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O tema da execução, apesar de muito importante, é muitas vezes relegado para um segundo plano. A
tutela jurisdicional resta frustrada quando o vencedor da sentença não consegue realizá-la em caso
concreto.
A execução possui uma grave inefetividade. Estudos do CNJ apontam que na execução fiscal federal:
2. Em apenas 1,5% dos casos é possível alcançar a fase de expropriação prevista no procedimento
executório que dispõe o CPC;
1. 55% dos quase 80 milhões de processos em trâmite no Brasil, são execuções, ou seja, quase 50
milhões de execuções. Equivalente à 2/3;
2. Anualmente são iniciadas novas execuções que correspondem à 1/3 do total de novos processos. No
entanto, ao final, a média de execuções que ficam pendentes, dobra;
A razão para isso é que a taxa de congestionamento da execução é de 90%, ou seja, na proporção de
processos entrados x processos baixados, a cada 100 novas execuções iniciadas, apenas 10 delas são
baixados.
Assim, vemos que se trata de um caso de estrangulamento da efetividade da jurisdição. Não é em vão
que Liebman dizia que a execução é a “Cinderela” do processo.
E com essa introdução é que passaremos a estudar o tema da execução que, apesar de muito
importante, não desperta tanta atenção da doutrina e dos juristas.
Para construir uma teoria geral da execução, é necessário assentarmos alguns conceitos.
a. O primeiro deles é o da execução forçada. Temos dois tipos de execução: voluntária e forçada. A
voluntária é invisível na prática, pois ocorre no dia a dia com o cumprimento das obrigações
cotidianas pelas partes, entrega de coisa, por exemplo.
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E é por essa razão que comumente vemos o termo “execução forçada” que acontece quando a
obrigação não é voluntariamente cumprida e o poder judiciário é acionado.
Essa dicotomia molda nosso sistema processual. É com base nessa dicotomia que foram
moldados os dois primeiros livros da parte especial do CPC/15.
Outro rearranjo entre atividades cognitiva e executiva ocorre na tutela provisória. Concedida a
tutela provisória, enseja imediatamente atividades executivas. Torna-se possível efetivar-se a
pretensão, utilizando-se as regras do cumprimento provisório de sentença.
Há casos ainda que em que há cognição sem execução, como ocorrem nos casos das sentenças
meramente declaratórias ou constitutivas e sujeitam-se apenas a uma execução própria.
Exemplo ocorre nas sentenças que declaram divórcio, descontistutivas, produzem efeitos por si
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só. A execução imprópria, nesse caso, se caracterizaria pelo ato de averbar o divórcio na certidão
de casamento do ex-casal.
Mais um caso de cognição sem execução ocorre nos casos de cumprimento voluntário da
obrigação após a prolação de sentença.
Por fim, cumpre ainda pontuar que na fase de execução não existe julgamento de procedência
ou improcedência, pois seu objetivo primordial é obtenção da satisfação do direito.
3. Modalidades e classificação
As classificações nos permitem ter uma visão mais analítica do procedimento. Organizar didaticamente
o fenômeno.
a) Judicial (arts. 513 a 538 do CPC/15) – juiz faz cognição, diz quem está certo e quem está errado e
depois a parte vencedora executa a perdedora; O código também chama de ‘cumprimento de
sentença’ a execução do título judicial;
b) Extrajudicial (regido pelo livro II da parte especial do CPC/15 – arts. 771 a 925) – executa atos
documentados fora do poder judiciário. Como exemplo, são títulos extrajudiciais os cheques,
notas promissórias, instrumento de confissão de dívida, instrumento particular assinado pelo
devedor e duas testemunhas, que tenha obrigação certa, líquida e exigível.
Essa divisão existe mais para fins didáticos, uma vez que os artigos 513 e 771 do CPC autoriza a aplicação
subsidiária recíproca das regras entre os dois regimes.
b) Execução com processo autônomo – iniciada por petição inicial. Nesse caso há a citação do
executado.
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Ocorre nos casos previstos do artigo 515, VI a IX, CPC – título judicial (sentença penal
condenatória, sentença arbitral, sentença ou decisão estrangeira).
Artigo 771 e ss CPC, título extrajudicial.
É determinado pelo direito material, no Código Civil e no processo, foi criado um procedimento
diferenciado para essas obrigações;
a) Fazer;
b) Não fazer;
c) Entrega de coisa;
d) Pagar dinheiro.
Importa pontuar que as obrigações de fazer, não fazer e dar coisa são sempre passíveis de conversão
em dinheiro, seja pela impossibilidade da execução específica, seja pela vontade do credor.
b) Por coerção – impõe uma sanção ao devedor e para evitar as consequências, o devedor cumpre
(ex.: obrigação de fazer ou não fazer sob pena de multa diária).
Essas técnicas são complementares. Podem se combinar. Nas obrigações de entregar coisa e pagar
dinheiro, a técnica predominante é a sub-rogatória. Mas, caso haja resistência, poderá o julgador
utilizar-se das técnicas coercitivas. Nas obrigações de fazer ou não fazer predominantemente utiliza-se a
técnica coercitiva. No entanto nada impede que essa predominância seja alterada. Depende do caso
concreto.
O art. 139, inciso IV do CPC, dispõe sobre a atipicidade dos meios executivos. Adequação pelo juiz das
técnicas executivas ao caso concreto.
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a) Provisória – sentença que gera execução na pendência de recurso, sem efeito suspensivo. Pode
acontecer reforma, anulação da sentença que está sendo provisoriamente executada no
julgamento do recurso.
b) Definitiva – quando a sentença exequenda já está coberta pela coisa julgada material, sem
pendência de recurso contra ela.
a) Comum;
b) Especial (execução contra a Fazenda Pública, execução fiscal, execução de alimentos etc) – a
satisfação da obrigação sujeita-se a outras formas quando necessário, são feitas adaptações,
como no caso dos precatórios para executar obrigações pecuniárias em execuções contra a
Fazenda Pública, haja vista que os bens da Fazenda são impenhoráveis.
Da mesma forma, a execução de alimentos também possui uma particularidade, qual seja, a
autorização de prisão civil do alimentante devedor.
Uma inovação muito interessante trazida foi justamente a subsidiariedade de técnicas entre os
procedimentos de execução extrajudicial e cumprimento de sentença, vez que entre eles possuem
procedimentos interessantes e úteis para que sejam usados em todos os demais.
5.1. Nulla Executio Sine Titulo - não há execução sem título (art. 783, CPC), permitindo-se o
cumprimento provisório (CPC, 515, I, CPC).
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Medidas executivas atípicas (art. 139, inciso IV, CPC) – exemplo na prática tem sido a
autorização dada pelos Tribunais Superiores de apreensão de passaporte e CNH pelo não
pagamento de dívidas, obedecendo alguns critérios.
Entende o professor Sica que referidas medidas são inconstitucionais, porque restringe a
liberdade de locomoção, uma vez que feriria o princípio da patrimonialidade, o patrimônio do
devedor é que deve ser onerado.
Medidas típicas: prevalência na execução por quantia e na execução para entrega de coisa
Medias atípicas: prevalência na execução das obrigações de fazer ou não fazer – juiz deve olhar
o caso concreto e decidir qual a melhor forma de fazer cumprir o direito.
Execução se faz no interesse do credor e portanto esse possui um grau de disponibilidade maior
do que tem na ação de alimentos, podendo por exemplo, desistir da execução a qualquer tempo,
independente de concordância do réu.
Exceção ocorre nas execuções em que o devedor já apresentou defesa, com tese de mérito,
quando ocorre uma proximidade do processo de conhecimento.
Do mesmo modo, o exequente pode desistir das medidas executivas, no entanto, sujeito a
limitações da boa-fé objetiva e nos direitos fundamentais do executado e terceiros. Essa
limitação autoriza impedir o exequente de abuso deste direito de disponibilidade.
Havendo duas formas de realizar a execução, igualmente eficientes, prefere-se a menos gravosa
ao executado. O executado tem esse ônus de comprovar que possui meios igualmente eficientes
para satisfazer a obrigação, para então poder utilizar-se desse princípio.
No entanto, esse princípio não se presta para afastar a preferência da penhora eletrônica de
dinheiro (art. 835, I, CPC), com a única exceção dos casos de execução provisória o exequente
não apresentar caução para levantamento do dinheiro penhorado (súmula 417 do STJ e 417 do
TST).
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5.6. Princípio da primazia da tutela específica (art. 499, CPC).
O processo deve dar aquele que tem razão, tudo e exatamente aquilo que o direito material o
assegura. Deve-se fazer com que o processo atinja o resultado mais próximo possível daquele
que se não tivesse havido o descumprimento do direito que levou o autor a vir a juízo.
Nesse caso, podem ser cogitadas duas alternativas: resultado prático equivalente e conversão
em pecúnia.
Trata-se de dever imposto ao executado de indicar onde estão os bens passíveis de execução,
sob pena de multa por ato atentatório à dignidade da justiça.
LEITURAS RECOMENDADAS
Theodoro Júnior, Humberto. Curso de direito processual civil – Teoria Geral do direito processual civil,
processo de conhecimento e procedimento comum. Volume 3. 60ª edição. Rio de Janeiro: Forense,
2019. Págs. 209 a 289.
Zaroni, Bruno Marzullo. Algumas inovações do CPC/15 em matéria de execução. Cadernos Jurídicos.
OAB Paraná. 2015. 12ª edição. Disponivel em:
https://www.academia.edu/21520775/Algumas_inova%C3%A7%C3%B5es_do_CPC_15_em_mat%C3%A
9ria_de_execu%C3%A7%C3%A3o
SANTOS, Guilherme Luis Quaresma Batista. “Teoria Geral da Execução e o Código de Processo Civil
Brasileiro de 2015” in: DIDIER JR., Fredie (coord.) Novo CPC – Doutrina Selecionada. v.5 (Execução).
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Salvador: Juspodivm, 2015. pp. 25-48. (versão eletrônica, revisada para 2ª edição). Disponível em:
https://www.academia.edu/21347034/Teoria_Geral_da_Execu%C3%A7%C3%A3o_e_o_C%C3%B3digo_
de_Processo_Civil_Brasileiro_de_2015_revisado_
JURISPRUDÊNCIA
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contraditório e o postulado da proporcionalidade (REsp 1.894.170/RS, Rel. Ministra
NANCY ANDRIGHI, Terceira Turma, julgado em 27/10/2020, DJe 12/11/2020).
6. Não sendo a linha argumentativa apresentada capaz de evidenciar a inadequação dos
fundamentos invocados pela decisão agravada, o presente agravo interno não se revela
apto a alterar o conteúdo do julgado impugnado, devendo ele ser integralmente mantido.
7. Agravo interno não provido.
(AgInt no REsp 1799638/SP, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em
29/03/2021, DJe 06/04/2021)