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ILUSTRÍSSIMO (A) SENHOR (A) COMANDANTE DA 1ª COMPANHIA DO 1º

BATALHÃO DE POLÍCIA MILITAR AMBIENTAL – SC

Auto de Infração Ambiental...

EMPRESA AUTUADA, pessoa jurídica de direito privado,


inscrita no CNPJ n..., com sede na Av..., Florianópolis/SC,
CEP..., vem, à presença de Vossa Senhoria, por seu
advogado, com fundamento no art. 73 da Lei Estadual
14.675/2009, art. 113 do Decreto 6.514/08, art. 98 da
Portaria Conjunta CPMA/IMA 143/2019, apresentar

DEFESA PRÉVIA

em razão do Auto de Infração Ambiental – AIA n..., lavrado


por agentes fiscais da 1ªCia/1ºBPMA, em 22 de julho de
2020, consoante as razões de fato e de direito a seguir
expostas.

1. DA TEMPESTIVIDADE
O auto de infração ambiental foi lavrado no dia 22 de julho de 2020. Contudo,
os prazos processuais estão suspensos em razão da Pandemia, e ainda que assim não fosse,
nos termos do art. 73 da Lei Estadual 14.675/2009 e art. 98 c/c art. 28 da Portaria Conjunta
CPMA/IMA 143/2019, o prazo para a apresentação de Defesa Prévia é de 20 (vinte) dias úteis,
contados da ciência do autuado, que ocorreu em 25 de julho de 2020, conforme Termo de
Compromisso e Orientações para Defesa Prévia/Conciliação. Portanto, indiscutível a
tempestividade da presente defesa.

2. PRELIMINARMENTE - DA AUTORIZAÇÃO AMBIENTAL – AUA


Antes de adentrar no mérito, é necessário informar que a autorização
ambiental foi requerida ao órgão municipal competente para o licenciamento.

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3. BREVE SÍNTESE DO AUTO DE INFRAÇÃO AMBIENTAL

No dia 22 de julho de 2020, os Policiais Militares da 1ªCia/1ºBPMA se


deslocaram até a empresa Autuada, e constataram suposta ausência de Autorização Ambiental
– AuA. Posteriormente, lavraram o auto de infração ambiental como incurso no art. 66 do Dec.
6.514/98, in verbis:

Art. 66.  Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar estabelecimentos,


atividades, obras ou serviços utilizadores de recursos ambientais, considerados
efetiva ou potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos
ambientais competentes, em desacordo com a licença obtida ou contrariando as
normas legais e regulamentos pertinentes:  [...]

No dia 25 de julho de 2020, a Autuada compareceu à sede da 1ªCia/1ºBPMA e


foi cientificado do auto de infração, que culminou em multa no valor de R$ 1.000,00 (um mil
reais).

Contudo, o auto de infração epigrafado merece ser anulado/cancelado ante a


atipicidade da conduta, pois a construção não está inserida em área de preservação
permanente, conforme será demonstrado.

4. DO MÉRITO
A Constituição Federal de 1988 assegura em seu art. 5º, que todos são iguais
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, e ainda:

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral


são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes;

Cediço que a imposição de multa administrativa possui caráter penalizador, e


afigurando-se como medida rigorosa e privativa de uma liberdade pública constitucionalmente
assegurada, exige-se a demonstração cabal da autoria e materialidade, que são pressupostos
autorizadores da imposição de sanção.

Na hipótese de constarem nos autos elementos de prova que conduzam à


dúvida acerca da autoria delitiva, o cancelamento do auto de infração é medida que se impõe,
em observância ao princípio do in dubio pro reo.

E mais. A Administração Pública só pode fazer o que está expressamente


previsto em lei, ou seja, só se pode lavrar auto de infração quando ficar evidenciada uma ação
ou omissão contrária a legislação ambiental, o que não é o caso em tela, como será melhor
delineado nos capítulos seguintes, e que importa na anulação do auto de infração em tela.

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4.1. AUTO DE INFRAÇÃO AMBIENTAL LAVRADO PELA POLÍCIA MILITAR
AMBIENTAL E MUNICÍO DE FLORIANÓPOLIS - IMPOSSIBILIDADE
Segundo a equipe de fiscalização da Polícia Militar Ambiental, a Autuada
estaria exercendo atividade sem a devida Autorização Ambiental - AuA, motivo pelo qual
lavraram o auto de infração ambiental, cuja norma infringida seria o art. 66 do Dec. 6.514/98, in
verbis:
Art. 66.  Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar estabelecimentos,
atividades, obras ou serviços utilizadores de recursos ambientais, considerados
efetiva ou potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos
ambientais competentes, em desacordo com a licença obtida ou contrariando as
normas legais e regulamentos pertinentes:  [...]

Ocorre que, a Polícia Militar Ambiental é incompetente para lavrar auto de


infração ambiental, nos termos do art. 17 da Lei Complementar 140/2011, in verbis:

Art. 17.  Compete ao órgão responsável pelo licenciamento ou autorização, conforme


o caso, de um empreendimento ou atividade, lavrar auto de infração ambiental e
instaurar processo administrativo para a apuração de infrações à legislação ambiental
cometidas pelo empreendimento ou atividade licenciada ou autorizada. 

Assim, de acordo com a previsão mencionada acima, o dever de fiscalizar é do


órgão responsável pelo licenciamento do empreendimento, in casu, o Município de
Florianópolis. 

Cediço que os entes federativos possuem competência comum para fiscalizar


o empreendimento, ou seja, tanto o Município de Florianópolis quanto a Polícia Militar Ambiental
podem lavrar um auto de infração ambiental.

Contudo, o § 3º do artigo 17 da Lei Complementar 140 dispõe que na hipótese


da incidência de dois autos de infração possuidores do mesmo objeto e contexto, deverá
prevalecer o auto de infração lavrado pelo órgão que detenha a competência para o
licenciamento ou autorização ambiental, veja:

§ 3o  O disposto no caput  deste artigo não impede o exercício pelos entes federativos
da atribuição comum de fiscalização da conformidade de empreendimentos e
atividades efetiva ou potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais
com a legislação ambiental em vigor, prevalecendo o auto de infração ambiental
lavrado por órgão que detenha a atribuição de licenciamento ou autorização a que se
refere o caput. 

É indiscutível que a competência para concessão da autorização ambiental é


do Município de Florianópolis, conforme reza o art. 9º da Lei Complementar 140/2011. Ademais,
a própria municipalidade lavrou o auto de infração ambiental em anexo, pelo mesmo motivo,
suposta ausência de licenciamento ou autorização ambiental.

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Portanto, necessário o cancelamento do auto infração ambiental lavrado pela
Polícia Militar Ambiental, sob pena de violação do princípio da legalidade e do non bis in idem.

5. CONVERSÃO DA MULTA EM ADVERTÊNCIA COM BASE NA LEI


ESTADUAL 14.675/2009 - POSSIBILIDADE
Ao lavrar o auto de infração ambiental, a equipe de fiscalização da Polícia
Militar Ambiental aplicou multa simples no valor de R$ 1.000,00. Ocorre que, a Autuada não
causou nenhum dano ao meio ambiente. Além do mais, a edificação pode ser classificada como
de baixo impacto ambiental.

Nesse sentir, caso esta autoridade não entenda pelo cancelamento do auto de
infração ─ haja visto a vedação ao no bis in idem ─ requer a aplicação do art. 62 da Lei
Estadual 14.675/2009, in verbis:

Art. 62º. Sempre que de uma infração ambiental não tenha decorrido dano ambiental
relevante, serão as penas de multa convertidas em advertência, salvo em caso de
reincidência.

Frise-se que não há reincidência. Já o conceito de “ dano ambiental relevante”


vem expresso no parágrafo único do próprio dispositivo, veja:

Parágrafo único. Dano ambiental relevante é aquele que causa desocupação da área
atingida pelo evento danoso, afeta a saúde pública das pessoas do local, ou causa
mortandade de fauna e flora.

Evidente que a Autuada não causou a desocupação da área atingida, e de


igual forma, não afetou a saúde pública, tão pouco mortandade de fauna ou flora. Portanto, a
aplicação do art. 62, é medida que se impõe, até porque, é uma obrigação imposta por Lei (v.
termo “serão”).

6. CONVERSÃO DA MULTA EM ADVERTÊNCIA COM BASE NO


DECRETO 6.514/2008 – MEDIDA QUE SE IMPÕE
Subsidiariamente, se a Autoridade Julgadora não entender pela aplicação da
conversão da multa em advertência com base em lei estadual, requer seja aplicado o art. 5º do
Decreto 6.514/2008 que também autoriza a conversão em advertência, quando a multa máxima
cominada não ultrapassar o valor de R$ 1.000,00, veja:
Art. 5º  A sanção de advertência poderá ser aplicada, mediante a lavratura de auto de
infração, para as infrações administrativas de menor lesividade ao meio ambiente,
garantidos a ampla defesa e o contraditório. 
§ 1º  Consideram-se infrações administrativas de menor lesividade ao meio ambiente
aquelas em que a multa máxima cominada não ultrapasse o valor de R$ 1.000,00
(mil reais), ou que, no caso de multa por unidade de medida, a multa aplicável não
exceda o valor referido. 

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Como se vê, a legislação ambiental autoriza a conversão da multa em
advertência quando preenchidos os requisitos, como é o caso dos autos. Dessa forma, caso a
Autoridade Julgadora não entenda pelo cancelamento do auto de infração ou sua conversão com
base na legislação estadual, requer a aplicação do § 1º, art. 5º do Decreto 6.514/08.

7. ATENUANTES
Subsidiariamente, se esta autoridade julgadora não entender pela
nulidade/cancelamento do auto de infração ambiental ou conversão da multa em advertência,
requer sejam aplicadas as circunstâncias atenuantes para fins de redução do valor da multa,
porque (i) o Autuado colaborou com a fiscalização; (ii) atendeu à guarnição para ser autuado; (iii)
possui baixo grau de instrução ou escolaridade; (iv) é micro infrator; e, (v) os supostos danos são
reversíveis em curto espaço de tempo; Dessa forma, requer a redução do valor da multa para o
mínimo legal previsto no art. 66 do Decreto 6.514/08.

8. DOS REQUERIMENTOS
Ante o exposto, requer se digne esta Autoridade Julgadora:

a) Anular ou cancelar o auto de infração ambiental, por violação ao princípio da legalidade e ao


princípio do non bis in idem;
b) No caso de o pedido anterior não ser acolhido por esta Autoridade Julgadora, requer a
conversão da multa em advertência, nos termos do art. 62 da Lei 14.675/2009, ou ainda,
com base no § 1º, art. 5º do Decreto 6.514/08
c) Na hipótese de não serem acolhidos os requerimentos anteriores, requer seja aplicada as
atenuantes, para reduzir o valor da multa ao mínimo legal;
d) Requer seja a Autuada intimada no seu endereço, informado no preâmbulo, por via postal
com aviso de recebimento, para apresentar alegações finais, bem como, da decisão de
julgamento do presente processo administrativo para interposição de eventual recurso
administrativo, sob pena de nulidade;
e) Ao final, no caso de manutenção do auto de infração ambiental, o que não se espera,
requer, para avaliação, o pagamento da multa com 30% de desconto nos termos do art. 64
da Lei 14.6752009 c/c art. 101 da Portaria Conjunta CPMA/IMA 143/2019.
f) Requer a produção de todos os meios de prova em direito admitidos;

Requer e espera deferimento.


Florianópolis/SC, 09 de agosto de 2020.

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ADVOGADO
OAB/SC

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