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INSTITUTO MULTIDICIPLINAR
ALUNO: DENNYS BRAGA LUCENA
MATÉRIA: NÚCLEO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENÇÃO I
ENSAIO - NEPE
1 Introdução
O presente ensaio irá se debruçar nas formas de leis e punições criadas durante a
história a trazer a reflexão como estas leis foram criadas e o porque de continuarem a
serem usadas mesmo não impedindo algumas pessoas de cometerem crimes até mesmo
que parecem ser sem sentido. Será usado argumentos filosóficos, históricos e religiosos
na busca de se aproveitar da maior quantidade de ferramentas disponíveis.
2 Desde o princípio
Desde as mitologias mais antigas, até mesmo a cristã, é possível observar que a
violência sempre esteve presente na sociedade, no livro de Gênesis conta-se sobre o que
seria então o primeiro homicídio praticado pelo homem. Movido por inveja, Caim atenta
contra a vida do seu irmão Abel em um momento de ira. Nesse caso, não havia uma pena
pré-estabelecida para o ato de homicídio, mas ainda dentro de Gênesis temos o caso de
Adão e Eva que foram contra a ordem do próprio Deus comendo do fruto proibido,
mesmo sabendo que a sentença para isto seria as suas mortes. Se até em momentos como
estes, onde se pararmos pra analisar não haveria um motivo lógico e racional pelo qual
Caim matou o seu irmão ou então pelo qual comerem de um fruto proibido, seria possível
então dizer que o crime a violência está no interior dos seres humanos de forma que é
impossível impedir que sejamos maus e desobedientes?
Para Thomas Hobbes, filósofo britânico, a natureza do homem seria má desde o
seu nascimento, e este, estaria inclinado a ser cruel durante toda a sua vida enquanto
agisse pela sua vontade (vontade essa também já apontada por Arthur Schopenhauer pelo
qual o ser humano seria movido), de forma com que seria inútil esperar que alguém
confiasse no caráter de algum outro. Se a violência sempre existiu e seguindo essa lógica
sempre vai existir, é justo que em todas as sociedades tenha criado uma maneira de inibir
tais atos da natureza humana.
Data-se de 1770 a.C. o primeiro código de leis conhecido pela sociedade, o Código
Hamurabi foi um conjunto de delitos e sanções criado (ou organizado) pelo rei Hamurabi
com o intuito de penalizar os crimes cometidos pelos cidadãos. Desde essa época é
possível ver que o método punitivo era o principal artifício utilizado por formas de
governo na busca de amenizar atos de violência urbana ou delitos contra os membros do
então governo. Ainda hoje na maioria dos países é utilizado métodos bastante parecidos
com um conjunto de delitos e penas a serem aplicadas quando tais delitos forem
praticados, de forma que ainda haja interpretação dessas leis e a decisão do juiz
responsável pelo julgamento de optar pelo encarceramento ou pagamento de multa pelo
então sujeito que cometeu algum delito.
Voltando ao contexto bíblico, por volta de 1250 a.C. o profeta Moisés recebeu do
próprio Deus uma tábua de pedra com um conjunto de 10 leis (ou mandamentos) que
visavam proibir atos praticados pelo povo escolhido, diferentemente do Código Hamurabi
os 10 mandamentos não visavam penalizar de maneira física ou financeira os atos
considerados errados, mas sim inibir tais atos com consequências nos pós vidas com o
julgamento divido, do qual ninguém poderia escapar.
Como antes dito, alguns filósofos e analisas sociais históricos vão dizer que a
natureza do ser humano é verdadeiramente má, porém deixando isso de lado por
enquanto, é possível encontrar motivos socioculturais que fazem que alguém cometa um
crime. Desigualdade social, escassez de possibilidade de gerar e obter renda, evasão
escolar diminuindo o grau de instrução e muitos outros problemas sociais podem sim ser
motivadores de crimes, mas eles com certeza não são fatores decisivos, do contrário,
todos que passam por essas condições cometeriam crimes.
Existe ainda um estudo teórico que sugere que as pessoas podem se tornar mais
agressivas em ambientes quentes do que em lugares mais frios, segundo o estudo, isso
pode estar relacionado ao fato de que o calor pode aumentar o desconforto e o estresse, o
que pode levar a comportamentos impulsivos e agressivos. Além disso, o aumento da
temperatura corporal pode afetar os neurotransmissores cerebrais, tais como a serotonina
responsável pelo controle dos impulsos e disponibilidade em se relacionar com os outros,
tornando assim as pessoas mais suscetíveis a comportamentos violentos.
De certo, muito são os fatores que podem levar alguém a cometer um crime, seja
ele de um dano material ou físico, porém a impunidade penal aparece como um dos
principais motivadores de crimes atualmente. Se você pudesse cometer o crime perfeito
e ter a plena convicção e garantia de que ele não seria descoberto por ninguém e que você
jamais seria punido de qualquer forma por esse ato, você cometeria esse crime? No Brasil,
o sistema penal e judiciário ainda carecem muito de boas estruturas para fazer com que a
constituição seja seguida da forma mais correta e justa possível, policiais, juízes e
participantes do governo que são corruptos ou incompetentes e o pouco investimento de
dinheiro e tempo em investigações criminais fomentam a impunidade de crimes
praticados por aqueles que detém de algum poder, seja ele monetário, político ou
coercitivo.
5 Contrato social
Tendo em vista isso, Rousseau acreditava que a única forma de fazer com que as
pessoas não cometessem atos de violências umas contra as outras para satisfazer suas
próprias vontades, era criando um tipo de poder moderador comum sobre todas elas, os
indivíduos deveriam concordar em uma espécie de contrato para que o bem comum fosse
alcançado, do contrário viveríamos em um eterno estado de guerra uns contra os outros.
Entrando nessa visão de “estado de guerra”, Thomas Hobbes vai o descrever como
parte do estado de natureza do ser humano, onde viver sem uma forma de controle ou
governo faria com que os seres humanos vivessem em uma luta constante uns contra os
outros, pois como também para ele a natureza do homem sendo má e egocêntrica, todos
esperariam o pior do outro e viveriam em um espírito de defesa, e para alguns, o ataque
é a melhor defesa.
6 As leis não evitam os crimes
Não é preciso pensar muito para se perceber que a existências das leis por si só
não inibem os indivíduos de praticarem delitos, sejam eles quais forem. Como antes dito,
a certeza da impunidade muita das vezes pode ser o fator principal para o cometimento
de atos criminosos ou violentos.
Desde que a constituição foi criada praticamente nenhum crime dos mais graves
houve redução a médio ou longo prazo, do contrário, a cada dia a criminalidade no Brasil
aumenta mais, em 1980 tínhamos uma média de 11 homicídios a cada 100 mil habitantes,
já em 2012 esse número subiu para 29 homicídios a cada 100 mil habitantes.
Na visão de Claus Roxin, grande jurista alemão, criar métodos punitivos mais
severos não inibem o cometimento de mais crimes, para ele a única função do legislador
é criar leis justas e infalíveis, criando um equilíbrio entre a sociedade e o governo.
Michel Foucault em boa parte dos seus estudos vai analisar as formas de poder
entre os indivíduos entre si e com o governo, para ele a maneira mais eficaz de inibir atos
considerados errados é justamente o que vai dar título a uma das suas obras mais famosas,
“vigiar e punir”. Para Foucault não necessariamente o poder de coerção deve partir do
governo com a criação de leis, o autor vai argumentar que na sociedade, mais se obedecem
costumes e tradições do que leis. As micro relações de poder que cada um tem entre os
seus próximos geram um padrão de conduta aceitável na sociedade enquanto as pessoas
estão sobre vigilância entre seus semelhantes. Foucault vai dizer que as sociedades saíram
de um sistema de punição física para um sistema de micro punições que vão moldando o
cidadão através das relações sociais sem a necessidade de atacar o corpo físico, antes se
fazia morrer e deixava viver, agora se faz viver e se deixa morrer.
Voltando na questão religiosa, é possível observar que dentro das religiões existe
um padrão de conduta a ser seguido e atos inegociáveis que não podem ser cometidos,
como por exemplo o ato de adultério, que na constituição não é crime, mas dentro da
concepção cristã judaica é pecado, que tem como punição o castigo eterno no inferno. De
certa forma, as instituições religiosas promovem um padrão de conduta moralmente
aceitável que promovem uma redução nos crimes e violência, a busca pelo “caráter de
Cristo” ou as boas condutas e generosidade para renascer em uma vida melhor tornariam
os indivíduos mais controlados e menos aptos a cometerem crimes mesmo que a
constituição não existisse, pois estes estariam debaixo de outro sistema de leis punitivas
de formas mais substanciais e abstratas.
8 Reincidência
Estudos feitos com o sistema prisional da Noruega, país que em 2012 foi
considerado pela ONU como o melhor lugar para se viver, mostrou que um sistema
carcerário que promove a reinserção do indivíduo na sociedade causa um efeito muito
mais positivo do que um sistema punitivo. O país em 2013 possuía uma taxa de
reabilitação de até 80% dos presos, onde, mesmo que sejam presos na pena máxima (21
anos) e acabem de cumprir ela, o detento passa por uma avaliação para ver se está hábil
a voltar para a sociedade, caso contrário, essa pena pode ser prolongada por mais 5 anos,
até que esse detento esteja pronto para voltar para as ruas.
9 Conclusão
Sejam quais forem as motivações dos crimes, durante toda a história os homens
criaram formas de conviverem entre si diminuindo a violência para talvez fugirem do seu
estado de natureza ou do estado de guerra de todos contra todos, muitas vezes falhando e
em outras acertando, a única certeza é de que a violência não pode ser aceita e deve ser
combatida ao máximo por todos.
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