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4.

A Política Comercial Comum


4.1 A necessidade de uma politica comercial comum
A criação de um mercado comum foi desde sempre uma das grandes ambições das Comunidades
Europeias. Já em 1951, quando vários países Europeus assinaram o tratado que instituiu a Comunidade
Europeia do Carvão e do Aço - CECA (Tratado de Paris de 1951), já se tinha como objetivo a constituição de
um mercado comum. 1
Em 1957 dá-se o Tratado de Roma em que a CECA passou a designar-se Comunidade Económica Europeia –
CEE, que estabeleceu como objetivo imediato a formação do mercado comum2 , no qual então se iniciou o
desenvolvimento do mercado comum, cuja para sua concretização, o Tratado previa a duração de doze
anos (31 de dezembro de 1969) A ideia de mercado comum cingia na liberdade de circulação de
mercadorias, trabalho, pessoas, serviços e capitais.
Uma vez instituído o mercado comum surgiu a necessidade de criar uma política comercial comum para a
regulação das relações externas3 .No entender de João Mota de Campos “ os Estados-membros, ao aceitar
a livre circulação, no interior da Comunidade, não só nos produtos originários de qualquer deles mas,
igualmente, dos importados de terceiros países, que se achem em «livre prática» no espaço comunitário; e
ao concordar na fixação de uma pauta aduaneira comum, perderam a possibilidade de negociar acordos
comerciais e, em geral, de tentar controlar o seu comércio de importação e exportação com terceiros
países mediante o recurso aos meios tradicionais ( direitos aduaneiros e contingentação˜).” Quer isto dizer
que os países membros da UE se viram obrigados a aderir a uma política comercial comum para toda a
Comunidade, visto que neste contexto as política nacionais já não faziam sentido.4 O
ser da politica comercial comum vem relacionar-se com o disposto do art. 206.º do TFUE: “ a União
contribui, no interesse comum, para o desenvolvimento harmonioso do comércio mundial, para a
supressão progressiva das restrições às trocas internacionais e aos investimentos estrangeiros directos e
para a redução das barreiras alfandegárias e de outro tipo.”
A política comercial comum da União Europeia constitui uma das principais matérias das suas relações com
o mundo. 5 Esta baseia-se num conjunto de princípios uniformes, nomeadamente em relação "às
modificações pautais, à celebração de acordos pautais e comerciais sobre comércio de mercadorias e
serviços, e aos aspetos comerciais da propriedade intelectual, ao investimento estrangeiro directo, à
uniformização das medidas de liberalização, à política de exportação, bem como às medidas de defesa
comercial, tais como as medidas a tomar em caso de dumping e subsídios., como consta no nº 1 do artigo
207.º do TFUE .6 A política comercial comum é dirigida de acordo com estes princípios e com os objetivos
da ação externa da União7.
Cabe ao Parlamento Europeu e ao Conselho, determinar as medidas que estabelecem o panorama na qual
se irá desenvolver a política comercial comum, através de regulamentos aplicados de acordo com o
processo legislativo ordinário. 81
1
1 Miguel GORJÃO-HENRIQUES – Direito da União – Objetivos e Modelos da Integração Económica, 9ª Edição, Almedina,
Coimbra, 2022, pp. 509-510 ISBN: 9789724076584
2 IDEM – Ibidem, p. 511
3 João Mota de CAMPOS – Direito Comunitário – I vol. O Direito Institucional, 8ª Edição, Editora: Fundação Calouste
Gulbenkian, Lisboa,1997, p.500. ISBN: 9723107767
4 IDEM – Ibidem
5 Eur- lex – Politica Comercial UE, pesquisável em: https://eur-lex.europa.eu/PT/legal-content/glossary/eu-trade-policy.html
(cons. 29 nov. 2023)
6 Miguel GORJÃO-HENRIQUES – Tratado de Lisboa – Titulo II A política comercial comum, 10ª Edição, Almedina, Coimbra,
2021, p. 145. ISBN: 9789724097978
7 IDEM – Ibidem
8 IDEM – Ibidem

9 Acordos Comerciais da UE, pesquisável em: https://www.consilium.europa.eu/pt/ (cons. 30 nov. 2023)


4.2 Negociações e acordos comerciais
A UE regula as relações comerciais com países terceiros ou organizações internacionais, por meio da
celebração de acordos comerciais, destinados a estabelecer melhores oportunidades de comércio,
facilitando as exportações e criando laços comerciais mais sólidos com os outros países9. Estes acordos,
integram, então todos os países da UE e o modo como se relacionam comercialmente com os outros.
Podem traduzir-se em acordos de parceria económica, isto é, acordos de ajuda para os seus parceiros
comerciais; acordos de comércio livre que proporcionam uma abertura mútua tanto para as economias
desenvolvidas como para as que se encontram em desenvolvimento; acordos de associação e acordos
comerciais não preferenciais. 10 O seu processo encontra-se nos termos definidos no art.218.º e e no nº3 e
4 do art. 207.º do TFUE.
Em virtude dos acordos comerciais, a UE encontra-se numa posição privilegiada no comércio mundial.11
Os acordos comerciais constituem, assim um forte impulsionador para o incremento económico, sendo, por
isso, um elemento vital para a politica comercial da UE.
A União, todos os dias, importa e exporta mercadorias de centenas de milhões de euros ( contém 16% das
importações e exportações) e é assim, o maior exportador do mundo de bens, mercadorias e serviços com
mais de 446 milhões de consumidores 12

4.2.1 Acordo Comercial entre a EU e os Estados da Mercosul


A 12 de julho de 2023 a UE tinha 130 acordos comerciais em vigor, processo de negociação ou adoção. 13
Um deles, é o acordo entre a UE e os estados da Mercosul ( Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai que
chegaram, a 28 de junho de 2019 a um “ acordo comercial ambicioso, equilibrado e abrangente”
Os objetivos deste acordo são: “aumentar o comércio e o investimento bilateral e reduzir as barreiras
comercias tarifárias e não tarifárias nomeadamente para as pequenas e médias empresas; criar regras mais
estáveis e previsíveis para o comércio e o investimento através de regras melhores e mais fortes, por
exemplo, na área dos direitos de propriedade intelectual ( incluindo indicações geográficas), normas de
segurança alimentar, concorrência e boas práticas regulamentares e promover valores comuns como o
desenvolvimento sustentável, reforçando os direitos dos trabalhadores, combater as alterações climáticas,
aumentar a proteção ambiental, incentivar as empresas a agir de forma responsável e defender elevados
padrões de segurança alimentar”
Ambas as partes se encontram beneficiadas com o acordo, pois este origina oportunidades de emprego,
crescimento e desenvolvimento sustentável tanto para a UE como para o Mercosul. 14

4.3 A OMC

10
11 Importação, exportação e comércio na União Europeia, pesquisável em: https://www.google.com/url?
sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&ved=2ahUKEwja8s3Ls4CDAxX1SKQEHUjpBO8QFnoECA4QAQ&url=https%3A
%2F%2Feuropean-union.europa.eu%2Flive-work-study%2Fimport-and-
export_pt&usg=AOvVaw3fTIMFNDbcvfbBb0GG7J0h&opi=89978449 ( cons. 30 nov. 2023)
12 https://www.google.com/url?
sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&ved=2ahUKEwja8s3Ls4CDAxX1SKQEHUjpBO8QFnoECA4QAQ&url=https%3A
%2F%2Feuropean-union.europa.eu%2Flive-work-study%2Fimport-and-
export_pt&usg=AOvVaw3fTIMFNDbcvfbBb0GG7J0h&opi=89978449 ( cons. 30 nov. 2023)
13 Acordos Comercias: a posição da UE no mundo, pesquisável em: https://www.google.com/url?
sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&ved=2ahUKEwiYs7eytYCDAxUtSaQEHUJRAtcQFnoECCQQAQ&url=https%3A
%2F%2Fwww.europarl.europa.eu%2Fnews%2Fpt%2Fheadlines%2Feconomy%2F20180703STO07132%2Facordos-comerciais-
a-posicao-da-ue-no-mundo&usg=AOvVaw3_qTvFy_jOhrpsVaAt9AFW&opi=89978449 ( cons. 1 dez. 2023)
14 https://policy.trade.ec.europa.eu/eu-trade-relationships-country-and-region_en
Nos primórdios do século XX, as adversidade comerciais levaram os países a ter relações cada vez mais
complexas, surgindo por isso a necessidade da criação de uma organização a fim de facilitar e dirigir os
acordos comerciais.15 Em 1947
realizou-se o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), que estabeleceu regras para melhorar o
comércio. Mais tarde, o GATT foi substituído pela Organização Mundial do Comércio (OMC), criada em
1994 na Conferência de Marraquexe, no âmbito das negociações comerciais multilaterais do Uruguay
Round que passou a ser a instituição reguladora da politica comercial internacional, em função das regras e
princípios já vigorantes no GATT. 16
A OMC nos disposto do art. II do acordo do Uruguay Round tem a missão de constituir o enquadramento
institucional comum para o comando das relações comerciais entre os seus membros em tópicos
referentes aos acordos e instrumentos jurídicos conexos anexados no acordo. 17
Traduz-se então, numa instituição destinada a gerir o comércio internacional assente em regras e princípios
fundamentais, que compõem a base do sistema comercial, atuando como espécie de fórum de negociação
dos acordos comerciais entre os vários países 18 As
suas funções encontram-se no art. III do seu acordo fundador.
Resumem-se em: administrar o funcionamento e aplicação dos acordos comerciais ; funcionar como fórum
para as negociações comerciais ; resolver os litígios comerciais por meio do Órgão de Resolução de Litígios
(ORL) apoiar as politicas comerciais nacionais dos seus membros ; auxiliar os países em desenvolvimento
oferecendo-lhes assistência técnica e formação; resolver as disputas comerciais e cooperar com as outras
organizações internacionais de modo a garantir coerência na formulação das diretrizes sobre a economia
mundial 19 Graças às
regras impostas pela OMC, o comercio tem-se tornado mais estável e previsível, pois os consumidores
sabem que podem contar com abastecimentos seguros e de uma maior oferta de produtos, matérias -
primas e serviços. O grande objetivo da OMC é a realização de um mundo económico o mais pacífico,
prudente, agradável, previsível, próspero e livre possível, de maneira a que todos os seus membros possam
utilizá-lo da melhor forma possível, sem quaisquer distinções, com base no princípio da não discriminação,
ajudando, por isso, os países mais atrasados a construir a sua capacidade comercial. 20
2

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (Segunda Secção)

2
15 Fichas temáticas sobre a União Europeia – A União Europeia e a Organização Mundial do Comercio
16 Andreia BARBOSA – Direito Aduaneiro Multinível, Editora: Petroy, Almedina, 2022, p.499. ISBN: 9789726853176
17 IDEM- Ibidem, p.500
18 OMC em resumo, pesquisável em: https://www.wto.org/ (cons. 5 dez. 2023)
19 A OMC, pesquisável em: https://www.wto.org/english/thewto_e/thewto_e.htm (cons. 5 dez. 2023)
20 OMC em resumo, pesquisável em https://www.wto.org/english/thewto_e/whatis_e/inbrief_e/inbr_e.htm (cons. 5 dez. 2023
21 de setembro de 2023 (*)

Índice«Recurso de decisão do Tribunal Geral — Dumping — Regulamento de Execução (UE) 2018/140 — Importações
de determinados artigos de ferro fundido originários da República Popular da China e da Índia — Direito antidumping
definitivo — Recurso de anulação — Admissibilidade — Legitimidade processual ativa — Associação representativa de
exportadores — Regulamento (UE) 2016/1036 — Artigo 3.o, n.os 2, 3, 6 e 7 — Prejuízo — Cálculo do volume das
importações — Elementos de prova positivos — Exame objetivo — Extrapolação — Cálculo do custo de produção da
indústria da União Europeia — Preços faturados no interior do grupo — Nexo de causalidade — Análise do prejuízo
por segmento — Inexistência — Artigo 6.o, n.o 7 — Artigo 20.o, n.os 2 e 4 — Direitos processuais

Após uma denúncia apresentada por produtores europeus de artigos de ferro fundido, a Comissão
Europeia, na sequência do seu inquérito antidumping, adotou o Regulamento de Execução 2018/140
(1), que institui um direito antidumping definitivo sobre as importações de determinados artigos de
ferro fundido originários da República Popular da China (a seguir «produto em causa»).

título preliminar, o Tribunal de Justiça recorda que, em conformidade com o artigo 263.°, quarto
parágrafo, TFUE, qualquer pessoa singular ou coletiva pode interpor recursos contra os atos de que
seja destinatária em duas hipóteses alternativas, a saber, por um lado, contra os atos que lhe digam
direta e individualmente respeito, bem como, por outro, contra os atos regulamentares que lhe
digam diretamente respeito e não necessitem de medidas de execução.

No que respeita à afetação individual, resulta da jurisprudência que, entre as pessoas que podem ser
individualizadas por um ato da União da mesma forma que os destinatários de uma decisão, figuram
as que participaram no processo de adoção desse ato, unicamente, porém, no caso de a
regulamentação da União ter previsto garantias processuais em benefício dessas pessoas.

No caso em apreço, o Tribunal Geral considerou que o regulamento controvertido dizia


individualmente respeito à CCCME pelo facto de, durante todo o processo que conduziu à adoção
desse regulamento, a Comissão a ter considerado como uma parte interessada que representava,
nomeadamente, a indústria chinesa do produto em causa, e lhe ter conferido direitos processuais
tais como o direito de acesso ao processo de inquérito, o direito de lhe serem comunicadas as
conclusões provisórias e finais, o direito de apresentar observações sobre as mesmas e o direito de
participar em audições organizadas no âmbito desse processo.

Todavia, ao não verificar se esses direitos processuais foram legalmente concedidos à CCCME, o
Tribunal Geral cometeu um erro de direito na análise da afetação individual e reiterou
posteriormente esse erro na análise da afetação direta desta.

este respeito, o Tribunal de Justiça observa que, embora certas disposições do regulamento
antidumping de base (4) confiram certos direitos processuais às associações representativas dos
importadores ou exportadores do produto objeto de dumping, este não define o conceito de
«associação representativa dos importadores ou exportadores».

Tendo em conta não só os termos das disposições em que figura mas também o contexto em que se
inserem e os objetivos prosseguidos pela regulamentação de que fazem parte, o Tribunal de Justiça
salienta, em primeiro lugar, que o referido conceito não designa pessoas ou entidades que
representem interesses diferentes dos de importadores ou de exportadores, tais como, em especial,
os interesses estatais.

Assim, essas associações só podem ser consideradas uma associação representativa na aceção deste
regulamento se não estiverem sujeitas a uma ingerência do Estado exportador, antes gozando, pelo
contrário, da independência necessária face a esse Estado para que possam efetivamente agir como
representantes dos interesses gerais e coletivos dos importadores ou dos exportadores, e não como
uma fachada do referido Estado.

Em segundo lugar, o objeto dessa associação deve incluir a representação dos importadores ou
exportadores do produto objeto do inquérito antidumping, o que requer que, entre os membros
desse agrupamento, figure um número importante de importadores ou de exportadores cujas
importações ou as exportações desse produto sejam significativas.

Ora, embora a CCCME tenha entre os seus membros produtores-exportadores do produto em causa
e esteja autorizada a proteger os interesses dos mesmos, não dispõe de independência suficiente
face às instâncias estatais chinesas para poder ser considerada uma «associação representativa» dos
exportadores do produto em causa.

O Tribunal de Justiça conclui que a CCCME não dispunha de legitimidade processual ativa nos termos do
artigo 263.°, quarto parágrafo, TFUE, pelo que o recurso que interpôs em nome próprio deve ser julgado
inadmissível e que o Tribunal Geral analisou erradamente os fundamentos de recurso relativos a uma
violação dos direitos processuais da CCCME

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