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ILUSTRÍSSIMO SENHOR SUPERINTENDENTE DA FUNDAÇÃO MUNICIPAL DO

MEIO AMBIENTE DE FLORIANÓPOLIS - FLORAM

Processo administrativo...
Auto de infração ambiental n...

RECORRENTE, casado, empresário, inscrito no RG sob o


n... e CPF..., residente e domiciliado na Rua..., número...,
Bairro..., Florianópolis/SC, CEP..., vem, por seu advogado, à
presença de Vossa Senhoria, com fundamento no art. 127 e
seguintes do Decreto 6.514/08, interpor

RECURSO HIERÁRQUICO
com pedido de efeito suspensivo

contra decisão administrativa proferida nos autos em


epígrafe que julgou improcedente a defesa prévia
apresentada pelo Recorrente, e se não for caso de
retratação no prazo de cinco dias (art. 127, § 1º, Decreto
6.514/08), requer seja concedido o efeito suspensivo, pois,
presente o justo receio de prejuízo de difícil ou incerta
reparação (art. 128, § 1º, Decreto 6.514/08), e encaminhado
à autoridade superior para julgamento, cujas razões seguem
acostas.

Pede deferimento.

Florianópolis/SC, 12 de fevereiro de 2021.

ADVOGADO
OAB/SC
[ASSINADO DIGITALMENTE]

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR SECRETÁRIO MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE E
DESELVOLVIMENTO URBANO PRESIDENTE DO COMDEMA

Recorrente...
Advogado...
Processo administrativo...
Auto de infração ambiental n...

ILUSTRE RELATOR
NOTÁVEIS MEMBROS DO COMDEMA

RAZÕES DO RECURSO HIERÁRQUICO

1. DA TEMPESTIVIDADE

A Portaria Floram n. 03 de 27 de janeiro de 2021, prorrogou, até o dia 31 de


março de 2021, a suspensão dos prazos processuais de processos administrativos em trâmite
na Fundação Municipal do Meio Ambiente – Floram, conforme estipulado pela Portaria n.
030/2020.

Independente disso ou da intimação da decisão administrativa que julgou


improcedente a defesa prévia, conforme se depreende do Anexo I – Janeiro/2021, o Recorrente
interpõe o presente recurso hierárquico tempestivamente, conforme autoriza o art. 2181, § 4º, do
Código de Processo Civil, aplicável ao Direito Administrativo por força do art. 15 2 do mesmo
diploma, que prevê expressamente a possibilidade de aplicação subsidiária e supletiva das suas
normas aos processos administrativos.

2. BREVE SÍNTESE DO AUTO DE INFRAÇÃO AMBIENTAL E DA DECISÃO


ADMINISTRATIVA QUE JULGOU IMPROCEDENTE A DEFESA PRÉVIA

1
Art. 218. [...]. § 4º Será considerado tempestivo o ato praticado antes do termo inicial do prazo.
2
Art. 15. Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste
Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente.

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O Recorrente é proprietário de uma unidade autônoma do Condomínio,
construído pela empresa....
Pois bem. No dia 21.01.2020, fiscais da Fundação Municipal do Meio Ambiente
de Florianópolis – Floram constataram problemas de vazamento de água do Condomínio para a
rede pluvial da Prefeitura, e, posteriormente, autuaram o Recorrente e todos os condôminos
proprietários de unidades autônomas de forma individual, enviando o respectivo auto pelos
Correios, no qual constou como norma infringida, o art. 62 do Decreto 6.514/08 c/c art. 3º da Lei
Federal 6.938/81, assim redigidos:

Art. 62.  Incorre nas mesmas multas do art. 61 quem: [...].

Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: [...].

Intimado por carta com aviso de recebimento da lavratura do auto, o


Recorrente apresentou defesa prévia alegando que somente tomou conhecimento do
vazamento, assim como os demais condôminos, após a fiscalização da Floram, justamente por
se tratar de extravasor oculto.
Esclareceu ainda, que após investigação interna do ocorrido, constatou-se que
referido vazamento ocorreu porque a construtora do Condomínio instalou um extravasor do
sumidouro para a rede pluvial da PMF, e que a localidade não é atendida pela rede pública de
esgoto, mas possui sistema mensal de coleta via caminhão de sucção de esgoto.
Da análise do projeto hidro sanitário fica claro que o esgoto passa pela fossa
séptica ─ a qual constantemente é sugada por empresas especializadas ─, e somente então,
após ser filtrado, passa para o sumidouro, conforme se extrai do manual acosto aos autos de
origem. Ou seja, não se trata de “lançamento irregular dos efluentes da fossa séptica e
sumidouro com a utilização de tubo extravasor da fossa ou sumidouro para rede de águas
pluviais da PMF, ocasionando danos ambientais”, conforme entenderam os fiscais da Floram, os
quais nem puderam afirmar com certeza, se o vazamento era do sumidouro ou da fossa séptica.
Não obstante o Recorrente ter esclarecido de forma escorreita que
desconhecia o vazamento ─ até porque o extravasor não era visível, e no mesmo dia da
fiscalização ter solucionado o vazamento, tudo acompanhado pelos próprios fiscais da Floram ─,
a autoridade de primeira instância julgou improcedente a defesa prévia, aplicando multa no valor
de R$ 5.000,00.
Ocorre que o auto de infração é manifestamente nulo, porquanto lavrado em
face de terceira pessoa que não deu causa ao dano. Além do mais, o processo administrativo é
eivado de vícios que reclamam sua anulação, conforme será demonstrado nos próximos
capítulos, de modo que a reforma da decisão da autoridade julgadora é medida que se impõe.

3. DO MÉRITO

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A Constituição Federal de 1988 assegura em seu art. 5º, que todos são iguais
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, e ainda:

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral


são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes;

Partindo desse princípio, sabe-se que a imposição de multa administrativa


possui caráter penalizador, e, afigurando-se como medida rigorosa e privativa de uma liberdade
pública constitucionalmente assegurada, exige-se a demonstração cabal da autoria e
materialidade, que são pressupostos autorizadores da imposição de sanção.

Nesse sentido, na hipótese de constarem nos autos elementos que conduzam


à dúvida acerca da materialidade e autoria delitiva ─ in casu, se houver dúvida sobre a
existência de danos ambientais, ou seja, se o vazamento realmente provocou poluição em níveis
tais ─, o cancelamento do auto de infração é medida que se impõe, em observância ao princípio
do in dubio pro reo, princípio clássico aplicável não apenas no Direito Penal, mas em todo Poder
Estatal de punir, de modo se afastar a tipicidade material da conduta.

Isso porque, o ius puniendi do Estado é único, de modo que, a aplicação dos
princípios penais e processuais penais garantistas e limitadores devem ser estendidos também,
ao Direito Administrativo Sancionador, porque as infrações administrativas se diferenciam das
penais tão somente em relação à autoridade que às aplica.

Desse modo, o Direito Administrativo Sancionador não pode constituir


instância mais prejudicial ao administrado, revestido de ilegalidades e arbitrariedades, até
porque, assim como no Direito Penal, são necessários elementos seguros que apontem para a
existência de norma violada, tais como, tipicidade, lesividade, antijuridicidade e culpabilidade.

Daí que é possível também, aplicar o princípio da insignificância no Direito


Administrativo Sancionador, a indicar a inaplicação da sanção administrativa quando houver
mínima ofensividade da conduta, ausência de periculosidade social da ação, reduzido grau de
reprovabilidade do comportamento e inexpressividade da lesão jurídica causada, como é caso
em questão.

Aliás, o fundamento do princípio da insignificância é a inexpressividade da


ofensa ao bem jurídico, ou seja, a tipicidade exige que o bem jurídico protegido pela norma que
prevê a infração administrativa, cause efetivo dano. Infrações minimamente ofensivas ao meio
ambiente não podem ser consideradas infrações à ordem administrativa, mas sim, meras
irregularidades que não autorizam a aplicação de penas.

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É claro que não há previsão legal expressa para aplicação de tais princípios na
esfera administrativa. Entretanto, em homenagem aos princípios e direitos do autuado,
constitucionalmente assegurados, e até por força do princípio da razoabilidade e da
proporcionalidade, é que se impõe estender o princípio do in dubio pro reo ou o da insignificância
ao caso concreto, até porque, trata-se de infração administrativa aberta, que exige da autoridade
cautela na aplicação da sanção.

3.1. NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO – NÃO INDICAÇÃO


DO DISPOSITIVO – VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DO DEVIDO
PROCESSO LEGAL, DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA
DEFESA

Quando lavrou o auto de infração, o fiscal da Floram se limitou a indicar como


normas infringidas, os caputs do art. 62 do Decreto 6.514/08, art. 3º da Lei Federal 6.938/81, art.
70, da Lei 9.605/98 e art. 225 da Constituição Federal, assim redigidos:

Art. 62.  Incorre nas mesmas multas do art. 61 quem: [...]

Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: [...]

Art. 70. Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que
viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio
ambiente.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações.

Percebe-se claramente que o direito ao contraditório e a ampla defesa


restaram prejudicados, porquanto ausente a indicação dos incisos da norma que teriam sido
violados, ou seja, o fiscal da Floram se limitou a indicar o caput, de modo que, não há como
exercer o pleno direito à defesa se o Recorrente não sabe qual norma infringiu.

Com efeito, o art. 97 do Decreto n. 6.514/2008 é expresso ao dispor que o


“auto de infração deverá ser lavrado em impresso próprio, com a identificação do autuado, a
descrição clara e objetiva das infrações administrativas constatadas e a indicação dos
respectivos dispositivos legais e regulamentares infringidos, não devendo conter emendas ou
rasuras que comprometam sua validade. ”
No caso dos autos, o fiscal da Floram, quando da lavratura do auto de
infração, limitou-se a indicar na descrição da infração, que o Recorrente teria lançado
irregularmente efluentes domésticos através de tubo extravasor da fossa ou sumidouro para a
rede de águas pluviais da PMF, ocasionando danos ambientais, com fundamento no art. 62 do

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Decreto 6.514/08, sem sequer indicar qual daqueles 17 incisos deste artigo fora
violado. Percebe-se que nem o próprio fiscal soube dizer de onde seria o vazamento, se da
fossa, ou do sumidouro.
Desse modo, é preciso que se reconheça que não há qualquer “indicação dos
respectivos dispositivos legais e regulamentares infringidos”. Inclusive, o próprio Parecer é
omisso quanto ao enquadramento legal da infração, e sugere a reclassificação do artigo 62 para
o artigo 61, o que foi totalmente ignorado pela autoridade julgadora, emitindo decisão genérica e
padronizada.
Portanto, a ausência de indicação de norma violada se caracteriza como vício
insanável que não pode mais ser convalidado, sob pena de incorrer em modificação do fato
descrito que por si conduz a nulidade do ato, e assim, necessária a reforma da decisão de
primeira instância reconhecendo a nulidade do auto de infração ambiental hostilizado.

4. DO EFEITO SUSPENSIVO

O art. 128 do Decreto 6.514/08 dispõe que o recurso interposto contra decisão
proferida pela autoridade julgadora somente terá efeito suspensivo no tocante a penalidade de
multa (§ 2º), mas faz uma ressalva em seu § 1º quanto às demais sanções, autorizando a
autoridade recorrida ou a imediatamente superior a conceder tal efeito na hipótese de justo
receio de prejuízo de difícil ou incerta reparação.

No caso dos autos, faz-se necessário conceder o efeito suspensivo ao recurso


porquanto, ao lançar a decisão administrativa hostilizada, a autoridade julgadora determinou que
o Recorrente providencie a adequação do sistema de esgoto, sob pena de elevada multa diária:

Ademais, o autuado deve ser compelido à obrigação de fazer, no prazo de 90


(noventa) dias, providenciando a adequação do sistema de tratamento de esgoto ou
construção de novo, atendendo a legislação e normas técnicas NBR's 7229 e 13969
da ABNT, caso já tenha feito apresentar documentos que comprovem, sob pena de
multa diária no valor de R$ 100,00 leem reais) até comprovação da regularização,
conforme art. 123 do Decreto 6514/2008.

No entanto, o Condomínio já sanou a irregularidade apontada pelo fiscal da


Floram no momento da fiscalização, e inclusive, construiu um novo sumidouro, retirando o
aludido extravasor, conforme consta na documentação dos autos de origem, de modo que não
há de se falar em obrigação de fazer sob pena de multa diária.

Portanto, requer seja concedido efeito suspensivo ao recurso até seu


julgamento definitivo, para obstar a aplicação de multa diária.

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5. DOS REQUERIMENTOS

Ante o exposto, requer:

a) Seja concedido efeito suspensivo ao presente recurso hierárquico, ante o justo receio de
prejuízo de difícil ou incerta reparação consubstanciado em multa diária.

b) Seja conhecido e provido o recurso hierárquico, para reformar a decisão da autoridade


julgadora de primeira instância, declarando nulo o auto de infração ambiental epigrafado,
pela não indicação do inciso do art. 62 do Decreto 6.514/08 que teria sido violado.

c) Se nenhum dos pedidos acima forem acatados, requer seja aplicado o princípio da
insignificância ou ainda, se houver dúvidas sobre o dano ambiental, ou seja, se houve ou
não poluição, seja aplicado o princípio do in dubio pro reo.

d) Requer a intimação do Recorrente no seu endereço, por via postal com aviso de
recebimento, de todos os atos processuais, sob pena de nulidade.

Requer e espera provimento.

Florianópolis/SC, 12 de fevereiro de 2021.

ADVOGADO
OAB/SC
[ASSINADO DIGITALMENTE]

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