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ALEX BACHMEYER ALZUGUIR

A LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO EM


TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO POLICIAL
ALEX BACHMEYER ALZUGUIR

A LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO EM


TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO POLICIAL

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Anhanguera, como
requisito parcial para a obtenção do título
de graduado em Direito.

Orientador: Déborah Cristina Stagliano

São Paulo
2021
ALEX BACHMEYER ALZUGUIR

A LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO EM TRABALHO


DE INVESTIGAÇÃO POLICIAL

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Anhanguera, como
requisito parcial para a obtenção do título
de graduado em Direito.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________
Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

______________________________________
Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

______________________________________
Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

São Paulo,___de____________de 2021.


BACHMEYER, Alex Alzuguir. A LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO EM
TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO POLICIAL. 32 FOLHAS. Trabalho de conclusão de
curso Graduação em Direito – Anhanguera, São Paulo, 2021.

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo trazer ao conhecimento de quem vos lê a


legitimidade da instituição Ministério Público em trabalho investigativo policial. Para
tal objetivo, utilizou-se o método de pesquisa bibliográfica e no decorrer será
expresso a evolução histórica desde os primeiros indícios de semelhanças e
existência da instituição até de fato a origem. Na sequência será abordado a
evolução das formas de sistemas processuais penais até atual utilizada no Brasil e,
por fim, será relatado o amparo legal e suas peculiaridades utilizadas pela
instituição.

Palavra-chave: Legitimidade. Investigação. Ministério Público. Ordem jurídica.


BACHMEYER, Alex Alzuguir. A LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO EM
TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO POLICIAL. 32 FOLHAS. Trabalho de conclusão de
curso, Graduação em Direito – Anhanguera, São Paulo, 2021.

ABSTRACT

This work aims to bring to the knowledge of those who read the legitimacy of the
Public Prosecutor's Office in police investigative work. To do so, use the bibliographic
search method and the historical evolution will be expressed from the first indications
of similarities in the institution's existence to the origin. In the sequence, the evolution
of the forms of criminal procedural systems until the current one used in Brazil will be
addressed and, finally, the legal protection and its peculiarities used by the institution
will be reported.

Keywords: Legitimacy. Investigation. Public ministry. Legal order


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO………………………………………………………………………….7
2. ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DESDO ANTIGO EGITO À FRANÇA DE
FELIPE, O BELO……………………………………………………………………………9
3. SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS………………………………………………16
4. MINISTÉRIO PÚBLICO EM SEU ÂMBITO DE ATUAÇÃO……………………...23
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS………………………………………………………….28
REFERÊNCIAS…………………………………………………………………………….30
1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico tem como objetivo elucidar as dúvidas


geradas quando há a atuação do Ministério público, diretamente, sem intervenção
de órgãos terceiros, em trabalho investigativo policial.
Para tal o autor mergulhou nas literaturas aprofundando o conhecimento
direcionado ao órgão Ministério Público como uma entidade pública independente e
essencial que possui autonomia funcional e administrativa, sendo apenas
subordinada à Constituição Federal, e que possui o poder de autolegislar e
administrar seus próprios negócios. Esta instituição tem como objetivo principal
garantir o cumprimento das normas e a segurança dos interesses sociais disponíveis
e indisponíveis. Para que atinja o objetivo, ele traz a passagem histórica da
instituição desde o Antigo Egito até os tempos atuais. Explicou que a estrutura do
Ministério Público que conhecemos não surgiu de uma hora para outra e muito
menos de uma simples norma constituinte. Sua estrutura denominou-se de um vasto
lapso de tempo com a evolução histórica. Tudo que hoje tornou-se norma, foi
surgindo conforme as necessidades que foram aparecendo no meio social de cada
época. Foi abordado todo contexto e referenciado todas possíveis características
semelhantes até os moldes que hoje impera no âmbito jurídico. Denota também as
distinções entre as instituições inquisitórias das acusatórias minuciando todo o
amparo legal e de onde originou-se a necessidade de tais distinções entre as
entidades. Com essa abordagem e mergulho literário, traz um vasto conhecimento
qualitativo a quem vos ler. E para se chegar ao objetivo citado, o autor buscou, de
forma cautelosa e minuciosa, atentando-se aos detalhes históricos e legislativos que
pôde encontrar utilizando a pesquisa em diversas bibliografias de autores
renomados e artigos publicados no próprio site da instituição palco deste trabalho.
O autor determinou-se a trazer, ao conhecimento de todos, o tema discorrido
por ter curiosidade na origem da instituição e por ter ficado ausente este
conhecimento durante os longos anos que esteve como aluno. Pois em nenhuma
matéria foi abordado detalhadamente o assunto e muitas das vezes que o autor
indagava aos professores sobre o tema, obtinha respostas genéricas do tipo: “O
Ministério Público pode investigar diretamente por que está legislado”, e muitos dos
professores não sabiam onde estavam o amparo legal para a ação direta e nem o
por quê a instituição recebeu a tutela da ação penal pública. Cabe ressaltar que
todos os professores que foram indagados eram especialistas em direito penal e
direito processual penal e sabiam toda a matéria com apuro e excelência, entretanto
com essa lacuna.
2.ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DESDO ANTIGO EGITO À FRANÇA DE
FELIPE, O BELO

É muito debatido a origem exata da histórica do Ministério Público. É correto


afirmar que a história se constitui de forma contínua e longa com o passar dos
tempos, desde o Estado Moderno até os dias atuais. Para enfatizar tal síntese
histórica, Meireles relata em seu artigo sobre gênese e história da instituição “do
Antigo Egito à França de Felipe – O Belo – o estudioso vai encontrar, todas
organizações estatais das civilizações antigos traços identificadores da instituição
nascente que paulatinamente ganhava contornos definitivos ao longo dos tempos”
(2000. p. 97)
Pôde-se constatar que há divergência nas doutrinas ao falar sobre as origens
do Ministério Público. Na visão de Rangel (2012, p. 93), para alguns doutrinadores
do assunto, a origem da Instituição, denominou-se no Antigo Egito (4 mil anos AC),
exatamente na figura do Magiaí, este era um funcionário da realeza do Egito que
tinha a função principal de “língua e olhos do rei”, agia punindo rebeldes, protegendo
os cidadãos pacíficos, ouvindo relatos de acusações, mostrando o amparo legal
pertinente e diligenciando os fatos e apurando a veracidade dos relatos. Ao se
analisar algumas das funções do funcionário real, pode-se dizer que não havia um
Ministério Público propriamente dito, entretanto as tarefas são muito semelhantes às
de um promotor nos dias de hoje.
Em outro seguimento, existe uma breve desconfiança de uma possível origem
histórica na antiguidade clássica, firmando que sua formação advém de entidades
da época, como: a) os Éforos de Esparta, que exerciam as funções de juízes e
também funções acusatórias; b) os Tesmótetas gregos, que possuíam a atribuição
de garantir o cumprimento da lei; e c) os Censores que zelavam pela moral pública,
eram os magistrados que zelavam pela moralidade pública.
Ainda que haja motivo para acreditar que a origem do Ministério Público,
baseado no modelo contemporâneos, encontre-se em Roma ou na Grécia da
antiguidade, Lyra, destaca com relevância: “os gregos e os romanos não
conheceram, propriamente, a instituição do Ministério Público.” (LYRA, 1937, p. 09).
Os especialistas no assunto possuem diversas razões para negar a existência
do Ministério Público entre os gregos. Pois a ferramenta básica da instituição: ação
pública, era exercida pelas vítimas ou familiares, na decisão de processar ou não o
criminoso. Na democracia regida na época, participava de forma ativa nas diretrizes
da nação apenas um grupo restrito dos civis da República e Atenas. Logo não havia
necessidade de existência de um órgão específico com funções do Ministério
Público.
Mesmo que em Roma tenha existido instituições com funções diversas como
a do parquet, seria um erro afirmar que essas instituições possam ser as origens do
Ministério Público. Embora exista doutrinadores apontando os procuradores dos
dirigentes romanos como ascendentes da instituição. Como exemplo os cargos de
censores, de questores, do defensor civitatis, dos procuratores caesaris, do
advocatus fisc e dos irenarcha e etc.
Entre as figuras mencionadas acima, é importante trazer como exemplo a de
censores, pois sua principal função era fiscalizar a sociedade com o intuito de trazer
ao conhecimento dos imperadores qualquer comportamento inadequado para
época. Os questores tinham como funções principais a guarda do tesouro e a
recepção de multas e atuava também investigando crimes de homicídios. Os
defensores civitatis protegiam os indivíduos de classes inferiores contra qualquer
ocorrência de abuso pelos funcionários do império. Os procuratores caesaris e
advocatus do fisc tinham a função de administrar e receber os tributos imperiais.
Como foi visto, os servidores romanos possuíam atribuições correlatas com
as do parquet atual. Pois função principal deles era garantir os interesses
particulares do príncipe, como à gerência de seu patrimônio.
Porém, em relação a atuação dos acusadores públicos, conclui-se que os
romanos não os conheceram.
Conforme supracitado, na Grécia, cabia à vítima ou à sua família motivar a
acusação em face do contraventor penal. Fortalecendo a ideia, damos continuidade
com a menção de um trecho da obra de Rodrigues (2001, p. 6):

É certo que algumas das funções que actualmente exercem o Ministério


Público já existia na Grécia, em Roma e no começo da Idade Média.
Tratava-se, porém de funções atribuídas a pessoas que não representavam
uma estrutura nem usufruíam de um estatuto semelhante ao que, hoje,
caracteriza o Ministério Público (RODRIGUES, 2001, p. 6).

Zappa (1974, p. 63) aponta, como origem do Ministério Público, ao


absolutismo e alguns fundamentos da época: eliminação da vingança privada, a
delegação da ação penal a uma instituição pública, a separação das competências
de inquisição e acusação em entidades distintas, o amparo nos interesses do
coletivo e resolução ágil e correta na sentenciação do juiz.
O autor ressalta esses princípios peculiares do Estado Moderno que o
Ministério Público deve adotar.
Relevante observar que na atualidade a instituição faz parte da organização
do Estado e da manutenção da Justiça. E ainda que tenha ocorrido uma evolução
elevando a centralização do poder real, não se mostrava nos moldes atuais.
É primordial exaltar que na época medieval as soluções das lides e aplicação
das leis que eram desempenhadas pelos senhores feudais e soberano, eram vistas
como funções jurisdicionais. Somente na Baixa Idade Média, por conta da
composição dos Estados Nacionais, o soberano, paulatinamente, iniciou a
centralização do poder jurisdicional e destituiu os juízos dos senhores feudais e das
corporações.
Doravante à abordagem das teorias supracitadas, é incontestável não definir
a França como base histórica do Ministério Público.
Mesmo que tenha ocorrido semelhanças influenciadoras em outros Estados e
em períodos anteriores, a primeira estrutura originária do Ministério Público ocorreu
na França sob o reinado de Felipe, O Belo, onde foi constituído a união dos
procuradores e advogado em uma mesma instituição, conforme sua ordennance em
25 de março de 1302, início do século XlV.

2.1 ORIGEM DO SURGIMENTO DA INSTITUIÇÃO NO BRASIL

Do desenvolvimento do estado brasileiro e da democracia denominou-se o


Ministério Público.
O surgimento do Parquet, com aumento de competência como instituição,
declarou-se após o processo de ordenança Manuelinas e Filipinas entre 1521 à
1603. Ferraz (1999, p. 39) aponta como sendo a primeira referência ao promotor de
justiça pela ordenança Manuelinas em 1521:

As Ordenações Manuelinas de 1521 já mencionavam o Promotor de Justiça


e suas obrigações perante as casas de suplicação e nos juízos das terras.
Nelas estavam presentes as influências do direito francês e canônico.
Segundo estas, o Promotor deferia ser alguém: letrado e bem entendido
para saber espertar e alegar as causas e razões, que para lume e clareza
da justiça e para inteira conservação dela convêm.

Essas ordenanças já mencionavam os promotores de justiça delegando-os as


funções de fiscalizar a lei e da promoção da acusação penal do império. Havia mais
dois cargos, sendo eles Procuradores dos Feitos da Coroa e o Procurador da
Fazenda (Defensor do Fisco).
Apenas em 1832 iniciou-se a estruturação das ações do Ministério Público
com o Código Penal imperial.
O decreto nº 848, de 11/09/1890 dispôs, em um capítulo, sobre a estrutura e
atribuições do Ministério Público no âmbito federal, após criar e regulamentar a
Justiça Federal na República.
Destacam-se neste decreto a indicação do procurador-geral pelo Presidente
da República e a função do procurador de "cumprir as ordens do Governo da
República relativas ao exercício de suas funções" e de "promover o bem dos direitos
e interesses da União" (art. 24, alínea c)
Entretanto, o crescimento institucional do Ministério Público ocorreu após a
processo de codificação do Direito nacional, tendo em vista que os códigos (Civil de
1917, de Processo Civil de 1939 e de 1973, Penal de 1940 e de Processo Penal de
1941) trouxeram-lhe várias funções à Instituição.
A Lei nº 1.341/51 instituiu o Ministério Público da União, que se
desconcentrou em Ministério Público Federal, Militar, Eleitoral e do Trabalho. O MPU
pertencia ao Poder Executivo.
A Lei Complementar nº 40/81 dispôs sobre o estatuto do Ministério Público,
instituindo garantias, funções e proibições aos membros do órgão.
A Lei 7.347/85 de Ação Civil Pública ampliou competência do Parquet
atribuindo a função de proteção dos interesses difusos e coletivos. Antes da ação
civil pública, o Ministério Público atuava basicamente na área criminal. No âmbito
cível, o Ministério operava como interventor fiscal da lei em ações individuais. Com a
chegada da ação civil pública, o órgão passa a ser agente tutelador dos interesses
difusos e coletivos.
No tocante às constituições, ocorre oscilações entre regimes democráticos e
regimes autoritários/ditatoriais. Isso resulta na oscilação do aparecimento do
Ministério Público nas constituições. Vejamos:
A Constituição de 1824, que vigorou sobre enorme fragilidade política e
institucional, não obteve sucesso, pois ainda que os deputados tivessem total
competência para instituir a constituição primária da supremacia, não registrou na
norma constituinte efetivos princípios. Salvo no caso do art. 48 “No juízo dos crimes,
cuja acusação não pertence à Câmara dos Deputados, acusará o procurador da
Coroa e Soberania Nacional” (BRASIL, 1824).
O liberalismo que ela carregava foi divergente com o absolutismo do
monarca, observando que a Constituição ficou sob avaliação do soberano com
fundamento no art. 101 da norma constituinte e foi promulgada em 25 de março de
1824 (BRASIL, 1824).
Rangel afirma que em consequência à crise política desenvolvida desde o
segundo reinado, originou-se o golpe de Estado por iniciativa quase exclusiva do
exército, ocorrido em 15 de novembro de 1889 (2009, p.123). De tal fato surgiu a
necessidade de uma nova constituição momentânea com objetivo de dirigir e fundar
os princípios basilares da nova arquitetura política estabelecida. A Constituição de
1891 não fez menção diretamente ao Ministério Público, apenas citou em seu
parágrafo segundo do art. 58 que através do Poder Executivo ocorreria a
designação do Procurador-Geral da República (PGR) de forma autocrática entre a
cúpula do Poder Judiciário e às atribuições do PGR no texto constitucional no
parágrafo primeiro do art. 81, onde delega a competência à lei específica para
executar a revista criminal ex officio. Nota-se que esta constituição não se
preocupou em atribuir exclusivamente ao Ministério Público a função da garantia da
ordem jurídica e econômica da época.
Posteriormente, a constituição de 1934 nos seus arts. 95 a 98 do capítulo
“Dos Órgãos de Cooperação nas Atividades Governamentais”, como afirma Silva,
trouxe importantes mudanças as quais merecem destaque a estabilidade referida
aos membros do Parquet, a regulamentação do ingresso na carreira ministerial,
através de concurso, a nomeação e demissão do PGR passou a ser função do
Presidente da República de forma livre mediante a aprovação do Senado Federal e
a equidade de vencimentos do PGR com os ministros da Suprema Corte, estes
novos dispositivos conferiram uma alta estrutura ao Órgão pelo poder constituinte
(1981, p.08).
Em seguida o Estado Novo foi constituído pela promulgação da Constituição
de regime autoritário em 1937 conhecida como “polaca”. Verifica-se um retrocesso
conforme menções de Silva que somente o art. 99 trazia referência ao PGR como
chefe do Ministério Público Federal (1981, p. 08).
Um pouco depois do retrocesso da última Constituição, a Carta de 1946
retomou ao Estado o regime democrático já trazido pela Constituição de 1934. Com
a retomada, foi constituído a independência institucional do Ministério Público e a
delegação ao Órgão à criação da normatização infraconstitucional. Tais concessões
se encontram do art. 125 ao 128 da Carta de 1946.
Outras alterações ocorreram em 1967 após a outorga da sexta Carta Magna
cujas disposições referentes ao Ministério Público passou a fazer parte do capítulo
atinente ao Judiciário e as prerrogativas do PGR passaram a ser as mesmas
atribuídas aos juízes de aposentadoria com vencimentos integrais após o
cumprimento dos trinta anos de serviços prestados, como agrega Magalhães (2002,
p.15). Entretanto, houve no decorrer da vigência da Carta de 1967 emendas
constitucionais. Através da emenda n.1 de 17 de outubro de 1969, O MP foi
posicionado novamente no capítulo do Poder Executivo e cessou a aposentadoria
aos trinta anos completos de serviço concedido através do parágrafo único do art.
139. Posteriormente a emenda n.7 de 1977, por iniciativa do Presidente da
República, com a imposição de regras gerais para legislar, alterou o art. 96 definindo
a autorização dos Ministérios Públicos dos Estados a se programarem em carreira
por lei estadual. Segundo Rangel, o regime jurídico não garantia na época à
sociedade independência funcional e imparcialidade em sua ação protetora dos
interesses da sociedade (2009, p.137).
Anos depois o Brasil finalmente se encontrava livre da ditadura e respirando
os ares da democracia. A Constituição de 1988 ampliou as funções do Ministério
Público e trouxe garantias à instituição e aos membros como também algumas
vedações.
No tocando às garantias institucionais em seu parágrafo segundo do art. 127,
garante autonomia funcional e administrativa e no parágrafo terceiro do mesmo
artigo garante a autonomia financeira. Quanto às garantias dos membros, foram
concedidos a vitaliciedade (artigo 128, § 5°, inciso I, alínea a), inamovibilidade(artigo
128, § 5°, inciso I, alínea b) e a irredutibilidade de subsídios (artigo 128, § 5°, inciso
I, alínea c) como aponta Morais (2013, p. 637).
Às vedações dos membros conforme expostas nos parágrafos e incisos do
artigo 128 da constituição de 1988 são:

§ 5°, II, a) receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários,


percentagens ou custas processuais; b) exercer a advocacia; c) participar
de sociedade comercial, na forma da lei; d) exercer, ainda que em
disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de magistério; e)
exercer atividade político-partidária; f) receber, a qualquer título ou pretexto,
auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas,
ressalvadas as exceções previstas em lei. § 6° Aplica-se aos membros do
Ministério Público o disposto no artigo 95, parágrafo único, V. Artigo 129:
São funções institucionais do Ministério Público: IX: exercer outras funções
que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade,
sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de
entidades públicas. (BRASIL, 1998, Art. 128)

Com efeito, nota-se a intenção do constituinte de consagrar o Ministério


Público como um órgão independente e aliado da sociedade brasileira.
3. SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS

Para entender os sistemas processuais penais é necessário compreender o


conceito da palavra sistema no âmbito jurídico. Etimologicamente, sistema é a
reunião de normas coordenadas entre si que agem formando um alicerce
organizado dentro do ordenamento jurídico. Paulo Rangel afirma que o momento
político de qualquer Estado formula as direções que serão adotadas ao impor o as
normas que serão aplicadas no direito ao caso concreto.
Conforme essa teoria, para que exista um sistema, é fundamental que exista
uma ideia originária e um conjunto de normas que decorre dessa premissa.
Basta, portanto, identificar o princípio unificador de cada sistema processual
penal para saber de qual sistema se trata. Todo sistema é, portanto, regido por um
único princípio unificador (ideia originária).
São três os sistemas processuais penais existentes no ordenamento jurídico:
a)sistema inquisitório ou inquisidor; b)sistema acusatório; c)sistema misto,
reformado, napoleônico ou acusatório formal.

3.1 SISTEMA ACUSATÓRIO

O sistema acusatório originou-se do Direito Grego com função de acusador e


julgador era desempenhado pelo povo de forma direta. Para os delitos graves
vigorava o sistema de ação popular (qualquer pessoa podia acusar) e, de acordo
com os princípios do Direito Civil, para os delitos menos graves, vigorava o sistema
de acusação privada.
Duas formas novas surgem no processo penal no Direito Romano da Alta
República: cognitio e accusatio. A primeira regia os órgãos do Estado (magistrados).
Outorgava ao magistrado os maiores poderes, sendo a eles concedido o poder de
esclarecimento como bem quisesse. Cabia recurso de anulação (provocatio) ao
povo, quando o acusado fosse cidadão e varão. O magistrado nesse caso deveria
dar ciência ao povo sobre as informações necessárias para uma nova decisão. Esse
procedimento, nos séculos anteriores da República, passou a ser insuficiente, ainda
mais para as mulheres e aos que não eram considerados cidadãos (pois não podias
fazer uso do recurso de anulação). Dessa forma, nas mãos dos magistrados, tornou-
se uma arma política. Já na segunda forma, a acusação era assumida
espontaneamente por um cidadão do povo. Assim denominou um marco evolutivo
no último século da República no Direito Processual romano. Tratava-se da delicta
pública, a apuração e a tutela da ação penal era direcionada a uma instituição
diferente do juiz, não pertencia ao Estado e sim a um voluntário representante da
coletividade (accusator). Como características o autor Lopes destaca:

a) a atuação dos juízes era passiva, no sentido de que eles se mantinham


afastados da iniciativa e gestão da prova, atividades a cargo das partes; b)
as atividades de acusar e julgar estão encarregadas a pessoas distintas; c)
adoção do princípio ne procedat iudex ex officio, não se admitindo a
denúncia anônima nem processo sem acusador legítimo e idôneo; d) estava
apenado o delito de denunciação caluniosa, como forma de punir acusações
falsas e não se podia proceder contra réu ausente (até porque as penas são
corporais); e) acusação era por escrito e indicava as provas; f) havia
contraditório e direito de defesa; g) o procedimento era oral; h) os
julgamentos eram públicos, com os magistrados votando ao final sem
deliberar (LOPES, 2014, p.65).

Entretanto, o sistema acusatório mostrou-se deficiente na época do Império,


diante das novas necessidades de repudia aos delitos. Além disso possibilitava com
frequência a apuração intervencionada por ânimos e intenções de vingança. Através
dos oficiais públicos (curiosi, nunciatores, stationarii etc.) que tinham a função de
investigação, eram transmitidos aos juízes os resultados obtidos.
A chance de invasão dos juízes nas atribuições dos acusadores privados
causou preocupação e insatisfação com o sistema acusatório pelo fato de acabar se
originando na mesma instituição do Estado as atribuições de acusar e julgar.
Desde então, os juízes passaram a agir de ofício, realizando eles mesmos as
diligências, sem acusação formal e posteriormente proferindo a sentença. Assim
caracterizava o procedimento extraordinário.
Nos atos processuais predominava a publicidade, porém gradativamente foi
sendo substituído pelos processos sigilosos. As sentenças, que na época
Republicana eram lidas em público desde o alto tribunal, passaram a ser escritas e
lidas em audiência.
Dessa forma nota-se as primeiras características do que viria ser o sistema
Inquisitório.

3.2 SISTEMA INQUISITÓRIO OU INQUISIDOR

O sistema inquisitório prevaleceu ao longo do século XII até XIV. Com a


evolução gradual do sistema acusatório, houve a transição para o sistema
inquisitório. Essa evolução se originou dos defeitos da inatividade das partes, dando
motivos à conclusão que, se permanecesse a investigação criminal a cargo de
particulares, ficaria comprometida a sua eficácia no combate à delinquência. Era
função que o Estado deveria exercer se limitando à preservação da legalidade.
Porém também apresentou disparidade entre o processo civil e penal. A transição do
sistema penal trouxe o processo judicial de ofício nos casos de flagrante delito.
As funções do acusador privado foram, gradativamente, sendo atribuídas aos
magistrados até chegar ao caso extremo de concentrar todas as funções exercidas,
atualmente pelo Ministério Público e pelo juiz, em um único órgão do Estado.
Na época as vantagens imposta pelo novo sistema que inicialmente fôra
adotadas pela Igreja, tomou um rumo esmagador e todos legisladores a
incorporaram tanto para os flagrantes delitos como para todas as classes de delitos.
O sistema Inquisitório de forma radical mudou a estrutura do processo. A
disputa com igualdade de poderes e oportunidades entre o acusador e o acusado se
torna desleal entre o juiz inquisidor e o acusador. O primeiro assume a função de
inquisidor e não exerce mais a função de árbitro imparcial e o acusado deixa de ser
sujeito no processo e se torna apenas um mero objeto da investigação.
O julgador diante de um caso concreto atua de ofício e recolhe os elementos
para construir o seu convencimento, sem ser necessário a invocação. O processado
é considerado a melhor fonte para o inquérito e está sob pena de coação para a
obtenção de provas (confissão mediante tortura). O juiz tem total liberdade para
intervir, colheitar e escolher o material necessário para sentenciar. Dessa forma não
caracteriza inatividade das partes, pelo fato de o réu estar prestando depoimento e
não existe uma vinculação legal do juiz. O sistema inquisitório tem total desarmonia
pelo contraditório, então no procedimento do juiz, ele atua como parte, investiga,
dirige, acusa e julga o acusado.
Com relação à prova, em sua raiz, predominava o sistema legal de valoração.
A sentença não produzia coisa julgada e o estado de prisão do réu durante o
processo era uma regra geral.
Dividia-se em duas fases o processo inquisitório: inquisição geral e inquisição
especial. A primeira era dedicada à comprovação da autoria e materialidade
enquanto a segunda se destinava ao processamento com a condenação e o castigo.
No decorrer do século XIII, para repreender a heresia, atitudes e atividades
contraditórias aos mandamentos da Igreja Católica, foi instituído o Tribunal da
Inquisição ou Santo Ofício. Para tal repreensão foram selecionados os fiéis mais
íntegros, sob juramento que os comprometiam a observar e participar quaisquer que
fossem as desordens e manifestações contrárias aos ditames da Igreja católica. Um
pouco depois estabeleceu-se as comissões mistas com a finalidade de diligenciar e
cumprir o procedimento.
Com todo o caminho percorrido, dentro do espaço de tempo entre o século XII
e XVIII, destituiu-se, o que se acreditava até o século XII como forma eficiente de
julgamento dos conflitantes ao regime do Estado, o sistema acusatório, e originou o
sistema inquisitório com autoritarismo nos interesses dos monarcas da época os
quais se protegiam liquidando qualquer contradição aos seus mandos e desmandos,
não importando quais seriam os meios utilizados como método de coerção para se
obter a confissão do acusado. O regime foi completamente autoritário com os
poderes de acusar, investigar e julgar concentrados em um único órgão do Estado.
O sistema inquisitório foi desacreditado no fim do século XVIII um pouco
depois da Revolução Francesa que agregou a filosofia de valoração do homem e
repercutiu no processo penal de forma gradual removendo as peculiaridades do
modelo inquisitivo.

3.3 SISTEMA MISTO OU SISTEMA ACUSATÓRIO FORMAL


Com a dissolução do sistema inquisitório e a adoção do modelo acusatório, o
Estado para preservar a ordem se manteve no poder de penar e de diligenciar
exclusivamente. Logo, foi imprescindível dividir em duas fases o processo penal, e
desconcentrar as atribuições de acusar e julgar em pessoas distintas. Com essa
necessidade, nasce o Ministério Público assumindo a função de acusador e assim
garantindo a imparcialidade do juiz como preleciona Carnelutti (1950, p. 99).

É um fato comum a classificação como “sistema misto” no direito processual


penal, conforme o apontamento de que os sistemas puros não correspondiam com
os atuais, pois eram modelos históricos. Além do mais, com a divisão do processo
penal em duas fases: pré-processual e processual propriamente dito, predominava
na primeira fase o sistema inquisitivo e na segunda o sistema acusatório
caracterizando o sistema misto.

Binder (2003, p.51) afirma com predominância no assunto “o acusatório


formal é o novo nome do sistema inquisitivo que chega até nossos dias”. Para tal
afirmação, Lopes (2014, p. 71) prefere não intervencionar na opinião de Binder e
classifica como sistema Neo-Inquisitivo (sistema novo). Já o autor Gimeno (1996,
p.83) explica que para afirmar que o processo está regido pelo sistema acusatório
basta a divisão do processo em duas fases e a distinção do juiz que instrui do juiz
que julga. Na mesma linha de raciocínio Armenta (1996, p.272) diz que em
determinado sentido bastaria afirmar que o processo acusatório se caracteriza pelo
fato de ser imprescindível uma acusação levada a cabo por um órgão ou agente
distinto do julgador.
Portanto, não se pode afirmar que basta apenas uma acusação para
caracterizar sistema acusatório, é necessário que se mantenha a distinção de
funções de acusar e julgar em pessoas distintas. E como resultado lógico ficaria a
iniciativa probatória nas mãos das partes. Então só assim a estrutura não se rompe
e garante a imparcialidade do juiz.

3.4 SISTEMA ADOTADO NO BRASIL


É de difícil elucidação a divergência sobre qual o sistema processual penal é
adotado no Brasil. Alguns autores apontam que após a promulgação da Constituição
de 1988, no Brasil, se enquadrou como sistema acusatório, pois não se encontram
concentrado no mesmo órgão as funções de acusar e julgar. Todavia, outros
doutrinadores discordam desse posicionamento, conceituando que por causa da
legislação infraconstitucional brasileira em vigor, o sistema processual penal é o
inquisitivo garantista.
Nucci afirma que no Brasil, ainda que não esteja oficialmente declarado, rege
o sistema misto.
Há dois fatores importantes: o constitucional e o processual. Seguindo a linha
de raciocínio do primeiro, podemos afirmar que rege o sistema acusatório, pois na
Constituição está expresso os princípios que direcionam ao sistema acusatório.
Entretanto, o processo penal é regido por legislação específica de 1941, sendo
notório o sistema inquisitivo no que tange aos procedimentos, recursos, provas, etc.
Portanto, não há o que se falar sobre a fusão das legislações. Sem dúvidas
resultou de um Código de essência inquisitiva e supervisionado por uma
Constituição ligada aos princípios democráticos do sistema acusatório.
É certo que diversos processualistas defendem que o sistema é o acusatório.
Porém se baseiam em princípios constitucionais vigentes: separação entre acusação
e órgão julgador, publicidade, ampla defesa, presunção de inocência etc.

Entretanto, não pode ser ignorado que o sistema é dividido em duas fases e
para a primeira fase, disposto no Código de Processo Penal, utiliza-se como
ferramenta de apuração dos fatos o inquérito policial com todas as suas
características regimentadas: sigilo, afastamento do contraditório e ampla defesa,
expressamente documentado, obrigatoriedade do condutor em agir na investigação
etc. e posteriormente, na segunda fase, vigoram as garantias constitucionais
semelhante aos do sistema acusatório.

Sustentar tese contrária, classificando como acusatório é a mesma coisa que


ignorar o dever do juiz brasileiro de produzir provas de ofício, decretar prisão do
acusado de ofício, sem pedido das partes e etc.
Exalta que o inquérito é unicamente reservado para o acusatório formando a
opinio delict não sendo parte nos autos do processo. Dessa forma permite ao juiz
utilizá-lo para a condenação (2007, p.104-105).

Na mesma linha de raciocínio Pacheco afirma que é comum concluir que o


sistema brasileiro é acusatório, pois se olhar apenas pelo lado de os fatos de o juiz
ou tribunal depender de um pedido do acusador para iniciar o procedimento penal, e
que as partes se contraditam ao longo do processo, caracterizando o contraditório e
ampla defesa, garantem a característica acusatória.

Entretanto, deve ser observado que nosso sistema é informado pelo princípio
inquisitivo onde o juiz pode de ofício decretar a prisão preventiva ou temporária,
determinar a produção de provas e requisitar instauração de inquérito policial (art. 5º,
II, CPP). Isso descaracteriza a classificação do sistema como acusatório (2006, p.
49).

Logo, diante do exposto, não há como afirmar que o sistema é


exclusivamente inquisitório ou acusatório. O sistema é inquisitivo garantista ou
misto. Pois ele, em fase pré-processual, se mostra inquisitivo e na fase processual
se mostra como acusatório.
4. PRINCÍPIOS E LEGITIMIDADE NA AÇÃO PENAL PÚBLICA

Trata-se de uma instituição que teve sua origem na frança como primeira
forma de existência, conforme supracitado e tem como a função principal garantir o
estrito cumprimento das normas constitucionais e infraconstitucionais de acordo com
Caput do art. 127 da Constituição Federal de 5 de outubro de 1988 “O Ministério
Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis.” (BRASIL, 1988). Para tal, o legislador deixou
claro os princípios e a função de promover a ação penal pública da instituição
expresso na letra da lei.

Mazzili (2015, p. 72) traz ao conhecimento um resumo dos princípios do


Ministério Público previsto no parágrafo 1° do art. 127 da Constituição Federal de 5
de outubro de 1988 “São princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a
indivisibilidade e a independência funcional” (BRASIL,1988), sendo a Unidade a
universalidade entre os fragmentos da instituição instalados em todo o Estado.
Todos estão submetidos a um mesmo comando, por exemplo: O Ministério público
do Estado do Rio de Janeiro é subordinado ao mesmo chefe do Ministério Público
do Estado de São Paulo, sendo este o procurador-geral de justiça. Não há como
tratar um dos fragmentos da instituição como uma unidade isolada.

Já a indivisibilidade propõe a ideia de que a ação de qualquer que seja o


servidor que esteja a cargo da instituição, denota-se o Ministério público como um
todo. Portanto os servidores que estiverem agindo, por si só, poderiam ser
substituídos por outros servidores que ainda sim permaneceria a instituição agindo.

E a autonomia funcional é a liberdade que a instituição tem para agir sem que
haja subordinação aos outros poderes como forma de garantir sua individualidade
ao exercer os ditames da Constituição Federal.

Ainda na visão de Mazzili (2015, p. 81) a garantia funcional, previsto no art.


127, §2° da Constituição Federal de 5 de outubro de 1988 “ Ao Ministério Público é
assegurada autonomia funcional e administrativa […]” (BRASIL, 1988), é a liberdade
de autolegislar e autoadministrar na tomada dos atos institucionais. A independência
funcional é uma prerrogativa conferida aos membros do Ministério Público.

Com a previsão da autonomia administrativa nos parágrafos 3°, 4°, 5° e 6° do


artigo 127 da Constituição Federal de 5 de outubro de 1989:

§ 3º O Ministério Público elaborará sua proposta orçamentária dentro dos


limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias. § 4º Se o Ministério
Público não encaminhar a respectiva proposta orçamentária dentro do prazo
estabelecido na lei de diretrizes orçamentárias, o Poder Executivo
considerará, para fins de consolidação da proposta orçamentária anual, os
valores aprovados na lei orçamentária vigente, ajustados de acordo com os
limites estipulados na forma do § 3º. § 5º Se a proposta orçamentária de
que trata este artigo for encaminhada em desacordo com os limites
estipulados na forma do § 3º, o Poder Executivo procederá aos ajustes
necessários para fins de consolidação da proposta orçamentária anual. § 6º
Durante a execução orçamentária do exercício, não poderá haver a
realização de despesas ou a assunção de obrigações que extrapolem os
limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, exceto se
previamente autorizadas, mediante a abertura de créditos suplementares ou
especiais (BRASIL, 1988).

AZEVEDO (2015) explica que quando se fala em autonomia administrativa,


significa ter o poder para administrar seus próprios negócios, sob qualquer aspecto,
em conformidade com as normas vigentes.

Em outra vertente, à vista da legitimidade do Ministério Público, como órgão


possuidor da privatização da promoção da ação penal pública, com amparo legal no
parágrafo 1° do Art. 129 da Constituição Federal de 5 de outubro de 1988 “I -
promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei” (BRASIL, 1988),
Mazzili (2010, p. 107) explica que à instituição, além de possuir a tutela, ela é
obrigada de ofício a promover a ação, seja incondicionada ou condicionada e possui
caráter irretratável.

Conforme visto, pode-se entender que o Ministério Público é o Órgão


primordial à saúde jurídica, pois é uma instituição totalmente independente, com
subordinação apenas à Constituição Federal que possui sua própria capacidade de
administrar seu pessoal, suas normas e seus recursos financeiros e com total
legitimidade para agir em prol da garantia do estrito cumprimento da Constituição
Federal e as normas supervenientes.

4.1 MINISTÉRIO PÚBLICO EM ÂMBITO PRÉ PROCESSUAL

Conforme supracitado, O Brasil vinculou, às normas constitucionais, o sistema


processual penal garantista ou misto como forma de delimitar a atuação das
instituições inquisitória e acusatória, objetivando garantir ao réu o direito de
imparcialidade perante a entidade julgadora. Ao Ministério Público foi consagrada a
tutelada da ação penal, como órgão provedor, a cargo da garantia da lei e da ordem
jurisdicional do Estado e, em contrapartida, às Polícias Judiciária, foi delegada a
instauração do Inquérito Policial de ofício.

Na visão de Camelo (2017), este assunto abordado, embora esteja pacificado


entre os Tribunais, conforme a citação do Recurso Extraordinário 593.727/MG em
sua obra:

Com a recente decisão do Supremo Tribunal Federal que, em sede de


repercussão geral (RE 593.727/MG), entendeu que o Ministério Público
dispõe de competência para promover, por autoridade própria, investigações
de natureza penal, a cizânia em torno do tema restou, por ora, solucionada.
Essa construção jurisprudencial, no entanto, percorreu o longo e intenso
período de debates, marcado por diversas mudanças de entendimento
(CAMELO, 2917, p. 237).

É um assunto polêmico em sede doutrinária, sendo importante trazer ao


conhecimento de todos a dialética dos argumentos de pontos de vistas doutrinários.

Dando sequência na reflexão, ao delegar as funções institucionais, ao


Ministério Público, no Art. 129 da Constituição Federal de 5 outubro de 1988, O
legislador não deixou expresso sobre o modo de execução que a instituição poderia
utilizar na ação investigatória, o que possibilitou uma interpretação ampla. No outro
polo, disposto em seu parágrafo 4° e inciso I do parágrafo 1° do Art. 144, o legislador
atribuiu, expressamente, à Polícia Judiciária a apuração de infrações penais, dessa
forma gerou dúvidas quanto à tutela das investigações criminais entre as
instituições.

Diante exposto, partindo de encontro à elucidação da controvérsia gerada,


torna-se importante expôr a visão de Lenza (2013, p. 415-416) sobre a temática,
pois mesmo que haja a delegação para atuar no inquérito policial disposta em lei, a
cargo da polícia judiciária, com titularidade exclusiva, não se pode excluir a
autorização implícita para investigação pelo Ministério Público, de acordo com a
afirmação do autor:

Averbe-se que a faculdade de realizar investigações criminais decorre,


logicamente, da titularidade exclusiva da ação penal pública conferida ao
Ministério Público (art. 129, I, da CF). E Essa conclusão, além de afinada
com o senso comum, decorre da aceitação da doutrina dos poderes
implícitos (inherent powers), que se reveste de inegável solidez e tem
trânsito no direito comparado: não se pode admitir que o ordenamento
constitucional tenha privado o titular da ação penal dos instrumentos
necessários para obtenção das informações de que necessita para
desincumbir-se da alta missão que lhe foi confiada (LENZA, 2013, p. 416).

Conforme a citação desse trecho da obra de Lenza, entende-se que a ampla


interpretação gerada pelo constituinte deixou vago para que seja utilizada a doutrina
dos poderes implícitos. Esta teoria Nascimento (2014, p. 46) relata que surgiu após
o caso McCulloch v Maryland onde foi decidido pela Suprema Corte Americana que
as funções delegas a um órgão público devem ter relação direta à entidade e estes
meios não lhe podem ser censurados de forma que possa cumprir com excelência
as suas atribuições.

Então cabe ressaltar que Lenza traz ao conhecimento que o legislador, com
base na teoria do poderes implícitos, dispôs o amparo legal para o Ministério Público
da União e dos Estados, respectivamente, no Art. 8° da lei complementar nº 75, de
20 de maio de 1993 e no Art. 26 lei nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993.
Posteriormente, foi legislado pelo Conselho da Instituição como mostra o autor:
“Conselho Nacional do Ministério Público, por sua vez, editou a Resolução 13/2006,
que disciplina a instauração e a tramitação de procedimento investigatório criminal
presidido por membro do Ministério Público” (LENZA, 2013, p. 416), entretanto a
norma foi revogada pela Resolução 181 de 7 de agosto de 2017.

Então, nota-se que, a partir do momento em que o legislador observou a


lacuna deixada pelos constituintes, tratou de buscar a melhor forma de suprir a
necessidade jurídica. E assim por analogia ao caso McCulloch v Maryland, adotou-
se a mesma linha de ação da corte americana e sanou a dúvida ao deixar expresso
na norma todos os meios a serem utilizados pela instituição para atingir com
excelência as funções a que foi acometida pelo constituinte.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vimos com o discorrer do presente trabalho a evolução histórica no Brasil do


Ministério Público, o desenvolvimento do sistema processual penal e os princípios,
funções e a legitimidade em trabalho investigativo exercido diretamente pela
instituição. Pôde-se perceber a complexidade do tema observando o debate
doutrinário acerca da gênese do Ministério Público. Concluiu-se que teve seu
surgimento na França, através dos “Procuradores do Rei”, de onde surge a
nomenclatura parquet de origem francesa. Após longo processo histórico das
Constituições Federais, verificamos o grande destaque dado ao parquet na atual
Carta, de tal sorte que sua atuação ultrapassou os limites anteriormente
experimentados. No âmbito do processo penal, o texto constitucional, ao contrário
dos anteriores, foi generoso com a instituição, inserindo-a no capítulo IV, destinado
às funções essenciais à justiça, atribuindo-lhe, dentre outras, a função do controle
externo da atividade policial, a requisição de instauração de inquérito policial à
autoridade policial e a eminente titularidade privativa da propositura da ação penal
pública, constituindo o oficial órgão acusador do Estado. Entretanto, quanto à
legitimidade em presidir a investigação criminal, não deixou claro na letra da lei qual
o órgão tutor, considerando que o art. 144 da Constituição Federal não trouxe a
exclusividade à polícia, como fez no que tange à ação penal pública. Para tal em
sede doutrinária, consagrados juristas reúnem-se quanto à legitimidade do Ministério
Público. É o caso de Paulo Rangel (Investigação criminal direta pelo ministério
público. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2012), Nascimento (3 Série de Estudos de Direito
Público: Direito Constitucional Penal, 2017) e Pedro Lenza (Direito Processual Penal
Esquematizado. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012.), que entendem que a Constituição
não só implicitamente concede tal poder ao parquet, seja através da teoria dos
poderes implícitos, do direito comparado ou de interpretação sistemática do
ordenamento jurídico, mas também é explícita quanto a não-exclusividade da
investigação à polícia. Em sede jurisprudencial, a questão parece estar pacificada.
Após controvérsias entre o STF e o STJ e até mesmo interna corporis, o
Supremo (Recurso Extraordinário nº 593727) debruçou seu entendimento pela
legitimidade, sobretudo sob argumento da não-exclusividade dada pela Constituição
Federal às polícias, sem prejuízo das características inerentes à instituição no
processo penal, o que a relaciona intimamente com a investigação criminal. Desta
forma, destacamos que o Ministério Público vem editando resoluções disciplinando
esta atuação, de modo que sejam respeitados, em todos os casos, os direitos e
garantias fundamentais dos investigados e que os atos investigatórios,
necessariamente documentados e praticados por membros, devem observar as
hipóteses de reserva constitucional de jurisdição, bem como as prerrogativas
profissionais garantidas aos advogados, como o acesso aos elementos de prova que
digam respeito ao direito de defesa.
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