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ILUSTRÍSSIMO SUPERINTENDENTE DE PROCEDIMENTOS ADMINISTRATIVOS

E AUTOS DE INFRAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE


ESTADO DE MATO GROSSO

TUTELA ANTECIPADA
Auto de Infração Ambiental
Termo de embargo/interdição

AUTUADO, brasileiro, fazendeiro, CPF..., residente e domiciliado na


Fazenda..., Zona Rural, Cidade/MT, CEP..., vem, por seu advogado,
à presença da Superintendência de Procedimentos Administrativos
e Autos de Infração, com fundamento no art. 113 e seguintes do
Decreto 6.514/2008 e art. 71, I, da Lei Federal 9.605/1998,
apresentar

DEFESA PRÉVIA
com pedido liminar

em razão do Auto de Infração Ambiental, e Termo de Embargo


lavrados em 12 de dezembro de 2020 a pedido da Coordenadoria
de Cadastro Ambiental Rural – CCA por analista de meio ambiente
da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Mato Grosso –
SEMA/MT, que desconsideraram que o Autuado obteve a
Autorização para Desmatamento e a Autorização para Exploração
Florestal de 405,12 hectares, expedida pela própria SEMA/MT,
consoante as razões de fato e de direito a seguir expostas.

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1. DA TEMPESTIVIDADE
O Autuado foi cientificado da lavratura do auto de infração ambiental em
epígrafe, no dia 18 de dezembro de 2020, através do envio de carta com aviso de
recebimento, de modo que, nos termos do art. 71, I, da Lei Federal 9.605/1998 e art. 113 do
Decreto 6.514/2008, o prazo para apresentar defesa prévia é de 20 dias contados da ciência
da autuação, e, portanto, indiscutível a tempestividade da presente defesa.

E, ainda que se entenda de modo diverso, a audiência de conciliação


ambiental prevista no art. 97-A do Decreto 6.514/08, não fora designada, de modo que a
fluência do prazo a que se refere o art. 113 do mesmo diploma regulamentador fica
sobrestada pelo agendamento da audiência e o seu curso se inicia a contar da data de sua
realização, o que de fato não aconteceu.

2. BREVE SÍNTESE DO AUTO DE INFRAÇÃO

Segundo informações lançadas no auto de infração ambiental, o Autuado,


entre o período de 2014 e 2019 (conforme imagens de satélite dessas datas), teria
promovido em área de sua propriedade, o desmatamento de 116,07 hectares a corte raso,
de vegetação nativa fora de área de reserva legal, e, no mesmo período, desmatado a corte
raso, sem autorização do órgão ambiental, 214,40 hectares de vegetação nativa em área de
reserva legal.

O suposto desmatamento teria sido detectado pela Coordenadoria de


Cadastro Ambiental Rural – CCA, a qual, durante a análise do CAR da Fazenda, de
propriedade do Autuado, constatou que 330,47 de área de uso alternativo do solo se trataria
de desmatamento ilegal, e por isso, solicitou a lavratura do auto de infração.

Diante disso, o analista de meio ambiente lavrou a pedido e de forma


remota, o Auto de Infração Ambiental indicando R$ 1.188,070,00 a título de multa
administrativa, e Termo de Embargo, com base no art. 70 da Lei Federal 9.605/98 e artigos
51 e 52 do Decreto Federal 6.514/08, assim redigidos:

Da Lei Federal 9.605/1998


Art. 70. Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão
que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do
meio ambiente.
Do Decreto 6.514/2008
Art. 51.  Destruir, desmatar, danificar ou explorar floresta ou qualquer tipo de
vegetação nativa ou de espécies nativas plantadas, em área de reserva legal ou

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servidão florestal, de domínio público ou privado, sem autorização prévia do
órgão ambiental competente ou em desacordo com a concedida:   
Art. 52.  Desmatar, a corte raso, florestas ou demais formações nativas, fora da
reserva legal, sem autorização da autoridade competente:

Ocorre que, o Autuado obteve a Autorização para Desmatamento e a


Autorização para Exploração Florestal para uma área de 405,12 ha, as quais foram
mediante protocolo em 16.06.2014, e expedidas pela própria SEMA/MT.

Portanto, o auto de infração hostilizado padece de vício, de modo que o


seu cancelamento/nulidade ou, alternativamente, redução do valor da multa administrativa
são medidas que se impõe, conforme será demonstrado.

3. CONCESSÃO DE TUTELA ANTECIPADA PARA


SUSPENDER O TERMO DE EMBARGO
Antes de adentrar no mérito, é necessário requerer em caráter liminar, a
suspensão do termo de embargo, com fundamento no art. 300 do Código de Processo Civil
(Lei nº 13.105/2015), por força do art. 15 do mesmo diploma, que prevê expressamente a
possibilidade de aplicação subsidiária e supletiva das suas normas aos processos
administrativos, in verbis:

Art. 15. Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas


ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e
subsidiariamente.

A doutrina processualista civil justifica essa aplicação subsidiária e


supletiva aos demais ramos processuais com o seguinte argumento: o CPC é a principal
fonte de direito processual no ordenamento jurídico brasileiro; consiste em uma lei geral do
processo ou lei processual residual por excelência 1, e, devendo ser aplicado aos processos
como um todo, e não apenas no processo civil2.

De acordo com Cândido Rangel Dinamarco 3, o objetivo de tal dispositivo


foi o de propagar aos processos não jurisdicionais toda a exigência de respeito aos
princípios e normas inerentes ao direito processual constitucional, bem como a sua própria
disciplina desses preceitos superiores, além de certos institutos técnico-processuais.
1
NUNES, Dierle; STRECK, Lenio Luis; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Comentários ao Código de Processo Civil. São
Paulo: Saraiva, 2016. p. 62-63.
2
FREITAS, Alexandre Câmara. O novo processo civil brasileiro. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2016. p. 23-24; NERY JR.,
Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil comentado. 16. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2016. p. 245;
3
DINAMARCO, Cândido Rangel. Comentários ao Código de Processo Civil – volume I (arts. 1º a 69): das normas
processuais civis e da função jurisdicional / coordenação de José Roberto Ferreira Gouvêa, Luis Guilherme Aidar
Bondioli, João Francisco Naves da Fonseca. – São Paulo: Saraiva, 2018. p. 150.

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Cediço que as normas e regulamentos ambientais, estadual ou federal,
são omissas quanto a possibilidade de concessão de tutela antecipada ou de urgência em
sede administrativa. Daí a necessidade de aplicação do Código de Processual Civil de 2015,
sobretudo, o art. 300:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo.

In casu, a probabilidade do direito está evidenciada na Autorização para


Desmatamento e na Autorização para Exploração Florestal, expedidas pela própria
SEMA/MT, que autoriza o Autuado a suprimir e explorar 405,12 ha de vegetação.

No entanto, referida autorização não consta nem é mencionada nos autos


do processo administrativo, o que denuncia o desconhecimento do analista de meio
ambiente e da própria CCA quanto a legalidade de eventual supressão de vegetação.

De outro vértice, consta-se a probabilidade do direito na ausência de


provas concretas da suposta supressão de vegetação e na própria prescrição para lavrar
auto de infração, considerando que as únicas duas imagens de satélite colacionadas no
processo administrativo são de 2014 e 2019, e por isso, diante da incerteza da data do
suposto dano, deve ser considerada a data mais benéfica ao Autuado, ou seja, 2014,
conforme será demonstrado adiante.

Já o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo, exsurge da


paralisação da atividade do Autuado e perda dos frutos, incidindo em risco ao sustento
próprio e de sua família que sobrevivem da agricultura familiar. Isso porque, se há
autorização válida para desmatamento, não há que se falar em embargo ou infração
administrativa, que consequentemente colocam a atividade produtiva do Autuado em xeque,
indevidamente.

À propósito, o art. 16 do Decreto 6.514/08 proíbe o embargo quando a


área for utilizada para subsistência do autuado:

Art. 16.  No caso de áreas irregularmente desmatadas ou queimadas, o agente


autuante embargará quaisquer obras ou atividades nelas localizadas ou
desenvolvidas, excetuando as atividades de subsistência.  

Além disso, extrai-se da legislação aplicável que a medida restritiva


somente é cabível quanto a intervenção se der em espaço destinado a reserva legal ou se
se tratar de área de preservação permanente. É o que diz expressamente o Decreto
6.514/08, em seu art. 16, § 2º:

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§ 2 Não se aplicará a penalidade de embargo de obra ou atividade, ou de área,
nos casos em que a infração de que trata o caput se der fora da área de
preservação permanente ou reserva legal, salvo quando se tratar de
desmatamento não autorizado de mata nativa.

Compulsando os autos, vê-se que a lavratura do termo de embargo se


distanciou do que disciplina a norma de regência transcrita, porque se houve intervenção,
certo que se deu fora da área de reserva legal ou preservação permanente, conforme
autorizado pelo órgão ambiental, e, portanto, passível de uso alternativo do solo.

Logo, é desproporcional o embargo de áreas passíveis de conversão. Isso


porque, o embargo administrativo, como medida de polícia, é destinado à satisfação de
finalidades específicas, conforme artigo 101, § 1º do Decreto n. 6.514/08, que assim dispõe:

Art. 101.  Constatada a infração ambiental, o agente autuante, no uso do seu


poder de polícia, poderá adotar as seguintes medidas administrativas:
II - embargo de obra ou atividade e suas respectivas áreas;
§ 1º  As medidas de que trata este artigo têm como objetivo prevenir a
ocorrência de novas infrações, resguardar a recuperação ambiental e garantir o
resultado prático do processo administrativo. 

A própria lei aponta os pressupostos de fato que autorizam a adoção das


medidas de polícia elencadas no art. 101, bem como, indica sua finalidade específica no §
1º, o que significa que, ocorrida a infração ambiental, a adoção dessas medidas não é
automática, mas sim, deve estar presente o motivo de fato que permita ou exija a prática
dos atos elencados no dispositivo legal, sendo imprescindível que esses atos estejam
voltados à efetivação das finalidades descritas no § 1º.

Se não houver correspondência entre as medidas de polícia em questão e


a finalidade para a qual foram criadas, alguns pressupostos de validade do ato
administrativo não estarão preenchidos, pois as medidas elencadas no art. 101 devem ser
destinadas a promover consequências no mundo fático de acordo com os escopos
assinalados no § 1º.

Com efeito, é pressuposto de validade do ato a pertinência entre seu


objeto - que, no caso em tela, é a restrição incidente sobre a área de propriedade do
Autuado - e o resultado, previsto em lei, que se espera com a prática desse ato. Essa é a
lição de Fernanda Marinela4:

Todavia, o ato administrativo, além da finalidade geral que é o interesse coletivo,


deve também observar a finalidade específica, prevista pela lei, tendo em vista
que, para cada propósito que a Administração pretende alcançar, existe um ato
4
MARINELA,Fernanda. Direito administrativo. 4. ed. Niterói: Impetus,2011, p. 253.

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definido em lei, porque, conforme veremos em tópico seguinte, o ato
administrativo caracteriza-se por sua tipicidade, atributo pelo qual o ato
administrativo deve corresponder às figuras previamente definidas em lei, como
aptas a produzirem determinado resultado.

Vê-se que, só estará autorizada intervenção tão drástica se adotada com


o fito de prevenir a ocorrência de novas infrações, resguardar a recuperação ambiental e
garantir o resultado prático do processo administrativo, na forma estabelecida no § 1º do art.
101 do Decreto 6.514/08.

Nessa perspectiva, o embargo de área, ainda que irregularmente


desmatada, tem como pressuposto de validade que a medida tenha por efeito prático
propiciar a recuperação da mata nativa, obviamente, nos casos em que for exigida tal
recuperação.
É certo que a supressão de vegetação nativa, ainda que inserida em área
passível de conversão para uso alternativo do solo, necessita de prévia autorização do
órgão ambiental competente, que no caso em tela existe. Mas o fato é que, não estando
inserida nos limites da reserva legal ou da área de preservação permanente, inexiste
interesse acautelatório apto a justificar o embargo administrativo.
É claro que o desrespeito às normas aplicáveis à supressão de vegetação
nativa em área passível de exploração configura infração administrativa, de modo que se
afigura legítima a lavratura de auto de infração com o fito de punir a conduta ilegal praticada
pelo autuado.
Contudo, o embargo não se mostra razoável, da forma como feita no caso
concreto, se a fração de terra for passível de conversão em área de uso alternativo do solo,
porque promovido o licenciamento do imóvel, o interessado poderá explorar a porção de
terras embargada. Além disso, repise-se tratar de 13 pequenos pontos distintos de suposto
desmatamento irregular, o qual é rechaçado pela válida existência de Autorização para
Desmatamento e a Autorização para Exploração Florestal.
Dito isso, é de se concluir que, o embargo ambiental deve estar atrelado
ao efeito prático de garantir a regeneração da área em caso de desmate de mata nativa,
sendo a pertinência entre a medida de polícia e a finalidade específica ut retro citada,
pressuposto de validade desse ato administrativo.
Assim, se a área desmatada corresponde à área de uso alternativo do
solo, exigir sua regeneração por parte do proprietário do imóvel rural não é razoável, tendo
em vista que faz parte da fração do imóvel passível de exploração futura, quando
preenchidos os requisitos para tanto, que no caso foram.

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E se ainda que o desmatamento fosse mesmo irregular, sendo a única
pendência para o uso alternativo do solo o licenciamento, então não é razoável impor ou
manter embargo sobre área passível de conversão, muito menos, opor ao particular
restrição administrativa desprovida de necessidade prática, devendo ser concedido prazo
para regularização.
Portanto, diante da Autorização para Desmatamento e a Autorização para
Exploração Florestal regularmente concedidas, cabível, em caráter liminar, a suspensão do
termo de embargo até o julgamento definitivo do auto de infração ambiental, ou,
alternativamente, requer seja suspenso o termo de embargo tão somente na área localizada
fora da reserva legal.

4. DO MÉRITO

4.1. NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO AMBIENTAL E DO


TERMO DE EMBARGO – ÁREA DESMATADA
DEVIDAMENTE LICENCIADA PELO ÓRGÃO AMBIENTAL

O auto de infração ambiental e o Termo de Embargo foram lavrados de


forma remota pelo analista de meio ambiente da SEMA/MT, a pedido da Coordenadoria de
Cadastro Ambiental Rural – CCA, a qual, durante a análise do CAR da Fazenda, teria
constatado que 330,47 de área de uso alternativo do solo se trataria de desmatamento ilegal
entre o período incerto de 2014 e 2019.

Segundo os documentos que instruem o processo administrativo, ocorreu


um desmatamento de 116,07 hectares de vegetação nativa fora de área de reserva legal,
que somado a 214,40 hectares de vegetação nativa suprimida em área de reserva legal,
totaliza 330,47 hectares de desmatamento supostamente ilegal, porque não teria havido
autorização do órgão ambiental.

No entanto, equivoca-se a Coordenadoria de Cadastro Ambiental Rural –


CCA, porque o Autuado obteve a Autorização para Desmatamento e na Autorização para
Exploração Florestal de 405,12 ha, expedida pela própria SEMA/MT.

Como visto ut retro, o auto de infração e termo de embargo foram lavrados


a pedido da CCA, com enquadramento nos artigos 51 e 52, do Decreto 6.514/08, de modo
que, nem a CCA, nem o analista de meio ambiente se atentaram que o Autuado possui
autorização válida para desmatamento.

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Ora. Somente haverá infração administrativa, se o desmatamento for
realizado sem autorização prévia do órgão ambiental competente ou em desacordo com a
concedida, senão vejamos:
Art. 51.  Destruir, desmatar, danificar ou explorar floresta ou qualquer tipo de
vegetação nativa ou de espécies nativas plantadas, em área de reserva legal ou
servidão florestal, de domínio público ou privado, sem autorização prévia do
órgão ambiental competente ou em desacordo com a concedida: [...]  
Art. 52.  Desmatar, a corte raso, florestas ou demais formações nativas, fora da
reserva legal, sem autorização da autoridade competente: [...]

Com efeito, a área total do imóvel é de 1.245 ha, e a área de reserva legal
está perfeitamente preservada. Não houve desmatamento ilegal como entendeu a CCA, que
aliás, desconsiderou a autorização válida do Autuado para desmatamento ou não tinha
conhecimento dela.

Nesse sentido, demonstrada a existência de autorização para


desmatamento e exploração florestal, impõe-se a anulação do Auto de Infração Ambiental e
Termo de Embargo.

Mas, caso não se entenda pela nulidade ut retro demonstrada, necessário


que seja reconhecida a prescrição para apurar a prática de infrações contra o meio
ambiente, ou os vícios insanáveis, conforme passa a expor.

4.2. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL – AUTO DE INFRAÇÃO


AMBIENTAL LAVRADO MAIS DE 05 ANOS DA DATA DO
FATO – NULIDADE CONFIGURADA

Compulsando os autos, verifica-se que o auto de infração ambiental foi


lavrado em 06 de novembro de 2020, com enquadramento nos artigos, 51 e 52 do Decreto
6.514/08, por suposto desmatamento de 116,07 hectares de vegetação nativa fora de área
de reserva legal, e, desmatamento sem autorização do órgão ambiental competente, de
214,40 hectares de vegetação nativa em área de reserva legal, entre o período de 2014 a
2019.

Como se vê, há dúvidas acerca da data exata do suposto dano ambiental,


que no caso de desmatamento ou supressão de vegetação, possui natureza de infração
instantânea com efeitos permanentes, de modo que, o termo inicial do prazo prescricional se
dá com o ato de desmatar/suprimir vegetação.

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Desse modo, em atenção ao princípio do in dubio pro reo , aplicável não
apenas no Direito Penal, mas também no Direito Administrativo cuja natureza é
sancionadora, deve ser reconhecido como data do fato a mais benéfica ao Autuado, ou seja,
2014.

Nesse sentido, tendo se passado mais de 05 (cinco) anos entre a data da


consumação da suposta infração e a fiscalização, incide a prescrição quinquenal, não sendo
mais possível aplicar nenhuma infração ou sanção ao administrado, conforme expressa
determinação do art. 21 do Decreto 6.514/2008, in verbis:

Art. 21.  Prescreve em cinco anos a ação da administração objetivando apurar a


prática de infrações contra o meio ambiente, contada da data da prática do ato,
ou, no caso de infração permanente ou continuada, do dia em que esta tiver
cessado. 

Como se vê, todos os documentos que compõe o processo administrativo


(auto de infração ambiental, termo de embargo, notificação e relatório técnico) são
totalmente omissos quanto a data de ocorrência da suposta supressão de vegetação,
limitando-se a mencionar entre o período de 2014 e 2019, o que impossibilita o exercício do
contraditório e da ampla defesa, até porque, as próprias imagens de satélite constante no
Anexo 1 do Relatório Técnico, evidenciam que o suposto desmatamento ocorreu em 15
pontos diferentes.

Sequer é possível afirmar pelas imagens colacionadas no relatório técnico,


qual o tipo de vegetação supostamente suprimida. Ora. Não se desconhece que o analista
de meio ambiental lavrou o auto de infração e termo de embargo a pedido da Coordenadoria
de Cadastro Ambiental Rural – CCA, mas é razoavelmente impossível inferir que havia
vegetação nativa no local.

Pois bem. Não havendo regra específica sobre a matéria, e se o auto de


infração ambiental e documentos que instruem o processo administrativo não estabelecem a
data precisa da consumação dos fatos, compreendendo-o em um determinado lapso de
tempo, há de se considerada a data mais benéfica ao Autuado para fins de cômputo do
lapso prescricional, em homenagem ao princípio do in dubio pro reo.

Assim, considerando que desde a primeira data possível para a ocorrência


da infração (2014) até a lavratura do auto de infração (2020) transcorreu o prazo de 5 anos,
imperioso é o reconhecimento da prescrição quinquenal no caso.

Com efeito, no processo administrativo, as provas devem ser robustas,


positivas e fundadas em dados concretos que identifiquem tanto a autoria quanto a

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materialidade para que se possa ter a convicção de estar correta a imposição de
penalidade.

In casu, é fácil perceber que a única prova, ou seja, a imagem de satélite


do ano de 2014 quando comparada com a imagem do ano de 2019 é nitidamente frágil, pois
não há certeza da data da suposta supressão de vegetação, nem do tipo de vegetação lá
existente.

Nunca é demais advertir sobre os riscos de um julgamento pautado em


presunções, não somente por conta da insegurança jurídica, mas, sobretudo, para efeito de
afastar o iminente e sempre indesejado risco de condenar alguém por erro da Administração
Pública, e bem por isso, no processo administrativo os atos possuem presunção relativa de
veracidade, de modo que, a dúvida deve ser interpreta sempre em benefício do Autuado.

É claro que cabe ao Autuado elidir a presunção relativa de veracidade do


auto de infração ambiental. No entanto, essa presunção, justamente por não ser absoluta,
deve prestigiar o princípio do in dubio pro reo, quando houver fundada dúvida, como no caso
dos autos. Ao contrário ─ ou seja, se as alegações do Autuado não influenciarem na
decisão da autoridade julgadora, como mencionado ut retro ─, não estar-se-á respeitando o
princípio do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa.

Portanto, havendo dúvida razoável acerca da data de consumação do


alegado desmatamento, o qual, frise-se, teria ocorrido em pelo menos 13 pontos distintos, e
ante a ausência de provas seguras e convincentes, deve ser adotada a medida mais
benéfica ao Autuado, devendo prevalecer a data de 2014, em homenagem ao princípio in
dubio pro reo, reconhecendo-se a prescrição quinquenal da pretensão punitiva estatal e
anulando o auto de infração ambiental lavrado em 06.11.2020.

4.3. DA AUSÊNCIA DE AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO –


NULIDADE CONFIGURADA
Como se vê, analista de meio ambiente da Secretaria de Meio Ambiente
do Estado de Mato Grosso – SEMA/MT utilizou norma federal para fiscalizar e lavrar o auto
de infração ambiental. Sendo assim, deve, por força do princípio da legalidade, cumprir com
as determinações impostas em Lei ou Decreto.

In casu, não foi cumprido o disposto no 97-A do Decreto 6.514/08, incluído


pelo Decreto 9.760/19, que dispõe:

Art. 97-A. Por ocasião da lavratura do auto de infração, o autuado será notificado


para, querendo, comparecer ao órgão ou à entidade da administração pública

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federal ambiental em data e horário agendados, a fim de participar de audiência
de conciliação ambiental.  

A audiência de conciliação não é opção, e sim, uma imposição legal, da


qual o analista ambiental e a SEMA/MT estão adstritos. Indiscutível a violação da norma,
pois nada consta no auto de infração sobre a audiência de conciliação. Muito pelo contrário.
Consta o prazo de 20 dias para apresentação de defesa prévia.

À propósito, o art. 95 do Decreto 6.514/08 impõe estrita observância,


sobretudo do princípio da legalidade, ao processo administrativo:

Art. 95.  O processo será orientado pelos princípios da legalidade, finalidade,


motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência, bem como pelos
critérios mencionados no parágrafo único do art. 2º da Lei no 9.784, de 29 de
janeiro de 1999.

Nesta senda, requer seja reconhecida a nulidade do auto de infração


ambiental por vício de forma, ou seja, praticado com omissão ou inobservância das
formalidades indispensáveis do processo administrativo, porque atingiu os direitos e
garantias do Autuado, de modo que não há de se falar em convalidação.

6. ATENUANTES

Subsidiariamente, se esta autoridade julgadora não entender pelo


cancelamento/nulidade do Auto de Infração Ambiental, nem entender pela redução da multa
para o valor de R$ 50,00 por hectare supostamente desmatado, requer sejam aplicadas as
circunstâncias atenuantes ao caso, quais sejam, que o Autuado não concorreu para a
consecução da infração; é infrator primário; possui baixo grau de escolaridade; colaborou
com a fiscalização, e obteve regular Autorização para Desmatamento e a Autorização para
Exploração Florestal.

7. DOS REQUERIMENTOS

Ante o exposto, requer:

a) com fundamento no art. 300 c/c art. 15, do Código de Processo Civil, a concessão de
tutela antecipada para determinar a suspensão do termo de embargo, ou,
alternativamente, requer seja suspenso o embargo tão somente na área localizada fora
da reserva legal, por se tratar de área passível de uso alternativo do solo e ainda, por

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existir a Autorização para Desmatamento e a Autorização para Exploração Florestal
para uma área de 405,12 ha, expedidas pela própria SEMA/MT;

b) no mérito, requer seja o Auto de Infração Ambiental declarado nulo/cancelado, (i) ante a
regularidade de eventual supressão de vegetação, devidamente autorizada pela
SEMA/MT, conforme Autorização para Desmatamento e a Autorização para Exploração
Florestal; (ii) seja reconhecida a ocorrência da prescrição quinquenal para lavratura do
auto de infração, considerando a data dos fatos a mais benéfica ao Autuado, ou seja, o
ano de 2014, em homenagem ao princípio do in dubio pro reo; ou ainda, (iii) pela
ausência de designação da audiência de conciliação ambiental.

c) alternativamente, requer a redução do valor da multa para o patamar de R$ 50,00 por


hectare supostamente desmatado ante a inexistência de agravantes, sob pena de violar
os princípios da legalidade, da razoabilidade, da proporcionalidade e da individualização
da pena, realizando o recálculo da área a fim de excluir o que foi autorizado pelo órgão
ambiental, conforme Autorização para Desmatamento e a Autorização para Exploração
Florestal;

d) no caso de os requerimentos anteriores não serem acolhidos, requer a aplicação das


atenuantes, quais sejam, que o Autuado não concorreu para a consecução da infração;
é infrator primário; possui baixo grau de escolaridade; não há notícia de dano ambiental
significativo; colaborou com a fiscalização; e, obteve autorização para eventual
desmatamento e exploração florestal;

e) em qualquer dos casos, requer o cancelamento/revogação do termo de embargo;

f) requer a intimação pessoal ou por via postal com aviso de recebimento para apresentar
alegações finais ou para interposição de recurso administrativo;

g) por fim, requer a produção de todos os meios de prova em direito admitidos, inclusive,
estudos técnicos para redimensionar a área objeto do auto de infração, vedado a
reformatio in pejus, excluindo-se a área objeto da Autorização para Desmatamento e a
Autorização para Exploração Florestal, e, ainda, a elaboração de laudo técnico por
profissional habilitado para comprovar a inexistência de danos dentro e fora da área de
reserva legal;

Requer e espera deferimento.

Cidade/SC, 22 de dezembro de 2020.

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ADVOGADO
OAB/SC

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