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UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO


CAMPUS RIBEIRÃO PRETO

UNIVERSIDADE DE DIREITO “LAUDO DE


CAMARGO”
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

DIREITO PROCESSUAL CIVIL 2

Da prova testemunhal: admissibilidade e valor; testemunhas


impedidas, incapazes e suspeitas; escusas de depor, com enfoque
especial no sigilo profissional; intimação das testemunhas;
contradita.

Artigo apresentado ao Departamento de Ciências


Jurídicas, do Curso de Graduação em Direito, da
Universidade de Ribeirão Preto, como requisito
obrigatório para Avaliação de Exame Final da Disciplina
Direito Processual Civil II.

Nome: Carlos Gustavo Monteiro Cherri Código: 764943

ETAPA: 7ª SALA: 16B PERÍODO: Diurno

Ribeirão Preto
Julho/2020
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Da prova testemunhal: admissibilidade e valor; testemunhas impedidas, incapazes e


suspeitas; escusas de depor, com enfoque especial no sigilo profissional; intimação das
testemunhas; contradita.
Resumo
O presente texto tem o objetivo de esclarecer as características da prova testemunhal no
NCPC, destacando sua admissibilidade e valor, as definidas como testemunhas impedidas,
incapazes e suspeitas, bem como as escusas de depor, com enfoque especial no sigilo
profissional, além dos procedimentos estabelecidos para a intimação das testemunhas e a
contradita. Doutrina e jurisprudência serão os fundamentos.

Introdução

A prova testemunhal, ao lado das provas documentais e periciais, da confissão,


do depoimento pessoal, da exibição do documento ou coisa e da inspeção judicial constitui
um dos meios disciplinados entre o art. 332 e o art. 443 do CPC – Código de Processo Civil
de 2015. Peculiarmente, a prova testemunhal é um dos mais antigos e controversos meios de
prova e já produzia seus efeitos polêmicos desde a Antiguidade, talvez seja por isso que
Sócrates, o filósofo, dispensou tal meio para sua defesa e, ele próprio, fez sua própria defesa,
como relata Platão na Apologia de Sócrates.
Da Antiguidade aos dias de hoje muito tempo se passou e muitos institutos do
direito se transformaram, e a prova testemunhal ainda é preservada entre os meios de provas,
já que nas relações civis e jurídicas nem sempre foram documentadas por meios formais,
restando para parte muitas vezes como único meio de provar as suas alegações em juízo o
depoimento de pessoas que presenciaram ou tiveram notícia do fato objeto da demanda.
Práticas policiais recorrem muito a esse meio para desvendar um crime ou descobrir um
suspeito, por meio do depoimento de potenciais testemunhas que presenciaram o fato ou, de
alguma forma, tiveram relação com ele.
Entretanto, em todas as esferas nas quais temos o elemento humano, sempre é
possível o erro, a falha e a contradição. No caso de tal modalidade de prova, por
exclusivamente depender da percepção humana, é frágil, podendo ser facilmente influenciada
por condicionantes de diversas naturezas. Por isso, com o passar do tempo, surgiu certa
reserva dos juízes a esse tipo de prova, sendo refletida na legislação, que muitas vezes relega
a prova testemunhal para um segundo plano, hierarquicamente inferior, apreciação que busca
ser corrigida com o NCPC, que conforme será tratado a seguir, retira algumas das restrições à
tal modalidade de prova, uma vez que não cabe à lei valorar as provas, mas sim ao julgador.
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O valor probante da prova testemunhal encontra ecos dissonantes na doutrina,


ou seja, distante de se encontrar pacificada, porém, o que não se pode perder de vista é que a
tal modalidade de prova, assim como qualquer outra, tem como objetivo maior auxiliar o
juízo a chegar o mais próximo possível da verdade real.

Da prova testemunhal: admissibilidade e valor; testemunhas impedidas, incapazes e


suspeitas; escusas de depor, com enfoque especial no sigilo profissional; intimação das
testemunhas; contradita.

A testemunha tem o dever de, uma vez intimada, ir a juízo e expor, de modo
oral tudo o que é de seu conhecimento a respeito do litígio, auxiliando a justiça, dizendo
obrigatoriamente a verdade, sob pena de sanção penal, salvo nos casos excetuados pelo CPC i.
Contudo, é necessário que a testemunha tenha consciência de tal condição e de suas
consequências, motivo pelo qual deve ser pessoa civilmente capaz e isenta, não podendo ter,
em regra, relação com nenhuma das partes ou interesse no litígio, já que, sua função não é
auxiliar um dos integrantes da relação processual na obtenção de decisão favorável, nem
prejudicar a parte no polo oposto da lide, muito menos testemunhar por interesse próprio na
causa, mas sim cooperar com o Poder Judiciário para esclarecer as questões controvertidas,
obscuras que não poderiam ser obtidas por meios diferentes de provas e, acima de tudo,
conhecer a verdade, a fim de acarretar a distribuição de justiça.
Só é prova testemunhal a colhida com as garantias que cercam o depoimento oral, que
obrigatoriamente se faz em audiência, em presença do juiz e das partes, sob compromisso
legal previamente assumido pelo depoente e sujeição à contradita e reperguntas daquele
contra quem o meio de convencimento foi produzido. Não se pode atribuir valor de prova
testemunhal, portanto, às declarações ou cartas obtidas, particular e graciosamente, pela
parte (THEODORO JÚNIOR, 2018, p. 1010).

Sob o prisma do princípio do livre convencimento motivado, pode o juiz considerar a oitiva
de incapazes, ou de indivíduos que por algum motivo não sejam isentos quanto à lide, na
qualidade de informantes, sob os quais não incidem os mesmos ônus impostos às
testemunhas, cabendo ao magistrado valorar tais declarações.
O NCPC procura simplificar e sistematizar procedimentos, visando a agilidade
e a celeridade processual, bem como a consecução dos princípios da duração razoável do
processo, além de resguardar a ampla defesa, o contraditório e cooperação entre as partes.
No primeiro dispositivo da seção sobre a prova testemunhal, precisamente no
artigo 442, o NCPC disciplina: "a prova testemunhal é sempre admissível, não dispondo a lei
de modo diverso". Entretanto, tal modalidade de prova nem sempre é cabível, desde que a
prova que se pretenda obter por meio da inquirição da testemunha possa ser alcançada
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mediante as demais modalidades, como determina o art. 443 do NCPC: "art. 443.O juiz
indeferirá a inquirição de testemunhas sobre fatos: I - já provados por documento ou confissão
da parte; II - que só por documento ou por exame pericial puderem ser provados". O livre
convencimento é formado por todos os atos probatórios, não se limitando a utilização da
prova testemunhal. O entendimento doutrinário, nessa seara esclarece o dispositivo legal:
Embora a regra seja a admissibilidade da ouvida de testemunhas em todos os processos, o
Código permite ao juiz dispensar essa prova oral, quando a documental for suficiente para
fornecer os dados esclarecedores do litígio, ou quando inexistirem fatos controvertidos a
apurar, casos em que o julgamento do mérito poderá ser antecipado e proferido até mesmo
sem audiência, se configuradas as hipóteses do art. 355 (THEODORO JÚNIOR, 2018, p.
1011).

Em relação à lista das pessoas que podem atuar como testemunha, o artigo 447
do NCPC excluiu do rol de suspeição, o condenado por crime de falso testemunho, havendo
transitado em julgado a sentença, e o que, por seus costumes, não for digno de fé, afastando as
condicionantes anteriormente impostas pelo CPC de 1973. Ficou mantida a possibilidade, na
qualidade de informante, proceder a oitiva das testemunhas suspeitas ou impedidas. A
doutrina se manifesta a respeito de tal modificação:
As testemunhas incapazes, impedidas ou suspeitas podem ser, em casos excepcionais,
ouvidas como meras informantes (art. 457, § 2º), quando o juiz, com a necessária cautela,
dará à prova assim aproveitada “apenas o valor que dela se pode extrair nessas
circunstâncias e sem torná-la o principal fundamento da decisão” (THEODORO JÚNIOR,
2018, p. 1014).

Quando a testemunha é arrolada e se enquadra nos impedimentos do art. 447,


§2º, III, na qualidade de profissional que possui o dever do sigilo, também serão consideradas
à luz do art. 457, §2º. Em julgado, ainda sob os termos do CPC/73, verifica-se um caso
semelhante:
PROCESSO CIVIL. PROVA TESTEMUNHAL. ADVOGADO. SIGILO
PROFISSIONAL. INDEFERIMENTO. 1. O sigilo profissional, em princípio, acarreta o
impedimento a que advogados sejam chamados a testemunhar em juízo quanto a fatos de
que tenham ciência em razão do ofício, na forma prevista no art. 405, § 2º, III, do CPC e
no art. 7º, XIX, da Lei nº 8.906/94. Garantia que se estende, por sua própria natureza, à
advocacia pública, a teor do art. 10 do Regulamento Geral do Estado da OAB. 2. Agravo
improvido
(TRF-2 - AG: 169173 RJ 2008.02.01.014387-2, Relator: Desembargador Federal LUIZ
PAULO S. ARAUJO FILHO, Data de Julgamento: 19/11/2008, SÉTIMA TURMA
ESPECIALIZADA, Data de Publicação: DJU - Data:26/11/2008 - Página:77).

No entanto, em circunstâncias diversas, a doutrina se posiciona a respeito do depoimento de


magistrado, estabelecendo uma distinção entre o impedimento de testemunhar e o
impedimento de julgar, com efeito lê-se:
O juiz que tenha conhecimento direto dos fatos da causa, antes de impedido de
testemunhar, está impedido de julgar, devendo transferir a condução do processo para o seu
substituto automático, caso em que poderá ser ouvido como testemunha. Quando, na
condução do processo, for arrolado como testemunha, deverá proceder na forma do art. 452
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do CPC: se efetivamente tiver ciência do ocorrido, dar-se-á por impedido, caso em que será
defeso à parte, que o incluiu no rol, desistir de seu depoimento; se nada souber, mandará
excluir o seu nome (GONÇALVES, 2020, p, 804).

Com relação aos procedimentos específicos da produção de prova testemunhal,


é necessário destacar que o artigo 450 do NCPC determina as informações que devem ser
indicadas quando são apresentados o rol das testemunhas, acrescentando ao que já dispunha o
código anterior, a necessidade de apontamento do número de inscrição no CPF e do registro
de identidade RG.
Uma importante inovação foi trazida pelo artigo 453 do NCPC ii,
principalmente pela situação pandêmica atual que interferiu na rotina do Poder Judiciário,
como também revela uma adequação às tecnologias contemporâneas, que fazem parte da
rotina pessoal e profissional de muitas pessoas e setores que, à época da redação do código
anterior, 1973, não eram sequer imagináveis. Através de tal dispositivo, passou a ser
expressamente permitido a realização de audiências por meio de videoconferência ou outro
recurso tecnológico similar, formalizando um instrumento ou mecanismo de grande
importância que, na maioria dos casos, poderá abreviar consideravelmente a duração de um
processo, por exemplo, proceder a oitiva de testemunhas que se encontrarem
consideravelmente distantes da comarca onde tramita o processo ou, até mesmo, em outros
países. Sendo o Brasil um país de proporções continentais, tal dispositivo assegura a
celeridade processual sem prejuízo das partes envolvidas no litígio, nem das testemunhas
arroladas que, ao colaborarem com a verdade real, não atrairão para si quaisquer
onerosidades.
O alargamento o rol de autoridades públicas que, quando arroladas como
testemunhas, poderão ser inquiridas em sua residência ou onde exercem sua função, o NCPC
impôs maiores dificuldades ainda para a efetiva prestação da tutela jurisdicional, acrescentou
à lista prevista no antigo Código os conselheiros do Conselho Nacional de Justiça e Conselho
Nacional do Ministério Público, advogado-geral da União, procuradores-gerais dos Estados e
municípios, Defensores-Públicos gerais Federal e Estaduais, Prefeito e Procurador-Geral de
Justiça.
A transferência ao advogado, pelo artigo 455 do NCPC, da responsabilidade
por "informar ou intimar a testemunha por ele arrolada do dia, da hora e do local da audiência
designada" reflete a incorporação de elementos de common law, tal disposição acarretou a
agilidade do processo e do seu curso, desburocratizando procedimentos formais irrelevantes e
pensando na instrumentação pragmática de solução de lides. A intimação das testemunhas,
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nestes casos, deve ser feita mediante a expedição de carta com aviso de recebimento (AR),
nos termos do § 1º do artigo 455 NCPC iii. Importante julgado do Tribunal de Justiça mineiro
demonstra que tal impedimento implica em cerceamento de defesa:
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO -
INTIMAÇÃO DE TESTEMUNHA ARROLADA- FRUSTRADA - ART. 455 DO
CPC/2015- CERCEAMENTO DE DEFESA- OCORRÊNCIA - Nos termos do art. 455,
do CPC/2015, cabe ao advogado da parte informar ou intimar a testemunha por ele
arrolada do dia, da hora e do local da audiência designada, dispensando-se a intimação do
juízo, sob pena de desistência de sua inquirição. A intimação da testemunha somente será
feita pela via judicial nas hipóteses previstas no § 4º, do referido art. 455, do CPC/2015.
(TJ-MG - AI: 10431160036007002 MG, Relator: Luciano Pinto, Data de Julgamento:
21/04/0020, Data de Publicação: 27/04/2020).

A parte e seus advogados estão permitidos e podem se comprometer a levar as testemunhas à


audiência. No entanto, caso a testemunha não compareça à audiência, será presumida a
desistência da parte pela sua inquirição. Em contrapartida, a intimação pelo Poder Judiciário
ocorrerá em caráter excepcional, conforme as situações previstas no § 4º do artigo 455 do
NCPC, a saber, quando for frustrada a intimação realizada pelo advogado por meio de carta
com aviso de recebimento, mediante a demonstração da necessidade da intimação feita pela
parte ao juiz, quando servidores públicos e militares figurarem no rol de testemunhas, quando
as testemunhas são arroladas pela Defensoria Pública ou pelo Ministério Público, no caso das
testemunhas previstas no art. 454 deste Códigoiv.
A ordem de inquisição das testemunhas está disposta no art. 456 do NCPC, que
disciplina que, primeiramente as testemunhas do autor e, depois, as testemunhas do réu.
Porém, as partes podem concordar com a alteração da ordem estabelecida no caput, como
prevê o parágrafo único do artigo supracitado. O acordo será submetido ao crivo judicial.
O parágrafo único do artigo 456 do NCPC, além de estar com os artigos 139,
VI e 191 do NCPC, que cuidam da questão dos acordos de procedimentos, por exemplo,
fixação de calendários, que poderão ser dilatados e alterados mediante devida justificativa, a
dispensa de intimações já acordadas em fixação de calendário, além de alterar a ordem de
produção dos meios de prova, em conformidade com a necessidade do conflito e da efetiva
prestação da tutela jurisdicional do direito.
O modo pelo qual as partes e seus advogados poderão fazer perguntas às
testemunhas estão dispostos no art. 459 do NCPC v, alterando o ultrapassado sistema em que o
advogado pergunta ao juiz, que então formula a repergunta para a testemunha, surgindo a
possibilidade de que o advogado possa interrogar a testemunha depoente face à face, cabendo
ao juiz interferir nas perguntas que condicionam ou induzem a respostas que interessem à
parte, que forem irrelevantes ou desvinculadas do objeto da prova, como também perguntas
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que visam colocar a testemunha em contradição mediante a repetição descontextualizada ou


que já foram respondidas.
A boa-fé das partes, dos advogados e das testemunhas é a chave para que todo
o novo sistema contido no NCPC possa funcionar satisfatoriamente, de modo a permitir que
os objetivos do novo sistema processual sejam atingidos. O NCPC ainda possibilitou
expressamente a gravação do depoimento da testemunha, inclusive por meio eletrônico, tal
qual indicado em seu artigo 460.
Apresentados tais elementos, verificar-se-á à análise das formalidades no
tocante à prova testemunhal, tais como o requerimento, a intimação, a oitiva na audiência ou
não, a inquirição e os incidentes.
O momento adequado para requerer a prova testemunhal é a petição inicial,
para o autorvi, ou a contestação, para o réu vii, ou então na fase de especificação de prova,
durante as providências preliminaresviii. É na decisão de saneamento que o juiz admitirá, ou
não, essa espécie de provaix. A prova testemunhal é deferida quando o juiz simplesmente
designa a audiência de instrução e julgamento. A parte que objetiva produzir essa prova
deverá, na decisão de saneamento, depositar, em Cartório, o respectivo rol, no qual figurarão
devidamente qualificadas, ou seja, apresentadas mediante nomes, profissões, estado civil,
idade, o número de cadastro de pessoa física e do registro de identidade e endereço completo
da residência e local de trabalho das testemunhas a ouvir nos termos dos arts. 357, § 4º, e 450,
no prazo que o juiz fixar.
Na hipótese da causa apresentar complexidade em matéria de fato ou de
direito, o magistrado deverá designar audiência para que seja feito o saneamento em
cooperação com as partesx. Se assim ocorrer, elas deverão levar o respectivo rol de
testemunhas à audiênciaxi. Na ausência de audiência de saneamento e o juiz acatar a produção
de prova testemunhal na decisão saneadora, o prazo dentro do qual as partes deverão depositar
o rol de testemunhas será devidamente marcado. O NCPC disciplina que tal prazo não poderá
ser superior a quinze diasxiipara ambas as partes.
Todavia, se o juiz não se pronunciar a respeito do prazo, aplicar-se-á aquele
fixado pela lei, ou seja, de quinze dias. Esse prazo é estabelecido com a finalidade de que se
possa conhecer, de modo antecipado, a idoneidade da prova que será apresentada. Esse
procedimento deve ser observado tanto nos casos de testemunhas a serem intimadas como
daquelas que comparecerão independentemente de intimação.
Cada parte poderá arrolar, no máximo, dez testemunhas; mas ao juiz é
permitido dispensar, na audiência, as excedentes de três, quando destinadas à prova do mesmo
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fatoxiii. A jurisprudência tem entendido que a falta de requerimento ou especificação da prova


testemunhal pela parte, antes do saneador, não a impede de arrolar testemunhas quando o juiz
designa audiência de instrução e julgamento, desde, é claro, que não tenha havido expresso
indeferimento desse tipo de prova, como no presente julgado do TJ-RS:
INDEFERIMENTO DE INCLUSÃO DE TESTEMUNHA EM AUDIÊNCIA
DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO. DECISÃO NÃO AGRAVÁVEL. ROL
TAXATIVO. O artigo 1.015 do CPC/15 trouxe rol taxativo de cabimento do recurso de
agravo de instrumento. In casu, a decisão proferida em audiência
de instrução e julgamento que indeferiu pedido da parte de arrolamento de testemunha não
encontra amparo em nenhuma das hipóteses elencadas no artigo supramencionado para
interposição de agravo de instrumento. Ausência de requisito intrínseco de admissibilidade
(cabimento) que enseja o não conhecimento do recurso. Precedentes da Corte. AGRAVO
DE INSTRUMENTO NÃO CONHECIDO. DECISÃO MONOCRÁTICA.
(Agravo de Instrumento Nº 70078947785, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: Glênio José Wasserstein Hekman, Julgado em 04/09/2018).

Nos casos de revelia, ou seja, naqueles em o réu não contestou a ação, é


assegurado o direito de produzir testemunhas, quando os efeitos da revelia não ocorreram, nos
termos do art. 349, isto é, que se faça representar nos autos a tempo de praticar os atos
processuais indispensáveis à essa produção. Após a apresentação do rol do art. 357, §§ 4º e
5º, a parte só pode substituir a testemunha xiv que falecer; que, por enfermidade, não estiver em
condições de depor; que, tendo mudado de residência ou de local de trabalho, não for
encontrada.
Já se mencionou a intimação feita pelo próprio advogado, mediante carta com
aviso de recebimento, devendo ser juntada aos autos, com antecedência de pelo menos três
dias da data da audiência, cópia da correspondência de intimação e do comprovante de
recebimento. Caso o advogado não diligenciar a intimação, implicará a desistência da
inquirição da testemunhaxv. Ao contrário, se intimada, a testemunha não comparecer sem
motivo justificado, será conduzida e responderá pelas despesas do adiamento xvi. Nessa
hipótese, proceder-se-á a intimação da testemunha pela via judicial nos termos do art. 455, §
4º, I, II, II, IV, já supracitados na devida ocasião ou quando se enquadrar naquelas que devam
ser ouvidas em casa ou onde exerçam sua função, como estabelece o inciso V do referido
dispositivo.
A testemunha intimada, independentemente da forma, deverá comparecer em
juízo, no dia, hora e local que forem designados para a audiência. Haverá condução coercitiva
caso a testemunha deixe de atender à intimação sem motivo justificado, como obriga o art.
455, § 5º.
Durante a Audiência, as testemunhas são ouvidas pelo juiz, no caso da
audiência de instrução e julgamento, depois dos esclarecimentos dos peritos e dos
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depoimentos pessoais das partes, em conformidade com o art. 361, I, II e III, do NCPC, que
determina o rito da produção das provas orais. Em juízo, mas fora da audiência, são inquiridas
as testemunhas que, prestam depoimento antecipadamente e as que são inquiridas por carta xvii.
A oitiva de testemunha que residir em comarca, seção ou subseção judiciárias
diversa daquela onde tramita o processo poderá ser realizada por meio de videoconferência ou
outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, inclusive, durante
a realização da audiência de instrução e julgamento.
Fora do juízo, serão ouvidas as testemunhas que possuem privilégio de função
e, portanto, são inquiridas em sua residência, hipótese prevista no art. 454, incisos I ao XII, ou
onde exercem sua função, tais como o Presidente e o Vice-Presidente da República, os
Ministros de Estado, os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os conselheiros do Conselho
Nacional de Justiça, os ministros do Superior Tribunal de Justiça, do Superior Tribunal
Militar, do Tribunal Superior Eleitoral, do Tribunal Superior do Trabalho e do Tribunal de
Contas da União, o Procurador-Geral da República e os conselheiros do Conselho Nacional
do Ministério Público, o advogado-geral da União, o procurador-geral do Estado, o
procurador-geral do Município, o defensor público-geral federal e o defensor público-geral do
Estado, os senadores e deputados federais, os governadores dos Estados e do Distrito Federal,
o prefeito, os deputados estaduais e distritais, os desembargadores dos Tribunais de Justiça, de
Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais do Trabalho e dos Tribunais Regionais
Eleitorais e os conselheiros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, o
procurador-geral de justiça, o embaixador de país que, por lei ou tratado, concede idêntica
prerrogativa ao agente diplomático do Brasil.
O juiz oficiará a autoridade que deve depor, solicitando que designe dia, hora e
local, a fim de ser inquirida. Junto do ofício, será remetida uma cópia da petição inicial ou da
defesa oferecida pela parte, que a arrolou como testemunha, nos termos do art. 454, § 1º. Na
hipótese de a autoridade não responder ao ofício dentro de um mês, o magistrado designará
dia, hora e local para o depoimento, preferencialmente na sede do juízo, como disciplina o art.
454, § 2º. Se a autoridade não comparecer, injustificadamente, à sessão agendada para
testemunho, nos dia, hora e local por ela mesma indicados disciplinado no art. 454, § 3º, o
juiz procederá de maneira semelhante. Na impossibilidade de a testemunha ser ouvida na
audiência de instrução e julgamento, seja por doença, seja por outro motivo relevante, o juiz
poderá tratar do problema dentro das regras emergenciais de prova antecipada estabelecida no
art. 381, I e, desse modo, designar dia e hora para realizar a inquirição no local em que o
depoente se encontrar.
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Na audiência de instrução e julgamento, como já supramencionado, as


testemunhas serão inquiridas separada e sucessivamente seguindo a ordem, primeiramente, as
do autor e, posteriormente as do réu, providenciando de modo que uma não ouça o
depoimento das outras, como dispõe o art. 456, porém a ordem não é absoluta e pode ser
alterada, desde que não resulte prejuízo para ambas as partes.
A Alteração não é incomum, tendo em vista que algumas testemunhas são
ouvidas em audiências diferentes ou em juízos diversos. Com efeito, deverá ter a
concordância das partes. A testemunha será qualificada, declarando seu nome completo, a
profissão, a residência e o estado civil, bem como se tem relações de parentesco com a parte,
ou interesse no objeto do processo art. 457, caput. Feito isto procede-se ao depoimento.
No momento da qualificação, pode a parte contrária contraditar (contradicta) a
testemunha por meio de arguição de incapacidade, impedimento ou suspeição, de acordo com
o art. 447. Sobre a contradita, o juiz ouvirá a testemunha e a parte que a arrolou. Se
reconhecida a procedência da arguição, o § 2º do art. 457 estabelece que o juiz dispensará a
testemunha ou lhe tomará o depoimento como informante. Na negativa da testemunha aos
fatos que lhe são imputados, a parte poderá provar a contradita com documentos ou com
testemunha até três, apresentadas no ato e inquiridas em separado, é a regra do art. 457, § 1º.
Após a qualificação, e antes do início da inquirição, a testemunha prestará o compromisso de
dizer a verdade do que souber e lhe for perguntado e será advertida pelo juiz que se sujeita à
sanção penal quem faz afirmação falsa, cala ou oculta a verdade, como obriga o art. 458 e seu
parágrafo único.
O interrogatório será feito pelas partes diretamente à testemunha, começando
por quem a arrolou. Mas, o juiz não admitirá as perguntas que puderem induzir a resposta, não
tiverem relação com as questões de fato objeto da atividade probatória ou importarem
repetição de outra já respondida. As perguntas que o juiz indeferir serão transcritas no termo,
se a parte o requerer. O juiz o pode também inquirir a testemunha, a seu critério, antes e
depois da inquirição efetuada pelas partes.
A característica do depoimento é a oralidade, e não é lícito à parte substituí-lo
por declaração escrita adrede preparada, o que não impede à testemunha consultar breves
anotações ou documentos em seu poder. Tomado o depoimento, será lavrado pelo escrivão o
competente termo, digitado, taquigrafado ou estenotipado, assinado pelo juiz, pela testemunha
e pelos advogados das partes, formalidade prescrita no art. 460, § 1º. O termo tem a finalidade
de documentar, nos autos, as declarações do depoente.
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O depoimento poderá também ser documentado por meio de gravação como


prevê o art. 460, caput. No caso de recurso em processo constituído de autos não eletrônicos,
o depoimento gravado será digitado quando não for possível o envio de sua documentação
eletrônica, hipótese assentada no art. 460, § 2º. Se os autos são eletrônicos, observar-se-á o
art. 460, § 3º.
Dois tipos incidentes podem se seguir à tomada de depoimento da testemunha,
a saber, a acareação e a ouvida de testemunhas referidas. Entende-se por testemunha referida
a pessoa estranha ao processo, mencionada no depoimento de outra testemunha, ou da parte,
de modo que a audiência daquela pode se dar mediante dois objetivos: confirmar ou
esclarecer o depoimento já tomado.
Por sua vez, a acareação consiste em promover o confronto pessoal numa só
audiência, das pessoas que prestaram depoimentos contraditórios. É cabível também entre
testemunhas e parte, mas não entre as duas partes. Tais diligências podem ser determinadas
pelo juiz, a requerimento da parte ou de ofício, como determina o art. 461, seja na própria
audiência de instrução e julgamento, no caso da presença dos interessados, seja em outra data,
designada pelo juiz, circunstância que suspende a conclusão dos trabalhos da audiência, ou
ainda, nos termos do art. 461, § 2º, ou seja, mediante videoconferência, ou demais meios de
transmissão audiovisuais. O depoimento dos acareados consiste em reperguntas para que
expliquem os pontos de divergência e, esclarecidos tais pontos, reduz-se a termo o ato de
acareação.

Considerações Finais

A prova testemunhal obedece à uma série de formalidade que, além de impedir


a obstrução da justiça e do cerceamento de defesa visam alcançar a verdade real. Para tanto,
os incapazes, impedidos e os eivados de suspeição são afastados do arrolamento testemunhal,
mas podem ser ouvidos como informantes. Advogados de ambas as partes podem inquirir a
testemunha, assim como o juiz, que também supervisiona a inquirição dos advogados,
evitando indução e reperguntas, salvo nos casos de acareação.
O uso da tecnologia atraiu celeridade processual ao Judiciário, além de
viabilizar novas modalidades de intimação e citação, bem como a gravação dos depoimentos e
audiências. O rol prescrito no art. 454 e seus incisos de I a XII, estabelece formalidades
específicas para a inquirição daqueles que neste dispositivo estão elencados. No entanto,
formalidades diversas envolvem a citação dos mencionados no art. 455, §1º,§ 2º,§ 3º, § 4º
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e§5º. Casos especiais são estabelecidos em torno do sigilo profissional, para que o
contraditório e a ampla defesa não restem prejudicados.

Referências
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil.. Pedro Lenza; Marcus
Vinicius Rios Gonçalves. 11ª. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. (Coleção Direito
Esquematizado).
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. V.1. 59ª. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2018.
(TJ-MG - AI: 10431160036007002 MG, Relator: Luciano Pinto, Data de Julgamento:
21/04/0020, Data de Publicação: 27/04/2020).

(TJ-RS – Agravo de Instrumento Nº 70078947785, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de


Justiça do RS, Relator: Glênio José Wasserstein Hekman, Julgado em 04/09/2018).

(TRF-2 - AG: 169173 RJ 2008.02.01.014387-2, Relator: Desembargador Federal LUIZ


PAULO S. ARAUJO FILHO, Data de Julgamento: 19/11/2008, SÉTIMA TURMA
ESPECIALIZADA, Data de Publicação: DJU - Data:26/11/2008 - Página:77).
12

Notas
i
Art. 447. Podem depor como testemunhas todas as pessoas, exceto as incapazes, impedidas ou suspeitas.
§ 1º São incapazes: I - o interdito por enfermidade ou deficiência mental; II - o que, acometido por enfermidade ou
retardamento mental, ao tempo em que ocorreram os fatos, não podia discerni-los, ou, ao tempo em que deve depor, não
está habilitado a transmitir as percepções; III - o que tiver menos de 16 (dezesseis) anos; IV - o cego e o surdo, quando a
ciência do fato depender dos sentidos que lhes faltam.
§ 2º São impedidos:
I - o cônjuge, o companheiro, o ascendente e o descendente em qualquer grau e o colateral, até o terceiro grau, de
alguma das partes, por consanguinidade ou afinidade, salvo se o exigir o interesse público ou, tratando-se de causa
relativa ao estado da pessoa, não se puder obter de outro modo a prova que o juiz repute necessária ao julgamento do
mérito; II - o que é parte na causa; III - o que intervém em nome de uma parte, como o tutor, o representante legal da
pessoa jurídica, o juiz, o advogado e outros que assistam ou tenham assistido as partes.
§ 3º São suspeitos: I - o inimigo da parte ou o seu amigo íntimo; II - o que tiver interesse no litígio.
§ 4º Sendo necessário, pode o juiz admitir o depoimento das testemunhas menores, impedidas ou suspeitas.
§ 5º Os depoimentos referidos no § 4º serão prestados independentemente de compromisso, e o juiz lhes atribuirá o
valor que possam merecer.
ii
Art. 453. As testemunhas depõem, na audiência de instrução e julgamento, perante o juiz da causa, exceto: I - as que
prestam depoimento antecipadamente; e II - as que são inquiridas por carta. § 1ºA oitiva de testemunha que residir em
comarca, seção ou subseção judiciária diversa daquela onde tramita o processo poderá ser realizada por meio de
videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão e recepção de sons e imagens em tempo real, o que
poderá ocorrer, inclusive, durante a audiência de instrução e julgamento.
iii
Art. 455. Cabe ao advogado da parte informar ou intimar a testemunha por ele arrolada do dia, da hora e do local da
audiência designada, dispensando-se a intimação do juízo.
§ 1º A intimação deverá ser realizada por carta com aviso de recebimento, cumprindo ao advogado juntar aos autos,
com antecedência de pelo menos 3 (três) dias da data da audiência, cópia da correspondência de intimação e do
comprovante de recebimento.
iv
Art. 454. São inquiridos em sua residência ou onde exercem sua função: I - o presidente e o vice-presidente da
República; II - os ministros de Estado; III - os ministros do Supremo Tribunal Federal, os conselheiros do Conselho
Nacional de Justiça e os ministros do Superior Tribunal de Justiça, do Superior Tribunal Militar, do Tribunal Superior
Eleitoral, do Tribunal Superior do Trabalho e do Tribunal de Contas da União; IV - o procurador-geral da República e
os conselheiros do Conselho Nacional do Ministério Público; V - o advogado-geral da União, o procurador-geral do
Estado, o procurador-geral do Município, o defensor público-geral federal e o defensor público-geral do Estado; VI - os
senadores e os deputados federais; VII - os governadores dos Estados e do Distrito Federal; VIII - o prefeito; IX - os
deputados estaduais e distritais; X - os desembargadores dos Tribunais de Justiça, dos Tribunais Regionais Federais, dos
Tribunais Regionais do Trabalho e dos Tribunais Regionais Eleitorais e os conselheiros dos Tribunais de Contas dos
Estados e do Distrito Federal; XI - o procurador-geral de justiça; XII - o embaixador de país que, por lei ou tratado,
concede idêntica prerrogativa a agente diplomático do Brasil.
v
Art. 459. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, começando pela que a arrolou, não
admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com as questões de fato objeto da
atividade probatória ou importarem repetição de outra já respondida.
§ 1º O juiz poderá inquirir a testemunha tanto antes quanto depois da inquirição feita pelas partes.
§ 2º As testemunhas devem ser tratadas com urbanidade, não se lhes fazendo perguntas ou considerações impertinentes,
capciosas ou vexatórias.
§ 3º As perguntas que o juiz indeferir serão transcritas no termo, se a parte o requerer.
vi
Art. 319, VI.
vii
Art. 336.
viii
Art. 348.
ix
Art. 357, II.
x
Art. 357, § 3º
xi
Art. 354, § 5º
xii
Art. 357, § 4º
xiii
Art. 357, § 6º
xiv
Art. 451, incisos I, II e III.
xv
Art. 455, § 3º.
xvi
Art. 455, § 5º.
xvii
Art. 453, I e II.

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