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A IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL ATRAVÉS DE FOTOGRAFIAS E O CONCEITO NO

ORDENAMENTO BRASILEIRO.

Hércules Rocha de Souza


Sheila de Moraes Araújo Pires

RESUMO:

O presente artigo, visa estabelecer uma análise acerca do processo penal no


reconhecimento de suspeitos de práticas delituosas através de um banco de dados
fornecidos por fotografias, utilização de redes sociais como ferramenta de
identificação e definição de possíveis suspeitos, somente com base no relato das
vítimas e testemunhas. Não pretendemos desenvolver uma tese de defesa de como
deve ser feito esse processo, e sim, estabelecer uma leitura com base na
jurisprudência e casos noticiados na mídia nacional acerca do tema.

Palavras-Chaves: identificação criminal, "álbum de fotografias",


reconhecimento indireto, regras, estereótipos.

Abstract: This article aims to establish an analysis of the criminal procedure in the
recognition of suspects of criminal practices through a database provided by
photographs, use of social networks as a tool for identifying and defining possible
suspects, only based on the report of victims and witnesses. We do not intend to
develop a defense thesis on how this process should be done, but rather to establish
a reading based on jurisprudence and cases reported in the national media on the
subject.

I - INTRODUÇÃO

A identificação da autoria de um crime/delito, é fundamental para a resolução da


persecutio criminis, para que não se tenha dúvidas acerca da identidade da pessoa
sobre a qual recairá o jus puniendi estatal. (continuar a fundamentação)
II - IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL

III - FOTOGRAFIAS NO RECONHECIMENTO DE POSSÍVEIS SUSPEITOS

IV - REGRAS

V - ESTEREÓTIPOS / PADRONIZAÇÃO DO SUSPEITO

A comprovação da materialidade de um delito bem como a certeza e a comprovação


de sua autoria, são condições necessárias para que haja uma condenação criminal,
assim, o reconhecimento formal da pessoa no processo penal é mais que um meio
de prova da autoria delitiva.

O art. 226 do CPP admite o reconhecimento de pessoa e impõe o seguinte


procedimento para sua validade:

I – a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a


pessoa que deva ser reconhecida;

Il – a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado


de outras que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de
fazer o reconhecimento a apontá-la;

III – se houver razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por
efeito de intimidação ou outra influência, não diga a verdade em face da pessoa que
deve ser reconhecida, a autoridade providenciará para que esta não veja aquela;

IV – do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela


autoridade, pela pessoa chamada para proceder ao reconhecimento e por duas
testemunhas presenciais.
Tudo isso, se seguido os ritos determinados na lei, pode compor um processo sob a
denominação de reconhecimento formal, contudo existe o reconhecimento informal,
que acontece em tempo de audiência quando a vítima ou testemunha responde
positivamente ao a pergunta sobre o reconhecimento do acusado. Esta não
caracteriza ou define a autoria do delito por não cumprir as formalidades citadas no
artigo 226 do CPP, mas poderá ser usado como prova.

“contudo, como adotamos o sistema das provas amplas e não somente as


taxativamente enumeradas, bem como o da convicção condicionada,
podemos aproveitá-la como uma prova, inominada, nunca como
reconhecimento, dando um valor de acordo com a convicção do julgador”, na
precisa lição de Adalberto Camargo Aranha (Da prova no processo penal, 2.
ed. São Paulo: Saraiva, 1987, p. 170).

Até a pouco tempo, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça era


absolutamente pacífica no sentido da impossibilidade do reconhecimento informal
perder sua validade, más, diante de uma quantidade considerável de casos de erros
de reconhecimento que vem sendo denunciados e noticiados pela imprensa escrita
e televisiva, uma nova começa a brotar, a 6ª Turma, recentemente, a decidiu que o
reconhecimento só será aceito se atendidos aos requisitos legais e comprovado
outras provas legalmente produzidas.

Nesse sentido a jurisprudência:

HABEAS CORPUS. ROUBO QUALIFICADO. NEGATIVA DE AUTORIA.


RECONHECIMENTO PESSOAL. INOBSERVÂNCIA DO PROCEDIMENTO
PREVISTO NO ART. 226 DO CPP. SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. SUPORTE
PROBATÓRIO INSUFICIENTE À CONDENAÇÃO EM 2º GRAU. CERTEZA
NÃO DEMONSTRADA. NULIDADE RECONHECIDA. ABSOLVIÇÃO QUE
DEVE SER RESTABELECIDA. WRIT CONCEDIDO. 1. Acerca do instituto
processual do reconhecimento de pessoas, previsto no art. 226 do CPP,
entendia esta Corte que as disposições contidas no art. 226 do Código de
Processo Penal configuram uma recomendação legal, e não uma exigência
absoluta, não se cuidando, portanto, de nulidade quando praticado o ato
processual (reconhecimento pessoal) de forma diversa da prevista em lei
(AgRg no AREsp n. 1.054.280/PE, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Sexta
Turma, DJe 13/6/2017). 2. Entretanto, no julgamento do HC 598.886/SC, da
relatoria do Min. Rogério Schietti Cruz, a interpretação foi revista pela Sexta
Turma, no sentido de que se determine, doravante, a invalidade de qualquer
reconhecimento formal - pessoal ou fotográfico - que não siga estritamente o
que determina o art. 226 do CPP, sob pena de continuar-se a gerar uma
instabilidade e insegurança de sentenças judiciais que, sob o pretexto de que
outras provas produzidas em apoio a tal ato - todas, porém, derivadas de um
reconhecimento desconforme ao modelo normativo - autorizariam a
condenação, potencializando, assim, o concreto risco de graves erros
judiciários. 3. Hipótese em que o reconhecimento pessoal do réu, ora
paciente, não obedeceu aos ditames do precedente mencionado - HC
598.886/SC - e, mais grave ainda, da própria norma processual em apreço
(art. 226/CPP), porquanto a vítima não descreveu a pessoa suspeita do
ilícito, mas, tão somente, a reconheceu através de uma viseira aberta de seu
capacete, acessório que usava no momento do fato, destacando-se, da
sentença absolutória, que [a] vítima Ingrid, certamente dificultada pela
visibilidade e pelo uso de capacetes, não foi nada assertiva no
reconhecimento pessoal em juízo. E ainda, como já se disse, o procedimento
de apuração relacionado a outro fato, em que são investigados Cláudio e o
tal Marcos Vinícius, não foi utilizado pela acusação, neste processo, para
amparar a pretensão condenatória de Cláudio, de modo que o que há, neste
momento, é uma prova muito frágil da autoria imputada a Cláudio. 4. A
despeito de o paciente ser suspeito da prática de outros roubos, isso não
significa dizer que, de igual modo, tenha cometido o delito em debate, até
porque (no caso) não foi condenado nos termos do art. 71 do Código Penal -
crime continuado. 5. Como observado no HC 598.886/SC, [à] vista dos
efeitos e dos riscos de um reconhecimento falho, a inobservância do
procedimento descrito na referida norma processual torna inválido o
reconhecimento da pessoa suspeita e não poderá servir de lastro a eventual
condenação, mesmo se confirmado o reconhecimento em juízo. 6. Pode a
sentença se convencer da autoria delitiva a partir do exame de outras provas
que não guardem relação de causa e efeito com o ato viciado de
reconhecimento, o que, na espécie, não ocorreu, haja vista inexistirem outras
provas nesse sentido, afirmando o julgado que não só o réu Jeferson deve
ser absolvido, por absoluta ausência de qualquer elemento que embase a
autoria que lhe é imputada, mas também o acusado Cláudio, cujos
elementos que serviriam para embasar uma condenação são todos por
demais frágeis. 7. Habeas corpus concedido para reconhecer a nulidade em
relação ao reconhecimento pessoal do paciente e restabelecer a sentença
na qual foi absolvido.
(STJ - HC: 648232 SP 2021/0058344-7, Relator: Ministro OLINDO
MENEZES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), Data
de Julgamento: 18/05/2021, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe
21/05/2021)

Segundo a decisão, o reconhecimento pessoal é uma prova que exige cautela e


experiência de quem a conduz, visto que vítimas e/ou testemunhas na ânsia de
colaborar com o processo de investigação ou até mesmo por condições psicológicas
adversa fruto do trauma que caracteriza um crime, podem apontar pessoa distinta da
que praticou o crime, baseando-se única e exclusivamente nas informações físicas
padronizadas por todos.

O desenvolvimento de novas tecnologias tem, em seu cerne, a meta de entregar


soluções que tornem a realização de tarefas mais práticas e fáceis e seguras. Surge
então, como forma de estabelecer um acesso a um serviço e na segurança para
ajudar na identificação do ser humano perante a eventuais ilícitos.

A quem diga que, sem sombra de dúvidas, inovações tecnológicas são capazes de
ajudar ou até mesmo garantir o reconhecimento facial via inteligência artificial,
contudo, novas questões a serem pensadas surgem: a polêmica por conta da
abordagem invasiva desrespeitando o direito de privacidade, o desnivelamento de
eficiência para diferentes grupos étnicos, além de outras inúmeras questões
jurídicas envolvidas.

Pode-se considerar que surge um novo método de identificação que deve ser
pensado conforme os princípios presentes no ordenamento, sobretudo quando a
metodologia consiste na coleta aleatória de dados biométricos faciais em massa
feita por uma câmera presente em um smartphone, tablet, notebook, webcam,
CFTV, ou em outros métodos possíveis capaz de capturar o formato da boca, do
rosto, distância dos olhos, entre outros pontos no rosto do ser humano.
A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), Lei nº 13.709, de 14 de agosto
de 2018, entende como dados pessoais, toda informação de alguém que pode ser
identificável ou identificada tal qual nos métodos biométricos, assim, a imagem da
pessoa é um dado pessoal, mais ainda, um dado pessoal sensível já que pode ser
transformada em informação biométrica.

De modo geral, é possível fazer o processamento de dados pessoais sensíveis


mediante o consentimento (autorização) do titular para o uso em uma finalidade
específica — o que seria impossível em um ambiente aberto à circulação pública.
Mas, conforme artigo 11, II, alínea "e", da LGPD, há dispensa do consentimento para
uso dessas imagens/filmagens para o fim estritamente exclusivo de proteção da
vida, integridade física do titular do dado ou de terceiros.

Assim, passamos para uma área nebulosa por exemplo, em caso de parceria de um
ente privado com o poder público, com o fim de acesso à imagens gravadas ou ao
vivo para a identificação de procurados pela polícia, ou no caso de um shopping
tenha acesso ao banco de dados de criminosos para impedir seu acesso ou
qualquer outra situação semelhante. Isso porque as imagens estão sendo utilizadas
para a finalidade de segurança pública que estão dispensadas da aplicação da
LGPD, mas por outro lado existe a filmagem e tratamento de imagem feitas por uma
empresa privada — que está sujeita à LGPD.

Ainda que a evolução tecnológica faz parecer natural a devassa no tocante à


privacidade das pessoas, ainda assim, não quer dizer que seja permitido a coleta,
uso e armazenamento de maneira discriminatória e a qualquer preço, pois existem
dispositivos e regramentos próprios de defesa ante aos direitos da personalidade
tanto na constituição como no Código Civil. Por fim, existem ainda questões a serem
discutidas à luz dos direitos fundamentais positivados, Direitos Individuais
(sobretudo referente ao uso de imagem, direito à privacidade e intimidade agravados
quando se tratar de pessoas sensíveis, idosos, crianças e dos adolescentes).
Conclusão

Apenas a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais não pode estabelecer as


diretrizes, pressupostos do emprego do reconhecimento facial no tratamento dos
dados pessoais, de modo a garantir o cumprimento dos direitos individuais e difusos.

É certo dizer que o uso da tecnologia debatido ao longo do artigo não pode ser
analisado em apenas uma ótica, mas de qualquer os elementos autorizadores
devam ser debatidos tendo como pano de fundo os princípios fundamentais do
indivíduo e da dignidade da pessoa como pressuposto no tratamento dos dados
pessoais e ainda mediante, quaisquer atos lesivos a tais direitos ou outros não
abordados na LGPD ensejará reclamação junto ao Judiciário para sanar questões
pendentes.

VII - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Acesso em 23 de maio de 2021:


https://adrianaduarteadvogados.jusbrasil.com.br/artigos/887817550/o-reconheciment
o-de-pessoas-na-acao-criminal

Acesso em 23 de maio de 2021:


https://andreza270113.jusbrasil.com.br/artigos/1170497893/reconhecimento-fotografi
co-no-processo-penal

https://jackfernandes.jusbrasil.com.br/artigos/853825328/identificacao-criminal-no-or
denamento-brasileiro

https://tj-mg.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/932486207/habeas-corpus-criminal-hc-1
0000190340125000-mg/inteiro-teor-932486212
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1172132716/habeas-corpus-hc-623089-rj-2
020-0289787-2/decisao-monocratica-1172132726

https://www.conjur.com.br/2018-ago-03/limite-penal-quando-reconhecimento-facial-c
hega-processo-penal

https://canalcienciascriminais.com.br/um-novo-e-adequado-olhar-sobre-o-reconheci
mento-de-pessoas/

https://alexandresalum.jusbrasil.com.br/artigos/206765301/a-formalidade-do-reconhe
cimento-pessoal-e-o-perigo-de-sua-relativizacao

https://www.conjur.com.br/2021-mai-03/especialistas-apresentam-sugestoes-reconhe
cimento-pessoas-cpp

https://alexandresalum.jusbrasil.com.br/artigos/206765301/a-formalidade-do-reconhe
cimento-pessoal-e-o-perigo-de-sua-relativizacao
https://canalcienciascriminais.com.br/um-novo-e-adequado-olhar-sobre-o-reconheci
mento-de-pessoas/

ARANHA, Adalberto José de Camargo. Da prova no processo penal. 7. ed. São Paulo:
Saraiva, 2006.
https://canalcienciascriminais.com.br/regra-do-artigo-226-do-cpp-nao-e-mera-recomendacao
-e-gera-nulidade/

https://www.conjur.com.br/2018-ago-03/limite-penal-quando-reconhecimento-facial-chega-pr
ocesso-penal

BRASIL. Lei 12965/2014 - MARCO CIVIL DA INTERNET. Planalto, 2014. Disponível


em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm>;
BRASIL. Lei 13.709 – Lei Geral de Proteção de Dados. Planalto, 2018. Disponível
em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm>;

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