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DISCORRAM SOBRE OS PRINCÍPIOS QUE ENVOLVEM OS CONTRATOS INTERNACIONAIS

Os contratos internacionais são as formas mais atuais e necessárias de formalizar uma


relação entre as partes que estão negociando algo internacionalmente, devendo seguir
diversos princípios para nortear as tratativas e até mesmo a discussão administrativa ou
judicialmente do mesmo.

Considerando a infinidade de princípios de cada país e visando harmonizar as políticas


internacionais de contratos, podemos separá-los por algumas categorias, sendo elas as
principais em termos de princípios de contratos internacionais: princípios fundamentais do
GATT (General Agreement on Tariffs and Trade); princípios gerais dos contratos; Princípios do
Unidroit.

I - Princípios Fundamentais do GATT (General Agreement on Tariffs and Trade)

O GATT foi criado em 1947 com o intuito de harmonizar as políticas aduaneiras de seus
Estados signatários, e traz consigo um conjunto de acordos, normas e concessões tarifárias
com o objetivo de promover, reduzir e até mesmo eliminar barreiras comerciais entre os
Estados.

Os princípios fundamentais do GATT são:

a) Princípio da não discriminação: está disposto nos artigos I e III do GATT 1994. Este
princípio estabelece que os países da OMC (Organização Mundial de Comércio) deverão
conceder a um país todos os mesmos tratamentos aos demais países, não podendo conceder
tarifas, produtos, benefícios ou quaisquer outras condições especiais, nem discriminar outro
país ou os produtos comercializados. A respeito dos produtos, não poderá haver discriminação
entre os produtos importados ou nacionais, especialmente tributária.

b) Princípio da proteção transparente e base estável: as tarifas máximas de cada produto


devem ser praticadas de acordo com as listas que são partes integrantes do Acordo Geral. Vida
estabelecer uma base sólida e estável para as partes, possibilitando também a redução nas
alíquotas incidentes sobre as mercadorias, e, até mesmo, sua eliminação.

c) Princípio da concorrência leal: com este princípio visa-se combater práticas abusivas no
comércio, especialmente em decorrência da implementação do Acordo de Antidumping e o
Acordo de Subsídios.

d) Princípio da proibição de restrições quantitativas: veda restrições quantitativas por


proibições ou quotas. Contudo, é sempre importante observar as quotas tarifárias que apenas
nas listas dos adendos do Acordo. A exceção deste princípio são os países em
desenvolvimento, que poderão utilizar medidas restritivas como uma forma de impedir saídas
excessivas de divisas em virtude das importações, em resumo aos artigos XVIII e XIII do GATT
1994.

e) Princípio do tratamento especial e diferenciado para países em desenvolvimento:


assim como o princípio anterior já traz um exemplo, os países em desenvolvimento recebem
uma espécie de incentivo, com tratamentos mais favoráveis, permitindo a adoção de tarifas
diferente conforme a origem dos produtos, não seguindo, portanto, as tarifas das listas dos
adendos do Acordo.

II - Princípios Gerais dos Contratos


Os princípios a seguir são os principais quando falamos de contratos em si, sejam eles
internos ou internacionais:

a) Princípio da autonomia privada: também pode ser chamado de “princípio da


autonomia das partes”. As partes têm liberdade que as partes têm no tocante à celebração do
contrato, forma e seu conteúdo, assim como sobre o que e com quem irão contratar. A
autonomia deve, contudo, seguir as limitações impostas pelo interesse público, uma vez que
sempre prevalece o interesse público sobre o privado, assim como de normais que afetem e
que limitem a autonomia das partes na celebração do contrato.

b) Princípio da supremacia da ordem pública: como já dito no princípio da autonomia


privada, existem situações em que o Estado irá intervir no contrato, estabelecendo regras a
fim de coibir condutas abusivas por qualquer das partes. Este princípio visa, portanto, garantir
que a função social do contrato seja cumprida.

c) Princípio da pacta sunt servanda: também conhecido como “princípio da


obrigatoriedade”. Por meio deste princípio, entende-se que as partes devem cumprir o
contrato, o acordo de vontade que foi prévia e livremente firmado entre ambas. As exceções
da não aplicação deste princípio aparecem quando há uma determinação judicial ou mudança
no equilíbrio contratual.

d) Princípio do rebus sic stantibus: o presente princípio preceitua que o contrato poderá
ser modificado quando ocorrer mudanças que onerem excessivamente alguma(s) das partes
devido a mudanças ocorridas nos cenários político, econômico e social do(s) país(es).

e) Princípio da boa-fé e lealdade contratual: uma parte deve ser leal com a outra,
transmitindo confiança, afim de alcançar a moralidade que se espera da relação, tanto na
negociação quanto no cumprimento do contrato.

III – Princípios do Unidroit

O Unidroit é o Instituto Internacional para a Unificação do Direito Privado. Foi criado em


1926 para auxiliar a Liga das Nações, e tem o propósito de contribuir para a criação de
uniformização do direito. Os princípios do Unidroit visam, portanto, ser um instrumento
internacional para a uniformização dos contratos internacionais comerciais.

Os principais princípios são: princípio da autonomia privada (incluindo a liberdade


contratual e de forma), princípio do pacta sunt servanda, princípio da boa-fé e da lealdade
contratual, todos já citados nos princípios gerais dos contratos, além dos que seguem, sendo
que a explicação de cada um deles foi extraída dos próprios artigos dos Princípios:

a) Princípio da vedação do venire contra factum proprium: também conhecido como


“princípio da vedação do comportamento contraditório”. Estabelece que as partes devem
manter uma postura coerente durante todas as fases do contrato, desde sua formação à sua
execução (GAMA JÚNIOR, Lauro. Contratos Internacionais à Luz dos Princípios do UNIDROIT –
2004 – Soft Law, Arbitragem e Jurisdição, p. 324), protegendo assim uma expectativa criada a
respeito das partes.

b) Princípio da primazia das regras imperativas: dispõe que os princípios não limitam a
aplicação de regras imperativas nacionais, internacionais ou supranacionais aplicáveis
conforme regras do direito internacional privado.
c) Princípio da natureza dispositiva dos Princípios: por meio deste, as partes podem
excluir ou derrogar a aplicação dos princípios nos contratos, modificar seus efeitos, exceto se
estiver especificada nos próprios princípios a impossibilidade de sua alteração ou exclusão.

d) Princípio do Consensualismo: indo de acordo com o princípio da autonomia privada,


estabelece que as partes são livres para convencionar como este contrato serão firmado, em
sua forma, e como poderá ser provado, sendo cabíveis quaisquer meios, inclusive
testemunhal.

e) Princípio da Internacionalidade e Uniformidade: utilizado para a interpretação dos


Princípios e contratos. Pelo princípio da internacionalidade, os contratos devem ser
interpretados de moo autônomo, em um sentido amplo e internacional, e não direcionar a
interpretação a um sentido nacional. Já, pelo princípio da uniformidade, devem-se interpretar
os contratos, sempre que possível, que forma igual ou semelhante em todos os países.

f) Princípio da primazia dos usos e práticas: os usos e costumes têm força vinculante nas
práticas adotadas no contrato internacional, desde que forem consentidos entre as partes. Da
mesma forma, podem afastar práticas e usos se tiver sido realizado expressamente.

g) Princípio da recepção: segundo este princípio, a oferta se aperfeiçoa quando chega ao


seu destinatário final, a aceitação quando chega ao seu ofertante e, as demais manifestações
de intenções, quando chegam aos seus respectivos destinatários.

h) Princípio do favor contractus: estabelece que, se o contrato estiver em uma situação


em que pode ser cumprido ou terminado, terá preferência ser cumprido.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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stantibus e as teorias da imprevisão e da onerosidade excessiva. Disponível em:
<https://jus.com.br/artigos/18694/revisao-contratual-comentarios-sobre-a-clausula-rebus-sic-
stantibus-e-as-teorias-da-imprevisao-e-da-onerosidade-excessiva>. Acesso em 09/09/2019.
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em <http://www.cartaforense.com.br/conteudo/artigos/principios-uniformes-aplicados-aos-
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COSTA TOIGO, Daiille. Os princípios do UNIDROIT aplicáveis aos contratos internacionais do
comércio. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/17715/os-principios-do-unidroit-
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GAMA JÚNIOR, Lauro. Os princípios do UNIDROIT relativos aos contratos do comércio
internacional: Uma nova dimensão harmonizadora dos contratos internacionais. Disponível
em: <https://www.oas.org/dil/esp/95-142%20Gama.pdf>. Acesso em 09/09/2019.
GAMA JÚNIOR, Lauro. Contratos Internacionais à Luz dos Princípios do UNIDROIT – 2004 –
Soft Law, Arbitragem e Jurisdição. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.
GONÇALVES E SOUSA, Ricardo. Dos contratos internacionais de comércio: uma abordagem
dos seus aspectos conceituais e positivos. Disponível em:
<https://jus.com.br/artigos/42670/dos-contratos-internacionais-de-comercio>. Acesso em
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PEREIRA, Jailson. Os princípios do unidroit. Disponível em:
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Lauro Gama Júnior. Disponível em:
<https://www.unidroit.org/english/principles/contracts/principles2010/translations/
blackletter2010-portuguese.pdf>. Acesso em 09/09/2019.

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