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CENTRO UNIVERSITÁRIO DOCTUM DE TEÓFILO OTONI

DIREITO

ADRIANA PEREIRA GONÇALVES


ANA GABRIELA FERREIRA AMARAL
CLARA VITÓRIA NASCIMENTO GUIMARÃES

IMERSÃO NA REALIDADE PRISIONAL FEMININA:


UM ESTUDO SOBRE OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELAS MULHERES DURANTE
A RECLUSÃO EM MINAS GERAIS.

TEÓFILO OTONI
2023
ADRIANA PEREIRA GONÇALVES
ANA GABRIELA FERREIRA AMARAL
CLARA VITÓRIA NASCIMENTO GUIMARÃES

IMERSÃO NA REALIDADE PRISIONAL FEMININA:


UM ESTUDO SOBRE OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELAS MULHERES DURANTE
A RECLUSÃO EM MINAS GERAIS.

Projeto de Pesquisa apresentado ao curso de


Direito do Centro Universitário Doctum de
Teófilo Otoni, como requisito para aprovação na
disciplina de TCC II, orientado pelo Prof. Marco
Antônio Poubel Ministério Filho.
Área de Concentração: Direito Penal,
Criminologia e Direito Constitucional.

TEÓFILO OTONI
2023
ADRIANA PEREIRA GONÇALVES
ANA GABRIELA FERREIRA AMARAL
CLARA VITÓRIA NASCIMENTO GUIMARÃES

IMERSÃO NA REALIDADE PRISIONAL FEMININA:


UM ESTUDO SOBRE OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELAS MULHERES DURANTE
A RECLUSÃO EM MINAS GERAIS.

Projeto de Pesquisa apresentado ao curso de


Direito do Centro Universitário Doctum de
Teófilo Otoni, como requisito para aprovação na
disciplina de TCC II, orientado pelo Prof. Marco
Antônio Poubel Ministério Filho.

Teófilo Otoni, de de 2023.

Banca Examinadora:
_________________________________
Orientador
_________________________________
Co-orientador (Opcional)
_________________________________
Membro da Banca
_________________________________
Membro da Banca
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, gostaríamos de agradecer imensamente à Deus. Sem Ele não teríamos
realizado o sonho de cursar Direito, não chegaríamos até aqui, porque através dEle tivemos
forças para ultrapassar todos os obstáculos e vencer todas as barreiras na busca desse grande
sonho. Em segundo lugar, mas não menos importante, agradecemos às nossas famílias, que
sempre nos deram todo suporte, incentivo, força, amor e carinho durante esses anos fazendo
com que a caminhada fosse mais leve e florida. Aos nossos pais, pilares principais, por
sempre incentivarem na busca pelo conhecimento e a todo momento presentes, terem sido
essenciais para que jamais perdêssemos a força e a coragem de seguir adiante.

Agradecemos ainda a todos os amigos que formamos ao longo desses anos de faculdade, que
sempre estiverem por perto com uma palavra amiga, um incentivo e até mesmo um caderno
para ajudar nos momentos de aflição. Aos professores comprometidos e cheios de novos
ensinamentos que passaram por nossas vidas, que plantaram em nós conhecimento e amor
pela profissão que escolhemos a seguir.
RESUMO

O presente artigo aborda a experiência das mulheres detidas em Minas Gerais. O objetivo
principal é analisar os desafios enfrentados por essas mulheres durante o período de reclusão.
A pesquisa baseou-se em abordagens qualitativas e envolveu entrevistas, observações e
análise de documentos. Os resultados destacam a complexidade da vivência das detentas,
revelando problemas relacionados à superlotação, falta de estrutura, acesso limitado a
cuidados de saúde e educação, bem como a presença de estigmas sociais associados à prisão.
Além disso, as detentas enfrentam obstáculos adicionais, como a separação de suas famílias e
a falta de oportunidades de reinserção social. Os resultados indicam a necessidade urgente de
melhorias nas condições do sistema prisional feminino em Minas Gerais, bem como a
implementação de programas de reintegração social e assistência psicossocial para apoiar as
detentas na transição para a vida pós-prisão. Esta pesquisa contribui para a compreensão das
questões enfrentadas pelas mulheres no sistema prisional e destaca a importância de abordar
essas questões de forma holística e humanitária. Em resumo, o estudo realça a necessidade de
reformas no sistema prisional para garantir o respeito aos direitos humanos e a dignidade das
mulheres encarceradas em Minas Gerais.

Palavras-Chaves: Direito Penal; Processo Penal; Cárcere Feminino; Lei de Execuções


Penais; Lei de Drogas; Direitos Humanos.
ABSTRACT

SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO

O sistema prisional feminino é um domínio complexo e multifacetado que reflete não só


os desafios da administração correcional, mas também questões sociais e de género
profundamente enraizadas. Este artigo direciona seu foco para o contexto específico do
sistema prisional feminino em Minas Gerais, explorando as complexidades, desafios. Nas
últimas décadas, tem havido uma consciência crescente das condições enfrentadas pelas
mulheres encarceradas, revelando lacunas no sistema que exigem uma visão crítica.

É fundamental realizar pesquisas sobre as experiências das mulheres na prisão, pois


permite compreender as dificuldades enfrentadas por esse grupo específico e buscar formas
de incentivar a inclusão e diminuir a reincidência. Neste sentido o tema escolhido abrange o
território Mineiro, tendo em vista que conforme as buscas realizadas é notório a
identificação de poucos estudos referentes à este Estado mencionada e de dados
desatualizados sobre os estabelecimentos penais femininos.

Minas Gerais, enfrenta dilemas particulares relacionados à superlotação, ao acesso


limitado a programas de reabilitação e às peculiaridades associadas ao encarceramento
feminino. Este artigo procura não só esclarecer estas questões, mas também analisar as
condições de vida no sistema prisional feminino, incluindo aspectos como infraestrutura,
saúde, alimentação, educação e acesso a serviços básicos, identificar e compreender o perfil
das mulheres que adentram nos presídios e penitenciárias no e Estado de Minas Gerais e
demonstrar a incumbência do Estado dentro do encarceramento feminino frente à lei no
7.210 de 11 de julho de 1984. Vale ressaltar que todos esses aspectos citados podem
contribuir para um sistema prisional mais justo e eficaz para as mulheres.

Em que pese a melhoria e o aprimoramento nos estabelecimentos penais que adentram


homens e mulheres, a escolha do tema ainda tem como foco a efetivação dos direitos
estabelecidos em lei. De acordo com o estudo realizado por organizações não
governamentais, estas de modo estatístico retratam a realidade e condições precárias às quais
as mulheres encarceradas são submetidas todos os dias, e a maioria dessas circunstâncias
ocorrem de maneira específica devido a sua condição de gênero.

A análise apresentada visa contribuir para um diálogo informado e construtivo sobre a


reforma do sistema prisional feminino em Minas Gerais, buscando não apenas compreender,
mas também transformar esta realidade.
Portanto, este artigo justifica-se como uma oportunidade de ampliar o conhecimento
sobre a realidade das mulheres encarceradas, identificando desafios específicos enfrentados
por essas mulheres, dada a falta de informações detalhadas e a necessidade de melhorar as
condições de vida das detentas. Os resultados deste estudo podem oferecer informações
perspicazes que serão úteis no desenvolvimento de políticas públicas e iniciativas que irão
melhorar a vida das mulheres encarceradas.

Quanto aos procedimentos metodológicos, este projeto classifica-se como: uma pesquisa
aplicada que possui como objetivo gerar novos conhecimentos e aplicar esse conhecimento
para solucionar problemas relacionados à condição de vida das detentas encarceradas em
Minas Gerais. Foi empregado como um instrumento para fundamentar o estudo de caso, o
método de pesquisa empírica onde foram coletados os dados para aprofundar nas questões
assistenciais das detentas.

Com relação à abordagem do problema é quali-quantitativas, de forma em que esta será é


dividida em dois segmentos, sendo estes: em primeiro momento será realizado uma análise
de dados quantitativos relacionados ao sistema penal feminino no estado de Minas Gerais e
que posteriormente realizado uma verificação quanto os dados do sistema feminino e que
trará um filtro quanto às informações desnecessárias para a pesquisa e o artigo.

Sobre o objetivo da pesquisa, o mesmo será de maneira exploratória tendo em vista que
o objeto de estudo do projeto é apresentar o registro de dados que caracterizam as
dificuldades dentro dos estabelecimentos penais femininos e identificar qual a
responsabilidade do Estado.

Quanto aos procedimentos técnicos de pesquisa, foi realizada a pesquisa bibliográfica na


qual será desenvolvida através materiais já publicados e devidamente disponíveis,
constituídos principalmente por livros, artigos científicos, dissertações e teses. Utilizando
informações e dados que foram trabalhados em outros materiais devidamente registrados.
Para possuir um projeto bem desenvolvido sobre o assunto, ainda foi utilizado o
procedimento de pesquisa documental, onde auxilia para que o estudo possa utilizar
informações históricas, sobre o desenvolvimento ao longo dos anos, o funcionamento, as
regulamentações e todos os documentos que levarão a uma informação relevante para o
entendimento do assunto escolhido.
2. O ENCARCERAMENTO FEMININO

A imersão na realidade prisional feminino é um tema de suma importância e de grande


impacto para o sistema carcerário, devido a precariedade e os desafios enfrentados pelas
mulheres durante o período de reclusão. No contexto do estado de Minas Gerais, os desafios
enfrentados não são diferentes tendo em vista que o encarceramento possui de diversas falhas
quando as questões são relacionadas ao gênero feminino.

A realidade prisional brasileira, não tem sido prioridade à anos para a sociedade e para o
Estado, no sistema prisional feminino isto têm tido ainda mais força devido a cultura do
machismo ainda enraizada na população brasileira. A dificuldade de visualizar o gênero
feminino ocupando uma cela dentro de um estabelecimento prisional é dura, sendo realizada de
muitos casos que acabam enfatizando o esquecimento deste grupo, contexto este que vem
ocorrendo desde o surgimento do sistema prisional.

A atualização de dados carcerários do país de acordo com o Sistema de Informação do


Departamento Penitenciário Nacional (SISDEPEN) divulgado em 06/2023, demonstra que o
Brasil tem 839,672 de presos em prisões espalhadas pelos estados brasileiros, destes 45.743 são
mulheres. O grande crescimento desta população prisional nas últimas décadas é preocupante,
pois a expansão destes números dá visibilidade a um problema crítico que precisa de atenção
estatal. Ainda que, a legislação brasileira tenha expressamente estabelecido direitos assegurados
com garantias, a maneira como vivem as pessoas encarceradas chegam a ser desumanas.

Há ciência que muitas das dificuldades são apresentadas pelos ambos gêneros, entretanto, o
presente artigo ainda é uma crítica no tratamento e condições desumanas nas quais as detentas
são submetidas durante a reclusão, e como são desrespeitados todos os direitos específicos a este
gênero estabelecidos pelo nosso ordenamento jurídico até mesmo pelas cortes internacionais,
estabelecendo um padrão mínimo de assistência e dignidade para este grupo.

Sabemos que alguns dos desafios enfrentados pelo gênero feminino soma-se ao fato de que a
locação não atende às peculiaridades básicas femininas, de forma em que submetem as detentas
a revistas íntimas vexatórias e acarretam no posicionamento de celas escuras, úmidas e
desproporcionais, observa-se ainda o descaso familiar das detentas durante o período de
reclusão, sendo que a ausência do contato familiar torna a estadia mais cruel e solitária.

O presente artigo ainda é uma crítica no tratamento e condições desumanas nas quais as
detentas são submetidas durante a reclusão, e como são desrespeitados todos os direitos
estabelecidos pelo nosso ordenamento jurídico até mesmo pelas cortes internacionais, tendo em
vista que nenhum indivíduo deve ser submetido a isso.
3. A IMERSÃO NA REALIDADE DO SISTEMA PRISIONAL FEMININO

A realidade do sistema prisional Feminino aborda as características de vida e os


obstáculos enfrentados pelas mulheres durante o período de reclusão. O Estado de Minas
Gerais, como demais Estados brasileiros, possuem dificuldades na administração das
entidades prisionais.
Este artigo tem o objetivo de trazer dados atualizados sobre a situação do sistema
prisional feminino em Minas Gerais, o segundo maior estado brasileiro, que atualmente com
20.538.718 de habitantes, a pesquisa foi embasada neste estado tendo em vista que os
presentes pesquisadores são residentes deste e identificaram uma lacuna que possui a
necessidade de mudanças nesses locais. Para que seja entendido estes desafios, é necessário a
observação do contexto histórico e como ocorreu o desenvolvimento até os dias atuais.

3.1 Contexto Histórico: Prisão e gênero

No contexto histórico, observa que a imagem da mulher era limitada por papéis pré-
estabelecidos socialmente. No século médio, o radicalismo religioso predominava sobre a
mulher, na visão da igreja como condição de agente do mal, uma vez representante da Eva, a
mulher bíblica que permitiu a entrada do mal no mundo a partir da atenção dada a serpente. A
mulher, no entendimento religioso medieval, era dada ao descontrole da curiosidade, além de
ser voltada à transgressão e vista como a corruptora dos valores civilizados e corretos.
No período historicamente compreendido como “moderno” a mulher se localizava
socialmente entre duas opções de mundo. Em uma opção a mulher seria vista como a “Virgem
mãe”, desconexa dos prazeres sexuais que remetem ao mau, protetora e atenciosa para com os
filhos, reclusa no lar e livre das influências mundanas que poderiam levá-la a perdição. Na outra
opção, a mulher seria considerada igual à Eva, uma mulher perdida, sedutora, consumida pela
sexualidade e pelo mal, agente das vontades maléficas prejudiciais à sociedade (BRANDEN,
1992:30).
Del Priore (DEL PRIORE, 1993), descreve que ao observar as atitudes da igreja em
relação ao papel que a mulher brasileira desempenhava no período colonial, entende-se que a
importância do matrimonio estabelecido no pela Igreja na sociedade, tinha como objetivo o
fortalecimento enquanto instituição hegemônica. Vale ressaltar que essa estrutura do controle do
matrimonio se interligava com o poder que a Igreja possuía sobre os indivíduos, principalmente
com a posição que defendia a submissão da mulher ao homem. É por essa razão que
enfatizamos que as desigualdades entre homens e mulheres não são tão recentes na história da
humanidade e podem ser encontradas em quase todas as culturas no mundo.
Nesse entendimento, a mulher não era socialmente compreendida como capaz de
cometer crimes. Sob esse ângulo, Franco, (2015, p.10) descreve "em razão de uma imagem
estereotipada da mulher, vista como dócil e incapaz de cometer crimes, por muito tempo,
associou-se a ela tão somente a prática de delitos passionais ou daqueles chamados crimes
contra a maternidade (aborto e infanticídio)".
Seguindo a mesma base de entendimento, Coelho explica que "os crimes que têm como
agente a mulher limitaram-se ao que podemos chamar de crimes de gênero, associados a sua
sexualidade: prostituição, aborto, infanticídio, crimes passionais, quase nunca contra a pessoa e
contra a propriedade" (2013, p. 53). O foco da legislação penal não se voltava à mulher que
cometia delitos e sim, notadamente ao homem, sujeito ativo dominador, hostil e perigoso, o que,
como visto, é fruto de uma construção social baseada em um modelo de dominação simbólica
masculina.
Este fato foi uma condicionante, ao longo do tempo, fazendo com que o Estado não
tenha se interessado em construir e destinar um tratamento diferenciado às mulheres criminosas,
que chegaram a ficar, inclusive, no mesmo presídio que os homens.
Na atualidade, a essência medieval do encarceramento feminino segue presente,
mesmo após a divisão de gênero, foi nítido a diferenças de tratamentos masculinas que tinham
o objetivo de ressocializar o detento, enquanto nas prisões femininas o intuito era converter
essa encarcerada a um modelo de mulher socialmente aceito.
Em um contexto contemporâneo brasileiro um grande marco histórico prisional
ocorreu em 1940 através da reforma no código penal, no qual iniciou assim o surgimento do
encarceramento feminino, instituindo o cumprimento de pena por mulheres em
estabelecimento individualizado. Como Olga Espinoza expõe em sua obra ―A Prisão
Feminina desde um Olhar da Criminologia Feminista, no trecho abaixo transcrito:

Uma vez criada a prisão como instituição, entendeu-


se necessário a separação de homens e mulheres
para aplicar a eles e elas tratamentos diferenciados.
Com essa medida buscava-se que a educação 15
penitenciárias restaurasse o sentido de legalidade e
de trabalho nos homens presos, enquanto, no tocante
às mulheres, era prioritário reinstalar o sentimento
de pudor. (ESPINOZA, 2003, p.52).

Quando nos referimos à palavra cárcere, deparamos com um ambiente no qual as


transgressões de direitos são comuns e indiscutíveis. As penitenciárias brasileiras são
caracterizadas pela sobrelotação, instalações deficientes e acesso limitado à assistência médica e
educação.

3.2. Elementos Determinantes Na Criminalidade Feminina

A criminalidade feminina é influenciada por uma série de fatores complexos e inter-


relacionados. Entender esses elementos determinantes é essencial para desenvolver estratégias
de prevenção e intervenção mais eficazes. Alguns dos elementos determinantes na criminalidade
feminina tem ligação com aspectos sociais, em sua maioria a combinação de alguns fatores, mas
com destaque para: os fatores socioeconômicos, fatores culturais e sociais, educação e emprego,
relacionamentos disfuncionais, sistema de justiça criminal, maternidade e responsabilidades
familiares.

Logicamente o estudo de um fator não descarta os demais, sendo a combinação entre os


mesmos associado ao vislumbre de uma mudança na sua realidade financeira contribui como
agravante para a inclusão desta mulher na criminalidade. Compreender esses elementos
determinantes é crucial para abordar as causas subjacentes da criminalidade feminina e
implementar estratégias que ajudem as mulheres a evitar a entrada no sistema criminal e a se
reintegrar à sociedade de maneira positiva. Essas estratégias devem incluir abordagens holísticas
que considerem o contexto individual e social das mulheres envolvidas.

No brasil segundo dados o IBGE( Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 48%


dos lares brasileiros têm mulheres exercendo o papel de chefe de família, recebendo salários
20% menores, se comparados ao dos homens, é também este grupo que mais sofre com o
desemprego cerca de 14,9% enquanto para homens o índice é 12%. Se for considerado os lares
de baixa renda o número proporcional quase dobra chegando a 81,6%. O desemprego é maior
entre as mulheres, o que coloca este gênero em mais um patamar de desigualdade se comparado
com o gênero oposto, e a sua recolocação no mercado de trabalho demora mais tempo para
acontecer.

Buscando prover condições de vida melhores a seus filhos, e em sua maioria com baixa
escolaridade e nenhuma qualificação profissional necessária para ocupar cargos que lhe
proporcione uma independência financeira, muitas veem na criminalidade uma forma de suprir
as suas demandas financeiras. Neste contexto, muitas têm o tráfico de drogas como a principal
porta de entrada para o submundo do crime, como de acordo com dados do Sistema Prisional
Brasileiro que apontam que no ano de 2022, 54% das mulheres que estão encarceradas se devem
pela relação com o tráfico de drogas. Seguindo este entendimento, Drauzio Varella, entende que
(2017. P. 137):

O envolvimento com o tráfico fez explodir o aprisionamento de


mulheres brasileiras: crescimento de 567% no período de 2000 a 2014.
Nesses quatorze anos, a população carcerária feminina no país
aumentou de 5.600 para 37 mil. (VARELLA, 2017, p.137)

Sendo assim, o aumento do encarceramento feminino como resultado das vias penais de
resposta social, não podem ser analisados de forma separada da realidade socioeconômica do
indivíduo.

A desigualdade social compreende diversos tipos de desigualdades: a de oportunidades,


a de resultado, a de escolaridade, a de renda, a de gênero, entre outras. A desigualdade
econômica gera a falta de condições de sobrevivência e a falta de oportunidades tão necessárias
para o bom andamento da vida em sociedade (PACI, 2015).A influência destes fatores no
cotidiano deste grupo, faz com que sua ação criminosa proceda de circunstâncias gravosas
determinadas pelo meio que vive. Como resultado, as jovens são cada vez mais atraídas para o
submundo do crime.

As mulheres encarceradas, em geral, são jovens de baixa renda, com filhos e família
dependentes economicamente delas, e a sua ida para a prisão se deu devido ao de tráfico de
drogas, por pequenos furtos e também por assassinatos (QUEIROZ, 2015). Todos os fatores
citados somados a vulnerabilidade social, e a falta de oportunidade colaboram para o
crescimento da criminalidade feminina, mas vale evidenciar que o peso de chefiar uma família e
o desemprego predominam como causas determinantes neste processo.

3.3 Direitos Da Mulher Encarcerada

A princípio, quando uma pessoa está encarcerada por a ela ter sido atribuída autoria de
um ato considerado crime pela legislação penal vigente, o Estado exerce o seu papel de punir
através das sanções penais. O Estado, única entidade dotada de poder soberano, é o titular
exclusivo do direito de punir (para alguns, poder-dever de punir). Mesmo no caso da ação penal
exclusivamente privada, o Estado somente delega ao ofendido a legitimidade para dar início ao
processo, isto é, confere-lhe o jus persequendi in judicio, conservando consigo a exclusividade
do jus puniendi.(CAPEZ,2023, p.16).

Um dos primeiros princípios jurídicos que norteia a conduta punitiva do Estado, é o


princípio da legalidade, este é fundamental no direito penal e estabelece que uma pessoa só pode
ser punida por uma conduta se essa conduta for expressamente proibida por lei, com uma pena
previamente estabelecida. O código penal brasileiro é norteado por diversos princípios para que
seja garantido uma pena justa, cabível e humana.

A Constituição Federal assegura os direitos e garantias fundamentais, juntamente com a


dignidade da pessoa humana, de modo a garantir um tratamento digno sem preconceitos de
nenhuma origem a todos os cidadãos e cidadãs, e isso independe do seu status quo. Sendo assim,
uma mulher que esteja reclusa tem os mesmos direitos que qualquer outra que não esteja privada
da liberdade. Ademais, a mulher encarcerada possui esta cobertura constitucional dos direitos
elencados no artigo 5, e em especial o dispositivo onde resguarda a presa o cumprimento da
pena em estabelecimento penal distinto do homem. Consequentemente, assegurar que a interna
tenha a sua integridade física e moral respeitados, como previsto na legislação constitucional,
também é mais um direito garantido e reforçado na Cartilha da Mulher Presa do Conselho
Nacional de Justiça, como no trecho seguinte transcrito.

Nenhuma autoridade ou servidor penitenciário pode usar de violência física ou


psicológica.(Cartilha da Mulher Presa, p.11). Mas também existem direitos garantidos pela
Carta Magna que são direcionados a interna, observando a questão de gênero devido às suas
especificidades, como a condição de permanecer com o filho durante o período de
amamentação. Você tem direito de aleitamento ao filho recém-nascido. A Constituição Federal
assegura, em seu art. 5o, inciso L, que seu filho recém-nascido permaneça ao seu lado durante o
período de amamentação. Em razão disso, deve existir na penitenciária ala reservada para as
mulheres grávidas e para as internas que estão amamentando.(Cartilha da Mulher Presa, p.13).

A Lei de Execução Penal também trata este tema, reforçando o cuidado durante a
gestação e sucessivamente no pós- parto, como preleciona Brito (2023).

Em alteração promovida pela Lei n. 14.326/2022 a atenção à


mulher grávida foi reforçada. Desde 2009 a Lei de Execução
Penal assegurava o cuidado pré-natal e pós-parto da mãe e do
recém-nascido e o Código de Processo Penal veda o uso de
algemas durante os atos preparatórios, durante o parto e no
puerpério consequente (art. 292, parágrafo único). Com a
alteração legal garante-se também que o tratamento seja
humanitário com assistência integral à mãe e ao recém-
nascido. Um tratamento humanitário ou humanizado
significa, dentre outras coisas, a informação completa e
periódica sobre os procedimentos e condições de saúde,
atendimento individualizado de forma a estabelecer confiança
com o paciente tratando-o pelo nome, empatia pelo caso,
respeito às crenças.(BRITO,2023, p.57).

A LEP estabelece o direito à assistência material para a interna, visando atender a suas
necessidades básicas, ainda que esteja em um estabelecimento penal. A legislação preconiza que
o Estado deverá fornecer alimentação, vestuário e instalações higiênicas ao preso (LEP, art. 12).

Para tanto, é necessário que questões como superlotação, que é um dos geradores de um
ambiente prisional insalubre, seja revisto com atenção, incentivando a criação de políticas
públicas com o intuito de sanar essa defasagem. Essas condições dispostas pelas Regras
Mínimas colacionam procedimentos considerados indispensáveis aos reclusos e nenhum pode
ser considerado como regalia ou luxo. A leitura tranquila dos direitos enunciados evidencia a
natureza de minimum de dignidade a quem perdeu a liberdade.(BRITO,2023, p.56).
4. SISTEMA PRISIONAL

4.1. SISTEMA PRISIONAL FEMININO BRASILEIRO

O sistema prisional brasileiro é marcado por um estado contínuo de precariedade, sendo


que este nunca operou de maneira satisfatória. Uma pesquisa realizada pelo World Female
Imprisonment List, no final do ano de 2022, revelou que o Brasil apresenta a terceira maior
população carcerária feminina do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da China.
Com cerca de 40 mil mulheres encarceradas, nos últimos anos o País apresentou um
crescimento exponencial desses números, quadruplicando essa população em apenas 20
anos. Cerca de 45% dessas mulheres se encontram em prisão preventiva, segundo
levantamento realizado pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen).

Conforme o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), atualmente o sistema prisional brasileiro


é formado por 798.929 sentenciados com penas privativas de liberdade, sendo cerca de 49.971
são do gênero feminino e 748.755 do gênero masculino. A cada dia que passa o
encarceramento feminino tem seu mostrado progressivo, mesmo com o crescimento da
população carcerária feminina no sistema prisional, ainda é possível identificar a carência de
informações oficiais e específicas sobre a condição do encarceramento deste gênero,
contribuindo desta forma cada vez mais com a invisibilidade deste público e reforça os
sinais da desigualdade de gênero que permeiam a sociedade brasileira.

4.2. SISTEMA PRISIONAL FEMININO MINEIRO

O sistema prisional feminino no estado de Minas Gerais ocupa a segunda posição de


estado com o maior número de mulheres presas, ficando atrás apenas de São Paulo. Isso
representa segundo dados do ministério da justiça 10% da população carceraria do país. As
mulheres encarceradas em Minas Gerais têm um perfil diversificado, mas muitas delas foram
condenadas por crimes relacionados a roubo, drogas/tráfico de drogas, furto e etc.

O tráfico de drogas é o tipo de crime que as mulheres mais tem cometido, sendo este o
responsável pelo aumento do encarceramento feminino nas últimas décadas. Este já foi um
espaço ocupado apenas por homens, entretanto, as mulheres tem cada vez mais ocupado
espaço neste tipo de delito. Esta representação criminal feminina de acordo com dados do
INFOPEN chega a 62% de todas as prisões de mulheres. INCLUIR DADOS

5. DESAFIOS ENFRENTADOS PELAS MULHERES ENCARCERADAS MINEIRAS

Como todos os demais estados da federação enfrentam desafios e questões significativas


que afetam as vidas das detentas. As mulheres enfrentam desafios específicos no sistema
prisional que muitas vezes diferem dos desafios enfrentados pelos homens. Alguns dos
principais desafios que as mulheres podem encarar no sistema prisional, podem ser
correlacionados aos homens, entretanto sua dificuldade pode ser elevada devido suas
necessidades específicas. Procuramos analisar a responsabilidade do Estado em garantir as condições
básicas de vida às detentas que estão em cumprimento de pena dentro desses estabelecimentos.

Desde o momento que o processo se tem como sentenciado, o único direito restrito é o de
liberdade, fato que não altera demais direitos garantidos pela Carta Magna de 1988, e toda legislação
vigente que protege as mulheres encarceradas durante o período de reclusão. Trazer para a realidade
prisional feminina a assistência que está elencada na Lei de Execução Penal (LEP) em seu artigo 10: “A
assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à
convivência em sociedade”(Brasil,2023).

É atender as necessidades básicas de um ser humano trazendo para o ambiente prisional mais
dignidade e menos violações das garantias constitucionais. A privação da liberdade é a pena imposta
pelo Estado como meio de coerção pelo delito cometido, não cabendo em mesmo patamar outras
restrições de direitos quando essa mulher já se encontra em cárcere. Através do encarceramento o poder
estatal busca sanar uma falha na conduta humana e atender um anseio da sociedade, como conceitua
Fernando Capez:

É a privação da liberdade de locomoção em virtude de


flagrante delito ou determinada por ordem escrita e
fundamentada da autoridade judiciária competente, em
decorrência de sentença condenatória transitada em julgado
ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de
prisão temporária ou prisão preventiva (CPP, art. 283, caput).
( CAPEZ, p. 112)

Quando falamos sobre a conduta humana em uma sociedade, estamos nos referindo
aos comportamentos, ações e escolhas que os indivíduos fazem no contexto social. A
sociedade espera que seus indivíduos possam agir de uma maneira ética e moral, quando um
deles agem com condutas que vão contra a moral, o Estado deve se responsabilizar em agir de
uma maneira punitiva para que o anseio da construção de uma sociedade mais justa e coesa
possa ser atingida.
Um exemplo a ser utilizado, o indivíduo que mata alguém, uma conduta falha que vai
contra a moral que a sociedade preza, algo inadmissível, sendo necessário a intervenção do
Estado para que possa atender o anseio da sociedade.
Podendo ser citado o entendimento de Alexis Brito (2023,15):
A execução penal pressupõe, obviamente, uma pena concreta. E a
pena, para ser aplicada, necessita de um processo. Neste, assim que
apurada a existência do fato e sua autoria, aplicar-se-á a pena
abstratamente cominada para o tipo de crime praticado. Como
consequência, todos os envolvidos no episódio receberão sua parte. A
sociedade: o exemplo; o condenado: o tratamento; e a vítima: o
ressarcimento. (BRITO,2023, p.15)

5.1 Superlotação e Infraestrutura inadequada

Igualmente como em todo o território nacional, as prisões femininas em Minas Gerais


frequentemente sofrem com a superlotação. Atualmente, SISDEPEN (06/2023) relata que os
estabelecimentos penais mineiro possuem um déficit de 14.472 no quantitativo de vagas, o que
resulta em condições de vida precárias, instalações inadequadas.
Ademais, quando qualquer inciso do artigo 11 da lei 7210/1984 não for cumprido por
negligência estatal, estabelece no ambiente prisional um sentimento de uma nova condenação,
sendo a segunda consequência da primeira, pois estes incisos abarcam a assistência básica
necessaria para uma vida mais digna e humana no estabelecimento penal.
À evidência de qualquer construção habitável, os
estabelecimentos penais deverão possuir lotação
compatível com a sua estrutura e finalidade (art.
85). Isso significa que deverá ser obedecida a
capacidade de abrigo conforme as condições
mínimas de salubridade exigidas por uma pessoa
(BRITO,2023, p.121)
Em meio a invisibilidade social, a custodiada tem suas proprias formas de chamar
atenção do mundo externo para os problemas internos e o descaso sofrido no sistema
prisional. Uma das formas mais usadas ao longo da historia carceraria são as rebeliões, que
tem como finalidade a resistência contra ato de autoridade e chamar a atenção da mídia para
divulgação dos seus direitos que não foram respeitados.
Rotineiramente são divulgadas notícias de
rebeliões propagadas em presídios
superlotados, que excedem sua capacidade
em até cinco vezes, verdadeiros “depósitos
de seres humanos”. Ainda assim, são
poucas as decisões judiciais a interditar
estabelecimentos e cobrar posturas
administrativas das autoridades
competentes. (BRITO,2023, p.121)

Neste link abaixo tem uma pesquisa com todos os dados necessarios para falar
neste topico
https://www.tjmg.jus.br/portal-tjmg/noticias/pesquisa-avalia-violencia-no-sistema-
prisional-em-minas.htm#
A restrição da liberdade, ainda que
provida de qualquer conforto, jamais será
aceita como algo “bom” ou nem sequer
como uma “melhoria” de vida e,
certamente, o indivíduo comum, sempre
que puder optar, o fará pela liberdade
precária em detrimento da estadia
confortável de uma cela individual.
(BRITO, 2023, p.56

5.2 Distanciamento familiar

Os encargos relativos à prisão começam no momento em que esta mulher é


direcionada ao estabelecimento penal, onde não será mais reconhecida pelo nome que consta
em sua certidão de nascimento, mas sim por um número que a ela foi atribuído no sistema
prisional. A exclusão social inerente a sua nova condição, impõe barreiras que a afasta
silenciosamente do convívio familiar, pois agora tanto a detenta quanto a família precisam
respeitar as regras e preencher os requisitos impostos pela Secretaria de Estado de
Administração Penitenciária (SEAP), que estabelece quantidade de vagas para visitantes,
podendo algumas internas ficarem meses sem a visita de um familiar. Esse processo é citado
no entendimento de Roberto Porto no trecho transcrito abaixo:
Ao ingressar em um presídio brasileiro, o sentenciado é “despido de
sua aparência usual”.1 É despojado de seus pertences pessoais,
recebendo um uniforme padronizado, o qual é obrigado a utilizar. seu
nome é substituído por um número, denominado matrícula. o seu
cabelo é raspado. É privado de toda e qualquer comodidade ma- terial,
recebendo tão-somente o necessário a sua higiene pessoal. E, por fim,
é informado das normas do estabelecimento e das conse- qüências do
seu descumprimento.(PORTO,2008,p.27)

Mais um fato que ocorre, é o afastamento dos laços familiares e as responsabilidades


parentais, a maioria das mulheres encarceradas no sistema prisional brasileiro, são mães,
separação de seus filhos pode ter um impacto emocional significativo.
Ao ingressar no sistema prisional, a mulher é deixada em total isolamento, tanto por
parte da família quanto pelo Estado, visita familiar no sistema carcerário feminino é algo raro de
se acontecer, a falta deste amparo faz com que as detentas tenham facilidades em ter maiores
transtornos emocionais e psicológicos, dificultando ainda mais o período recluso, tendo em vista
que a presença dos familiares é a esperança de que estes levem a elas itens básicos de higiene
pessoal e utensílios que nem sempre é fornecido pelo Estado. Sendo retratado por Varella (2017,
p. 39), no qual destacou: “Filas são pequenas, com o mesmo predomínio de mulheres e crianças;
a minoria masculina é construída por homens mais velhos geralmente pais e avôs.”
O Estado, implementa poucos programas governamentais de reintegração social e ajuda
para ex-detentas. E isso é retratado em pesquisas realizadas pelo o Instituto de Pesquisa
Aplicada (IPEA) com internos em estabelecimentos penais.

A percepção do preconceito da sociedade em relação ao preso, que


negava até a humanidade dos sujeitos, era atrelada à visão sobre a falta
de oportunidades. Não apenas fora, mas também dentro do sistema
prisional faltariam oportunidades, o que constituía outro grande
empecilho para a reintegração social.(BRASIL,2015, p.39)

Com isso, ocorre uma maior probabilidade de reincidência e, consequentemente, um


completo fracasso na almejada reintegração social, como conhecido socialmente pela verdadeira
“escola do crime”, onde muitos detentos saíam piores e mais revoltados do que quando entrou.

Em todas as experiências investigadas, o cárcere era tido pelos presos


como lugar onde ocorriam injustiças, sendo que as condições de
tratamento penal oferecidas geravam revolta e favoreciam o retorno ao
crime, já que a prisão era uma verdadeira “escola do crime”.
(BRASIL,2015, p.40)

O sistema prisional muitas vezes não oferece condições adequadas para manter os
laços familiares. Em comparação com os homens, mesmo que também possam ser pais, a
dinâmica da separação familiar pode ser diferente, e a sociedade muitas vezes tem
expectativas distintas em relação às mães.

5.3 Falta de acesso a serviços de saúde adequada

Consoante a essas ocorrências internas comuns ao sistema prisional, resulta muitas


vezes em alterações psicológicas e físicas que ao longo do processo de cumprimento da pena,
podem causar doenças crônicas e graves. Nesse cenário, é essencial que a efetivação das
normas que protegem essas mulheres encarceradas esteja em pleno funcionamento, garantindo
o suporte básico de saúde para a manutenção da sua integridade física e mental, como também
está previsto nas Regras das Nações Unidas para o tratamento de mulheres presas e medidas
não privativas de liberdade para mulheres infratoras (Regras de Bangkok) que tem a
finalidade de dar atenção específica as mulheres.
A assistência médica e os cuidados de saúde reprodutiva também são preocupações, uma
vez que muitas mulheres no sistema prisional têm necessidades específicas nesses aspectos.
(não achei dados) Aprofundar cada paragrafo

5.4. Escassez produtos de higiene pessoal feminina

Uma especificidade feminina que torna a permanência da mulher na prisão com mais
dificuldades do que o homem é a menstruação. Pois, existe uma falta de fornecimento
adequado de absorventes íntimos, o que leva muitas internas a lançarem mão de outros
materiais para substituir o absorvente. Como Queiroz (2015 apud MACHADO, 2017, p. 51)
descreve:

[...] Em geral, cada mulher recebe por mês dois


papéis higiênicos (o que pode ser suficiente para
um homem mas jamais para uma mulher, que o usa
para duas necessidades distintas) e um pacote com
oito absorventes. Ou seja, uma mulher com período
menstrual de quatro dias tem que se virar com dois
absorventes ao dia; uma mulher com um período
de cinco, com menos que isso.

Ademais, o sistema prisional brasileiro é marcado pela superlotação e falta de


infraestrutura, o que atinge a ambos os gêneros. Entretanto, é possível observar que traz
consequências diferentes para o gênero feminino, uma vez que as mulheres possuem
necessidades de saúde específicas, tais como cuidados ginecológicos, de saúde materna e
acesso a produtos de higiene pessoal feminina. Em 2012 foi publicado pelo CNJ o Mutirão
Carcerário, onde foi constatado que em algumas penitenciárias de São Paulo as detentas
utilizam miolo de pão como absorvente íntimo, diante da escassez de objetos de higiene, além
de conviver com a má alimentação, chegando a identificar fezes de rato na comida.

5.5. Grávidas e Lactantes

Muitas mulheres entram no sistema prisional já grávidas. A falta de cuidados


adequados durante a gravidez e o parto, bem como o afastamento dos filhos após o
nascimento, são desafios significativos. Os estabelecimentos penais brasileiro conforme dados
do SISDEPEN mostrou que tem atualmente no cárcere 185 gestantes e 100 lactantes, e 102
crianças estão na companhia de suas genitoras no presídio. Geralmente, os homens não
enfrentam as mesmas questões relacionadas à gravidez e à maternidade, o que cria uma
necessidade única de apoio e cuidados específicos para as mulheres.

Um grande marco histórico envolvendo este contexto foi o desenvolvimento da


resolução da CNJ nº 369/2021, no qual estabeleceu procedimentos e diretrizes a serem
tomadas para a substituição da privação de liberdade por prisão domiciliar de gestantes, mães,
pais e responsáveis por crianças e pessoas com deficiências. Contudo, vale ressaltar que o
STF requisitou quem terá direito a este Habeas Corpus.

5.6. Violência de gênero e abuso

5.7. Acesso limitado á educação e capacitação

5.8. Reabilitação e Ressocialização


Um desafio adicional enfrentado pelas detentas é a falta de políticas específicas de
gênero no sistema prisional. A falta de programas de reabilitação adaptados às necessidades das
mulheres, bem como a ausência de assistência adequada às mães encarceradas, é uma questão
crítica. Programas de reabilitação que tenha como visão de resultado não somente a volta desta
interna ao convívio em sociedade, mas transformá-la e acordo com o seu próprio olhar de
mundo.
Para tanto, foi preciso estudar as mulheres de acordo com a visão de
“mundo” delas próprias, o que significa compreendê-las a partir do
questionamento da sociedade. Significa também propor políticas que
não sejam baseadas na “reabilitação das presas”, mas na
transformação “das relações sociais de sexo e das instituições que as
sustêm” (ESPINOZA, 2004, p.75).
A reintegração social das mulheres após a prisão é uma tarefa árdua. A falta de
programas de reabilitação e de apoio à empregabilidade torna mais difícil para as ex-detentas
reconstruírem suas vidas após a liberação, violando o disposto na artigo 1°da LEP transcrito
abaixo:
“A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de
sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a
harmônica integração social do condenado e do internado.
(BRASIL,2023)”

Sendo assim, a Lei de Execução Penal, tem como finalidade do cumprimento de pena a
reintegração social do apenado, que é inseparável da execução da sanção penal. Logo, qualquer
modalidade de cumprimento de pena em que não exista sincronia dos dois objetivos legais,isto
é, a punição e a reintegração social, se aplicado apenas do primeiro, mostra-se ilegal e em
discordância com à Constituição Federal.
No entanto, algumas iniciativas de reforma estão em andamento. Organizações da sociedade
civil e defensores dos direitos humanos têm pressionado por mudanças no sistema prisional
feminino em Minas Gerais. Isso inclui o desenvolvimento de programas de reabilitação mais
centrados no gênero, a melhoria das condições de detenção e a promoção de alternativas ao
encarceramento para mulheres de baixo risco.
É importante lembrar que a situação nas prisões femininas pode variar de uma unidade
para outra em Minas Gerais, e as condições e políticas podem evoluir ao longo do tempo.
Portanto, a obtenção de informações atualizadas junto a fontes confiáveis e organizações
dedicadas aos direitos das detentas é fundamental para entender completamente a situação no
estado. e dificuldades na implementação de programas de reabilitação para que essa interna
passe pelo processo de elaboração de comportamento mais adequado, recuperando-se para a
reinserção na sociedade como preleciona Olga Espinoza :
A criminologia tendeu, por muito tempo, a analisar apenas os homens em contato com o
sitema de Justiça Criminal, ignorando as especificidades das mulheres.(ESPINOZA, 2004,
p.74).

Essas diferenças destacam a importância de abordagens sensíveis ao gênero no sistema


prisional, reconhecendo as necessidades únicas das mulheres e trabalhando para garantir que
seus direitos sejam respeitados e protegidos. Essa abordagem é crucial para promover a
justiça, a igualdade e a dignidade no sistema penal.
REFERÊNCIAS

BRANDEN, N. A psicologia do amor romântico. RJ: Imago, 1992.

DEL PRIORE, Mary Del. As atitudes da igreja em face da mulher no Brasil colonial. In MARCILIO, Maria
Luiza (org). Família, mulher e sexualidade no Brasil. São Paulo: Edições Loyola, 1993.

FRANCO, Nadiel Alves. As múltiplas punições do sistema penitenciário sobre a mulher:


Liberdade, direitos sexuais e reprodutivos. 48 f. Monografia (Curso de Direito) –
Universidade de Brasília, Brasília, 2015.

PORTO, Roberto. Crime organizado e sistema Prisional. [Digite o Local da Editora]: Grupo
GEN, 2008. E-book. ISBN 9788522467068. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522467068/. Acesso em: 16 nov. 2023.

Atlas da violência, O desafio da reintegração social do preso: Uma pesquisa em


estabelecimentos prisionais. Disponível em:
https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/artigo/159/o-desafio-da-reintegracao-social-
do-preso-uma-pesquisa-em-estabelecimentos-prisionais/. Acesso em: 15 Nov.2023

CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. [Digite o Local da Editora]: Editora Saraiva, 2023. E-book.
ISBN 9786553626072. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786553626072/. Acesso em: 17 nov. 2023.

https://www.gov.br/senappen/pt-br/servicos/sisdepen

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