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10.1INTRODUÇÃO
O estudo dos Direitos Humanos interessa a todas as áreas da ciência, porque não
se faz ciência sem afetar direitos. São intrínsecas, no desenvolvimento científico, a
transferência de poder entre os indivíduos e a criação de aspirações que, não raro,
atingem-se pela alteração de relações de poder. O Direito, visto enquanto ciência, não
constitui exceção.
Além desse fato, que em si já justifica a inclusão do tema, Direitos Humanos
constitui uma área do conhecimento em que as questões de natureza psicológica
possuem papel determinante na compreensão, estruturação e interpretação dos
fenômenos a ela correlatos, conforme se verá adiante.
O leitor observará que se optou pelos termos indivíduo ou pessoa, utilizados
indistintamente, abandonando-se a noção de “homem”, que remete ao estereótipo
“homem, branco, heterossexual, de classe média, morador de um centro urbano e
adulto”.
Foi precisamente esta noção que dominou a efetivação de direitos e que,
posteriormente, foi sendo especificada a partir das convenções e tratados que
buscaram equilibrar as relações sociais, como aquelas que tratam especificamente
dos direitos das mulheres – Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006), dos direitos das
crianças e adolescentes – Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/1990),
dos direitos dos idosos – Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003), entre outros.
Dois fenômenos encontram-se, em geral, presentes quando se trata de infringir os
direitos humanos: o preconceito e a discriminação. Ainda que, muitas vezes, esses
termos sejam tratados como sinônimos, eles se diferenciam pela forma como as ações
a eles correspondentes se evidenciam.
Os preconceitos étnicos e religiosos são exemplos de como a não aceitação da
diferença, da diversidade, conduz ao conflito. A marca preconceito, pois, é a
intolerância. Seus frutos, amplamente conhecidos, geram as sementes de guerras, de
atrocidades contra a humanidade, muitas vezes ocultas sob as mais estapafúrdias
explicativas. Onde há o preconceito, torna-se difícil, quando não impossível, a
convivência com o diferente. Combater o preconceito requer o rompimento com a
visão histórica distorcida e com a busca de eterna restauração de pretensos direitos.
Paz e preconceito são incompatíveis.
A discriminação evidencia-se no campo da ação concreta, em que necessidades
e especificidades de determinados sujeitos são ignoradas ou desrespeitadas. Ela
pertence, pois, ao campo da desigualdade e opõe-se, obviamente, à igualdade de
direitos. Ao se discriminar alguém, condena-se essa pessoa a um lugar de
inferioridade e se lhe veda o acesso a facilidades e direitos que deveriam ser comuns
a todos. Um exemplo é a privação do acesso a benefícios, como resultado de
desigualdade econômica, consolidando um círculo vicioso de exclusão social.
Este capítulo inicia-se com uma breve visão do embasamento legal que cerca o
tema, com o objetivo de estabelecer o pano de fundo sobre o qual se estabelece o
desenvolvimento teórico. Destaque-se a relação com importantes áreas do saber,
entre as quais a sociologia, a cidadania e a ética, pois não há como se abordar
Direitos Humanos sem se pensar no indivíduo inserido em um contexto social.
Em seguida, desenvolve-se uma visão dos comportamentos relacionados com os
Direitos Humanos sob a ótica de algumas linhas teóricas da psicologia. Outras
poderiam ser empregadas e a escolha das aqui apresentadas deve-se à preocupação
com a didática, não se tratando de preferências pessoais.
Estas visões teóricas são, em seguida, consolidadas por meio da teoria
sistêmica, entendida como conveniente porque Direitos Humanos e Cidadania são
conceitos que se consumam no ambiente de relacionamento interpessoal, inerentes,
pois, aos sistemas humanos.
10.2ASPECTOS LEGAIS
Do ponto de vista legal, há diversos caminhos para a efetivação dos Direitos
Humanos. Na legislação pátria, cujo principal instrumento é a Constituição Federal
(1988), encontram-se as normas que regem e disciplinam as relações humanas e
sociais a fim de garantir a aplicabilidade dos direitos humanos. Entretanto, nota-se
que tais relações se dão não somente no âmbito nacional, podendo envolver cidadãos
brasileiros e estrangeiros em conflitos que muitas vezes necessitam de normas
consubstanciadas em tratados e convenções internacionais a que se obrigam os países
signatários. Tais instrumentos podem ser localizados com certa facilidade em sites
dedicados aos direitos humanos; em especial, indica-se o do Ministério da Justiça.
Ao mencionar Direitos Humanos, afirma-se sua dimensão subjetiva. A
subjetividade, aquilo que identifica o ser humano, é sua realidade psíquica.
A subjetividade manifesta-se no pensamento e nas emoções, produtos da
constante interação com o ambiente, por meio do relacionamento interpessoal e de
tudo o que decorre do encontro entre os seres humanos.
Com o objetivo de assegurar a identidade, o exercício da cidadania e o respeito
à diversidade, fazem-se necessárias leis e normas que disciplinem essas relações.
Assim, há normas específicas, por exemplo, aquelas constantes do Código Penal ou
do Código Civil, mas há também normas gerais, que se encontram nas convenções de
direitos. Essas normas relativas a Direitos Humanos possuem as seguintes
características:
➢ o respeito às leis;
➢ o impedimento para que o Rei as altere;
➢ a garantia do não abuso na cobrança de tributos;
➢ a garantia aos súditos para apresentar petições ao Rei;
➢ a ilegalidade de prisões sem motivo definido.
➢ o direito à igualdade;
➢ a liberdade de associação política;
➢ o direito de soberania da nação;
➢ direitos às liberdades individuais sem ferir os princípios legais;
➢ que as prisões só poderiam ser efetuadas dentro da lei;
➢ o fim das arbitrariedades nas penas privativas de liberdade;
➢ o fim dos castigos físicos;
➢ o respeito ao credo;
➢ o direito à livre comunicação e à propriedade.
Vida
Integridade Pessoal
Proibição da Escravidão
Garantias Judiciais
Acesso ao Judiciário
Liberdade Pessoal
Direito de Resposta
Liberdade de Reunião
Direito de Petição
Liberdade de Associação
Direitos Políticos
Direito à Honra e Dignidade Pessoal
Liberdade de Locomoção
Inviolabilidade do Domicílio
Direito à Saúde
Direito à Moradia
Direito à Educação
Ambiente Saudável
Contextualizando
O jovem que tem todos os pedidos satisfeitos pelos pais encontra-se
em um labirinto sem referências; isso o torna vulnerável a coisas como as
drogas e a violência, que poderão, algum dia, envolvê-lo em uma
inequação emocional perversa, na qual será engolido pelo próprio desejo.
Desrespeita seu próprio direito à vida, em um suicídio insinuante e
perverso do qual não se dá conta. Com isso, também afronta o direito à
vida de outros que, tantas vezes involuntariamente, colocam-se em seu
caminho.
O reconhecimento de que o poder econômico, religioso e ou político
outorga ao indivíduo o dom de obter o que deseja é uma porta para a
prática de delitos como o assédio moral e o assédio sexual, em que o
desejo domina e reduz seu objeto a coisa material, sem vontade própria,
com desrespeito à integridade física e psicológica.
Contextualizando
O indivíduo que não percebe que agride a si mesmo e a sociedade
quando realiza uma pichação adota esse procedimento sem qualquer
senso de responsabilidade. Quando o seu espaço físico é permeado por
esse e outros tipos de poluição, levá-la para outros locais, esteticamente
preservados, constitui antes uma demonstração de rebeldia do que uma
mensagem transformadora. Um sem-número de trabalhadores e
pequenos empresários viram seus patrimônios minguar impiedosamente
sob rabiscos sem nexo (ainda que algumas interpretações continuem
tentando resgatar conteúdos nessa antiestética); seus direitos à
propriedade e ao exercício de suas profissões foram desrespeitados e
essas pessoas viram-se manietadas pela impossibilidade de defenderem
esses bens e direitos. Um rápido passeio por inúmeras cidades demonstra
esse fato, escancarado nas fachadas de casas e prédios.
Contextualizando
O torcedor que, no final do jogo, despede-se do campo de futebol
vandalizando as imediações traz consigo uma percepção de violência
muito diferente daquela de um jovem que dedica todos os minutos que
possui disponíveis para estudar, com o objetivo de capacitar-se
profissionalmente. O primeiro pontua seu cotidiano de pequenas
violências, praticadas inclusive no relacionamento pessoal indispensável,
de tal maneira que aquela realizada nos acessos ao clube constitui um
lugar-comum para o qual já não tem percepção, quer do alcance, quer do
significado. Não respeita o direito à paz e à propriedade e impõe seu
direito de destruir, possivelmente estimulado pela baixa perspectiva de
que algo de mais grave, além de uma escaramuça (que ele quer) com a
polícia, lhe aconteça. Enquanto age, expulsa da rua o transeunte, prende
os moradores nas residências e comete um acinte à ordem estabelecida.
Contextualizando
A estrutura de crenças também se reflete no comportamento
criminoso daquele que não hesita em apropriar-se do que não lhe
pertence, justificando-se, às vezes, com o argumento de que “resgata
uma injustiça social”, ou então pelo direito inerente àquele que é mais
bem dotado intelectual ou fisicamente ou outros do gênero. A crença
libera e perdoa.
Contextualizando
É amplamente conhecido o condicionamento de entrar no automóvel
e ligar o som em alto volume. A tendência é aumentar cada vez mais o
nível de som, porque o ouvido perde a sensibilidade gradativamente e se
estabelece um esquema de realimentação: maior volume, menor
sensibilidade, maior volume etc. O indivíduo condicionado generaliza o
comportamento e invade o direito ao lazer de outras pessoas quando
polui praças e parques com um volume sonoro que ultrapassa os limites
do comportamento civilizado. Sem o perceber, porém, nem por isso sem
culpa, priva pessoas do sono, do repouso, da tranquilidade necessária
para favorecer a recuperação de uma doença etc.
Contextualizando
Causa grande impacto o conhecimento de que empresários forçam
pessoas a regimes de (semi) escravidão, negando-lhes os mais
elementares direitos, principalmente quando se sabe a distância social e
econômica que separa as vidas das vítimas, da vida dos que dela se
aproveitam. A manutenção desse estado de coisas torna esses indivíduos
modelos para outros igualmente inescrupulosos.
Contextualizando
Quando corrompe, sequestra, tortura, o antissocial ignora os mais
elementares Direitos Humanos. Não lhe ocorre a culpa; as vítimas, em
sua ótica torpe, merecem sofrer. Destrói a saúde física e psíquica de
pessoas, muitas vezes hasteando uma bandeira de moralidade ou de
denúncia para ocultar suas reais intenções. É de salientar que, nesse
comportamento, o antissocial, conforme comentado anteriormente, com
frequência lidera seguidores cegos por seu carisma e pela eloquência de
suas mensagens renovadoras – mera cosmética para ocultar as chagas
de um psiquismo perverso.
A figura sugere dois sistemas com uma interface comum, que envolve o
indivíduo consciente, o extrapsíquico e o intrapsíquico.
O sistema intrapsíquico contém elementos conscientes e inconscientes. O
extrapsíquico compreende todos os estímulos proporcionados pelo ambiente, de
origem humana ou não.
Desse complexo, que pode ser compreendido à luz da teoria de campo de forças
de Kurt Lewin, anteriormente apresentada, resulta o comportamento, objeto de estudo
psicologia. É importante salientar que os vetores que representam os estímulos sobre
o indivíduo apresentam duplo sentido: o indivíduo recebe o estímulo e reage a ele; o
estímulo afeta o indivíduo e o indivíduo também o afeta.
Esta concepção sistêmica estabelece, pois, um nível de responsabilidade para o
indivíduo; sua não reação significa algo (no mínimo, um reforço) para o estímulo e
sua fonte (o que significa que não existe a neutralidade, pois o não-fazer também
representa uma ação).
A visão sistêmica não é simples porque, além da complexa teia de
relacionamentos em que o indivíduo se envolve, existe uma temporalidade a ser
considerada. O sistema jamais permanece estático: ele se modifica, evolui ou involui,
transforma-se, adapta-se ao longo do tempo. O que se vê, em um dado instante, é
apenas uma fotografia hipotética, artificialmente estabilizada, porque as relações
interpessoais encontram-se em contínua mudança. Como em uma teia, as ligações vão
se formando e transformando entre a pessoa e os diversos grupos dos quais participa.
Feito este preâmbulo, com o objetivo de bem segmentar os enfoques, o item
seguinte concentra-se no estudo do comportamento individual, sob a ótica da teoria
sistêmica, em relação aos Direitos Humanos e à Cidadania.
Ao longo deste livro, o leitor pôde acompanhar diversos casos em que Direitos
Humanos fundamentais (ligados à saúde, à propriedade, à liberdade individual etc.)
foram infringidos por seus protagonistas.
Em todos eles, evidenciaram-se comunicações trocadas entre os participantes
desses casos e entre eles e a sociedade. Quando as autoridades, os advogados,
promotores e juízes praticam suas intervenções, eles comunicam.
Essa comunicação jamais cai no vazio. Ela estabelece parâmetros e paradigmas
que servirão, no futuro, para os mesmos protagonistas e para pessoas que
acompanharam os acontecimentos.
O que e como se comunica têm enorme importância para as garantias presentes e
futuras e um erro lamentável é minimizar a importância dos “casos pequenos” ou
localizados.
Com sua característica lucidez, o escritor Millôr Fernandes estabelece a
importância desse tipo de comunicação, quando ensina que “nossa liberdade começa
onde podemos impedir a dos outros”. A civilização é o processo de restrição de
liberdades para poder garantir um mínimo delas. A liberdade infinita para alguns
representa a nula para todos os demais.
A sociedade funciona por meio de um sistema de comunicações, complexo,
atuante, ágil e, com as virtudes e defeitos da Internet, amplo e quase que simultâneo. A
fofoca encarrega-se do resto. Por exemplo, quando autoridades, donos de poder
econômico, pessoas detentoras de privilégios decorrentes de histórico cultural,
líderes religiosos e outras celebridades conquistam “liberdades” ou promovem
“liberalidades”, surgem agressões aos Direitos Humanos que se multiplicam pela
força da comunicação e reduzem os direitos dos que não têm as mesmas regalias.
Esse fenômeno proporcionado pela comunicação encontra-se por trás da
mutilação da cidadania já comentada.
A visão sistêmica, contudo, vai além, para indicar que o conteúdo comunicado
contém uma espécie de vírus que afeta a maleabilidade e a permeabilidade das
fronteiras entre os sistemas e subsistemas.
Trata-se de um vírus de natureza social, por meio do qual o indivíduo reconhece
que os direitos que lhe são atribuídos ou negados têm consequências sobre as trocas
que pode e ou deve realizar com o meio; assim, ele “encolhe-se” ou “expande-se”,
vale dizer, luta mais ou menos por seus direitos legítimos, no afã de se adaptar aos
conteúdos que lhe são comunicados. Isso tem a ver com as diversas teorias a respeito
da motivação, anteriormente estudadas.
Uma consequência dessa contaminação seria a alienação, indo ao encontro do
que Karl Marx considerou uma perturbação no sentimento de identidade, um
processo em que o ser humano se afasta de sua real natureza, torna-se estranho a
si mesmo na medida em que já não controla sua atividade essencial.
As dimensões das fronteiras psíquicas (são sempre psíquicas) de um indivíduo
são dadas pelo grau de liberdade com que pode exercer seus direitos. Imagine-se as
dimensões dessas fronteiras para aquele cidadão que se desloca duas ou mais horas
por dia para o trabalho, cujos filhos estudam (se o fazem) em uma escola
precariamente instalada, com professores de escasso preparo etc. etc. e que coroa a
semana com pinga e churrasco de costela enquanto aguarda o gol na TV do bar…
A ampliação de fronteiras, para que cada indivíduo possa contribuir com
eficácia e produtividade em direção ao bem próprio e comum, requer a fruição dos
direitos que lhe cabem.
Os efeitos sobre a evolução dos sistemas serão marcantes, porque esta, em
essência, extrapola uma tendência; não se esperem pontos de inflexão na natureza dos
comportamentos, pois o ser humano não se transforma do dia para a noite sem que um
trauma (improvável) o obrigue (e, mesmo com ele, em geral, os comportamentos
dominantes sofrem poucas alterações).
Assim é que o indivíduo dará continuidade ao que vem praticando e as
modificações comportamentais seguirão seu curso. Nos momentos das crises dos
ciclos vitais, os comportamentos dominantes se manifestarão com grande intensidade
e isso será essencial para definir os padrões de eleição na idade adulta.
Cabe aqui uma retomada dos modelos de motivação, sejam aqueles que aceitam
componentes intrapsíquicos mais complexos, como os de Adler e Maslow, sejam os
que percebem o indivíduo como um ser do aqui-e-agora, como os de Allport e
Murray.
Esses modelos, que incluem as expectativas próximas e/ou futuras e acenam com
a autorrealização como o estágio mais desenvolvido para o qual o indivíduo
caminharia, não prescindem desses dois conteúdos:
➢ pequenos roubos, praticados em geral nos hotéis, nos clubes, nas empresas
(que incluem a “cópia xerox”, a xícara, a caneta esferográfica, o uso
indevido do veículo da companhia para “uma comprinha rápida no
supermercado” etc.);
➢ a burla da catraca no ônibus, que faz parte do condicionamento precoce das
crianças, preparando-se para suas pós-graduações em delitos na escola
da adolescência;
➢ o jeitinho para conseguir um ingresso “de cortesia” no espetáculo
promovido pela Prefeitura Municipal (afinal, o povo paga os músicos);
➢ a “furada de fila” no banco ou no ponto de ônibus, deixando os menos
espertos aguardando o próximo;
➢ o excesso de barulho em casa, que incomoda os vizinhos indefesos – eles
que se mudem;
➢ o cão latindo a noite toda para perturbar o sono, que deveria ser reparador,
dos moradores próximos;
➢ o mesmo cão deixando seu rastro de dejetos na calçada (uma forma curiosa
de estimular os transeuntes a olharem para o chão e, assim, evitarem os
buracos que os donos não mandam consertar);
➢ o desprezo aos que se reúnem no parque público para ouvir os tímidos e
belos sons da natureza, soterrados pelos decibéis sísmicos da
pseudomúsica em forma de ruído, que explodem na tarde cálida;
➢ o mesmo desprezo manifesto nos cães de guerra levados a passear,
espalhando medo e ansiedade nas pessoas que se aventuram a deixar seus
filhos indefesos desfrutar da liberdade de um gramado onde o perigo de
quatro patas surge a qualquer momento…
Filmografia
Exercícios