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Ribeirão Preto
Julho/2020
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Introdução
A testemunha tem o dever de, uma vez intimada, ir a juízo e expor, de modo
oral tudo o que é de seu conhecimento a respeito do litígio, auxiliando a justiça, dizendo
obrigatoriamente a verdade, sob pena de sanção penal, salvo nos casos excetuados pelo CPC i.
Contudo, é necessário que a testemunha tenha consciência de tal condição e de suas
consequências, motivo pelo qual deve ser pessoa civilmente capaz e isenta, não podendo ter,
em regra, relação com nenhuma das partes ou interesse no litígio, já que, sua função não é
auxiliar um dos integrantes da relação processual na obtenção de decisão favorável, nem
prejudicar a parte no polo oposto da lide, muito menos testemunhar por interesse próprio na
causa, mas sim cooperar com o Poder Judiciário para esclarecer as questões controvertidas,
obscuras que não poderiam ser obtidas por meios diferentes de provas e, acima de tudo,
conhecer a verdade, a fim de acarretar a distribuição de justiça.
Só é prova testemunhal a colhida com as garantias que cercam o depoimento oral, que
obrigatoriamente se faz em audiência, em presença do juiz e das partes, sob compromisso
legal previamente assumido pelo depoente e sujeição à contradita e reperguntas daquele
contra quem o meio de convencimento foi produzido. Não se pode atribuir valor de prova
testemunhal, portanto, às declarações ou cartas obtidas, particular e graciosamente, pela
parte (THEODORO JÚNIOR, 2018, p. 1010).
Sob o prisma do princípio do livre convencimento motivado, pode o juiz considerar a oitiva
de incapazes, ou de indivíduos que por algum motivo não sejam isentos quanto à lide, na
qualidade de informantes, sob os quais não incidem os mesmos ônus impostos às
testemunhas, cabendo ao magistrado valorar tais declarações.
O NCPC procura simplificar e sistematizar procedimentos, visando a agilidade
e a celeridade processual, bem como a consecução dos princípios da duração razoável do
processo, além de resguardar a ampla defesa, o contraditório e cooperação entre as partes.
No primeiro dispositivo da seção sobre a prova testemunhal, precisamente no
artigo 442, o NCPC disciplina: "a prova testemunhal é sempre admissível, não dispondo a lei
de modo diverso". Entretanto, tal modalidade de prova nem sempre é cabível, desde que a
prova que se pretenda obter por meio da inquirição da testemunha possa ser alcançada
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mediante as demais modalidades, como determina o art. 443 do NCPC: "art. 443.O juiz
indeferirá a inquirição de testemunhas sobre fatos: I - já provados por documento ou confissão
da parte; II - que só por documento ou por exame pericial puderem ser provados". O livre
convencimento é formado por todos os atos probatórios, não se limitando a utilização da
prova testemunhal. O entendimento doutrinário, nessa seara esclarece o dispositivo legal:
Embora a regra seja a admissibilidade da ouvida de testemunhas em todos os processos, o
Código permite ao juiz dispensar essa prova oral, quando a documental for suficiente para
fornecer os dados esclarecedores do litígio, ou quando inexistirem fatos controvertidos a
apurar, casos em que o julgamento do mérito poderá ser antecipado e proferido até mesmo
sem audiência, se configuradas as hipóteses do art. 355 (THEODORO JÚNIOR, 2018, p.
1011).
Em relação à lista das pessoas que podem atuar como testemunha, o artigo 447
do NCPC excluiu do rol de suspeição, o condenado por crime de falso testemunho, havendo
transitado em julgado a sentença, e o que, por seus costumes, não for digno de fé, afastando as
condicionantes anteriormente impostas pelo CPC de 1973. Ficou mantida a possibilidade, na
qualidade de informante, proceder a oitiva das testemunhas suspeitas ou impedidas. A
doutrina se manifesta a respeito de tal modificação:
As testemunhas incapazes, impedidas ou suspeitas podem ser, em casos excepcionais,
ouvidas como meras informantes (art. 457, § 2º), quando o juiz, com a necessária cautela,
dará à prova assim aproveitada “apenas o valor que dela se pode extrair nessas
circunstâncias e sem torná-la o principal fundamento da decisão” (THEODORO JÚNIOR,
2018, p. 1014).
do CPC: se efetivamente tiver ciência do ocorrido, dar-se-á por impedido, caso em que será
defeso à parte, que o incluiu no rol, desistir de seu depoimento; se nada souber, mandará
excluir o seu nome (GONÇALVES, 2020, p, 804).
nestes casos, deve ser feita mediante a expedição de carta com aviso de recebimento (AR),
nos termos do § 1º do artigo 455 NCPC iii. Importante julgado do Tribunal de Justiça mineiro
demonstra que tal impedimento implica em cerceamento de defesa:
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO -
INTIMAÇÃO DE TESTEMUNHA ARROLADA- FRUSTRADA - ART. 455 DO
CPC/2015- CERCEAMENTO DE DEFESA- OCORRÊNCIA - Nos termos do art. 455,
do CPC/2015, cabe ao advogado da parte informar ou intimar a testemunha por ele
arrolada do dia, da hora e do local da audiência designada, dispensando-se a intimação do
juízo, sob pena de desistência de sua inquirição. A intimação da testemunha somente será
feita pela via judicial nas hipóteses previstas no § 4º, do referido art. 455, do CPC/2015.
(TJ-MG - AI: 10431160036007002 MG, Relator: Luciano Pinto, Data de Julgamento:
21/04/0020, Data de Publicação: 27/04/2020).
depoimentos pessoais das partes, em conformidade com o art. 361, I, II e III, do NCPC, que
determina o rito da produção das provas orais. Em juízo, mas fora da audiência, são inquiridas
as testemunhas que, prestam depoimento antecipadamente e as que são inquiridas por carta xvii.
A oitiva de testemunha que residir em comarca, seção ou subseção judiciárias
diversa daquela onde tramita o processo poderá ser realizada por meio de videoconferência ou
outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, inclusive, durante
a realização da audiência de instrução e julgamento.
Fora do juízo, serão ouvidas as testemunhas que possuem privilégio de função
e, portanto, são inquiridas em sua residência, hipótese prevista no art. 454, incisos I ao XII, ou
onde exercem sua função, tais como o Presidente e o Vice-Presidente da República, os
Ministros de Estado, os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os conselheiros do Conselho
Nacional de Justiça, os ministros do Superior Tribunal de Justiça, do Superior Tribunal
Militar, do Tribunal Superior Eleitoral, do Tribunal Superior do Trabalho e do Tribunal de
Contas da União, o Procurador-Geral da República e os conselheiros do Conselho Nacional
do Ministério Público, o advogado-geral da União, o procurador-geral do Estado, o
procurador-geral do Município, o defensor público-geral federal e o defensor público-geral do
Estado, os senadores e deputados federais, os governadores dos Estados e do Distrito Federal,
o prefeito, os deputados estaduais e distritais, os desembargadores dos Tribunais de Justiça, de
Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais do Trabalho e dos Tribunais Regionais
Eleitorais e os conselheiros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, o
procurador-geral de justiça, o embaixador de país que, por lei ou tratado, concede idêntica
prerrogativa ao agente diplomático do Brasil.
O juiz oficiará a autoridade que deve depor, solicitando que designe dia, hora e
local, a fim de ser inquirida. Junto do ofício, será remetida uma cópia da petição inicial ou da
defesa oferecida pela parte, que a arrolou como testemunha, nos termos do art. 454, § 1º. Na
hipótese de a autoridade não responder ao ofício dentro de um mês, o magistrado designará
dia, hora e local para o depoimento, preferencialmente na sede do juízo, como disciplina o art.
454, § 2º. Se a autoridade não comparecer, injustificadamente, à sessão agendada para
testemunho, nos dia, hora e local por ela mesma indicados disciplinado no art. 454, § 3º, o
juiz procederá de maneira semelhante. Na impossibilidade de a testemunha ser ouvida na
audiência de instrução e julgamento, seja por doença, seja por outro motivo relevante, o juiz
poderá tratar do problema dentro das regras emergenciais de prova antecipada estabelecida no
art. 381, I e, desse modo, designar dia e hora para realizar a inquirição no local em que o
depoente se encontrar.
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Considerações Finais
e§5º. Casos especiais são estabelecidos em torno do sigilo profissional, para que o
contraditório e a ampla defesa não restem prejudicados.
Referências
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil.. Pedro Lenza; Marcus
Vinicius Rios Gonçalves. 11ª. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. (Coleção Direito
Esquematizado).
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. V.1. 59ª. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2018.
(TJ-MG - AI: 10431160036007002 MG, Relator: Luciano Pinto, Data de Julgamento:
21/04/0020, Data de Publicação: 27/04/2020).
Notas
i
Art. 447. Podem depor como testemunhas todas as pessoas, exceto as incapazes, impedidas ou suspeitas.
§ 1º São incapazes: I - o interdito por enfermidade ou deficiência mental; II - o que, acometido por enfermidade ou
retardamento mental, ao tempo em que ocorreram os fatos, não podia discerni-los, ou, ao tempo em que deve depor, não
está habilitado a transmitir as percepções; III - o que tiver menos de 16 (dezesseis) anos; IV - o cego e o surdo, quando a
ciência do fato depender dos sentidos que lhes faltam.
§ 2º São impedidos:
I - o cônjuge, o companheiro, o ascendente e o descendente em qualquer grau e o colateral, até o terceiro grau, de
alguma das partes, por consanguinidade ou afinidade, salvo se o exigir o interesse público ou, tratando-se de causa
relativa ao estado da pessoa, não se puder obter de outro modo a prova que o juiz repute necessária ao julgamento do
mérito; II - o que é parte na causa; III - o que intervém em nome de uma parte, como o tutor, o representante legal da
pessoa jurídica, o juiz, o advogado e outros que assistam ou tenham assistido as partes.
§ 3º São suspeitos: I - o inimigo da parte ou o seu amigo íntimo; II - o que tiver interesse no litígio.
§ 4º Sendo necessário, pode o juiz admitir o depoimento das testemunhas menores, impedidas ou suspeitas.
§ 5º Os depoimentos referidos no § 4º serão prestados independentemente de compromisso, e o juiz lhes atribuirá o
valor que possam merecer.
ii
Art. 453. As testemunhas depõem, na audiência de instrução e julgamento, perante o juiz da causa, exceto: I - as que
prestam depoimento antecipadamente; e II - as que são inquiridas por carta. § 1ºA oitiva de testemunha que residir em
comarca, seção ou subseção judiciária diversa daquela onde tramita o processo poderá ser realizada por meio de
videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão e recepção de sons e imagens em tempo real, o que
poderá ocorrer, inclusive, durante a audiência de instrução e julgamento.
iii
Art. 455. Cabe ao advogado da parte informar ou intimar a testemunha por ele arrolada do dia, da hora e do local da
audiência designada, dispensando-se a intimação do juízo.
§ 1º A intimação deverá ser realizada por carta com aviso de recebimento, cumprindo ao advogado juntar aos autos,
com antecedência de pelo menos 3 (três) dias da data da audiência, cópia da correspondência de intimação e do
comprovante de recebimento.
iv
Art. 454. São inquiridos em sua residência ou onde exercem sua função: I - o presidente e o vice-presidente da
República; II - os ministros de Estado; III - os ministros do Supremo Tribunal Federal, os conselheiros do Conselho
Nacional de Justiça e os ministros do Superior Tribunal de Justiça, do Superior Tribunal Militar, do Tribunal Superior
Eleitoral, do Tribunal Superior do Trabalho e do Tribunal de Contas da União; IV - o procurador-geral da República e
os conselheiros do Conselho Nacional do Ministério Público; V - o advogado-geral da União, o procurador-geral do
Estado, o procurador-geral do Município, o defensor público-geral federal e o defensor público-geral do Estado; VI - os
senadores e os deputados federais; VII - os governadores dos Estados e do Distrito Federal; VIII - o prefeito; IX - os
deputados estaduais e distritais; X - os desembargadores dos Tribunais de Justiça, dos Tribunais Regionais Federais, dos
Tribunais Regionais do Trabalho e dos Tribunais Regionais Eleitorais e os conselheiros dos Tribunais de Contas dos
Estados e do Distrito Federal; XI - o procurador-geral de justiça; XII - o embaixador de país que, por lei ou tratado,
concede idêntica prerrogativa a agente diplomático do Brasil.
v
Art. 459. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, começando pela que a arrolou, não
admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com as questões de fato objeto da
atividade probatória ou importarem repetição de outra já respondida.
§ 1º O juiz poderá inquirir a testemunha tanto antes quanto depois da inquirição feita pelas partes.
§ 2º As testemunhas devem ser tratadas com urbanidade, não se lhes fazendo perguntas ou considerações impertinentes,
capciosas ou vexatórias.
§ 3º As perguntas que o juiz indeferir serão transcritas no termo, se a parte o requerer.
vi
Art. 319, VI.
vii
Art. 336.
viii
Art. 348.
ix
Art. 357, II.
x
Art. 357, § 3º
xi
Art. 354, § 5º
xii
Art. 357, § 4º
xiii
Art. 357, § 6º
xiv
Art. 451, incisos I, II e III.
xv
Art. 455, § 3º.
xvi
Art. 455, § 5º.
xvii
Art. 453, I e II.