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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão 1ª Turma Criminal

Processo N. APELAÇÃO CRIMINAL 0703432-47.2019.8.07.0002

APELANTE(S) ROBERTO BARBOSA DOS SANTOS

APELADO(S) MINISTERIO PUBLICO DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITORIOS


Relator Desembargador CARLOS PIRES SOARES NETO
Revisor Desembargador J. J. COSTA CARVALHO

Acórdão Nº 1381718

EMENTA

PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. ESTELIONATO CONTRA IDOSO. PENA.


CONSEQUÊNCIAS E CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA.
RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.

1. A pluralidade de agentes foi extremamente necessária para a consumação do delito, conhecido


vulgarmente como golpe do paco e é fundamento idôneo para negativar as circunstâncias do crime.

2. Em crime contra o patrimônio alheio, outros elementos acidentais mais graves da conduta e que
transbordam aos usuais do tipo penal podem ser aquilatados com vistas a negativar as consequências
do delito. 2. 1. Os danos causados pela ação criminosa da dupla de estelionatários foram além do
inerente dano patrimonial. Atingiram às necessidades vitais e básicas de sobrevivência e manutenção
de saúde de humilde casal de idosos, diante da subtração de toda a singela pensão de aposentadoria,
com que está devidamente justificada a negativação das consequências do crime.

3. Recurso conhecido e desprovido.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 1ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios, CARLOS PIRES SOARES NETO - Relator, J. J. COSTA CARVALHO -
Revisor e HUMBERTO ULHÔA - 1º Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador J. J. COSTA
CARVALHO, em proferir a seguinte decisão: NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO. UNÂNIME,
de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 03 de Novembro de 2021

Desembargador CARLOS PIRES SOARES NETO


Relator

RELATÓRIO

Cuida-se de apelação interposta por ROBERTO BARBOSA DOS SANTOS contra a r. sentença (ID
23907624) proferida pelo d. Juízo da Vara Criminal e do Tribunal do Júri de Brazlândia/DF que,
julgando procedente a pretensão deduzida na denúncia, o condenou por incursão no art. 171, § 4º, do
Código Penal (estelionato circunstanciado por ter sido cometido contra idoso),à pena de 5 (cinco)
anos de reclusão, mais 50 (cinquenta) dias-multa, no valor unitário mínimo. A corré GRAZIELE
VIRGINIA LOPES DE OLIVEIRA também foi condenada, por incursão no mesmo dispositivo legal, à
pena de 5 (cinco) anos de reclusão, mais 50 (cinquenta) dias-multa, no valor unitário mínimo. Foi
imposto a ambos o regime prisional inicial fechado. A pena privativa de liberdade não foi substituída
por restritiva de direitos, nem condicionalmente suspensa. Fixada indenização mínima em favor das
vítimas no valor de R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais), devidamente corrigida a partir do fato,
com incidência de juros a partir da citação, a ser arcada solidariamente pelos corréus. Negado aos
condenados o direito de apelaram em liberdade.

Consta da denúncia (ID 23907484):

(....) No dia 1 de abril de 2019, por volta de 12h10min, em via pública, na Quadra 06, Bloco A, Setor
Norte, perto do ponto de ônibus da pracinha situada ao lado do Supermercado Pra Você, em
Brazlândia/DF, os denunciados e outro indivíduo ainda não identificado, todos de forma consciente e
voluntária, em unidade de desígnios e comunhão de esforços entre si, obtiveram para o grupo
vantagem ilícita em prejuízo alheio, induzindo as vítimas Nicácio P. A. e Agripina C. S., ambos idosos,
em erro mediante artifício, ardil e meio fraudulento.

Nas circunstâncias de tempo e local mencionadas, após perceber que as vítimas caminhavam em
direção à parada de ônibus, os denunciados e um indivíduo não identificado, de comum acordo,
planejaram aplicar o “golpe do paco”. Com esse desiderato, o denunciado Roberto, de forma
fraudulenta e simulada, enquanto falava ao telefone celular, colocou a mão no bolso da calça e
deixou cair um maço de dinheiro no chão, ocasião em que a denunciada Graziele, que estava
próxima às vítimas, pegou o referido objeto e o restituiu ao denunciado Roberto. No mesmo contexto,
o denunciado Roberto agradeceu à denunciada Graziele e às vítimas, começou a interagir com as
vítimas e relatou que tinha presenciado o ato de honestidade delas.

Logo após, iniciou-se um diálogo entre os denunciados e as vítimas. Durante a conversa o denunciado
Roberto elogiou a honestidade das vítimas e da denunciada Graziele visando, com tal ardil,
transmitir credibilidade e obter confiança, contexto no qual o denunciado Roberto ofereceu às
vítimas e à denunciada Graziele (que de forma dissimulada fingiu não conhecer o seu comparsa) uma
suposta recompensa pela devolução do objeto, afirmando que elas receberiam um relógio. Em
seguida, os denunciados e as vítimas caminharam em direção ao suposto comércio no qual seria
retirada a recompensa.

Na sequência, o denunciado Roberto informou que as vítimas e a denunciada Graziele não poderiam
entrar no local onde receberiam a suposta recompensa carregando seus objetos, convencendo-as da
necessidade de entregarem seus pertences, e enfatizou que havia uma política de segurança no
estabelecimento. De imediato, a denunciada Graziele deixou a sua bolsa com as vítimas e
deslocou-se em direção ao local indicado.

Após certo período, a denunciada Graziele retornou e exibiu o relógio e a quantia de R$ 100,00 (cem
reais) que, dissimuladamente, fingiu ter recebido, de modo a estimular as vítimas a buscarem a
fictícia recompensa que lhes foi anunciada, oportunidade em que o denunciado Roberto mencionou
que era a vez das vítimas Agripina e Nicácio.

Diante disso, a vítima Agripina deixou sua bolsa, que continha R$ 800 (oitocentos reais)
pertencentes à vítima Nicácio e R$ 700,00 (setecentos reais) pertencentes a ela, bem como
documentos pessoais e cartão do Banco Itaú, na posse da denunciada Graziele, ocasião em que
caminhou em direção ao local indicado, acompanhada de seu esposo. Ato contínuo, os denunciados
evadiram-se do local na posse dos bens pertencentes às vítimas.

Logo em seguida, as vítimas chegaram à loja indicada pelo denunciado Roberto e questionaram a
respeito do brinde, ocasião em que descobriram que foram vítimas de um golpe. Quando retornaram
ao local de origem, observaram que os denunciados já tinham empreendido fuga na posse dos bens.
(...) - grifo nosso.

Os réus foram intimados pessoalmente do decreto condenatório (ID 23907641 e 23907644).


ROBERTO BARBOSA DOS SANTOS declarou seu desejo de apelar e GRAZIELE VIRGÍNIA
LOPES DE OLIVEIRA agenciou pela necessidade de fluência do prazo legal para se manifestar sobre
o assunto.

A Defensoria Pública, que, até então, patrocinava a Defesa do réu ROBERTO BARBOSA DOS
SANTOS interpôs apelo (ID 23907629). Posteriormente, o réu constituiu advogado (ID 23907648), o
qual apresentou as razões recursais (ID 24471776), nesta Instância Revisora. Pleiteou-se a redução da
pena imposta ao réu, alegando-se que o motivo utilizado para negativar as consequências do delito
(dano patrimonial nas vítimas) é inerente ao tipo penal e que não há fundamentação concreta para
negativar as circunstâncias do crime.

Proferida decisão saneadora (ID 24577991), deferindo-se o pedido do Advogado constituído do


apelante para desentranhamento das razões recursais apresentadas pela Defensoria Pública, providência
devidamente cumprida (ID 24606720/24606722).

Primando pela ampla defesa, instou-se à Defesa da corré GRAZIELE VIRGÍNIA LOPES DE
OLIVEIRA se manifestar sobre a possiblidade de recorrer, quando, então, declarou expressamente não
ter interesse em apelar (ID 29070935 e 29070939).

Contrarrazões do Ministério Público pela manutenção do decreto condenatório (ID 29070934).

A r. sentença condenatória transitou em julgado para a Acusação em 12/10/2020 (ID 23907656) e para
a ré em 22/01/2021 (em consulta ao sistema informatizado).

A d. Procuradoria de Justiça Criminal manifestou-se pelo conhecimento e desprovimento do apelo (ID


29364688).
É o relatório.

VOTOS

O Senhor Desembargador CARLOS PIRES SOARES NETO - Relator

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do apelo.

A materialidade do crime e a autoria imputada ao apelante foram cabalmente evidenciadas no acervo


probatório. Tanto o é que a Defesa do se limitou o inconformismo à dosimetria penalógica.

Eis as provas documentais de relevo: Ocorrência Policial nº 1.459/2019 – 18ª DP (ID 23907486 - Pág.
3/5); Termo de Reconhecimento de Pessoa por Fotografia (ID 23907486 - Pág. 8/9 - GRAZIELE
VIRGÍNIA LOPES DE OLIVEIRA); Termo de Reconhecimento de Pessoa (ID 23907488 - Pág. 5/61
- ROBERTO BARBOSA DOS SANTOS); Relatórios Policiais (ID 23907485 - Pág. 6/ 23907486 -
Pág. 2; 23907488; e 23907489 - Pág. 10/ 23907490 - Pág. 5).

Inegável que o crime foi perpetrado contra casal de idosos, conforme se confirma do Prontuário
Civil de ambos, a atestar que o Sr. Nicácio P. A. nasceu em 14/12/1940, e a Sra. Agripina C. S., em
24/15/1947 (ID 23907489 - Pág. 4/9).

O acervo oral colacionado aos autos, tanto na fase inquisitorial (ID 23907486 - Pág. 6/7) como em
Juízo (ID 23907590/ 23907603), confirma integralmente a veracidade dos termos denunciados. Com
realce para a confissão espontânea do corréu ROBSON, que foi seguro em afirmar que a corréu
GRAZIELA participou da empreitada criminosa.

A admissão do réu está devidamente ratificada pelo relato seguro da vítima Agripina C. S. que, ao
confirma seu depoimento extrajudicial, declarou que a dupla simulou a situação narrada na peça
inaugural com vistas a ludibriarem ela e seu esposo; que o réu ROBSON pretendia recompensá-los
pelo ato de honestidade, mas, em verdade, somente queriam ganhar sua confiança para se apossar,
mediante o ardil, de seus pertences, o que, deveras, conseguiram.

Ambas as vítimas puderam reconhecer, com segurança, os corréus como coautores do crime em
apreço (ID 23907486 - Pág. 8/9 e 23907488 - Pág. 5/61).

Há também o depoimento do policial que participou das investigações, acrescentando que foi obtida
filmagem do local dos fatos, extraída de câmara de vigilância instalada nas imediações, em que se
visualiza a dinâmica do golpe e a atuação de cada um dos corréus para a consumação do delito, além
da participação de terceiro indivíduo ainda não identificado que deu fuga aos corréus na condução de
um FIAT/UNO.

Nas imagens colacionadas no Relatório Policial (ID 23907485 - Pág. 7/10), extraídas daquela
filmagem, nota-se, com clareza, ambos os réus no exercício da simulação e do ardil ludibriando o
casal de idosos.

Assim, reina isolada a negativa de autoria firmada pela corré GRAZIELE VIRGÍNIA LOPES DE
OLIVEIRA.

Feitas essas considerações, comprovado que os corréus foram os autores do crime de estelionato
que se desenvolveu conforme narrado na peça inaugural, sendo de rigor a manutenção do
decreto condenatório por incursão no art. 171, § 4º, do Código Penal[1].

Agora, adentra-se o apelo de ROBERTO BARBOSA DOS SANTOS, que versa sobre o cálculo da
pena. Entretanto, em razão da devolução integral da matéria, serão examinadas ambas as dosimetrias
penalógicas.

2. 1 – ROBERTO BARBOSA DOS SANTOS

Na primeira fase, assim foram analisadas as circunstâncias judiciais elencadas no art. 59 do Código
Penal, in verbis:

(i) a culpabilidade não prejudica o réu, pois o nível de reprovação de sua conduta é próprio do tipo;
(ii) os antecedentes são desfavoráveis consoante id 71077549. Aponto neste particular diversas
anotações e destaco na análise desta circunstância a condenação pelo Juizado de Violência
Doméstica de Samambaia no processo 2017.09.1.013079-6 - 71077549 - Pág. 76 que é suficiente
para justificar a valoração negativa nesta etapa; (iii) e (iv) a personalidade e a conduta social são
desinfluentes, uma vez que as provas acostadas aos autos nada revelam a respeito; (v) os motivos do
crime são aqueles mesmo que podem ser esperados do dolo delitivo, de modo que esta circunstâncias
não repercute negativamente; (vi) a circunstâncias do crime podem ser valorados negativamente na
medida em que a ação foi praticada mediante concurso de agentes, mais precisamente a corré e
outro não identificado que deu fuga a ambos; (vii) as consequências do crime serão igualmente
tidas como desfavoráveis já que como relatado pela testemunha policial a ação empreendida pela
dupla acabou por despojar as vítimas de toda a quantia monetária que tinham para passar o mês;
(viii) o comportamento da vítima em nada influiu. (ID 23907624 - Pág. 6 - grifo nosso).

Neste ponto, a Defesa pleiteia a redução da pena imposta ao réu, alegando-se que o motivo utilizado
para negativar as consequências do delito (dano patrimonial nas vítimas) é inerente ao tipo penal e que
não há fundamentação concreta para negativar as circunstâncias do crime.

Sem razão, entretanto.

As circunstâncias do crime foram concretamente analisadas. O envolvimento de dois coautores para a


prática do estelionato não determina a incidência de agravante, qualificadora ou causa de aumento,
como acontece com o crime de furto (art. 155, § 4º, inciso IV, do Código Penal[2]). Porém, a
pluralidade de agentes foi extremamente necessária para a consumação do delito, contribuindo
decisivamente para ludibriar o casal de idosos, conferindo-lhes a segurança de que, assim como
ocorreu com a ré GRAZIELA, eles também receberiam a recompensa em espécie e o relógio
prometido pelo réu ROBERTO. Além disso, o fato de as vítimas permanecerem, inicialmente, em
poder dos pertences da ré GRAZIELA, enquanto ela, simuladamente, auferia sua recompensa, foi o
fato impulsionador que gerou confiança para que os idosos, também, deixarem seus bens com ela,
enquanto tentavam, já ludibriados em erro, auferirem a recompensa fraudulentamente prometida por
ROBERTO.

Em casos análogos ao presente, assim já decidiu este eg. Tribunal de Justiça:

APELAÇÃO CRIMINAL. ESTELIONATO. (...) CIRCUNSTÂNCIAS. CONSEQUÊNCIAS.


PROPORCIONALIDADE DO QUANTUM DE AUMENTO. (...) RECURSOS PARCIALMENTE
PROVIDOS. (...) 6. As circunstâncias do crime, caso transbordem a esfera do próprio delito, podem
ser valoradas de forma negativa. O concurso de agentes (quatro) para a prática do crime de
estelionato, muito embora não configure qualificadora nem majorante prevista no tipo legal, no
caso dos autos, contribuiu decisivamente para ludibriar a vítima, dando uma aparência de
legalidade a uma transação comercial fraudulenta de compra e venda de um veículo automotor,
razão pela qual não há óbice na valoração negativa. (...) 10. Recursos parcialmente providos.
(Acórdão 1196200, 20150111015480APR, Relator: SILVANIO BARBOSA DOS SANTOS, Revisor:
JOÃO TIMÓTEO DE OLIVEIRA, 2ª TURMA CRIMINAL, data de julgamento: 22/8/2019,
publicado no DJE: 28/8/2019. Pág.: 139-144 - grifo nosso);

APELAÇÕES CRIMINAIS. ESTELIONATO. (...) PEDIDO DE REDUÇÃO DAS PENAS-BASES AO


MÍNIMO LEGAL. IMPOSSIBILIDADE. ANÁLISE NEGATIVA DA CULPABILIDADE, DAS
CIRCUNSTÂNCIAS E DAS CONSEQUÊNCIAS DO CRIME. FUNDAMENTAÇÃO ADEQUADA. (...)
RECURSOS CONHECIDOS E NÃO PROVIDOS. (...) 5. O concurso de agentes no crime de
estelionato, por não configurar uma qualificadora, pode ser considerado como elemento
desfavorável na fixação da pena-base, razão pela qual mantém-se a análise negativa das
circunstâncias do crime. (...) 8. Recursos conhecidos e não providos (...). (Acórdão 644387,
20080111517392APR, Relator: ROBERVAL CASEMIRO BELINATI, Revisor: JOÃO TIMÓTEO
DE OLIVEIRA, 2ª Turma Criminal, data de julgamento: 19/12/2012, publicado no DJE: 7/1/2013.
Pág.: 256 - grifo nosso).

Logo, as singularidades concretamente aferidas na r. sentença condenatória são sustentáculos


para negativar as circunstâncias do delito.

Em relação às consequências do delito, é sabido que em crime contra o patrimônio alheio, como na
espécie, o prejuízo financeiro da vítima é, deveras, inerente ao tipo. Por outro lado, outros elementos
acidentais mais grave da conduta e que transbordam os usuais concernentes à mera subtração
patrimonial podem ser aquilatados com vistas a negativar o referido modulador judicial. E foi
exatamente esse o fundamento singular utilizado pelo d. Juízo a quo para aferir como desfavorável ao
réu as consequências do crime.

Em Juízo, a vítima Agripina C. S. noticiou que foi subtraído todo o salário, todo o sustento de vida do
casal para aquele mês, pois haviam acabado de sacar seus proventos na agência bancária.

Ora, tratam-se de dois aposentados pensionistas do sistema previdenciário brasileiro, com destaque
para a vítima, Sra. Agripina C. S. que é, ainda, analfabeta (ID 23907486 - Pág. 3/4).

A singela situação de penúria e desespero daquele casal de idosos, que se viu furtado de todo o seu
meio de sobrevivência para aquele mês, foi de tal sorte que despertou nos agentes policiais, que os
atenderam na Delegacia de Polícia, o sentimento de empatia e benignidade que os levaram a ratear
naquele órgão uma ajuda para, ao menos, custear os remédios que os idosos precisavam
prementemente para a salvaguarda da saúde e controle de suas enfermidades, conforme bem relatado
em d. Juízo.

Então, os danos causados pela ação criminosa da dupla de estelionatários foram, deveras, muito
além do usual e inerente ao tipo penal, vez que atingiram às necessidades vitais básicas e de
saúde daquele humilde casal de idosos, com que está devidamente justificada a negativação das
consequências do crime.

Continuando no exame da dosimetria, é inegável que o réu é portador de antecedente penal.

Aliás, apesar de a r. sentença ter pontuado que a condenação definitiva do ID 23907580 - Pág. 72/76
[3] foi utilizada para atestar a presença de antecedente penal, enquanto as dos ID's 23907580 - Pág.
53 e 23907580 - Pág. 53 configuraram sua reincidência, ou melhor, multirreincidência, o réu ainda
ostenta outros registros penais condenatórios (ID 23907580 - Pág. 56, 70/71 e 77/80) que poderiam
justificar uma reprimenda ainda maior.
Diante dessa análise e da presença de três vetores judiciais negativos (antecedentes, circunstâncias e
consequências do crime), deve ser integralmente mantida a pena-base para 2 (dois) anos e 6 (seis)
meses de reclusão (ID 23907624 - Pág. 6). Note-se que o d. Juízo a quo bem observou a usual fração
de modulação de 1/8 (um oitavo) obtida sobre a diferença entre as penas máxima e mínima
abstratamente estipuladas para o tipo penal[4].

Na segunda etapa, como já adiantado, apesar de o réu registrar ser multirreincidente, o que não
permitiria a compensação integral desta agravante com a atenuante da confissão espontânea, nos
moldes jurisprudenciais amplamente aceitos, nada resta a modificar por haver apenas recurso da
Defesa. Então, mantida a compensação entre a agravante da reincidência e a atenuante da
confissão espontânea, permanecendo a pena intermediária de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de
reclusão.

No derradeiro patamar do cálculo, não há causas diminuição a considerar, mas apenas a causa de
aumento prevista no § 4º do art. 171 do Código Penal[5], para dobrar a reprimenda resultando em 5
(cinco) anos de reclusão, finalizada à míngua de outros fatores modificativos.

A denúncia (ID 23907484) mencionou, expressamente, que o crime foi cometido contra duas vítimas,
atingindo o distinto patrimônio de cada uma delas, a saber, a pensão que cada uma delas sacou no dia
dos fatos, o que foi devidamente ratificado, em alegações finais (ID 23907608). Por isso, o Parquet
agenciou pela condenação dos corréus como “incursos nas penas do art. 171, caput, e §4º, do Código
Penal, por duas vezes, na forma do art. 70 desse mesmo diploma” (ID 23907608 - Pág. 3).

Entretanto, a r. sentença olvidou de proceder o necessário concurso formal de crime, o que deve ser
mantido nesta Instância Revisora, sob pena de reformatio in pejus.

Conforme o critério bifásico para fixação da pena de multa, nos moldes do art. 49, caput, e § 1º, do
Código Penal, e observando a proporcionalidade com a sanção corporal, corretamente fixada em 50
(cinquenta) dias-multa, a ser valorada, unitariamente, no mínimo legal, diante da capacidade
econômica do réu.

2. 2 – GRAZIELE VIRGÍNIA LOPES DE OLIVEIRA

Na primeira fase, assim foram analisadas as circunstâncias judiciais elencadas no art. 59 do Código
Penal, in verbis:

Na primeira etapa analiso as circunstâncias do artigo 59 do Código Penal da seguinte forma: (i) a
culpabilidade não prejudica o réu, pois o nível de reprovação de sua conduta é próprio do tipo; (ii)
os antecedentes são desfavoráveis consoante id 71077548. Aponto neste particular diversas
anotações e destaco na análise desta circunstância a condenação pela SEGUNDA VARA DE
ENTORPECENTES DO DISTRITO FEDERAL no processo 2006.01.1.058744-4 - Num. 71077548
- Pág. 24 e pela TERCEIRA VARA DE ENTORPECENTES DO DISTRITO FEDERAL no
processo 2004.01.1.075587-2 – id Num. 71077548 - Pág. 25 que são suficientes para justificar a
valoração negativa nesta etapa; (iii) e (iv) a personalidade e a conduta social são desinfluentes, uma
vez que as provas acostadas aos autos nada revelam a respeito; (v) os motivos do crime são aqueles
mesmo que podem ser esperados do dolo delitivo, de modo que esta circunstâncias não repercute
negativamente; (vi) a circunstâncias do crime podem ser valorados negativamente na medida em
que a ação foi praticada mediante concurso de agentes, mais precisamente a corré e outro não
identificado que deu fuga a ambos; (vii) as consequências do crime serão igualmente tidas como
desfavoráveis já que como relatado pela testemunha policial a ação empreendida pela dupla acabou
por despojar as vítimas de toda a quantia monetária que tinham para passar o mês; (viii) o
comportamento da vítima em nada influiu. (ID 23907624 - Pág. 7 - grifo nosso).
Persiste a mesma fundamentação já exarada ao tratar do corréu, ora apelante, tendo em vista que os
vetores judiciais negativados são os mesmos, os quais devem ser integralmente mantidos.
[6]
Apesar de a r. sentença ter pontuado que as condenações definitivas sob o ID 23907579 - Pág. 24/25
foram utilizadas para atestar a presença de antecedente penal, a ré ainda ostenta outros dois registros
penais condenatórios (ID 23907579 - Pág. 32/33) que, tal como ocorreu com o apelante, não foram
mencionados no decisum.

Diante dessa análise e da presença de três vetores judiciais negativos (antecedentes, circunstâncias e
consequências do crime), deve ser integralmente mantida a pena-base para 2 (dois) anos e 6 (seis)
meses de reclusão (ID 23907624 - Pág. 7), em aumento norteado pela fração de 1/8 (um oitavo)
obtida sobre a diferença entre as penas máxima e mínima abstratamente estipuladas para o tipo penal.

Na segunda etapa, não há atenuantes nem agravantes a ponderar, permanecendo a pena intermediária
de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de reclusão.

No derradeiro patamar do cálculo, não há causas diminuição a considerar, mas apenas a causa de
aumento prevista no § 4º do art. 171 do Código Penal, para dobrar a reprimenda resultando em 5
(cinco) anos de reclusão.

Pelas mesmas considerações já tecidas anteriores, não há como aplicar o regramento do concurso
formal de crimes.

De igual sorte, conserva-se a pena de multa em 50 (cinquenta) dias-multa, no valor unitário mínimo
legal.

Nada a alterar no regime prisional inicial fechado (art. 33, § 2º, ‘c’, do Código Penal) para ambos os
réus, diante de suas circunstâncias judiciais desfavoráveis de ambos os réus, com destaque para suas
inúmeras condenações por crimes anteriores, além da multirreincidência do corréu ROBERTO.

Não preenchidos os requisitos autorizadores para possibilitar a substituição da pena privativa de


liberdade restritiva de direitos ou asuspensão condicional da pena (art. 44 e 77 do Código Penal).

Por fim, deve ser mantida a indenização mínima fixada em favor das vítimas, solidariamente
imputada aos corréus. Há pedido expresso na denúncia (ID 23907484 - Pág. 3), foi devidamente
observado o contraditório sobre a matéria e o quantum se limitou ao valor subtraído pela dupla de
estelionatários.

Ante o exposto, conhece-se do apelo para NEGAR-LHE PROVIMENTO, mantendo incólume a r.


sentença recorrida.

É como voto.

[1] Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou
mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena -
reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis. § 4º A pena
aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é cometido contra idoso ou vulnerável, considerada
a relevância do resultado gravoso.

[2] Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro
anos, e multa. § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido: IV -
mediante concurso de duas ou mais pessoas.

[3] Proc. nº 2017.09.1.013079-6; fato cometido em 10/12/2017; condenação por incursão no art. 129,
§ 9º do Código Penal c/c art. 5º, caput c/c art. 7º, caput, da Lei Maria da Penha; trânsito em
03/09/2019.

[4] Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou
mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena -
reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis.

[5] Art. 171. § 4º Aplica-se a pena em dobro se o crime for cometido contra idoso.

[6] Proc. nº 2006.01.1.058744-4; fato cometido em 14/06/2006; condenação por incursão no art. 12,
caput c/c art. 18, caput, Inc. III e IV da Lei Antitóxicos; trânsito em 22/05/2007; Proc. nº
2004.01.1.075587-2; fato cometido em 12/08/2004; condenação por incursão no art. 12, caput c/c art.
18, caput, Inc. IV da Lei Antitóxicos; trânsito em 10/02/2006.

O Senhor Desembargador J. J. COSTA CARVALHO - Revisor


Com o relator
O Senhor Desembargador HUMBERTO ULHÔA - 1º Vogal
Com o relator

DECISÃO

NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO. UNÂNIME

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