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Caro(a) aluno(a),
Boa atividade.
X Vara Criminal de X
Vistos, etc.
Trata-se de ação penal movida pelo Ministério Público do Estado de ____contra “Roberto Malvado” e “Ferdinando
Crueldade”, qualificados nos autos (fls.____), como incursos nas penas do art. 157, § 2.º, I, II e V, c/c art. 29 do Código
Penal, pelo fato de, no dia 18 de fevereiro de 2005, por volta das 14 horas, invadindo o Supermercado ____, situado na Rua
____, n.º ____, na cidade de São Paulo, sob ameaça exercida com o emprego de arma de fogo, bem como empregando
violência contra os funcionários e clientes do estabelecimento, terem subtraído a quantia de R$ 2.000,00, que estava nas
gavetas das caixas registradoras. Segundo consta da denúncia, mantiveram vários dos presentes presos em um quarto nos
Recebida a denúncia, decretou-se a prisão preventiva, que se efetivou em relação a todos os acusados. Citados, apresentaram
as suas defesas prévias (fls.____). Após, ouviram-se testemunhas de acusação (fls.____) e de defesa (fls.____), interrogando-
se os réus. Ao final da instrução, houve debates orais (fls.____). O Dr. Promotor de Justiça pediu a condenação dos réus nas
penas do roubo, com as causas de aumento previstas nos incs. I, II e V, do art. 157, do Código Penal, bem como sustentou a
agravante da reincidência para dois dos acusados. O Dr. Defensor, em nome de todos, negou a autoria, alegando que os réus
não foram reconhecidos com segurança pelos ofendidos; por outro lado, invocou a excludente do estado de necessidade, bem
como pleiteou o afastamento da causa de aumento do emprego de arma, pois uma delas era de brinquedo. Não concordou,
igualmente, com a existência da causa de aumento de cerceamento da liberdade, pois as vítimas ficaram retidas no próprio
supermercado, onde já se encontravam antes da prática do delito. Pleiteou, por fim, que eventual agravante da reincidência
É o relatório.DECIDO.
A ação é procedente.
Os acusados, quando foram ouvidos em interrogatório, na fase policial, admitiram a prática do roubo, alegando que assim
agiram porque estariam desempregados, atravessando uma fase difícil, o que os levou a atuar em estado de necessidade.
Houve reconhecimento formal, realizado nas dependências policiais, nos termos do art. 226 do Código de Processo Penal
(termo de fls.____).
Posteriormente, em juízo, quando interrogados, negaram a autoria, retratando-se do que anteriormente haviam narrado.
Invocaram que se trataria de uma armação de pessoas da região onde moram, buscando imputar-lhes a prática do roubo que,
A confissão extrajudicial é um mero indício, não constituindo prova direta, razão pela qual não é o principal objeto de análise
nesta decisão. Ocorre que, houve auto de reconhecimento formal, realizado nos estritos limites da forma legal, bem como
tanto as testemunhas do ato (art. 226, IV, CPP) quanto vários dos ofendidos confirmaram, em juízo, sob o crivo do
contraditório e da ampla defesa, que os réus praticaram o roubo tal como lhes foi imputado pela denúncia (fls.____).
Torna-se inconteste a autoria, bem como a materialidade. O dinheiro subtraído foi apreendido em poder do corréu “Roberto
Superada, pois, a alegação de negativa de autoria, passemos à análise do estado de necessidade, levantado no interrogatório
realizado na polícia e que também constitui tese subsidiária da defesa técnica. É verdade que tal excludente pode ser alegada
em qualquer situação, inclusive no cenário de crimes violentos, mas há requisitos a observar, como demanda o art. 24 do
Código Penal. E esses elementos não estão presentes neste caso. Os réus afirmaram passar privações de ordem material, por
estarem desempregados, o que os motivou à prática do assalto. Porém, para a concretização legítima do estado de necessidade
seria indispensável visualizar dois bens lícitos em confronto, o que, de pronto, inexiste. Somente para argumentar, poder-se-ia
falar em estado de necessidade de alguém que, sem se alimentar há vários dias, subtraísse um pão exposto na padaria,
buscando, pois, a sua sobrevivência. Os agentes do roubo, em momento algum, demonstraram qual seria o fim do dinheiro, ao
contrário, alguns, reincidentes na prática de crime patrimonial, disseram que iriam utilizá-lo para financiar outros assaltos.
A regra, em processo penal, indica caber à parte que alegar a obrigação de produzir prova nesse sentido (art. 156, CPP), não
impedindo, mas incentivando a acusação a produzir, igualmente, prova de que o álibi e a excludente de ilicitude
inexistiram. Afinal, o ônus da prova é sempre da acusação, que, no caso presente, participou ativamente da instrução,
Ante o exposto, julgo procedente a ação e condeno “Roberto Malvado” e “Ferdinando Crueldade”, qualificados nos autos
(fls.____), como incursos nas penas do art. 157, § 2.º, I, II e V, c.c. art. 29 do Código Penal às seguintes penas:
“Roberto Malvado”, conforme restou evidenciado nos autos, apresentou-se, durante toda a prática do roubo, como o mais
violento dos agentes. Agrediu a coronhadas os funcionários do supermercado, causando-lhe várias lesões, bem como chegou a
atingir uma criança que chorava de medo, no colo da mãe. As provas das lesões estão nos autos (laudos de fls.____). O relato
da violência exagerada com que agiu, atingindo requinte de perversidade, espelhando personalidade maldosa, encontra base
nos depoimentos de “A” (fls.____), “B” (fls.____) e “C” (fls.____). Chegou a disparar a arma no estabelecimento
(depoimento de fls. ___). Não bastasse, sua conduta social não merece aplauso. Desempregado há vários meses, vive às custas
da companheira, com quem possui três filhos, dois dos quais explora, determinando que peçam esmola em cruzamentos do
bairro, conforme narrou a vizinha do casal “M” (fls.____). Aliás, emprego não lhe faltou, mas sim a disposição para aceitá-
los. É a narração de sua companheira (fls.____). As vítimas não contribuíram para a ocorrência do delito, pois estavam em
seus postos de trabalho. Há, ainda, a ponderar o saldo negativo deixado pelo roubo, que chegou a traumatizar muitas
das crianças presentes, uma das quais seriamente atingida pela coronhada dada pelo réu (fls.____)., o que demonstra vileza
Quanto a “Ferdinando Crueldade”, apurou-se que ele carregava a arma de brinquedo e ameaçava aos presentes com
contundência, rindo o tempo todo, ainda que as vítimas se mostrassem inertes e pacíficas, o que evidencia personalidade
sádica. É primário, mas registra antecedentes, pois foi condenado há cerca de oito anos por furto qualificado. A conduta
social, igualmente, não é positiva. Segundo narraram as testemunhas “P” e “Q” (fls.____) ele é conhecido no bairro pela sua
notória ociosidade. Sustentado pela mãe, teve oportunidade de estudar, pois o padrinho é professor de escola da região, mas
rejeitou todas as ofertas. Envolveu-se com “Roberto Malvado” desde a adolescência e nunca trilhou caminho honesto. A
motivação foi idêntica à do comparsa, ou seja, torpe (arrecadação de dinheiro para outro assalto). O comportamento das
vítimas foi totalmente alheio à conduta dos agentes e ainda houve quem saísse do evento traumatizado, o que se trata de
consequência invulgar.
P. R. I.
Comarca, data.
______________
Juiz de Direito”
Dados relevantes
Um dos réus estava munido de arma de brinquedo, enquanto outro se apresentava com revólver calibre 38
O réu, “Roberto Malvado”, pretendia juntar dinheiro para financiar assaltos mais ousados.
Lembre-se: