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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE
F A C U LD A D E DE DIR EITO – CURS O DE DIREIT O
Direito Penal
argumentos contra a pena de morte começam, pois, segundo o autor, a pena capital
causa apenas um temor momentâneo a aqueles que testemunham o suplício, de forma
que se sentem como se estivessem assistindo a um filme de drama, o que cria nos
espectadores uma sensação temporária de afastamento do “espírito do crime”.
Fora que a pena de morte se encontra em conflito com a própria lei que a
autoriza: além da crueldade da medida, poderiam as leis, que punem o homicídio,
autorizar aquilo que elas próprias buscam afastar? Se Konrad Hesse está certo quando
diz, em A Força Normativa da Constituição, que a Constituição, não obstante tenha
força normativa própria, não deve se afastar da realidade objetiva para cumprir sua
pretensão de eficácia, então, o mesmo raciocínio deve ser aplicado para as leis, haja
vista que elas buscam sua legitimidade na Constituição. Logo, infere-se que a lei que
autoriza a pena de morte enfraquece a força normativa do próprio ordenamento jurídico
ao qual ela pertence.
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figura dos direitos individuais, dentre eles a liberdade, direitos sociais, direitos civis,
direitos culturais, direitos ambientais e outros.
Assim, uma vez aplicada, a prisão perpétua acaba com a maioria desses direitos,
colocando o indivíduo no estado de vitupério, uma situação que está entre a vida plena e
a morte eterna, que muitas vezes pode ser considera um benefício ao indivíduo
praticante de homicídio que tinha pretensões de se suicidar, por exemplo. Outrossim, a
prisão perpétua forma uma gradação para o afastamento do espírito do crime, porque
causa o temor corriqueiro e diário de punição sem necessitar que novos crimes ocorram,
visto que os condenados estão sempre em prisões para servirem de exemplo, o que gera
na sociedade a certeza da ausência de impunidade, que é o que vai garantir que novos
crimes não aconteçam na visão de Beccaria.
Mas, para além da mera aplicação de penas, seja a capital, seja a prisão perpétua,
faz se necessário entender os mecanismos que propiciariam a efetivação delas, a saber,
o processo e as provas. O autor divide as provas em perfeitas, que são aquelas que
demonstram clara e independentemente umas das outras ser o acusado culpado, e
imperfeitas, aquelas que, isoladas, não são capazes de provar que o acusado é culpado,
levantando-se dúvidas acerca de sua culpabilidade. Basta uma única prova perfeita para
condenar o acusado; mas, se o juiz quiser condenar com base em provas imperfeitas,
precisará de um número significativo delas.
Já sobre o processo, o autor defende que, para os crimes mais graves, como o
homicídio, a prescrição deve ser mais rápida do que para os crimes menos graves, como
o roubo, pois entendia que quanto mais grave a acusação de um crime, menos é
provável que ele tenha ocorrido. Porém, Beccaria deixa claro que tal regra deve ser
aplicada observando a legislação vigente em cada país, bem como a cultura e as
circunstâncias de cada sociedade.
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Um caso atual que pode ilustrar essa problemática da prescrição e das provas foi
o processo “O povo contra O.J. Simpson”, que ocorreu na Califórnia, em 1994. No
caso, o ex-jogador de futebol O.J. Simpson foi acusado de matar a ex-namorada Nicole
Simpson e o seu amigo Ronald Goldman, amante de Nicole. No desenrolar do litígio, a
acusação apresentou diversas provas imperfeitas que ligavam O.J. ao homicídio do
casal, e, mesmo assim, ele foi absolvido na esfera penal pelo júri. No entanto, em 1997,
ele foi condenado em um processo civil pelas mortes, tendo apenas que pagar uma
indenização à família de Ron Goldman.
A lição que esses princípios gerais aplicados ao caso O.J. ensina é que, se já é
difícil condenar um acusado de homicídio com um prazo prescricional longo e uma
considerável quantidade de provas imperfeitas, porém contundentes, se o prazo
prescricional corresse mais rápido para esses tipos de delito, seria impossível até mesmo
a produção das provas imperfeitas que levaram à sua condenação no processo civil.
Portanto, fica evidente que, de fato, Beccaria acertou quando disse que esse
princípio da prescrição mais curta para crimes mais horrendos deve ser cuidadosamente
analisado. Ademais, chama a atenção que, neste caso, ficou evidenciado que o direito
civil reparou algo que o direito penal não conseguiu reparar, provando que nem sempre
o direito penal repara aquilo que as outras instituições falharam.
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Por fim, resta saber se, apesar da aplicação da pena, é permissível que ela seja
mitigada por algum decreto de graça, do soberano, ou de clemência, do legislador.
Entretanto, na visão de Beccaria, nem um, nem outro devem ser admitidos, porque, os
decretos de graça são sobretudo decretos de impunidade, dado que o soberano, ao
assiná-los, passa por cima do Código Penal e alimenta a esperança dos criminosos
ficarem impune, indo em direção contrária à certeza da impunidade e à criação de leis
justas, que, na visão do autor, materializam-se no imperativo categórico kantiano, como
sendo “leis as quais todos proporiam e desejariam observar quando o interesse
particular se cala ou se identifica com o interesse público”.
Bibliografia
BECCARIA, C. Dos delitos e das penas. Tradução de Torrieri Guimarães. São Paulo:
Martin Claret, 2006.