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4. PRELIMINARMENTE
4.1. IN Nº 02/2020 – TERMO DE EMBARGO AMBIENTAL
A Instruçã o Normativa Conjunta n. 2, de 29 de janeiro de 2020 [4] que regulamentou o
processo administrativo federal para apuraçã o de infraçõ es por condutas e atividades
lesivas ao meio ambiente, dispõ e que o embargo nã o será aplicado quando o desmatamento
ou queimada ocorrer fora de APP ou reserva legal, in verbis:
Art. 31. As obras ou atividades e suas respectivas áreas serão objeto de medida administrativa
cautelar de embargo quando: [...]
4º Não se aplicará a penalidade de embargo de obra ou atividade, ou de área, nos casos em
que desmatamentos ou queimadas ocorrerem fora de área de preservação permanente ou
reserva legal, caso no qual se deverá notificar o proprietário de que impedir a regeneração
natural da área se caracteriza como ilícito administrativo, salvo quando se tratar de
desmatamento não autorizado de vegetação cujo uso alternativo do solo seja vedado.
No caso dos autos, a á rea objeto da infraçã o de posse do Defendente, localizada no
Município de Boca do Acre/AM, totaliza 13.521,89 hectares, enquanto a suposta á rea
degrada foi de 951,39 hectares, o que corresponde a 10.31% da á rea total da propriedade,
e portanto, é dos pró prios autos que colhe-se a negativa de que a á rea está inserida em
Unidades de Conservaçã o (Federal, Estadual ou Municipal) ou em Á rea de Preservaçã o
Permanente (APP) ou Ambiental (APA).
Por outro lado, há evidente á rea remanescente a título de Reserva Legal, configurando-se o
Termo de Embargo n. 05GAPJOP abusivo e em desacordo com a IN nº 2/2020, requerendo,
portanto, a imediata revogaçã o/extinçã o do referido embargo.
5. DO MÉRITO
A Constituiçã o Federal de 1988 assegura em seu art. 5º, que todos são iguais perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, e ainda:
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
Ademais, à luz do princípio da intranscendência das penas, elencada no art. 5º, XLV da
CF/88, nenhuma pena passará da pessoa do condenado, dessa forma, impossível penalizar
terceiros, in casu, o Defendente, por suposta prá tica de destruiçã o de vegetaçã o com uso de
fogo.
De mais a mais, a dú vida nã o pode militar em desfavor do Defendente, haja vista que a
imposiçã o de multa administrativa possui cará ter penalizador, e afigurando-se como
medida rigorosa e privativa de uma liberdade pú blica constitucionalmente assegurada
( CF/88, art. 5º, XV, LIV, LV, LVII e LXI), requer a demonstraçã o cabal da autoria e
materialidade, pressupostos autorizadores da imposiçã o de sançã o, e na hipó tese de
constarem nos autos elementos de prova que conduzam à dú vida acerca da autoria delitiva,
a nulidade do AIA é medida que se impõ e, em observâ ncia ao princípio do in dubio pro reo.
Cumpre lembrar que o servidor pú blico está vinculado diretamente ao preceito
Constitucional do art. 37 [5], orientando que o descumprimento dos princípios ali
inseridos, torna nulo os atos administrativos praticados.
5.1. DA ATIPICIDADE DA CONDUTA
É cediço que a responsabilidade pelo imó vel é do proprietá rio. Tal fato, porém, nã o atrai a
responsabilidade administrativa do dono de imó vel, em razã o da natureza penalizadora da
infraçã o.
Pois bem. No Auto de Infraçã o Ambiental n... e Termo de Embargo n... lavrados pelo
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renová veis - IBAMA em 12
de dezembro de 2019, é imputada ao Defendente a prá tica de destruiçã o de florestas com a
agravante de uso de fogo, in verbis:
Art. 3º As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções:
II - multa simples;
VII - embargo de obra ou atividade e suas respectivas áreas;
Art. 50. Destruir ou danificar florestas ou qualquer tipo de vegetação nativa ou de espécies
nativas plantadas, objeto de especial preservação, sem autorização ou licença da autoridade
ambiental competente:
Multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por hectare ou fração.
1º A multa será acrescida de R$ 500,00 (quinhentos reais) por hectare ou fração quando a
situação prevista no caput se der em detrimento de vegetação secundária no estágio inicial de
regeneração do bioma Mata Atlântica.
2º Para os fins dispostos no art. 49 e no caput deste artigo, são consideradas de especial
preservação as florestas e demais formas de vegetação nativa que tenham regime jurídico
próprio e especial de conservação ou preservação definido pela legislação.
Art. 60. As sanções administrativas previstas nesta Subseção serão aumentadas pela metade
quando:
I - ressalvados os casos previstos nos arts. 46 e 58, a infração for consumada mediante uso de
fogo ou provocação de incêndio; e
II - a vegetação destruída, danificada, utilizada ou explorada contiver espécies ameaçadas de
extinção, constantes de lista oficial.
Art. 70. Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as
regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente.
1º São autoridades competentes para lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo
administrativo os funcionários de órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional de Meio
Ambiente - SISNAMA, designados para as atividades de fiscalização, bem como os agentes das
Capitanias dos Portos, do Ministério da Marinha.
Art. 72. As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções, observado o
disposto no art. 6º:
Considerando as imagens e medições via satélite, a equipe de fiscalizaçã o constatou
supostamente, uma á rea destruída de 951,39 hectares, aplicando uma multa administrativa
de R$ 7.522,61 por hectare, totalizando o valor de R$ 7.156.355,00.
Ocorre que o Defendente nã o se enquadra nas disposiçõ es legais ora imputadas, em razã o
de nã o ter praticado, tã o pouco dado causa a nenhuma infraçã o ao meio ambiente. Do
mesmo modo, nã o se omitiu à s regras jurídicas, e logo, incabível a imputaçã o daquelas
infraçõ es, porquanto a norma exige a presença de dolo específico, seja ele direto ou mesmo
eventual, nã o se admitindo a modalidade culposa no caso em comento.
Com a devida vênia, o cometimento de delitos pelos administrados nã o pode ser imputado
diretamente pela autoridade fiscalizadora por simples presunçã o quando da ausência de
flagrante delito e sem o devido processo legal ou investigaçã o, ou seja, constatar por
sobrevoo suposto dano ambiental e imputar ao Defendente a prá tica da infraçã o, que
sequer estava no local, simplesmente pelo fato de ser o possuidor da á rea, fere de morte os
princípios constitucionais.
Pelo que se verifica, resta ausente, portanto, os pressupostos caracterizadores da infraçã o
imputada, pois nã o ficou demonstrado pela autoridade fiscalizadora, a intençã o do
Defendente em infringir a lei ambiental.
Nesse diapasã o, dispõ e o art. 95 do Dec. 6.514/08, que
Art. 95. O processo será orientado pelos princípios da legalidade, finalidade, motivação,
razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança
jurídica, interesse público e eficiência, bem como pelos critérios mencionados no parágrafo
único do art. 2o da Lei no 9.784, de 29 de janeiro de 1999.
O referido art. 2º da Lei no 9.784/99 mencionado no r. art. 95, ressalta que:
Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade,
finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios
de:
I - atuação conforme a lei e o Direito;
II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a renúncia total ou parcial de poderes ou
competências, salvo autorização em lei;
III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada a promoção pessoal de agentes
ou autoridades;
IV - atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé;
V - divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas na
Constituição;
VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, restrições e
sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do
interesse público;
VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a decisão;
VIII – observância das formalidades essenciais à garantia dos direitos dos administrados;
IX - adoção de formas simples, suficientes para propiciar adequado grau de certeza,
segurança e respeito aos direitos dos administrados;
X - garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de alegações finais, à produção de
provas e à interposição de recursos, nos processos de que possam resultar sanções e nas
situações de litígio;
XI - proibição de cobrança de despesas processuais, ressalvadas as previstas em lei;
XII - impulsão, de ofício, do processo administrativo, sem prejuízo da atuação dos
interessados;
XIII - interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do
fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação.
Portanto, em atendimento aos r. princípios elencados na pró pria norma ambiental, espera-
se o cancelamento do AIA lavrado em desfavor do Defendente, diante da atipicidade da
conduta.
6. ATENUANTES
Subsidiariamente, em homenagem ao princípio da eventualidade, se esta autoridade
julgadora nã o entender pela nulidade do auto de infraçã o ambiental n... e cancelamento do
Termo de Embargo n..., informa, as circunstâ ncias atenuantes presentes no caso, para
reduçã o do valor da multa, nos termos do art. 14 da Lei 9.605/98:
1. o comparecimento ao local indicado para ciência do auto de infraçã o;
2. que o Defendente possui baixo grau de escolaridade;
Requer, portanto, a reduçã o do valor da multa administrativa imposta.
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