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NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO

ARTIGO FINAL DE CONCLUSÃO DE CURSO

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM OBSTETRÍCIA

ASSISTÊNCIA À SAÚDE MATERNA DE


MULHERES PRIVADAS DE LIBERDADE

AUTOR: JANAINA NUNES SANTOS DE ARAÚJO GOMES


ORIENTADOR: JOKASTA LIMA MOURA

NOTA FINAL:

_________________________________________
Docente responsável pela correção

PERNAMBUCO, 2023
JANAINA NUNES SANTOS DE ARAÚJO GOMES

ASSISTÊNCIA À SAÚDE MATERNA DE


MULHERES PRIVADAS DE LIBERDADE

Artigo de conclusão do curso de pós-graduação


lato sensu em Obstetrícia, certificado pela
FACESF- Faculdade de Ciências Humanas e
Exatas do Sertão do São Francisco, e
coordenado pela Profa. Raphaela Presbytero
Reis Van-Lume.

FACESF
Pernambuco, 2023

2
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO............................................................................................................5
1.1. Justificativa.................................................................................................7
1.2. Objetivos....................................................................................................8
1.2.1. Objetivo Geral.................................................................................................8
1.2.2. Objetivos Específicos......................................................................................8
2. CONSIDERAÇÕES METODOLOGICAS...............................................................9
3. RESULTADOS ESTATISTICOS............................................................................10
4. DISCUSSÃO.............................................................................................................13
4.1. Direito à saúda da mulher encarcerada...................................................13
4.2. Assistência à saúde oferecida na estrutura prisional..............................15
4.3. Pré-natal das mulheres em privação de liberdade..................................16
4.4. Parto e puerpério das mulheres em privação de liberdade.....................18
4.5. Estigma, preconceitos e vulnerabilidades...............................................19
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................20
REFERÊNCIAS UTILIZADAS....................................................................................22

3
ASSISTÊNCIA À SAÚDE MATERNA DE MULHERES PRIVADAS DE
LIBERDADE

MATERNAL HEALTH CARE FOR WOMEN DEPRIVED OF LIBERTY

Janaina Nunes Santos de Araújo Gomes1


Jokasta Lima Moura2
RESUMO

Neste artigo, procuramos analisar a situação dos serviços de saúde materna oferecidos às mulheres e
seus filhos em presídios femininos no Brasil. O estudo utilizou uma abordagem qualitativa e utilizou um
levantamento de dados secundários nas bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Ciências da Saúde (Lilacs), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Biblioteca Virtual em Saúde
(BVS) e no Google Acadêmico, segundo para fins de pesquisa. Com base na análise da bibliografia,
constatou-se que no decorrer da prestação de serviços de saúde às mães privadas de liberdade durante
a gravidez, parto e puerpério ocorrem muitas violações de direitos. Afirma-se que é preciso criar
estratégias de saúde nas prisões, voltadas para a humanização e integralidade da atenção, a partir do
trabalho conjunto dos gestores da saúde e da segurança pública.

Palavras-chaves: Mulheres privadas de liberdade; Direitos à saúde; Direitos Reprodutivos; Assistência à


saúde materna; Serviços de saúde materna.

ABSTRACT

In this article, we seek to analyze the situation of maternal health services offered to women and their
children in women's prisons in Brazil. The study used a qualitative approach and used a survey of
secondary data in the databases: Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (Lilacs),
Scientific Electronic Library Online (SciELO), Virtual Health Library (BVS) and in Google Scholar, second
for research purposes. Based on the analysis of the bibliography, it was found that during the provision of
health services to mothers deprived of liberty during pregnancy, childbirth and the postpartum period,
many violations of rights occur. It is stated that it is necessary to create health strategies in prisons, aimed
at the humanization and comprehensiveness of care, based on the joint work of health and public safety
managers.

Keywords: Women deprived of liberty; Health rights; Reproductive Rights; Maternal health care; Maternal
health services.

1
Endereço para correspondência: [Endereço da aluna]. [e-mail da aluna]
2
Enfermeira, especialista em UTI e em didática pedagógica para educação em enfermagem pela UFPE,
orientadora CEFAPP.

1. INTRODUÇÃO

4
A população prisional feminina no Brasil cresceu rápida e
significativamente ao longo dos anos. Segundo os últimos dados do Sistema de
Informações Estatísticas do Departamento Penitenciário Nacional (SISDEPEN),
o total de mulheres presas no sistema prisional brasileiro entre janeiro e junho
de 2021 foi de 30.199 (4,48% da população carcerária total), o que
corresponde a um aumento de 6,61% em relação a 2010 1. No mesmo período,
os números mostram que esse grupo de mulheres era predominantemente de
negras (pardas e pretas), com idade entre 18 e 29 anos e com baixo nível de
escolaridade, não tendo concluído o ensino fundamental.
Portanto, afirma-se que “apesar deste processo de feminização dos
presídios ser evidente, os espaços e as políticas para as pessoas presas
desconsideram as particularidades e especificidades das mulheres,
inviabilizando suas diferentes experiências e direitos” 2. Portanto, deve-se
refletir sobre os direitos dessas mulheres negligenciadas, principalmente no
que diz respeito à saúde materna nessa população.
A vida no cárcere acompanhada da gestação é um momento bastante
peculiar, exigindo cuidados médicos amplos e tornando a mulher mais
vulnerável, pelo que se justifica uma maior atenção às suas necessidades e
particularidades. Consequentemente, o aumento da população prisional
feminina trouxe questões relacionadas à saúde da gestante, que começam a
ser incluídas nas políticas públicas nacionais, como a Lei de Execução Penal 3.
Este e outros regulamentos serão descritos com mais detalhes.
Para esse grupo (mulheres encarceradas), poucas leis foram previstas,
porém, desde as primeiras leis, os cuidados com a gravidez, lactação e
amamentação foram elencados como direitos a serem assegurados 2.
A Lei de Execução Penal (LEP) de 11 de julho de 1984 regulamenta em
seu artigo 14, parágrafo 3º, que as mulheres privadas de liberdade recebam
acompanhamento médico, prioritariamente, pré-natal e pós-parto, estendendo-
se aos recém-nascidos; e os artigos 83 e 89 garantem que as prisões devem
ter seções para gestantes e parturientes, berçário e creche onde possam
cuidar e amamentar seus filhos por um período mínimo de 6 meses e máximo
de 7 anos, com o objetivo de auxiliar crianças indefesas cujos responsáveis
estejam encarcerados4.
O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP)
também editou a Resolução nº 03, de 1º de junho de 2012, orientando as

5
parturientes e puérperas a não usarem algemas em situações de parto e pós-
prato5. A Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de
Liberdade e Egressas do Sistema Prisional – PNAMPE – tem por objetivo
capacitar a presença de acompanhantes de maternidade devidamente
cadastrados nas instituições prisionais durante todo o período de trabalho de
parto, parto e puerpério, conforme disposto no Artigo 19-J da Lei nº 8.080 de
19 de setembro de 1990, e a inclusão da gestante na rede Cegonha do SUS,
desde a confirmação da gravidez até os dois primeiros anos de vida do bebê 6.
Além disso, as normas da Organização das Nações Unidas (ONU), conhecidas
como Regras de Bangkok, tratam de instalações especiais para o tratamento
de presidiárias grávidas ou puérperas e seus filhos 7.
Todas essas medidas foram desenvolvidas para proteger os direitos das
mães e de seus filhos na prisão, especialmente o direito à saúde, e para
protegê-los da ação disciplinar e do isolamento durante e após a gravidez, com
foco em suas necessidades específicas.
Com relação aos últimos registros referentes à população total de
presídios femininos do Distrito Federal, o número de mulheres presas em 2021
é de 573, representando 3,68% da população total de presídios femininos do
Distrito Federal. A maioria dessas mulheres tinham entre 35 e 45 anos,
cor/raça/etnia parda, solteira e com ensino fundamental incompleto. Nessa
população, o número de presas lactantes é 2, enquanto o número de
gestantes/parteiras é 191.
No Distrito Federal (DF), há apenas uma instituição com
celas/dormitórios próprios para gestantes, creches e/ou centros de orientação
materno-infantil e nenhuma com creche. Esta única instituição não possui
equipe própria para cuidar do berçário e/ou creche, os serviços são prestados
externamente1. Segundo a Secretaria de Estado de Administração
Penitenciária (SEAPE):

A Penitenciária Feminina do Distrito Federal (PFDF) é um


Estabelecimento Prisional de segurança média destinado ao
recolhimento de sentenciadas a cumprimento de pena privativa
de liberdade em regime fechado e semiaberto com e sem
benefícios externos, bem como de presas provisórias que
aguardam julgamento pelo Poder Judiciário8.

Nesta penitenciária há uma ala de 24 vagas destinada a gestantes e


outra de 22 vagas para recém-nascidos de até 6 meses, que contam com as

6
estruturas necessárias para que as mães encarceradas cuidem de seus bebês.
Além disso, o próprio presídio conta com atendimento pré-natal pela equipe do
posto de saúde, com exceção das gestantes de alto risco, que são
encaminhadas para a rede hospitalar pública. Assim, as mães detidas recebem
todo o apoio necessário imediatamente após a descoberta da gravidez, até que
a criança complete 6 meses, assim como as mães que são presas já com filhos
menores de 6 meses8.
Todas as informações geraram discussões sobre como essas mulheres
encarceradas e seus filhos estavam sendo realmente assistidos durante a
gravidez e o puerpério, e como estava sendo feito o cuidado em saúde diante
de todas as vulnerabilidades dessa população. Assim, surge a seguinte
questão de pesquisa: Qual é a condição do atendimento pré-natal e pós-natal
para mulheres privadas de liberdade no Brasil?
Portanto, a hipótese inicial foi a seguinte: (1) as mães privadas de
liberdade não têm acesso a todos os serviços de pré-natal e puerpério
garantidos por lei; (2) as estruturas prisionais dificultam a promoção de
atendimento de qualidade pelos profissionais de saúde; (3) o desrespeito aos
direitos das mães está vinculado ao isolamento social dessa população.
Por fim, destaco que ao longo da revisão integrativa de literatura, foram
identificados os seguintes termos: mulheres encarceradas, mulheres privadas
de liberdade, detentas e presas. Analisamos que o termo "mulheres privadas
de liberdade" era mais adequado a esse grupo e seu contexto, e por meio
dessa escolha buscou-se o respeito mais amplo aos seus direitos, embora
também tenha sido utilizado o termo "mulheres encarceradas", enfatizando sua
importância social e política, ainda que temporária, de vida em uma instituição
fechada.

1.1. Justificativa

Nesse contexto, as mulheres encarceradas e seus filhos foram


identificados como demandantes de ações de saúde na base das instituições
prisionais, com referências de média e alta complexidade para atender às
necessidades específicas das mulheres. Os presos recebem atendimento
direcionado por meio de uma série de operações no Sistema Único de Saúde
(SUS)9.

7
Ressalta-se a importância de se promover um acompanhamento pré-
natal e pós-parto de qualidade nas unidades prisionais para detecção precoce
e intervenção em situações de risco, bem como a garantia de referência
hospitalar para o parto, pois melhora a saúde e evita a mortalidade
relacionadas ao parto10.
Diante disso, a falta de estruturas prisionais adequadas pode dificultar o
atendimento pré-natal e pós-parto de qualidade e aumentar ainda mais a
vulnerabilidade dessas mulheres e seus filhos. Além disso, os profissionais de
saúde devem estar qualificados para atender de acordo com as
particularidades dessa população.
Portanto, este estudo teve como objetivo testar a aplicação dos pilares
do Sistema Único de Saúde (SUS): universalidade, equidade e integralidade, e
o papel dos gestores na tomada de decisões relacionadas às condições de
saúde materna em unidades prisionais femininas no Brasil.
Infelizmente, ainda há pouca literatura científica discutindo a saúde
materna nessa população. Portanto, faz-se necessário que este estudo chame
a atenção da comunidade acadêmica de saúde coletiva para este tema e
agregue novas informações que auxiliem os gestores na tomada de decisões e
formulação de novas políticas públicas. Assim, contribuirão para a promoção
de uma assistência de qualidade a essas mulheres e seus filhos, fortalecendo
seus direitos.

1.2. Objetivos
1.2.1. Objetivo Geral

Analisar os serviços assistenciais em saúde materna oferecidos às


mulheres e seus filhos em situação de privação de liberdade.

1.2.2. Objetivos Específicos

 Analisar o que, e como, as instituições penais prestam serviços de saúde


às mulheres encarceradas e seus filhos durante o período pré-natal e pós-
parto.

8
 Analisar as estruturas físicas das instituições penais que podem ser
utilizadas para abrigar e cuidar de mulheres encarceradas e seus filhos
durante o período pré-natal e pós-parto.
 Analisar a qualidade da atenção pré-natal e pós-parto prestada por equipes
médicas em instituições penais às mulheres encarceradas e seus filhos.
 Contribuir para a melhoria dos serviços de saúde oferecidos às mulheres
na prisão.

2. CONSIDERAÇÕES METODOLOGICAS

Este estudo foi organizado por uma revisão integrativa da literatura


complementada pela coleta e análise de dados secundários. O estudo teve
abordagem qualitativa, em consonância com os objetivos da pesquisa.
Segundo Maria Cecília Minayo, a pesquisa qualitativa “trabalha com o universo
de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que
corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos
fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis” 11.
Portanto, essa abordagem fornece um nível de realidade que vai além
do que pode ser quantificado, tornando o estudo ainda mais proveitoso. Como
resultado, foi realizada uma revisão integrativa da literatura, método que
permite a síntese de vários estudos já publicados, possibilitando a produção de
novos conhecimentos de acordo com o que foi apreendido a partir dos
resultados12.
Portanto, ao selecionar os artigos científicos sobre "Direitos reprodutivos
e atenção à saúde materna de mulheres privadas de liberdade no Brasil" a fim
de sintetizar os resultados obtidos em pesquisas sobre o tema, de forma
sistemática, ordenada e abrangente13. Dessa forma, foi possível fornecer mais
informações sobre esse assunto, que é um recurso de conhecimento.
As buscas de artigos foram realizadas nas bases de dados Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), Scientific
Electronic Library Online (SciELO), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Google
Acadêmico, utilizando descritores e palavras-chave, adicionando o operador
"OR" da seguinte forma: "mulheres privadas de liberdade" OR "mulheres
encarceradas" OR "saúde materna" OR "saúde materno-infantil" OR "saúde
sexual e reprodutiva" OR "direitos à saúde" OR "direitos sexuais e

9
reprodutivos" OR "cuidados de saúde" OR "serviços de saúde materna" OR
"serviços de saúde reprodutiva".
Os critérios de inclusão foram: Estudos realizados no Brasil, escritos em
português, inglês ou espanhol, disponíveis na íntegra, publicados e/ou
disponibilizados entre 2012 e 2022, sobre o tema “Direitos reprodutivos e
cuidados de saúde materna para as liberdades privadas das mulheres no
Brasil”. Foram utilizados os seguintes critérios de exclusão: artigos duplicados,
indisponíveis na íntegra, fora do prazo e sem relação com o tema da pesquisa.
Após essa seleção, foi elaborada uma tabela contendo as características
dos estudos selecionados, que foram dispostos conforme: a) Ano de
publicação; b) Título do artigo; c) Objetivo do artigo; d) Metodologia utilizada; e)
Nome da revista em que foi publicado; f) Base de dados em que foi encontrado
pela pesquisadora.
Esta organização tem permitido sistematizar os principais temas que se
repetem e destacam neste conjunto de publicações, ampliando os dados que
mais se produzem nesta área de investigação e refletindo as lacunas de
informação que a Saúde Coletiva pode ajudar a complementar.

3. RESULTADOS ESTATISTICOS

Os critérios de seleção bibliográfica foram aplicados por meio da leitura


do título, resumo e palavras-chave de cada documento encontrado.
A pesquisa bibliográfica revelou muitos estudos relacionados ao tema
deste trabalho, com um total de 14 artigos científicos, conforme mostra a
Tabela 1.

Tabela 1: Caracterização dos Estudos Selecionados


Base de
Ano Título Objetivo Metodologia Revista
Dados
Percepção das
Descrever, do ponto de Pesquisa de
mulheres privadas
vista das mulheres revisão
de liberdade sobre a Revista
privadas de liberdade, integrativa da
assistência à saúde Eletrônica Google
2022 como ocorre a assistência literatura, com
recebida no pré- Acervo Acadêmico
à saúde durante a análise
natal, parto e Saúde
gestação, parto e sistemática
puerpério: revisão
puerpério. dos dados
integrativa
2021 Assistência de Descrever a importância e Revisão Brazilian Google
Enfermagem na as dificuldades dos integrativa da Journal of Acadêmico
Gestação de profissionais de literatura Health
Mulheres Privadas enfermagem no cuidado às Review
de Liberdade gestantes em situação

10
carcerária.
Saúde sexual e
reprodutiva no Analisar os desafios da
Revista
cárcere: discussão saúde sexual e reprodutiva
Revisão Eletrônica Google
2021 sobre os desafios enfrentados por mulheres
Bibliográfica Acervo Acadêmico
das mulheres privadas de liberdade no
Saúde
privadas de Brasil.
liberdade
Analisar as publicações
Cuidado em saúde
nacionais e internacionais Revista
das mulheres Revisão
acerca da assistência ao Baiana de Google
2020 grávidas privadas de integrativa da
pré-natal oferecida às Enfermage Acadêmico
liberdade: revisão literatura
mulheres privadas de m
integrativa
liberdade.
Revelar narrativas de
Estudo
Mulheres em mulheres privadas de Reme
exploratório,
privação de liberdade acerca da Revista
qualitativo, Google
2020 liberdade: narrativas assistência obstétrica Mineira de
fundamentad Acadêmico
de des(assistência) ofertada durante a vivência Enfermage
o na história
obstétrica do ciclo gravídico- m
oral.
puerperal.
Avaliação de
estrutura prisional Avaliar a estrutura Brazilian
Pesquisa
para assistência de oferecida para a realização Journal of Google
2020 descritiva
enfermagem à do trabalho em saúde em Developmen Acadêmico
exploratória
saúde materno- uma penitenciária feminina. t
infantil
Compreender a percepção
Impactos na Estudo
de mulheres privadas de
assistência em transversal, Global
liberdade, frente a
gestantes assistidas descritivo, Academic Google
2020 assistência oferecida em
pelo sistema com Nursing Acadêmico
uma penitenciária do Sul
penitenciário em abordagem Journal
do Paraná durante a
tempos de covid-19 qualitativa.
pandemia da COVID-19.
Objetiva-se analisar na Revisão
Gestantes privadas
literatura nacional integrativa da
de liberdade: o
evidências sobre a literatura, Nursing Google
2019 desafio da
assistência pré-natal constituída de (São Paulo) Acadêmico
assistência ao pré-
oferecida a gestantes artigos
natal
privadas de liberdade. científicos
A assistência
Analisar a ausência da
gestacional no
assistência gestacional no
sistema carcerário Anuário
sistema prisional brasileiro
brasileiro: a pesquisa e
e a necessidade de revisão
necessidade de Estudo extensão Google
2019 de estabelecimentos
revisão desses bibliográfico UNOESC - Acadêmico
próprios para o
estabelecimentos São Miguel
atendimento no período
para o atendimento do oeste
gestacional, incluindo,
às mulheres
também o puerperal.
encarceradas
A saúde materno- Analisar as interferências Estudo
infantil em ambiente sob as condições da saúde descritivo, do Google
2019 GEPNEWS
prisional: revisão materno-infantil dentro do tipo revisão Acadêmico
integrativa ambiente prisional. integrativa
Revisão
Descrever os desfechos, integrativa de
Maternidade em Revista de
identificados na literatura, artigos Google
regime prisional: Enfermage
2018 da gestação, parto e científicos Acadêmico
desfechos maternos m UFPE on
puerpério em mulheres publicados e BVS
e neonatais line
privadas de liberdade. entre 2007 a
2017
Trajetórias de Analisar a trajetória de Fenomenologi Physis: Google
2016
mulheres privadas cuidado de mulheres de a sociológica Revista de Acadêmico

11
de liberdade: um Centro de Referência a
práticas de cuidado Gestantes Privadas de
e a teoria do
no reconhecimento Liberdade (CRGPL), no
reconhecimen
do direito à saúde que concerne às práticas Saúde
to proposta e SciELO
no Centro de dos trabalhadores no Coletiva
por Alex
Referência de reconhecimento do direito
Honneth
Gestantes de Minas à saúde e integralidade do
Gerais cuidado.
Direitos reprodutivos Identificar e discutir
das mulheres no violações e desafios à
Estudo
sistema efetivação dos direitos Ciência &
descritivo de Lilacs, BVS
2016 penitenciário: reprodutivos das mulheres Saúde
abordagem e SciELO
tensões e desafios em situação de privação de Coletiva
psicossocial
na transformação da liberdade, com ênfase na
realidade saúde sexual e reprodutiva.
Relatar a experiência de
Assistência de
acadêmicos de
enfermagem na Estudo
enfermagem quanto à Revista de Google
saúde sexual e descritivo do
2015 assistência prestada, na Enfermage Acadêmico
reprodutiva de tipo relato de
área da saúde reprodutiva m da UFPI e BVS
mulheres reclusas: experiência
e sexual, a mulheres
relato de experiência
reclusas.
Fonte: Elaborado pela autora

Vale ressaltar que a maioria dos estudos foi publicada em 2020, 4 no


total, e a maior parte deles foi encontrada na base de dados do Google
Acadêmico, 13 no total. É importante ressaltar que alguns títulos foram
identificados em múltiplas bases de dados, mas essas duplicatas foram
descartadas.
Os temas principais na leitura crítica desses textos são selecionados
para o trabalho final de curso e sistematizados nos seguintes tópicos:

1. Direito à saúda da mulher encarcerada


2. Assistência à saúde oferecida na estrutura prisional
3. Pré-natal das mulheres em privação de liberdade
4. Parto e puerpério das mulheres em privação de liberdade
5. Estigma, preconceitos e vulnerabilidades

A partir da sistematização destas temáticas afins que se organizou a a


discussão deste TCC.

4. DISCUSSÃO
4.1. Direito à saúda da mulher encarcerada

12
A incorporação da população feminina ao ambiente prisional enfrenta
dificuldades como infraestrutura insuficiente, falta de insumos básicos, falta de
estratégias de reintegração e insuficiência de políticas públicas voltadas para a
proteção da saúde das mulheres privadas de liberdade 10.
O Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário (PNSSP) enfatiza
a proteção do direito à saúde de toda a população brasileira, inclusive dos
presos. Outra norma importante incluída na revisão decenal da implementação
do PNSSP é a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Pessoa
Privada de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP), esta tem como objetivo
garantir o acesso das pessoas privadas de liberdade no sistema prisional ao
cuidado integral no Sistema Público de Saúde – SUS 14. Dessa forma, torna-se
um instrumento de integração da mulher privada de liberdade ao SUS e um
meio de aproximar ações, serviços e profissionais de saúde à unidade
prisional15.
As ações e serviços públicos de saúde que compõem o SUS seguem
alguns princípios básicos. As que se destacam são:

I - Universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos


os níveis de assistência; II - integralidade de assistência,
entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e
serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos,
exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade
do sistema; IV – igualdade da assistência à saúde, sem
preconceitos ou privilégios de qualquer espécie16.

No entanto, dadas as históricas desigualdades de poder entre homens e


mulheres, a saúde destas últimas sofre muito, principalmente em ambientes
prisionais. Diante disso, gênero e raça devem ser considerados como um dos
determinantes da saúde na formulação de políticas públicas em instituições
penais17.
Identificar e divulgar esses condicionantes e determinantes da saúde
auxiliará no desenvolvimento de políticas de saúde para essas mulheres e na
promoção da saúde materna por meio de ações de promoção, proteção e
restauração e implementação integrada de ações de enfermagem e medidas
preventivas ativas para essa população.
Segundo Egler2, “a discussão sobre gravidez, maternidade e
maternagem de mulheres presas está inserida em um eixo maior, sobre seus
direitos sexuais e reprodutivos”. Esses direitos devem, portanto, estar em pauta

13
quando se discute como e quando a maternidade deve ser exercida e que tipo
de assistência à saúde deve ser prestada.
Foi realizada uma pesquisa com profissionais, gestores e mulheres do
Centro de Referência para Gestantes Gratuitas (CRGPL) e do Hospital Sofia
Feldman (HSF) intitulada “Trajetórias de mulheres privadas de liberdade:
práticas de cuidado no reconhecimento do direito à saúde no Centro de
Referência de Gestantes de Minas Gerais” constatou que, mesmo em ambiente
prisional, o direito à saúde precisa ser reconhecido e desenvolvido por
funcionários e gestores, com atenção especial das equipes que trabalham com
mulheres encarceradas, desde a chegada ao hospital até o puerpério 18.
Segundo o Ministério da Saúde, o ciclo gravídico-puerperal desenvolve-
se de acordo com as fases do pré-natal, parto e puerpério, o que reduz a
morbimortalidade de gestantes e crianças. Durante o pré-natal, as gestantes
são consultadas por profissionais capacitados para detectar e intervir em
situações de perigo. O parto requer atenção especializada 19, 20, 21. O puerpério,
6–8 semanas pós-parto, dividido em períodos imediato, intermediário e tardio,
requer consulta binomial, manejo de complicações pós-operatórias,
amamentação, cuidados infantis e planejamento familiar 19, 20, 21.
Portanto, os autores relatam que há necessidade dos profissionais de
saúde e demais profissionais do sistema prisional repensarem a forma como as
operações de saúde são planejadas e implementadas nessas prisões, a fim de
oferecer a melhor assistência possível a essas gestantes, a fim de garantir
seus direitos22.
A atuação das equipes da atenção básica e das equipes de saúde
prisional garantiu que a assistência necessária fosse efetivamente prestada às
gestantes privadas de liberdade. Esses serviços exigem mais do que um
comportamento técnico qualificado, por isso é importante que os profissionais
ampliem suas habilidades e promovam a escuta ativa, sem preconceitos e
julgamentos, para criar vínculo desde a concepção até a entrega 23.
No SUS, as normas constitucionais são os princípios utilizados pela rede
Cegonha para melhorar a eficiência do pré-natal, onde estão inseridas as
mulheres encarceradas, com o objetivo de reduzir a mortalidade e ampliar a
assistência para garantir a qualidade da assistência materno-infantil. Diante
disso, o Ministério da Saúde buscou ampliar a assistência pré-natal, ao parto e
ao puerpério, propondo na rede Cegonha uma cartilha sobre a inclusão da

14
mulher privada de liberdade, afirmando que todas as gestantes e crianças
presas com suas mães devem ter acesso a atendimento médico 23.
Dados do Sistema de Informação do Departamento Penitenciário
Nacional (SISDEPEN) mostram que, no primeiro semestre de 2021, havia 189
gestantes e 86 lactantes1. Portanto, atenção deve ser dada a essa população
para aumentar sua visibilidade nas políticas públicas de saúde e minimizar
possíveis influências e vulnerabilidades no contexto das mães prisionais.

4.2. Assistência à saúde oferecida na estrutura prisional

Segundo o PNSSP, as equipes de saúde atuantes no sistema penal são


compostas por médicos, enfermeiros, dentistas, assistentes sociais, psicólogos,
auxiliares de enfermagem e auxiliares de dentista, cada um responsável por
até 500 presos24.
A falta de estruturas no ambiente prisional para acolher as puérperas e
seus recém-nascidos é um dos principais fatores que colocam em risco a
relação mãe-filho. Um ambiente mal planejado não favorece a amamentação e
não favorece o bom desenvolvimento da criança. Esse ambiente improvisado,
cercado de celas, desperta ansiedade e medo nas crianças e, com isso,
algumas mães desistem de estar com seus filhos. Portanto, é muito importante
reconstruir o ambiente prisional para criar relações familiares entre mães e
filhos25.
Ao analisar o encarceramento feminino, deve-se atentar para as
especificidades relacionadas às mulheres. A maioria das prisões é projetada
para homens, com banheiros inadequados para mulheres, distribuição
inconsistente de absorventes e roupas íntimas e regras que não são
específicas para mulheres. Essas questões acabam por exacerbar ainda mais
as desigualdades de gênero existentes 26, 27, 28, 29.
No que diz respeito às estruturas físicas oferecidas às mães
encarceradas, estudo de Amanda Bertinetti Tres no Presídio de Florianópolis e
seu alojamento “Materno-Fetal” observou que as condições em que as mães e
seus bebês estavam abrigados eram inapropriados, as mulheres privadas de
liberdade não recebiam alimentação diferenciada, água filtrada, além de banho
de sol constante, em comparação com outras detentas. Além disso, as normas
internas não são seguidas, por exemplo, algumas mulheres tiveram seu

15
alojamento negado por cometerem atos "inaceitáveis" para seus pares devido à
hierarquia dentro do crime. Com isso, algumas pessoas acabam confinadas em
espaços pequenos e não podem tomar sol o dia todo 26, 27, 28, 29.
No que diz respeito à estrutura assistencial, as prisões são deficitárias
nos serviços que prestam, pois não possuem equipes multiprofissionais
completas. A realidade é que apenas os profissionais de enfermagem são
responsáveis pelo acompanhamento diário de toda a população carcerária. A
falta de profissionais e o espaço físico insuficiente dificultam o cuidado efetivo
da equipe23.
Estabelecer parcerias com outras agências para abordar essas questões
centrais do direito da mulher à saúde, de modo que abordar, referenciar e
contrarreferenciar em seu contexto específico possa salvaguardar o direito à
saúde e o direito à atenção integral18.

4.3. Pré-natal das mulheres em privação de liberdade

Um estudo intitulado “Gestação durante a privação de liberdade: um


estudo misto”30 observou que as mulheres grávidas e puérperas privadas de
liberdade careciam de conhecimentos básicos sobre gravidez e puerpério
assim como exames, métodos preventivos, alimentação e pré-natal. Além
disso, afirmou que o atendimento prestado era superficial, com pouca ou
nenhuma rede de apoio profissional no ambiente prisional.
O mesmo é relatado no artigo intitulado “Percepção das mulheres
privadas de liberdade sobre a assistência à saúde recebida no pré-natal, parto
e puerpério: revisão integrativa”, em que as mulheres relataram que não foram
instruídas sobre parto, amamentação e cuidados com o recém-nascido, mas
foram auxiliadas por colegas com experiência com bebês 19, 20, 21.
Da mesma forma, o artigo intitulado “a saúde materno-infantil em
ambiente prisional: revisão integrativa” aponta que a esta falha na troca de
informações dentro da unidade prisional, influência como indicador da baixa
qualidade do pré-natal, por motivos de atrasos nas consultas e procedimentos
que não são feitos36.
Outro estudo intitulado “Situação socioeconômica e reprodutiva de
mulheres presidiárias”, realizado com 47 mulheres privadas de liberdade no
Piauí, refletiu sobre a frequência de abortos ocorridos nos estabelecimentos

16
penais como resultado de um pré-natal negligenciado e, por consequência da
falta de informação e suporte para as mulheres que se encontram gestantes
carecendo de suporte básico26, 27, 28, 29.
A captação precoce de gestantes para início e continuidade do pré-natal
é fundamental para a promoção da saúde materna e do recém-nascido, mas
verificou-se que mulheres encarceradas são captadas mais tarde, muitas vezes
após o primeiro trimestre. A falta de apoio familiar e as complicações
obstétricas, bem como a vulnerabilidade social são fatores que influenciam a
não adesão ao pré-natal. O desenvolvimento de educação em saúde, com foco
na importância do pré-natal e seus benefícios, facilita a adesão à vigilância pré-
natal25.
Em relação aos serviços de pré-natal foi possível identificar a equipe
médica responsável pelo atendimento e até marcar uma consulta, mas não
havia tempo suficiente, falta de profissionais e necessidades com
desconhecidos critérios26, 27, 28, 29.
Em alguns casos, as gestantes são transferidas para unidades prisionais
mais próximas de serviços médicos para atendimento pré-natal fora do
Presídio. No entanto, relataram que essa logística lhes causava grande
sofrimento, pois eram afastados de outros internos com os quais já tinham
contato, e o transporte e a chegada ao posto de saúde também eram penosos.
Por sofrerem constrangimento e humilhação por parte das equipes e usuários
dos serviços de saúde32.
Além disso, quando eles (mãe e/ou filho) precisam ser encaminhados
para centros de saúde fora do presídio, existem obstáculos como a falta de
escolta e funcionários para acompanhá-las. Na ausência dessas escoltas,
veículos e recursos para atender às solicitações das administrações prisionais,
as emergências e consultas sofrem muito, pois são de responsabilidade da
polícia, supostamente com falta de pessoal33.
Se for possível ir ao hospital, mesmo com todas as dificuldades acima, a
mulher tem “prioridade” na avaliação do pronto-atendimento, pois é
acompanhada escolta, geralmente um agente armado, mas isso acabará por
causar curiosidade entre as pessoas da unidade, e colocá-la em situação
constrangedora18.
A demora inicial e a baixa qualidade do atendimento no pré-natal podem
gerar insegurança, ressentimento e medo. São necessárias interfaces entre

17
prisões e sistemas de saúde para garantir assistência adequada e
programação para atendimento pré-natal de qualidade 19, 20, 21.

4.4. Parto e puerpério das mulheres em privação de liberdade

Destaca-se a forma como as mulheres privadas de liberdade dão à luz,


elas são amarradas ou algemadas sob justificativa de custódia, mas isso não
tem base legal, pois a Resolução CNPCP 3, de 1º de junho de 2012, proíbe o
uso de algemas e qualquer outro meio de contenção antes, durante e no pós-
parto imediato26, 27, 28, 29.
Devido às precárias condições estruturais das instituições penais
brasileiras, a Lei nº 13.257 de 2016 garante a mudança do regime quando as
mulheres estiverem grávidas ou mães de filhos menores de 12 anos 34.
O Supremo Tribunal Federal em 2018 reconheceu o direito de converter
a prisão preventiva em prisão domiciliar, classe de habeas corpus que
beneficia gestantes ou mães de filhos menores de 12 anos que estejam em
prisão preventiva, mas o benefício tem limitações. Acredita-se que mulheres
privadas de liberdade que cometam crimes envolvendo violência ou grave
ameaça a ou contra familiares não se beneficiem desse instrumento, exceto em
circunstâncias consideradas “muito excepcionais”. Vale lembrar que a lei nº
12.403 de 2011 já propõe a prisão domiciliar como alternativa à prisão
preventiva a partir do 7º (sétimo) mês de gestação ou, em situações de
gravidez de alto risco35.
O encaminhamento tardio para a maternidade é um fator que contribui
para o risco de parto em local inapropriado, como em cela ou a caminho do
hospital. No encaminhamento das gestantes para o parto, as ambulâncias são
o meio de transporte mais utilizado, seguidas das viaturas. As mulheres
destacaram o despreparo dos agentes penitenciários envolvidos no
transporte19, 20, 21.
Outra dificuldade identificada no acesso à prática assistencial é a falta
de humanização do parto. Os estudos apontam que há gestantes sem
permissão para um acompanhante durante o parto mas a Lei nº 8.080
determina a presença deste junto à parturiente durante todo o período de
trabalho de parto e pós-parto imediato. Além da forma como são tratados de
forma desigual pelos profissionais de saúde32.

18
Embora poucos estudos tenham abordado o puerpério, focando o
recém-nascido e sua relação com a mãe, alguns estudos constataram que o
número de consultas pós-parto relatadas é baixo, resultando em falta de
orientação sobre risco de infecção e cuidados com feridas. Sabe-se que este é
o momento ideal para orientar sobre o planejamento reprodutivo por meio de
ações preventivas e educativas19, 20, 21.
Vários estudos têm mostrado que o trabalho parto está associado à
violência física, psicológica e obstétrica, incluindo desrespeito às escolhas da
mulher, como procedimentos invasivos sem consentimento. Portanto, é de
extrema importância que essas mulheres tenham acesso a informações sobre
seus direitos com base em evidências científicas. Além disso, os profissionais
atuantes devem ser capacitados para acolher a gestante e construir relações
de confiança, reduzindo o impacto e melhorando a qualidade de vida 19, 20, 21.

4.5. Estigma, preconceitos e vulnerabilidades

O conceito de vulnerabilidade adentrou o campo da saúde pública e


assim coloca em análise a situação das mulheres nas instituições penais. É
importante que as equipes de saúde desenvolvam estratégias para reduzir o
impacto das vulnerabilidades nesses espaços. Também é importante notar
que:

Entre as vulnerabilidades a que precisa estar atento, com


relação às mulheres no sistema prisional, estão a dificuldade
de acesso a cuidados de higiene adequados, a uma atenção
ginecológica e obstétrica eficiente e humana, a prevenção e
diagnóstico precoce de câncer de colo uterino e mama, a
doenças sexualmente transmissíveis, bem como a doenças e
agravos mais comuns nessa população em geral10.

Essas situações marginalizam ainda mais as gestantes e puérperas em


situação de privação de liberdade, e esse grupo precisa ser olhado com mais
atenção.
A realidade do ambiente prisional no Brasil revela várias violações dos
direitos humanos das mulheres e suas famílias devido ao estado atual dos
serviços de saúde e ao que é percebido como rotina e discriminação não
corrigida pelos profissionais de saúde30.

19
No que diz respeito à atuação dos profissionais envolvidos no
atendimento à mulher, destaca-se a violência, principalmente nas formas verbal
e psicológica. Além de manipulações invasivas, foram relatados agressão física
e negligência, falta de humanidade e orientação durante o atendimento e o uso
de algemas durante o trabalho de parto e hospitalização 19, 20, 21.
Múltiplos estudos têm revelado os medos e dúvidas de algumas mães
encarceradas durante a gravidez e parto em instituições prisionais. Esses
sentimentos estavam relacionados à falta de informação sobre o local do parto
e ao medo de que o parto acontecesse de forma inesperada dentro do presídio.
Ressalta-se também que é importante informar essas preocupações por meio
de recursos audiovisuais, como o encaminhamento de listas hospitalares, o
que pode diminuir a ansiedade dessas gestantes 33.
O caráter muitas vezes punitivo do sistema prisional brasileiro, ao invés
da reintegração dos indivíduos à sociedade, tem resultado em mulheres
grávidas privadas de liberdade enfrentando violência e exposição quando
procuram ajuda em unidades médicas. Deve-se atentar para essa questão,
pois ela não está em consonância com as diretrizes da Política Nacional de
Humanização do Sistema Único de Saúde (HumanizaSUS), havendo, portanto,
a necessidade de incorporar práticas humanizadas no atendimento às
mulheres privadas de liberdade e assim durante sua ressocialização 25.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante das constatações feitas no estudo, pode-se constatar que são


inúmeras as violações de direitos durante a prestação de serviços de saúde às
mães privadas de liberdade durante a gravidez, o parto e o puerpério.
Destaca-se a inexistência de estruturas físicas e estruturas improvisadas
de instituições penais que ofereçam moradia para mães e seus filhos privados
de liberdade durante todo o período da maternidade. Além da falta de equipes
multiprofissionais na área, isso prejudica a assistência prestada às mulheres
privadas de liberdade, que deve privilegiar a integridade e a humanidade.
No que diz respeito ao pré-natal, destacou-se a demora no início desse
acompanhamento e a superficialidade dos serviços prestados, incluindo a falta
de troca de informações com as mulheres privadas de liberdade sobre os

20
cuidados durante a gravidez, parto e lactação. Com isso, acabam sem a rede
de apoio do próprio ambiente prisional.
Por outro lado, o parto e o puerpério caracterizam-se pela ansiedade da
mãe carente sobre o local do parto e a vida da criança após o período de
amamentação. Vale destacar também a falta de transporte e organização de
algumas instituições punitivas que transportam parturientes para unidades de
referência e acabam com seus bebês em situação inadequada. A violência
obstétrica durante o parto tem sido bastante interrompida por pesquisas devido
ao viés apresentado por profissionais de saúde que resgataram a importância
de um parceiro legalmente garantido nesses momentos para minimizar esses
incidentes e proporcionar mais conforto às gestantes.
Dessa maneira, a vulnerabilidade destas mulheres é notória e a
discriminação encontrada durante a oferta da assistência em serviços de saúde
por parte dos profissionais só aumentam esta situação, e a falta de
humanização no atendimento dificulta a oferta de serviços de saúde de
qualidade, como também, negligência vários direitos humanos.
Consequentemente, observa-se que há poucas pesquisas voltadas para
esse tema e que falta fiscalização no reconhecimento e punição dessas
violações de normas encontradas nos ambientes prisionais.
Por fim, afirmou-se que é preciso criar novas estratégias de saúde nas
prisões, voltadas para os objetivos do SUS, como identificar os determinantes
da saúde das mulheres privadas de liberdade, bem como prestar assistência a
essas populações por meio de atividades no campo da promoção, proteção e
restauração da saúde, enquanto implementação integrada de ações de cuidado
e prevenção.
Dessa forma, deve-se atentar para os princípios do SUS de
universalidade, integralidade, equidade e direito à informação, pois é
necessária a cooperação com os gestores de saúde e segurança pública.
Quando os gestores da saúde e da administração penitenciária trabalham
juntos, é possível encontrar soluções para esses problemas, como a
capacitação de profissionais e recursos para que as mulheres presas tenham
acesso justo e de qualidade ao pré-natal e pós-natal.

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