000 a 1:2.500.000.


Área mínima mapeável: de 2.250 ha a 25.000 ha.

Mapas generalizados

São mapas compilados, feitos em escritório, e baseiam-se em dados


e informações, publicados ou não. Eliminam detalhes. Apresentam escalas
muito variáveis. São usados para visualização e planejamento de grandes
áreas.

Mapas esquemáticos

São baseados nos fatores de formações dos solos (clima, vegetação,


relevo e material de origem). São usados para áreas inexploradas ou
desconhecidas.

Escala de publicação: <1: 1.000.000.


Área mínima mapeável: 4.000 ha.

Relatório do levantamento

Num levantamento, os solos são identificados, separados em mapas


e, posteriormente, interpretados para uso. O mapa e o relatório são publi-

67
Uso e Manejo de Irrigação

cados no final. O mapa representa graficamente a distribuição dos solos.


O relatório é a explicação detalhada dos solos da área mapeada, ou seja,
representa um manual.
O relatório compõe-se de:
a) Explicação da forma como se utilizam o mapa e o relatório.
b) índice.
c) Descrição geral da área (localização, material de origem, relevo, clima
e vegetação).
d) Legenda de identificação das unidades de mapeamento.
e) Descrição das unidades de mapeamento.
f) Previsão e recomendações para uso - variáveis conforme detalhe
do mapeamento e somatório de conhecimentos adquiridos sobre o
comportamento de cada solo.

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