Você está na página 1de 50

Processo Penal

"Cuida de evitar os crimes, para que não sejas obrigado a puni-los."

Confúcio

Por Rommel Andriotti


2º semestre de 2013




Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !1 de 82


!

Introdução
Olá caro colega, e seja bem vindo ao maravilhoso mundo do Direito!
O resumo que você tem em mãos foi confeccionado com o maior esmero
possível, e é resultado do meu entendimento das aulas que assisti e das pesquisas
que realizei sobre o tema.
Em razão disso, nenhum professor, aluno, instituição, ou mesmo eu próprio é
responsável por este conteúdo. Ele foi elaborado como um caderno de estudante, e por
isso não há garantia de isenção de erros. Entretanto, conforme mencionado, o que
você lerá foi confeccionado com muita dedicação, e por isso certamente poderá
acrescentar valor aos seus estudos.
É importante ressaltar ainda que esse material não tem fins lucrativos. Você
tem minha autorização para utiliza-lo como desejar, bem como para divulgar esse
material a vontade. Conhecimento é para ser disseminado, multiplicado e perpetuado!
Por fim, com a devida vênia, gostaria de com poucas palavras dedicar esse
material ao meu caríssimo irmão, Raphael, que me privilegia habitualmente com sua
presença gentil e bondosa, sem a qual eu não conseguiria prosseguir.

Como ler esse material


Cada aula é iniciada com um título grande que indica o número da aula, a data
que ela me foi lecionada, e seu tema principal.

Ex.:

Aula 52 (29.02.2008) - Os regimes de


casamento
Depois, vocês verão textos corridos, eventualmente divididos por outros títulos e
subtítulos, como esse:

As citações
Quando eu for citar algum autor, jurisprudência, notícias, etc, eu seguirei padrões
para facilitar a identificação do que esta sendo lendo.

Normalmente o layout será esse:

Quando eu fizer um comentário pessoal, ele estará escrito dessa forma, como
anotações em um caderno.

Se eu quero transcrever uma citação ou dica especifica do professor, a


observação estará assim, em giz.

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !2 de 82


!
Quando transcrevermos um artigo de lei, ele estará assim:
CF. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade

Ao transcrevermos uma sumula ou jurisprudência o layout será esse:


STF Súmula nº 691 - 24/09/2003 - DJ de 9/10/2003, p. 5; DJ de
10/10/2003, p. 5; DJ de 13/10/2003, p. 5. Competência -
Conhecimento de Habeas Corpus Contra Indeferimento de
Liminar em HC Impetrado em Tribunal Superior.

Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas


corpus impetrado contra decisão do Relator que, em habeas
corpus requerido a tribunal superior, indefere a liminar.
(Conhecimento na Hipótese de Flagrante Constrangimento
Ilegal - HC 85185, HC 86864 MC-DJ de 16/12/2005 e HC 90746-
DJ de 11/5/2007)

Doutrinas estarão na fonte times.


Se eu for citar um filosofo ou mesmo um cientista antigo, a fonte será essa, como
se escrito em papiro.

Se faremos uma citação jornalística, a forma será a seguinte, em homenagem à


máquina de escrever:
Folha de São Paulo - 23/08/2013 - 23h40
Brigas de Joaquim Barbosa com membros do STF são tema de matéria do 'New
York Times'
As brigas entre Joaquim Barbosa e os demais membros do (STF) Supremo Tribunal
Federal foram tema de matéria do jornal americano "The New York Times" nesta
sexta-feira (23). À publicação, o chefe do Judiciário brasileiro voltou a dizer que não
pretende se candidatar a nenhum cargo.
A matéria caracterizou Barbosa como uma pessoa "direta" e "sem medo de
aborrecer o status quo". "Quando o presidente do Tribunal, Joaquim Barbosa,
adentra a corte, os outros dez ministros se preparam para o que pode vir depois",
escreveu o correspondente americano Simon Romero, que viajou do Rio à Brasília
para a entrevista.
"Ele é a força motriz por trás de uma série de decisões socialmente liberais", diz o
texto, acrescentando a atuação do ministro virou motivo de fascínio popular.
Além do recente episódio em que Barbosa acusou Ricardo Lewandowski de fazer
"chicanas" no julgamento dos recursos do mensalão, Romero cita uma ocasião em
que o juiz discutiu com Marco Aurélio Mello, sugerindo que este só virou ministro
por ser parente do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Também foi mencionada
uma briga em que o presidente do Supremo insinua que Gilmar Mendes tem
"capangas", em resposta ao que julgou ser uma fala condescendente do colega, e a
entrevista na qual disse que os juízes brasileiros de têm mentalidade "conservadora"
e "pró impunidade".

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !3 de 82


!
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/08/1331441-brigas-de-joaquim-barbosa-
com-membros-do-stf-e-tema-de-materia-do-new-york-times.shtml
Por fim, estrangeirismos estarão em itálico (fumus boni iuris et Periculum in mora), e
partes importantes estarão devidamente destacadas.

Você pode ajudar na confecção desse resumo notificando quaisquer erros que
você encontre ou me enviando material para complementarmos a aula. Estarei disponível
24/7 no email: rommel.andriotti@outlook.com

Enfim, espero que vocês gostem e aproveitem este material.

Bons estudos!


Rommel An!io"i


Aula 01 e 02 (ago/2013) - Das Provas
Em razão de minha ausência, a confecção destas aulas só foi possível graças a gentil
contribuição de Bárbara Ferreira de Bonis e Alini Mormino, a quem eu externo minha
profunda gratidão.

Provas
Continuada será testes sem consultas.

Regimental será dissertativa com consulta à lei "seca", ou seja, sem comentários
ou anotações.

Bibliografia
Guilherme Nucci. Manual de processo e execução penal.

Fernando Capez. Curso de processo penal. Saraiva.

Fernando da Costa Tourinho Filho. Manual de processo penal. Saraiva.

As Provas
A regulamentação das provas foi alterada em 2008 pela lei 11.690 (2008)

Prova é todo o ato praticado pelas partes, pelo juiz, ou por terceiro (peritos,
testemunhas, etc) com a finalidade de levar ao magistrado a convicção sobre a existência
ou não de um fato.

Fatos ocorrem no mundo exterior ao processo, e por isso são necessários meios
de levar tais fatos ao conhecimento do juiz, com o fim de criar o convencimento dele,
permitindo assim o julgamento da lide.

As provas são produzidas pelas partes, ou são requeridas por terceiros ou o


próprio juiz.

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !4 de 82


!
OBJETO DA PROVA
Thema Probandum = aquilo que deve ser provado.

Fundamentalmente o objeto da prova são os fatos, pois são esses que o juiz
desconhece. Espera-se, claro, que o direito o juiz saiba.

Há no entanto fatos que não precisam ser provados:

• Os fatos axiomáticos ou intuitivos - são aqueles que por si mesmo demonstrem algo.
Ex.: Cadáver em decomposição não necessita de prova de falecimento. Dãããã

Um professor em uma aula tem cerca de 40 testemunhas que afirmam que ele ali
estava. Obviamente, em razão disso, ele não precisará complementar este alibi com outras
provas.

• Fatos notórios - são fatos que são de conhecimento geral, e não necessitam de prova.
Ex.: provar que segunda vem após domingo, ou que tinha luz solar ao meio dia.
Dããããããã

• Os fatos presumidos pela lei - Fatos que a lei considera existentes dependendo de
certas circunstancias. Ex.: a inimputabilidade do menor de dezoito anos não precisa ser
provada, ela é uma presunção legal.

• Os fatos inúteis - são os fatos que não dizem respeito ou não são necessários para a
resolução da lide criminal. Ex.: o sujeito acusado de roubo não precisa provar para qual
time que ele torcia (mesmo que fosse para o Corinthians!!!).

Fatos Incontroversos
Fatos incontroversos são aqueles ditos por uma parte e admitidos ou não
contestados pela outra. No entanto, observe que se o fato é relevante para a causa, no
direito penal o juiz é obrigado a produzir provas sobre ele, em razão do princípio da
Busca da Verdade Real. Em razão desse princípio, no processo penal o juiz é obrigado a
apurar tanto quanto possível aquilo que realmente aconteceu, e nao uma verdade
meramente formal.

Verdade Formal = Verdade presumida na falta de contestação (direito civil)

O juiz no processo penal não pode julgar presumidamente, mas sim buscar o que
realmente ocorreu. O fato incontroverso então não significa que é uma verdade real, e
ainda obriga as partes a prova-lo.

Prova de Direitos
O direito EM REGRA não é objeto de prova, pois na teoria o juiz sabe o direito, e
precisa meramente que as partes lhe dêem os fatos. Excepcionalmente no entanto é
possível que direito seja objeto de prova, quando, por exemplo, a aplicação de uma
norma alienígena seja necessária ao caso.

Meios de prova
Meios de prova são os instrumentos aptos a trazer ao processo a convicção sobre
os fatos.

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !5 de 82


!
Ex.: prova documental, testemunhal, periciais, acareações, reconhecimentos, etc.

Em regra as partes podem usar qualquer meio de prova que elas desejarem, em
razão do princípio da liberdade de prova, que se coaduna também à busca pela verdade
real, o que implica que a verdade deve ser alcançada.

O código de processo penal, nos seus artigos 158 a 250, traz a relação dos meios
de prova. Por isso, essas são chamadas de provas nominadas. Essa relação no entanto não
é taxativa, até porque tal vedação impediria a apreciação de provas que surgissem
posteriormente com novas tecnologias.

Ex.: um juiz de 1988 não poderia imaginar que em 40 anos haveriam serviços de
vídeos online potencialmente usados como prova (YouTube).

A liberdade de prova não é um principio absoluto, pois a produção de provas não


pode ferir outros princípios (vida, integridade física e moral, privacidade, etc).

A prova emprestada por exemplo não encontra previsão expressa no código de


processo penal. Prova emprestada é a prova produzida em outro processo e transladada
para o processo em evidência. O juiz pode embasar sua decisão na prova emprestada cujo
processo teve como partes as mesmas deste e que o contraditório foi respeitado.

RESTRIÇÕES À LIBERDADE DE PROVAS


O principio da liberdade de provas tem algumas limitações.
Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão
observadas as restrições estabelecidas na lei civil.

O estado das pessoas diz respeito ao casamento e parentescos. Diz o código civil
que:
Art. 1.543. O casamento celebrado no Brasil prova-se pela
certidão do registro.

Então, havendo-se certidão do registro, é essa a prova para comprovar-se o estado


de pessoas. No direito penal essas regras são válidas, já que se tratam de estado das
pessoas.

Outro exemplo é a morte. A morte do réu se prova com a certidão de óbito,


ocasião em que torna-se extinta sua punibilidade.
Art. 62. No caso de morte do acusado, o juiz somente à vista da
certidão de óbito, e depois de ouvido o Ministério Público,
declarará extinta a punibilidade.

Muito bem, mas imaginemos a seguinte situação:

Um réu consegue uma certidão de óbito falsa. O que fazer?

São duas as respostas para essa pergunta, cada uma oriunda de uma corrente
doutrinária distinta:

1ª corrente (minoritária) - Não há como se afastar essa possibilidade, pois a coisa


julgada em favor do réu é a mais absoluta no processo penal, podendo-se somente
processa-lo por falsificação de documento, admitindo-se o transito em julgado em seu

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !6 de 82


!
favor, ainda que originário de uma falsificação documental. Essa vertente é considerada a
mais tecnicamente correta, embora minoritária.

2ª corrente (majoritária) - A decisão baseada em certidão falsa não faz coisa


julgada, podendo ser revogada, continuando o processo a partir daquele ponto, além de
processar-se o réu também pelo novo crime de falsificação documental. Essa corrente é a
majoritária e é a seguida pelo STF e STJ. Ainda bem mesmo! A primeira corrente é
meramente formalista, e coloca a norma processual acima da material, em detrimento da
verdade e da justiça.

Prova ilícita
É inadmissível no processo penal o uso de provas consideradas ilícitas.
CF. Art. 5º. LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas
obtidas por meios ilícitos;

CPP. Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas


do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em
violação a normas constitucionais ou legais.

Então, prova ilícita é aquela obtida por meio de uma violação de uma norma legal
ou constitucional. Ex.: confissão mediante tortura, violação de sigilo de ligações
telefônicas sem autorização judicial competente, etc.

Segundo a doutrina, as provas ilícitas assim consideradas em lato senso são um


gênero que contém duas espécies: provas ilícitas em stricto senso, e provas ilegítimas,
como veremos.

Provas ilícitas stricto senso - São provas que violam qualquer norma de direito
material. Ex.: confissão mediante tortura, violação de sigilo de ligações telefônicas sem
autorização judicial competente, etc.

Provas ilegítimas - São provas que violam normas de direito processual. Ex.:
CPP. Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de
função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo
se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu
testemunho.

CPP. Art. 479. Durante o julgamento não será permitida a leitura de


documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado aos
autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias úteis, dando-se
ciência à outra parte.

Parágrafo único. Compreende-se na proibição deste artigo a leitura


de jornais ou qualquer outro escrito, bem como a exibição de vídeos,
gravações, fotografias, laudos, quadros, croqui ou qualquer outro
meio assemelhado, cujo conteúdo versar sobre a matéria de fato
submetida à apreciação e julgamento dos jurados.

Na prática nenhuma delas é admissível, sendo tal distinção somente teórica.


Nesses casos, o juiz deverá desentranhar a prova, retira-la dos autos, e inutiliza-la,
fazendo como se ela nunca houvesse existido.

Nesses casos é possível a aplicação do princípio da proporcionalidade - a


proibição da prova ilícita pode ser mitigada (reduzida) para a aplicação do princípio da
proporcionalidade, que aduz que nenhum direito é absoluto, nem mesmo o à vida. Ex.: o

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !7 de 82


!
direito à vida de um agressor é considerado proporcionalmente menor que o da vitima,
sendo a essa permitida a legitima defesa sem excesso, mesmo que isso cause a morte do
agressor.

Portanto, a prova ilícita poderá ser admitida quando o direito que ela viola for
menos relevante que o direito que ela assegura. Ex.: uma pessoa injustamente acusada de
latrocínio que junta uma prova que ela obteve furtando um documento de uma casa após
invadir o domicilio pode ser admitida, pois o direito da liberdade do réu é superior que o
da inviolabilidade ao domicilio.

Esse princípio, quando usado em favor do réu é sempre permitido, mas contra
ele não, dependendo muito do caso concreto. Nesses casos, tal prova só é admissível
contra o réu em situações de urgência. Ex.: um indivíduo coloca uma bomba relógio na
sala de aula e os demais, sem ter como sair da sala, o torturam para que ele revele onde
ela está. Como a finalidade é salvar a todos, isso seria admitido. Da mesma forma, se no
mesmo exemplo a finalidade fosse meramente garantir a punição do réu a confissão dele
não seria mais válida.

Provas derivadas ou ilícitas por derivação


São provas que são licitas quando consideradas nelas mesmas, mas que o
conhecimento já se deu através de uma ilícita.
CPP. Art. 157. § 1º - São também inadmissíveis as provas
derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de
causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas
puderem ser obtidas por uma fonte independente das
primeiras.

§ 2º - Considera-se fonte independente aquela que por si só,


seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da
investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao
fato objeto da prova.

Ex.: Submetido a tortura, um sujeito confessa um crime que a polícia


desconhecia, e somente diante disso a policia ouve testemunhas, vitimas, etc.

O CPP adota com isso uma corrente doutrinaria norte americana, não admitindo
as provas derivadas. Como sempre, teremos exceções a essa regra:

Exceção 01. As provas derivadas podem ser admitidas quando não demonstrado
o nexo de causalidade entre a prova ilícita anterior e as provas licitas posteriores. Na
duvida sobre a derivação o juiz aceita a prova. Cabe ao polo passivo provar que a prova se
deu ilicitamente.

Exceção 02. As provas derivadas também são admitidas quando as provas


posteriores lícitas pudessem ser adquiridas sem o intermédio das ilícitas. Neste caso, o
juiz reconhecerá que a prova é derivada, mas considerará que a prova ilícita anterior não
foi condição si ne qua non para a obtenção da posterior licita.

O ônus da prova
Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo,
porém, facultado ao juiz de ofício:

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !8 de 82


!
I - ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção
antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes,
observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da
medida;

II - determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir


sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre
ponto relevante.

Ônus da prova é o encargo que as partes têm de provar o que respectivamente


alegam.

A prova da alegação incumbe a quem a fizer, o que primariamente recai sobre a


acusação, uma vez que essa é quem acusa alguém de ter praticado um crime, tendo de
demonstrar para tanto a prova de materialidade e indícios de autoria.

A defesa por sua vez recebe o ônus da prova secundariamente, tendo por
exemplo que provar a incidência de uma excludente de ilicitude ou culpabilidade. Ex.: a
prova dos alibis esta a cargo da defesa.

Em razão do principio da busca da verdade real, o juiz tem autonomia para


determinar a produção de provas não requeridas pelas partes.

O ônus da prova para a acusação é considerado qualificado, uma vez que ela tem
de incutir no juízo a certeza de que o crime ocorreu. A defesa por sua vez tem meramente
de estabelecer a dúvida, pois in dúbio pro réu (na duvida, favorece-se o réu).

Sistemas de apreciação e valoração das provas


Esses sistemas são adotados quando há conflito entre provas. Existem três
possíveis:

Sistema da intima convicção ou certeza moral do juiz


Esse não é nosso sistema. A lei não hierarquiza as provas, podendo o juiz valora-
las como desejar sem fundamentar.

Sistema da intima convicção ou certeza moral do legislador


Não é nosso sistema. A lei hierarquiza a norma, estando o juiz obrigado a seguir a
prova legalmente considerada mais relevante.

Sistema do livre convencimento ou livre apreciação


As provas são teoricamente consideradas equivalentes, podendo o juiz atribuir
valor a elas como desejar, estando no entanto obrigado a fundamentar sua decisão.
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da
prova produzida em contraditório judicial, não podendo
fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas
cautelares, não repetíveis e antecipadas.

Exceção: no tribunal do júri os jurados não precisam fundamentar!

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !9 de 82


!
Aula 03 (15.08.2013) - Teoria Geral das
Provas cont. e provas em espécie
PROVAS CONTRADITÓRIAS
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da
prova produzida em contraditório judicial, não podendo
fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas
cautelares, não repetíveis e antecipadas.

Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão


observadas as restrições estabelecidas na lei civil.

O juiz não pode fundamentar sua decisão exclusivamente nas provas produzidas
em fase de inquérito. Em outras palavras, as provas da investigação não podem ser o
fundamento exclusivo da decisão.

A razão disso é que as provas produzidas nessa fase não passaram pelo
contraditório. O juiz pode usar essas provas de maneira complementar.

Ex.: em uma situação hipotética, o suspeito confessa na delegacia, e a vitima


conhece o reconhece como autor do crime. Posteriormente, em juízo, o suspeito não
confessa, e a vítima não reconhece. Nesse caso, prevalecerá a prova do juízo.

Exceções
O próprio artigo 155 apresenta exceções à regra, estabelecendo provas que
podem fundamentar a decisão e que foram produzidas em inquérito. São elas as provas
antecipadas, as cautelares e as não repetíveis.

Antecipadas - são provas realizadas pelo próprio juiz sob a égide do


contraditório antes da ação penal, e por isso válidas quando da fundamentação da
decisão.

Cautelares - É uma espécie de prova antecipada que ocorre quando há a


necessidade por qualquer razão que a produção da prova seja realizada antes do início da
ação (Periculum in Mora). Um exemplo é o depoimento Ad Perpetuam rei Memoriam
(depoimento para lembrança perpétua da coisa), que nada mais é que a oitiva de uma
testemunha pelo juiz, sob o contraditório, antes da ação penal. Como o contraditório é
respeitado, essa prova é valida mesmo sendo produzida antes da ação penal.

Provas não repetíveis - são provas realizadas sem contraditório na fase da


investigação e que por sua natureza não podem ser repetidas em juízo na fase da ação.
Por exemplo: algumas perícias. Um perito que analisa as vísceras de uma vitima de
homicídio só pode realizar tal analise uma vez. Sua natureza irrepetível permite ao juiz
que fundamente sua decisão com base em tal prova, no exemplo a perícia irrepetível.

Nesses casos, se diz que o contraditório é diferido, ou seja, é postergado,


retardado, deixado pra depois. Se diz isso pois o contraditório não existe no momento da
criação da prova, mas ele pode ser realizado mais tarde, dando às partes a oportunidade
de impugnarem aquela prova.

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !10 de 82


!
Provas em espécie
O CPP nomeia algumas provas (provas nominadas). São essas as provas em
espécie, que serão objeto desta seção.

PERÍCIA
Arts. 158 - 184
Exame realizado por pessoa que tenha conhecimento técnico específico.

O juiz é um técnico no direito. Ele não é obrigado a conhecer todas as outras


áreas do conhecimento humano (ex.: contabilidade, engenharia, Eletrônica, medicina,
etc). Por isso existem os peritos, que esclarecerão ao juiz quais as conclusões técnicas da
análise dos elementos probatórios. O perito é um auxiliar da justiça.

Classificação dos peritos


Oficiais
Peritos oficiais são peritos funcionários públicos, que exercem o cargo de perito.
Em regra, as perícias devem ser realizadas por um perito oficial (art. 159 CPP). Somente
um perito é necessário, mas em perícias mais complexas vários peritos podem ser
nomeados, especialmente em áreas variadas do conhecimento, que complementarão o
laudo (ex.: um assassinato complexo envolve varias perícias na cena do crime, como
sangüínea, química, balística, etc)

Onde não houver perito oficial, as perícias serão realizadas por no mínimo dois
peritos particulares.

Particulares
Peritos particulares são pessoas idôneas, com curso superior preferencialmente na
área demandada, nomeadas pelo juiz para realizar o exame. Eles deverão prestar
compromisso de imparcialidade para desempenhar as funções. Dos peritos oficiais não é
requerido tal compromisso pois eles já são juramentados quando da posse do cargo.

Determinação da perícia
As perícias podem ser determinadas:

Na fase da investigação
Pelo delegado ou pelo juiz.

Na fase da ação
Somente pelo juiz (de ofício ou a pedido das partes).

QUESITOS
Determinadas a perícia, as partes podem oferecer quesitos, que são perguntas a
serem respondidas pelo perito.

Na fase da ação as partes podem nomear assistentes técnicos (Art. 159). Esses são
peritos particulares, nomeados pela(s) parte(s) com a finalidade de criticarem
(comentarem, opinarem) a perícia do juízo no interesse da(s) parte(s) que requereu a
assistência técnica.

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II ! de 82


11 !
Quando o objeto da perícia ainda esta disponível, a parte pode requerer que o
assistente tenha acesso ao objeto da perícia. Tal requerimento passará pelo crivo de
aprovação do juiz.
Parágrafo 6º do artigo 159 - § 6º - Havendo requerimento das
partes, o material probatório que serviu de base à perícia será
disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá
sempre sua guarda, e na presença de perito oficial, para exame
pelos assistentes, salvo se for impossível a sua conservação.

O juiz é obrigado a decidir de acordo com a perícia? De acordo com o perito


oficial? Com o assistente?

Não. O juiz é Peritus Peritorium. Ele é o perito dos peritos. Ele poderá discordar
das perícias, desde que ele fundamente, em conformidade com o principio do livre
convencimento do juiz. Ele valorará como desejar as provas a sua disposição.

EXAME DE CORPO DE DELITO


É a rainha das perícias.

Corpo de delito
Corpo de delito é o conjunto de vestígios
materiais deixados pela infração. É aquilo que
materialmente foi modificado pela infração penal. É
aquilo que era de um jeito antes da infração, e
passou a ser de outro jeito após a infração.

Exemplos:

1) o corpo de delito de um homicídio


consumado é o cadáver;

2) o corpo de delito de um incêndio é os


objetos e infra-estruturas carbonizados;

3) o corpo de delito do crime de estupro são as marcas e fluídos corporais


gerados pela cópula; etc.

Classificação do corpo de delito das infrações


Delicta Factis Permanentis (delitos de fatos permanentes) - são as infrações
que sempre deixam vestígios, ou que necessariamente deixam vestígios. Ex.: o homicídio
consumado é delito de fato permanente. A tentativa pode não ser, se ela for branca
(tentativa branca: não causa nenhum efeito; tentativa cruenta: causa efeitos, ainda que
não os desejados em ultimo plano, como ferimentos na vitima em uma tentativa de
homicídio).

Nesses casos é obrigatório o exame de corpo de delito.


Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável
o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo
supri-lo a confissão do acusado.

Por isso, se o exame de corpo de delito é possível mas não é realizado, essa
ausência acarretará a nulidade da ação, ainda que haja confissão.

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !12 de 82


!
CPP. Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:

III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:

b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios,


ressalvado o disposto no Art. 167;

Delicta Factis Transeuntes (delitos de fatos passageiros) - são infrações que


não deixam vestígios obrigatoriamente. Ex.: o crime de injúria pode não deixar vestígio
material.

Nesses casos, o exame só é necessário se há corpo de delito. Se possível, a perícia


deve ser feita, mas como um reforço da prova, mas a ausência da perícia não acarreta em
nulidade, podendo tal ausência ser suprida por outras provas.

Obs.: os vestígios que se referem essas classificações são vestígios materiais. A


lembrança das testemunhas por exemplo não é considerada vestígio pra tais efeitos pois
são vestígios intelectuais, e não materiais, ou seja, nao são vestígios que sofreram
alteração.

Exame direto - é um exame realizado diretamente sobre os vestígios da infração.


Ex.: Perícia no cadáver do homicídio.

Exame indireto - é um exame baseado em outras provas. Ex.: se ocorre um


homicídio e o cadáver não esta disponível, o exame de outras provas permitirá se verificar
e existência ou nao do fato.

Só se admite o exame indireto quando impossível a realização do direto.

Interrogatório judicial do acusado (arts. 185 - 196, CPP)


Interrogado é o indiciado no
inquérito, ou o réu na ação penal. Não se
fala em interrogatório de testemunha, mas
sim em oitiva de testemunha. Testemunha
se ouve, não se interroga.

O interrogatório judicial do
acusado é o ato judicial que consiste em
se ouvir o acusado sobre a acusação. A
natureza desse ato é ao mesmo tempo
meio de auto defesa e meio de prova. É
meio de auto defesa pois o réu dirá sua
versão do fato imputado, e é meio de prova pois pode ser levado em conta pelo juiz para a
decisão. O interrogatório em juízo é contraditório, sendo as partes intimadas para
acompanharem. O defensor tem de obrigatoriamente estar presente. Caso o réu não
houver trazido um defensor próprio, caberá ao já nomear um defensor para ele. Além
disso, antes do interrogatório, o réu tem o direito de se entrevistar com o seu defensor
sigilosamente.
Na próxima aula: continuação do interrogatório.

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !13 de 82


!
Aula 04 (16.08.2013) - Interrogatório e
outros meios de prova
DIREITO AO SILÊNCIO
(art. 186, parágrafo único, CPP, e art. 5º, inc. LXIII, CF)
Qualquer acusado tem o direito de ficar em silêncio. O silêncio nesse caso não
pode ser interpretado nem a favor e nem contra o réu. Como é um direito garantido
constitucionalmente, entende-se que o silencio nao pode resultar em ônus ao réu.
CF. Art. 5º, LXIII - o preso será informado de seus direitos,
entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada
a assistência da família e de advogado;

O réu pode mentir no interrogatório, mas esse direito tem limites, pois ele só
pode mentir na medida da necessidade de sua defesa. O réu não pode, por exemplo,
mentir sobre a sua qualificação ou imputar a outrem o crime que fora imputado a ele
(salvo se for verdade).

As partes do interrogatório
Art. 187, CPP
O interrogatório se divide em duas partes:

1ª parte - interrogar o réu sobre sua pessoa, como sua vida social, sua condição
financeira, profissão, oportunidades na vida, etc.

2ª parte - interrogar sobre os fatos da acusação.

Após isso, será concedida as partes a oportunidade de formularem perguntas. As


perguntas são feitas por intermédio do juiz. As partes dirigem suas perguntas ao juiz e o
juiz repergunta ao réu. O juiz pode indeferir perguntas impertinentes.

Local do interrogatório
Art. 185, parágrafo 1º
Se o réu está solto, é realizado em juízo, na sala de audiências. Se ele estiver
preso, a regra é que ele seja interrogado no presídio. É claro que essa regra esta fora da
realidade. Felizmente o legislador abriu exceções: a audiência poderá ser fora do presidio
quando não houver segurança para o juiz e as partes, bem como se não houver garantia
de publicidade. Como na pratica nunca tem nem uma e nem outra, as audiências são
sempre realizadas nos fóruns.

Interrogatório por vídeo conferencia (interrogatório online)


Levar os presos da prisão para o fórum se mostrava uma atividade muito perigosa
e dispendiosa ao estado.

Em razão disso, o estado de São Paulo sancionou a lei 11819/2005 que


regulamentava as vídeo conferencias. A OAB e a procuradoria do estado de São Paulo
foram contra. No fim, o supremo tribunal federal declarou essa lei inconstitucional, mas
FORMALMENTE, ou seja, ela foi declara inconstitucional porque matéria processual só

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !14 de 82


!
pode ser legislada pela união, mas isso não ataca o mérito da lei, somente sua
formalização.

Depois disso, a lei federal 11900/2009 alterou o CPP, permitindo as vídeo


conferencias. Até hoje o supremo não se manifestou ainda sobre a constitucionalidade de
tal lei.

Hipóteses em que a lei permite o interrogatório por vídeo conferencia


Art. 185, parágrafos 1º a 9º, CPP
A lei prevê hipóteses taxativas para realização das vídeo conferencias. Nenhuma
dessas hipóteses é a dificuldade de escolta. Estas são as situações:
§ 2º - Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de
ofício ou a requerimento das partes, poderá realizar o
interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência
ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e
imagens em tempo real, desde que a medida seja necessária
para atender a uma das seguintes finalidades:


I - prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada
suspeita de que o preso integre organização criminosa ou de
que, por outra razão, possa fugir durante o deslocamento;

É para evitar o perigo do translado de ida e volta do preso. Esse dispositivo foi
inserido especialmente por causa do PCC.
II - viabilizar a participação do réu no referido ato processual,
quando haja relevante dificuldade para seu comparecimento
em juízo, por enfermidade ou outra circunstância pessoal;

Ou seja, para quando o réu tem uma circunstancia ou contingência de saúde que
o impeça ou dificulte sua participação no processo que integra.
III - impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou
da vítima, desde que não seja possível colher o depoimento
destas por videoconferência, nos termos do art. 217 deste
Código;

Pois as vezes a presença do réu pode amedrontar ou gerar reações psicológicas


fortíssimas na vitima e testemunhas. Note que primeiramente tenta-se ouvir a vítima ou
testemunha por videoconferência, e somente na impossibilidade delas é que o preso é
ouvido por videoconferência.
IV - responder à gravíssima questão de ordem pública.

Quando o crime tem grandes repercussão pública.

Observações importantes
Para haver a conferencia, as partes deverão ser intimadas com dez dias de
antecedência, sempre se justificando o porquê da conferencia ser digital (conforme as
situações acima).

O réu deverá acompanhar a audiência inteira de onde ele se encontra. O réu


deverá ser assistido por seu defensor. Mas onde esse defensor deverá estar?

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !15 de 82


!
Se depreende da lei que devem haver dois defensores, um na sala do réu, e um
na audiência com o juiz, e devem ser proporcionados meios de comunicação entre o réu
e o defensor da sala de audiência, e entre os defensores.

Uma sala reservada deve ser usada pelo o réu para a vídeo conferencia.

Obrigatoriedade do interrogatório
Art. 564, III, e

Sempre que possível o interrogatório deve ser realizado. A ausência do


interrogatório possível tornará nulo o processo.
Se o réu inicialmente revel comparece posteriormente, torna-se necessária a
realização tardia de seu interrogatório, que também é imprescindível. Se o réu
comparecer mais tarde, ele deverá ser interrogado a qualquer tempo, mesmo após a
sentença de primeiro grau.

Renovação do interrogatório
Art. 196, CPP
O interrogatório pode ser renovado, o juiz reinterrogando o réu de oficio ou a
pedido das partes.

CONFISSÃO
Arts. 197 a 200, CPP
É outro meio de prova nominada. É a admissão voluntária pelo indiciado ou réu
dos fatos contidos na acusação. Existem dois tipos:

Confissão simples - o réu admite os fatos sem acrescentar nenhuma


circunstância que altere a qualificação jurídica deles. Ex.: acusado por um crime de
estupro, o réu admite que estuprou.

Confissão qualificada - o réu admite os fatos mas acrescenta uma circunstancia


que altera a qualificação jurídica dos fatos. Ex.: acusado de homicídio, o réu admite mas
revela que estava em legitima defesa.

A confissão é divisível e retratável. Divisível significa que o juiz pode aceitar parte
da confissão, rejeitando outra parte.

A confissão não é "a rainha das provas", como se dizia antigamente. No nosso
sistema do livre convencimento, não há prova que valha mais do que outra.

Prova testemunhal
Testemunha é toda a pessoa estranha ao processo chamada a depor sobre fatos
relevantes para a decisão da causa.

Vitima portanto não é testemunha.

As testemunhas podem ser arroladas pelas partes no momento oportuno. O juiz


pode determinar a oitiva de testemunhas nao arroladas pelas partes. Essas testemunhas
são chamadas de testemunhas do juízo (art. 209).

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !16 de 82


!
Se, uma vez passada a oportunidade de arrolar testemunhas, surge uma nova
testemunha, a parte interessada pode requerer ao juiz sua oitiva, mas isso dependerá de
anuência.

As testemunhas deverão prestar um compromisso (art. 203 CPP) para falar a


verdade. O compromisso é mera formalidade, e sua ausência não acarreta na nulidade do
processo. Se a testemunha mente e não prestou compromisso, ainda assim ela terá
proferido um testemunho válido.

TESTEMUNHAS DISPENSADAS DE COMPROMISSO


São consideradas informantes:

O menor de quatorze anos (art. 208, CPP)

Auto-explicativo.

Doentes mentais (art. 208, CPP)

Auto-explicativo.

As pessoas dispensadas de depor, se depuserem (art. 206, CPP)


Art. 206. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de
depor. Poderão, entretanto, recusar-se a fazê-lo o ascendente
ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que
desquitado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do
acusado, salvo quando não for possível, por outro modo, obter-
se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias.

Como vimos, se nao houver outro meio para esclarecer o fato, o juiz pode
determinar mesmo assim o depoimento, mas sempre sem compromisso.

As pessoas que não prestam compromisso são chamadas de informantes ou


declarantes, pois não prestam depoimento, mas sim declaração.

Proibidos de depor
São pessoas que em razão de sua profissão ou atividade devem guardar sigilo, e
portanto estão proibidos de depor. Ex.: o advogado, o padre, o medico, etc.
Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de
função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo,
salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o
seu testemunho.

Essa vedação é disponível. Admite-se o desaparecimento da profissão se o


interessado no sigilo abra mão dele. No entanto, pelo entendimento do STJ, se esse
profissional é subordinado a uma entidade de classe, então ela deverá ser consultada
também. Ex.: OAB, Igreja, etc.

SUSPEIÇÃO DE TESTEMUNHA
É uma construção doutrinaria. É suspeita a testemunha que, por ter um interesse
no processo, tem a sua credibilidade afetada. A testemunha suspeita pode depor, mas o
juiz valorará tal testemunho considerando a suspeição.

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !17 de 82


!
Contradita de testemunha
Artigo 214
É a impugnação da testemunha arrolada por uma das partes feita pela outra
parte, nas hipóteses de suspeição, proibição, dispensa, menoridade ou doença mental.

Procedimento
Chamada a testemunha, antes do inicio do depoimento a parte pede a palavra e
oferece a testemunha. O juiz então perguntará a contradita sobre o caso. Na hipótese de
dispensa, o juiz pergunta à testemunha se ela deseja depor. Se for afirmativo procede-se
o depoimento, se negativo, o juiz dispensará, salvo se ela for o único meio de
esclarecimento. Se a testemunha for suspeita, o juiz ouvirá com ressalvas.

Incomunicabilidade das testemunhas


Art. 210. As testemunhas serão inquiridas cada uma de per si,
de modo que umas não saibam nem ouçam os depoimentos
das outras, devendo o juiz adverti-las das penas cominadas ao
falso testemunho.

Parágrafo único. Antes do início da audiência e durante a sua


realização, serão reservados espaços separados para a garantia
da incomunicabilidade das testemunhas.

As testemunhas teoricamente são ouvidas separadamente, sem que uma tenha


conhecimento do depoimento da outra. Alem disso, se a testemunha tem medo de falar
na frente do réu, ela pode depor por video conferencia.

Sistema de inquirição (art. 212)


Antigamente o sistema usado era o presidencialista, onde o juiz reperguntava.
Atualmente o sistema é o da inquirição, direto ou inglês. Agora, as partes perguntam
primeiro, formulando as perguntas diretamente à testemunha. Entretanto, a
jurisprudência tem entendido que se o juiz perguntar primeiro nao há nulidade.

Reconhecimento de pessoas e coisas


Artigos 226 à 228
É o meio de prova em que alguém é chamado a confirmar ou não a identidade de
uma pessoa ou de uma coisa que lhe é apresentada. Pode ser chamada pra reconhecer
uma testemunha, um réu, etc, ou seja, qualquer pessoa.

O reconhecimento pode ser feito tanto na parte de investigação como na fase em


juízo, na ação penal.

Em primeiro lugar, o reconhecedor deve descrever a pessoa ou coisa a ser


reconhecida ANTES de realizar o reconhecimento. Em seguida, são apresentadas várias
pessoas com as mesmas características físicas para o reconhecimento. A lei diz que esse
procedimento será adotado se possível, e por isso sua ausência nao gera nulidade.

Quando isso é realizado na policia, é possível fazer com que o reconhecido não
veja o reconhecedor. Em juízo, embora a lei diga o contrario, também não se permite que
o reconhecido veja o reconhecedor, para evitar possíveis represálias.

Busca e apreensão
Arts. 240 a 250, CPP

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !18 de 82


!
Muitas vezes é necessário apreender coisas, seja em investigação ou em juízo.
Devem ser apreendidos todos os instrumentos ou objetos relacionados ao crime. A
finalidade é evitar o desaparecimento dessas coisas. Ex.: o produto do crime (relógio), o
instrumento do crime (arma, pé-de-cabra), as coisas compradas com dinheiro de crime
(carro), etc.

É possível a apreensão sem busca,


quando não é necessário procurar a coisa.
Nesse caso, é lavrado um auto de exibição
e apreensão. Isso ocorre quando alguém
voluntariamente levou a coisa à justiça.

Também pode haver busca sem


apreensão, quando a procura é frustrada,
ou seja, infrutífera. A busca é a diligencia
destinada a encontrar pessoas ou coisas
passíveis de apreensão.

A busca pode ser domiciliar ou


pessoal. Se é a primeira, é feita no
domicilio de alguém. Se pessoal, é revistada
a pessoa. De qualquer forma, devem haver indícios que indiquem que a prova encontra-
se nesses locais.

A busca domiciliar
Esta subordinada ao respeito à constituição:
Cf. Art. 5º. XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém
nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo
em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar
socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

A busca domiciliar pode ser realizada com o consentimento do morador ou sem


o consentimento do morador.

Com consentimento - Se com o consentimento, não precisa de mandado e não


tem restrição de horário. Se sem o consentimento, ela pode ser sem mandado ou com
mandado.

Sem consentimento e Sem mandado - só pode se dar em três situações:


flagrante delito, socorro, ou desastre. Note que se alguém esta guardando armas, drogas,
cárcere, etc., por serem crimes permanentes, o flagrante esta ocorrendo sempre. Isso
pode acontecer a qualquer hora.

Com mandado - residualmente, todas as outras situações requerem mandado


judicial. Note que embora o CPP diga que se o delegado ou o juiz forem pessoalmente
eles não precisam de mandado, isso só vale para o juiz, pois a CF não recepcionou a
autoridade do delegado. Nesses casos há a restrição temporal do dia. Pra esses efeitos,
considera-se dia o período que compreende das 06h às 18h.

Interceptação telefônica
É regulada pelo art. 5º, X, XII e lei 9296/96

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !19 de 82


!
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo
dano material ou moral decorrente de sua violação;

XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das


comunicações telegráficas, de dados e das comunicações
telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas
hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal;

Requisitos
Ordem judicial
A ordem de quebra de sigilo telefônico deve ser emanada pelo juízo competente,
que fundamentará a decisão.

Hipóteses e formas previstas em lei (lei 9296/96)


A lei prescreve a forma e as hipóteses autorizantes da interceptação telefônica.

Finalidade de investigação criminal ou instrução processual penal


Ou seja, não existe interceptação telefônica para outros fins que não penais.

Aula 05 (22.08.2013) - Interceptação


Telefônica
Avaliação contínua marcada para 20 de setembro.

Captação de conversas
Interceptação
Interceptação é a gravação de uma conversa realizada por um terceiro. A
interceptação pode ser telefônica ou ambiental (presencial). Ela pode ser feita sem o
conhecimento dos participantes (sentido estrito) ou com o conhecimento de um dos
participantes.

Atenção: subordinam-se às restrições do inciso XII do artigo 5º da CF as


interceptações em sentido estrito (sem conhecimento de nenhum dos interlocutores).

Gravação clandestina
É a gravação de uma conversa entre pessoas realizada por um de seus
participantes. A gravação clandestina pode ser telefônica ou ambiental (presencial, física).

As outras formas de captação de conversas se subordinam à proteção genérica,


prevista no artigo 5º, X, CF. Elas podem ser usadas se não houver violação à intimidade e
a vida privada, ou por aplicação do principio da proporcionalidade quando o bem que
esta prova preserva é superior à intimidade ou vida privada das pessoas.

Sempre que o destinatário da conversa foi ele mesmo o responsável pela


gravação ou a autorizou poderá usa-la como prova observado o princípio da
proporcionalidade. Essa é uma interpretação analógica do art. 233, parágrafo único, CPP:
Art. 233. As cartas particulares, interceptadas ou obtidas por
meios criminosos, não serão admitidas em juízo.

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !20 de 82


!
Parágrafo único. As cartas poderão ser exibidas em juízo pelo
respectivo destinatário, para a defesa de seu direito, ainda
que não haja consentimento do signatário.

No caso de interceptação ambiental sem conhecimento dos participantes:

O TSF tem entendido que se a gravação foi feita em ambiente aberto (ex.:
restaurante), ela poderá ser usada como prova.

Se, no entanto, foi realizada em ambiente fechado, só poderá ser usado em


função do princípio da proporcionalidade.

Lei 9296/96
Regula as interceptações telefônicas e de dados. No entanto, a parte de dados tem
a constitucionalidade contestada, em razão do inciso XII, art. 5º, CF.

Nesses casos, há divergências jurisprudenciais.

A lei estabelece condições para a interceptação telefônica


Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações
telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses:
I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em
infração penal;

II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis;

III - o fato investigado constituir infração penal punida, no


máximo, com pena de detenção.

Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com


clareza a situação objeto da investigação, inclusive com a
i n d i c a ç ã o e q u a l i fi c a ç ã o d o s i n v e s t i g a d o s, s a l v o
impossibilidade manifesta, devidamente justificada.

Ou seja, são requisitos para a interceptação:


Indícios de autoria
Deve-se haver um suspeito, ou seja, a interceptação não pode ser o início da
investigação. Deve-se haver primeiramente indícios de autoria, para então se promover a
interceptação.

Crime apenado com reclusão


A investigação em questão deve se referir a um crime passível de pena de
reclusão.

A prova não pode ser produtível por outros meios


A interceptação deve ser realizada somente em ultimo caso, quando o que se
deseja provar não puder sê-lo por outros meios de prova.

Obs.: a decisão do juiz que autoriza a interceptação deve ser fundamentada,


apresentando o cumprimento dos três requisitos. Essa decisão pode ocorrer de oficio ou
a requerimento de parte, normalmente ou da autoridade policial (delegado) ou do MP
(promotor de justiça).

A autorização não é indefinida, mas sim por um prazo, que é o do art. 5º da lei:

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !21 de 82


!
Art. 5° A decisão será fundamentada, sob pena de nulidade,
indicando também a forma de execução da diligência, que não
poderá exceder o prazo de quinze dias, renovável por igual
tempo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de
prova.

Ou seja, o prazo é de quinze dias, renováveis por mais quinze se estritamente


necessário. Para que haja prorrogação, é necessária a prolação de uma nova decisão
fundamentada. Quanto ao limite de prorrogações, o STF diz que é possível a renovação
indefinida de interceptações.

Uma questão que a lei não trata é que a interceptação é uma gravação (mídia),
salva em CDS, pendrives, etc, sendo muitas e muitas horas de conversa. A praxe é que a
policia ou o MP façam um resumo das conversas que interessam, sendo a transcrição
feita por eles. No entanto, os advogados contestam isso, dizendo que o MP pode ocultar
dessa transcrição partes da conversa que beneficiaria a defesa.

Outro problema é o reconhecimento das vozes, já que normalmente os


criminosos se tratam por alcunhas. Por isso, é comum requisitar perícia para se
identificar de quem são as vozes na conversa.

Tal material é sigiloso e autuado em separado, em autos somente com o conteúdo


das gravações. Eles são juntados aos autos principais no final do inquérito ou no final da
ação penal.

A parte interessada pode pedir a inutilização de partes de tal material (ex.: a


conversa do criminoso com a namorada se não tiver relação com o crime). A parte
interessada não precisa ser o réu, mas até a pessoa que teve a intimidade invadida junto
dele.
Art. 9° A gravação que não interessar à prova será inutilizada
por decisão judicial, durante o inquérito, a instrução
processual ou após esta, em virtude de requerimento do
Ministério Público ou da parte interessada.

Parágrafo único. O incidente de inutilização será assistido pelo


Ministério Público, sendo facultada a presença do acusado ou
de seu representante legal.

O crime previsto pela lei...


Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de
comunicações telefônicas, de informática ou telemática, ou
quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com
objetivos não autorizados em lei.

Pena: reclusão, de dois a quatro anos, e multa.

Ex.: juíza autoriza interceptação telefônica para verificar se o namorado tem


amante ou não.

Por analogia, as mesmas normas funcionam para os vídeos.


A matéria da prova continuada vai até aqui.
Com isso conclui-se a parte da provas!

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !22 de 82


!
Procedimentos
Antes de ir à procedimento, vamos rever o que é...

PROCESSO
É uma relação jurídica contraditória com um procedimento. Essa relação é uma
relação triangular que se estabelece entre três partes: O juiz, o autor, e o réu. O autor é o
demandante, o que pede. O juiz é aquele a quem se pede. O réu por sua vez é aquele de
quem se pede.

Na ação penal, o autor pede ao juiz o reconhecimento do juiz do direito de punir


do estado. Este é o mérito da ação penal. Se condenado, será imputado ao réu uma pena,
a qual ele ficará obrigado.

A relação jurídica do processo é abstrata e invisível, mas o processo tem uma


parte material, que é o procedimento.

PROCEDIMENTO
É uma sucessão de atos na ordem e na forma previstas em lei. Existe no
ordenamento uma pluralidade de procedimentos. A razão para isso é a preocupação com
duas coisas: a celeridade vs contraditório e ampla defesa (devido processo legal?)

O problema é que essas duas coisas são contrapostas. Uma se opõe à outra.

Ex1.: um criminoso cibernético chinês pode ser condenado em QUINZE


MINUTOS. (Excesso de celeridade)

Ex2.: o mensalão ocorreu entre 2005 e 2006, mas já estamos em 2013 (8 anos
depois) e ainda não houve julgamento, sendo que este pode demorar ainda mais de dois anos
em decorrência da aceitação dos embargos infringentes. (Excesso de contraditórios)

A solução na justiça brasileira é que em crimes mais gravosos o contraditório é


privilegiado. Ex.: o procedimento dos crimes dolosos contra a vida é o júri, que é o
procedimento mais demorado existente no Brasil. Os crimes menos gravosos, por sua vez,
privilegiam a celeridade. Ex.: as contravenções tem o procedimento sumaríssimo, que é o
mais rápido.

Além disso, crimes específicos tem procedimentos especiais.

QUADRO DOS PROCEDIMENTOS


Especiais
São procedimentos destinados a determinadas infrações por causa de suas
peculiaridades. Alguns deles estão no CPP e outros fora do CPP.

No CPP:
Júri - crimes dolosos contra a vida e conexos. Lembrando que alguns autores
consideram o júri um procedimento comum e outros especiais (art. 406 - 497, CPP)

Crimes funcionais - crimes praticados por funcionários contra a administração


(arts. 513 - 518, CPP)

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !23 de 82


!
Crimes contra a honra - são calunia, injuria e difamação. Eles tem procedimento
especial previsto nos arts. 519 - 523, CPP.

Crimes contra a propriedade imaterial - são os crimes de violação de direitos


autorais (arts. 524 - 530, CPP).

Comuns
São procedimentos destinados a infrações genéricas.

Os comuns podem ser ordinários, sumários, ou sumaríssimos.

Ordinário
Infrações com penas máximas superiores a quatro anos
Art. 394. § 1º - O procedimento comum será ordinário, sumário
ou sumaríssimo:

I - ordinário, quando tiver por objeto crime cuja sanção


máxima cominada for igual ou superior a 4 (quatro) anos de
pena privativa de liberdade;

Sumário
Quando a pena máxima é inferior a quatro anos
II - sumário, quando tiver por objeto crime cuja sanção
máxima cominada seja inferior a 4 (quatro) anos de pena
privativa de liberdade;

Sumaríssimo
Destinado às infrações de menor potencial ofensivo (contravenções e crimes cuja
pena máxima não ultrapassa dois anos).
III - sumaríssimo, para as infrações penais de menor potencial
ofensivo, na forma da lei.

Este procedimento não está no CPC, mas sim na lei 9099/95, que institui os
juizados especiais:
Lei 9099/95. Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor
potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções
penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não
superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.


QUADRO SINÓPTICO

Cabimento Testemunhas

Júri Crimes dolosos


contra a vida

Ordinário Sanção de 4 ou Até 8


mais anos

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !24 de 82


!
Cabimento Testemunhas

Sumário Sanção inferior Até 5


a 4 anos
Sumaríssimo Sanção menor
que dois ou
menos anos
Na próxima aula os procedimentos ordinários e sumários em detalhe.

Aula 06 (23.08.2013) - procedimentos


ordinários e sumário
Esses procedimentos tem uma parte comum, que é igual à ambos: arts. 395 - 398
CPP
Então esses procedimentos começam da mesma forma, salvo num único detalhe,
que é no número de testemunhas. Essa fase é uma fase predominantemente postulatória.

Passos comuns aos procedimentos


01. OFERECIMENTO DA INICIAL, QUE SERÁ DENUNCIA OU QUEIXA
Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a
denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar liminarmente,
recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à
acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.

Parágrafo único. No caso de citação por edital, o prazo para a


defesa começará a fluir a partir do comparecimento pessoal do
acusado ou do defensor constituído.

A acusação nomeará suas testemunhas nesse momento, com o rol de


testemunhas. Aqui jaz a diferença: o procedimento ordinário admite até oito
testemunhas, enquanto o sumario admite até 5 (art. 401 para ordinário e 532 para sumário).

A acusação deve arrolar suas testemunhas na inicial, sob pena de preclusão. Se


mais tarde surgir uma testemunha importante, a parte poderá requerer sua oitiva como
testemunha de juízo, não configurando direito da parte, ou seja, o juiz chamará se ele
considerar relevante.

02. DECISÃO DO JUIZ


O juiz tem duas possibilidades nessa decisão:

Rejeição da inicial - o juiz pode rejeitar liminarmente a petição inicial, nas


hipóteses do art. 395 CPP:
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando:

I - for manifestamente inepta;

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !25 de 82


!
É a petição não apta para cumprir sua finalidade. A inicial inepta é aquela que
não cumpre os requisitos do art. 41 do CPP:
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato
criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do
acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo,
a classificação do crime e, quando necessário, o rol das
testemunhas.

A parte mais importante é a descrição do fato criminoso, narrando a conduta que


configuraria o crime. Tal história é fundamental para que haja a possibilidade do direito
de defesa, uma vez que a inicial delimita a acusação, limitando a defesa àquilo e nada
mais fora daquilo.

A lei não prevê aditamento da denuncia, mas alguns juízes determinam tal
aditamento, uma vez que não há vedação nem previsão à conduta.

II - faltar pressuposto processual ou condição para o


exercício da ação penal;
Por exemplo se o crime é de iniciativa pública e uma queixa é proposta, ou a
conduta é atípica, etc.

III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.


A expressão indica uma causa que justifique processar alguém. Isso significa que
a ação não pode ser gratuita, sem algo que a justifique. Simplificando, para haver justa
causa é necessária prova da existência do crime e indícios de autoria.

A rejeição da inicial é uma decisão que põe fim ao processo sem julgamento do


mérito. Contra essa decisão cabe recurso em sentido estrito (RESE).
CPP. Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão,
despacho ou sentença:

I - que não receber a denúncia ou a queixa;

RECEBIMENTO DA INICIAL
Quando não presente nenhuma das hipóteses de indeferimento, o juiz receberá a
inicial. Esse recebimento perfaz um juízo positivo de admissibilidade da acusação. Essa
admissibilidade não toca o mérito, mas meramente a forma e requisitos legais da
acusação.

Então, é como se o juiz dissesse aos seus "botões":

- Oras, é possível a condenação deste réu, por este crime, nesses


termos!
Em razão disso, a ação é cognoscível, e pode ser conhecida.
Logo, com essa decisão tem-se inicio o processo de
conhecimento.


Diz a jurisprudência que essa decisão não precisa ser

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !26 de 82


!
fundamentada. NÃO cabe recurso contra o recebimento da inicial, mas cabe Habeas
Corpus ou mandado de segurança, que nao são recursos, mas sim ações autônomas,
remédios constitucionais.

Caberá Habeas corpus quando há previsão de pena privativa de liberdade para o


crime imputado, pois o réu fica sujeito a uma pena de prisão, o que possibilita o Habeas
corpus preventivo.

Se não há previsão de pena privativa de liberdade, caberá mandado de segurança.

Superada essa parte, o próximo passo será...

03. CITAÇÃO
A citação é o ato pelo qual se da ciência ao réu da acusação e se chama o réu para
que venha se defender.

A citação pode ser pessoal ou ficta, sendo o réu citado pessoalmente na primeira
e sendo citado por edital ou por hora certa na segunda. Até 2008 não havia no processo
penal a citação por hora certa, mas agora ela existe e é aplicada quando o réu se oculta. A
citação por edital se dá quando o réu esta em LINS (lugar incerto e não sabido)!

Se a citação é por edital e o réu não dá manifestação alguma que teve


conhecimento, torna-se aplicável o artigo 366, CPP:
Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem
constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do
prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção
antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso,
decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.

Portanto, suspende-se o processo, até que o réu compareça ou constitua


defensor. A prescrição também é suspensa nesses casos. Mas como não pode haver
imprescritibilidade salvo as exceções constitucionais, a jurisprudência nacional entende
que essa suspensão se dá por no máximo vinte anos, que é o tempo da maior prescrição
criminal.
Para provas urgentes, a prova pode ser produzida antes da suspensão.

Além disso, o juiz pode decretar a prisão preventiva, desde que presentes os
requisitos da prisão (art. 312 CPP)
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como
garantia da ordem pública, da ordem econômica, por
conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a
aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do
crime e indício suficiente de autoria.

Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser


decretada em caso de descumprimento de qualquer das
obrigações impostas por força de outras medidas cautelares
(art. 282, § 4o). (Alterado pela Lei 12.403/2011)

Em todas as outras hipóteses de citação, o processo continua e não é suspenso,


mesmo que o réu se torne revel.

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !27 de 82


!
Finalizando citação, é importante saber que ela integra a relação processual, no
sentido de tornar a relação processual íntegra, inteira, completa. Isso ocorre pois antes da
citação o processo estava incompleto, já que só faziam parte o juiz e o autor.

O réu é citado para oferecer uma resposta prévia em dez dias corridos, contados
da citação.

Atenção: No processo penal se conta do ato, e não da juntada do mandado.

04. RESPOSTA PREVIA


A resposta prévia é oferecida, sempre por defensor. Nunca usar a expressão
defesa ou resposta preliminar. Essas são as respostas que se dão antes do recebimento da
denúncia. No nosso caso, a resposta é prévia, ou seja, antes da produção das provas.
Então, nao confunda resposta prévia com resposta preliminar.

A resposta prévia é obrigatória, e se o réu não apresenta sua resposta o juiz


nomeará defensor para apresenta-la. Nessa defesa, a defesa alegará todas as teses que
desejar, fará requerimentos, indicará provas e arrolará testemunhas de defesa. O número
de testemunhas de defesa é o mesmo dos de acusação. Na defesa prévia, a defesa pode
alegar também causas de rejeição da acusação, bem como causas de absolvição sumária.
Art. 396-A. Na resposta, o acusado poderá argüir preliminares
e alegar tudo o que interesse à sua defesa, oferecer
documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e
arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua
intimação, quando necessário.

§ 1º - A exceção será processada em apartado, nos termos dos


arts. 95 a 112 deste Código.

§ 2º - Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o


acusado, citado, não constituir defensor, o juiz nomeará
defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por
10 (dez) dias.

Após a resposta previa, haverá:

05. DECISÃO DO JUIZ


Ele tem algumas opções nesse momento:

Absolvição sumaria
A absolvição sumária consiste basicamente em um julgamento antecipado da
lide, ou seja, quando a decisão não depende de provas.
Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e
parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente
o acusado quando verificar:

I - a existência manifesta de causa excludente da


ilicitude do fato;

Ou seja, relembrando, as excludentes de ilicitude são: legitima defesa, estado de


necessidade, estrito cumprimento de dever legal, ou exercício regular de direito. Essas
são causas de excludentes de antijuridicidade (ilicitude).

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !28 de 82


!
II - a existência manifesta de causa excludente da
culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade;
Como coação moral irresistível, menoridade, embriaguez completa por causa de
força maior ou caso fortuito, erro de tipo (as vezes), etc. Atenção pois a inimputabilidade
por doença mental não entra nesse caso, pois esta inimputabilidade depende de perícia
(incidente de insanidade mental), e porque é preciso verificar se deve ser aplicada
medida de segurança.

III - que o fato narrado evidentemente não constitui


crime;
É a manifesta atipicidade da conduta, ou seja, quando a narrativa não é um
crime.

IV - extinta a punibilidade do agente.


Quando já houve extinção da punibilidade (já houve prescrição, decadência,
anistia, etc). Vamos relembrar as causas de extinção da punibilidade:
Art. 107. Extingue-se a punibilidade:

I - pela morte do agente;

II - pela anistia, graça ou indulto;

III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato


como criminoso;

IV - pela prescrição, decadência ou perempção;

V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito,


nos crimes de ação privada;

VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite;

VII - Revogado.

VIII - Revogado.

IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.

Recurso
Caberia recurso contra a decisão que absolve sumariamente?

Nas três primeiras hipóteses, o recurso é a apelação.


Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias:

I - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição


proferidas por juiz singular;

Para a ultima hipótese, cabe o recurso em sentido estrito (RESE):


Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão,
despacho ou sentença:

VIII - que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo,


extinta a punibilidade;

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !29 de 82


!
Se não estiver presente nenhuma hipótese de absolvição sumária, há a segunda
possibilidade de decisão do juiz:

Confirmação do recebimento da denúncia


Art. 399. Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e
hora para a audiência, ordenando a intimação do acusado, de
seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do
querelante e do assistente.

§ 1º - O acusado preso será requisitado para comparecer ao


interrogatório, devendo o poder público providenciar sua
apresentação.

§ 2º - O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a


sentença.

Alguns consideram isso o segundo recebimento. Hoje em dia a doutrina


majoritária considera essa decisão uma ratificação ao recebimento, quando se verifica que
não há causa para absolvição sumária nem rejeição da inicial.

Entende-se que a decisão de confirmação deve ser fundamentada se na resposta


prévia a defesa apresentou teses de rejeição da denúncia ou de absolvição sumária.
Contra a confirmação de recebimento da denuncia cabe Habeas corpus ou mandado de
segurança.

Assim encerra-se a parte comum aos procedimentos ordinários e sumários (fase


predominantemente postulatória).

Aula 07 (05.09.2013) - Partes específicas dos


procedimentos penais
DESIGNAÇÃO DE AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO, DEBATES E JULGAMENTO
Art. 399. Recebida a denúncia ou queixa, o juiz
designará dia e hora para a audiência, ordenando a
intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério
Público e, se for o caso, do querelante e do assistente.

A audiência deve ser realizada no prazo de sessenta dias contadas do despacho


da ratificação. Note que os prazos aqui são todos impróprios, não gerando consequências
pelo seu não seguimento.

A audiência é una e concentrada, pois tudo o que vem depois no processo estará
balizado por esta audiência. Teoricamente, todas as provas (exceto periciais), debates e até
o julgamento será proferida nesta audiência, se possível.

A audiência
A audiência começa com a fase de instrução.

Instrução
É a fase em que se colhem as provas para instruir o juiz sobre os fatos.

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !30 de 82


!
Oitiva da vitima
Se for possível, primeiramente se ouve a vítima.

Oitiva das testemunhas


Primeiro são ouvidas as testemunhas de acusação, e então as de defesa. A prova
da defesa só pode ser produzida após se descobrirem todas as provas da acusação.

A inversão da ordem de oitiva das testemunhas é causa de nulidade relativa do


processo. Precisa haver argüição da parte interessada apontando porque houve prejuízo.

Se alguma(s) testemunha(s) de acusação for(em) ouvida(s) por precatória por


estarem em outra comarca, a jurisprudência admite a inversão.

Esclarecimentos dos peritos quando requeridos


Isso só ocorrerá se as partes requereram com pelo menos dez dias de
antecedência da audiência.
Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser
realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à
tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas
arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o
disposto no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos
peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas,
interrogando-se, em seguida, o acusado.

§ 1º - As provas serão produzidas numa só audiência,


podendo o juiz indeferir as consideradas irrelevantes, impertinentes
ou protelatórias.

§ 2º - Os esclarecimentos dos peritos dependerão de prévio


requerimento das partes.

I - requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou


para responderem a quesitos, desde que o mandado de intimação e os
quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados com
antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas
em laudo complementar;

Nesse requerimento as partes indicarão os quesitos que desejam que o perito


responda pessoalmente.

Outras diligências requeridas


Por fim, nessa audiência poderão ser realizadas outras diligências requeridas,
como um reconhecimento, uma acareação, etc.

Lembrete: acareação é colocar "cara a cara" pessoas que tem testemunhos


contraditórios.

Interrogatório
Interrogatório é o ato pelo qual o acusado é ouvido sobre os fatos que lhe foram
imputados. O interrogatório tem natureza jurídica dúplice, simultaneamente é meio de
prova e meio de defesa do réu.

O réu é o ultimo a ser ouvido, para que possa responder a tudo o que já foi
produzido até então.

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !31 de 82


!
Requerimentos verbais
As partes podem requerer verbalmente provas cuja necessidade surgiu durante a
instrução. São provas que não se conheciam até então.

Acerca desses requerimentos o juiz poderá deferir ou indeferir a produção


dessas provas. Se ele indeferir a audiência prossegue. Se ele deferir:

Art. 404. Ordenado diligência considerada


imprescindível, de ofício ou a requerimento da parte, a
audiência será concluída sem as alegações finais.

Parágrafo único. Realizada, em seguida, a diligência


determinada, as partes apresentarão, no prazo sucessivo de 5
(cinco) dias, suas alegações finais, por memorial, e, no prazo de 10
(dez) dias, o juiz proferirá a sentença.

As provas serão produzidas em nova audiência, fora da audiência una de que


tratávamos. Após produzidas essas outras provas, haverão memoriais escritos, com
alegações das partes, no prazo de cinco dias a partir da concessão da vista dos autos.

Memorial é uma peça escrita onde há as alegações finais das partes. A


apresentação dos memoriais é imprescindível para o processo. Se o Ministério Público
não apresenta, o juiz oficia o procurador geral para que apresente. Se o advogado não
apresentar, o juiz nomeará defensor para que o faça.

Após os memoriais, é hora da sentença. Mas antes, vamos ver a outra hipótese do
processo:

Se na audiência una não houverem requerimentos para novas diligências ou se


tais requerimentos foram indeferidos, a audiência prossegue normalmente, realizando-se
os debates orais.

No caso de indeferimento de nova diligencia, não cabe recurso contra tal


decisão (salvo quando há fumus boni iuris e Periculum in mora, ocasião em que o Ministério
Público - MP poderá impetrar mandado de segurança e o réu Habeas corpus).

Debates orais
Art. 403. Não havendo requerimento de diligências, ou sendo
indeferido, serão oferecidas alegações finais orais por 20 (vinte) minutos,
respectivamente, pela acusação e pela defesa, prorrogáveis por mais 10
(dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença.

§ 1º - Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a


defesa de cada um será individual.

§ 2º - Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação


desse, serão concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual período
o tempo de manifestação da defesa.

§ 3º - O juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o


número de acusados, conceder às partes o prazo de 5 (cinco) dias
sucessivamente para a apresentação de memoriais. Nesse caso, terá o prazo
de 10 (dez) dias para proferir a sentença.

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !32 de 82


!
SENTENÇA NO TERMO
O juiz ditará sua sentença para o escrevente, que a fará constar no termo da
audiência.

Em casos complexos, ou de grande número de acusados, o juiz pode substituir os


debates orais por memoriais com prazo de cinco dias, e proferir em seguida a sentença
por escrito em dez dias (prazo impróprio).

Isso encerra o procedimento ordinário

Rito sumário
Art. 531 à 536, CPP
Terminada a fase comum, há a designação de audiência una e intimações
subseqüentes.

A audiência
É idêntica a audiência do rito ordinário, com as seguintes diferenças:

• Após a instrução não há pedido de diligencias;


• Não há previsão de substituição dos debates orais por memoriais

• Não há previsão de sentença fora da audiência

• Na prática, não haver previsão significa que não há vedação. Por isso, especialmente em
casos complexos, o juiz acaba não proferindo sua sentença em audiência

Principio da identidade física do juiz


§ 2º - O juiz que presidiu a instrução deverá proferir
a sentença.

O juiz que colheu as provas deverá proferir a sentença. Esse principio existe pois
acredita-se que o juiz que estava presente na instrução esta mais habilitado para prolatar
sentença.

Há exceções:
Art. 132. O juiz, titular ou substituto, que concluir a
audiência julgará a lide, salvo se estiver convocado, licenciado,
afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado,
casos em que passará os autos ao seu sucessor.

Parágrafo único. Em qualquer hipótese, o juiz que


proferir a sentença, se entender necessário, poderá mandar
repetir as provas já produzidas.

Procedimento do júri
A instituição do júri tem garantia constitucional:
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a
organização que lhe der a lei, assegurados:

a) a plenitude de defesa;

b) o sigilo das votações;

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !33 de 82


!
c) a soberania dos veredictos;

d) a competência para o julgamento dos crimes


dolosos contra a vida;

O procedimento do júri recebe da constituição quatro garantias, sendo a


primeira a plenitude de defesa, que é o que abordaremos com detalhes a seguir:

A expressão plenitude de defesa é muito estudada, pois no mesmo artigo da CF


nós temos a seguinte disposição:
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e
aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa,
com os meios e recursos a ela inerentes;

A diferença é que no júri a defesa não esta restrita aos argumentos técnicos.
Então a defesa pode usar argumentos emocionais, religiosos, filosóficos, ou seja, se
qualquer natureza.

Aula 08 (06.09.2013) - Tribunal do Júri


A decisão
Os júris votam respondendo secretamente à quesitos. O voto aqui é secreto para
garantir que os jurados não se sintam acuados de votar.

Antigamente, havia um problema com algumas votações: quando uma votação


não era unânime, não se podia saber quais dos jurados tiveram os votos dissidentes. No
entanto, em votações unânimes, todos sabiam os votos de todos os jurados - seja
condenando ou absolvendo - o que permitia possíveis represálias. Atualmente, o juiz só
colhe até o quarto voto no mesmo sentido, pois fazendo isso, ele garante o resultado do
julgamento sem revelar os votos restantes, e com isso protegendo os jurados.

A votação não é feita em plenário, mas sim na antiga sala secreta, que hoje é
chamada sala especial.

Soberania dos veredictos dos jurados


Dica incidental: assista os filmes doze homens e uma sentenca, o júri, e
testemunha de acusação (baseado em um conto da Agatha Christie).
Continuando...
As decisões dos jurados não podem ser modificadas em seu mérito por juízes
togados (de direito), com a finalidade de que o réu seja efetivamente julgado por pessoas
leigas iguais a ele, impedindo que a ultima palavra seja de juízes técnicos togados, mesmo
que desembargadores ou ministros.

É até possível apelar de uma sentença do júri, mas os desembargadores não irão
reformar a sentença, mas sim anula-la, para que um novo julgamento pelo júri seja
realizado.

A anulação só pode ser realizada uma vez. Se uma segunda condenação ocorrer
poderá haver uma revisão criminal, que é a equivalente da ação rescisória no processo
civil.

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !34 de 82


!
COMPETÊNCIA PARA OS CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA
Essa competência é a mínima constitucionalmente prevista. A lei ordinária não
pode restringir a competência do júri.

Todos os outros crimes não são da competência do júri, salvo se forem conexos a
um crime doloso contra a vida. Ex.: o Latrocínio não é crime doloso contra a vida, mas
sim contra o patrimônio.

Nesse sentido:
STF Súmula nº 603 - 17/10/1984 - DJ de 29/10/1984, p. 18113;
DJ de 30/10/1984, p. 18201; DJ de 31/10/1984, p. 18285.

Competência - Processo e Julgamento - Latrocínio

A competência para o processo e julgamento de latrocínio


é do juiz singular e não do Tribunal do Júri.

Então crimes como extorsão, latrocínio, estupro, e etc, mesmo que terminem com
o resultado morte, não serão da competência do júri.

Estávamos dizendo que essa competência é a mínima. Isso significa que a lei
ordinária pode ampliar a competência do júri, mas nunca restringi-la.

Já existe uma lei ordinária que amplia tal competência: o CPP em seu artigo 78, I.
Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou
continência, serão observadas as seguintes regras:

I - no concurso entre a competência do júri e a de outro


órgão da jurisdição comum, prevalecerá a competência do júri;

Então, em crimes conexos a competência é do júri. Ex.: um crime praticado para


garantir a prática de outro crime - um seqüestrador mata o segurança de um grande
empresário para seqüestra-lo.

Diferença entre latrocínio e sequestro do empresário com morte do segurança:


por que um é de competência do júri e outro não?

O latrocínio não é de competência do juri pois o elemento subjetivo do agente se


voltava contra o patrimônio da vítima, cuja execução da conduta, por alguma razão,
acarretou na morte dela. O sequestro do empresário com morte do segurança, por sua
vez, é de competência do Tribunal do Juri, pois o primeiro crime é realizado com o
intuito de assegurar o segundo (inter criminis), revelando o dolo do criminoso, o que
justifica a competência do juri.

PROCEDIMENTO DO JÚRI
É um procedimento bifásico ou escalonado, ou seja, de duas fases: o Judicium
Accusationes (1ª fase) e o Judicium Causae (2ª fase).

1ª fase - sumario de culpa ou Judicium Accusationes


Da primeira fase os jurados não participam. Nessa fase se realiza somente um
juízo de admissibilidade da acusação. O juiz togado determinará se aquela acusação deve
ou não ser levada aos jurados.

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !35 de 82


!
Essa fase é uma espécie de filtro, pois o juiz só permite que passem os casos em
que há possibilidade de condenação.

O fundamento que permite que uma acusação seja levada aos jurados é prova do
crime (materialidade do fato) e indícios de autoria.

Então, pode-se dizer que, na primeira fase, quem esta sendo julgado não é o réu,
mas sim a acusação! Por isto o nome Judicium Accusationes! Ao final, o magistrado julgará
se a acusação merece ir aos jurados ou não.

1º passo da 1ª fase - oferecimento da inicial


Art. 406. O juiz, ao receber a denúncia ou a queixa,
ordenará a citação do acusado para responder a acusação, por
escrito, no prazo de 10 (dez) dias.

§ 1º - O prazo previsto no caput deste artigo será contado


a partir do efetivo cumprimento do mandado ou do
comparecimento, em juízo, do acusado ou de defensor constituído,
no caso de citação inválida ou por edital.

§ 2º - A acusação deverá arrolar testemunhas, até o


máximo de 8 (oito), na denúncia ou na queixa.

Note que pode haver denuncia ou queixa subsidiária!

Na inicial são arroladas as testemunhas, até oito.

Uma vez com a inicial, o juiz poderá receber ou rejeitar (nesse caso as mesmas
causas do procedimento ordinário). Essa parte é igual aos outros procedimentos.

2º passo da 1ª fase - citação


Cita-se o réu e aguarda-se a resposta prévia no prazo de dez dias.
Art. 406. § 3º - Na resposta, o acusado poderá argüir
preliminares e alegar tudo que interesse a sua defesa, oferecer
documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e
arrolar testemunhas, até o máximo de 8 (oito), qualificando-as e
requerendo sua intimação, quando necessário.

A defesa também poderá arrolar suas oito testemunhas.

3º passo da 1ª fase - possibilidade de replica da acusação


A acusação poderá replicar a resposta no prazo de cinco dias.
Art. 409. Apresentada a defesa, o juiz ouvirá o
Ministério Público ou o querelante sobre preliminares e
documentos, em 5 (cinco) dias.

Somente há essa possibilidade se na resposta a defesa tiver argüido preliminares


ou juntado documentos.

4º passo da 1ª fase - decisão do juiz


O juiz então terá dez dias para decidir dentre as seguintes possibilidades:

b) deferir ou indeferir provas se houveram requerimentos

c) Apreciar preliminares se houverem

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !36 de 82


!
d) Designar audiência

Pode o juiz absolver sumariamente neste momento?

Há duas correntes doutrinarias. Uma aceita que o juiz pode absolver nesse ponto,
sob a premissa de que a lei diz que as disposições do título I do livro II é comum a todos
os procedimentos.
§ 4º - As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código
aplicam-se a todos os procedimentos penais de primeiro grau,
ainda que não regulados neste Código.

A segunda corrente diz que não cabe absolvição sumaria nesse momento pois no
procedimento do júri existe previsão de absolvição sumaria no final da 1ª fase (Judicium
Accusationes).

5º passo da 1ª fase - Audiência de instrução, debates e julgamento


É semelhante à audiência do procedimento sumario: faz-se a oitiva da vitima, a
oitiva de testemunhas de acusação e defesa, produção de outras diligencias requeridas,
debates orais e por fim uma decisão, tudo nessa ordem e sem ser diferente do
procedimento ordinário, mas não há previsão de substituição de debates por memoriais e
nem que a decisão do juiz possa ser depois por escrito. No entanto, na pratica isso é
muito comum.

A decisão do juiz nesse caso é muito diferente do procedimento ordinário. O juiz


pode adotar uma das seguintes decisões:

e) Pronúncia - é a decisão que, reconhecendo haver prova do crime e indícios


de autoria, manda o réu a julgamento pelos jurados, iniciando-se a 2ª fase. É um juízo
positivo de admissibilidade da acusação. Isso não é uma decisão condenatória!!!
Art. 413. O juiz, fundamentadamente, pronunciará o
acusado, se convencido da materialidade do fato e da existência de
indícios suficientes de autoria ou de participação.

A fundamentação existe, mas nesse caso deve ser limitada meramente a dizer
onde se encontra a prova do crime e indícios de autoria.
§ 1º - A fundamentação da pronúncia limitar-se-á à
indicação da materialidade do fato e da existência de indícios
suficientes de autoria ou de participação, devendo o juiz
declarar o dispositivo legal em que julgar incurso o acusado e
especificar as circunstâncias qualificadoras e as causas de
aumento de pena.

A fundamentação portanto só indicará que o crime é provado e a autoria é


possível. Se o juiz se exceder na fundamentação ele poderá influenciar os jurados
posteriormente, e por isso haverá nulidade da pronúncia. ESSA NULIDADE É
ABSOLUTA.

Nessa fase de pronúncia não vigora o chamado in dúbio pro réu, mas sim o in dúbio
pro societate. Ou seja, na duvida o juiz o juiz pronuncia.

Se o juiz pronunciar o réu pelo crime doloso contra a vida, automaticamente ele
manda aos jurados o crime conexo (se houver).

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !37 de 82


!
Na pronúncia o juiz pode afastar qualificadoras, mas somente se evidente que
elas não se configuraram.

Efeitos da pronúncia
Mandar o réu ao júri - simples assim.

Limita a acusação em plenário - o réu nao pode ser condenado por nada que a
pronúncia não admitiu. Isso se limita na quesitação, ou seja, só se fazem quesitos aos
jurados que estiverem admitidos na pronúncia.

Interrompe a prescrição - conforme art. 117, II, CP.

Recurso - caberá RESE (recurso em sentido estrito) do art. 581, IV, CPP.

Fato superveniente à pronúncia


Art. 421. Preclusa a decisão de pronúncia, os autos serão
encaminhados ao juiz presidente do Tribunal do Júri.

§ 1º - Ainda que preclusa a decisão de pronúncia, havendo


circunstância superveniente que altere a classificação do crime, o juiz
ordenará a remessa dos autos ao Ministério Público.
§ 2º - Em seguida, os autos serão conclusos ao juiz para decisão.

Trata-se de fato posterior à pronúncia que altera a classificação jurídica do crime.


Ex.: o réu é pronunciado por tentativa de homicídio e depois da pronuncia a vitima
morre em decorrência do crime.

Se ainda não tiver havido julgamento, o juiz enviará o caso ao MP, que aditará a
denúncia, então a defesa será ouvida, e por fim pronuncia-se novamente o réu, agora por
homicídio consumado.

Se já tiver havido julgamento em primeiro grau, a denúncia não poderá ser


aditada, conforme aduz sumula do STF:
STF Súmula nº 453 - 01/10/1964 - DJ de 8/10/1964, p. 3646; DJ
de 9/10/1964, p. 3666; DJ de 12/10/1964, p. 3698.

Aplicabilidade à Segunda Instância - Possibilidade de Nova


Definição Jurídica a Fato Delituoso - Circunstância Elementar
na Denúncia ou Queixa

Não se aplicam à segunda instância o Art. 384 e parágrafo


único do Código de Processo Penal, que possibilitam dar nova
definição jurídica ao fato delituoso, em virtude de
circunstância elementar não contida, explícita ou
implicitamente, na denúncia ou queixa.

B) IMPRONÚNCIA
Artigo 414
Se a pronúncia é mandar o réu a julgamento por existência de materialidade e
indícios de autoria, é fácil concluir-se o conceito de Impronúncia.

Impronúncia então é decisão que não manda o réu a julgamento pelos jurados
por ausência de prova do crime ou de indícios de autoria.

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !38 de 82


!
Impronunciado o réu em crime doloso contra a vida, o juiz manda ao juízo
comum os crimes conexos, porque cessa a competência da vara do júri.

Atenção pois a decisão de Impronúncia não eqüivale a uma absolvição, só


fazendo coisa julgada formal. Isso significa que, naquele processo, o réu nunca mais pode
ser pronunciado. Então, se surgirem novas provas após a Impronúncia o réu poderá ser
denunciado, iniciando-se outro processo, onde ele poderá ser pronunciado.

O recurso contra a Impronúncia é a apelação do artigo 416.


Art. 416. Contra a sentença de impronúncia ou de absolvição
sumária caberá apelação.

Obviamente o MP tem interesse em apelar. No entanto, atente ao fato de que a


defesa também tem, pois a acusação pode apelar buscando a pronúncia, e a defesa
buscando a absolvição sumária.

C) DESCLASSIFICAÇÃO
Art. 419, CPP: Art. 419. Quando o juiz se convencer, em
discordância com a acusação, da existência de crime diverso
dos referidos no § 1º do art. 74 deste Código e não for
competente para o julgamento, remeterá os autos ao juiz que o
seja.

Parágrafo único. Remetidos os autos do processo a outro juiz, à


disposição deste ficará o acusado preso.

É a decisão em que o juiz singular afasta o dolo contra a vida e remete os autos
ao juiz singular. Afastado o dolo contra a vida, desaparece a competência do júri, cabendo
ao juiz singular julgar aquele crime e os conexos.

Ao desclassificar o juiz se limita a afastar o dolo contra a vida. Ele não se


manifesta sobre o crime que se configurou, pois isto é da competência do juiz singular.

O recurso cabível contra a desclassificação é o RESE


Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão,
despacho ou sentença:

II - que concluir pela incompetência do juízo;

D) ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA
Trata-se de sentença de mérito absolutória.
Art. 415. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o
acusado, quando:

I - provada a inexistência do fato;

Se está provado que o fato não ocorreu, pode haver a absolvição sumária.
II - provado não ser ele autor ou partícipe do fato;

Prova de que o réu não foi nem autor e nem partícipe do fato, ou seja, é
manifesto que não foi o autor.
III - o fato não constituir infração penal;

É atipicidade do fato, ou seja, o fato não é criminoso.

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !39 de 82


!
IV - demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do
crime.

Está evidente uma excludente de antijuridicidade (legitima defesa, estado de


necessidade, estrito cumprimento de dever legal, ou exercício regular de direito) ou
culpabilidade (embriaguez completa por força maior ou caso fortuito, coação irresistível,
etc), com a seguinte ressalva:
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV do caput
deste artigo ao caso de inimputabilidade prevista no caput do
art. 26 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 -
Código Penal, salvo quando esta for a única tese defensiva.

Uma das excludentes de culpabilidade é a inimputabilidade por doença mental.


Se a inimputabilidade é a única tese da defesa o juiz absolve sumariamente (absolvição
imprópria) e impõe medida de segurança.

Se essa tese da defesa (de inimputabilidade) é subsidiária, o juiz pronuncia e os


jurados decidirão.

A absolvição sumaria, de qualquer forma, é medida excepcional, pois retira a


causa de seu juiz natural, que é o júri. Então, ela só pode ser escolhida na certeza, nunca
na dúvida.

Contra a absolvição sumária cabe apelação do artigo 416.


Art. 416. Contra a sentença de impronúncia ou de absolvição
sumária caberá apelação.

A única hipótese de a defesa apelar nesse caso é se a absolvição acarretar em


medida de segurança. Obviamente o MP tem sempre legitimidade.

2ª fase - Judicium Causae


É o "julgamento da causa" propriamente dita. Aqui o réu é julgado efetivamente.
Ela só existirá se houve pronuncia. Essa 2ª fase tem outras duas sub-fases:

1ª - fase preparatória da sessão de julgamento

2ª - sessão de julgamento

O professor Nucci entende que na verdade há três fases. Os autores restantes


entendem que são duas fases tendo a segunda duas sub-divisões.

1ª - FASE PREPARATÓRIA DA SESSÃO DE JULGAMENTO


Intimação
Art. 422. Ao receber os autos, o presidente do Tribunal do Júri
determinará a intimação do órgão do Ministério Público ou do
querelante, no caso de queixa, e do defensor, para, no prazo de
5 (cinco) dias, apresentarem rol de testemunhas que irão depor
em plenário, até o máximo de 5 (cinco), oportunidade em que
poderão juntar documentos e requerer diligência.

As partes podem no prazo de cinco dias formular requerimentos de diligencias


(perícias, apreensões, etc), juntar documentos, e arrolar testemunhas para plenário. Neste

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !40 de 82


!
momento, cada parte pode arrolar até cinco testemunhas. Não há necessidade de serem
as mesmas testemunhas arroladas previamente na fase Judicium Accusationes.

Se uma parte considerar uma testemunha muito importante, ela menciona no


requerimento que a testemunha esta sendo arrolada em caráter de imprescindibilidade.
Dessa forma, se por exemplo, no inicio do julgamento, falta uma testemunha, o
julgamento procede mesmo assim se ela não for imprescindível, e, se for, o juiz mandará
um oficial de justiça busca-la no ato, e se ela não for encontrada o julgamento será
adiado.

Após essas manifestações, haverá um...

Despacho saneador
O juiz aprecia eventuais requerimentos das partes, defere ou indefere, se houver
alguma nulidade ele irá sanar a nulidade, e o juiz elaborará nesse momento um relatório
do processo:
Art. 423. Deliberando sobre os requerimentos de provas a
serem produzidas ou exibidas no plenário do júri, e adotadas
as providências devidas, o juiz presidente:

I - ordenará as diligências necessárias para sanar qualquer


nulidade ou esclarecer fato que interesse ao julgamento da
causa;

II - fará relatório sucinto do processo, determinando sua


inclusão em pauta da reunião do Tribunal do Júri.

O relatório deve ser sumário e imparcial, pois será entregue aos jurados no inicio
da sessão de julgamento.

Organização do tribunal do júri


O júri é um órgão colegiado, heterogêneo e temporário.

É colegiado pois não é monocrático, mas sim composto por vários julgadores. É
composto por vinte e cinco jurados e um juiz togado.

O juiz togado é juiz de direito e juiz do direito, ou seja, ele é um juiz de direito
pois foi investido da jurisdição, e ele é juiz de direito pois no júri ele decide as questões
exclusivamente de direito, pois ele é um técnico do direito e por isso o conhece, e logo
esta apto para julgar questões jurídicas. O juiz togado é o presidente do júri.

Os jurados são juízes de fato, e juízes do fato. O jurado não foi investido no cargo
do juiz, mas naquele momento, durante a sessão de julgamento, de fato, ele é juiz.

Um parênteses: (uma sociedade de fato por exemplo é uma sociedade não


regulamentada, mas que de fato existe e funciona como uma sociedade regular. A mesma
coisa para a união estável de fato).

Os jurados são juízes do fato pois eles decidem todas as questões que envolvem
fatos, ou seja, decidem como se deu os atos do suposto criminoso.

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !41 de 82


!
Aula 09 (13.09.2013) - procedimento do júri
Cont.
Formação do colegiado do júri
O juiz forma uma grande lista chamada lista geral de jurados.
Art. 425. Anualmente, serão alistados pelo presidente do
Tribunal do Júri de 800 (oitocentos) a 1.500 (um mil e
quinhentos) jurados nas comarcas de mais de 1.000.000 (um
milhão) de habitantes, de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) nas
comarcas de mais de 100.000 (cem mil) habitantes e de 80
(oitenta) a 400 (quatrocentos) nas comarcas de menor
população.

§ 1º - Nas comarcas onde for necessário, poderá ser aumentado


o número de jurados e, ainda, organizada lista de suplentes,
depositadas as cédulas em urna especial, com as cautelas
mencionadas na parte final do § 3º do art. 426 deste Código.

§ 2º - O juiz presidente requisitará às autoridades locais,


associações de classe e de bairro, entidades associativas e
culturais, instituições de ensino em geral, universidades,
sindicatos, repartições públicas e outros núcleos comunitários
a indicação de pessoas que reúnam as condições para exercer a
função de jurado.

Então, quanto mais populosa a comarca, maior deve ser a lista. Essa lista é
publicada todos os anos até dez de outubro.

REQUISITOS PARA SER JURADO


• Cidadão

• Alfabetizado

• Maior de dezoito anos

• Notória idoneidade
Art. 426. A lista geral dos jurados, com indicação das
respectivas profissões, será publicada pela imprensa até o dia
10 de outubro de cada ano e divulgada em editais afixados à
porta do Tribunal do Júri.

§ 1º - A lista poderá ser alterada, de ofício ou mediante


reclamação de qualquer do povo ao juiz presidente até o dia 10
de novembro, data de sua publicação definitiva.

§ 2º - Juntamente com a lista, serão transcritos os arts. 436 a


446 deste Código.

§ 3º - Os nomes e endereços dos alistados, em cartões iguais,


após serem verificados na presença do Ministério Público, de
advogado indicado pela Seção local da Ordem dos Advogados
do Brasil e de defensor indicado pelas Defensorias Públicas
competentes, permanecerão guardados em urna fechada a
chave, sob a responsabilidade do juiz presidente.

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !42 de 82


!
§ 4º - O jurado que tiver integrado o Conselho de Sentença
nos 12 (doze) meses que antecederem à publicação da lista
geral fica dela excluído.

§ 5º - Anualmente, a lista geral de jurados será,


obrigatoriamente, completada.

Uma vez publicada, a lista pode ser impugnada, por alguém que esta dentro
pretendendo sair ou alguém que não esta pretendendo retirar alguém.

O juiz então decide as impugnações e elabora uma segunda lista, que é a


definitiva, publicada no dia 10 de novembro de cada ano.

No ano seguinte, haverá o sorteio (art. 432/433 CPP). Antes do inicio da sessão
periódica (período dentro do ano em que ocorre os julgamentos. Ex.: fev à nov), de dez a
quinze dias antes, há o sorteio, onde se intima o MP, a OAB, e a Defensoria, que
acompanharão o sorteio.

Então o juiz coloca todos os milhares de nomes na urna e retira 25 nomes, que
formarão o tribunal do júri.

Esses jurados devem comparecer em todos os julgamentos, mas desses vinte e


cinco, somente sete comporão o conselho de sentença.

2ª parte da 2ª fase (Judicium Causae) - Sessão de


julgamento
A sessão de julgamento se inicia com a...

INSTALAÇÃO
Art. 464, CPP
O juiz instala a sessão conferindo as presenças. Para haver julgamento é
necessário que estejam presentes pelo menos quinze dos jurados. Se não estiverem o
julgamento será adiado.

As vezes, quando faltavam jurados em uma vara, um juiz "pegava emprestado" do


outro para conseguir fazer a audiência. Esse procedimento acabou pois o STF já
declarou que a conduta gera nulidade do processo.

A presença do réu é regulada pelo artigo 457, CPP:


Art. 457. O julgamento não será adiado pelo não
comparecimento do acusado solto, do assistente ou do
advogado do querelante, que tiver sido regularmente intimado.

§ 1º - Os pedidos de adiamento e as justificações de não


comparecimento deverão ser, salvo comprovado motivo de
força maior, previamente submetidos à apreciação do juiz
presidente do Tribunal do Júri.

§ 2º - Se o acusado preso não for conduzido, o julgamento será


adiado para o primeiro dia desimpedido da mesma reunião,
salvo se houver pedido de dispensa de comparecimento
subscrito por ele e seu defensor.

Então, se o réu estiver solto, ele é intimado da data do julgamento. Se ele não
comparece e não justifica o julgamento é realizado. Se ele justificar o juiz analisa a

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !43 de 82


!
justificação e adia ou não. Dessa decisão não cabe um recurso especifico, mas se o réu for
condenado a defesa pode apresentar o fato como causa de nulidade do processo em
preliminar de apelação da sentença, mas só se a ausência do réu causou prejuízo à sua
defesa.

Se estiver preso, o réu é requisitado para o julgamento, que será apresentado


pela polícia militar. O réu não precisa comparecer, bastando para isso a apresentação de
uma petição assinada por ele e pelo advogado solicitando a dispensa, hipótese que o
julgamento será realizado sem ele.

FORMAÇÃO DO CONSELHO DE SENTENÇA


O juiz recolhe os nomes de todos os jurados presentes, insere na urna e retira
sete nomes. A cada jurado o juiz pergunta, primeiro para a defesa, depois para a acusação,
se aceitam ou recusam o jurado.

As partes portanto podem recusar jurados. As recusas tem duas espécies:

Motivadas - a parte indica o fundamento da recusa, que só pode se dar por uma
das seguintes razoes: impedimento ou suspeição do jurado, que são as mesmas causas de
impedimento e suspeição indicadas para o juiz pelo código (ex.: inimigo capital, parente,
etc). Nesse caso, o juiz indaga o jurado a respeito da motivação apontada. O jurado
responde e então o juiz decide se mantém o jurado ou não. Se o juiz decidir manter o
jurado, a parte poderá recusa-lo imotivadamente se ainda estiver no seu limite. Não há
limite para recusas motivadas.

Imotivadas (peremptórias) - a parte não da razão para a recusa. O limite para


recusas imotivadas é de até três.

Se uma parte recusa a testemunha, a outra não tem escolha que não aceita-la.

Estouro de urna
Artigo 469 do CPP:
Art. 469. Se forem 2 (dois) ou mais os acusados, as recusas
poderão ser feitas por um só defensor.
§ 1º - A separação dos julgamentos somente ocorrerá se, em
razão das recusas, não for obtido o número mínimo de 7 (sete)
jurados para compor o Conselho de Sentença.

§ 2º - Determinada a separação dos julgamentos, será julgado


em primeiro lugar o acusado a quem foi atribuída a autoria do
fato ou, em caso de co-autoria, aplicar-se-á o critério de
preferência disposto no art. 429 deste Código.

É a situação que não sobram jurados suficientes para compor o conselho de


sentença.

Uma vez aceito o sétimo jurado, esta formado o conselho de sentença, e


caminhamos ao próximo ato:

COMPROMISSO
Art. 472. Formado o Conselho de Sentença, o presidente,
levantando-se, e, com ele, todos os presentes, fará aos jurados a
seguinte exortação:

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !44 de 82


!
Em nome da lei, concito-vos a examinar esta causa com imparcialidade e a proferir
a vossa decisão de acordo com a vossa consciência e os ditames da justiça.

Os jurados, nominalmente chamados pelo presidente, responderão:


Assim o prometo.

Parágrafo único. O jurado, em seguida, receberá cópias da


pronúncia ou, se for o caso, das decisões posteriores que
julgaram admissível a acusação e do relatório do
processo.

INCOMUNICABILIDADE
Os jurados ficam incomunicáveis. Durante todo o julgamento os jurados não
podem se comunicar com o mundo exterior.
CPP, art. 466, § 1º - O juiz presidente também advertirá os
jurados de que, uma vez sorteados, não poderão comunicar-se
entre si e com outrem, nem manifestar sua opinião sobre o
processo, sob pena de exclusão do Conselho e multa, na forma
do § 2º do art. 436 deste Código.
§ 2º - A incomunicabilidade será certificada nos autos pelo
oficial de justiça.

Além disso, entre eles (os jurados) não pode haver conversas sobre o caso.

Continuando...

Os jurados então recebem o relatório do processo e a pronúncia, ambas


elaboradas pelo juiz anteriormente como já vimos, tomando assim conhecimento do caso.

Oitiva da vítima e testemunhas


Conforme art. 473, as testemunhas arroladas são ouvidas. As testemunhas são
ouvidas diretamente pelas partes (promotor e advogado). Os jurados podem perguntar,
mas somente através do juiz presidente.

Diligencias em plenário
O Art. 473, parágrafo terceiro, prevê as diligencias em plenário, que podem ser
reconhecimentos, acareações, nova oitiva, etc. Dentre as diligencias, é possível requerer a
leitura de peças do processo.

No caso da leitura de peças, só podem ser lidas peças produzidas por precatórias,
ou cautelares, ou antecipadas, ou não repetíveis, ou seja, somente podem ser lidas provas
que não foram produzidas no curso do processo do júri.

INTERROGATÓRIO
Por ultimo, escuta-se o réu, se ele estiver presente.
Art. 474. A seguir será o acusado interrogado, se estiver
presente, na forma estabelecida no Capítulo III do Título VII
do Livro I deste Código, com as alterações introduzidas nesta
Seção.

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !45 de 82


!
§ 1º - O Ministério Público, o assistente, o querelante e o
defensor, nessa ordem, poderão formular, diretamente,
perguntas ao acusado.

§ 2º - Os jurados formularão perguntas por intermédio do juiz


presidente.

§ 3º - Não se permitirá o uso de algemas no acusado durante o


período em que permanecer no plenário do júri, salvo se
absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à segurança
das testemunhas ou à garantia da integridade física dos
presentes.

Então, a regra é que não se usem algemas. Excepcionalmente, só são utilizáveis as


algemas se houver risco real de fuga, agressão, etc.

Há uma súmula vinculante que determina isso também:


STF Súmula Vinculante nº 11 - Sessão Plenária de 13/08/2008
- DJe nº 157/2008, p. 1, em 22/8/2008 - DO de 22/8/2008, p. 1

Uso de Algemas - Restrições - Responsabilidades do Agente e


do Estado - Nulidades

Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de


fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de
terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade
disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato
processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

DEBATES
Primeiramente há a manifestação da acusação. O promotor tem o direito de falar
uma hora e meia se for um só réu ou duas horas e meia se for mais de um réu. Se houver
assistente de acusação, ele divide o tempo com o promotor. Se eles nao chegarem a um
acordo, o juiz dividirá o tempo. O mesmo funciona aos advogados, que terão uma hora e
meia se somente um réu, ou duas horas e meias se mais de um réu, ocasião em que os
advogados dividirão seu tempo também.

Na sua fala, a acusação tem algumas restrições. Não se pode ir além da pronúncia.
Não se pode se referir ao texto da pronúncia. Não se pode fazer referencia ao silencio do
réu no interrogatório. Não pode haver referencias ao uso de algemas.

Após a manifestação do MP vem a manifestação da defesa, que como dissemos é


o mesmo dos promotores. As restrições também são as mesmas, mas obviamente elas se
destinam à acusação.

Possibilidade de replica
CPP. Art. 476. § 4º - A acusação poderá replicar e a defesa
treplicar, sendo admitida a reinquirição de testemunha já
ouvida em plenário.

A replica é a resposta da acusação à manifestação da defesa. Ela não é obrigatória


e é direito do promotor. O tempo é de uma hora para um réu, e duas horas para mais de
um.

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !46 de 82


!
A tréplica só é permitida se houver réplica, pelo mesmo tempo e com as mesmas
regras.

Pergunta: pode a defesa apresentar tese nova na treplica?

Há duas correntes:

• Pode, mas se houver a acusação deve receber novo prazo.

• Pode, mas em decorrência da plenitude de defesa o promotor não deve receber


nova possibilidade

Apartes
Durante as manifestações podem haver apartes, que são intervenções de uma
parte na fala da outra.
CPP. Art. 497. São atribuições do juiz presidente do Tribunal
do Júri, além de outras expressamente referidas neste Código:

XII - regulamentar, durante os debates, a intervenção de uma


das partes, quando a outra estiver com a palavra, podendo
conceder até 3 (três) minutos para cada aparte requerido, que
serão acrescidos ao tempo desta última.

O juiz defere ou não defere, que pode durar até três minutos, que são
acrescentados eventualmente na fala daquele que sofreu o aparte.

Pedido de indicação de folhas


Durante as manifestações também é possível o pedido de indicação de folhas.
Através do juiz, uma parte pode pedir para que a outra indique em que folha do processo
está aquilo que ela menciona.

Ex.: promotor diz que a testemunha tal disse tal coisa em sua argumentação.

Vedação sobre a apresentação de provas novas


Art. 479. Durante o julgamento não será permitida a leitura de
documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado
aos autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias úteis,
dando-se ciência à outra parte.

Nenhuma das partes pode apresentar prova da qual a parte contrario não tenha
tido ciência com ao menos três dias de antecedência. GANCHO: ESSA PROVA É
ILEGÍTIMA LEMBRA? POIS VIOLA NORMA DE DIREITO PROCESSUAL. ISSO
CAI NA PROVA!!!

ESCLARECIMENTOS DO JUIZ
Uma vez terminadas as manifestações, o juiz pergunta aos jurados se ficou
alguma duvida ou se eles precisam de algum esclarecimento. Se os jurados fizerem
perguntas a ele, o juiz que responderá imparcialmente.
CPP. Art. 480. § 1º - Concluídos os debates, o presidente
indagará dos jurados se estão habilitados a julgar ou se
necessitam de outros esclarecimentos.

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !47 de 82


!
§ 2º - Se houver dúvida sobre questão de fato, o presidente
prestará esclarecimentos à vista dos autos.

§ 3º - Os jurados, nesta fase do procedimento, terão acesso aos


autos e aos instrumentos do crime se solicitarem ao juiz
presidente.

Elaboração do questionário
Questionário é o conjunto de quesitos que serão respondidos pelos jurados.
Quem elabora o questionário é o juiz presidente no plenário, que uma vez pronto será
lido em voz alta.

Haverá series de quesitos para cada crime e um questionário para cada réu. Os
quesitos serão formulados com base na pronúncia, no interrogatório do réu, e nas
alegações das partes em plenário.

Os quesitos são previstos no artigo 483 do CPP. Os quesitos são lidos em voz alta
para permitir a impugnação pelas partes, seja para alegar falta, excesso, ou até má redação
do quesito.

O juiz então decide reformulando ou não o quesito, e então inicia-se a votação.

Diz a sumula 156, STF que:


STF Súmula nº 156 - 13/12/1963 - Súmula da Jurisprudência
Predominante do Supremo Tribunal Federal - Anexo ao
Regimento Interno. Edição: Imprensa Nacional, 1964, p. 85.

Nulidade do Julgamento pelo Júri - Falta de Quesito


Obrigatório

É absoluta a nulidade do julgamento, pelo júri, por falta de


quesito obrigatório.

Então a falta de quesito obrigatório é causa de nulidade absoluta.

A deficiência de um quesito causa nulidade relativa. Lembre-se que nulidades


relativas devem ser argüidas durante a sessão, ou serão consideradas convalidadas.

Os quesitos devem obedecer a ordem do artigo 483.

01. Quanto a materialidade (existência de um fato) - ex.: a vitima sofreu tantos


disparos no dia tal como informa o laudo de fls. Tais?

01.1. Nexo causal - ex.: a vitima morreu em virtude desses disparos?

02. Autoria ou participação - ex.: o réu fulano de tal efetuou os disparos contra a
vitima?

02.1. Quesitos de desclassificação (se for o caso e se for tese única da defesa) -
ex.: o réu não consumiu o crime por circunstancias alheias à sua vontade?

03. Quesito absolutório (o jurado absolve o réu?)

Se a tese da desclassificação é subsidiária (ou seja, não é a única), então ela vem
depois do quesito absolutório, transformando-se então o 02.1 em 03.1.

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !48 de 82


!
Aula 10 (19.09.2013) - Quesitos cont.
Após o quesito absolutório, vêm:

04. Causas de diminuição de pena

05. Qualificadoras e causas de aumento de pena

06. Votação
Após isso, vão para a sala especial o juiz presidente, os jurados, as partes, o
escrivão e dois oficiais de justiça. A votação se faz por cédula, escritas uma com um "sim"
e uma com um "não", e se faz quesito a quesito, um de cada vez.

Cabe ao juiz declarar quesitos prejudicados. Por exemplo, se os jurados não


reconhecem a materialidade delitiva, a absolvição se dá imediatamente, e os demais
quesitos ficam prejudicados, e por isso não serão realizados.

E OS CONEXOS?
Jurados desclassificam
Sempre se vota em primeiro lugar o doloso contra a vida, e não o conexo. Se os
jurados desclassificam o doloso contra a vida, eles não votam os conexos, isso porque, ao
desclassificar, eles reconhecem a incompetência do júri.

Nesse caso, o juiz presidente julga o crime desclassificado e os conexos.

Jurados absolvem no crime doloso contra a vida


Ao absolver no crime doloso contra a vida, os jurados reconheceram a sua
competência para julga-lo (tanto que é que julgaram!), portanto eles também tem
competência para julgar os conexos.

Jurados condenam no crime doloso contra a vida


Obviamente os jurados também julgarão o(s) conexo(s).

Sentença
Uma vez terminada a votação na sala especial, volta-se a plenário para a prolação
da sentença. A sentença do juiz tem que acatar a decisão dos jurados, mesmo que o juiz
ache-a absurda.
Art. 492. Em seguida, o presidente proferirá sentença que:

I - no caso de condenação:
a) fixará a pena-base;

O juiz que fará a dosimetria.


b) considerará as circunstâncias agravantes ou atenuantes
alegadas nos debates;

c) imporá os aumentos ou diminuições da pena, em atenção às


causas admitidas pelo júri;

d) observará as demais disposições do art. 387 deste Código;

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !49 de 82


!
e) mandará o acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão
em que se encontra, se presentes os requisitos da prisão
preventiva;

f) estabelecerá os efeitos genéricos e específicos da


condenação;

II - no caso de absolvição:
a) mandará colocar em liberdade o acusado se por outro
motivo não estiver preso;

b) revogará as medidas restritivas provisoriamente decretadas;

c) imporá, se for o caso, a medida de segurança cabível.

Por fim, o juiz lê a sentença e encerra-se o julgamento.


§ 1º - Se houver desclassificação da infração para outra, de
competência do juiz singular, ao presidente do Tribunal do Júri
caberá proferir sentença em seguida, aplicando-se, quando o
delito resultante da nova tipificação for considerado pela lei
como infração penal de menor potencial ofensivo, o disposto
nos arts. 69 e seguintes da Lei no 9.099, de 26 de setembro de
1995.

§ 2º - Em caso de desclassificação, o crime conexo que não seja


doloso contra a vida será julgado pelo juiz presidente do
Tribunal do Júri, aplicando-se, no que couber, o disposto no §
1º deste artigo.

Por Rommel Andriotti D. Processual penal II !50 de 82


!

Você também pode gostar