Você está na página 1de 16

🔴INSTAGRAM: https://www.instagram.

com/advocaciaambiental/

ILUSTRÍSSIMO SENHOR SUPERINTENDENTE ESTADUAL DO INSTITUTO BRASILEIRO


DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS – IBAMA
ESTADO DO AMAZONAS
AIA n....
Termo de Embargo n...
Notificação n...
AUTUADO, brasileiro, casado, empresá rio, inscrito no RG sob o n... expedido pela SSP/AM,
e CPF n..., residente e domiciliado Na Av..., Bairro..., Cidade/UF..., CEP..., vem, à presença de
Vossa Senhoria, por seu advogado [1], com fundamento nos art. 69 e seguintes da Instruçã o
Normativa Conjunta n. 02/2020 e art. 113 e seguintes do Decreto 6.514/2008,
apresentar
DEFESA PRÉVIA
em razã o do Auto de Infraçã o Ambiental n... e Termo de Embargo n...lavrados pelo Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renová veis - IBAMA em 12 de
dezembro de 2019, consoante as razõ es de fato e de direito a seguir expostas.

1. DA TEMPESTIVIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO AMBIENTAL


Primeiramente, há que se registrar que a audiência de conciliaçã o foi designada para a data
de 02.03.2020, sobrestando o prazo para apresentaçã o de defesa prévia contra o auto de
infraçã o ambiental.
Portanto, nos termos do art. 113 do Decreto 6.514/2008 [2] c/c § 1º do art. 49 da
Instruçã o Normativa n. 2/2020 [3], o prazo para a apresentaçã o de Defesa Prévia é de 20
(vinte) dias ú teis, contados a partir da data da audiência. Logo, flagrantemente tempestiva
a presente defesa.

2. BREVE SÍNTESE DO AUTO DE INFRAÇÃO AMBIENTAL


No dia 25 de novembro de 2019, por determinaçã o do coordenador da Operaçã o Amazô nia
Soberana, foi realizada vistoria aérea a partir da base da operaçã o, com sede no município
de Boca do Acre/AM, com o objetivo de apurar indícios de infraçã o ambiental.
Ao sobrevoar as coordenadas centrais latitude S 00º 35’34,2” e Longitude W 00º 3’45,7’, a
equipe do IBAMA constatou suposto dano ambiental na propriedade rural situada no
Município de...
Segundo consta no Relató rio de Fiscalizaçã o, ao pousar na sede da propriedade vizinha, a
equipe do Ibama foi recebida pelo Sr..., que os acompanhou durante a vistoria e indicou o
acesso para a á rea do Sr..., ora Defendente, constatando suposta destruiçã o da floresta
nativa consumada com o uso de fogo, ocasiã o em que “deixaram” um aviso para que o
Defendente comparecesse à Base do IBAMA.
Consta ainda, no Relató rio de Fiscalizaçã o, que apó s aná lise realizada pelo Agente de
Geoprocessamento, constatou-se que a á rea supostamente desmatada no período analisado
é de 951,39 hectares.
Em 02.12.2019, o Sr..., irmã o do Defendente, compareceu à Base do IBAMA para prestar
esclarecimentos sobre os supostos danos ambientais, apresentando có pia do Contrato de
Compra e Venda em nome do Defendente, Memorial Descritivo e documento de identidade
da vendedora.
Consta no Relató rio de Fiscalizaçã o, que “durante a entrevista informou que o seu irmão está
na Espanha e que ele era o responsável pela propriedade. Que a derrubada teria sido feita por
ele, autorizada pelo irmão. Informou ainda que a área vem sendo utilizada para o uso
agropastoril.”
Por tal razã o, e somado à s imagens de satélites, a equipe do Ibama lavrou “AIA..., no valor de
R$ 7.156.355,00 por ”Destruir 951,39 hectares de Floresta Nativa no Bioma Amazônico,
objeto de especial preservação, cominado com uso de fogo, sem a licença outorgada pelo
órgão ambiental competente”, e, “o Termo de Embargo... e a Notificação..., em desfavor do
Sr..., CPF.... Dando ciência aos termos foi orientado conforme manual do Autuado e dispensado
sem mais a declarar.”
Entretanto, a narrativa posta pela equipe de fiscalizaçã o do Ibama nã o retrata a veracidade
dos fatos, razã o pela qual o AIA merece ser declarado nulo, com o devido desembargo da
á rea, conforme será demonstrado.

3. DA VERDADE FÁTICA DO AUTO DE INFRAÇÃO AMBIENTAL


O Defendente é o legítimo possuidor de um imó vel com á rea de 1.478,70 hectares,
localizado no Município de...
Ocorre que, por volta das 12h00 do dia 25.11.2019, a equipe do Ibama durante fiscalizaçã o
ambiental, sobrevoou a propriedade do Defendente, o imputando a infraçã o administrativa
prevista no art. 50 do Decreto 6.514/2008, majorada nos termos do art. 60 do mesmo
diploma legal, in verbis:
Art. 50. Destruir ou danificar florestas ou qualquer tipo de vegetação nativa ou de espécies
nativas plantadas, objeto de especial preservação, sem autorização ou licença da autoridade
ambiental competente:
Multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por hectare ou fração.
1º A multa será acrescida de R$ 500,00 (quinhentos reais) por hectare ou fração quando a
situação prevista no caput se der em detrimento de vegetação secundária no estágio inicial de
regeneração do bioma Mata Atlântica.
2º Para os fins dispostos no art. 49 e no caput deste artigo, são consideradas de especial
preservação as florestas e demais formas de vegetação nativa que tenham regime jurídico
próprio e especial de conservação ou preservação definido pela legislação.
Art. 60. As sanções administrativas previstas nesta Subseção serão aumentadas pela metade
quando:
I - ressalvados os casos previstos nos arts. 46 e 58, a infração for consumada mediante uso de
fogo ou provocação de incêndio; e
II - a vegetação destruída, danificada, utilizada ou explorada contiver espécies ameaçadas de
extinção, constantes de lista oficial.
Pois bem. A suposta informaçã o de que o Defendente teria “autorizado seu irmão” a
destruir a vegetaçã o nã o condiz com a realidade dos fatos.
É de conhecimento pú blico e notó rio a ausência de chuvas na regiã o na época da
fiscalizaçã o, conforme amplamente noticiado pelos canais de mídia, o que contribuiu para a
lavratura do auto de infraçã o ambiental em desfavor do Defendente, sem, contudo, que este
fosse o verdadeiro causador do suposto dano.
Definitivamente, o AIA padece de nulidade e deve ser declarado nulo por esta autoridade
julgadora, nos termos do art. 100 do Decreto 6.514/2008. Mas antes, necessá rio requerer
o desembargo da á rea e a suspensã o do processo para fins de regularizaçã o.

4. PRELIMINARMENTE
4.1. IN Nº 02/2020 – TERMO DE EMBARGO AMBIENTAL
A Instruçã o Normativa Conjunta n. 2, de 29 de janeiro de 2020 [4] que regulamentou o
processo administrativo federal para apuraçã o de infraçõ es por condutas e atividades
lesivas ao meio ambiente, dispõ e que o embargo nã o será aplicado quando o desmatamento
ou queimada ocorrer fora de APP ou reserva legal, in verbis:
Art. 31. As obras ou atividades e suas respectivas áreas serão objeto de medida administrativa
cautelar de embargo quando: [...]
4º Não se aplicará a penalidade de embargo de obra ou atividade, ou de área, nos casos em
que desmatamentos ou queimadas ocorrerem fora de área de preservação permanente ou
reserva legal, caso no qual se deverá notificar o proprietário de que impedir a regeneração
natural da área se caracteriza como ilícito administrativo, salvo quando se tratar de
desmatamento não autorizado de vegetação cujo uso alternativo do solo seja vedado.
No caso dos autos, a á rea objeto da infraçã o de posse do Defendente, localizada no
Município de Boca do Acre/AM, totaliza 13.521,89 hectares, enquanto a suposta á rea
degrada foi de 951,39 hectares, o que corresponde a 10.31% da á rea total da propriedade,
e portanto, é dos pró prios autos que colhe-se a negativa de que a á rea está inserida em
Unidades de Conservaçã o (Federal, Estadual ou Municipal) ou em Á rea de Preservaçã o
Permanente (APP) ou Ambiental (APA).
Por outro lado, há evidente á rea remanescente a título de Reserva Legal, configurando-se o
Termo de Embargo n. 05GAPJOP abusivo e em desacordo com a IN nº 2/2020, requerendo,
portanto, a imediata revogaçã o/extinçã o do referido embargo.

4.2. POSSIBILIDADE DE SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO


Cediço que a Lei n. 12.651/12 autoriza a supressã o de vegetaçã o nativa, mediante
autorizaçã o do ó rgã o competente, nos termos do art. 12 do referido diploma legal:
Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de
Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação
Permanente, observados os seguintes percentuais mínimos em relação à área do imóvel,
excetuados os casos previstos no art. 68 desta Lei:
I - localizado na Amazônia Legal:
a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas; [...]
A á rea objeto da infraçã o está localizada no Município de Boca do Acre/AM, possuindo á rea
total de 13.521,89, enquanto a suposta á rea degrada foi de 951,39 hectares, ou seja,
corresponde apenas a 10.31% da á rea total da propriedade.
Frise-se que a á rea nã o está inserida em Unidades de Conservaçã o (Federal, Estadual ou
Municipal); nã o está localizado em Á rea de Preservaçã o Permanente (APP) ou Ambiental
(APA); nã o é terreno de marinha; nem ocupaçã o irregular, o que significa dizer, que nã o há
ó bice a supressã o autorizada. Por outro lado, a legislaçã o ambiental permite a supressã o de
vegetaçã o na regiã o objeto da infraçã o, inclusive com uso de fogo.
Assim, hipoteticamente, ainda que o Defendente tivesse dado causa ao suposto dano
ambiental, nã o há que se falar em infraçã o ao art. 50 c/c art. 60 do Decreto 6.514/08,
porquanto a prá tica é permitida quando autorizada.
Dessa forma, respeitando-se o princípio constitucional do direito à propriedade, requer a
suspensã o do processo administrativo para apuraçã o do auto de infraçã o ambiental n..., até
que sejam apresentadas as devidas autorizaçõ es para supressã o da vegetaçã o.

5. DO MÉRITO
A Constituiçã o Federal de 1988 assegura em seu art. 5º, que todos são iguais perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, e ainda:
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
Ademais, à luz do princípio da intranscendência das penas, elencada no art. 5º, XLV da
CF/88, nenhuma pena passará da pessoa do condenado, dessa forma, impossível penalizar
terceiros, in casu, o Defendente, por suposta prá tica de destruiçã o de vegetaçã o com uso de
fogo.
De mais a mais, a dú vida nã o pode militar em desfavor do Defendente, haja vista que a
imposiçã o de multa administrativa possui cará ter penalizador, e afigurando-se como
medida rigorosa e privativa de uma liberdade pú blica constitucionalmente assegurada
( CF/88, art. 5º, XV, LIV, LV, LVII e LXI), requer a demonstraçã o cabal da autoria e
materialidade, pressupostos autorizadores da imposiçã o de sançã o, e na hipó tese de
constarem nos autos elementos de prova que conduzam à dú vida acerca da autoria delitiva,
a nulidade do AIA é medida que se impõ e, em observâ ncia ao princípio do in dubio pro reo.
Cumpre lembrar que o servidor pú blico está vinculado diretamente ao preceito
Constitucional do art. 37 [5], orientando que o descumprimento dos princípios ali
inseridos, torna nulo os atos administrativos praticados.
5.1. DA ATIPICIDADE DA CONDUTA
É cediço que a responsabilidade pelo imó vel é do proprietá rio. Tal fato, porém, nã o atrai a
responsabilidade administrativa do dono de imó vel, em razã o da natureza penalizadora da
infraçã o.
Pois bem. No Auto de Infraçã o Ambiental n... e Termo de Embargo n... lavrados pelo
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renová veis - IBAMA em 12
de dezembro de 2019, é imputada ao Defendente a prá tica de destruiçã o de florestas com a
agravante de uso de fogo, in verbis:
Art. 3º As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções:
II - multa simples;
VII - embargo de obra ou atividade e suas respectivas áreas;
Art. 50. Destruir ou danificar florestas ou qualquer tipo de vegetação nativa ou de espécies
nativas plantadas, objeto de especial preservação, sem autorização ou licença da autoridade
ambiental competente:
Multa de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por hectare ou fração.
1º A multa será acrescida de R$ 500,00 (quinhentos reais) por hectare ou fração quando a
situação prevista no caput se der em detrimento de vegetação secundária no estágio inicial de
regeneração do bioma Mata Atlântica.
2º Para os fins dispostos no art. 49 e no caput deste artigo, são consideradas de especial
preservação as florestas e demais formas de vegetação nativa que tenham regime jurídico
próprio e especial de conservação ou preservação definido pela legislação.
Art. 60. As sanções administrativas previstas nesta Subseção serão aumentadas pela metade
quando:
I - ressalvados os casos previstos nos arts. 46 e 58, a infração for consumada mediante uso de
fogo ou provocação de incêndio; e
II - a vegetação destruída, danificada, utilizada ou explorada contiver espécies ameaçadas de
extinção, constantes de lista oficial.
Art. 70. Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as
regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente.
1º São autoridades competentes para lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo
administrativo os funcionários de órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional de Meio
Ambiente - SISNAMA, designados para as atividades de fiscalização, bem como os agentes das
Capitanias dos Portos, do Ministério da Marinha.
Art. 72. As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções, observado o
disposto no art. 6º:
Considerando as imagens e medições via satélite, a equipe de fiscalizaçã o constatou
supostamente, uma á rea destruída de 951,39 hectares, aplicando uma multa administrativa
de R$ 7.522,61 por hectare, totalizando o valor de R$ 7.156.355,00.
Ocorre que o Defendente nã o se enquadra nas disposiçõ es legais ora imputadas, em razã o
de nã o ter praticado, tã o pouco dado causa a nenhuma infraçã o ao meio ambiente. Do
mesmo modo, nã o se omitiu à s regras jurídicas, e logo, incabível a imputaçã o daquelas
infraçõ es, porquanto a norma exige a presença de dolo específico, seja ele direto ou mesmo
eventual, nã o se admitindo a modalidade culposa no caso em comento.
Com a devida vênia, o cometimento de delitos pelos administrados nã o pode ser imputado
diretamente pela autoridade fiscalizadora por simples presunçã o quando da ausência de
flagrante delito e sem o devido processo legal ou investigaçã o, ou seja, constatar por
sobrevoo suposto dano ambiental e imputar ao Defendente a prá tica da infraçã o, que
sequer estava no local, simplesmente pelo fato de ser o possuidor da á rea, fere de morte os
princípios constitucionais.
Pelo que se verifica, resta ausente, portanto, os pressupostos caracterizadores da infraçã o
imputada, pois nã o ficou demonstrado pela autoridade fiscalizadora, a intençã o do
Defendente em infringir a lei ambiental.
Nesse diapasã o, dispõ e o art. 95 do Dec. 6.514/08, que
Art. 95. O processo será orientado pelos princípios da legalidade, finalidade, motivação,
razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança
jurídica, interesse público e eficiência, bem como pelos critérios mencionados no parágrafo
único do art. 2o da Lei no 9.784, de 29 de janeiro de 1999.
O referido art. 2º da Lei no 9.784/99 mencionado no r. art. 95, ressalta que:
Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade,
finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios
de:
I - atuação conforme a lei e o Direito;
II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a renúncia total ou parcial de poderes ou
competências, salvo autorização em lei;
III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada a promoção pessoal de agentes
ou autoridades;
IV - atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé;
V - divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas na
Constituição;
VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, restrições e
sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do
interesse público;
VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a decisão;
VIII – observância das formalidades essenciais à garantia dos direitos dos administrados;
IX - adoção de formas simples, suficientes para propiciar adequado grau de certeza,
segurança e respeito aos direitos dos administrados;
X - garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de alegações finais, à produção de
provas e à interposição de recursos, nos processos de que possam resultar sanções e nas
situações de litígio;
XI - proibição de cobrança de despesas processuais, ressalvadas as previstas em lei;
XII - impulsão, de ofício, do processo administrativo, sem prejuízo da atuação dos
interessados;
XIII - interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do
fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação.
Portanto, em atendimento aos r. princípios elencados na pró pria norma ambiental, espera-
se o cancelamento do AIA lavrado em desfavor do Defendente, diante da atipicidade da
conduta.

5.2. DA NULIDADE DO AIA POR VÍCIO INSANÁVEL


É certo que a responsabilidade administrativa por dano ambiental é exclusiva do infrator,
assim como a criminal, nã o sendo possível a aplicaçã o de nenhuma sançã o a terceiros que
nã o tenham infringido diretamente a legislaçã o ambiental.
É que pelo princípio da intranscendência das penas ( art. 5º, inc. XLV, CF/88), aplicá vel nã o
só ao â mbito penal, mas também a todo o Direito Sancionador, nã o é possível aplicar auto
de infraçã o ambiental a pessoa que nã o tenha praticado o dano ambiental.
Isso porque, a aplicaçã o de penalidades administrativas nã o obedece à ló gica da
responsabilidade objetiva da esfera cível (para reparaçã o dos danos causados), mas deve
obedecer à sistemá tica da teoria da culpabilidade, ou seja, a conduta deve ser cometida
pelo alegado transgressor, com demonstraçã o de seu elemento subjetivo, e com
demonstraçã o do nexo causal entre a conduta e o dano.
A diferença entre os dois â mbitos de puniçã o e suas consequências fica bem estampada da
leitura do art. 14, § 1º, da Lei n. 6.938/81, segundo o qual, é o poluidor obrigado,
independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao
meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade.
O art. 14, caput, também é claro:
Art 14 – Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal,
o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e
danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: […]
Em resumo: a aplicaçã o de multa ambiental limita-se aos transgressores; a reparaçã o
ambiental, de cunho civil, a seu turno, pode abranger todos os poluidores, a quem a pró pria
legislaçã o define como “a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável,
direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental” ( art. 3º, inc. V,
do mesmo diploma normativo).
Note-se que a pró pria lei já define como poluidor todo aquele que seja responsá vel pela
degradaçã o ambiental – e aquele que, adquirindo a propriedade, nã o reverte o dano
ambiental, ainda que nã o causado por ele, já seria um responsá vel indireto por degradaçã o
ambiental (poluidor, pois).
Mas fato é que o uso do vocá bulo “transgressores” no caput do art. 14, comparado à
utilizaçã o da palavra “poluidor” no § 1º do mesmo dispositivo, deixa a entender aquilo que
já se podia inferir da vigência do princípio da intranscendência das penas: a
responsabilidade civil por dano ambiental é subjetivamente mais abrangente do que as
responsabilidades administrativa e penal, nã o admitindo estas ú ltimas que terceiros
respondam a título objetivo por ofensa ambientais praticadas por outrem.
Sabe-se que a responsabilidade ambiental gera efeitos nas três esferas: administrativa
(multa ambiental), criminal (quando a infraçã o constituir crime o infrator responde um
processo judicial criminal) e cível (recuperaçã o do meio ambiente), mas devido a natureza
sancionadora, somente a responsabilidade civil é objetiva e solidá ria, nã o sendo possível
imputar crime ambiental muito menos multa administrativa a terceiro que nã o tenha
concorrido diretamente para o dano ambiental.
Sendo assim, não é possível imputar ao Defendente conduta praticada por terceiro,
ainda que desconhecido, por supostos danos ao meio ambiente, e, portanto, há de ser
considerado por esta autoridade julgadora, que o AIA lavrado em desfavor do Defendente é
eivado de vícios, sobretudo pela ausência de autoria, o que caracteriza sua nulidade nos
termos do art. 100 do Decreto 6.514/2008, requerendo portanto, seu imediato
cancelamento.

5.3. DA AUSÊNCIA DA AUTORIA E DA APLICAÇÃO DO ART. 38 DA LEI FEDERAL


12.651/12
Na forma descrita nos fatos indicou-se claramente que a Defendente nã o foi o causador da
destruiçã o de vegetaçã o e do uso de fogo que motivou a lavratura do auto de infraçã o
ambiental, mas que o real causador do evento é terceiro desconhecido.
Analisando a topografia do local, verifica-se que se trata de á rea à s margens da BR-317.
Ademais, é de conhecimento pú blico e notó ria que as secas na regiã o à época, contribuíram
para as queimadas, muitas destas provocadas por agentes desconhecidos.
Ausente está qualquer indício de que o Defendente tenha praticado ou guarde relaçã o com
a conduta. Ao contrá rio, há mera presunçã o de autoria derivada da posse existente. Mesmo
porque, o Defendente jamais autorizou seu irmã o a praticar dano ambiental. E frise-se que
seu irmã o jamais provocou dano ambiental, como fez crer equivocadamente a equipe de
fiscalizaçã o.
Ressalte-se, que nos moldes da Lei Federal n. 9.605/98, art. 70, só poderá ser
considerado autor de infraçã o administrativa aquele que produzir a açã o ou omissã o que
viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoçã o, proteçã o e recuperaçã o do meio ambiente,
assim como prevê o art. 38 da Lei Federal 12.651/12.
Outrossim, nã o há nos autos qualquer indício de que o fogo tenha sido de autoria do
Defendente, pois a autuaçã o ocorreu em seu desfavor apenas por ser o possuidor da á rea.
Nesse sentido, cabia ao agente de fiscalizaçã o ter identificado de fato se o foco de fogo
inicial foi realmente de responsabilidade do Defendente ou de seu irmã o. Acontece que
quando a equipe do Ibama chegou ao local, conforme fotos á reas, inexistia até mesmo focos
de incêndio.
Fundado em simples ilaçõ es, que inclusive no caso em voga estã o desprovidas de qualquer
indício, a equipe de fiscalizaçã o deveria ter considerado que em sede de processo
administrativo sancionador vigora o princípio da verdade material.
Desta forma, incumbia ao agente pú blico apurar com exatidã o o real causador do ilícito
efetivo atinente ao uso de fogo ao invés de automaticamente autuar o Defendente.
Some-se ainda que a atual legislaçã o ambiental impede a autuaçã o derivada de uso de fogo
sem a efetiva identificaçã o do nexo de causalidade por açã o ou omissã o, conforme dita o
art. 38, § 3º, da Lei Federal nº 12.651/12:
Art. 38. É proibido o uso de fogo na vegetação, exceto nas seguintes situações: (...)
3º Na apuração da responsabilidade pelo uso irregular do fogo em terras públicas ou
particulares, a autoridade competente para fiscalização e autuação deverá comprovar o nexo
de causalidade entre a ação do proprietário ou qualquer preposto e o dano efetivamente
causado.
Em sede de infraçã o administrativa ambiental o simples juízo de probabilidade utilizado
para imputar infraçã o e a sucessiva sançã o nã o pode ser admitido e se faz essencial a
perfeita indicaçã o da autoria e identificaçã o da relaçã o de causalidade com a infraçã o, como
demonstra a jurisprudência aná loga:
ADMINISTRATIVO. IBAMA. APLICAÇÃ O DE MULTA. INFRAÇÃ O AMBIENTAL.
ARMAZENAMENTO DE MADEIRA PROVENIENTE DE VENDAVAL OCORRIDO NA REGIÃ O.
EXISTÊ NCIA DE TAC. COMPROVADA BOA-FÉ . REEXAME DE PROVAS. SÚ MULA 7/STJ. 1. A
responsabilidade é objetiva; dispensa-se, portanto, a comprovaçã o de culpa, entretanto há
de constatar o nexo causal entre a açã o ou omissã o e o dano causado, para configurar a
responsabilidade. 2. A Corte de origem, com espeque no contexto fá tico dos autos, afastou a
multa administrativa. Incidência da Sú mula 7/STJ. Agravo regimental improvido"(STJ AgRg
no RECURSO ESPECIAL nº 1.277.638 - SC. Rel. Min. HUMBERTO MARTINS. Jul.
07/05/2013).
Desta forma, deveria ter sido apurado o nexo de causalidade e nã o se atribuir autoria
apenas com fundamento na relaçã o de posse existente.
Na forma como se deu a autuaçã o, bastaria, por exemplo, a imputaçã o de autoria por um
desafeto do Defendente e que sucessivamente a autoridade de fiscalizaçã o aceitasse
suposta alegaçã o sem qualquer investigaçã o adicional. Aqui ressalte-se, que a equipe de
fiscalizaçã o chegou ao local da suposta infraçã o conduzida pelo vizinho à propriedade do
Defendente.
Temos que em relaçã o a responsabilidade administrativa ambiental os preceitos da
responsabilidade civil ambiental prevista na Lei n. 6.938/81 nã o se aplicam como expõ e a
doutrina sobre a necessidade de identificaçã o da autoria:
Tem-se dito no Direito Ambiental a responsabilidade por infração administrativas é objetiva,
ou seja, dispensa a culpa ou o dolo do agente chegando-se ao extremo de dispensar a própria
atuação do autuado, fazendo-o responder pelo fato de terceiros sem razoabilidade alguma – o
que talvez o fizesse responder como garante. [...]
Em diversas ocasiões se confunde a obrigação de reparar o dano com o pagamento de multas
sobre os bens ambientais lesados, validando cobrança de multas ambientais sem que haja a
comprovação de culpa e em alguns casos, até mesmo da autoria. (Eduardo Fortunato Bim. O
Mito da Responsabilidade Objetiva no Direito Ambiental. In Doutrinas Essenciais do Direito
Ambiental Vol. V. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, pp. 808/809. Marcações nossas).
Assim, deveria ter sido apurado o nexo causal pela demonstraçã o de que o Defendente
tenha destruído vegetaçã o e empregado o fogo por meio de seu irmã o, mas nunca a
imputaçã o direta derivada somente do mero vínculo possuidor existente, como a equipe do
Ibama faz de praxe e sem cumprir com o seu real papel de ente fiscalizador.
Tal uso do poder de polícia ambiental é no mínimo temeroso e a pró pria disposiçã o dos
fatos no corpo do auto de infraçã o ambiental impede extrair qualquer conclusã o sobre a
autoria e detalhes das circunstâ ncias da prá tica da infraçã o imputada:
A conduta pode ser imputada à pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, que
tenha concorrido, por ação ou omissão, para a prática da infração. É certo, portanto, que a
responsabilização administrativa, ao contrário do que ocorre na esfera civil e analogicamente
ao que se dá em âmbito penal (igualmente de índole repressiva), é absolutamente pessoal, não
podendo o órgão administrativo punir uma pessoa pelo evento danoso causado por outra.
(Édis Milaré. Direito do Ambiente. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, pp. 885. Marcações
nossas).
Configura-se, verdadeira hipó tese de ilegitimidade do Defendente por nã o ser ele o efetivo
responsá vel pela conduta infracional apurada e pela fragilidade das constataçõ es feitas
pelo agente pú blico, e assim, nã o há como afirmar que a conduta tenha sido gerada pelo
Defendente, e em tais hipó teses o E. Tribunal de Justiça de Sã o Paulo tem afastado as
autuaçõ es ambientais:
AÇÃO ANULATÓRIA DE AUTO DE INFRAÇÃO AMBIENTAL E RESPECTIVA MULTA. PROVA DO
DANO AMBIENTAL. INCERTEZA QUANTO À AUTORIA. INFRAÇÃO QUE DEIXA VESTÍGIOS.
Ausência de perícia técnica ou análise laboratorial a comprovar o potencial poluidor dos
efluentes. Presunção de legitimidade do ato administrativo afastada. Sentença de
procedência. Recurso oficial e apelação desprovidos. (TJSP; APL XXXXX-33.2004.8.26.0000; Ac.
XXXXX; São Paulo; Câmara Reservada ao Meio Ambiente; Rel. Des. Aguilar Cortez; Julg.
25/08/2011; DJESP 09/09/2011);
A simples presunçã o de causalidade nã o basta para gerar a imputaçã o de infraçõ es e de
sançã o pecuniá ria conjunta. No entanto, a fome de arrecadaçã o e o descaso com aquilo que
deva resultar em procedimento de fiscalizaçã o se mostrou mais intenso que a atuaçã o com
parcimô nia em defesa do ambiente no intuito de identificar os responsá veis.
A obrigaçã o de apurar a conduta era dos entes de fiscalizaçã o do Ibama:
O agente, após um incêndio florestal, deve colher todas as informações para tentar descobrir
se o incêndio foi criminoso ou não. Fatores como direção da propagação do fogo e objetos
encontrados no local podem ser de grande utilidade para resolver o caso. (João Leonardo
Mele. A Proteção do Meio Ambiente Natural: Manual de fiscalização dos recursos naturais.
São Paulo: 2006, p. 200).
Por todas estas razõ es é que se identifica a total ilegitimidade do Defendente quanto a
infraçã o a ele imputada, sendo totalmente ilegítima as sançõ es e necessá ria desconstituiçã o
dos atos administrativos sancionadores correspondentes por ausência total de causalidade.

5.4. DA VIOLAÇÃO À ATIPICIDADE E À RESERVA LEGAL


Antes de penetrar propriamente na questã o da violaçã o à tipicidade e à reserva legal para
aplicaçã o da sançã o pecuniá ria em questã o cumpre fazer breve discussã o a respeito da
similaridade entre os regimes do direito penal e do direito administrativo sancionador
ambiental.
Os ilícitos ambientais sã o um evento ú nico sobre qual se debruçará uma sançã o
administrativa com um regime jurídico pró prio, mas como se pretende demonstrar no caso
das sançõ es administrativas as regras de direito penal se aplicam de forma subsidiá ria:
A mais importante e fundamental consequência da suposta unidade de ius puniendi ao
Estado é a aplicaçã o de princípios comuns ao direito penal e ao direito administrativo
sancionador, reforçando-se nesse passo algumas garantias individuais. (Fá bio Media
Osó rio. Direito Administrativo Sancionador. Sã o Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p.
102.);
A Lei Federal n. 9.605/98, que traz o regime geral das infraçõ es administrativas
ambientais, justamente em seu art. 79, estabelece a possibilidade de aplicaçã o subsidiá ria
do direito penal.
Já o dispositivo bá sico da responsabilizaçã o administrativa ambiental como previsto no art.
72, da Lei Federal n. 9.605/98, prevê que as disposiçõ es penais relativas à gradaçã o da
pena criminal, constantes do pró prio artigo 6º do diploma, servem para a dosimetria das
sançõ es administrativas ambientais.
Resta muito evidente a relaçã o pró xima que o direito penal e o direito administrativo
ambiental possuem no trato que dã o à apuraçã o das infraçõ es administrativas ambientais.
Vigora no direito administrativo sancionador o princípio da legalidade, como preceituam os
arts. 5º, II e 37, da Constituiçã o Federal:
Por tais motivos, a infraçã o administrativa e a respectiva sançã o devem ser criadas pelo
ó rgã o legislativo, composto por representantes da coletividade. (Rafael Munhoz de Mello.
Princípios Constitucionais de Direito Administrativo Sancionador. Sã o Paulo: Malheiros,
2007, p. 132).
A partir da necessidade que as infraçõ es e as sançõ es sejam previstas em lei em sentido
estrito surge o princípio da tipicidade como decorrente direto da legalidade.
Pela tipicidade o comportamento proibido e a sançã o a ele atrelada devem estar descritos
de forma detalhada em lei para que o particular nã o seja surpreendido com a imposiçã o de
sançã o por um comportamento que desconhecia ser proibido.
Desta forma, é imensa a fragilidade do auto de infraçã o ambiental lavrado pela equipe de
fiscalizaçã o sustentado unicamente em norma infralegal que deve ser desconstituída por
clara violaçã o à tipicidade.

5.5. DA DESPROPORCIONALIDADE DA SANÇÃO APLICADA


A partir da aná lise dos autos do processo administrativo, verifica-se que as multa imposta
de elevadíssimo valor nã o guardam correspondência com a conduta e suas eventuais
consequências ao meio.
No que se refere a multa simples aplicada inicialmente, é impossível traçar a correlaçã o
entre as infraçõ es imputadas e os sansõ es em razã o da precariedade da descriçã o da
conduta do Defendente nos autos de infraçã o e da ausência de efetiva apuraçã o das á reas
afetadas ou dos reais impactos ao ambiente.
Nã o houve apuraçã o objetiva das á reas afetadas e deixou-se de identificar os impactos reais
ao meio ambiente para a imposiçã o das multas na intensidade feita, portanto esta nã o
guarda relaçã o direta com os fatos e acaba por ser desproporcional.
A multa que foi imposta deveria refletir com exatidã o, dentre outros elementos, a
intensidade e a real extensã o da intervençã o feita sob a ó tica ambiental e um agente
pú blico nã o pode por si só estabelecer o valor da multa quando esta dependa desta
apuraçã o técnica ampla:
Seria um paradoxo aceitar que o agente sem formação técnica superior emitisse auto de
infração ambiental de até R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais), quando na esfera
penal a cominação de pena de multa é de no máximo 356 vezes o salário mínimo (R$
48.416,00), onde se exigem dois peritos portadores de diploma de curso superior para
encontrar a materialidade e extensão e um juiz de direito para cominar a pena de multa.
(Luís Carlos Silva de Moraes. Curso de Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2001, pp. 111.
Marcações nossas).
A forma sumá ria de apuraçã o da infraçã o realizada nã o se mostra acertada ao que
preceitua também a Lei Federal n. 9.605/98 que:
Procura assegurar a proporcionalidade entre os ilícitos administrativos e as sanções a serem
impostas, permitindo que o aplicador confira aos poluidores tratamento compatível com os
gravames efetivamente causados. (Nicolao Dino De Castro e Costa Neto, Ney De Barros Bello
Filho e Flávio Dino de Castro e Costa. Crimes e Infrações Administrativas Ambientais. Brasília:
Brasília Jurídica, 2001, p. 406).
O art. 74, da Lei Federal n. 9.605/98 exige que a multa tenha por base o objeto jurídico
lesado, ou seja, a multa simples aplicada fere a proporcionalidade e a razoabilidade por ter
deixado de observar este critério bá sico e serem totalmente desconhecidos os critérios
manejados para delimitaçã o da á rea atingida e assim fixaçã o da multa.
É desproporcional a imposiçã o de multa administrativa de tamanha monta, tendo em vista
que nã o se pode traçar qualquer relaçã o de correspondência com a conduta por falta de
apuraçã o objetiva, pois em nenhum instrumento de fiscalizaçã o foi relatada a forma de
mediçã o das á reas afetadas.
Ademais, a multa foi aplicada com base em mediçã o da á rea por imagens de satélite,
elucidando a fragilidade da forma, porquanto à evidência nos autos que a á rea atingida é
muito menor do que aquela que a equipe de fiscalizaçã o fez constar.
Frise-se que o ato punitivo deve sempre obedecer a critérios aceitá veis do ponto de vista
do bom senso e segundo o princípio da proporcionalidade deve ser limitado em sua
extensã o e intensidade para que seja suficiente à satisfaçã o do interesse pú blico.
O princípio da proporcionalidade implica em verdadeira vedaçã o ao excesso, pois a
autuaçã o administrativa deve estar adstrita aos limites legais da Lei Federal n. 9.605/98, o
que nã o ocorreu.
Por todas as razõ es expostas nã o subsistem motivos para manutençã o da sançã o na forma
como foi lançada nos autos de infraçã o, eis que marcada pela desproporcionalidade
resultante da ausência de apuraçã o objetiva das á reas afetadas.
A multa que seja imposta deveria refletir, dentre outros elementos, a intensidade e a
amplitude da intervençã o feita sob a ó tica ambiental:
Na atividade da autoridade ambiental, é preciso, pois, correlaçã o entre meios e fins; se uma
dada fá brica polui, embora de forma pouco grave, a eventual penalidade administrativa
deve ser imposta à medida dos fatos, ou motivos, que a originaram. O mesmo nã o ocorre se
o agente ambiental aplicar a sançã o administrativa aquém do que seria suficiente para
atender à finalidade legal. (Heraldo Garcia Vitta. Responsabilidade Civil e Administrativa
por Dano Ambiental. Sã o Paulo: Malheiros, 2008, pp. 34/35).
Resulta que a elevada sançã o administrativa imposta, nã o se adequa aos fatos porque a
á rea nã o foi devidamente mensurada, os impactos ambientais seriam presumidos, bem
como nã o foi executada a devida apuraçã o dos efeitos ambientais.
Por todas as razõ es expostas nã o subsistem motivos para manutençã o da sançã o na forma
como foi lançada nos autos de infraçã o porque ela se marca pela desproporcionalidade
resultante da ausência de apuraçã o objetiva da á rea afetada, bem como os parâ metros
legais das sançõ es específicas da legislaçã o que regula o emprego de fogo foram
desconsiderados.
Sobretudo, a multa que seja imposta deveria refletir, dentre outros elementos, a
intensidade e a amplitude da intervençã o feita sob a ó tica ambiental:
Na atividade da autoridade ambiental, é preciso, pois, correlaçã o entre meios e fins; se uma
dada fá brica polui, embora de forma pouco grave, a eventual penalidade administrativa
deve ser imposta à medida dos fatos, ou motivos, que a originaram. O mesmo nã o ocorre se
o agente ambiental aplicar a sançã o administrativa aquém do que seria suficiente para
atender à finalidade legal. (Heraldo Garcia Vitta. Responsabilidade Civil e Administrativa
por Dano Ambiental. Sã o Paulo: Malheiros, 2008, pp. 34/35).
Resulta que as elevadas sançõ es administrativas impostas nã o se adequam por si só aos
fatos porque as á reas atingidas foram presumidas e nã o foi executada a devida apuraçã o
dos efeitos ambientais para apuraçã o proporcional das infraçõ es e suas sançõ es
consequentes.
Posto isto, e diante de tudo que foi exposto até o presente momento, o auto de infraçã o
ambiental em voga deve ser desconstituído por falta de proporcionalidade ou omissã o na
aplicaçã o da sançã o referente ao uso de fogo.

5.6. DA NULIDADE DA MAJORAÇÃO DA MULTA POR USO DE FOGO


O suposto dano ambiental cometido pelo Defendente como incurso no art. 50 do Decreto
6.514/08 resultou em multa administrativa majorada com base no art. 60 do mesmo
diploma.
Ocorre que o art. 60 do Decreto 6.514/08 prevê:
Art. 60. As sanções administrativas previstas nesta Subseção serão aumentadas pela metade
quando:
I - ressalvados os casos previstos nos arts. 46 e 58, a infração for consumada mediante uso de
fogo ou provocação de incêndio; e
II - a vegetação destruída, danificada, utilizada ou explorada contiver espécies ameaçadas de
extinção, constantes de lista oficial.
Note-se que para majorar o valor da multa, é necessá rio a observâ ncia de dois requisitos
concomitantes, quais sejam:
1. o emprego de fogo, E,
2. que a vegetaçã o destruída esteja ameaçada de extinçã o.
Ocorre que no caso dos autos, nã o consta quais seriam a (s) espécie (s) de vegetaçã o
ameaçada (s) de extinçã o, muito menos, qualquer fundamentaçã o e motivaçã o para aplicar
sançã o tã o gravosa ao Defendente, exsurgindo claro e insofismá vel a violaçã o ao preceito
constitucional do art. 37 da Constituiçã o Federal de 1988.
Dessa forma, a medida a ser adotada é a nulidade do auto de infraçã o ambiental, ao menos,
no tocante a majoraçã o da multa.

6. ATENUANTES
Subsidiariamente, em homenagem ao princípio da eventualidade, se esta autoridade
julgadora nã o entender pela nulidade do auto de infraçã o ambiental n... e cancelamento do
Termo de Embargo n..., informa, as circunstâ ncias atenuantes presentes no caso, para
reduçã o do valor da multa, nos termos do art. 14 da Lei 9.605/98:
1. o comparecimento ao local indicado para ciência do auto de infraçã o;
2. que o Defendente possui baixo grau de escolaridade;
Requer, portanto, a reduçã o do valor da multa administrativa imposta.

Leia mais

• MODELO] Contestação em Ação Civil Pública Ambiental – Desmatamento


• Modelo de Contestação em Ação Civil Pública Ambiental – Dano ambiental
• [MODELO] Agravo de Instrumento contra liminar em Ação Civil Pública –
Desmatamento
• [MODELO] Recurso de Apelação – Demolição – Pedido de Reforma da Sentença

Você também pode gostar