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A testemunha no Processo Penal

Questões jurídicas, estratégicas, retóricas e psicológicas


Orador Rui Patrício (Morais Leitão)
1. Objeto e limites do depoimento
O objeto do depoimento são factos de que tenham conhecimento direto. A razão de
ciência é a razão pela qual têm o conhecimento dos factos (porque viram, porque intervirão,
etc.). Elas não deponham sobre oposições, mas apenas sobre factos que apreenderam
através dos sentidos.
Art.128º CPP. Este artigo estabelece uma limitação “exceto no momento da
determinação da sanção”, pode acontecer que haja testemunhas que sejam relevantes.
Testemunha abonatória- tem como objetivo falar bem do agente. Teoricamente, o momento
de determinação da sanção é posterior ao momento da determinação da culpabilidade. Na
teoria, as testemunhas deveriam ser chamadas no 2º momento, mas isso na prática não
acontece, pois, este 2º momento na prática não ocorre nos Tribunais, apenas na lei. Não há
nenhuma separação entre uma coisa e outra, pois o julgamento é continuo, devido ao
princípio da economia processual. Isto é um exemplo típico de um caso de law in the books
que não ocorre na law in the action.

2. Depoimento indireto, rumores, convicções


Aquilo que são rumores ou convicções não servem de nada para o objeto do
depoimento. Da mesma forma, o depoimento indireto não é válido, ou seja, a testemunha
não sabe diretamente, mas sabe porque alguém lhe disse. Exceto, nos casos em que quem
lhe disse “morreu, ficou incapaz por anomalia psíquica superveniente ou encontra-se
incontactável” (art.129º CPP). Caso a testemunha nem sequer identifica a pessoa que lhe
disse, não pode ser válida. Tem de identificar necessariamente a pessoa que lhe disse!!
Em termos práticos, se alguém aparecer no escritório e disser que não sabe, mas que x
lhe disse, é necessário chamar essa pessoa, que passa a ser a testemunha.

3. Capacidade, dever e juramento, direitos e deveres


Art.131º/nº3 CPP- nestes casos, exige-se que um perito faça uma avaliação psicológicas
sobre: (1) capacidade para depor; (2) consequências que o depoimento trará na criança,
posteriormente.
Quem seja chamado a juízo têm o dever de testemunhar e tem o dever de prestar juramento
(de forma a distingui-la de meros auxiliares).
Tem um direito importante, e é importante que as pessoas tenham consciência disso. É o
problema da possível autoincriminação. Ela tem o direito de recusar responder, quando disso
resulta a sua autoincriminação. No entanto, a testemunha fica entre a espada e a parede, pois é
um passo para ser constituída arguida (o que não é mau, pois não quer dizer que é culpada, no
entanto, hoje em dia ninguém quer ser constituída arguida).
Outro direito que tem é levar um advogado. Durante muitos anos não existia nenhuma
norma que dissesse que as testemunhas podiam levar advogado. O advogado nestes casos nãos
serve de grande coisa, pois em regra, o advogado da testemunha não pode intervir, pois a sua
possibilidade de intervir está muito limitada. A não ser, que ocorre o caso da autoincriminação,
que aqui pode intervir quando a barreira está a ser ultrapassada. Como é representado uma
testemunha levar advogado? Em regra, não é interpretado muito bem, pois advogado é
interpretado como uma ajuda.

4. Imunidades, prerrogativas, proteção


Art.139º CPP. Aplica-se a lei geral. Imunidades ou prorrogativas é um conjunto de princípio
e normas que advêm da CRP, normas especiais, etc. Juízes, deputados, ministros têm a
prorrogativa de depor por escrito.
Teoricamente, em qualquer caso, pode haver proteção de testemunhas, desde que
verificados os pressupostos e requisitos, que são muito limitados, uma vez que o contraditório
fica debilitado. Lei 93/99 (lei de proteção de testemunhas e outros declarantes) tem um conjunto
de situações de proteção- pressupostos, requisitos e forma.

5. Impedimentos
Não pode depor como testemunhas quem exerce outra veste no processo, ou seja, ou é uma
coisa ou outra. Exceto na separação do processo.

6. Recusa
A testemunha pode-se recusar se tiver alguma das características do art.134º CPP. Para
preservar os laços familiares, a lei permite a recusa do depoimento nestas situações (bem). Mas,
existe situações em que isto tem significância, nomeadamente, na polémica de o crime se
violência doméstica ser um crime publico ou semipúblico. Aqui, a vítima não pode ter mão no
processo depois de haver a queixa, no entanto, pode recusar-se a depor, quando alegar este
art.134º CPP, alegando que é cônjuge, ex cônjuge, ou vive em situação análoga à dos cônjuges.
Nestes casos, o processo acaba por acabar, pois se a vítima se recusa a depor e como, por regra,
nos casos de violência doméstica, a prova deriva quase sempre do depoimento do casal, se há
recusa também não há mais meios de prova.

“Pentateuco” Inquisição

 Saber tanto ou mais do que o interlocutor e saber o que esperar.


 Ser objetivo, claro, direto, e não sugerir respostas, sem prejuízo de clarificar e
orientar;
 Antecipar perguntas difíceis e mesmo “ser duro/apertar” com a interlocutor. Tentar
“destrunfar” sempre que possível.
 Assegurar que há atenção e perceção, em especial, para as matérias- chaves.
“Semear cedo para colher tarde”.
 Pontuar e/ou sublinhar as respostas ou os pontos mais importantes (“a arte de alegar
sem alegar”).

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