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INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO E

PESQUISA
ESPECIALIZAÇÃO EM PRÁTICA PROCESSUAL
CIVIL

Alisson Brum Gomes

Tema

A importância da autocomposição no atual Código de Processo


Civil: a dissonância entre o acesso à justiça frente os elevados custos
processuais.

JACAREÍ-SP
2

2019
Alisson Brum Gomes

TEMA

Monografia apresentada para obtenção do Título


de Especialista em Prática Processual Civil da
Faculdade INESP.
Orientador(a): Nome do Orientador e titulação
(se Mestre, Especialista ou Doutor)

JACAREÍ - SP
2019
TÍTULO

ALISSON BRUM GOMES

Monografia apresentada para obtenção do Título de Especialista em Prática


Processual Civil da Faculdade INESP.

Data da Aprovação: ____/____/_____

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________
Faculdade INESP
_______________________________________
Prof. Orientador

_______________________________________
Prof. Coordenador

CONCEITO FINAL: __________


Dedico este trabalho a bla bla bla bla bla bla bla
bla bla bla.
AGRADECIMENTOS

Ao Prof Xxxxx pela orientação segura e liberdade na condução


deste trabalho.

Aos Diretores da Faculdade INESP, pela oportunidade ofertada.

Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx.
“Porque os meus pensamentos não são vossos
pensamentos, nem os vossos caminhos os meus
caminhos, diz o Senhor”.

Isaías 55:8
GOMES, Alisson Brum. Tema do Seu Trabalho. Jacareí-SP. 201X. (coloque
aqui o número de folhas do seu trabalho, da capa ate o final) f. Especialista em
Prática Processual Civil. Faculdade INESP, Jacareí-SP, 2019.

RESUMO

Resumo em um parágrafo só. Não esquecer dos elementos básicos de um


resumo.

Palavras-chave: até cinco palavras, separadas por ponto e vírgula.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

art. Artigo

DER Data da Entrada do Requerimento

CPC Código de Processo Civil

CRFB Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

EC Emenda Constitucional

Inc. Inciso

INSS Instituto Nacional de Seguro Social

LBP Lei de Benefícios Previdenciários

LOAS Lei Orgânica da Assistência Social

ONU Organização das Nações Unidas

PBC Período Básico de Cálculo

RE Recurso Extraordinário

REPS Regime Especial de Previdência Social

RGPS Regime Geral de Previdência Social

RMI Renda Mensal Inicial

TRF Tribunal Regional Federal

SB Salário-de-benefício

SC Salário-de-contribuição

STJ Superior Tribunal de Justiça

STF Supremo Tribunal Federal


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 9

2 XXXXXXXXXX................................................................................................
2.1 Xxxxxxxxxxx.................................................................................................
2.2 Xxxxxxxxxxx.................................................................................................

3 CONCLUSÃO.................................................................................................

REFERÊNCIAS..................................................................................................

APÊNDICE A – XXXXXXX ................................................................................

ANEXO A – XXXXXXX .....................................................................................


8

1 INTRODUÇÃO

Desde os primórdios da civilização, os grupos sociais, ainda que


em processo de formação política, sempre buscaram meios para a resolução de
seus conflitos, imperando, quase que sempre, a força bruta sobre o mais fraco,
conhecida atualmente como autotutela. Desta forma, à medida que a sociedade
evoluía, surgia a necessidade de intervenção do Estado como o único legitimado
para a pacificação social. Nessa linha de raciocínio, imperou por muitos anos a
cultura da litigiosidade no Brasil, sendo possível enxergá-la com o estudo
histórico da evolução processual civil, objeto do primeiro capítulo. Assim, tem-se
que o processo civil brasileiro sofreu inúmeras transformações, experimentando
uma junção de normas de natureza medievais com influências portuguesas até
um diploma processual social e democrático.
Assim, após um árduo processo evolutivo, tem-se que o atual
diploma processual quebrou paradigmas no tocante à resolução dos conflitos.
Isso porque a razão de ser do Código de Processo Civil de 2015 partiu da
premissa de que os conflitos de interesses deverão ser resolvidos,
preferencialmente, da forma consensual. Ademais, é incumbência do Estado e
dos sujeitos do processo a obrigação de estimular a autocomposição durante
todo o desenrolar processual.
Contudo, apesar das elogiáveis mudanças normativas, o aspecto
econômico-financeiro ao acesso à justiça ainda continua sendo um entrave para
aqueles que buscam a satisfação de suas pretensões por meio da tutela
jurisdicional. Isso porque o ingresso para promoção de uma ação judicial ainda é
muito dispendiosa, que pode muitas das vezes colocar em xeque o princípio
constitucional do acesso à justiça, conforme abordado no segundo capítulo.
Portanto, o objetivo do presente estudo é mostrar uma possível
solução para esse impasse, qual seja, a fomentação dos métodos alternativos de
resolução de conflito promovidos pelo Estado e seus particulares, tendo em vista
ser esta uma saída mais barata aos litigantes, além de promover outras
vantagens, como a inexistência de desgaste processual em razão da morosidade
da máquina judiciária. Assim, o capítulo final tem como escopo os estudos de
casos que demonstram os resultados práticos da autocomposição quando são
fortemente estimuladas, seja por iniciativa do Estado ou de seus particulares.
9

2 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO PROCESSO CIVIL NO BRASIL

Para que seja possível vislumbrar a pertinência temática do


presente estudo, mostra-se imprescindível uma abordagem no plano histórico
sobre os principais marcos do processo evolutivo do direito processual civil
brasileiro.
Tendo em vista ser a ciência jurídica atingida por constantes
modificações com o passar dos tempos, tem-se que uma investigação
contundente das inspirações do passado são recursos preciosos para
melhoraria da percepção dos sujeitos do processo no tocante a autocomposição.
Destarte, toda pesquisa histórica objeto deste introito servirá de
parâmetro para possíveis comparações com o modelo processual atual,
sobretudo das técnicas alternativas de resolução de conflito.

2.1 As influências das ordenações do Reino no Brasil-Colônia

Quando se trata da evolução histórica da legislação processual


civil brasileira, é de grande valia tecer algumas considerações sobre o modelo
processual do Brasil-Colônia, especialmente ao modelo processual após a
independência do país. Assim, respeitando a ordem cronológica dos fatos, isto
é, do período colonial até o modelo mais atual, será possível acompanhar as
principais mudanças que desenrolaram o transcorrer da evolução processual no
Brasil.
Desta feita, como já mencionado alhures, será necessário
realizar alguns apontamentos sobre o período do Brasil-colônia, sobretudo da
importância das Ordenações do Reino. Afinal, malgrado tenha sido um período
sem grandes inspirações ou inovações jurídicas, é de se ressaltar que este
período (início do século XVI ao início do século XIX) sofreu influência direta na
política e administração da Coroa Portuguesa, com normas procedimentais de
procedência medieval denominada Ordenais do Reino. (DIDIER JR., 2016)
Preleciona ainda Freddie Didier Jr. (2016, pp. 322-323) que:
“[...] o período do Brasil-Colônia [...] foi marcado pela dominação
política e administrativa da Coroa Portuguesa, sendo as regras
procedimentais deste período apoiadas em normas de origem medieval
[...] Tem-se, portanto, o processo comum luso-brasileiro, esculpido
10

pelas Ordenações Afonsinas (1446 ou 1447), Manuelinas (1512 ou


1514) e Filipinas (1595 ou 1603)”.

Conforme é possível extrair das linhas acima, as características


que mais chamam atenção nesse período, sem dúvidas, são no tocante a
natureza medieval das normas processuais esculpidas pelas Ordenações do
reino, bem como a forte influência política da Coroa Portuguesa.
Fazendo um paralelo com os dias atuais, assevera-se que as
ordenações do reino não tinham as características que são comuns de se
encontrar nos diplomas processuais mais modernos. Isso se deve ao fato de que
as ordenações “[...] não possuíam a organização dos Códigos. Quanto ao
conteúdo, um traço marcante de tais normas jurídicas era seu forte viés
burocrático e formalista, com profundas raízes no direito romano e canônico”.
(DIDIER JR., 2016, p. 323)
Destarte, é possível afirmar que na época do Brasil-Colônia não
havia um diploma processual como o de 1973 ou de 2015, isso porque não
haviam normas processuais organizadas e sistematizadas em Códigos.
Ademais, o mesmo autor ainda justifica que a falta desse estudo autônomo e
sistematizado do Direito Processual Civil foi devido à inexistência de juristas que
pudessem influenciar o movimento processual da época, o que veio acontecer
muito tempo depois com os movimentos científicos da Alemanha e Itália.
(DIDIER JR., 2016).
A título de curiosidade, vale destacar que a conciliação já era
uma prática adotada na época das ordenações, de modo que:
No Brasil a conciliação remonta à época imperial (século XVI e XVII),
precisamente nas Ordenações Manuelinas (1514) e Filipinas (1603)
que trazia em seu livro III, título XX, § 1º, o seguinte preceito: “E no
começo da demanda dirá o Juiz a ambas as partes, que antes que
façam despesas, e sigam entre eles os ódios e dissensões, se devem
concordar, e não gastar suas fazendas por seguirem suas vontades,
porque o vencimento da causa sempre é duvidoso. […]”. (BRASIL,
Conselho Nacional de Justiça)

Em suma, é possível afirmar que o momento histórico


processual vivenciado pelo Brasil em seu período colonial era praticamente um
compilado de regras procedimentais de influência portuguesa, de natureza
medieval, tendo como característica a inexistência de um código sistematizado.
11

2.2 Evolução processual do Brasil pós-independência

Sob outro prisma, malgrado a influência da coroa portuguesa ter


marcado a história do Brasil - colônia, sobretudo pelas ordenações do Reino, é
imprescindível destacar, por outro turno, os aspectos processuais do Brasil após
a sua independência.
Para tanto, é conveniente trazer as lições de Humberto Teodoro
Júnior (2018, p. 56):
[...] A independência brasileira encontrou-nos sob o regime jurídico das
Ordenações do Reino. Por decreto imperial foram mantidas em vigor as
normas processuais das Ordenações Filipinas e das leis portuguesas
extravagantes posteriores, em tudo que não contrariasse a soberania
brasileira.

Nesta senda, vale reforçar, assim, que apesar do Brasil já ter


declarado sua independência, continuaram a vigorar as leis portuguesas de
natureza processual, isto é, tinham validade, porém, somente as que não
contrariassem a soberania nacional (VIANA, 2001). Desta forma, nota-se que a
ideia de se criar um código de processo civil também ainda estava fora de
cogitação.
A título de relevância processual, tal legislação processual
proveniente de Felipe I do ano de 1603, tinha como característica a forma
escrita; autor e réu eram os donos do processo; a divisão processual
compreendia várias fases com diversas audiências. (THEODORO JR, 2018)
Em linhas gerais, o marco processual após a independência do
Brasil foi, com certeza, o decreto imperial que assegurou a vigência das
disposições normativas oriundas das Ordenações Filipinas. Vale dizer, permitiu a
continuidade de disposições estrangeiras, desde que não ferissem a soberania
nacional.

2.3 O Regulamento 737

Em 1850, no mesmo ano da criação do Código Comercial no


Brasil, foi editado no país o Regulamento n. 737, isto é, o primeiro Código
Processual nacional que visava disciplinar as matérias processuais do direito
comercial. (THEODORO JR, 2018).
12

Assim, nota-se que a partir da criação do Código Comercial se


mostrou imprescindível a criação de um diploma normativo que pudesse
regulamentar as normais processuais de natureza comercial. Vale ressaltar,
outrossim, que o Regulamento 737 foi um grande influenciador para a criação do
Código de Processo Civil tempos depois. Tanto é que segundo Loren Dutra
Franco (s.d., p. 8):
O Regulamento 737 foi de grande importância até a edição do atual
Código de Processo Civil. Seu objetivo era determinar a ordem do juízo
no processo comercial. Foi notável especialmente em relação à
economia e simplicidade do procedimento [...].

Ademais, a importância do Regulamento 737 para época foi


tamanha que posteriormente suas disposições foram “aplicadas às relações
cíveis gerais, por força do Decreto 763 de 1890, sendo por tal passo, chamado
como o primeiro corpo de leis completo na parte processual civil” (DIDIER JR,
2016, p. 46).
Desta feita, é possível afirmar, em síntese, que em decorrência
do “momento processual” que o Brasil vivenciava, somente a partir do
Regulamento 737 que o país começou a indicar a necessidade de se criar um
possível Código de Processo organizado e sistematizado com normas de
natureza cível. Contudo, é de se ressaltar que tal necessidade somente fora
suprida anos depois com o advento do CPC de 1939.

2.4 Os Códigos Estaduais


Com o advento da Constituição Federal de 1891, os Estados-
membros acabaram tendo competência legislativa sobre o direito processual
comum, reservando para a União as matérias processuais de competência da
justiça Federal. (DIDIER JR, 2016)
Nesse sentido, também leciona Humberto Theodoro Júnior
(2018, p. 57):
A Constituição Republicana de 1891 estabeleceu a dicotomia entre a
Justiça Federal e a Estadual, bem como entre o poder de legislar sobre
processos. Elaboraram-se, então, o direito processual da União [...] e
os vários códigos estaduais de Processo Civil, todas simples
adaptações do figurino federal, por falta de preparo científico dos
legisladores para renovar e atualizar o direito processual pátrio.
13

Sob o prisma da evolução processual, tem-se que o país carecia


de influenciadores para a inovação da legislação processual. Porém, vale dizer
que “[...] no início do século XX, assiste-se, assim, ao florescimento de códigos
emanados por diversos Estados da Federação e inspirados, prioritariamente
pelo Regulamento 737”. (LIEBMAN, apud PICARDI; NUNES, 2011, p. 96)
Em suma, é possível notar a falta de inspiração científica que o
momento processual do país carecia na época. Tanto é verdade que malgrado a
competência legislativa dos Estados-membros de criar sua própria legislação
processual, grande parte dos códigos criados foram adaptações do modelo
federal já criado.

2.5 O Código de Processo Civil de 1939

Após um longo período em que o Brasil se submetia aos


modelos normativos processuais de inspirações e influências portuguesas, bem
como dos experimentos das codificações estaduais e, por fim, da importância do
Regulamento 737 de 1850, nascia pela primeira vez na história do país o
primeiro código de processo civil a nível federal, por força do Decreto-Lei n.
1.608, de 18 de setembro de 1939. (BRASIL, Decreto-Lei nº 1.608, De 18 de
Setembro de 1939)
Por força do Decreto-Lei n. 1.608, de 18 de setembro de 1939,
Getúlio Vargas, “[...] formulou uma série de legislações – grande parte, vigentes
ainda hoje – exigíveis em todo o território nacional, daí surgindo, dentre elas, o
Código de Processo Civil de 1939, de fato, o primeiro CPC brasileiro”. (DIDIER
JR., 2016, p. 330).
É possível vislumbrar no Código de Processo Civil de 1939 o
tamanho da “necessidade processual” que o ordenamento jurídico da época
clamava, para tanto, encontrava-se previsto no art. 1º do CPC/1939 1 que o
processo comercial e o processo civil seriam regidos por este diploma normativo.
Nessa linha de raciocínio, assevera Sidou citado por Fredie
Didier Jr que “um mérito não se pode negar à nossa codificação de 1939: as
ordenações Filipinas [...] deixaram de ser fonte legal do nosso direito processual,
1
Art. 1º - O processo civil e comercial, em todo o território brasileiro, reger-se-á por este
Código, salvo o dos feitos por ele não regulados, que constituam objeto de lei especial.
14

ocorrendo, finalmente, a tardia libertação” (SIDOU apud DIDIER JR., 2016, p.


53)
Percebe-se, pela primeira vez, que somente depois de um longo
período o Brasil deixou de ter em seu ordenamento jurídico normas processuais
com raízes do período colonial. Malgrado a importância do regulamento 737 ter
sido um forte influenciador para a confecção de um Código Processual Civil
tempos depois, o aludido diploma supriu a necessidade de um diploma
organizado e sistematizado de normais processuais de natureza cível.

2.6 O Código de Processo Civil de 1973

Conhecido como o “Código Buzaid”, o Código de Processo Civil


de 1973 foi incorporado no ordenamento jurídico brasileiro por meio da Lei n.
5.869, de 11 de janeiro de 1973, e que sem dúvidas “uma legislação muito
superior às predecessoras, tanto quanto ao conteúdo, quanto à sistematização”.
(DIDIER JR., 2016, p. 335)
A propósito, nas palavras do próprio idealizador do Código de
Processo Civil de 1973, Alfredo Buzaid (PIRCARDI; NUNES apud BUZAID,
2011, p. 99), que na época era Ministro da Justiça, já mostrava a sua
preocupação técnica na elaboração de um Código Processual, pois seria “[...]
uma instituição eminentemente técnica. E a técnica não é apanágio de um povo,
senão conquista de valor universal”.
Uma das principais características que chamava atenção no
Código de Processo Civil de 1973 foi sua estruturação. Isso porque nos ditames
da melhor doutrina da época, trouxe a tríplice divisão do processo civil, isto é,
correspondendo a três modalidades em que o Estado poderia prestar a tutela
jurisdicional, a saber: o processo de conhecimento, o processo cautelar e, por
fim, o processo cautelar. (THEODORO JÚNIOR, 2018).
Malgrado o CPC de 1973 ter sido um código bastante técnico,
vale salientar, contudo, que ainda havia uma despreocupação com aspecto
social do processo. Nesse sentido, vale destacar algumas notas do professor
Fredie Didier Jr.:
De fato, o Código de Processo Civil de 1973 – notadamente na sua
redação original – está arraigado dos princípios do liberalismo, preso a
uma concepção pouco social. Observe-se, por exemplo, que o Código
15

de 1973 não mostra preocupação de calibre com o acesso à justiça e,


muito pelo contrário, com raras exceções, opta por uma trilha em que o
formalismo é colocado com farol de iluminação. (DIDIER JR., 2016, p.
59-60)

Consoante se depreende do trecho acima, o caráter pouco


social do Código de Processo Civil ainda era uma realidade no cenário jurídico
da época, de tal forma que o imperava o formalismo em detrimento ao acesso à
justiça. Por sorte, com a promulgação da Constituição Federal de 1988 houve
uma maior preocupação sobre o tema, tendo em vista ser agora um direito
fundamental – tema que será melhor explorado no capítulo seguinte.
Em resumo, tem-se que o CPC de 1973 foi, de longe, o Código
Processual mais bem elaborado em termos técnicos quando comparado aos
seus antecessores, cujo idealizador principal (Professor Alfredo Buzaid) tinha
como inspirações as melhores doutrinas da época, apesar da falta de
comprometimento com o aspecto social do processo.

2.7 O Código de Processo Civil de 2015

Conforme é possível extrair do tópico anterior, o antecessor do


atual Código de Processo Civil foi, sem dúvidas, um exemplo de modernidade
processual. Tanto é verdade que segundo Humberto Theodoro Júnior (2018, p.
62) “[...] se discutia sobre a conveniência, ou não, de dotar o País de uma nova
codificação, tendo em vista o reconhecimento, pela maioria, da boa qualidade
técnica do Código de 1973”.
De toda forma, é imperioso destacar que o atual Código de
Processo Civil, trazido pela lei 13.105, de março de 2015, é segundo Augusto
Tavares Rosa Marcacini (2016, p. 44) “[...] o mais democrático dos Códigos
processuais”. Isso porque todo o processo de tramitação do atual CPC foi regido
pelo regime constitucional democrático (DIDIER JR, 2016).
Uma das características impactantes do atual Código de
Processo Civil é da ideia de criação de um processo justo. A esse respeito, é
preciso considerar que:
[...] prevalece na consciência da civilização de nosso tempo a
concepção de que um Código moderno, republicano e democrático, há
de se observar um “modelo social de processo”, que esteja atento às
exigências da instrumentalidade, da efetividade e da presteza na
16

promoção da tutela aos direitos subjetivos em crise. (THEODORO


JÚNIOR, 2016, p. 62)

Dessa forma, é possível notar que diferente do Código de


Processo Civil de 1973, o atual diploma processual tem como baliza o modelo
social do processo. Por outro lado, existem ainda resquícios de formalidade (que
é natural), todavia, com enfoque na efetividade e “melhoria” na promoção da
tutela jurisdicional. Outrossim, realça-se também a sua gênese, que por sua vez,
provém de uma era republicana e democrática.
Ademais, existe também uma forte característica que leva o
CPC/2015 ser diferente dos seus antecessores no tocante a resolução dos
conflitos, de forma que os sujeitos do processo deverão, sempre que possível,
prezar pela autocomposição, sendo dever dos mesmos estimularem a resolução
da lide de forma consensual, nos termos dos parágrafos 2º e 3º do artigo 3º do
CPC – conforme será objeto de estudo futuramente.

2.8 Breves considerações sobre o panorama geral da evolução do Direito


Processual Civil no Brasil

Consoante se depreende dos estudos abordados anteriormente,


o processo evolutivo do direito processual civil no Brasil viveu inúmeras fases,
compreendendo vários marcos históricos que criaram uma forma peculiar de se
pensar o processo. Vale dizer, o País experimentou desde o modelo medieval,
outrora ideais liberais, para somente depois fazer surgir a preocupação com um
modelo social de processo.
Entre erros e acertos, foi também possível enxergar pelo prisma
da história que para o país alcançar o modelo democrático republicano atual,
foram necessários séculos de aprimoramento e estudos que nem sempre
tiveram como escopo a pacificação social. A título de exemplo, basta trazer à
tona o excesso do formalismo processual que se tornou tendência por vários
anos
Derradeiramente, vale salientar que o estudo da evolução do
processo civil faz compreender ainda melhor a necessidade de se fomentar a
pacificação social por meio da autocomposição das partes, tema que será
melhor explorado no capítulo seguinte.
17

CAPITULO 2

1 A NECESSIDADE PELA SUPERAÇÃO DOS CONFLITOS SOCIAIS


18

1.1 Breve considerações históricas sobre a resolução de conflitos

Após explorar os principais pontos sobre a evolução histórica do


direito processual civil, na qual foi objeto de estudo no capítulo anterior, cuja
análise se mostrou necessária para a compreensão do modelo processual atual.
Assim, mostra-se oportuno, sob outro prisma, trazer à lume um dos pilares da
presente pesquisa, qual seja, a necessidade social de resolver seus conflitos.
Nessa linha de raciocínio, a história mais uma vez se mostra
necessária para explicar o motivo pelo qual se reveste de imprescindibilidade o
aprofundamento do aludido tema. Isso porque os:
[...] conflitos humanos na antiguidade eram solucionados por meio da
autotutela, com imposição do mais forte pelo mais fraco. Era a justiça
pelas próprias mãos, e o que vencia geralmente o fazia com uso da
força bruta ou da astúcia, o que gerava a insatisfação da sociedade
somada ao risco de seu próprio declínio. (VERAS, et al. 2014, p.46)

Destarte, é de se destacar que nos primórdios da civilização,


com a inexistência de um Estado capaz de avocar para si o papel de julgador
para impor a lei acima das vontades dos particulares, restava tão somente a
força própria para conseguir alguma pretensão resistida por outrem. (CINTRA;
GRINOVER; DINAMARCO, 1991)
Consoante se extrai das ideias acima invocadas, nota-se que a
solução dos conflitos através da autotutela – da resolução dos conflitos através
da força bruta ou astúcia do agente – não se mostrou como a melhor forma para
atender os anseios de uma sociedade civilizada.
Para tanto, merece destaque as lições propedêuticas de Silvio
Rodrigues sobre a ciência jurídica, tendo em vista que esse estudo é o marco
inicial da evolução social no tocante a resolução dos conflitos de interesse:
O direito, ciência social que é, só pode ser imaginado em função do
homem vivendo em sociedade. [...] À medida que as sociedades
evoluem e se organizam politicamente, a sanção, em vez de se
manifestar pela própria reação do ofendido, parte da autoridade
constituída. (RODRIGUES, 2003, p.3)

A relevância do direito perante a sociedade é indiscutível, para


tanto:
A função ordenadora, isto é, de coordenação dos interesses que se
manifestam na vida social, de modo a organizar a cooperação entre
pessoas e compor os conflitos que se verificarem entre os seus
19

membros. A tarefa da ordem jurídica é exatamente a de harmonizar as


relações sociais intersubjetivas, a fim de ensejar a máxima realização
dos valores humanos com o mínimo de sacrifício e desgaste (CINTRA;
GRINOVER; DINAMARCO, 1991, p. 23).

Tanto é que Marcus Orione Gonçalves Correia (2009, p. 5)


defende que “o sistema de solução dos conflitos em geral não se cinge apenas à
análise da atuação jurisdicional, mas também às suas alternativas extrajudiciais”.
Assim, conforme sintetizado nas linhas anteriores, na medida em
que as sociedades foram evoluindo e se organizando politicamente, ganhou
protagonismo a criação do Estado como o único legitimado para a pacificação
social no tocante a aplicação das leis aos particulares em detrimento de suas
antagônicas vontades.

2 Das formas alternativas de resolução de conflitos

2.1 Da arbitragem

A arbitragem pode ser conceituada como o acordo de vontades


entre pessoas que confiam a resolução de seus litígios na figura de um árbitro,
pactuando, deste modo, a não submissão do poder judiciário em decisões sobre
direitos patrimoniais disponíveis. (GONÇALVES, 2016, p. 806)
Vale salientar que a utilização da convenção de arbitragem
como forma alternativa de solução de conflito está positivada no atual Código de
Processo Civil no artigo 3º, §1º, de modo que é “[...] permitida a arbitragem, na
forma da lei”.
Malgrado a inserção deste importante instituto do direito esteja
transfigurado na parte geral em um único e tímido parágrafo do Código de
Processo Civil, vale ressaltar, contudo, que a sua regulamentação está
insculpida em lei específica (Lei n. 9.307, de 23.9.96).
No tocante a sua utilização, a doutrina elenca algumas
vantagens:
É notória a sobrecarga de processos nos juízos e tribunais e a
multiplicidade de recursos que podem retardar o seu desfecho. A
arbitragem poderá ter a vantagem de dar uma solução mais rápida às
controvérsias; às vezes, a questão controvertida é de natureza muito
específica e exige um conhecimento técnico particular. As partes
20

podem atribuir a solução a árbitros dotados dos conhecimentos


exigidos. (GONÇALVES, 2016, p. 807)

Mostra-se pertinente, portanto, a utilização da arbitragem como


forma alternativa de resolução de conflito nos casos em que a natureza da
discussão seja algo eminentemente técnico. Contudo, realça-se que somente
será possível a sua utilização quando se tratar de direitos patrimoniais
disponíveis.
Nesse sentido, o artigo 25 da Lei n. 9.307/96 preconiza que:
Sobrevindo no curso da arbitragem controvérsia acerca de direitos
indisponíveis e verificando-se que de sua existência, ou não,
dependerá o julgamento, o árbitro ou o tribunal arbitral remeterá as
partes à autoridade competente do Poder Judiciário, suspendendo o
procedimento arbitral. Parágrafo único. Resolvida a questão prejudicial
e juntada aos autos a sentença ou acórdão transitados em julgado, terá
normal seguimento a arbitragem. (BRASIL, 1996)

Vale ressaltar, outrossim, a divergência doutrinária no tocante a


natureza jurisdicional da arbitragem. Tanto é que Daniel Amorim Assumpção
Neves (2017, p. 78) discorre os posicionamentos:
Questão interessante a respeito da arbitragem diz respeito a sua
genuína natureza de equivalente jurisdicional. Ainda que a doutrina
majoritária defenda tal entendimento, é preciso lembrar que importante
parcela doutrinária defende a natureza jurisdicional da arbitragem,
afirmando que atualmente a jurisdição se divide em jurisdição estatal,
por meio da jurisdição, e jurisdição privada, por meio da arbitragem.

De toda sorte, vale considerar que a convenção de arbitragem


como forma alternativa de solução de conflitos já era utilizada antes mesmo do
advento do Código de Processo Civil 2015. Ademais, ficou demonstrado que a
sua utilização poderá ser muito vantajosa no tocante a celeridade das decisões,
além da faculdade das partes poderem escolher um árbitro com conhecimentos
técnicos específico do caso, desde que os direitos sejam patrimoniais
disponíveis.

2.2 Da conciliação e mediação


21

Diferente do que ocorre no instituto da arbitragem, a conciliação


e a mediação “[...] constituem técnicas que se destinam a viabilizar a
autocomposição de disputas ou litígios. Nelas, um terceiro intervém, contribuindo
para que as partes componham por si mesmas a disputa que há entre elas”.
(MONTENEGRO FILHO, 2016, p. 387)
Apesar da conciliação ser bastante parecida com a mediação no
tocante a busca dos resultados pela autocomposição, não se pode confundir, no
entanto, as duas técnicas em seus métodos. Nessa mesma linha de raciocínio,
Elpídio Donizetti (2014, p. 35) esclarece que “[...] se distingue somente porque a
conciliação busca sobretudo o acordo entre as partes, enquanto a mediação
objetiva debater o conflito, surgindo o acordo como mera consequência”.
É importante reforçar que na mediação a decisão não caberá ao
mediador, mas tão somente às partes. O papel do mediador, no entanto, será de
aproximar as partes, discutir o problema oferecendo diferentes abordagens,
munido de técnicas adequadas para a facilitação da composição do litígio.
(DONIZETTI, 2014).
Malgrado a conciliação e mediação já terem sido instituídas há
tempos no ordenamento jurídico brasileiro, é imperioso destacar, por outro lado,
que com o advento no Código de Processo Civil de 2015 suas utilizações
acabaram se tornando obrigatórias. Assim, nas palavras de Misael Montenegro
Filho (2016, p. 353):
O novo CPC aposta na conciliação e na mediação como técnicas que
podem contribuir para a solução dos conflitos de interesses em espaço
de tempo menor, sobretudo no início do processo (como ocorre com
frequência nos Juizados Especiais Cíveis), após o recebimento da
petição inicial, se não for o caso da determinação da sua emenda ou da
improcedência liminar do pedido.

Em suma, tem-se que a conciliação e a mediação apesar de


serem técnicas de autocomposição, possuem diferenças significativas no
tocante aos seus métodos. Outrossim, é de se salientar que a obrigatoriedade
trazida pelo atual CPC de apostar na mediação e conciliação é de extrema valia,
haja vista que os litigantes saem daquele ambiente inóspito que por muito tempo
assolou o mundo processual do Brasil.
2.2.1 Adoção de uma nova política nacional nas soluções de conflitos por
meio da resolução n. 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça
22

Em 29 de Novembro de 2010, o Conselho Nacional de Justiça


por meio da Resolução n. 125 criou a “política judiciária de tratamento adequado
dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário”. (DIDIER JR, 2016, p.
384)

Desta forma, a ideia de implementar esta política no Poder


Judiciário foi justamente fomentar os meios consensuais, conforme é possível
extrair do parágrafo único do Art. 1º da Resolução:

Art. 1º Fica instituída a Política Judiciária Nacional de tratamento dos


conflitos de interesses, tendente a assegurar a todos o direito à solução
dos conflitos por meios adequados à sua natureza e peculiaridade.

Parágrafo único. Aos órgãos judiciários incumbe, nos termos do art.


334 do Novo Código de Processo Civil combinado com o art. 27 da Lei
de mediação, antes da solução adjudicada mediante sentença,
oferecer outros mecanismos de soluções de controvérsias, em especial
os chamados meios consensuais, como a mediação e a conciliação,
bem assim prestar atendimento e orientação ao cidadão. (BRASIL,
Resolução nº 125, de 29 de novembro de 2010)

Kazuo Watanabe (apud DIDIER JR, 2016, p. 385) sustenta que


a conciliação e mediação disciplinadas na resolução n. 125/2010 do CNJ “[…]
devem ser organizadas com a finalidade não de solucionar a crise da
morosidade da justiça, mas como um método para se dar tratamento mais
adequado aos conflitos de interesses que ocorrem na sociedade”.
Portanto, nota-se que o objetivo desta política nacional é dar
eficiência nas resoluções dos litígios promovidos pelo Poder Judiciário,
apostando, sobretudo, na mediação e conciliação como alternativas mais
adequadas à pacificação social.

3 Acesso à justiça como garantia fundamental

Conceito de acesso à justiça


Antes de adentrar no tema propriamente dito, vale tecer algumas
considerações sobre a conceituação de acesso à justiça. Desta forma:
O conceito de acesso à justiça não pode ser examinado sob o enfoque
meramente literal, vale dizer, não há lugar, na atualidade, para a
afirmação de que acesso à justiça significa apenas manifestar
postulação ao Estado-juiz, como se fosse suficiente garantir ao cidadão
o direito à porta de entrada dos tribunais. [...] vai muito além do sentido
literal. Significa também o direito ao devido processo, vale dizer, direito
23

às garantias processuais, julgamento equitativo (justo), em tempo


razoável e eficaz. (SOUZA, 2013, p.18)

Consoante é possível extrair da conceituação doutrinária acima,


não se pode confundir o mero ingresso ao poder judiciário com acesso à justiça.
Em outras palavras, “[...] não se identifica, pois, com a mera admissão ao
processo, ou possiblidade ingresso em juízo”. (CINTRA; GRINOVER;
DINAMARCO, 1991, p. 35)
Já para Cassio Scarpinella Bueno (2015, p. 37) “o acesso à
justiça também pode ser chamado de acesso à ordem jurídica justa,
inafastabilidade da jurisdição ou inafastabilidade do controle jurisdicional. Desta
forma, em uma primeira análise já é possível perceber que o acesso à justiça
ganha relevância dantesca no prisma doutrinário, haja vista que sua ramificação
vai muito além do mero ingresso ao poder judiciário, isto é, sua dimensão
abrange também outros princípios que estão positivados na Constituição
Federal.
A Constituição Federal, por sua vez, preconiza em seu artigo 5º,
inciso XXXV, que a “[...] lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão
ou ameaça a direito”. (BRASIL, 1988) Nesse sentido, a doutrina moderna ensina
que:
[...] ao se referir a qualquer modalidade de “lesão ou ameaça a direito”,
a Constituição Federal Abrange não somente os direitos individuais,
como também direito sociais, privados, públicos e também os
transindivudiais [...] Outrossim, a Constituição permite que qualquer
pessoa tenha acesso ao Judiciário, invocando lesão ou ameaça a
direito, mostrando que a atuação jurisdicional poderá ser preventiva ou
repressiva (ou reparatória) (MARTINS, 2017, p. 918)

Portanto, conforme se extrai da Constituição Federal e também


dos ensinamentos do eminente professor, qualquer pessoa poderá se utilizar da
máquina judiciária quando estiver diante de uma lesão ou ameaça a direito.
Ademais, o acesso à justiça também está atrelado à dignidade da pessoa
humana, de forma que Ana Paulo de Barcellos (apud MASSON, 2016, p. 294)
salienta que:
Esse núcleo, no tocante aos elementos matérias da dignidade, é
composto pelo mínimo existencial, que consiste em um conjunto de
prestações mínimas sem as quais se poderá afirmar que o indivíduo se
encontra em situação de indignidade [...] Uma proposta de
concretização do mínimo existencial, tendo em conta a ordem
constitucional brasileira, deverá incluir os direitos à educação
24

fundamental, à saúde básica, à assistência no caso de necessidade e


ao acesso à justiça”.

Assim, é imperioso reforçar que o direito ao acesso à justiça


(inafastabilidade da jurisdição ou inafastabilidade do controle jurisdicional) está
positivado no rol dos direitos e garantias fundamentais, sendo que sua
inobservância fere a tão protegida dignidade da pessoa humana.

O recolhimento das custas processuais como requisito obrigatório à


propositura da ação
A doutrina costuma atribuir a natureza jurídica das custas
processuais como um ônus a ser suportado pela parte interessada em promover
uma ação judicial. Desta forma:
Ônus e obrigação não se confundem. Ônus são imperativos do próprio
interesse, cujo descumprimento leva a não obtenção de um resultado.
O Ônus não representa débito ou crédito, tão pouco é exigível pela
outra parte. Constitui, na verdade, condição para obtenção de uma
vantagem ou desvantagem. Já a obrigação “é uma situação jurídica do
obrigado em face do credor, em relação a um bem da vida”.
(DINAMARCO apud DONIZETTI, 2014, p. 132)

Superada as considerações pertinentes a natureza jurídica das


custas processuais, merece destaque sua fundamentação legal no Código de
Processo Civil. Assim, preconiza o artigo 82 do CPC:

Art. 82. Salvo as disposições concernentes à gratuidade da justiça,


incumbe às partes prover as despesas dos atos que realizarem ou
requererem no processo, antecipando-lhes o pagamento, desde o início
até a sentença final ou, na execução, até a plena satisfação do direito
reconhecido no título.

§ 1º Incumbe ao autor adiantar as despesas relativas a ato cuja


realização o juiz determinar de ofício ou a requerimento do Ministério
Público, quando sua intervenção ocorrer como fiscal da ordem jurídica.

Consoante se extrai do artigo supramencionado, com exceção


da gratuidade da justiça, a regra é a obrigatoriedade do pagamento das
despesas dos atos que as partes tiverem que adiantar. O recolhimento prévio
das despesas processuais “constitui verdadeira condição de eficácia do ato
realizado ou pressuposto para que se realize o ato pretendido”’. (DONIZETTI,
2014, p. 132)
25

Ademais, o artigo 290 do Código de Processo Civil preconiza


que “Será cancelada a distribuição do feito se a parte, intimada na pessoa de
seu advogado, não realizar o pagamento das custas e despesas de ingresso em
15 (quinze) dias”.
Portanto, para que seja possível o ingresso ao Poder Judiciário,
isto é, se socorrer da tutela jurisdicional mostra-se imprescindível o recolhimento
das custas processuais. Desta forma, surge a presente indagação de que se
essa condição seria uma afronta ao direito fundamental ao acesso à justiça por
parte do Estado (?). De toda forma, a presente indagação será melhor discutida
no item seguinte.

3.1 Os entraves financeiros como obstáculo ao acesso pleno à justiça

Conforme foi explorado no tópico anterior, o mero ingresso ao


poder judiciário não é sinônimo de acesso à justiça. Isso porque a conceituação
desse direito fundamental vai além da sua própria literalidade. Assim, além da
admissão do processo, deve ser garantido aos jurisdicionados um julgamento
equitativo, com razoável duração de tempo, bem como um processo eficaz,
entre outros já mencionados alhures.
No entanto, apesar da Constituição Federal assegurar o acesso
à justiça dentro do rol dos direitos fundamentais, bem como do Código de
Processo Civil de 2015 “facilitar” o ingresso ao judiciário, ainda sim o seu pleno
acesso possui algumas “dificuldades” que merecem uma análise crítica.
Para tanto, mostra-se conveniente discorrer sobre alguns
entraves ao acesso à justiça nas palavras de Leonardo Greco (apud
BRAZILEIRO, 2017, p.?):
[...] o acesso à justiça possui ainda três tipos de barreiras para
cumprir sua efetividade: as barreiras econômicas, resultado do
custo para se ingressar em juízo, tais como custas, honorários
advocatícios e riscos de sucumbência; as barreiras geográficas,
diante da dificuldade do Judiciário manter-se presente em todas as
áreas habitadas do território nacional; e as barreiras burocráticas,
decorrentes do despreparo da estrutura judiciária para enfrentar a
quantidade de processos a que é exposta. (grifo nosso)

Com as considerações explanadas acima, é possível enxergar


possíveis problemas que dificultam o ingresso em juízo, sendo a maioria
26

entraves econômicos, ganhando maior destaque o recolhimento das custas


processuais e o risco de sucumbência.
No tocante às custas processuais, vale considerar que o novo
Código de Processo Civil trouxe em seu artigo 98, §6º a possibilidade de
parcelamento das custas processuais. Desta forma, preconiza aludido artigo:
Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com
insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas
processuais e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da
justiça, na forma da lei.
[...]
§ 6º Conforme o caso, o juiz poderá conceder direito ao parcelamento
de despesas processuais que o beneficiário tiver de adiantar no curso
do procedimento. (BRASIL, Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015)

Conforme é possível destrinchar do comando supramencionado,


a depender do caso, o juiz poderá conceder o direito ao parcelamento das
despesas processuais. Vale dizer, não basta o autor simplesmente requerer o
parcelamento, pois caberá ao juiz realizar uma análise se o caso concreto faz jus
ao parcelamento.
Vale destacar, outrossim, a crítica de Wilson Alves de Souza
(2013, p. 32) sobre a conveniência da cobrança de taxa como contraprestação
ao serviço jurisdicional:
Ocorre que, de um lado, tem-se que a prestação do serviço
jurisdicional não é um serviço qualquer, tendo-se que levar em
consideração a alta finalidade social de caráter geral, que é a
pacificação da sociedade. De outro lado, muitas vezes,
independentemente de taxas judiciárias e do custo do processo [...]
existem aquelas pessoas que se encontram numa faixa econômico-
financeira intermediária (não são tidas como necessitadas, mas
também não são ricas).
Nessa senda, além do argumento de que o serviço jurisdicional
tem a relevante finalidade social de pacificar a sociedade, vale lembrar também
que o acesso à justiça é um direito fundamental. Portanto, como bem colocado
pelo autor, pouco importa isentar as taxas judiciais somente para os
necessitados, isso porque existe a categoria de pessoas que se encontram
numa faixa econômico intermediária.
Salienta-se, por fim, que a desatenção a esse problema
normativo pode ser perigosa no aspecto social:
[...] Ora, os honorários de advogado e as despesas processuais pesam
consideravelmente no orçamento doméstico, de maneira que as
pessoas necessitadas, muitas vezes, optam por não buscar a tutela
de direitos. Isso, no fundo, se caracteriza também como
27

litigiosidade reprimida, o que vem a ser socialmente perigoso.


(SOUZA, 2013, p.33) (grifo nosso)

Assim, percebe-se uma conditio sine qua non para o acesso ao


poder judiciário, qual seja, o recolhimento das custas e despesas processuais,
ainda que de forma parcelada. Portanto, há de um lado a preocupação do
Estado em recolher às custas de um serviço de caráter essencial, vale dizer, de
alto grau de importância que é a pacificação social. Na outra extremidade,
outrossim, encontra-se o direito fundamental ao acesso, que parece estar sendo
mitigado diante aos entraves financeiros.
Por outro lado, a questão financeira é tão importante para o
acesso à justiça que Daniel Amorim Assumpção Neves assevera que:
E há mais, porque, ao se consolidar a política da conciliação em
substituição à jurisdição, o desrespeito às normas de direito material
poderá se mostrar vantajoso economicamente para sujeitos que têm
dinheiro e estrutura para aguentar as agruras do processo e sabem que
do outro lado haverá alguém lesado que aceitará um acordo, ainda que
desvantajoso, somente para se livrar dos tormentos de variadas
naturezas que o processo atualmente gera. O desrespeito ao direito
material passará a ser o resultado de um cálculo de risco-benefício
realizado pelos detentores do poder econômico, em desprestígio
evidente do Estado Democrático de Direito. (NEVES, 2017, p. 63)
(grifo nosso)

Portanto, mostra-se relevante aduzir que o direito ao acesso à


justiça necessita de alguns cuidados ao aplicador do direito para que não seja
deturpado, especialmente no que toca aos entraves financeiros que infelizmente
correspondem a realidade atual do cenário processual. Assim, a alternativa que
sobeja é a via da autocomposição como forma de pacificação social, que por sua
vez, mostra-se economicamente mais vantajosa aos litigantes.

4 O Código de Processo Civil de 2015 como um importante diploma


normativo para a autocomposição

Em um primeiro momento pode parecer ser contraintuitivo aduzir


que o atual Código de Processo Civil seja um forte aliado para a resolução dos
conflitos de forma amigável. Isso porque a existência de um diploma normativo
que regulamenta regras processuais faz, por si só, pressupor a ideia de um
rígido formalismo rigoroso para a resolução dos conflitos.
28

Todavia, conforme já explorado nos capítulos anteriores, o


Código de Processo Civil de 2015 quebrou um paradigma de anos, vale dizer,
trouxe uma acertada visão de que os conflitos sejam preferencialmente
resolvidos de forma consensual.
Nessa mesma linha de raciocínio, vale trazer as colocações de
Misael Montenegro Filho (2016, p. 353) sobre o CPC/2015:
O novo CPC aposta na conciliação e na mediação como técnicas que
podem contribuir para a solução dos conflitos de interesses em espaço
de tempo menor, sobretudo no início do processo (como ocorre com
freqüência nos Juizados Especiais Cíveis), após o recebimento da
petição inicial, se não for o caso da determinação da sua emenda ou
da improcedência liminar do pedido.

Nesse ínterim, ao iniciar uma rápida análise nos dispositivos


inaugurais da parte geral do Código de Processo Civil, especialmente nos
parágrafos do artigo 3º, verifica-se a necessidade de fomentar a solução
consensual dos conflitos. Vejamos:
Art. 3º [...] §1º É permitida a arbitragem, na forma da lei.
§2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução
consensual dos conflitos.
3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução
consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes,
advogados, defensores públicos e membros do Ministério
Público, inclusive a atividade satisfativa.

Nos dizeres de Fredie Didier Jr. (2016, p. 126), “o que os


parágrafos do art. 3º fazem é constituir um sistema multiportas de acesso à
justiça, incrementando (e não limitando) o exercício de jurisdição”. Não merece
maiores delongas no tocante ao parágrafo primeiro do artigo 3º, haja vista que o
cerne do seu conteúdo, qual seja, a arbitragem, foi objeto de análise no item
XXXXXX. Por outro lado, é imprescindível um estudo atencioso dos parágrafos
2º e 3º, tendo em vista ser uma das maiores mudanças em relação ao Código de
Processo Civil de 1973.
Tanto é verdade que Marcus Vinicius Rios Gonçalves (2016, p.
404) preleciona que:
Esses dispositivos vão muito além daquilo que previa o art. 215, IV, do
Código de Processo Civil de 1973, de que competia ao juiz tentar, a
qualquer tempo, conciliar as partes. A lei atual coloca a solução
consensual como um objetivo a ser alcançado, dentro do possível, com
o estímulo do Estado e daqueles que atuam no processo.
29

Portanto, é indubitável a quebra de paradigma trazido pelo


Código de Processo Civil de 2015, isso porque o objetivo do processo agora é a
resolução dos conflitos da forma consensual.
Ademais, a resolução do conflito quando realizada de forma
consensual muitas das vezes será mais satisfatória do que a espera de uma
decisão imposta pelo juiz de direito, ainda que realizada democraticamente
respeitando o contraditório e a participação efetiva dos interessados. (CÂMARA,
2017, p. 18)”
Por fim, ressalta-se que a ideia da resolução da lide da forma
antiga (promovida unicamente pelo Estado) está cada vez mais obsoleta, isso
porque vai “[...] ganhando corpo a consciência de que, se o que importa é
pacificar, torna-se irrelevante que a pacificação venha por obra do Estado ou por
outros meios -, desde que eficientes” (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO,
1991, p. 29)
Outrossim, vale destacar que no §4º do artigo 334 do Código de
Processo Civil que a sessão de mediação ou a audiência de tentativa de
conciliação nos dizeres de Misael Montenegro Filho (2016, p. 576):
[...] passa a ser etapa quase obrigatória do processo, só não sendo
designada [...] a) se o juiz indeferir a petição inicial; b) se o juiz rejeitar
liminarmente o pedido (improcedência liminar do pedido); c) se ambas
as partes manifestarem desinteresse na autocomposição; d) se o juiz
verificar que a causa não versa sobre direito que admita a
autocomposição (direito indisponível).

Em suma, diferente do que estabelecia a antiga legislação


processual, o atual Código de Processo Civil não apenas positiva a possibilidade
das partes se utilizarem da conciliação ou mediação, mas fomenta que todos os
sujeitos do processo estimulem a resolução do conflito através da
autocomposição.

A vantagem econômica da resolução dos conflitos por meio da via


extrajudicial
Apesar do Código de Processo Civil de 2015 trazer uma nova
forma de se pensar o processo fomentando a ideia de que os sujeitos do
processo deverão estimular a resolução dos conflitos da forma consensual,
30

ainda sim a via extrajudicial acaba se tornando uma alternativa mais vantajosa
no viés econômico.
Isso porque a velha ideia de se promover uma demanda judicial
como forma de pacificação social pode acabar se tornando uma opção muito
onerosa, tendo em vista as altas despesas para o ingresso ao Poder Judiciário,
tais como a obrigatoriedade do recolhimento da taxa judicial, do adiantamento
das despesas dos atos processuais que a parte necessitar realizar no curso do
processo, bem como do risco de insucesso da demanda que levaria a
condenação de honorários sucumbência.
Como forma meramente exemplificativa, basta imaginar um caso
hipotético que envolva a colisão de um veículo no trânsito. Levando em
consideração que as partes envolvidas pretendam se submeter à tutela
jurisdicional do Estado, sem qualquer possibilidade de autocomposição.
Portanto, a primeira coisa que o requerente deverá fazer é recolher as custas
processuais iniciais.
Assim, levando em consideração a tabela das taxas judiciárias
extraídas do Tribunal de Justiça de São Paulo, deve ser considerado 1% (um por
cento) sobre o valor da causa no momento da distribuição ou, na falta desta,
antes do despacho inicial, devendo ser observado o mínimo de 5 (cinco) e
máximo de 3.000 (três mil) UFESPs – Unidades Fiscais do Estado de São Paulo,
correspondendo cada UFES o valor de R$ 26,53 (vinte e seis reais e cinquenta e
três centavos). (TJSP, 2019)
Portanto, se naquele caso hipotético descrito anteriormente o
valor da causa for de R$ 100.000,00 (cem mil reais), deverá o autor da ação
recolher R$ 1.000,00 (mil reais) à título de taxa judiciária. Ademais, em caso de
improcedência da demanda, o autor seria condenado a pagar ao advogado do
réu honorários sucumbenciais de 10 a 20% sobre o valor da causa, conforme se
observa comando abaixo:
Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao
advogado do vencedor.
§ 1º São devidos honorários advocatícios na reconvenção, no
cumprimento de sentença, provisório ou definitivo, na execução,
resistida ou não, e nos recursos interpostos, cumulativamente.
§ 2º Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de
vinte por cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico
obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da
causa, atendidos [...] (BRASIL, Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015)
31

Nessa linha de raciocínio, é possível mensurar o tamanho da


desvantagem patrimonial que uma demanda judicial acarretou ao autor da ação.
Isso porque além do prejuízo em razão do acidente de trânsito, o autor também
teria que arcar com o ônus do recolhimento da taxa judiciária, despesas
processuais, honorários de sucumbência, entre outras.
Apesar de serem meras conjecturas, muitas das vezes o caso
hipotético elucidado pode corresponder a realidade, tendo em vista o excesso de
demanda que assola o Poder Judiciário brasileiro. Por outro lado, observa-se
que o caso “relativamente simples” poderia também ter sido resolvido pelos
métodos alternativos de resolução de conflito, tais como a arbitragem, mediação,
quiçá até mesmo pelo poder judiciário por meio da fomentação da
autocomposição.
Como já abordado no item XXXXX, a arbitragem, por sua vez, é
uma forma alternativa de resolução de conflito que pode ser uma saída mais
econômica em alguns casos. Desta forma, ressalta-se que o Código de
Processo Civil também fomenta a resolução do conflito de forma extrajudicial,
conforme é possível extrair das considerações de Daniel Amorim Assupção
Neves (2017, p. 77):
Nesse sentido é elogiável o art. 3.º, caput, do Novo CPC ao prever que
não se excluirá da apreciação jurisdicional a ameaça ou lesão a direito,
salvo os conflitos de interesses voluntariamente submetidos à solução
arbitral. Ainda que seja apenas a consagração de uma realidade
atualmente incontestável, é interessante o dispositivo explicitar tal
realidade.

Portanto, o problema dos elevados custos do ingresso pela


busca da tutela jurisdicional ainda são entraves que vão de encontro ao acesso
à justiça. Por outro lado, surge como solução para os casos que envolvam
direitos patrimoniais disponíveis os métodos alternativos de resolução de
conflitos, sobressaindo-se aqueles atuantes fora da máquina judiciária, como
acontece na arbitragem, por exemplo.

CAPÍTULO 3
32

Estudo de caso sobre os métodos alternativos de resolução de conflito


fomentados pelo Estado e Particulares.

Após uma abordagem contundente sobre os principais marcos


históricos da evolução do Código de Processo Civil destrinchados no primeiro
capítulo, bem como da necessidade social pela busca da resolução se seus
conflitos - objeto de análise do capítulo segundo -, mostra-se conveniente, neste
turno, fazer alusão sobre os resultados que os métodos alternativos de
resolução de conflito proporcionam para a pacificação social.
Assim, as análises dos dados da presente pesquisa terão duas
vertentes. A primeira apontará os resultados obtidos por meio dos métodos
alternativos de resolução de conflito fomentados pelo Estado. A segunda
vertente, por sua vez, tentará exprimir os resultados das resoluções de conflito
extrajudiciais, isto é, sem a participação do Estado.

Autocomposição fomentada pelo Estado

Semana Nacional de Conciliação

Em agosto de 2006, o Conselho Nacional de Justiça, por meio


de suas atribuições, implementou o chamado Movimento pela Conciliação, que
teve “por objetivo alterar a cultura da litigiosidade e promover a busca de
soluções para os conflitos mediante a construção de acordos”. (CONSELHO
NACIONAL DE JUSTIÇA, 20?)
O sucesso do movimento ganhou tanta força que no mesmo ano
o Conselho Nacional de Justiça promoveu a Semana Nacional da Conciliação,
evento que abrangeria todos os tribunais de justiça da Federação.
Visando dar continuidade e autonomia ao movimento da
conciliação supramencionado, no ano de 2007 foi publicada a Recomendação n.
8 do Conselho Nacional de Justiça “sugerindo aos tribunais ações de promoção
de conciliação”. (MONTENEGRO FILHO, 2016, p. 575)
Nessa senda, os principais motivos que levaram a continuidade
da semana da conciliação podem ser observados nas considerações da
Recomendação n. 8 do CNJ:
33

A Presidente do Conselho Nacional de Justiça, no uso de suas


atribuições,
Considerando a função de planejamento estratégico do Poder
Judiciário atribuída ao Conselho Nacional de Justiça pela Constituição
Federal;
Considerando os resultados positivos alcançados pelo Movimento pela
Conciliação, lançado pelo Conselho Nacional de Justiça em agosto de
2006, culminando com o Dia Nacional da Conciliação, ocorrido no dia 8
de dezembro do mesmo ano;
Considerando a necessidade de dar continuidade e autonomia ao
Movimento pela Conciliação no âmbito de cada Tribunal,
Considerando o que foi deliberado pelo Conselho Nacional de Justiça
na Sessão Plenária de 27 de fevereiro de 2007; [...] (BRASIL, Conselho
Nacional de Justiça).

Desta forma, é possível considerar que a semana da conciliação


idealizada pelo Conselho Nacional de Justiça teve o objetivo de acabar com a
cultura da litigiosidade, desempenhando, igualmente, um papel fundamental na
resolução dos conflitos por meio da autocomposição das partes.
A propósito, sobre as semanas da conciliação realizada pelos
órgãos da Justiça nacional, no tocante aos seus resultados, Misael Montenegro
Filho (2016, p.575) comenta que:
[...] o percentual de acordos na Semana Nacional de Conciliação foi de
42%; de 2008 a 2011, os percentuais de acordo foram subindo
progressivamente: 44,3% (2008); 47,2% (2009); 47,3% (2010) e 48,2%
(2011), o que permite a solução de milhares de conflitos de interesses,
a pacificação entre as partes (pelo menos no processo no qual o
acordo foi realizado) e a redução da quantidade de processos em curso
na Justiça brasileira.

Verifica-se que a autocomposição, quando estimulada, produz


efeitos satisfatórios na resolução dos conflitos. Portanto, vale ressaltar que a
idealização da Semana da Conciliação pelo Conselho Nacional de Justiça, ainda
que realizada anualmente, obteve um número expressivo de solução de conflitos
interesses, para tanto, os percentuais progressivos apontados acima denotam o
seu grau de relevância à pacificação social.
Ademais, no que toca a XII Semana da Conciliação realizada no
ano de 2017, a título de estatística, “foram homologados 126,9 mil acordos
judiciais em todo o país, totalizando R$ 1,5 bilhão. Foram atendidos 757 mil
cidadãos que representavam 321 mil processos judiciais”. (CONSELHO
NACIONAL DE JUSTIÇA, 2018)
34

Somando todas as 12 edições do evento, foram tirados dos trâmites judiciais mais
de 1,7 milhão de processos, resolvidos por conciliação.

Dessa forma, fez bem o legislador ao elencar nos parágrafos 2º e 3º do artigo 3º


do Código de Processo Civil a promoção, sempre que possível, da solução
consensual dos conflitos, bem como do dever de estimular os sujeitos do
processo a proceder de tal forma.

Ademais, a expectativa da próxima

A próxima edição da Semana Nacional da Conciliação, deste ano, já tem data marcada.
Será entre os dias 5 e 9 de novembro, nos Tribunais Estaduais, Federais e do Trabalho,
em todo o país. A expectativa é de que o volume de acordos seja ainda maior.
Somando todas as 12 edições do evento, foram tirados dos trâmites judiciais mais de
1,7 milhão de processos, resolvidos por conciliação.

Data: 26 de março de 2019


http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/87900-estimulo-a-metodos-alternativos-de-
solucao-de-conflitos-esta-na-cf88

http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/87125-xiii-semana-nacional-da-
conciliacao-confirmada-para-ocorrer-entre-os-dias-5-e-9-de-novembro

Conforme foi objeto de análise nos tópicos anteriores, a ideia de fomentar o


poder judiciário esperando resolver o litígio da forma tradicional, isto é, aguardar
uma sentença de mérito proferida por um juiz de direito, em que somente uma
35

das partes poderá sair vencedora, irá causar um prejuízo financeiro brutal a
parte sucumbente.
Destarte, ficou demonstrado também que na maioria dos casos
a autocomposição sempre será uma ótima alternativa aos litigantes, tendo em
vista as elevadas despesas da máquina judiciária, como por exemplo o
recolhimento das custas iniciais, o risco da parte pagar honorários de
sucumbência ao advogado da parte vencedora em caso de improcedência do
pedido, sem mencionar o desgaste temporal natural de toda demanda.
36

3 CONCLUSÃO

Conforme se depreende dos estudos analisados, o Código de


Processo Civil de 2015, sem dúvidas, foi um grande aliado para a mudança na
forma de se pensar o processo. Isso porque as partes ao buscar a tutela
jurisdicional deverão somente em último caso se socorrer de uma decisão
judicial, isto é, somente quando não for possível uma autocomposição, conforme
determina a nova sistemática processual em que os sujeitos do processo
deverão estimular para que os litígios sejam resolvidos, preferencialmente, de
forma amigável.
Assim, foi observado que no Brasil por meio da evolução
histórica de seu direito processual civil não existia um estímulo para a
autocomposição, senão uma tímida “conciliação” trazida pelas ordenações
manuelinas e filipinas. Nessa senda, nenhum dos antecessores do CPC de 2015
se mostrou suficientemente preocupado com a busca da pacificação social pela
via consensual de forma contundente, isto é, a priorização da autocomposição a
resolução litigiosa dos conflitos.
Sob outra perspectiva, também foi possível denotar que a
pacificação social por meio dos métodos alternativos de resolução de conflito
ainda são os mais vantajosos no aspecto financeiro e temporal. Isso porque, o
ingresso ao Poder Judiciário ainda é bastante caro, restando como alternativa as
resoluções extrajudiciais, como a arbitragem, a submissão às câmaras de
mediação, acordos extrajudiciais fomentado por advogados para os casos que
versarem sobre direitos patrimoniais disponíveis.
Por fim, ficou demonstrado por meio dos estudos de caso
realizados no último capítulo que a promoção da conciliação e mediação pelo
Estado, bem como a sua fomentação por seus particulares envolvidos na lide,
tem uma grande contribuição para a pacificação social. De tal forma que é
possível mensurar
37

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40

APÊNDICE A – XXXXXXXXXXX
41

ANEXO A – XXXXXXXXXXX

O NCPC como importante instrumento fomentador da


autocomposição em face da onerosidade da prestação jurisdicional estatal.

O Código de Processo Civil de 2015 como instrumento fomentador das


soluções consensuais como alternativa ao acesso à justiça.

CPC como instrumento fomentador da autocomposição e menos oneroso


ao acesso à justiça

A mitigação do acesso à justiça frente onerosidade ao ingresso ao Poder


Judiciário: CPC como instrumento

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