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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ...

VARA CRIMINAL DA COMARCA DE .................

(Dez espaços duplos)

ALEGAÇÕES FINAIS
Processo nº ...
Autor: Loja de material de construção
Réu: MÉVIO

MÉVIO, já qualificado nos autos, processado como incurso no art.


171, §2, VI do Código de Processo Penal,vem, por intermédio de seu advogado que
firma a presente (procuração em anexo), mui respeitosamente à presença de V.Exa.,
apresentar suas ALEGAÇÕES FINAIS, sob a forma de memoriais, na forma do art. 403,
§ 3º do CPP, consoante os fatos e fundamentos jurídicos adiante alinhados:

I. DOS FATOS

O réu, em 06 de janeiro de 2011, época que possuia apenas 19 anos, se dirigiu a


loja de material de construção onde realizou uma compra mediante a emissão de dois
cheques pré-datados, que deveria ser descontados nos dois meses posteriores a compra,
no valor total de R$ 300,00 (trezentos reais).

No entanto, dias após ter efetuado a compra, o réu foi surpreendido com o
comunicado de que estaria sendo dispensado do emprego. Nesse contexto, os cheques
emitidos para a empresa retornaram sem fundos, em razão de MÉVIO não ter recebido a
contraprestação salarial conforme era esperado.

Ocorre que apenas em 10 de março de 2023, o ministério público ofereceu a


denúncia do suposto crime de estelionato, cerca de 12 anos fato. Ademais, durante a
instrução, o Parquet, mesmo após ouvido o réu informar que não possuia a intenção
prévia de não realizar o pagamento, tendo em vista que foi surpreendido com a notícia de
sua demissão, ratificou a denúncia seguindo com o pedido infundado de condenação.

II. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

PRELIMINARMENTE
II.I DA PRESCRIÇÃO

O reconhecimento da prescrição é matéria preliminar de mérito, tendo em vista que


motiva a extinção da punibilidade, sendo a prescrição um instituto de direito material que
impossibilita o exame do mérito e consequente pretensão punitiva do Estado.

Isto posto, de acordo com o art. 171, do CP, a pena para o crime de estelionato é de
reclusão de 01 a 05 anos e multa, possuindo, neste termos, prazo prescricional de 12
anos. No entanto, ocorre que à época do ocorrido, o réu tinha apenas 19 anos de idade,
estando o prazo prescricional reduzido na metade conforme entedimento do art. 115 do
CP.

Dessa forma, o suposto crime de estelionato resta prescrito, posto que o prazo
prescricional do mesmo é de apenas 06 (seis) anos, de forma que resta decorrido mais de
12 anos desde a devolução do segundo cheque “sem fundo” até o oferecimento da
denúncia.

II.II – DO MÉRITO

Para configuração do crime de estelionato, faz-se necessário a presença,


cumulativamente, de quatro requisitos, sendo estes: a obtenção de vantagem ilícita, causar
prejuízo a outrem, uso de meio ardil ou artimanha e enganar alguém ou leva-lo a erro.

Ocorre que, no presente caso, em momento algum se evidência a fraude ou o erro


como meio de obtênção da vantagem ilícita. O réu, em momento algum premeditou
situação que levasse a induzir ou pôr em erro a vítima em aceitar os cheques, conforme se
evidencia em seu depoimento ao informar que o pagamento não se realizou em
decorrencia da sua demissão, não em razão ter agido com dolo especifico visando não
realizar o pagamento.

Nesse sentido, segue o posicionamento do jurista Júlio Fabbrini Mirabete a conduta


ilícita tipificada como estelionato tem o seguinte conceito:

"O estelionato é assim definido na lei: ‘obter, para si ou para outrem, vantagem
ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício,
ardil ou qualquer outro meio fraudulento: Pena - reclusão, de um a cinco anos e
multa’ (art. 171, caput ). Existe o crime, portanto quando o agente emprega meio
fraudulento, induzindo alguém em erro ou mantendo-o nessa situação e conseguindo,
assim, uma vantagem indevida para si ou para outrem, com lesão patrimonial alheia.
Sem fraude antecedente, que provoca ou mantém em erro a vítima, levando-a à
entrega da vantagem, não se há de falar em crime de estelionato"

A jurisprudência segue o entendimento alhures citado:

M E N T A – APELAÇÃO CRIMINAL MINISTERIAL –


ESTELIONATO – PEDIDO DE CONDENAÇÃO –
FRAGILIDADE DO CONJUNTO PROBATÓRIO –
CHEQUES PÓS-DATADOS – AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO DO ELEMENTO SUBJETIVO DO
TIPO – PREVALÊNCIA DO PRINCÍPIO IN DUBIO PRO
REO – RECURSO DESPROVIDO. I – O dolo específico do
delito de estelionato consiste na intenção de obter vantagem
indevida, para si ou para outrem, em prejuízo de terceiro,
mediante a prática de conduta fraudulenta. Constatando-se,
na hipótese, a fragilidade do conjunto probatório no sentido
de demonstrar que a apelada tenha agido com dolo
específico de obter lucro indevido, para si ou para outrem,
ao descumprir transação comercial entabulada com as
vítimas, e não havendo comprovação do emprego de meio
fraudulento para induzi-las em erro, de rigor a manutenção
da sentença absolutória. II – Contra o parecer, recurso
desprovido.(TJ-MS - APR: 00000154220108120055
Sonora, Relator: Desª. Dileta Terezinha Souza Thomaz,
Data de Julgamento: 30/06/2023, 3ª Câmara Criminal, Data
de Publicação: 05/07/2023)

III. DOS PEDIDOS

a. Respeitosamente, requer de V. Exa se digne decretar a extinção da


punibilidade do denunciado em razão DA PRESCRIÇÃO, com base no artigo 107, IV
c/c artigo 109, IV, ambos do Código Penal Brasileiro;

b. Caso não seja esse o entendimento desse ilustre Juízo, em nome do


princípio da alternatividade, requer a esse ilustre Julgador que ABSOLVA o
acusado, em razão dos relevantes argumentos acima elencados, com fundamento no art.
386, III do CPP.

c. Por derradeiro, em caso de uma eventual e injusta condenação, haja vista


os fatos e fundamentos jurídicos inquestionáveis acima deduzidos, requer a aplicação das
atenuantes do art. 65, I do CP.

Termos em que
P. Deferimento

12 de outubro de 2023
Advogado (a)
OAB

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