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Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL

Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes – REDE LFG

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO TELEPRESENCIAL E VIRTUAL EM


DIREITO PROCESSUAL: GRANDES TRANSFORMAÇÕES

Disciplina

Teoria Geral do Processo e Recentes


Inovações Legislativas

Aula 1
Índice
Leitura Obrigatória 1 ... p. 01
Leitura Obrigatória 2 ... p.08

LEITURA OBRIGATÓRIA 1
ADA PELLEGRINI GRINOVER
Professora Titular de Direito Processual da Universidade de São Paulo (USP).
Coordenadora Científica dos Cursos de Pós-Graduação da Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes.

CUMPRIMENTO DA SENTENÇA

Como citar este artigo:

GRINOVER, Ada Pellegrini. Cumprimento da sentença. In:


BRUSCHI, Gilberto Gomes (Coord.). Execução Civil e
cumprimento da sentença. São Paulo: Método, 2006, p.
13-20. Material da 1ª aula da Disciplina Teoria Geral do
Processo e Recentes Inovações Legislativas, ministrada
no Curso de Especialização Telepresencial e Virtual de
Direito Processual: Grandes Transformações – UNISUL -
REDE LFG.

SUMÁRIO: 1. Caminho evolutivo - 2. O cumprimento da


sentença na Lei 11.232, de 22 de dezembro de 2005 - 3.
Abolição das sentenças condenatórias puras - 4. Sentenças
declaratórias - 5. Uma nova classificação das sentenças - 6.
Conclusões.
1. CAMINHO EVOLUTIVO
No sistema processual civil brasileiro poucos eram os casos de cumprimento da
sentença condenatória independentemente de um processo de execução ex intervallo. A
tradição romana da actio iudicati, recepcionada pelos sistemas continentais europeus,
deixava pouco espaço para a aglutinação das fases de conhecimento e de execução no
mesmo processo. Isso ocorria, por exemplo, nas ações possessórias e na ação de despejo, ou
no mandado de segurança, dando margem ao surgimento de uma classificação quíntupla das
demandas, que colocava, ao lado da sentença condenatória, a executiva lato sensu e a
mandamental. Mas é fácil verificar que essa classificação, acrescentando duas espécies no
gênero processo de conhecimento, ao lado das demandas condenatórias, constitutiva e
declaratória, não significa que a sentença executiva lato sensu e a mandamental não sejam
condenatórias, indicando somente um tipo diverso de efetivação (qual seja a ausência de um
processo autônomo de execução). E tanto é assim que outra classificação - desta feita de
acordo com o cumprimento da sentença condenatória - passou a chamar aquela que
demandava execução ex intervallo de condenatória pura, para distingui-la das condenatórias
sem processo de execução (ou seja, a executiva lato sensu e a mandamental).
Em tempos mais recentes, coube a Kazuo Watanabe a ampliação da categoria
das sentenças condenatórias mandamentais, em que as atividades de cognição e de
execução se aglutinam no mesmo processo de conhecimento, quando sugeriu a redação do
art. 11 da Lei da Ação Civil Pública (Lei n. 7.347, de 24.07.1985):
"Art. 11. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou
não fazer, o juiz determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a
cessação da atividade nociva, sob pena de execução específica, ou de cominação de multa
diária, se esta for suficiente ou compatível, independentemente de requerimento do
autor".
A seguir, ainda por influência de Kazuo Watanabe, a mesma idéia foi detalhada
no Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078, de 11.09.1990), por seu art. 84:
"Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou
não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências
que assegurem o resultado.
§ 1.° A conversão da obrigação em perdas e danos somente será admissível
quando por elas optar o autor ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do
resultado prático equivalente.
§ 2.° A indenização por perdas e danos se fará sem prejuízo da multa (art. 287
do CPC).
§ 3.° Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio
de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após
justificação prévia, citado o réu.
§ 4.° O juiz poderá, na hipótese do § 3.° ou na sentença, impor multa diária ao
réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a
obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.
§ 5.° Para a tutela específica ou para a obtenção do resultado prático
equivalente, poderá o juiz determinar as medidas necessárias, tais como busca e
apreensão, remoção de coisas e pessoas, desfazimento de obra, impedimento de atividade
nociva, além de requisição de força policial".
Do Código de Defesa do Consumidor, a disposição passou para o Código de
Processo Civil, que, pela Lei 8.952/1994, adotou no art. 461 a mesma técnica para as
obrigações de fazer e não fazer. Finalmente, o art. 461-A do CPC, acrescentado pela Lei

2
10.444/2002, estendeu o cumprimento da sentença condenatória, sem necessidade de
execução ex intervallo, às obrigações de entregar coisa certa.1
Assim, nas obrigações de fazer, não fazer e entregar coisa certa, a sentença
deixou de ser condenatória pura, sendo efetivada no próprio processo de conhecimento.
Faltavam as obrigações de pagar. E o círculo fechou-se com a Lei 11.232, de 22
de dezembro de 2005, ora em comento.

2. O CUMPRIMENTO DA SENTENÇA NA LEI 11.232, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2005


Decorrente de projeto de Athos Gusmão Carneiro, amplamente debatido no
Instituto Brasileiro de Direito Processual e, depois, com a comunidade jurídica, a Lei
11.232/2005 traz profunda modificação em todo o direito processual brasileiro e em seus
institutos. A principal característica da lei - denominada de cumprimento da sentença -
consiste na eliminação da figura do processo autônomo de execução fundado na sentença
civil condenatória ao pagamento de quantia certa, generalizando o disposto nos arts. 461 e
461-A do CPC. Agora, a efetivação dos preceitos contidos em qualquer sentença civil
condenatória se realizará em prosseguimento ao mesmo processo no qual esta for
proferida.
A unidade processual é determinada pelas disposições segundo as quais a
provocação do juízo para as medidas de cumprimento da sentença se fará mediante um
requerimento do credor (arts. 461, § 5.°, e 475-J do CPC, na redação da lei) e não mais
pelo exercício de uma ação (ação executiva). O obrigado não será citado, justamente
porque não existe um novo processo, mas simplesmente intimado na pessoa de seu patrono
(art. 475-J, § 1.°).
A nova lei denomina cumprimento da sentença, em sentido genérico, as
atividades destinadas à efetivação do preceito contido em qualquer sentença na qual se
reconheça a existência de uma obrigação a ser cumprida pelo vencido. Quando se trata de
dar cumprimento a uma obrigação de fazer ou não fazer ou de entregar coisa certa, a
efetivação se faz mediante o cumprimento da sentença em sentido estrito, e quando se
trata de obrigação de pagar, mediante a execução (execução por quantia certa contra
devedor solvente - art. 475-I). Assim, o cumprimento da sentença (lato sensu) é o gênero,
que tem como espécies o cumprimento da sentença stricto sensu (obrigações específicas) e
a execução (obrigações de pagar). O conceito de execução não se estende ao cumprimento
das obrigações específicas, o qual continua regido pelos arts. 461 e 461-A.
Como conseqüência dessa unidade do processo (cognição-efetivação), não faria
sentido manter o conceito de sentença como "ato pelo qual o juiz põe termo ao processo,
decidindo ou não o mérito da causa" (art. 162, § 1.°, do CPC). Daí sua nova redação, pela
qual sentença passou a ser o "ato do juiz que implica [rectius, configura] alguma das
situações [rectius, hipóteses] previstas nos arts. 267 e 269 desta lei". 2 Assim, haverá uma
sentença sempre que houver julgamento do mérito da causa (art. 269) e sempre que o juiz
determinar a extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267). Mas, em função
da unidade cognição-efetivação, a sentença de mérito só porá fim ao processo em casos
excepcionalíssimos, ou seja, quando não restar obrigação alguma a ser cumprida, sequer
por custas ou honorários da sucumbência.

1
O Código Civil subseqüente não revogou a disciplina das obrigações de fazer, não fazer e de
entregar coisa do Código de Processo Civil, conforme afirmamos no estudo "A inafastabilidade do
controle jurisdicional e uma nova forma de autotutela: arts. 249 e 251 do Código Civil", in Princípios
constitucionais fundamentais, São Paulo: Lex, 2005.
2
Na redação original, aprovada pela Câmara dos Deputados, a redação do dispositivo era mais
precisa, conceituando sentença como o ato do juiz proferido nos termos dos arts. 267 e 269. A
redação senatorial é devida à assessoria parlamentar.

3
O resultado disso é que não haverá mais um processo de execução autônomo
fundado em sentença proferida no processo civil (art. 475-N, inc. I). Quando a sentença
reconhecer a existência de uma obrigação específica a ser cumprida pelo réu (obrigação de
fazer, de não fazer, de entregar coisa certa), a efetivação do preceito se fará mediante as
atividades qualificadas como cumprimento da sentença (s.s.); e, quando a obrigação for
em dinheiro, mediante a execução, tudo no mesmo processo aglutinado de cognição-
efetivação (art. 475-I).
Resulta daí que a disciplina do processo de execução, contida no Livro II do
CPC, só se aplicará:
a) quando o título executivo for extrajudicial, sendo que os preceitos do
processo de execução se aplicam apenas em caráter subsidiário ao cumprimento da
sentença, incluindo a execução por quantia (art. 475-R); ou
b) quando a sentença houver sido proferida fora do processo civil estatal
(sentença penal condenatória, laudo arbitral, sentença estrangeira homologada e acordo
extrajudicial homologado).

3. ABOLIÇÃO DAS SENTENÇAS CONDENATÓRIAS PURAS


Parece, assim, que a Lei 11.232/2005 eliminou do processo civil brasileiro a
categoria das chamadas sentenças condenatórias puras, ou seja, aquelas que demandavam
um processo de execução autônomo. Como visto, todas as sentenças portadoras do
reconhecimento de uma obrigação a ser cumprida pelo réu comportarão efetivação
mediante o prosseguimento do mesmo processo e, portanto, sem um processo executivo
distinto e autônomo (sine intervallo). E essas sentenças, às quais a lei outorga eficácia de
título executivo (art. 475-N, inc. I), serão:
a) mandamentais, quando afirmarem a existência de uma obrigação de fazer,
não fazer ou entregar coisa certa; ou
b) executivas lato sensu, quando se referirem a uma obrigação em dinheiro.
No primeiro caso, elas serão efetivadas mediante as atividades englobadas no
cumprimento da sentença s.s. (arts. 461 e 461-A); no segundo, mediante a execução por
quantia certa, que também se faz em prosseguimento ao processo.
Não sobra espaço, pois, no âmbito do novo sistema processual civil brasileiro
para as sentenças condenatórias puras, restritas agora ao processo trabalhista.

4. SENTENÇAS DECLARATÓRIAS
A sentença declaratória, que continua regulada pelo art. 4.° do CPC, é positiva
quando acolhe a demanda do autor e lhe concede a tutela Jurisdicional postulada; e é
negativa quando rejeita a demanda, concedendo tutela ao réu.
Na tradição de qualquer sistema processual, incluindo o brasileiro, para exigir a
satisfação do direito que a sentença declaratória tornou certo, o autor deve propor nova
ação, de natureza condenatória: a sentença declaratória positiva vale apenas como
preceito, tendo eficácia imperativa exclusivamente no tocante à declaração da existência
ou inexistência da relação jurídica entre as partes e a seu modo de ser.
Teria a Lei 11.232/2005 atribuído agora à sentença declaratória positiva
eficácia de título executivo, dispensando a demanda destinada a obter o título? É o que
passamos a examinar.

4
5. UMA NOVA CLASSIFICAÇÃO DAS SENTENÇAS
Examinem-se o art. 475-N e inc. I da nova lei:
"Art. 475-N. São títulos executivos judiciais:
I - a sentença proferida no processo civil que reconheça a existência de
obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia".3
Sentença que reconheça a obrigação parece, à primeira vista, sentença
declaratória. Confronte-se, então, esse dispositivo com o art. 4.° do CPC:
"Art. 4.° O interesse do autor pode limitar-se à declaração:
I - da existência ou inexistência de relação jurídica;
II - da autenticidade ou falsidade de documento.
Parágrafo único. É admissível a ação declaratória, ainda que tenha ocorrido a
violação do direito".
Assim, pela interpretação literal do art. 475-N, inc. I, na redação da Lei
11.232/2005, c/c o art. 4.° do CPC, teríamos agora, no ordenamento brasileiro, duas
espécies distintas de sentença declaratória:
a) a que reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa
ou pagar quantia, que constituiria diretamente título executivo, dando margem ao
cumprimento da sentença ou à execução por quantia certa, sem necessidade de
propositura de nova demanda destinada a obter o título; e
b) as demais sentenças declaratórias, que não reconheçam a existência das
obrigações acima mencionadas, e que se esgotam em si mesmas, por não dependerem de
uma prestação a ser realizada pelo obrigado (por ex., declaratória negativa), ou que
exigem nova demanda para obtenção do título executivo (por ex., declaratória de
paternidade.).4 Mesmo nessas sentenças, entretanto, haverá normalmente um capítulo
dependente de efetivação posterior, que é aquele atinente às custas e aos honorários da
sucumbência.
No primeiro caso (art. 475-N, inc. I), a sentença seria ao mesmo tempo
declaratória e mandamental (obrigações de fazer, não fazer e de entregar) ou declaratória
e executiva lato sensu (obrigações de pagar quantia certa). No segundo caso (art. 4.°),
teríamos uma ação declaratória pura, com a ressalva dos honorários advocatícios e das
custas. E o sistema brasileiro teria acabado com a sentença condenatória no processo civil.
Todavia, pode-se dar ao art. 475-N, inc. I, interpretação mais flexível e
sistemática, que não rompa com o caminho evolutivo acima traçado e melhor se afeiçoe ao
ordenamento brasileiro (particularmente às tradicionais categorias das sentenças
mandamentais e executivas lato sensu, como espécies de sentenças condenatórias, e às
sentenças meramente declaratórias, previstas no art. 4.° do CPC), afeiçoando-se, ainda, à
clássica conceituação de Andrea Proto Pisani, no sentido de que “sentença condenatória é
a que se executa”.5 Assim, entendemos que a expressão "sentença proferida no processo
civil que reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar
quantia" indica não apenas uma declaração, mas também a condenação, mantendo-se
conseqüentemente a categoria da sentença condenatória, mandamental ou executiva lato
sensu e, ao seu lado, a da declaratória tradicional.

3
Também essa redação é inovação do Senado devida à assessoria parlamentar.
4
Cumpre observar que o STJ tem considerado como providas de força executiva as sentenças
declaratórias que reconhecem a existência de uma obrigação. Acompanhando nosso raciocínio,
desenvolvido a seguir, consideramos essas sentenças condenatórias, e não meramente declaratórias,
apesar do rótulo que for dado à ação.
5
Daí por que entendemos que as sentenças referidas na nota supra têm natureza condenatória.

5
6. CONCLUSÕES
O certo é que a interpretação de uma nova lei, especialmente quando
inovadora, como a que estamos comentando, é tarefa difícil. E as primeiras interpretações
correm sempre o risco de virem a ser desautorizadas pela doutrina e pela jurisprudência
posteriores. Mas alguém tem que deitar a primeira pedra: e nós, aceitando o repto,
tivemos a ousadia de fazê-lo.
Numa análise, que poderá ser provisória, entendemos, em síntese, que a lei do
Cumprimento da Sentença (Lei 11.232, de 22.12.2005) trouxe as seguintes transformações
ao sistema processual brasileiro:
a) a principal característica da lei consiste na eliminação da figura do processo
autônomo de execução fundado na sentença civil condenatória ao pagamento de quantia
certa, generalizando o disposto nos arts. 461 e 461-A do CPC;
b) a efetivação dos preceitos contidos em qualquer sentença civil condenatória
se realizará em prosseguimento ao mesmo processo em que for proferida;
c) não mais haverá processo de execução autônomo fundado em sentença
proferida no processo civil. Quando a sentença reconhecer a existência de uma obrigação
de fazer, não fazer ou entregar coisa certa, a efetivação do preceito se fará mediante as
atividades qualificadas como cumprimento da sentença s.s.; e quando a obrigação for de
pagamento em dinheiro a efetivação se dará mediante a execução, tudo no mesmo
processo que aglutina cognição e efetivação;
d) conseqüentemente, não havia mais como definir "sentença" como "ato pelo
qual o juiz põe termo ao processo, decidindo ou não o mérito da causa" art. 162, § 1.°, do
CPC), sendo que, pela nova redação, haverá sentença sempre que houver julgamento do
mérito da causa (art. 269) e sempre que o juiz determinar a extinção do processo sem
julgamento do mérito (art. 267);
e) a disciplina do processo de execução, contida no Livro II do CPC, só aplicará:
e.1) quando o título executivo for extrajudicial;
e.2) quando a sentença houver sido proferida fora do processo civil estatal
(sentença penal condenatória, laudo arbitral, sentença estrangeira homologada, acordo
extrajudicial homologado);
f) parece, assim, que a lei eliminou do processo civil brasileiro a categoria das
chamadas sentenças condenatórias puras, ou seja, aquelas que demandavam um processo
autônomo de execução, com exceção das sentenças proferidas fora do processo civil
estatal (supra, e.2);
g) as sentenças serão mandamentais quando afirmarem a existência de uma
obrigação de fazer, não fazer ou entregar coisa certa; e serão executivas lato sensu quando
se referirem à obrigação de pagar quantia em dinheiro;
h) no primeiro caso, serão efetivadas mediante cumprimento da sentença s.s. e
no segundo, mediante execução sine intervallo;
i) na interpretação literal do art. 475-N, I, da lei, a sentença, nos casos
apontados supra ("g") surgiria como declaratória;
j) nessa interpretação, teríamos, no ordenamento brasileiro, duas espécies
distintas de ação declaratória:
j.l) a que reconhece a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar
coisa certa ou pagar quantia, que constituiria diretamente título executivo, dando margem
ao cumprimento da sentença (s.s.) ou à execução sine intervallo;
j.2) as demais sentenças declaratórias (art. 4.° do CPC), que não reconhecem a
existência das obrigações acima mencionadas, esgotando-se em si mesmas, por não

6
dependerem de uma prestação a ser realizada pelo obrigado (como na sentença
declaratória negativa) ou que exigem nova demanda para obtenção do título executivo
(por. ex., declaratória de paternidade). Mesmo nessas sentenças, entretanto, haverá
normalmente um capítulo dependente de efetivação posterior, que é aquele atinente às
custas e honorários da sucumbência;
k) aceita a interpretação literal, teríamos assim sentenças declaratórias que
constituem título executivo, ao lado de sentenças declaratórias puras;
l) entretanto, uma interpretação mais flexível e sistemática do art. 475-N, inc.
I, leva a afirmar que a expressão contida no dispositivo não se refere apenas à declaração,
mas também à condenação, mantendo-se conseqüentemente as categorias das sentenças
condenatórias mandamentais e executivas lato sensu.
m) esta última interpretação parece afeiçoar-se melhor às linhas do caminho
evolutivo indicado no texto, à sistematização das sentenças mandamentais e executivas
lato sensu como pertencentes ao gênero de sentenças condenatórias, e ao próprio art. 4.°
do CPC, aderindo, ainda, ao conceito doutrinário de que sentença condenatória é a que se
executa.

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Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL
Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes – REDE LFG

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO TELEPRESENCIAL E VIRTUAL EM


DIREITO PROCESSUAL: GRANDES TRANSFORMAÇÕES

Disciplina

Teoria Geral do Processo e Recentes


Inovações Legislativas

Aula 1
LEITURA OBRIGATÓRIA 2
FERNANDO DA FONSECA GAJARDONI
Juiz de Direito no Estado de São Paulo
Doutorando e Mestre em Direito Processual pela Faculdade de Direito da USP
Professor Titular de Direito Processual Civil da Faculdade Municipal de Direito de Franca
Professor da Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes – IELF/LFG

A NOVA SISTEMÁTICA DO RECURSO DE AGRAVO INTRODUZIDA PELA


LEI 11.187/2005 E OS PREJUÍZOS À JUSTIÇA DE 1º GRAU

Como citar este artigo:

GAJARDONI, Fernando da Fonseca. A nova sistemática do


Recurso de Agravo introduzida pela Lei 11.187/2005 e os
prejuízos à Justiça de 1º Grau. Disponível em:
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7927
Material da 1ª aula da Disciplina Teoria Geral do
Processo e Recentes Inovações Legislativas, ministrada
no Curso de Especialização Telepresencial e Virtual de
Direito Processual: Grandes Transformações – UNISUL -
REDE LFG.

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RESUMO: O estudo ora apresentado investiga a nova
sistemática do recurso de agravo de acordo com a Lei n.
11.187/2005, apontando a sua evolução histórica e
antevendo os deletérios efeitos que o novel regime trará
à justiça de 1º grau.
ABSTRACT: The articles investigate the new regime of
agravo (law n. 11.187/2005), showing the historic
evolution of de institute, and prevent the Brazilians law
operators about the loss in the 1st degree justice.
PALAVRAS-CHAVE: Processo Civil. Agravo. Lei n.
11.187/2005. Evolução. Prejuízo. Justiça de 1º grau.
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. O regime do agravo até
então vigente. 3. As mudanças da Lei n. 11.187/2005. 4.
Conclusões.

1. INTRODUÇÃO.
Quando o Código de Processo Civil de 1973, ora em vigor, foi promulgado, a
doutrina nacional e estrangeira, em uníssono, aplaudiram o sistema recursal do então novo
diploma. Asseveravam que o cabimento do recurso conforme a natureza do ato processual
atacado (art. 162 do CPC) simplificava, e muito, o regime recursal até então em vigor no
CPC de 19396. Em vez de uma relação taxativa de hipóteses de cabimento do agravo –
como ainda ocorre hoje com o recurso em sentido estrito do CPP (art. 581) – adotou-se
uma fórmula genérica por todos conhecida: de sentença (ato que extingue o procedimento
em 1º grau de jurisdição) cabe apelação e de decisão interlocutória (ato que resolve
questão incidente) cabe agravo.
Os aplausos iniciais ao sistema recursal brasileiro, contudo, não resistiram ao
tempo. O regime recursal aberto implantado pelo CPC/1973 mostrou-se, ao longo destes
mais de 30 (trinta) anos de vigência da Lei 5.869/1973, extremamente deletério para os
propósitos da efetividade do processo. Reformas e mais reformas processuais se seguiram,
6
Previa-se no CPC de 1939 que cabia apelação das decisões definitivas de primeira instância que
apreciassem o mérito da demanda (art. 820). Já quanto ao agravo, era ele previsto em três
modalidades: de petição, de instrumento ou nos autos do processo. O agravo de petição era o
recurso cabível das decisões terminativas de primeira instância (art. 846). O de instrumento (art.
842) era reservado para as seguintes decisões: I – que não admitirem a intervenção de terceiro na
causa; II – que julgarem a exceção de incompetência; III – que denegarem ou concederem medidas
requeridas como preparatórias da ação; IV – que não concederem vista para embargos de terceiro,
ou que os julgarem; V – que denegarem ou revogarem o benefício de gratuidade; VI – que
ordenarem a prisão; VII – que nomearem, ou destituirem inventariante, tutor, curador,
testamenteiro ou liquidante; VIII – que arbitrarem, ou deixarem de arbitrar a remuneração dos
liquidantes ou a vintena dos testamenteiros; IX – que denegarem a apelação, inclusive a de terceiro
prejudicado, a julgarem deserta, ou a relevarem da deserção; X – que decidirem a respeito de êrro
de conta; XI – que concederem, ou não, a adjudicação ou a remissão de bens; XII – que anularem a
arrematação, adjudicação ou remissão cujos efeitos legais já se tenham produzido; XIII – que
admitirem, ou não, o concurso de credores. ou ordenarem a inclusão ou exclusão de créditos; XIV –
que julgarem, ou não, prestadas as contas; XV – que julgarem os processos de que tratam os Títulos
XV a XXII do Livro V, ou os respectivos incidentes, ressalvadas as exceções expressas; XVI – que
negarem alimentos provisionais; XVII – que, sem caução idônea, ou independentemente de
sentença anterior, autorizarem a entrega de dinheiro ou quaisquer outros bens, ou a alienação,
hipoteca, permuta, subrogação ou arrendamento de bens. Finalmente, o agravo nos autos do
processo tinha cabimento das decisões: I – que julgarem improcedentes as exeções de litispendência
e coisa julgada; II – que não admitirem a prova requerida ou cercearem, de qualquer forma, a
defesa do interessado; III – que concederem, na pendência da lide, medidas preventivas; IV – que
considerarem, ou não, saneado o processo, ressalvando-se, quanto à última hipótese o disposto no
art. 846.

9
todas com a finalidade de diminuir a sobrecarga dos tribunais e de desobstruir as vias de
julgamento7.
Eis mais um ato legislativo de idêntica finalidade. A Lei 11.187, promulgada em
19 de outubro de 2005, publicada em 20.10.2005 e em vigor desde 18 de janeiro de 2006 8,
veio procurar (só procurar) corrigir as distorções observadas no regime de agravo, em
especial as advindas da Lei 9.139/1995 e Lei 10.352/2001.

2. O REGIME DO AGRAVO ATÉ ENTÃO VIGENTE.


Antes do advento da Lei 11.187/2005 o agravo, no regime que lhe foi dado pela
Lei 9.139/1995, podia ser interposto quase que livremente nas suas duas modalidades:
retido, para casos menos urgentes (art. 523 do CPC), e por instrumento, reservado para
casos mais graves (art. 524).
O retido, em regra, era utilizado com nítida finalidade de obstar a preclusão da
matéria decidida no curso do processo, permitindo à parte que, em sede de apelação,
renovasse a discussão no órgão superior (art. 523 e § 1º do CPC). Este recurso era e ainda é
processado em 1ª instância, nos próprios autos da ação, e na prática era utilizado nos
pouquíssimos casos em que a lei vedava a utilização do agravo de instrumento (decisões
proferidas em audiência e posteriores à sentença, nos termos do art. 523, § 4º, do CPC) 9.
Agravo mesmo é o de instrumento (art. 524 do CPC)! Utilizado em larga escala e
sob o discutível fundamento de que a decisão proferida sempre causava dano de difícil
reparação, era ele, por força da reforma operada pela Lei 9.139/95 10, dirigido diretamente
ao órgão superior, que podia, liminarmente e de maneira bastante rápida: a) julgar-lhe
monocraticamente, não conhecendo, reformando ou mantendo a decisão agravada (art.
557 do CPC); e b) suspender a decisão agravada ou antecipar a tutela recursal, concedendo
aquilo que foi negado em 1º grau (art. 527, III, do CPC).
Este regime do agravo de instrumento interposto diretamente no 2º grau
revelou-se, nos 05 anos que se seguiram, um verdadeiro fiasco. O agravo de instrumento,
que até 1995 era todo processado em 1º grau e, somente depois, remetido ao 2º grau,
servia de contenção à recorribilidade desenfreada. Como a Lei 9.139/95 permitiu a
interposição diretamente no 2º grau mediante a extração de cópias, os Tribunais passaram
a receber verdadeiras avalanches de agravos de instrumentos quase que imediatamente à
prolação da decisão atacada11. A conseqüência os operadores do direito bem sabem: as
apelações, que efetivamente decidem as controvérsias, deixaram de ser julgadas pelos
7
Cf. nosso Técnicas de aceleração do processo. Franca/SP: Lemos e Cruz, 2003.
8
De acordo com o art. 8º, § 1º, da Lei Complementar n. 95/98 (acrescido pela Lei Complementar n.
107/2001), “a contagem de prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de
vacância far-se-á com inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor
no dia subseqüente à sua consumação integral”. Tendo sido a Lei 11.187/2005 publicada em 20 de
outubro de 2005, entrou ela em vigor 90 (noventa) dias após (art. 2º), isto é, em 18.01.2006.
9
Apesar da obrigatoriedade do agravo retido das decisões proferidas em audiência de instrução e
julgamento e das posteriores à sentença, a própria lei tornava a regra letra morta quando
excepcionava a regra nas hipóteses de dano de difícil e de incerta reparação (fundamento sempre
reclamado para utilização livre do agravo de instrumento), nos de inadmissão da apelação ou que
deliberavam quanto aos efeitos de recebimento deste recurso (art. 523, § 4º, na antiga redação).
Raros eram os casos em que as partes apresentavam agravo na modalidade retida.
10
A Lei n. 9.139/95 já nasceu polêmica, despertando a ira de alguns processualistas, como Vicente
Greco Filho (Comentários do procedimento sumário, ao agravo e à ação monitória. São Paulo:
Saraiva, 1996, p. 21) e Clito Fornaciari Jr. (O novo agravo: um retrocesso, Revista do Advogado, n.
48, jul. 1996).
11
No extinto 1º TACiv/SP (Emenda Constitucional 45), em 1994, antes da entrada em vigor da Lei
9.139/95 e ainda na sistemática da recorribilidade das interlocutórias em 1º grau,, entraram 8.541
agravos de instrumento para julgamento em 2ª instância. Em 1996, ano que se seguiu à vigência do
novo (agora já velho) regime do agravo, este número subiu para 15.947 instrumentos, o que
corresponde a um crescimento de 87% (Técnicas de Aceleração do Processo, p. 183).

10
Tribunais, que passaram a se dedicar quase que exclusivamente aos agravos de
instrumentos12, a grande maioria deles (mais de 80%) de urgência nenhuma.
Em 2001 procurou-se corrigir esta anomalia nas cortes de apelação (ou melhor,
de agravos). A Lei 10.352 passou a admitir que o relator do agravo de instrumento, nos
casos em que o julgamento do recurso não fosse urgente nem implicasse em dano grave ao
jurisdicionado, convertesse o agravo de instrumento em retido (art. 527, II, do CPC),
evitando, com isso, que a eleição destas situações ficasse ao exclusivo talante da parte
(art. 523, § 4º, na antiga redação).
A experiência prática revelou mais uma vez que o legislador brasileiro não
conhece bulhufas da cultura recursal arraigada em nossa formação jurídica: a disposição
não teve nenhuma aplicação, pois da decisão que efetuava a conversão do instrumento em
retido, admitia-se o cabimento de um outro agravo dito interno (ou agravinho como
impropriamente dizem alguns), dirigido à Câmara que julgaria o agravo de instrumento
(art. 527, II, do CPC, na antiga redação). Os desembargadores, então, sem delongas,
preferiam julgar de uma vez o instrumento, mesmo em casos de nenhuma urgência, em
vez de julgá-lo duas vezes, uma monocraticamente quando da conversão, e a outra quando
da apreciação, pela Câmara (da qual fazem parte) do agravo interno da sua decisão.
Quanta perda de tempo!

3. AS MUDANÇAS DA LEI 11.187/2005.


Então vem esta nova lei, que desde já se adianta, em nada mudará o quadro
caótico que assola a justiça de 2º grau (em especial aqui em SP). Pelo contrário, piorará a
situação do 1º grau.
Procurou o legislador, através de norma, inverter algo que, na prática, é
irreversível: o uso desenfreado do agravo de instrumento. Como se por força da lei fosse
possível alterar a cultura de um povo, o art. 522 do CPC diz que a regra, agora, é que o
agravo será retido, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão
grave e de difícil reparação (corrigindo aqui a péssima expressão dano de difícil ou incerta
reparação dantes empregada), bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos
relativos aos efeitos em que a apelação é recebida (casos em que o recurso será por
instrumento).
Santa inocência! A regra do sistema já era no sentido de que o agravo, em
regra, fosse retido, reservando-se apenas para as hipóteses de urgência o agravo de
instrumento. Mas isto nada adiantou, pois para nós, sempre haverá urgência em tentar
reformar a decisão contrária aos nossos interesses, mesmo que não haja risco de dano
presente, ou mesmo, ainda, que a decisão esteja perfeita. Afinal, quem não arrisca não
petisca!
“Ah, vamos, então, permitir ao relator que não admita o processamento de
agravos de instrumentos não urgentes, acabando, ainda, com o agravo interno da sua
decisão, ponto onde erramos na Lei 10.352/2002”, pensou insanamente o legislador ao
criar o novo art. 527, II e parágrafo único, do CPC. Só faltou um detalhe no raciocínio.
Quem já chegou no 2º grau sob o fundamento de que urge a reforma da decisão
interlocutória de 1º grau (o caso, ao menos para o agravante, é urgente!), levará a coisa
adiante a qualquer custo. E o art. 5º, II, da Lei 1.533/1951, admite o cabimento do
mandado de segurança como sucedâneo de recurso toda vez que não haja meio de
impugnação previsto nas leis processuais.

12
Nossa predileção por estatísticas recomenda que indiquemos os seguintes dados colhidos do
trabalho coordenado pelo desembargador paulista Osvaldo da Silva Ricco (não publicado). Em 2000,
no TJ/SP, entraram 24.143 agravos contra 64.140 apelações; mas foram julgadas apenas 34.895
apelações contra 21.406 agravos de instrumento. Ou seja, foram julgadas 54% das apelações
(praticamente metade) em favor do julgamento de 89% dos agravos.

11
Pois aí está: a restrição à recorribilidade sempre desemboca na utilização do
mandado de segurança contra ato judicial, ressuscitado pelo advento da Lei 11.187/2005.
Certamente quem já está em 2º grau para ganhar tempo vai se valer do mandado de
segurança contra o ato do relator que converteu o instrumento em retido, writ que será
julgado pelo próprio Tribunal (súmula n. 41 do STJ13).
Como se não bastassem estas alterações inexpressivas para os fins da
efetividade, há ainda uma outra que, ao meu ver, é a pior delas, pois em vez de não
mudar nada, atrapalha profundamente o curso do processo. O art. 523, § 3º, do CPC.
De acordo com o dispositivo, das decisões interlocutórias proferidas em
audiência de instrução e julgamento (só nestas), o agravo sempre será retido (até aqui
nenhuma novidade) e interposto imediatamente de forma oral (eis a novidade), constando
do termo de audiências sucintamente as razões do agravante, e por força do contraditório
constitucional, do agravado.
Fico aqui a imaginar uma audiência de instrução e julgamento onde haja várias
testemunhas, contraditas, questões incidentais, etc. Se para cada decisão interlocutória do
juiz que a parte não concorde (e são tantas) for interposto um agravo retido obrigatório e
na modalidade oral, a constar do termo, estou certo que devemos expandir os horários de
funcionamentos dos fóruns, e implantar, definitivamente, rodízio de funcionários na
digitação dos termos (isto sem falar no número de aposentadorias por lesão de esforço
repetitivo). Afinal serão tantas horas de digitação de razões...14
E os atritos. Ah, os atritos! Imaginem advogados, promotores e juízes, em
conturbada audiência. O calor do momento (e das salas de audiência), a presença das
partes, tudo está a contribuir para que os ânimos se exaltem em razões e contra-razões de
agravo retido, em decisões e manutenções de decisões agravadas.
A obrigatoriedade da interposição imediata do retido oral das decisões
proferidas em audiência é um desserviço à justiça de 1º grau. As pautas de audiências, já
longas, se tornarão ainda mais. O juiz de 1º grau, sem poder prever o número de agravos
que serão interpostos de suas decisões, terá de reservar o dia todo para uma audiência
mais complexa. E o jurisdicionado, em termos de celeridade, não ganha nada com isso.
Seria bem melhor que o agravo nestas situações continuasse obrigatoriamente
retido, mas pudesse ser interposto por via escrita, no prazo legal. Não há razão lógica
alguma para a mudança.
Além disso, muito prejudicados pela nova norma serão também os jovens
advogados. Ainda no aprendizado profissional (algo que em nossa área se leva toda uma
vida), muitos deles não terão segurança suficiente para ofertar as razões orais de agravo,
algo que era possível quando a interposição era escrita.
Por tabela os grandes escritórios também passam a ser prejudicados, pois os
advogados mais experientes terão de deixar o conforto de seus escritórios para defender
adequadamente os interesses de seus patrocinados em audiências de instrução de causas
mais complexas.

13
“O Superior Tribunal de Justiça não tem competência para processar e julgar, originariamente,
mandado de segurança contra ato de outros Tribunais ou dos respectivos órgãos”.
14
A única maneira que encontro para tentar minorar os graves efeitos da introdução do agravo oral
obrigatório é a condensação dos arrazoados para um momento final único. Assim, se na audiência de
instrução for proferida mais de uma decisão recorrível, a parte deve agravar imediatamente (isto é,
logo após a prolação da decisão), sob pena de preclusão temporal. Mas nada impede que um
arrazoado único seja feito ao final, condensando-se ali o inconformismo contra todas as decisões
impugnadas. Sem dúvida isto representa certo abrandamento do princípio recursal da
complementaridade, em que as razões necessariamente devem acompanhar a interposição do
recurso.

12
4. CONCLUSÕES.
Espero, sinceramente, errar em todas as minhas previsões, e certamente terei a
humildade necessária para fazer mea culpa. Mas a Lei 11.187/2005, ao meu ver, mais
atrapalha do que ajuda.
A ótica reformadora partiu da premissa parcialmente verdadeira de que o
congestionamento da justiça está no 2º grau. Só me parece que não se aperceberam dos
reflexos negativos que a reforma do agravo opera no andamento das causas em 1º grau.
Melhorar a qualidade temporal do 2º grau em detrimento do 1º grau não me parece decisão
acertada.
O excesso de recursos é um problema cultural. Só será solucionado com
mudança de mentalidade através da formação dos novos profissionais do direito e por
sanções processuais mais incisivas aos que recorrem sem fundamento.
Não há fórmula mágica para melhorar o processo civil brasileiro. As mudanças
são esperadas com ansiedade. Mas não poupemos as críticas construtivas a elas. Afinal a
(quase) todos interessa o aperfeiçoamento de nosso sistema jurídico.

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