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CAPÍTULO 1

1.1.

Os direitos humanos são privilégios universais inerentes da pessoa humana,


e aqueles, quando se tornam partes da Constituição de um País, ganham a
qualidade de direitos fundamentais.
“Direitos Fundamentais, grosso modo, são os direitos reconhecidos pelo
direito constitucional interno de cada Estado. Nisso se distinguem dos direitos
humanos, positivados apenas na esfera internacional.”. (PEZZI, 2008, p. 27, grifos
da autora).
Entendemos que os direitos humanos não decorrem de Constituições, são
atemporais e existem em qualquer localidade. Quanto aos direitos fundamentais,
estes são originários das solicitações da sociedade. Logo, os direitos humanos
fundamentais protegem toda uma coletividade. (ALVARENGA, 2016, p. 17).
Os direitos humanos fundamentais favorecem a dignidade da pessoa
humana. Nesse sentido, consta na CRFB/1988:

Art. 1º A República Federativa do Brasil [...] tem como fundamentos [...]; II – a


cidadania; III – a dignidade da pessoa humana; [...].
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais [...]: I – construir uma sociedade livre,
justa e solidária; [...] III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
desigualdades sociais e regionais; IV – promover o bem de todos, sem preconceitos
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Art. 5º [...]. § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. (BRASIL, 1988).

Não é exagero a afirmação de que precisamos buscar, de modo incansável, a


concretização dos direitos humanos fundamentais. É notório que estes não
alcançam, ou são distribuídos de forma desigual, ante uma considerável parcela dos
povos.
Diferentes teorias fundamentam o entendimento acerca dos direitos humanos,
são elas: a jusnaturalista; a positivista; a moralista ou de Perelman; e a jusrealista.
No jusnaturalismo, os direitos humanos fundamentais do indivíduo nasceram
com a humanidade, superam a legislação, são inalienáveis e não podem ser
anulados. A teoria positivista reconhece como direitos humanos fundamentais
somente aqueles que foram normatizados pelo Estado. A base dos direitos humanos
fundamentais, para a teoria moralista, se encontra na experiência e na consciência
do povo, que aplicaria as previsões legais da maneira mais justa possível por meio
da opinião majoritária dos cidadãos. (RUIZ, 2015, p. 133).
Concernente a teoria jusrealista, esta tem como alicerce dos direitos humanos
fundamentais a preocupação de estabilizar os direitos humanos. As condições
sociais têm o poder de fixar e proteger o real sentido dos direitos e das liberdades.
(LEITE, 2012d, p. 40).
Consoante ao supra citado, os direitos humanos fundamentais se apoiam em
quatro teorias, e podemos inferir que este conjunto de conhecimentos se
complementam para definirem o ordenamento jurídico e a limitação do poder de um
Estado.
Para classificarmos a evolução histórica dos direitos humanos – estes que
são acumulativos, indivisíveis e interdependentes – faremos uso do critério de
dimensões.

[...] consideram-se três gerações de direitos humanos que podem ser sintetizados
como direitos humanos de primeira, de segunda e de terceira gerações/dimensões.
Além destes, é preciso mencionar, ainda, os direitos de quarta e de quinta
geração/dimensão, que são frutos de uma construção doutrinária [...] tal divisão não
deve ser interpretada como afronta ao princípio da indivisibilidade dos Direitos
Humanos [...]. (ALVARENGA, 2016, p. 31).

A primeira dimensão dos direitos humanos é constituída pelos direitos civis e


políticos, que defendem e asseveram os direitos individuais, como o direito à vida e
à liberdade. Na segunda dimensão estão os direitos sociais, econômicos e culturais,
que visam garantir as condições materiais de existência aos cidadãos além da
igualdade entre as diferentes categorias inseridas na sociedade, consistindo em
exemplos, o direito à educação e ao trabalho. Os direitos de terceira geração,
igualmente conhecidos por direitos de fraternidade ou de solidariedade, sendo
direitos metaindividuais, consagram a paz, o meio ambiente, o desenvolvimento e o
patrimônio histórico e cultural. Além dos grupos mencionados, temos: os direitos de
bioética na quarta dimensão e os direitos virtuais na quinta dimensão. Importante
ressaltarmos a inexistência de hierarquia entre as diversas dimensões de direitos.
(LEITE, 2012c, p. 50-53).
Discorrendo a classificação dos direitos humanos, os autores deixam claro
que os poderes absolutos do Estado são limitados pelos direitos de primeira
dimensão. Os direitos de segunda dimensão impõem ao Estado uma prestação
positiva através de políticas públicas. Em relação aos direitos de terceira dimensão,
os mesmos não se destinam a patrocinar um único indivíduo, portanto, são
designados ao gênero humano.

[...] pela Declaração Universal de 1948, os direitos civis e políticos [primeira


dimensão] devem ser, necessariamente, conjugados com os econômicos, sociais e
culturais [segunda dimensão], além dos direitos coletivos, difusos e individuais
homogêneos [terceira dimensão]. Isso porque os direitos humanos compõem uma
unidade indivisível, interdependente e interrelacionada, em que não é possível o
reconhecimento de parte dos direitos humanos em detrimento de outros igualmente
importantes. (ALVARENGA, 2016, p. 33).

Fica evidente que a violação de qualquer direito, numa dimensão, acarretará


uma grave ofensa em outras categorias de direitos em diferentes dimensões.
Os direitos da personalidade, ou seja, os direitos subjetivos do indivíduo, são
inatos às pessoas. Tendo cada direito da personalidade um valor fundamental,
examinaremos as importantes características dos direitos humanos fundamentais,
quais sejam: historicidade; inerência; universalidade; relatividade; indivisibilidade e
interdependência; inalienabilidade e intransmissibilidade; indisponibilidade e
irrenunciabilidade; e imprescritibilidade. (ALVARENGA, 2016, p. 43-44).
Do atributo historicidade, decorre: os direitos humanos foram e continuarão
sendo adquiridos através dos embates sociais. Por surgirem em diferentes períodos
históricos, os direitos humanos fundamentais são divididos em dimensões; inerência:
os direitos humanos são intrínsecos a cada pessoa humana; universalidade: sem
distinção, os direitos humanos pertencem a todos e quaisquer seres humanos;
relatividade: quando dois ou mais direitos humanos entram em conflito, os mesmos
estão sujeitos a uma limitação através dos critérios da adequação, da necessidade e
da proporcionalidade em sentido estrito; indivisibilidade e interdependência: os
direitos humanos não devem ser interpretados isoladamente pois há uma interação
de uns com os outros, e se complementam; inalienabilidade e intransmissibilidade:
os direitos humanos são inegociáveis e nenhum se transmite de uma pessoa para
outra; indisponibilidade e irrenunciabilidade: por estarem intimamente unidos a cada
pessoa humana, os direitos humanos são indisponíveis e não podem ser objeto de
renúncia; imprescritibilidade: os direitos humanos não se extirpam com o passar do
tempo, e nem extintas pelo desuso. (ALVARENGA, 2016, p. 43-61).
Em consonância com o explicado, os direitos humanos fundamentais gozam
de respeitáveis características, contudo, algumas poderão vir a ser relativizadas. Na
questão da universalidade, por exemplo, o emprego dos direitos humanos não é
pleno devido às circunstâncias culturais em determinadas populações.
(ALVARENGA, 2016, p. 47).
“[...]. Sem o exercício pleno dos direitos, o empregado não adquire dignidade;
e, sem dignidade, o trabalhador não adquire existência plena. [...]”. (ALVARENGA,
2015, p. 77).

1.2.

Para adentrar no tema principal deste trabalho, temos que ter em mente a
importância dos direitos humanos para a afirmação de garantias aos cidadãos, desta
forma, assegurando direitos e possibilitando uma maior autonomia perante o Estado.
O desenvolvimento dos direitos humanos não é um fenômeno atual e, para
isso, faremos um breve relato histórico para mostrar os marcos conquistados para
que sejam debatidos ao longo dessa pesquisa e relacioná-los com a temática
apresentada. É observado que a matéria abordada nos direitos humanos pode ser
pautada como o conjunto de direitos relacionados à dignidade da pessoa humana.
Segundo parte da doutrina atual, temos que os direitos humanos são divididos
em dimensões. Essas dimensões retratam momentos vivenciados pela sociedade
em determinada época, representando, assim, momentos em que houve diversas
transformações sociais, econômicas e políticas. Segundo Ramos, temos:

A teoria das gerações dos direitos humanos foi lançada pelo jurista francês de
origem checa, Karel Vasak, que, em Conferência proferida no Instituto Internacional
de Direitos Humanos de Estrasburgo (França), no ano de 1979, classificou os
direitos humanos em três gerações, cada uma com características próprias.
Posteriormente, determinados autores defenderam a ampliação da classificação de
Vasak para quatro ou até cinco gerações (RAMOS, 2017, p. 53)

Há uma grande discussão relativa ao uso da expressão dimensões ou


gerações dos direitos humanos. A teoria geracional é bastante criticada, temos, 4
segundo Ramos, alguns defeitos. O primeiro está atrelado à ideia de que as
gerações passam e são substituídas umas pelas outras.

Se os direitos humanos representam um conjunto mínimo de direitos necessário a


uma vida única, consequentemente, uma geração não sucede a outra, mas com ela
interage, estando em constante e dinâmica relação. O direito de propriedade, por
exemplo, deve ser interpretado em conjunto com os direitos sociais previstos no
ordenamento, o que revela a sua função social. Após a consagração do direito ao
meio ambiente equilibrado, o direito de propriedade deve também satisfazer as
exigências ambientais de uso. (RAMOS, 2014, p. 55)

Outro ponto que merece destaque é que a cronologia de gerações tende a


aferir que um rol de direitos é anterior a outro, ou seja, os direitos da segunda
geração foram assegurados depois dos direitos de primeira geração e assim
sucessivamente (RAMOS, 2014, p. 55).
Outrossim, temos que a teoria geracional apresenta os direitos humanos de
forma totalmente separada, fragmentada e, desta forma, ofende ao princípio da
indivisibilidade dos direitos humanos. Assim, a utilização do termo dimensões de 5
direitos tem ganhado força, visto que não apresenta os defeitos acima postos.
Contudo, a realidade é que cada patamar da evolução dos direitos humanos
está sendo agregado e ampliado, assegurando cada vez mais direitos à sociedade,
fazendo com que o rol dos direitos seja cada vez mais abarcando novas garantias.
Ramos, complementa:

Cada geração foi associada, na Conferência proferida por Vasak, a um dos


componentes do dístico da Revolução Francesa: “liberté, egalité et fraternité”
(liberdade, igualdade e fraternidade). Assim, a primeira geração seria composta por
direitos referentes à “liberdade”; a segunda geração retrataria os direitos que
apontam para a “igualdade”; finalmente, a terceira geração seria composta por
direitos atinentes à solidariedade social (“fraternidade”) (RAMOS, 2014, p. 53).

Em uma perspectiva cronológica, temos os direitos chamados de primeira


geração, os quais foram deflagrados com as revoluções liberais e com a transição
de um Estado absolutista para o Estado de Direito. Estão relacionados com os
conceitos da liberdade – direitos civis e políticos.
De acordo com os ensinamentos de Sidnei Guerra, temos que os direitos civis
são aqueles que podem ser aferidos por meio de garantias mínimas que assegurem
a integridade física e moral, assim como a relação jurídica entre os indivíduos e o
Estado. Desta forma, positivando uma esfera de autonomia individual que possibilita
o desenvolvimento da personalidade de cada um (2017, p. 63).
Quando adentramos nos direitos políticos, temos, segundo Guerra, que estão
embasados no direito de votar e de ser votado, juntamente com outros direitos e
prerrogativas que estão diretamente relacionados com aqueles, como o direito de
postular um emprego público, ser testemunha, prestar um serviço militar (GUERRA,
2017, p. 63).
Com o surgimento desses direitos temos a instituição fundamental dessa
dimensão que é a abstenção estatal. Essa característica aferiu-se como importante
por limitar a atuação direta do Estado em defesa dos direitos individuais. Essa
notória característica mostra-se importante por frear o poder concentrado nas mãos
dos reis, criando-se limitações legais à toda essa atuação estatal, surgindo inúmeros
mecanismos para não intervir nos direitos de liberdade e propriedade.
Temos, posteriormente, a segunda dimensão dos direitos humanos. Essa
dimensão apresenta direitos com características prestacionais, uma ligação direta da
evolução do Estado Liberal para o Estado de cunho Social, em que os Estados
passaram a se orientar por atuar positivamente em prol de assegurar os direitos
sociais, econômicos e culturais.
Pontuando sobre os direitos de segunda dimensão, Sidnei Guerra dispõe que
são aqueles necessários à plena participação na vida social, nos quais estão
incluídos os direitos à educação, direito à família, direito à proteção à maternidade,
ao lazer, sendo incluídos em nossa Constituição em seu artigo sexto (2017, p. 64).
Em sentido complementar, temos os direitos econômicos que buscam
assegurar um padrão mínimo de segurança material e de vivência, em que as
pessoas possam desenvolver as suas potencialidades (GUERRA, 2017, p.64).
Por fim, temos os direitos culturais que englobam os direitos de segunda
dimensão. Eles são fundamentados em prol de um respeito ao resgate e na
preservação da cultura das comunidades (GUERRA, 2017, p.64).
Quando adentramos na terceira dimensão dos direitos humanos estamos
relacionando-os aos direitos difusos e coletivos, englobando os direitos do
consumidor e, também, o direito ao meio ambiente. Pauta-se como um dos grandes
pilares dos direitos humanos, buscando garantir a centralidade e proteção da
dignidade da pessoa humana.
Segundo os ensinamentos de Rafael Barretto, temos que a principal
característica dos direitos não está relacionada com o papel do Estado, mas pelo
fato de serem direitos reconhecidos aos homens pela simples condição humana. Ou
seja, o direito pertence à humanidade, sem estar condicionada a fator de origem,
etnia ou qualquer outro que possa gerar discriminação (2018, p. 41.)
Poderíamos alongar essa classificação entre quarta e quinta dimensão. Mas o
foco principal da abordagem foi demonstrado. A construção dos direitos humanos é
feita ao longo do tempo e busca pautar-se nos acontecimentos históricos
acontecidos para preservar a dignidade da pessoa.
Temos ainda que falar da vital importância da Declaração Universal dos
Direitos Humanos, a DUDH , que trata de forma não taxativa sobre os direitos 6
humanos que devem ser respeitados e assegurados. Em seu preâmbulo e em seus
7 artigos que foram ratificados por inúmeros países após as atrocidades da segunda
guerra mundial, assegura às pessoas um respeito maior à sua essência e à sua
condição humana, respaldada nos direitos humanos.
Esses fatores supracitados são de vital importância para o aprofundamento
da ponderação dos direitos relacionados à pandemia da Covid-19. Por mais que
todos os direitos sejam assegurados às pessoas, temos que ter em mente que eles
não possuem um viés absoluto e, em determinados casos, devem ser colocados em
uma balança para que seja garantida e mantida uma melhor condição para aquele
que terá seus direitos sopesados.

1.3.
A Constituição Federal de 1988 em seu art. 1º estabeleceu os fundamentos
nos quais a República Federativa do Brasil deve estar pautada, dentre os quais se
encontra a dignidade da pessoa humana.

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos


Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político. [...] (BRASIL, 1988)

Em relação aos fundamentos da República, presentes no artigo 1º, incisos I a


V da CRFB/1988, explica Novelino (2019, p. 294):

Apesar de esses princípios fundamentais não possuírem qualquer tipo de hierarquia


normativa em relação às demais normas constitucionais, o elevado grau axiológico
de que são dotados e a posição de destaque atribuída pelo Poder Constituinte
Originário conferem peso elevado às razões por eles fornecidas, a ser considerado
diante de eventual colisão com outros princípios constitucionais.

Acerca do princípio da dignidade da pessoa humana, Ramos (2019, p. 79)


explica que “não trata de um aspecto particular da existência, mas sim de uma
qualidade inerente a todo ser humano, [...]. Logo, o conceito de dignidade humana é
polissêmico e aberto, em permanente processo de desenvolvimento e construção.”
Para Novelino (2019, p. 297), a dignidade é:

[...] uma qualidade intrínseca de todo ser humano, e não um direito conferido às
pessoas pelo ordenamento jurídico. A sua consagração como fundamento do Estado
brasileiro não significa, portanto, a atribuição de dignidade às pessoas, mas sim a
imposição aos poderes públicos dos deveres de respeito, proteção e promoção dos
meios necessários a uma vida digna.
De acordo com Branco (2012, p. 159), o princípio da dignidade da pessoa
humana:

[...] inspira os típicos direitos fundamentais, atendendo à exigência do respeito à


vida, à liberdade, à integridade física e íntima de cada ser humano, ao postulado da
igualdade em dignidade de todos os homens e à segurança. É o princípio da
dignidade humana que demanda fórmulas de limitação do poder, prevenindo o
arbítrio e a injustiça.

Segundo Moraes (2013, p. 62), o princípio da dignidade da pessoa humana


traduz-se em uma dupla compreensão, uma vez que assegura um direito individual
diante do próprio Estado e dos demais indivíduos e, ainda, determina o dever
fundamental de tratamento igualitário de todos.
No dizer de Sarlet (2004, p. 27), “[...] o respeito e a proteção da dignidade da
pessoa (de cada uma e de todas as pessoas) constituem-se (ou, ao menos, assim o
deveriam) em meta permanentemente da humanidade, do Estado e do Direito.”
Do mesmo modo, ensina Sarlet (2004, p. 43-44):

[...] independente das circunstâncias concretas, já que inerente a toda e qualquer


pessoa humana, visto que, em princípio, todos – mesmo o maior dos criminosos –
são iguais em dignidade, no sentido de serem reconhecidos como pessoas – ainda
que não se portem de forma igualmente digna nas suas relações com seus
semelhantes, inclusive consigo mesmos.

Há uma relação de dependência recíproca entre a dignidade da pessoa


humana e os direitos fundamentais, segundo Novelino (2019, p. 298), uma vez que:

[...] ao mesmo tempo em que estes surgiram como uma exigência da dignidade de
proporcionar o pleno desenvolvimento da pessoa humana, somente por meio da
existência desses direitos a dignidade poderá ser respeitada, protegida e promovida.

Dentre os diversos documentos em que o princípio da dignidade da pessoa


encontra-se disciplinado, destacam-se a Declaração Universal dos Direitos
Humanos e a Convenção Americana Sobre Direitos Humanos. (ONU, 1948; BRASIL,
1992)
Na Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada em 10 de
dezembro de 1948 pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas,
identifica-se já no preâmbulo que “o reconhecimento da dignidade inerente a todos
os membros da família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o
fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo.” (ONU, 1948)
Na Convenção Americana Sobre Direitos Humanos de 22 de novembro de
1969, chamada também de Pacto de San José da Costa Rica, observa-se no artigo
11 a determinação de que “toda pessoa tem direito ao respeito de sua honra e ao
reconhecimento de sua dignidade.” (BRASIL, 1992)
Vale destacar que a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a
Convenção Americana Sobre Direitos Humanos foram ratificadas pelo Brasil em 10
de dezembro de 1948 e em 25 de setembro de 1992, respectivamente. (ONU, 1948;
BRASIL, 1992)
De acordo com Sarlet (2018, p. 286), “o documento seguramente mais
influente segue sendo a Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU), de 10
de dezembro de 1948, que trata do tema não apenas em seu Preâmbulo, mas
também em artigos subsequentes.”
No que se refere à dignidade da pessoa humana perante a Declaração
Universal, Piovesan (2018a, p. 231) explica:

Vale dizer, para a Declaração Universal a condição de pessoa é o requisito único e


exclusivo para a titularidade de direitos. [...] A dignidade humana como fundamento
dos direitos humanos e valor intrínseco à condição humana é concepção que,
posteriormente, viria a ser incorporada por todos os tratados e declarações de
direitos humanos, que passaram a integrar o chamado Direito Internacional dos
Direitos Humanos.

Acerca da Convenção Americana Sobre Direitos Humanos, Guerra (2017, p.


163-164) ensina que, ao contrário da Declaração de 1948, “a Convenção de 1969 se
apresenta como documento internacional que constitui uma série de obrigações para
os Estados-partes, isto é, produz vários efeitos jurídicos para os Estados que
venham a ratificar o referido tratado internacional.”
Diante disso, verifica-se que a Constituição Federal adotou o princípio da
dignidade da pessoa humana como alicerce no que tange aos direitos e garantias
fundamentais, de modo que veda expressamente a aplicação e edição de normas
que visem ferir tal princípio.

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