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AO SR.

PRESIDENTE DA JUNTA ADMINISTRATIVA DE RECURSO DE


INFRAÇÃO DO DETRAN DE SANTA CATARINA.

Notificação de Infração nº T191156655

LEANDRO PAULINO ESTEVÃO, Solteiro, CPF nº 021.287.470-58,


RG: 6782742, CNH nº 06151876451, residente e domiciliado na Av.
Salvador di Bernardi, 430, ap. 701, Campinas, São José, cep 88101-
260, telefone para contato 48-99998-2375, tendo sido autuado
através do auto de infração anexo, vem respeitosamente através do
presente, em conformidade com os arts. 281-A do CTB e CF/1988,
para apresentar a presente

DEFESA PRÉVIA

em face da notificação de autuação, por legítimo direito de ampla


defesa e do exercício pleno do contraditório.

DA INFRAÇÃO

Infração: RECUSAR SUBMETER TESTE, EXAME CLINICO OU


PROCEDIMENTO QUE PERMITA CERTIFICAR INFLUÊNCIA DE
ÁLCOOL/SUBSTANCIA PSCIO NA FORMA DO ART. 277. Notificação de
Infração nº T191156655, Órgão Autuador: DEPTO DE POLICIA RODOVIARIA
FEDERAL.

DO VEÍCULO

MARCA: FORD, MODELO: KA SE 1.5 SD C, PLACA: QUL-5093, RENAVAM:


01200923127.

#3281979 Wed Aug 18 14:20:50 2021


DOS FATOS

A notificação de Infração indica que a ocorrência teria ocorrido às


01:44 hrs, em 20/10/2019. Aplicando a penalidade de multa, já paga junto a
LOCALIZA e perda do direito de dirigir.

O condutor recebeu a Notificação de Infração em 13/08/2021 , com


data de expedição em 03 de agosto de 2021 . Ocorre que a multa merece ser
revista, conforme passa a dispor.

DA SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR

O CTB ao dispor dos casos que culminam com a suspensão do


direito de dirigir prevê:

Art. 261. A penalidade de suspensão do direito de dirigir


será imposta nos seguintes casos:

I - sempre que, conforme a pontuação prevista no art. 259


deste Código, o infrator atingir, no período de 12 (doze)
meses, a seguinte contagem de pontos:

a) 20 (vinte) pontos, caso constem 2 (duas) ou mais


infrações gravíssimas na pontuação;

b) 30 (trinta) pontos, caso conste 1 (uma) infração gravíssima na pontuação;

c) 40 (quarenta) pontos, caso não conste nenhuma infração gravíssima na


pontuação;

II - por transgressão às normas estabelecidas neste


Código, cujas infrações preveem, de forma específica, a
penalidade de suspensão do direito de dirigir.

Ocorre que tal suspensão deve ser revista, pois não observou o

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devido processo legal, conforme passa a demonstrar.

AUSÊNCIA DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA

Todo procedimento assim como qualquer ato administrativo deve


ser conduzido com estrita observância aos princípios constitucionais, sob pena
de nulidade.

No entanto, a suspensão de dirigir foi aplicada sem que o processo


administrativo fosse instaurado.

Ao instaurar um processo administrativo de repercussão direta ao


recorrente, deveria de imediato ser garantido o direito ao contraditório e à ampla
defesa, como dispõe claramente a Resolução nº 723/2018 do CONTRAN, que
dispõe sobre a uniformização do procedimento administrativo para imposição
das penalidades de suspensão do direito de dirigir e de cassação do documento
de habilitação:

Art. 5º As penalidades de que trata esta Resolução serão


aplicadas pela autoridade de trânsito do órgão de registro
do documento de habilitação, em processo administrativo,
assegurados a ampla defesa, o contraditório e o devido
processo legal.

O artigo seguinte da referida Resolução é claro ao dispor que a


suspensão do direito de dirigir só pode ser aplicada após esgotadas todas as
fases recursais:

Art. 6º Esgotados todos os meios de defesa da infração na


esfera administrativa, a pontuação prevista no art. 259 do
CTB será considerada para fins de instauração de
processo administrativo para aplicação da penalidade de
suspensão do direito de dirigir.

Dessa forma, a suspensão do direito de dirigir aplicada sem o

#3281979 Wed Aug 18 14:20:50 2021


direito ao contraditório e à ampla defesa é nula, conforme esclarece a Lei 9.784
que dispõe sobre todo e qualquer processo administrativo:

Art. 3º O administrado tem os seguintes direitos perante a


Administração, sem prejuízo de outros que lhe sejam
assegurados: (...)

II - ter ciência da tramitação dos processos administrativos


em que tenha a condição de interessado, ter vista dos
autos, obter cópias de documentos neles contidos e
conhecer as decisões proferidas;

(...)

Art. 38. O interessado poderá, na fase instrutória e antes


da tomada da decisão, juntar documentos e pareceres,
requerer diligências e perícias, bem como aduzir alegações
referentes à matéria objeto do processo.

§ 1º Os elementos probatórios deverão ser considerados


na motivação do relatório e da decisão.

§ 2º Somente poderão ser recusadas, mediante decisão


fundamentada, as provas propostas pelos interessados
quando sejam ilícitas, impertinentes, desnecessárias ou
protelatórias.

(...)

Art. 68. As sanções, a serem aplicadas por autoridade


competente, terão natureza pecuniária ou consistirão em
obrigação de fazer ou de não fazer, assegurado sempre o
direito de defesa.

A ausência de oportunidade prévia ao recorrente, trata-se de

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manifesta quebra do direito constitucional à ampla defesa, especialmente por ser
a principal afetada na decisão em análise, conforme análise bem disciplinada
pelo Ministro Celso de Mello:

"(..) mesmo em se tratando de procedimento


administrativo, que ninguém pode ser privado de sua
liberdade, de seus bens ou de seus direitos sem o devido
processo legal, notadamente naqueles casos em que se
estabelece uma relação de polaridade conflitante entre o
Estado, de um lado, e o indivíduo, de outro. Cumpre ter
presente, bem por isso, na linha dessa orientação, que o
Estado, em tema de restrição à esfera jurídica de qualquer
cidadão, não pode exercer a sua autoridade de maneira
abusiva ou arbitrária (...). Isso significa, portanto, que
assiste ao cidadão (e ao administrado), mesmo em
procedimentos de índole administrativa, a prerrogativa
indisponível do contraditório e da plenitude de defesa, com
os meios e recursos a ela inerentes, consoante prescreve
a Constituição da República em seu art. 5º, LV. O respeito
efetivo à garantia constitucional do 'due process of law',
ainda que se trate de procedimento administrativo (como o
instaurado, no caso ora em exame, perante o E. Tribunal
de Contas da União), condiciona, de modo estrito, o
exercício dos poderes de que se acha investida a Pública
Administração, sob pena de descaracterizar-se, com grave
ofensa aos postulados que informam a própria concepção
do Estado Democrático de Direito, a legitimidade jurídica
dos atos e resoluções emanados do Estado, especialmente
quando tais deliberações, como sucede na espécie,
importarem em invalidação, por anulação, de típicas
situações subjetivas de vantagem." (STF MS 27422 AgR)

Não se questiona a autoexecutoriedade das sanções. Contudo, a


imposição de penalidade sem a ampla defesa - que é o caso, transborda o devido
processo legal, passível de nulidade, conforme assevera a doutrina:

#3281979 Wed Aug 18 14:20:50 2021


"Caráter prévio da defesa - Consiste na anterioridade da
defesa em relação ao ato decisório. A garantia da ampla
defesa supõe, em princípio, o caráter prévio das atuações
pertinentes. A anterioridade da defesa recebe forte matiz
nos processos administrativos punitivos, pois os mesmos
podem culminar em sanções impostas aos implicados."
(MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 20ª
edt. Editora RT, 2016. pg. 205)

"(...) processo administrativo punitivo é todo aquele


promovido pela Administração para a imposição de
penalidade por infração à lei regulamento ou contrato.
Esses processos devem ser [i] necessariamente
contraditórios, com oportunidade de defesa, [ii] que deve
ser prévia, e estrita observância do devido processo legal,
sob pena de nulidade da sanção imposta." (MEIRELLES,
Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 34. ed. São
Paulo: Malheiros. 2008. P. 702.)

O direito ao questionamento da decisão, albergado na fase de


defesa é garantia obrigatória não apenas nos processos judiciais, como também
nos processos administrativos, conforme reitera a doutrina:

"É sabido que a ampla defesa e o contraditório não


alcançam apenas o processo penal, mas também o
administrativo, nos termos do art. 5º, LV da CF/88. É que a
Constituição estende essas garantias a todos os
processos, punitivos ou não, bastando haver litígios."
(Harrison Leite, Manual de Direito Financeiro, Editora jus
podivum, 3ª edição, 2014, p. 349)

Portanto, tem-se nitidamente a quebra do contraditório e da ampla


defesa em processo administrativo em trâmite sem qualquer notificação ao
condutor. Razão pela qual, merece provimento o presente pedido.

#3281979 Wed Aug 18 14:20:50 2021


DA NÃO OBSERVÂNCIA DO PRAZO LEGAL DE NOTIFICAÇÃO

A Legislação aplicável à matéria, de forma muito objetiva,


estabelece que o lapso de tempo entre a lavratura do Auto de Infração e a
expedição da notificação via postal deve ser de trinta (30) dias, nos termos do
Art. 281, II do CTB:

Parágrafo único. O Auto de Infração será arquivado e seu


registro julgado insubsistente:

[...] II - se, no prazo máximo de trinta dias, não for expedida


a notificação da autuação.

Ocorre que, contrariando tais dispositivos legais, a notificação foi


expedida somente em 03 de agosto de 2021 , ou seja, com mais de 30 dias do
cometimento da infração ( 20/10/2019 ), conduzindo à sua nulidade, nos termos
da Resolução nº 619 do CONTRAN:

"Art. 4º À exceção do disposto no § 5º do artigo anterior,


após a verificação da regularidade e da consistência do
Auto de Infração de Trânsito, a autoridade de trânsito
expedirá, no prazo máximo de 30 (trinta) dias contados da
data do cometimento da infração, a Notificação da
Autuação dirigida ao proprietário do veículo, na qual
deverão constar os dados mínimos definidos no art. 280 do
CTB.

(...)

§ 3º A não expedição da notificação da autuação no prazo


previsto no caput deste artigo ensejará o arquivamento do
Auto de Infração de Trânsito."

Desta forma, completamente nulo o auto de infração de trânsito,


pela notória inobservância do prazo legal estabelecido, conforme precedentes

#3281979 Wed Aug 18 14:20:50 2021


sobre o tema:

ADMINISTRATIVO. TRÂNSITO. AUTO DE INFRAÇÃO.


NOTIFICAÇÃO DA AUTUAÇÃO. DECADÊNCIA. ART.
281, PARÁGRAFO ÚNICO, II, CTB. OCORRÊNCIA.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. 1. Consoante prevê o
disposto no art. 281, parágrafo único, II, CTB, a autoridade
de trânsito julgará a consistência do auto de infração e
aplicará a penalidade cabível. O auto de infração será
arquivado e seu registro julgado insubsistente se, no prazo
de 30 dias, não for expedida a notificação da autuação
(redação dada pela Lei nº 9.602/98). 2. O regramento
aplicável à época do cometimento da infração - Resolução
CONTRAN nº 404/2012 - prevê o prazo de 30 dias para
que a autoridade de trânsito expeça a notificação da
autuação dirigirida ao proprietário do veículo, contados da
data do cometimento da infração. 3. No caso, a notificação
da autuação não expedida após o decurso do prazo
previsto no art. 281, parágrafo único, II, CTB, razão pela
qual deve ser reconhecida a decadência do direito de punir
do Estado. 4. A Terceira Turma deste Regional possui
entendimento no sentido de que os honorários advocatícios
devem ser fixados em 10% sobre o valor da
causa/condenação, desde que não configure valor
exorbitante ou irrisório. (TRF-4 - AC:
50000897220184047108 RS 5000089-72.2018.4.04.7108,
Relator: VÂNIA HACK DE ALMEIDA, Data de Julgamento:
04/04/2019, TERCEIRA TURMA, #23281979)

AGRAVO. TRÂNSITO. NOTIFICAÇÃO PARA DEFESA


PRÉVIA. PRAZO DE TRINTA DIAS. "O art. 281, parágrafo
único, II, do CTB prevê que será arquivado o auto de
infração e julgado insubsistente o respectivo registro se
não for expedida a notificação da autuação dentro de 30
dias. Por isso, não havendo a notificação do infrator para

#3281979 Wed Aug 18 14:20:50 2021


defesa no prazo de trinta dias, opera-se a decadência do
direito de punir do Estado, não havendo que se falar em
reinício do procedimento administrativo." (REsp 1.092.154
12-8-2009) Não provimento do agravo interno.(TJ-SP -
AGR: 22484079220188260000 SP 2248407-
92.2018.8.26.0000, Relator: Ricardo Dip, Data de
Julgamento: 13/03/2019, 11ª Câmara de Direito Público,
Data de Publicação: 13/03/2019, #73281979)

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE ANULAÇÃO DE MULTA


DE TRÂNSITO - SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA DO
PEDIDO - APELO DO ESTADO - AUSÊNCIA DE
NOTIFICAÇÃO PRÉVIA DO AUTOR, PELO DETRAN,
QUANTO À INFRAÇÃO COMETIDA - IMPOSSIBILIDADE
DE DEFESA DO CONDUTOR - NOTIFICAÇÃO
IMPRESCINDÍVEL PARA VALIDAÇÃO DO AUTOR DE
INFRAÇÃO - ART. 281, II, CTB - SÚMULA 312, STJ -
ÔNUS DO DETRAN - ART. 373, II, CPC - DETRAN NÃO
COMPROVA A NOTIFICAÇÃO - DECADÊNCIA DO
DIREITO DE PUNIR - RECURSO CONHECIDO E
IMPROVIDO. DECISÃO UNÂNIME. 1 - Observa-se que no
presente caso cumpre-se ressaltar que a notificação é
imprescindível para validação do auto de infração. Não há
prova nos autos da existência das notificações de multas
pelo Detran, nos termos consignados no art. 281, parágrafo
único, inciso II, do Código de Trânsito Brasileiro, o qual
prevê o prazo decadencial de 30 (trinta) dias para a
expedição da notificação da autuação, sob pena de
arquivamento do auto de infração e seu registro,
insubsistente. 2 - Destarte, o CONTRAN - Conselho
Nacional de Trânsito - dispõe no artigo 3º, da Resolução
nº. 404, que a notificação prevista no artigo acima apontado
deve ser dirigida ao proprietário do veículo, fato que não foi
feito a contento nos autos. 3 - A Súmula 312, do STJ, por
sua vez, prevê: \"Nos processos administrativos para

#3281979 Wed Aug 18 14:20:50 2021


imposição de multa de trânsito, são necessárias as
notificações da autuação e da aplicação da pena
decorrente da infração\". 4 - Deveria o Estado/Apelante
comprovar que, seguindo a legislação supramencionada,
procedeu à notificação do proprietário do veículo autuado,
nos termos do disposto no art. 373, II, do CPC. Assim, resta
caracterizada a nulidade do procedimento administrativo,
que deixou de ser notificado de forma devida, ou seja,
razão pela qual não lhe fora oportunizado o direito de
defesa quanto à cominação da penalidade de trânsito. 5 -
Conclui-se pela decadência do direito de punir do Estado,
ante a ausência de notificação quanto às infrações
supostamente cometidas pelo autor, ora Apelado, sendo de
rigor a mantença do julgado. 6 - Recurso conhecido e
improvido. Decisão unânime. (TJ-TO - APL:
00076761120198270000, Relator: JACQUELINE
ADORNO DE LA CRUZ BARBOSA)

Trata-se da indispensável aplicação do princípio da Legalidade, o


qual a Administração Pública é estritamente vinculada.

Por ser patente a irregularidade que norteia o AIT em tela, em grave


afronta ao Art. 281 do CTB, deve ser arquivado e consequentemente, seu
registro julgado insubsistente, por manifesta quebra do princípio da legalidade.

DO ENQUADRAMENTO INDEVIDO NA LEI SECA

Conforme notificação recebida, o condutor teria cometido a infração


disposta no art. 165, do Código de Trânsito Brasileiro, segundo o qual o motorista
estaria em estado de embriaguez, ou seja, sob influência de álcool, conforme a
resolução do DENATRAN nº 432, art. 3º, que dispõe:

Art. 3º A confirmação da alteração da capacidade


psicomotora em razão da influência de álcool ou de outra
substância psicoativa que determine dependência dar-se-

#3281979 Wed Aug 18 14:20:50 2021


á por meio de, pelo menos, um dos seguintes
procedimentos a serem realizados no condutor de veículo
automotor:
I - exame de sangue;
II - exames realizados por laboratórios especializados,
indicados pelo órgão ou entidade de trânsito competente
ou pela Polícia Judiciária, em caso de consumo de outras
substâncias psicoativas que determinem dependência;
III - teste em aparelho destinado à medição do teor
alcoólico no ar alveolar (etilômetro);
IV - verificação dos sinais que indiquem a alteração da
capacidade psicomotora do condutor.
§ 1º Além do disposto nos incisos deste artigo, também
poderão ser utilizados prova testemunhal, imagem,
vídeo ou qualquer outro meio de prova em direito
admitido.
§ 2º Nos procedimentos de fiscalização deve-se priorizar a
utilização do teste com etilômetro.
§ 3º Se o condutor apresentar sinais de alteração da
capacidade psicomotora na forma do art. 5º ou haja
comprovação dessa situação por meio do teste de
etilômetro e houver encaminhamento do condutor para a
realização do exame de sangue ou exame clínico, não será
necessário aguardar o resultado desses exames para fins
de autuação administrativa.

Ocorre que após análise ao dispositivo de lei, verifica-se que o


condutor não se enquadra em nenhum dos procedimentos mencionados, ou
seja, não há qualquer evidência da embriaguez, não existindo, assim, provas
para que a punição seja aplicada.

Dispõe o artigo 4º da Resolução 432/2013 do CONTRAN os meios


conclusivos necessários para identificar o comprometimento da capacidade
psicomotora do condutor, prevendo:

#3281979 Wed Aug 18 14:20:50 2021


DOS SINAIS DE ALTERAÇÃO DA CAPACIDADE
PSICOMOTORA

Art. 5º Os sinais de alteração da capacidade psicomotora


poderão ser verificados por:
I - exame clínico com laudo conclusivo e firmado por
médico perito; ou
II - constatação, pelo agente da Autoridade de Trânsito, dos
sinais de alteração da capacidade psicomotora nos termos
do Anexo II.

§ 1º Para confirmação da alteração da capacidade


psicomotora pelo agente da Autoridade de Trânsito,
deverá ser considerado não somente um sinal, mas um
conjunto de sinais que comprovem a situação do
condutor.

§ 2º Os sinais de alteração da capacidade psicomotora


de que trata o inciso II deverão ser descritos no auto
de infração ou em termo específico que contenha as
informações mínimas indicadas no Anexo II, o qual deverá
acompanhar o auto de infração.

Ou seja, é indispensável a descrição completa do conjunto de


sinais que conduz à conclusão de embriaguez e alteração da capacidade
psicomotora. O que não ocorreu no presente caso, uma vez que foi indicado
apenas tal recusa.

Evidente que o simples ato de não produzir prova contra si


mesmo, não é o suficiente à conclusão de alteração da capacidade
psicomotora.

Dentre as garantias fundamentais, a Constituição contempla o


direito de não produzir prova contra si (art. 5, LXIII). Na mesma vertente, o
tratado de San José da Costa Rica estabelece em seu art. 8º, inc. II, alínea "g" o

#3281979 Wed Aug 18 14:20:50 2021


"direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se
culpada’’.

Posto isso, considerando que ninguém é obrigado a produzir prova


contra si mesmo, o cidadão ao se negar a se submeter à prova do etilômetro
atesta um mero exercício regular de um direito. Como tal, ato perfeitamente lícito,
a teor do art. 23, III, do Código Penal, não devendo ser punível como expressa
o CTB.

Cabe destacar que no momento da fiscalização o condutor não


apresentou qualquer resistência quanto à fiscalização, tanto é que no Auto
de Infração não consta uma linha sequer sobre a conduto do Autor.

Ressalta-se ainda, que o condutor apenas recusou-se realizar o


teste do etilômetro, não constando qualquer elemento ou descrição no auto de
infração que evidenciasse sinais de embriaguez ao volante ou na condução de
veículo automotor, visto que a multa deve ser aplicada somente se o condutor:

Art. 165. Dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer


outra substância psicoativa que determine dependência:

Art. 165. Dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer


outra substância psicoativa que determine dependência:
Infração - gravíssima;

Penalidade - multa (dez vezes) e suspensão do direito de


dirigir por 12 (doze) meses.

Medida administrativa - recolhimento do documento de


habilitação e retenção do veículo, observado o disposto no
§ 4º do art. 270 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997
- do Código de Trânsito Brasileiro.

Ou seja, não se pode concluir que o condutor apresentava estado


de embriaguez sem qualquer meio comprovatório apenas pela recusa do teste

#3281979 Wed Aug 18 14:20:50 2021


do etilômetro, conforme precedentes jurisprudenciais sobre o tema:

ADMINISTRATIVO. AUTO DE INFRAÇÃO DE TRÂNSITO.


TESTE DO BAFÔMETRO - RECUSA. INEXISTÊNCIA DE
PROVA DA EMBRIAGUEZ POR OUTROS MEIOS. AUTO
DE INFRAÇÃO - NULIDADE. 1. O art. 277 do CTB dispõe
que a verificação do estado de embriaguez, ao menos para
cominação de penalidade administrativa, pode ser feita por
outros meios de prova que não o teste do etilômetro. 2. A
despeito das discussões acerca do art. 277, § 3º, CTB, a
jurisprudência exige que a embriaguez esteja demonstrada
por outros meios de prova, não podendo ser decorrência
automática da recusa em realizar o teste. 3. Hipótese em
que o agente da fiscalização multou o condutor após
sua negativa em realizar o teste. O referido auto em
questão não descreve minimamente qualquer sinal de
ingestão de bebida alcoólica pelo infrator, razão
porque não prevalece a presunção de legitimidade do
ato administrativo. (TRF-4 - AC: 50046061020154047114
RS 5004606-10.2015.404.7114, Relator: FERNANDO
QUADROS DA SILVA, Data de Julgamento: 24/01/2017,
TERCEIRA TURMA, #13281979)

ADMINISTRATIVO. INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA.


TRÂNSITO. AUTO DE INFRAÇÃO E NOTIFICAÇÃO DE
AUTUAÇÃO. ART. 165 E 277 DO CÓDIGO DE
TRÂNSITO. RECUSA EM FAZER O TESTE DO
"BAFÔMETRO". AUSÊNCIA DE SINAIS DE
EMBRIAGUEZ. FALTA DE PROVAS. ANULAÇÃO. 1.
Conforme o art. 277, § 2º, CTB, para o enquadramento do
art. 165 do Código de Trânsito Brasileiro, podem ser
utilizados outros meios de prova além de exames clínicos
e testes de medição do teor alcoólico. No entanto, é
necessário que haja alguma evidência de que o
condutor teve seu estado de consciência alterado pela

#3281979 Wed Aug 18 14:20:50 2021


ingestão de bebida alcoólica. 2. Anulação da multa
aplicada pela não observância à Legislação de Trânsito.
(APELAÇÃO/REEXAME NECESSÁRIO Nº 5016411-
15.2014.404.7107, 4ª TURMA, Des. Federal LUÍS
ALBERTO D AZEVEDO AURVALLE, POR
UNANIMIDADE, JUNTADO AOS AUTOS EM 07/10/2014,
#43281979)

Ademais, a conduta descrita no AIT não se enquadra no Art. 306


do CTB:

Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade


psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou
de outra substância psicoativa que determine
dependência:

Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e


suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a
habilitação para dirigir veículo automotor.

A redação do referido disposto imputa como infração o


comprometimento da capacidade psicomotora em razão da influência do
álcool, e não a simples indicação da existência de álcool no sangue.

Trata-se de conclusão lógica, diante da existência de inúmeros


efeitos diferentes para cada pessoa pela mesma quantidade de álcool. Portanto,
não basta a indicação de determinado teor alcoólico no sangue, deve-se exigir a
comprovação de que no caso específico houve a alteração objetiva da
capacidade psicomotora do condutor, sob pena de não se preencherem todos
os elementos da infração.

Para tanto, faz-se necessário que o AIT contenha expressamente


os elementos e provas que levaram à conclusão deste comprometimento
do denunciado, o que não se vislumbra no presente caso.

#3281979 Wed Aug 18 14:20:50 2021


Assim, mesmo que o resultado fosse positivo no teste alcoolemia,
não poderia ser prova suficiente de que a sua capacidade psicomotora tenha
sido alterada:

EMENTA - PENAL - PROCESSO PENAL - CRIMES DE


EMBRIAGUEZ AO VOLANTE E DESACATO -
CONDENAÇÃO - RECURSO DEFENSIVO - PROVA -
PLEITO DE ABSOLVIÇÃO - PENA - REDUÇÃO. (...)Não
podendo ser admitido no direito penal moderno o chamado
crime de perigo abstrato por força do implícito princípio
constitucional da ofensividade, apesar da redação
econômica do artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro,
atento ao princípio da proporcionalidade que desautoriza
que a infração administrativa que é menos grave exija
requisito não previsto na infração penal que é mais grave
("estar sob a influência de álcool ou qualquer outra
substância"), penso que para o reconhecimento do crime
da lei de trânsito referido não basta que o motorista
esteja com o limite referido pela norma de
concentração de álcool no sangue, impondo-se a
comprovação de que ele estava dirigindo sob a
influência daquela substância, o que se manifesta
numa direção anormal que coloca em risco concreto a
segurança viária que é o bem jurídico protegido pela
norma. Entendimento contrário, consagra a ideia da
adoção pelo Estado de instrumento simbólico para a
conformação de comportamentos desejáveis, ainda que
sem ofensa ao bem jurídico protegido, com utilização do
aparato punitivo como prima ratio e não como ultima ratio.
(...) O juiz possui manifesta discricionariedade no calibre da
pena base, devendo eventual exacerbação da resposta
penal naquele primeiro momento estar fundamentada nas
circunstâncias judiciais elencadas no artigo 59 do Código
Penal, o que efetivamente ocorreu no caso presente,
operada a substituição da PPL por PRD. (TJ-RJ - APL:

#3281979 Wed Aug 18 14:20:50 2021


00044728320148190055 RIO DE JANEIRO CABO FRIO 1
VARA CRIMINAL, Relator: MARCUS HENRIQUE PINTO
BASÍLIO, Data de Julgamento: 06/12/2016, PRIMEIRA
CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 12/12/2016,
#33281979)

Portanto, diante da ausência de elementos suficientes na inicial


para fins de indicar de forma clara os elementos típicos da previsão legal
enquadrada, tem-se nula a infração aplicada.

Diante todo o exposto, requer a anulação do auto de infração e o


arquivamento do referido processo administrativo. Não sendo este o caso pugna
pela aplicação de penalidade mínima no que concerne a suspensão do direito
de dirigir.

DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto REQUER:

1 - Seja recebido a presente defesa prévia, pois atende a todos os


requisitos de sua admissibilidade de acordo com a Res. 299/08 do
CONTRAN;

2 - Seja julgado PROCEDENTE a presente defesa, e por via de


consequência o arquivamento da notificação de autuação sem
qualquer penalidade.

Nestes termos, pede deferimento.

São José, 30 de agosto de 2021.

LEANDRO PAULINO ESTEVÃO

#3281979 Wed Aug 18 14:20:50 2021


ANEXOS:

1. Cópia do comprovante de expedição da notificação

2. Cópias do processo administrativo com a descrição do AIT

3. Cópia do documento de Infração

4. Cópia da CNH

5. Cópia do do documento do veículo - CRLV

#3281979 Wed Aug 18 14:20:50 2021

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