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CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS

UNIDAS

CURSO DE DIREITO

GABRIEL CREMONEZI FABRE

APS CRIMES EM ESPÉCIE

SÃO PAULO

2022
“No caso desta disciplina será prevista como tal atividade a leitura do
livro Dos Delitos e das Penas, de Cesare Beccaria, e a entrega de um artigo no
qual sejam comparados os delitos descritos pelo autor com aqueles já estudados
em classe na disciplina Crimes em Espécie, bem como as sugestões do autor
para prevenção de crimes e sua aplicabilidade em nosso ordenamento.”

O primeiro delito citado pelo autor, é o crime de tortura. Este tipo de


crime pode ser visto na história de nosso ordenamento, no período da ditadura
militar, em que diversas pessoas eram raptadas pelos militares, e torturadas para
a obtenção de informações que eles julgassem necessárias para a estabilidade
da ditadura. Em sua obra, Cesare descreve o crime de tortura como sendo uma
“barbárie consagrada”, e em nosso ordenamento, o bem jurídico tutelado é a
vida da pessoa, que é o bem jurídico mais importante a se guardar. Apesar do
crime de tortura ser previsto no Código Penal, podemos relacionar ele a mais
dois outros crimes, o de homicídio, e o de lesão corporal, por envolver o emprego
de violência ou grave ameaça.

O segundo tópico levantado por Cesare Beccaria, são os crimes


começados, este tipo de crime é previsto em nosso Código Penal, mas não de
forma explicita. Podemos dizer que os crimes começados se relacionam à
aqueles crimes que admitem tentativa, como por exemplo, um crime estudado
em sala que admite a tentativa, é o infanticídio ou o aborto. Esses dois crimes
admitem a tentativa, tento sua pena por tentativa mais branda do que se o crime
fosse consumado. Nas palavras de Cesare, os crimes começados são aqueles
em que “prova a vontade de cometê-lo, merece um castigo, porém mais brando
do que seria aplicado do que se o crime tivesse sido cometido. Esse castigo é
necessário porque é importante prevenir, mesmo as primeiras tentativas dos
crimes”. Essas palavras nos remetem diretamente aos crimes em que é admitido
a tentativa.

Um ponto importante levantado na obra, que não é necessariamente um


crime em nosso ordenamento, é a pena de morte, assim como exposto no livro,
que a pena de morte não se apoia a nenhum direito, nosso ordenamento jurídico
pensa da mesma forma. No Brasil, a pena de morte não é permitida, salvo em
situação de guerra declarada, mais especificamente, crimes militares, como
genocídio, crimes contra a humanidade e terrorismo durante a guerra. Cesare
diz em seu texto que “a morte de um cidadão só pode ser encarada como
necessária por dois motivos: nos momentos de confusão, em que a nação fica
na alternativa de recuperar ou perder sua liberdade; nas épocas de conflito...”,
algo muito parecido ao que é dito no texto de nossa Constituição.

Um delito muito significante que é exposto em sua obra, é o delito de


atendado a vida e a liberdade. Esses delitos podem ser relacionados à crimes
em nosso ordenamento como os crimes de homicídio, lesão corporal, instigação
ao suicídio, dentre outros, porém, em relação aos crimes estudados em sala,
esses crimes são os que podem ser relacionados ao atentado a vida e a
liberdade.

Um crime citado na obra que é diretamente ligado a um dos crimes


estudados em sala e presente em nosso ordenamento jurídico, é o crime de
injuria. Esse crime pode ser colocado em um rol de crimes chamados de crimes
contra a honra, delitos esses que também são citados no livro de Cesare
Beccaria. Esse rol de crimes contém o crime de calúnia, difamação e injúria.
Podemos diferenciar esses crimes como: caluniar é atribuir falsamente crime a
alguém; difamar é atribuir fato negativo que não seja crime; injuriar é atribuir a
alguém palavras ou qualidades negativas.

O delito citado no livro que pode ser considerado um dos mais comuns
desde que os delitos foram criados em todos os povos, é o crime de roubo. O
crime de roubo como já estudado em sala, é aquele em que há o emprego de
violência ou grave ameaça, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzindo
à impossibilidade de resistência, porém na obra, o crime de roubo é visto como
um crime de menor potencial ofensivo, como em nosso ordenamento, esse tipo
de crime é chamado de furto.

Em sua obra, Cesare nos trás alguns crimes que não foram visto por nós
em aula, como o crime de contrabando. Cesare diz em seu livro, que o delito de
contrabando é um roubo contra o príncipe, pois aquele que comete este crime,
está de certa forma prejudicando a economia de sua sociedade, ou seja,
prejudicando o “príncipe”. Em nosso ordenamento, o crime de contrabando está
presente no artigo 334-A do Código Penal, que trás em seu texto: “Iludir, no todo
ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída
ou pelo consumo de mercadoria.”, sendo assim, este tipo de crime visa evitar o
pagamento de impostos pela mercadoria que adentra em nosso país, trazendo
como consequência a diminuição na arrecadação de impostos e prejudicando a
sociedade como um todo.

Algo muito recorrente em nossa sociedade atual, e que Beccaria já cita


em seu livro, é o crime de perturbação o sossego. É possível vermos este tipo
de crime principalmente nos chamados “pancadões”, em que uma multidão se
junta para fazer festa em ruas de bairro, sem ter autorização para tal e com isso
perturbando o sossego dos moradores que ali vivem. Esse delito presente na
LCP (Lei de Contravenções Penais) em seu art. 42 cita algumas hipóteses do
que pode ser considerado perturbação do sossego, como por exemplo, gritaria
e algazarra. Em sua obra, o autor cita esse delito como sendo “os que perturbam
particularmente o repouso e a tranquilidade pública: as querelas e o tumulto de
pessoas que se batem na via pública, destinada ao comércio e à passagem dos
cidadãos, e os discursos fanáticos que excitam facilmente as paixões de uma
população curiosa e que emprestam grande força da multidão dos auditores e
sobretudo um certo entusiasmo obscuro e misterioso, com poder bem maior
sobre o espírito do povo do que a tranquila razão, cuja linguagem a multidão não
entende.”. Este trecho ilustra bem o que acontece mesmo nos dias atuais e com
frequência.

Presente na obra, o suicídio não é considerado um crime, pois assim


como o autor explica, “O suicídio é um delito que parece não poder ser submetido
a nenhuma pena propriamente dita; pois essa pena só poderia recair sobre um
corpo insensível e sem vida, ou sobre inocentes..., se a pena é aplicada à família
inocente, ela é odiosa e tirânica, porque já não há liberdade quando as penas
não são puramente pessoais.”, portanto, cometer suicídio não é considerado
propriamente um crime. Porém, assim como estudado em sala, existe uma
possibilidade em que o suicídio, não diretamente, é considerado um crime, não
à aquele que se suicida, mas sim à aquele que instiga, induz ou auxilia o suicídio.
Presente no artigo 122 do Código Penal, O crime de induzimento, instigação ou
auxílio a suicídio diz que “Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe
auxílio para que o faça.”. Portanto, suicidar-se não é crime, mas induzir, auxiliar
ou instigar sim.

No livro é citado alguns delitos que são classificados como “difíceis de


constatar”, esses crimes são o de adultério, pederastia e infanticídio. A começar
pelo crime de adultério. Em nosso ordenamento, o crime de adultério deixou de
ser crime em 2005, até então era considerado um crime quando a pessoa
praticava adultério. Porém, hoje ainda, existem vitimas de adultério que entram
com ações judiciais para receber indenizações por danos morais. O segundo
crime citado, o de pederastia, é citado apenas no Código Penal Militar, que
consiste em um militar praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso,
sendo esse ato de natureza homossexual ou não, em ambiente da corporação
militar, visando resguardar a ordem e disciplina de seus militares. Este crime está
presente no artigo 235 do CPM. E por fim, o crime de infanticídio, que além de
citado na obra, foi também estudado por nós em sala. Este crime consiste em
matar sob estado puerperal, o próprio filho, durante ou logo após o parto. Esse
crime só pode ser praticado pela mãe, pois o estado puerperal só ocorre em
mulheres que acabam de dar a luz ao filho. Este crime está presente em nosso
ordenamento no artigo 123 do Código Penal.

Por fim, o último delito exposto por Cesare Beccaria, é o de “bruxaria”,


esse crime era “comum” na Europa medieval, período em que a igreja católica
era superior a tudo e a todos, por conta disso, qualquer pessoa que praticasse
outra religião que não a católica era considerado criminoso, tendo que passar
por um julgamento tendencioso, em que todas as pessoas que eles queriam que
fossem consideradas culpadas de seus crimes, eram condenadas. Após serem
condenadas, essas pessoas eram condenadas a morte por imolação, mais
conhecida como morte na fogueira, em que a pessoa era queimada viva. Este
tipo de crime e de condenação foi abolida a muito tempo. Não há registros de
uma condenação por esse tipo de “crime” a muito tempo. Atualmente, a liberdade
religiosa é garantida pela Constituição Federal de 1988, liberdade essa que na
época dos delitos puníveis com a queima na fogueira não existia, e era um dos
principais motivos para tal punição.

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