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UNIVERSIDADE IGUAÇU

Rafaele Soares Toledo

A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS DA MULHER NO CÁRCERE

Nova Iguaçu
2022
RAFAELE SOARES TOLEDO

A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS DA MULHER NO CÁRCERE

Artigo científico apresentado ao curso de


graduação em Direito da Universidade
Iguaçu como exigência final para obtenção
do título de bacharel em Direito.

Orientador: Profª Cláudia Valéria Bastos Fernandes


Coorientador: Profº Anna Esser

Nova Iguaçu
2022
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 10
1 EVOLUÇÃO DACRIMINALIDADE FEMININA NO NO BRASIL 11
1.1 ANÁLISE HISTÓRICA 12
1.2 QUEM SÃO AS MULHERES POR TRÁS DAS GRADES? 14
2 SISTEMA CARCERARIO FEMININO BRASILEIRO 15
2.1 QUAIS OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELA MULHER NA PRISÃO? 15
2.2 OS DIREITOS DA MULHER NO CÁRCERE 16
2.3 A OPRESSÃO SOCIAL SOFRIDA PELA MULHER ENCARCERADA 17
3 ANÁLISE DA EFETIVIDADE DAS TEORIAS ADOTADAS PARA GARANTIR A
DIGNIDADE DA PRESA 17
3.1 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A GARANTIA DA DIGNIDADE DA MULHER
NO CÁRCERE 19
3.2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA
HUMANA 19
3.3 A RESSOCIALIZAÇÃO: ANÁLISE DA PRÁTICA VS TEORIA 20
CONCLUSÃO 20
REFERÊNCIAS 21
3

A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS DA MULHER NO CÁRCERE

VIOLATION OF WOMEN’S HUMAN RIGHTS IN PRISON

Rafaele Soares Toledo


RESUMO
Este estudo tem por objetivo analisar a vida da mulher no cárcere e demonstrar se
efetivamente os direitos da presa são preservados, fazendo um contraponto entre a
realidade prisional e o que estabelece a Lei de execução Penal – LEP, bem como o
Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Nesse sentido, a pesquisa será
embasada por meio de exame bibliográfico realizado através de livros, artigos, como
quanto à legislação correlata, onde se pode concluir que a pena estabelecida deve
ser aquela necessária e suficiente para a prevenção e para a ressocialização da presa,
além da pesquisa de campo realizada no(a) **********, visando demonstrar a
disparidade entre teoria e prática através da percepção das mulheres ora prisioneiras
que foram entrevistadas. Tem-se por objetivo também discorrer sobre a história da
criminalidade feminina no Brasil, e analisar quais são os fundamentos sociológicos de
delinquência feminina. Por fim demonstrar se a aplicação da teoria disposta pelas leis
e normas aplicadas, sejam elas pela Lei de execução Penal – LEP ou o Princípio da
Dignidade da Pessoa humana compreendem a realidade da mulher presa.

Palavras-chave: Cárcere. Mulher. Princípio. Dignidade. Violação.

ABSTRACT

This study aims to analyze the life of women in prison and demonstrate whether
effectively the rights of the prisoner are preserved, making a counterpoint between the
prison reality and what establishes the Penal Execution Law - LEP, as well as the
Principle of Dignity of the Person human. In this sense, the research will be based on
a bibliographic examination carried out through books, articles, as well as the related
legislation, where it can be concluded that the established sentence must be the one
necessary and sufficient for the prevention and rehabilitation of the prisoner, in addition
to from the field research carried out at **********, aiming to demonstrate the disparity
between theory and practice through the perception of the women who were now
prisoners who were interviewed. It also aims to discuss the history of female criminality
in Brazil, and to analyze the sociological foundations of female delinquency. Finally,
demonstrate whether the application of the theory provided by the laws and standards
applied, whether by the Penal Execution Law - LEP or the Principle of Human Dignity,
understand the reality of the imprisoned woman.

Keywords: Prison.Women. Principle. Dignity.Violation.


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INTRODUÇÃO
Ao abordar o assunto sistema prisional, é possível perceber que
dominantemente destinam-se uma atenção maior ao cárcere masculino. No entanto,
ao longo do tempo a curva da criminalidade feminina tem crescido e
consequentemente o cárcere de mulheres e a necessidade de um debate nesse
sentido para apontar suas particularidades de um ponto de vista jurídico e social por
isso, a necessidade de aferir a preservação dos direitos básicos das mulheres neste
cenário.
Nota-se ao fazer uma breve comparação entre homens e mulheres no crime e
no cárcere, que a visão que a sociedade tem de ambos, incluindo familiares e pessoas
de seus meios sociais, denota uma certa complacência para com o homem nessas
condições e uma postura de intolerância relacionada a mulher condenada.
Dito isso, há que ser questionado os motivos para que as mulheres presas
enfrentem uma pena dupla ao adentrarem no mundo do crime, e como são afetadas
por este fenômeno. Além da pena estabelecida, a mulher enfrenta o esquecimento e
a solidão, a condenação social por transgredirem a criminalidade e abandonando os
estigmas que a sociedade tem para mulheres, pois as expectativas sociais são de que
a mulher esteja incumbida de cuidar gentilmente de seus lares, obedientes, submissas
e jamais delinquentes.
As mulheres inseridas no mundo do cárcere devem ser legitimadas enquanto
seres humanos e o Princípio constitucional da dignidade da pessoa não deve nesse
caso em especial ser revestindo apenas do caráter normativo. Tal Direito não cria a
dignidade da pessoa humana, apenas a protege e promovem, o princípio em questão
é núcleo de todos os direitos fundamentais.
Portanto, a cidadã-presa precisa ser reconhecida como ser dotada de
dignidade, e ter um tratamento pensado para ela e todas as particularidades
necessárias para que ela tenha na pratica o direito a dignidade consagrado pela
Constituição, entendendo-se a dignidade dessas mulheres como qualidade inerente à
sua essência do ser humano, sendo este um bem jurídico absoluto, portanto,
inalienável, irrenunciável e intangível.
É fato que ao proporcionar tratamento digno dentro dos presídios, bem como
uma infraestrutura e ambiente que possibilitem as mulheres no cárcere uma vivencia
que resguarde seus direitos, a finalidade da pena se torna mais possível, a exemplo
dos meios normativos que visam este resultado, temos a Lei Nº 7.210/84 – Lei de
Execução Penal, a reintegração das apenadas a sociedade.
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Este estudo priorizou entender e discorrer sobre as condições das mulheres


em situação de cárcere em todas as esferas, saber quem são essas mulheres, o que
elas vivenciam dentro das prisões, se os seus direitos são assegurados na prática
como na letra da lei, as razões pelas quais adentraram ao mundo do crime e ao
submundo carcerário, como a sociedade as tratam, e quais são suas expectativas
nesse cenário.

1 EVOLUÇÃO DA CRIMINALIDADE FEMININA NO BRASIL


Para compreender o surgimento da mulher no cenário da delinquência, é
necessário entender as razões da criminalidade feminina, ou seja, os porquês de sua
ocorrência, por isso será feita uma retrospectiva histórica das teorias criminológicas,
dando ênfase na mulher, para explicar a importância desse fenômeno frente ao
encarceramento feminino no Brasil.
A criminologia é uma ciência empírica que estuda o crime enquanto fato,
analisando o crime, o criminoso e o comportamento da sociedade. Na baixa idade
média, sobreveio um livro chamado ”Martelo das Feiticeiras” a obra fazia um liame
entre feitiçaria e a mulher, constatando afirmações sobre a perversidade, malicia,
fraqueza física e mental, a pouca fé da mulher subsidiando a inquisição e a caça as
bruxas. Já no período humanitário, marcado pela obra “Dos delitos e das Penas” de
Cesare Beccaria (2017, p. 7), onde foram repudiadas as penas repugnantes e
degradantes, a mulher apenas ressurgiu dentro do paradigma etiológico da escola
positivista, em que a criminalidade é tida como uma realidade anterior ao direito penal,
podendo ser constatada pelas características físicas, biológicas, individuais e sociais
dos indivíduos. E na obra “La donna delinquente” de 1892 de Lombroso e Ferrero a
(1892) mulher foi caracterizada como: biologicamente inerte, passiva, mas obediente
a lei, contudo a mulher criminosa seria amoral, criminosa, engenhosa, calculista,
sedutora e maléfica, características semelhantes ao perfil da mulher medieval, sendo
que nessa obra a prostituta foi identificada como maior exemplo de delinquência
feminina, uma vez que possuía grande parte das mencionadas características.
Surge então a partir da década de 1980 a criminologia feminina, que subsidia
uma análise macrossociológica do sistema patriarcal, ou seja, do sistema de
dominação e exploração do homem sobre a mulher, principalmente sobre a indagação
de como o sistema de justiça criminal trata a mulher, seja como vítima ou como autora
de crimes através das instituições que integram o sistema penal, como o ministério
público, a defensoria pública e como o próprio poder judiciário.
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Portanto, no momento em que a mulher começa a se inserir na sociedade, e


adquirir direitos, e abandonam o rótulo de que foram nascidas para cuidar, gerar,
enquanto eram tidas como inferiores aos homens, ao abandonarem todo o fardo
sexista que as mantinham afastadas da criminalidade, inicia-se uma onda de
delinquência feminina.
Dessa forma o Brasil ocupa atualmente a 4ª posição no quesito de maior
população carcerária feminina no mundo, ficando atrás somente dos Estados Unidos,
China e Rússia. A taxa de aprisionamento cresceu nos últimos anos, aumentando em
525% entre 2000 e 2016, de acordo com os dados do ministério da Justiça, como
observado, o número de mulheres encarceradas vem crescendo exponencialmente,
fazendo com que seja necessária a discussão e reflexão sobre o problema do
encarceramento feminino, o primeiro ponto que precisa ser destacado é: que grande
parte dessas mulheres são pretas e pardas e não possuem se quer o ensino
fundamental completo, assim é nítido uma seletividade do sistema penal, e o
fenômeno chamado feminização da pobreza, o qual é resultante da falta de igualdade
entre homens e mulheres seja em relação ao mercado de trabalho ou na efetividade
de inúmeros direitos, fazendo com que seja necessário dar atenção a intersecções
entre gênero, cor e classe.
Em razão disto, ao analisar os crimes cometidos por mulheres, em comparação
ao dos homens, percebe-se que mais de 60% das mulheres estão presas em razão
do tráfico de drogas, entretanto, elas não ocupam o topo da pirâmide da organização
criminosa, elas estão na base, a maioria delas atua como mulas, que transportam as
drogas, sendo mais uma vez vítima da seleção do sistema que pune mais facilmente
quem está na base da pirâmide, percebemos assim a influência do fator gênero dentro
deste fenômeno de encarceramento. (DEPEN, 2016)

1.1 Análise histórica


A sociedade ao longo do tempo experimentou mudanças nos padrões
comportamentais da mulher, a expectativa sempre foi de que as mulheres
apresentassem características de feminilidade, obediência, destreza em cuidar do lar,
filhos e marido. Ao passo em que a mulher foi se emancipando, ingressando no
mercado de trabalho, assumindo o papel de chefe do lar, e a função de prover
economicamente a si e a família, pode-se afirmar que o mercado de trabalho, os
empregadores e toda engrenagem não evoluíram na mesma velocidade, pois ao
buscar independência financeira muitas mulheres se depararam com barreiras fruto
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de uma sociedade pensada para o sucesso masculino, tais como desigualdade


salarial, baixo número de vagas ou ausência de vagas para mulheres, serem
preteridas por contratações masculinas dentre muitas outras razões puramente
biológicas.
A ideia de que, assim como a criminalidade, a escrita sobre o crime, o
cometimento de delitos e a cadeira, são coisas masculinas, ainda é visivelmente
disseminada em vários países – inclusive no Brasil. Nota-se com precisão que a
herança cultural do patriarcado, ainda resiste veementemente nos dias atuais,
fazendo com que se reproduza demasiadamente a defasada linguagem hegemônica
do gênero. Em virtude disto, por muito tempo – e ainda hoje – esse assunto foi pouco
abordado e pensado sob e para uma perspectiva feminina, o que tem cominado em
graves violações aos princípios mais básicos de direitos humanos dos quais,
indistintamente, todos são detentores.
Acerca disso, apontam com presteza, Pereira e Silva:
A subordinação feminina remonta ao mais longuico olhar histórico: a
humanidade é masculina. Os homens foram sempre apresentados
como os grandes protagonistas da historiografia positivista e das
grandes descobertas ocidentais. Detiveram verdadeiro monopólio dos
discursos, da ciência e da produção de conhecimento, enquanto
atores do espaço público. (PEREIRA; SILVA, 2015, p. 26)

De uma perspectiva sociológica, as condições da criminalidade feminina


surgem de uma realidade onde o mundo do crime é composto em sua totalidade por
homens, e de fato as estatísticas comprovam isso, dado o aumento de mulheres nesse
contexto com o passar dos anos, se faz necessário compreender esse fenômeno e o
fator determinante que levam mulheres a delinquirem.
Segundo Emile Durkheim, quanto a criminalidade, ele diz que as pessoas
obedecem ao que está pré-definido no direito e nos costumes, tais pensamentos e
condutas são imbuídas de coerção, e ao serem desrespeitadas geram uma reação,
tal fato social se dá, quando existe algo definido e difere de condutas individuais, há
uma forca coercitiva externa, que se afirma, quando há resistência, mas se faz
presente. Ou seja, frente ao ato criminoso a sociedade se imbui de julgar e punir.
Acerca disso, aponta DURKHEIM (2017, p. 73): “Se o crime é uma doença, a
pena é seu remédio e não pode ser concebida de outro modo”.
Dado o aumento exponencial de mulheres no Sistema Prisional, se faz
necessária conferir se as penas de fato atuam como remédio e tratam a razão pela
qual mulheres estão sendo levadas ao mundo do crime e assim chegar a uma solução
que previna tal conduta. Conhecendo as razões que impulsionam a mulher a entrar
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no mundo do crime, é possível chegar mais perto da solução, é essencial saber quem
são essas mulheres em situação de cárcere, os delitos cometidos por elas, uma vez
que esse tipo penal tem características especificas e próprias.
Portanto, a inserção da mulher no crime está intimamente ligada com questões
sociais, fato indiscutível é que, quanto menos integrada a sociedade, mais passível
de pessoas incluindo mulheres adentrando a criminalidade ela fica, afim de alcançar
seus objetivos por meios alternativos, já que muitas não encontram oportunidades,
levando em conta que, as camadas mais baixas da sociedade, tem pouco ou nenhum
acesso a meios básicos para se manterem, exercendo dessa forma grande pressão
sobre elas.

1.2 Quem são as mulheres por trás das grades?


Na população carcerária feminina há vários recortes de raça, gênero e classe
social, ainda de acordo com uma pesquisa do ITTC, 68% das presas no Brasil são
negras, 57% solteiras, 50% tem apenas o ensino fundamental e 50% estão na faixa
etária de 18 a 29 anos. Ainda de acordo com a pesquisa, as mulheres mães que estão
cumprindo suas penas, estão em regime fechado, e não possuem antecedentes
criminais, ainda segundo outro estudo, o Levantamento Nacional de Informações
Penitênciárias (Infopen Mulheres), de 2000 a 2014, o número de presas cresceu
567,4% no Brasil.
O perfil dessas mulheres demonstra de forma explicita a exclusão social dos
grupos mais marginalizados, e a conduta ilícita que mais leva homens e mulheres para
o submundo do cárcere estão associadas diretamente ao tráfico de drogas, que é visto
e relatado pelos presos e presas como uma oportunidade de trabalho, ou de ascensão
econômica, conforme uma pesquisa feita por Pedro Abramovay e Carolina Haber,
realizada no ano de 2007 a 2010, os gráficos apontam aumento no número de
detentos enquadrados por tráfico, aumento este equivalente a 62%, ultrapassando o
crime de roubo qualificado que até então era o mais popular nas prisões.(PTBRNN,
2010)
A situação da mulher no cárcere não recebe a devida atenção, a jurisprudência analisa
a situação da mulher presa quase que exclusivamente no caso da prisão domiciliar, e
não há um debate mais amplo com relação as políticas públicas em relação a
população feminina carcerária, e apesar disso, há um número volumoso de mulheres
que são presas no Brasil, e importante salientar que dentre elas, muitas estão presas
por crimes que não praticaram, a situação referente ao tráfico de drogas é a que
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chama mais atenção, pois nesses casos, muitas mulheres que estão presas
cumprindo penas por tráfico de drogas ou associação para o tráfico, por estarem no
local em que a droga foi apreendida, em muitos desses casos a droga pertenciam
não a elas, mas aos seus companheiros e por residirem no local da busca e
apreensão, tendo ciência ou não da droga, são presas. E o número é alarmante,
demonstra que em muitos casos não há participação da mulher, e mesmo sendo uma
conduta exclusiva de seus companheiros, elas são enquadradas. (DEPEN, 2016).

2 SISTEMA CARCERÁRIO FEMININO NO BRASILEIRO


A vulnerabilidade econômica e social da mulher na maioria das vezes é o que
as levam ao sistema carcerário, acerca do assunto é correto dizer que a criminalidade
também é uma maneira de avaliar o tipo de sociedade de um país, as histórias dessas
mulheres costumam se repetir, numa sociedade mais igualitária economicamente, é
fato dizer que os índices de criminalidade cairiam de modo geral, obvio que os casos
de crime individualmente considerado a decisão é única e pessoal, toda via observa-
se o padrão anteriormente falado nos delitos cometidos pelas mulheres.

2.1 Quais os desafios enfrentados pela mulher na prisão?


São muitos os desafios enfrentados pelas mulheres na prisão, para lista-los é
preciso entender como vivem as mulheres que estão privadas de sua liberdade. São
mulheres com histórias distintas e ao mesmo tempo muito parecidas, um dos maiores
desafios enfrentados por elas é a solidão, ao chegarem no cárcere, a presa encontra
um ambiente hostil, sem rede de apoio, mas acabam encontrando umas nas outras
mais semelhanças do que diferenças, o perfil das detentas, feito com base dados da
própria colmeia revelam isso, a maioria cometeu o mesmo tipo de crime, acompanhar
maridos e namorados que já estão no crime, além do papel de mula, quando o homem
é presa muitas assumem as funções de seus parceiros aqui fora e muita das vezes
sob ameaça do mesmo.
Outro enorme desafio enfrentado e por elas relatado, é a aflição das presas
gestantes, de criar seu filho no ambiente carcerário e chegar até a correr o risco de
ter seu filho mandado para adoção, é importante frisar que o cárcere não pode ser
sinônimo de abandono, por trás das grades deve haver cuidado clinico, na cadeia há
relatos inúmeros relatos de tentativas de suicídio, uso excessivo de remédios e até
automutilação, provenientes de ansiedade, depressão e crises de pânico.
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O ambiente da prisão dificulta a criação de laços e vínculos entre elas, e mesmo


com histórias semelhantes a vida das mulheres lá dentro e tomada pela disputa, bem
como acontece fora dos presídios, há territórios divididos também dentro das celas
intensificando a solidão dessas mulheres. (VARELLA, 2017, p. 12)

2.2 Os Direitos da mulher no cárcere


A nossa legislação com relação a mulher tem muitas previsões legais em vários
sentidos, desde o uso de algemas até parte que trata de creches para as mães em
situação de cárcere, e outras especificidades da mulher presa. Muitas dessas
disposições legais são desrespeitadas, quando se trata de observar direitos como
remissão, progressão, livramento e os direitos da mulher presa, também pode ser
citado como exemplo o Art. 83, § 2 da Lei de Execução Penal - Lei 7210/84, esse
artigo dispõe que os estabelecimentos penais para as mulheres devem ter berçário
onde elas possam cuidar dos filhos e também amamenta-los no mínimo até 6 meses,
tem que se gerar essa condição para que as presas possam cuidar de seus filhos e
na prática não existe uma condição digna para que as presas assim o façam, alguns
se quer tem esse espaço previsto em lei, outros sim, mas não há condições básicas
para tal, o executivo justifica o descumprimento com a falta de orçamento, a reserva
do possível e que não há condições de fornecer, portanto, permanece na Lei, mas na
pratica não existe, ou quando existe é de forma insignificante, esta é uma das
previsões legais para a mulher presa que não é acolhida em sua realidade.
Quanto a legislação, ela trata da mulher presa especialmente em casos de
gestante, lactante e mãe., basicamente a legislação da esse foco de ressaltar a
proteção a dignidade ao papel materno da mulher presa e isso não é o suficiente, pois
há muitas mulheres presas que não são mães e não pretendem ser, e a legislação em
tese precisa ter esse cuidado também, por exemplo com a saúde dessas mulheres
que estão presas, sendo mães ou não e que sofrem com a falta de higiene, as falta
de fornecimento de saúde no sistema prisional.
O Estado nunca conseguiu organizar o sistema de Saúde dentro do presídio,
as causas mais comuns para as mortes nesse ambiente são HIV, sífilis, hepatite e
tuberculose, e as condições dentro da unidade prisional agravam a situação, fatores
como superlotação, escuridão, falta de circulação de ar e ações de preventivas
insuficientes. No entanto, pouca gente se importa com a dor silenciosa das presas, e
nesse caso doenças matam mais que a violência.
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2.3 A Opressão social sofrida pela mulher encarcerada


A mulher dentro do cárcere sofre com esse estigma, e de todos as
consequências da prisão, talvez a mais dolorosa é a solidão proveniente do abandono
por parte seus companheiros e familiares, poucas tem esse privilégio. É interessante
que, o homem nas mesmas condições, pode contar com a visita de sua mulher,
familiares e amigos enquanto a mulher é esquecida.
A mulher criminosa é duplamente transgressora, ela é vista como alguém que
além de desobedecer a Lei rompe com a ordem social, ocorre que a mulher nessa
situação é vista com um olhar de reprovação muito mais forte e recebe um tratamento
muito mais rigoroso que o homem nas mesmas condições. A situação da mulher no
cárcere, traz problemas específicos que são intensificados pela sociedade machista,
além da reclusão a mulher enfrenta uma pena paralela, que é a já citada, solidão.
O motivo do abandono é o preconceito, uma mulher transgressora é motivo de
constrangimento para família, já um homem, pode ser encarado com muito mais
tolerância pelo seu âmbito familiar, as pesquisas apontam que 6 em cada 10 presas
foram condenadas por relação com o tráfico de drogas e essa relação na maioria das
vezes se inicia com um relacionamento amoroso com traficante, os relatos mais
comuns no presidio é que a famílias brasileiras não se importam de visitar traficantes
homens mas sentem vergonha de manter contato com a mulher do traficante.
Outra opressão social intensa é a enfrentada pela gestante na unidade
prisional, a lei garante que a presa fique com seu filho até 6 meses no período de
aleitamento, findado os 6 meses, a justiça que avalia se o filho vai permanecer no
presídio, se não houver um parente disponível para receber a criança do lado de fora,
ela pode ser enviada para um abrigo, ou até para a adoção.

3 ANÁLISE DA EFETIVIDADE DO PRINCIPIO GARANTIDOR DA DIGNIDADE DA


PRESA
Pode-se dizer que a aplicação do Princípio é mediana, existe uma clara
necessidade de uma fiscalização mais intensa, o Princípio da dignidade da pessoa
humana é também um limitador das ações do Estado, afim de garantir a integridade
física, mental e moral que zela pelos direitos fundamentais dos seres humanos.
O significado dado ao princípio por Ingo Wolfgang Sarlet (2001, p. 60) é:
A qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz
merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e
da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e
deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e
qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe
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garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável,


além de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável
nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os
demais seres humanos.

A dignidade humana representa superar a intolerância, a discriminação, a


exclusão social, a violência, a incapacidade de aceitar o diferente. Tem relação com
a liberdade e valores do espírito e com as condições materiais de subsistência da
pessoa. Nesse sentido, a busca pelo reconhecimento dos direitos fundamentais
enfrenta uma crise vivenciada pelo Estado que não o permite cumprir com os objetivos
esculpidos na Constituição cidadã de 1988. Tal crise se reflete em todas as áreas
sociais, e com grande ênfase no âmbito do Direito Penal, pois o poder estatal passou
a utilizar da pena e das prisões como principal forma de controle e manutenção da
ordem, esquecendo-se que seu objeto e limite de atuação estão estabelecidos e
vinculados aos direitos fundamentais.
A mulher encarcerada precisa ser reconhecida como ser dotado de dignidade,
entendendo-se esta como qualidade inerente à essência do ser humano, bem jurídico
absoluto, portanto, inalienável, irrenunciável e intangível. É necessário que o Direito
Penal seja interpretado à luz da Constituição e compreendido como ultima ratio, no
sentido de atuar apenas quando os demais ramos do Direito forem incapazes de
tutelar os bens relevantes à vida do indivíduo e da própria sociedade.
É preciso que os operadores do Direito sejam instrumentalizados com os meios
necessários para garantir uma prática comprometida com a eficácia dos direitos
humanos, a fim de salvaguardar os direitos e garantias fundamentais a todos os
cidadãos, incluindo os que vivem na situação crítica de privação de liberdade, que
somente poderá ser resolvida quando o verdadeiro Estado Democrático de Direito
deixar de ser apenas uma previsão constitucional, ou seja, quando passar a garantir
o cumprimento dos princípios para todos os brasileiros, principalmente em relação à
dignidade humana, e não simplesmente exercer a violência legítima, oficializada.
Nesse sentido, são aplicáveis às penas alguns princípios de direito, dentre eles o
princípio da dignidade humana, reserva legal, personalidade ou intransmissibilidade,
da humanidade das penas, da proporcionalidade ou individualização da pena, da
inderrogabilidade ou inevitabilidade, da suficiência e da relativa indeterminação da
pena.

3.1 Políticas Públicas para a Garantia da mulher no cárcere


Apesar da existência de Políticas Públicas positivadas, muitas não são efetivas.
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Para demonstrar isso, é necessário apontar casos de ineficácia do princípio da


dignidade humana, um exemplo claro é sobre mulheres algemadas em seus partos,
que fere a Lei n. 13.434, que veda o uso das mesmas em gestantes ao longo de atos
médicos em seu trabalho de parto e mesmo assim ocorrem, evidenciando que o
Sistema carece de políticas públicas eficientes também na pratica.
Portanto, é possível notar que mesmo estando previstas todas as garantias
direcionadas para as mulheres encarcerada, não há aplicação dessas normas de
forma efetiva no Sistema atual.

3.2 A Ressocialização: Análise da Prática vs Teoria


Em tese o presídio não pode ser somente um deposito de pessoas, é adotado
um sistema onde as presas trabalham, seja na cozinha do presidio, ou empresas que
fazem parceria com a Secretaria de Justiça, e através desse convenio absorvem a
mão de obra delas, eles pagam um salário mínimo e ainda a remissão de pena, ou
seja, a cada três dias equivalem a um dia a menos de pena, este salário é dividido,
uma parte fica no pecúlio que seria uma poupança, que elas podem retirar quando
saem de alvará, uma parte vai para a família e o fundo rotativo que volta pra Secretaria
de Justiça.
Na unidade prisional se observa que, das mulheres que saem, a maioria que
voltam, que são reincidentes, são mulheres que tem dependência química e não
encontram suporte externo fora do cárcere, ou dificuldade em conseguir um emprego,
por isso as políticas do presidio focam em oferecer as presas durante o cumprimento
de suas penas capacitação profissional e escolarização.
A dificuldade de ressocialização marca a vida das mulheres após o cárcere, 7
em cada 10 pessoas voltam para o Sistema prisional depois de soltas, mesmo as que
tentam ir atrás de oportunidades, encontram grande dificuldade em conseguir trabalho
e seguirem com suas vidas longe do crime, o registro no sistema prisional interfere na
busca por uma vida mais digna, elas saem esperançosas e ansiosas por um
recomeço, mas se deparam muitas vezes com a rejeição de suas próprias famílias e
também do mercado de trabalho, na maioria das vezes só encontram portas abertas
de volta ao mundo do crime. É difícil se falar em ressocialização de pessoas que as
vezes não foram se quer socializadas, ou de reinserir pessoas que nunca foram
inseridas, e sempre viveram à margem da sociedade.
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Portanto, o cárcere como é atualmente intensifica a corrupção da pessoa


presa, muitas vezes pela falta de estrutura, superlotação e ausência de
oportunidades do lado externo, reforça valores negativos, tornando inalcançável o
objetivo de ressocializar. (ROSSINI, 2015).

3.3 A necessidade do Princípio da Dignidade da Pessoa humana para a mulher


presa como requisito fundamental para sua sobrevivência no cárcere

É necessária uma análise ampla para compreender os desafios da mulher


frente ao cárcere, no que se refere as condições em que vivem e que ferem a sua
dignidade enquanto pessoa. A maior dificuldade para manter a aplicabilidade do
princípio da dignidade da pessoa humana consiste nas condições muitas vezes
precárias nas penitenciarias brasileiras, como a insalubridade do ambiente, presença
de insetos e roedores, escassez de produtos de higiene íntima, muitas vezes úmidos,
de pouca iluminação, presença de dióxido de carbono proveniente do suor, odores
ruins, superlotação, alta transmissão de doenças infecciosas, movimentação dos
autos da justiça feitos de forma tardia, falta de orçamento do Estado para novos
presídios ou ampliações nos presídios já existentes dessa forma corroborando para
aglomeração das pressas.
Nota-se grande descaso com o Princípio da Dignidade Humana nas estruturas
prisionais brasileiras, uma solução viável para contornar a violação desse direito,
poderiam ser medidas de desencarceramento para mulheres que cometem pequenos
crimes, toda via, estas são muito mal vistas pela sociedade. Sendo a liberdade uma
regra e sua privação uma exceção, seria de bom tom manter o cárcere para aqueles
que cometeram crimes bárbaros, e que oferecem risco ao estarem em sociedade.
(BRASIL, 1988)

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Estado brasileiro no sistema penitenciário feminino é o grande responsável
por garantir a ressocialização da mulher presa condições dignas no do cárcere, para
evitar que o objetivo da ressocialização seja comprometido, a lei de execução penal
estabelece as assistências fundamentais a mulher neste cenário, como: saúde,
material, jurídica, educacional, religiosa e social. Todavia, na prática, o objetivo do
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sistema encontra-se comprometido na tentativa de ressocialização da mulher e de


faze-la retornar ao convívio social. Dessa forma, apesar da lei de execução penal
prever tantas garantias, ela não é aplicada de forma eficaz. A atual situação do
sistema carcerário feminino necessita de um olhar especial, porque as normas
vigentes no país não traduzem a realidade dos presídios.
Portanto, é certo dizer que as garantias norteadas pelo princípio, encontram
dificuldades na prática, se faz necessário maior sensibilização em favor dessas
mulheres.
A noção de dignidade da pessoa humana se mistura com a definição material
de Constituição, já que a preocupação com o ser humano se consagrou como uma
das finalidades constitucionais. A dignidade da pessoa humana é um princípio
constitucional, não se revestindo apenas do caráter normativo, acrescendo-lhe
aspectos ético-valorativos.
Tal princípio da dignidade da pessoa humana é o núcleo de todos os direitos
fundamentais. Mesmo prevalecendo em face dos demais princípios do ordenamento
não há como afastar a necessária relativização do princípio da dignidade da pessoa
em homenagem à igual dignidade de todos os seres humanos, considerando os
recortes de sexo, classe social, etnia, religião e orientação sexual.
O Direito Constitucional consagra a todos os seres humanos a dignidade, em
caráter amplo e irrestrito, como valor inerente a todo ser humano. A dignidade humana
representa superar a intolerância, a discriminação, a exclusão social, a violência, a
incapacidade de aceitar o diferente. Tem relação com a liberdade e valores do espírito
e com as condições materiais de subsistência da pessoa.
Por isso, especialmente a mulher presa inserida neste contexto, precisa ser
reconhecida como ser dotado de dignidade, entendendo-se esta como qualidade
inerente à essência do ser humano, bem jurídico absoluto, portanto, inalienável,
irrenunciável e intangível, dessa forma ampliando políticas que contemplem suas
necessidades não só na teoria, mas também na pratica.
Nesse sentido, entende-se que a sociedade brasileira precisa compreender
que encarcerar não deveria ser a única saída, e sim adotar medidas alternativas à
prisão, e dessa forma fazer valer o ideal de humanizar as penas e do progressista
princípio da legalidade.
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REFERÊNCIAS
DZIMIDAS e ABRAMOVAY. Centro de Estudios de Derecho Penitenciario/USMP,
2010, P.1
BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das Penas, 2017, p. 7

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2017, p. 7

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Disponívelem:<http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen/relatorio_2016_2
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7210.htm. Acessado em set de 2022

SOUZA, Rafaella Matos. O Dignidade à dignidade humana no cárcere: um olhar sobre


as unidades prisionais de Palmas. Disponível em:
https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/53972/o-direito-dignidade-humana-
no-crcere-um-olhar-sobre-as-unidades-prisionais-de-palmas-tocantins

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