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BACHARELADO EM DIREITO

PROJETO DE PESQUISA

CAROLINE VIANA BARROS

MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL:


ATENÇÃO ÀS MULHERES PRESAS NO CEARÁ

CAUCAIA-CEARÁ

2023
CAROLINE VIANA BARROS

MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL:


ATENÇÃO ÀS MULHERES PRESAS NO CEARÁ

Projeto apresentado como requisito


parcial para aprovação na disciplina de
Pesquisa Jurídica Aplicada.

Profa. Dra. Adriana Josino.

CAUCAIA-CEARÁ
2023
1 TEMA
Um olhar sobre as mulheres em situação de prisão, considerando a necessidade
de atenção específica durante o cumprimento de pena e o processo de
ressocialização.

2 DELIMITAÇÃO DO TEMA
O enfoque do presente trabalho é buscar em quais situações se
encontram quais e motivos que levam às mulheres a cometerem delitos e realizar a
produção desses dados, analisar as características das mulheres presas e as
oportunidades que são ofertadas no interior das unidades prisionais femininas e às
egressas do Estado do Ceará, com destaque na Unidade Prisional Feminina Auri
Moura Costa- UPF, localizada na Região Metropolitana de Fortaleza, para que cada
vez mais custodiadas sejam ressocializadas.

3 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA
O sistema prisional brasileiro gera graves consequências pessoais e
sociais às mulheres custodiadas. No campo pessoal, vimos que elas são
abandonadas por seus cônjuges na maioria das vezes e até mesmo pela família. No
campo social, é necessário a busca de um sistema acolhedor em que haja um
crescente número de custodiadas cada vez mais interessadas em participar dos
projetos educacionais dentro das unidades prisionais.
Quais causas e motivos que levam às mulheres a cometerem delitos e como
preveni-los? Quais tipos de cursos e trabalhos seriam mais atrativos às mulheres no
sistema prisional cearense? De que forma nós como sociedade podemos contribuir
para a ressocialização?

4 OBJETIVOS

4.1 OBJETIVO GERAL


 Analisar as políticas públicas adotadas pelo estado do Ceará no processo de
aprendizado das crianças e adolescentes a fim de evitar o cometimento de
delitos.
 Verificar quais projetos e cursos podem ser ofertadas para haver um maior
interesse e cada vez mais atrair custodiadas a serem ressocializadas.

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Analisar as políticas públicas adotadas às famílias em situações de


vulnerabilidade a fim de evitar o cometimento de delitos.
 Ampliar as ideias da sociedade de que pode haver a ressocialização através das
políticas públicas oferecidas dentro do sistema prisional.
 Contribuir com a possibilidade de cursos oferecidos através de uma análise e
pesquisa realizada com as próprias custodiadas.

5 JUSTIFICATIVA DO PROJETO

O intuito da presente pesquisa se justifica na busca de uma mudança no


crescente número de mulheres criminosas e que o sistema brasileiro não possui
estrutura para manter essas mulheres em condições humanas, visto que as
mulheres possuem necessidades maiores que os homens.
Assim sendo, é importante atenção em como está sendo o tratamento
dessas custodiadas desde a sua chegada à Unidade Prisional e como será sua vida
dali em diante, se o básico está sendo suprimido, se é possível manter os laços
familiares e sobretudo, quais ações do governo estão sendo realizadas para que
essa mulher consiga de reinserir na sociedade e de que forma essas ações são e
podem ser realizadas da melhor forma.
Em síntese, em que tipo de convívio social e familiar essas mulheres
vivenciaram para entrar na vida criminosas e qual a forma mais eficiente para ser
retirada desse ambiente.

6 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Analisando o perfil de mulheres no sistema carcerário cearense, é


possível constatar um padrão: a maioria é negra ou parda, já foi vítima de violência
(física, emocional, sexual), baixa escolaridade, desestrutura familiar e o principal,
presa por tráfico de drogas. Germano, Monteiro e Liberato através do artigo
Criminologia Crítica, Feminismo e Interseccionalidade na Abordagem do Aumento
do Encarceramento Feminino descrevem o modus operandi dessa modalidade:

Conhecidas vulgarmente por "peãozeiras" ou por "pinhãozeiras", as


mulheres que levam drogas para as prisões nos informaram como se
prepara o "peão" ou o "pinhão": primeiramente, a droga é colocada em um
saco de arroz, por ser resistente; vedam-no com fita isolante; colocam-no
dentro de um preservativo; e, posteriormente, lubrificam-no e o introduzem,
ou na vagina, ou no ânus. Mencione-se que, embora algumas levam a
droga em bolsas ou em outros objetos, externos a seu corpo, a grande
maioria o faz dentro do próprio corpo, quer na cavidade vaginal, quer na
cavidade anal.

Não existe uma causa única que determine o cometimento deste delito,
não se tem motivação econômica, tão somente, que levem às mulheres ao
envolvimento com o tráfico de drogas.
A mulher, assim como todos os detentos possuem direitos básicos nos
estabelecimentos prisionais, tais como acesso a alimentação adequada, um espaço
limpo, a saúde, a educação e ao trabalho. Porém, é necessário lembrar que a
mulher possui necessidades distintas do gênero masculino, principalmente na
condição de gestantes e lactantes, mas estão detidas em um ambiente criado
estruturalmente para homens (CERNEKA, 2009).
Na unidade prisional feminina do Ceará, UPF, localizada no Aquiraz, é a
unidade com o segundo menor número de detentos do estado, porém ainda é a que
se encontram mais desafios diariamente na custódia de internas, justamente por
conta de suas peculiaridades.

Unidade Prisional Feminina Desembargadora Auri Moura Costa (UPF),


penitenciária para mulheres, o Instituto Penal Feminino Desembargadora
Auri Moura Costa foi inaugurado em 22 de agosto de 1974, na gestão do
então Governador do Estado Dr. César Cals de Oliveira Filho, sendo
Secretário do Interior e Justiça o Dr. Edval de Melo Távora. No dia 31 de
outubro de 2000, na gestão do então governador Tasso Ribeiro Jereissati,
sendo secretária da Justiça Sandra Dond Ferreira, foi inaugurado o novo e
atual Instituto Penal Feminino. (https://www.sap.ce.gov.br/ceap/unidades-
prisionais/)

De acordo com os dados extraídos do Sisdepen – Secretaria Nacional de


Políticas Penais, “as informações sobre os estabelecimentos penais brasileiros em
posse da Secretaria Nacional de Políticas Penais (SENAPPEN) são resultado dos
questionamentos presentes no Formulário de Informações Prisionais, respondido de
forma eletrônica via SISDEPEN, semestralmente, por servidores indicados pelas
Secretarias de administrações prisionais dos Estados e Distrito Federal e do Sistema
Penitenciário Federal”, no período de Janeiro a Junho de 2022, o quantitativo de
internas na UPF, era um total de 754, sendo 310 no regime provisório, 302 no
regime fechado e 142 no regime semiaberto.
Com a inserção da mulher no sistema carcerário, tem-se a exclusão e
abandono por parte da família, elas ficam sem ter contato algum e não recebem
visitas. Ficam necessitadas de cuidados básicos femininos, que são fornecidos pelo
estado, como atendimento médico, higiene íntima e vestimentas. O inverso do que
acontece com os homens no sistema, aos finais de semana são os dias de visitas
nos presídios cearenses, enquanto nos presídios masculinos as mães, esposas e
filhos não os abandonam, estão fielmente nos dias exatos os visitando e levando
tudo que é permitido e que precisa, geralmente a depender da unidade, tem-se um
quantitativo de no mínimo 100 visitas por dia, e no feminino não chega a 50, claro
que é preciso considerar que o número de custodiadas é menor, mas ainda assim o
número de detentas que são totalmente assistidas pelo estado é bem maior que dos
homens.
Para minimizar o abandono das famílias e a exclusão total da sociedade
quanto às mulheres encarceradas, a Secretaria de Administração Penitenciária
(SAP) investe em parcerias com a Secretaria da Proteção Social (SPS), onde:

atualmente, são 160 internas em sala de aula em cursos regulares de


alfabetização, ensino fundamental e médio com 7 professores envolvidos. A
unidade deu início ao terceiro turno da escola e ampliou o número de
internas com acesso às salas de aulas. As internas trabalham nos turnos
manhã e tarde e estudam no turno da noite. No trabalho, são 486 internas
participando de diversas atividades laborais. A oportunidade de emprego,
além de promover a ressocialização, também resgata a autoestima das
internas e dá esperança aos seus familiares por uma realidade melhor
enquanto cumprem pena dentro do sistema penal. Com a qualificação, as
apenadas recebem outro benefício: a remição de pena a cada três dias
trabalhados. São diversas atividades laborais como serviços de
manutenção, limpeza e alimentação ou nas empresas instaladas dentro da
unidade como a Ypioca (confecção de camisas de palha, usadas para
revestir a garrafa da cachaça). (www.sap.ce.gov.br/2022/03/11/maior-
presidio-feminino-do-ceara-acelera-projetos-de-ressocializacao-e-atinge-
marca-inedita-de-100-das-internas-em-acoes-de-ensino-capacitacao-e-
trabalho/)

Com as oportunidades de ressocialização dentro do sistema prisional


cearense, conseguiu atingir seu papel de acabar com a superlotação dos presídios,
por exemplo, são 793 internas para 1.132 vagas disponíveis. Um resultado de
dezenas de vagas ociosas na unidade.
7 METODOLOGIA

Analisando as estatísticas do perfil socioeconômico das detentas, nota-se


claramente que a maioria delas vêm de uma família desestruturada, sem custos e de
inúmeras pessoas para dividir o básico. Moram em favelas ou localidades que nem
água saneada possui, se veem na necessidade de buscar algum tipo de renda para
poder comer e sem ter nem a idade mínima para buscar um emprego. E muitas
dessas mulheres vêm carregam traumas de abusos desde a infância, são diversos
fatores que atraem essa mulher ao crime e não apenas por vontade própria.
Diante desse fator, será realizada uma pesquisa de campo visando juntar
dados qualitativos e quantitativos visando visualizar tratativas que o estado deve
tomar em atenção à mulher ainda na infância, com educação e estruturação
financeira com trabalho para que a família se ocupe e tenha controle de natalidade,
busque entender que toda criança precisa de cuidados e educação básica para se
ter um futuro com dignidade. Pois, como já mencionado, a mulher praticamente se
vê submissa dos pais de seus filhos ou padrastos que geralmente são violentos,
abusivos, apenas para ter o que comer. Ela tendo estudo, trabalho e oportunidades,
consegue tornar-se uma mulher independente e aprender a valorizar mais a
liberdade do que o ter coisas materiais sem pensar no futuro. E para aquelas que
infelizmente foram privadas de liberdade, atenção às suas necessidade como um
maior contato com a família através do setor de serviço social e também as visitas
nos finais de semana, para que essa detenta não se sinta ainda mais excluída e
abandonada do que acontece no mundo externo com seus filhos e parentes,
flexibilidade do estado com a inclusão de mais itens de necessidade básica para
aquelas que não possuem assistência da família, pois muitas delas são aliciadas
para serem “mulas” do tráfico nos aeroportos e não possuem nenhum familiar no
Ceará, ficam totalmente na custódia do estado. Atenção também aos cursos a
serem oferecidos dentro do cárcere, cursos esses voltados à preparação dessa
interna na sociedade novamente, com projetos que ampliem sua mente para
empreendedorismo, voltados à estética como design de sobrancelhas, depilação,
cabeleireira, pois ainda é um desafio desmistificar o pensamento da sociedade e
confiança de que a ressocialização é real e com esse aprendizado, conhecimento de
montar seu próprio negócio, uma ajuda de custo como forma de empréstimo do
estado para que ela consiga iniciar seu empreendimento, ela não ficaria à mercê de
uma oportunidade dos empresários. Dessa forma, conseguiríamos diminuir a
reincidência pois estariam construindo um futuro diferente do caminho percorrido.
Nesse contexto, medidas alternativas antes do cárcere mudaria a
realidade de que a mulher até o momento atual é tratada como uma prisioneira,
como quando ainda é uma criança, e tem o modo de se sentar repreendido. Quando
desde o princípio, são cobrados comportamentos esperados de mulheres, que tem
que se casar, cuidar da casa, filhos e do marido e esquecer da própria felicidade.
Para isso, tem que haver interesse do estado, dos políticos, pois é um
projeto há longo prazo, como melhorar a qualidade de ensino básico das escolas
das periferias, projetos de dança, esportes, lazer e cultura. Tirar essas crianças e
esses adolescentes das mãos dos traficantes e das ruas. A criança é como uma
folha em branco, somos nós como sociedade e experientes que devemos guiá-los
para prepararmos um futuro com a diminuição do crime nas ruas.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O propósito do presente artigo científico é elucidar que o sistema prisional


brasileiro não possui adequações às mulheres presas, que até mesmo sendo
privada de sua liberdade, ela não consegue ter o mesmo cuidado que o homem
preso. Que elas possuem sua voz silente pela falta de tratamento com igualdade.
Através do desenvolvimento é plausível que seja mudada a visão do
estado e sociedade perante o cuidado dessas mulheres antes do cárcere, como
vivem em seus lares e o que levam essa mulher a cometer um delito e ser privada
de sua liberdade, que já é tão castigada desde sua infância. Que sejam acolhidas no
decorrer de sua pena para que não se sinta excluída da família e sociedade para
quando sair não vir a ser reincidente.
Apesar de ter sido obtido um padrão de perfil socioeconômico das
detentas, é necessário deixar claro o quanto a mulher no sistema carcerário é oculta,
para a partir dessa noção, olharmos para essa conjuntura e modificá-la. Dando
oportunidades de emprego e de inserção na sociedade. Pois, não basta o estado
ressocializar, nós como sociedade precisamos dar oportunidade para essas
mulheres que na maioria das vezes, são levadas pelos companheiros ou pela
necessidade de sobrevivência ao crime e que seu encarceramento não se justifique
como única forma de deter comportamento criminoso.

REFERÊNCIAS

VARELLA, Drauzio. Prisioneiras. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

SAP:Secretaria de Administração Penitenciária. Estatísticas 2023.


www.sap.ce.gov.br/wp-content/uploads/sites/17/2023/05/Relat-Estatistica-
ABRIL-2023.pdf.

SISDEPEN.Sisdepen: Estatísticas Penitenciárias.


www.gov.br/depen/pt-br/servicos/sisdepen

SAP:Secretaria da Administração Penitenciária. NOTÍCIAS EM DESTAQUE


SISTEMA PRISIONAL.
www.sap.ce.gov.br/2022/03/11/maior-presidio-feminino-do-ceara-acelera-
projetos-de-ressocializacao-e-atinge-marca-inedita-de-100-das-internas-em-
acoes-de-ensino-capacitacao-e-trabalho/

QUEIROZ, Nana. Presos que menstruam/ Nana Queiroz. – 1. Ed. – Rio de


Janeiro: Record, 2015.

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