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Processo Penal - aulas práticas

Direito Processual Penal (Universidade de Lisboa)

A Studocu não é patrocinada ou endossada por alguma faculdade ou universidade


Descarregado por Matilde Pereira Jesus (teixeira.mati@gmail.com)
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Processo Penal
- aulas práticas –

Dadas por David Silva Ramalho


Por Mariana Teles

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Ficha de aluno – enviar digitalizado


dsramalho@mlgts.pt

Enviar email ao prof a indicar o email de subturma.

Matérias a ver:

Crimes públicos, semi-públicos e particulares


Aplicação da lei no tempo.
Sujeitos processuais
Assistente: pagando uma taxa de justiça pode intervir ativamente no processo ao lado do MP.

Viagem ao CPP
Ver filme sujeitos do costume
FASES:
 Fase preparatória (inquérito e instrução). Onde se investiga. O MP vai investigar.
Ex., relatório médico; chamar o suspeito; fazer o primeiro interrogatório; propõem-se
medidas de coação; recolhida a prova; Se acusar ou arquivar pode abrir-se uma nova
fase: a fase de instrução. Esta fase é: eu acho que não devia ser acusado, requerimento
de abertura de instrução. Local onde o juiz senta-se, se for necessário produz prova
necessária, o juiz chama o assistente se houver, o arguido e há no fim o debate
instrutório.
Na fase de inquérito e instrução é preparatória. Têm de existir indícios que alguém praticou um
crime. No fim da fase de inquérito o objeto está fixado. Chegámos ao fim e há uma acusação ou
arquivamento. Se formos para julgamento o objeto está ainda mais delimitado.
 Julgamento: Saneamento, audiência, sentença.
Saneamento: o juiz recebe o processo e poderá dizer “isto não é crime em lado nenhum, vai
para o lixo”. Pode rejeitar a instrução.
Como começa o inquérito? Notícia do crime: apareceu no jornal que alguém cometeu um crime;
eu vi alguém a dar um tiro noutra pessoa, por ex. Ex., Super Nani: processo iniciado porque se
viu na televisão. A notícia do crime pode ocorrer de qualquer maneira. Ex., imaginem que o MP
via o PM a comprar num supermercado e suspeitava que não tinha dinheiro para comprar algo.
Arts. 262.º-265.º CPP: inquérito. O inquérito serve para quê?
Arts. 268.º-269.º CPP. Ex., arguido foi detido, primeiro interrogatório cabe ao juiz de instrução.
É ao juiz de instrução que deve decidir.
Arts. 276.º e ss: o que deve fazer quando termina o inquérito.
Despacho de arquivamento
Segue-se a possibilidade de intervenção hierárquica.

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O arguido não apresenta requerimentos de intervenção hierárquica. Eu não posso ir para a


instrução dizer que o MP teve mal quando arquivou.
Intervenção hierárquica: vou para o procurador que está acima de um outro. O procurador que
está acima recebe esta intervenção e diz quais as diligências que deviam ter sido feitas e não
foram.
Imagine-se que há um inquérito e encerra-se o inquérito. Mais tarde passou o prazo de
intervenção hierárquica e vem-se apresentar novos indícios, pode ocorrer reabertura de inquérito
(excecional). Só se forem recolhidos indícios novos de que o crime foi praticado.
Art. 280.º: arquivamento em caso de despensa de pena. Imaginem que demonstra-se num
contexto de discussão A imputa à mãe do B uma profissão de que ela não tem e o B em reação
administra-lhe um soco. Nos termos do CP praticou um crime mas fê-lo por retroação: ele foi
provocado, agiu ilicitamente, mas a lei permite que seja dispensado de pena. O MP pode
arquivar com dispensa de pena. Ou em casos em que duas pessoas agridem-se mutuamente
numa discoteca, também pode existir arquivamento.
Medidas de diversão: medida em que se diverge o processo. Medidas para acabar o processo
de forma amigável e não entupir os tribunais com causas que não se justificam. Há uma
injunção que o arguido aceita e o arguido nunca é condenado.
Em vez do arquivamento, Art. 283.º: acusação. A acusação tem um conjunto de requisitos
exigentes sob pena de nulidade (vício específico da acusação). Imaginem que o MP faz uma
acusação contra desconhecidos. Não pode! Imagine-se que não diz o que ele fez (tem de afirmar
os factos). Isto tudo são nulidades.
O MP deve indicar quais as disposições legais aplicáveis.
Possibilidade de acusação pelo assistente (art. 284.º).
Os crimes particulares não é o MP que vai acusar. O MP diz ao assistente e diz que a prova que
recolhi apresenta os indícios suficientes de que ele foi vitima de um crime e depois ele que faça
o que quiser. A acusação particular tem de cumprir tudo o que a acusação pública também tem.
O MP pode deduzir uma acusação subordinada à acusação do assistente: acusação autónoma.
Instrução: vamos ou não para julgamento? É isto que vamos ver. Quem pode fazer a instrução?
O arguido pode fazê-lo relativamente a factos que tiverem deduzido acusação; ou o assistente.
E questões de direito?
Quem a pode requerer: art. 287.º
A fase de instrução art. 289.º: conjunto de atos instrutórios
O encerramento da instrução (art. 306.º) implica que existam algumas soluções possíveis.
Houve pronuncia e acusação não há recurso vamos para julgamento. Chegamos a julgamento e
temos a fase de saneamento.
Saneamento: art. 311.º
Se não apresentar contestação? Não há qualquer efeito condenatório se não apresentar.
E pedido de apreciação civil? Apesar de se aplicar as regras de direito civil, esta é uma das que
não se aplica.
Audiência de julgamento: 321.º

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Produção de prova: art. 340.º se se esqueceu de alguma prova, pode entrar no processo.
Não há uma preclusão por decurso do prazo. Se for informação necessária à descoberta da
verdade.
Ordem da produção de prova: o arguido é livre de prestar prova quando quiser.
Apreciação dos meios de prova:
O arguido é o último e tem direito a ser o último.
Inquisição de testemunhas: 348.º
Sentença: separação entre a questão da culpa e responsabilidade penal e determinação da
sanção. O tribunal conhece das questões formais, ve se os factos estão provados ou não,
qualifica os factos depois e depois decide a medida da sanção que vai aplicar. Art. 379.º sempre
que existir uma nulidade da sentença vamos a este artigo.
O tribunal não conhece uma questão. Ex., esquece-se do pedido de indemnização civil.
Nulidade. Ou o tribunal conheceu de coisas que não devia ter conhecido, nulidade.
Processos especiais:
Recurso:
Próxima aula: estrutura do processo penal + princípios.
Acórdão TC 7/87 principal que vamos analisar.
20/novembro de 2007
TC 265/95.
Os acórdãos estão nos elementos de estudo.
CRP + CPP + elementos de estudo: dois casos práticos sobre o tema.
Maria João Antunes; Teresa Beleza; Frederico Costa Pinto; Figueiredo Dias e Paulo Sousa
Mendes, Germano Marques da Silva, vol. I. Votos vencidos.
Caso Prático 1
A atribuição da titularidade da ação penal ao MP é constitucional? Considere na sua
resposta o teor do Ac. TC n.º 7/1987.
Ac. N.º 7/1987
Fiscalização de normas.
Art. 263.º + art. 281.º CPP
Art. 263.º CPP:
Art. 281.º CPP
O CPP prevê que todo o inquérito é conduzido pelo MP. Pergunta-se se é conforme a CRP?
Antes era toda a competência do juiz. Com o DL 35/2007 existe uma fase prepatório conduzida
pelo MP e contraditória da responsabilidade do juiz. Apesar do regime de 29 dizer-se que a
competência era do juiz, materialmente era do MP. Na CRP o legislador toma uma decisão
expressa. Em 87 diz-se que o inquérito é dirigido pelo MP.

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Atribui para os atos mais restritos de direitos, liberdades e garantias ao juiz de instrução.
Se o arguido não concordar a decisão de arquivamento pode sempre requerer a abertura de
instrução. Vital Moreira diz que o legislador está a voltar à pré CRP, ao regime anterior, assinala
e diz que estamos a falar de burlas de etiquetas. Em 88 a proposta de alteração do art. 32.º/4
CRP não procederam.
FD refere que o que é preciso é se contraria o sistema de garantias que a CRP concede. O MP
não pode ficar na dependência funcional do juiz.
Suspensão provisória do processo: esta criação do princípio da oportunidade que diz que o MP
pode fazer determinado inquérito até quando possam existir indícios, mas com finalidade de
desentupimento dos tribunais. A figura é admissível? Mas também da competência e para impor
regras de conduta. Um arguido que não quer ir para julgamento, aceita todas as injunções. É
lícito ao MP impor estas injunções?
Nota-se que o que se requer evitar com a suspensão é a funcionalidade do sistema penal que em
si é um bem relevante. Se tudo vai a julgamento, nada vai ser julgado. Quando maior o numero
de factos criminosos nunca logica de consenso, maior a possibilidade do tribunal para outros
processos.
A ideia de levar alguém a julgamento para alguém aprender tem de ser alternada. As audiências
são para julgar e não para advertência.
Acordão 20/11/2007:
Em concreto não se justifica que se aplica uma pena inferior a 5 anos; logo eu fixo uma pena e
depois vamos para o tribunal singular. Ou seja, o A estava bateu em 5 pessoas, praticou 5
crimes, o MP viu e não vale a pena sujeitá-lo a um julgamento. Fixa o limite máximo em 5 anos
e remete para o tribunal singular em vez de ir para o tribunal coletivo.
O MP recorre ao tribunal da RL.
O art. 16.º/3: o MP diz que à partida qual o tempo máximo a aplicar pelo juiz. Art. 14.º CPP
refere-se que são da competência do tribunal coletivo os crimes com pena de 5 anos. Limite
máximo não deve exceder os 5 anos, retira a competência aos tribunais coletivos e atribui ao
singular.

Próxima Aula
Tema 2 natureza dos crimes – 1 e 2

NATUREZA DOS CRIMES


Caso Prático 1
Qualifique a natureza jurídica dos seguintes crimes previstos no CP e identifique quais os
trâmites necessários para a promoção do respetivo processo penal (quem tem legitimidade
para promover o processo penal, os titulares do direito de queixa ou denúncia, prazos para
a constituição como assistente, etc).
Introdução:
Art. 48.º - princípio da oficiosidade

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Existem certos casos em que o MP pode instaurar sem queixa por crimes semi públicos 113.º, al.
g) CP;
Princípio da indivisibilidade da queixa.
No âmbito do direito penal português, a regra é a de que os crimes possuem natureza pública e
não particular ou semi-pública. Sempre que o CP, ou qualquer outro normativo que preveja a
existência de um tipo legal de crime, nada disser quanto ao facto de o procedimento criminal
depender de queixa ou de acusação particular, sabemos que o crime é público. Tal facto equivale
a dizer que logo que a notícia do crime chegue ao conhecimento do MP, seja por conhecimento
próprio, seja através dos órgãos de polícia criminal, seja através de denúncia, o processo é
colocado em marcha com o levantamento do competente auto de notícia, sem necessidade de
que se cumpram outros requisitos procedimentais.
Segundo FD, é público o crime em que o dominus do processo “promove oficiosamente e por
sua própria iniciativa o processo penal e decide com plena autonomia – embora estritamente
ligado por um princípio da legalidade – a submissão de uma infração a julgamento.
Não obstante a regra acima enunciada, é verdade que o legislador criou o instituto do crime
particular em sentido lato (incluindo os crimes particulares em sentido estrito e os crimes semi-
públicos ou semi-particulares).
A existência de crimes semi-públicos e de particulares constitui uma limitação legal ao princípio
da promoção processual oficiosa.
Um dos fundamentos do instituto dos crimes particulares em sentido lato reside no facto de
estarem em causa infrações que, embora digam respeito a bens jurídicos fundamentais para a
comunidade, não os ofendem de modo tão direto e imediato “que aquela sinta, em todas as
circunstâncias da lesão, necessidade de reagir automaticamente contra o infrator”.
Partindo dos crimes públicos e terminando nos particulares em sentido estrito, vamos
caminhando para uma degradação da gravidade das infrações penais.
Devemos recorrer aos crimes particulares em sentido estrito – aqueles cuja prossecução depende
de queixa e de acusação particular – sempre que estejam em causa crimes que representem
bagatelas penais e pequena criminalidade: os interesses violados devem ficar na disponibilidade
do titular do bem jurídico respetivo.
Também se justifica que assim seja para que se evite que o processo penal represente uma
intromissão indesejada na esfera das relações pessoais entre o ofendido e os demais
participantes processuais.
Sempre que nos encontremos perante um crime de natureza pública, deparamo-nos com uma
ofensa a um bem jurídico fundamental da comunidade perpetrada de uma forma tão direta e
imediata que se revela insuscetível fazer cessar o procedimento criminal por vontade dos
principais sujeitos processuais. A ação penal prossegue obrigatoriamente sob a batuta do MP, até
ao momento em que o juiz, ou absolve, ou condena o arguido pelos factos de que vem acusado.
Decorre do art. 48.º CPP que a legitimidade para promover o processo penal cabe ao MP, com
as restrições dos arts. 49.º-52.º. O MP, titular da ação penal, promove-a, oficiosamente (nos
crimes públicos) mediante queixa (nos crimes semipúblicos) e constituição de assistente e
dedução de acusação particular (nos crimes particulares).
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Nos processos em que estão em causa crimes de natureza pública ou semi pública (com a
respetiva apresentação de queixa), depois de realizadas as necessárias diligências de prova, o
MP:
 Deduz despacho de arquivamento se se verificarem os pressupostos do art. 277.º CCP;
 Ou deduz acusação se se verificarem os pressupostos do art. 283.º CPP.
Se o MP proferir despacho de arquivamento, o assistente pode requer a abertura da instrução –
art. 287.º/1, al. b) CPP.
Se o MP deduzir acusação, o assistente pode igualmente deduzir acusação, no prazo e nos
termos do art. 284.º CPP.
Nos processos em que estão em causa crimes de natureza particular, ou seja, quando o
procedimento depender de acusação particular, o MP notifica o assistente para que este deduza
em 10 dias, querendo, acusação particular – art. 285.º/1 CPP. Nesta notificação, o MP indica
ainda, se foram recolhidos indícios suficientes da verificação do crime e de quem foram os seus
agentes – n.º 2.
Paulo Pinto de Albuquerque descreve o modo de tramitação: “no final do inquérito, o MP toma
posição relativamente aos crimes públicos e semi-públicos indiciados nos autos. Em relação aos
crimes particulares, o MP deve notificar o assistente para, querendo, deduzir acusação
particular. Portanto, havendo concurso de crimes públicos ou semi-públicos e particulares, o MP
deve deduzir acusação ou arquivar os autos em relação aos crimes públicos ou semi-públicos e,
em simultâneo, notificar o assistente para os efeitos do art. 285.º. O arguido é notificado
conjuntamente do despacho do MP e da acusação do assistente.
Participação – crime semi publico sem queixa.
A) 131.º
“Quem matar outra pessoa é punido com pena de prisão de 8-16 anos”.
O homicídio é um crime público. Os crimes públicos não têm a respetiva tramitação
condicionada de modo algum.
De acordo com o art. 48.º o MP tem legitimidade para promover o processo penal. O MP, titular
da ação penal, promove oficiosamente o processo penal nos crimes públicos.
B) 143.º
“Quem ofender o corpo ou a saúde de outra pessoa é punido com pena de prisão até 3 anos ou
com pena de multa”.
Estamos perante um bem jurídico tipo por fundamental, tanto mais que o mesmo goza de
proteção constitucional (art. 25.º).
De acordo com o n.º 2 do presente artigo “o procedimento criminal depende de queixa, salvo
quando a ofensa seja cometida contra agentes das forças e serviços de segurança, no exercício
das suas funções ou por caus delas. Ou seja, estamos perante um crime semi público dependente
de queixa, mas o crime passou a ter natureza pública quando as ofensas forem cometidas contra
agentes e serviços de segurança, no exercício das suas funções ou por causa delas.
Apenas o titular do direito ofendido deverá poderá dar início ao procedimento criminal, através
do exercício do direito de queixa. FD afirma que “se o ofendido entende não fazer valer a
exigência de retribuição, a comunidade considera que o assunto não merece ser apreciado em
processo penal”.

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De acordo com o art. 49.º/1 quando o procedimento criminal depender de queixa, do ofendido
ou de outras pessoas, é necessário que essas pessoas deem conhecimento do facto ao MP, para
que este promova o processo”. De acordo com o n.º 2 “considera-se feita ao MP a queixa
dirigida a qualquer outra entidade que tenha a obrigação legal de a transmitir àquele”. De
acordo com o n.º 3 a queixa pode ser apresentada pelo titular do direito respetivo, por
mandatário judicial ou por mandatário munido de poderes especiais.
C) 180.º
“Quem, dirigindo-se a terceiro, imputar a outra pessoa, mesmo sob a forma de suspeita, um
facto ou formular sobre ela um juízo, ofensivos da sua honra ou consideração, ou reproduzir
uma tal imputação ou juízo, é punido com pena de prisão até 6 meses ou com pena de multa até
240 dias”.
De acordo com o art. 188.º/1 o procedimento criminal pelos crimes previstos no presente
capítulo depende de acusação particular (…). Logo estamos perante um crime particular.
Assim sendo é necessária a constituição de assistente e acusação particular.
Há assim necessidade de o queixoso se constituir assistente para que o MP esteja legitimado
para o exercício da ação penal – art. 50.º/1 CPC. De acordo com este “quando o procedimento
criminal depender de acusação particular, do ofendido ou de outras pessoas, é necessário que
essas pessoas se queixem, se constituam assistentes e deduzam acusação particular”.
Ac. TRC, de 08-02-2017
Para se constituir assistente tem de pagar uma taxa de justiça pela constituição de assistente e
outra taxa de justiça pela acusação particular. 204 euros.
D) 144.º
“Quem ofender o corpo ou a saúde de outra pessoa de forma a:
a) Privá-lo de importante órgão ou membro, ou a desfigurá-lo grave e permanentemente;
b) Tirar-lhe ou afetar-lhe, de maneira grave, a capacidade de trabalho, as capacidades
intelectuais, de procriação ou de fruição sexual, ou a possibilidade de utilizar o corpo,
os sentidos ou a linguagem;
c) Provocar-lhe doença particularmente dolorosa ou permanente, ou anomalia psíquica
grave ou incurável; ou
d) Provocar-lhe perigo para a vida;
É punido com pena de prisão de 2-10 anos.
O crime de ofensa à integridade física grave é um crime público – aplicação do art. 48.º CPP.
E) 140.º/2
“Quem, por qualquer meio e com consentimento da mulher grávida, a fizer abortar é punido
com pena de prisão até 3 anos”.
O aborto é um crime público mesmo que haja o consentimento da mulher grávida.
Logo aplica-se o art. 48.º CPP.
F) 184.º
“As penas previstas nos arts. 180.º, 181.º e 183.º são elevadas de metade nos seus limites
mínimo e máximo se a vítima for uma das pessoas referidas na al. l) do n.º 2 do art. 132.º, no

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exercício das suas funções ou por causa delas, ou se o agente for funcionário e praticar o facto
com grave abuso de autoridade”.
De acordo com o art. 188.º/1, al. a) o procedimento criminal pelos crimes previstos no presente
capítulo depende de acusação particular, ressalvados os casos do art. 184.º.
Assim estes crimes presentes no art. 184.º revestem a natureza de crime semi-público.
Revestindo tal crime natureza semi-pública o assistente não goza de legitimidade para acusar se
o MP não o tiver feito (art. 284.º/1 a contrario sensu CPP). Apenas os crimes de natureza
particular podem ser acusados diretamente pelos assistente (art. 285.º/1 CPP). Após uma
eventual acusação do MP é que o assistente poderia ter aderido a tal acusação, e não foi isso que
se passou pois acusou antes do MP. Apenas os crimes de natureza particular podem ser acusados
diretamente pelo assistente (art. 285.º/1 CPP).
Ac. TRC, de 26-10-2011
G) 192.º
“Quem, sem consentimento e com intenção de devassar a vida privada das pessoas,
designadamente a intimidade da vida familiar ou sexual:
a) Interceptar, gravar, registar, utilizar, transmitir ou divulgar conversa, comunicação
telefónica, mensagens de correio eletrónico ou facturação detalhada;
b) Captar, fotografar, filmar, registar ou divulgar imagem das pessoas ou de objetos ou
espaços íntimos;
c) Observar ou escutar às ocultas pessoas que se encontrem em lugar privado; ou
d) Divulgar factos relativos à vida privada ou a doença grave de outra pessoa;
De acordo com o art. 198.º CP: salvo no caso do art. 193.º, o procedimento criminal pelos
crimes previstos no presente capítulo depende de queixa ou de participação. Desta forma,
estamos perante um crime semi público.

Ex., agredido em simultâneo contra duas pessoas. Posso apresentar queixa contra uma. Art.
114.º
Art. 116.º/3 – princípio da indivisibilidade da queixa.
O entendimento geral é que ao abrigo do art. 116.º/1 a apresentação de uma proposição de
apresentação civil em caso de crimes semi públicos é um ato de onde a denuncia se deduz, há
uma renuncia tácita.
Princípio da subsidiariedade do direito penal. A pessoa entendeu que podia ser ressarcida por
aquele meio não sendo necessário recorrer ao direito penal. O inicio de uma ação civil em
separado gera o dever de contestação; isto seria uma via algo artificial para dar a volta ao
processo penal.
O processo penal tem mecanismos – o princípio da adesão pode ser deduzido no próprio
processo.
H) 193.º
“Quem criar, mantiver ou utilizar ficheiro automatizado de dados individualmente identificáveis
e referentes a convicções políticas, religiosas ou filosóficas, à filiação partidária ou sindical, à
vida privada, ou a origem étnica, é punido com pena de prisão até dois anos ou com pena de
multa até 240 dias”.

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O art. 198.º exceciona este artigo e assim se compreende que não estamos perante um crime
semi-público, dependente de queixa.
Trata-se de um crime público.
I) 199.º
“Quem, sem consentimento:
a) Gravar palavras proferidas por outra pessoa e não destinadas ao público, mesmo que lhe
sejam dirigidas; ou
b) Utilizar ou permitir que se utilizem as gravações referidas na alínea anterior, mesmo
que licitamente produzidas;
É punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 240 dias.
De acordo com o art. 199.º/3 é correspondentemente aplicável o disposto nos arts. 197.º e 198.º.
De acordo com o art. 198.º salvo no caso do art. 193.º, o procedimento criminal pelos crimes
previstos no presente capítulo depende de queixa ou de participação, pelo que estamos perante
um crime semi público, com a aplicação do art. 50.º CPP.
J) 153.º
“Quem ameaçar outra pessoa com a prática de crime contra a vida, a integridade física, a
liberdade pessoal, a liberdade e autodeterminação sexual ou bens patrimoniais de considerável
valor, de forma adequada a provocar-lhe medo ou inquietação ou a prejudicar a sua liberdade de
determinação, é punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 120 dias”.
De acordo com o n.º 2 o procedimento criminal depende de queixa, pelo que estamos perante
um crime semi público com a aplicação do art. 50.º CPP.
K) 155.º/1, al. a).
“Quando os factos previstos nos arts. 153.º-154.º forem realizados:
a) Por meio de ameaça com a prática de crime punível com pena de prisão superior a 3
anos”;
O agente é punido com pena de prisão até 2 anos ou com pena de multa até 240 dias, nos casos
dos arts. 153.º-154.º-C, com pena de prisão de 1 a 5 anos, nos casos dos n.º 1 do art. 154.º e do
art. 154.º-A, e com pena de prisão de 1 a 8 anos, no caso do art. 154.º-B.
O crime de ameaça agravada tem natureza pública.
Acórdão TRC, de 10-07-2013:
Ao contrário do que sucedia antes da reforma penal de 2007, o crime de ameaças agravado é de
natureza pública, assim se reforçando a proteção jurídica coferida pela lei aos bens jurídicos
lesados por uma conduta dotada de um especial acréscimo de ilicitude.
Nada se fazendo constar a esse título do art. 155.º, que abrange o tipo agravado de ameaças e de
coação, impõe-se concluir que em causa nesta norma estão crimes públicos.
L) 164.º e 177.º.
Art. 164.º/1: “quem, por meio de violência, ameaça grave, ou depois de, para esse fim, a ter
tornado inconsciente ou posto na impossibilidade de resistir, constranger outra pessoa:
a) A sofrer ou a praticar, consigo ou com outrem, cópula, coito anal ou coito oral; ou

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b) A sofrer introdução vaginal ou anal de partes do corpo ou objetos;


É punido com pena de prisão de 3 a 10 anos.
De acordo com o art. 178.º/1 o procedimento criminal pelos crimes previstos nos arts. 163.º a
165.º, 167.º, 168.º e 180.º depende de queixa, salvo se forem praticados contra menor ou deles
resultar suicídio ou morte da vítima.
Assim, estamos perante um crime semi público.
No caso do art. 177.º/1 as penas previstas nos arts. 163.º a 165.º e 167.º a 176.º são agravadas de
um terço, nos seus limites mínimo e máximo, se a vítima (…).
Nestes casos de agravação estamos já perante um crime público, nada sendo dito em contrário.
Imagine-se que não quer apresentar queixa – o MP quer avançar com o processo. Pode? Art.
178.º/2 in fine. Crime semi público, mas tem elementos de publicidade.
M) 164.º e 178.º/1 in fine
Art. 164.º + art. 178.º/1 in fine: o crime será semi público, salvo se for praticado contra menor
ou deles resultar suicídio ou morte da vítima. Neste caso será o crime público.
N) 328.º
“Quem injuriar ou difamar o Presidente da República, ou quem constitucionalmente o substituir,
é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa”.
Trata-se de um crime público, que admite desistência.
O) 203.º e 207.º
Art. 203.º/1 quem, com ilegítima intenção de apropriação para si ou para outra pessoa, subtrair
coisa móvel alheia, é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa. De acordo
com o n.º 3 o procedimento criminal depende de queixa, pelo que estamos perante um crime
semi público.
Art. 207.º/1 no caso do art. 203.º e do n.º 1 do art. 205.º, o procedimento criminal depende
acusação particular se:
a) O agente for cônjuge, ascendente, adotante, adotado, parente ou afim até ao 2ª grau da
vítima, ou com ela viver em condições análogas às dos cônjuges; ou
b) A coisa furtada ou ilegitimamente apropriada for de valor diminuto e destinada a
utilização imediata e indispensável à satisfação de uma necessidade do agente ou de
outra pessoa mencionada na al. a).
De acordo com o n.º 2 no caso do art. 203.º, o procedimento criminal depende de acusação
particular quando a conduta ocorrer em estabelecimento comercial, durante o período de
abertura ao público, relativamente à subtração de coisas móveis expostas de valor diminuto e
desde que tenha havido recuperação imediata destas, salvo quando cometida por duas ou mais
pessoas.
Assim, em determinados casos existe a necessidade de acusação particular, sendo assim crimes
particulares e não semi-público.
P) 219.º/1, al. b)
Art. 219.º/1, al. b): quem receber ou fizer com que outra pessoa receba valor total ou
parcialmente seguro: b) causando, a si próprio ou a outra pessoa, lesão da integridade física ou

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agravando as consequências de lesão da integridade física provocada por acidente cujo risco
esteja coberto;
É punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa.
De acordo com o n.º 3 o procedimento criminal depende de queixa, logo estamos perante um
crime semi público.
Art. 202.º, al. a): 1 unidade – 102 euros. 50 unidades: 2349
Q) 219.º/4, al. a)
Art. 219.º/4, al. a): se o prejuízo patrimonial provocado for: a) de valor elevado, o agente é
punido com pena de prisão até 5 anos ou com pena de multa até 600 dias.
O crime tem natureza pública.
R) 225.º/1
“Quem, abusando da possibilidade, conferida pela posse de cartão de garantia ou de crédito, de
levar o emitente a fazer um pagamento, causar prejuízo a este ou a terceiro é punido com pena
de prisão até 3 anos ou com pena de multa”.
De acordo com o n.º 3 o procedimento criminal depende de queixa, logo estamos perante um
crime semi-público.
S) 225.º/4
“É correspondentemente aplicável o disposto nos 206.º e 207.º.
Acusação particular em determinadas circunstâncias – art. 207.º.
T) 225.º/5
Crime de natureza pública.

Aula prática:
Art. 311.º se o juiz recebe um processo manifestamente infundada ele faz o julgamento.
A está a passar ao pé de B e dá lhe com um saco na cabeça e diz és uma estúpida. A B apresenta
uma queixa, deduz uma acusação particular por crime de injúria. O MP arquiva acusa quanto às
ofensas e não acompanha a acusação quanto às injúrias, chegamos a instrução e o tribunal
decide ao contrário, pronunciando-se agora sobre as injúrias. Isto é recorrível?
Despacho de instrução: art. 310.º a regra é que o assistente pode recorrer sempre se houver um
arquivamento o assistente pode requerer a abertura da instrução. Isto não acontece com o
arguido. Este se for acusado e a seguir for pronunciado não pode recorrer. Porque?
O arguido não pode recorrer aqui porque? O fundamento de política criminal para impedir isto:
quanto tempo demora um recurso de relação: alguns meses. Os arguidos gostam das prescrições.
O fundamento é este: evitar a utilização de expedientes dilatórios. Logo, o legislador entende
que o assistente deve poder testar até ao limite a sua tese; ao passo que o arguido deve ir para
julgamento, não tendo esse direito.
Inconstitucional: art. 32.º direito ao recurso do arguido.
Proibição da detenção em flagrante delito nos crimes particulares – 255.º/4.

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Especialidade nos crimes semi-públicos – 255.º/3.


Processos sumários - não há nos crimes particulares.
A forma de processo abreviada e sumaríssima são compatíveis com todas as naturezas de crime.
Prazos de constituição de assistente: crimes públicos e semi públicos 68.º/3; crimes particulares
68.º/2.
As diferentes natureza dos crimes implicam diferentes possibilidades de atuação, diferentes
formas de processo.

Caso prático 2
Considerando, como ponto de partida, o furto de coisa (móvel e alheia) qualifique a
natureza jurídica dos seguintes crimes:
Arts. 203.º e ss CP.
Art. 202.º/1, al. a).
1 unidade de conta: 102 euros.
a) No valor de 100 euros;
Art. 203.º/1 – n.º 3 o procedimento criminal depende de queixa – semi público.
b) No valor de 5000 euros;
Art. 204.º/1, al. a) –Crime semi publico.
A vai ao supermercado e vê à venda um CC e furta o CC e é encontrado com o CC e devolve-o.
Art. 207.º/2. Neste caso é particular.
5100 euros. Não excede.
c) Na estação de metro da cidade universitária, no valor de 20000 euros;
Art. 204.º/2, al. a) – natureza pública do crime de furto qualificado.
Excede os 5100 euros.
d) Na estação de metro da cidade universitária, no valor de 70 euros;
Art. 203.º/1 – n.º 3 o procedimento criminal depende de queixa – semi-público.
Art. 204.º/1, al. b) – 202.º/2, al. c). não excede uma unidade de conta. Art. 203.º/3.
e) Perpetrado pelo irmão da vítima no valor de 1000 euros;
Art. 207.º - acusação particular (n.º 1, al. a)).
Não é considerado valor elevado.
f) Perpetrado pelo irmão da vítima, no valor de 6000 euros.
Art. 207.º/1, al. a).
Valor elevado. Art. 202.º/a, al. a) já não é possível aplicar o art. 207.º/1, al. a) porque pressupõe
que haja um crime de furto simples. Art. 204.º, al. a) e portanto é crime público.

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O crime será particular – art. 207.º no caso dos arts. 203.º e abuso de confiança. Se tivermos
num furto qualificado, não se aplica o art. 207.º.
Satisfação de uma necessidade do agente: art. 207.º/2.
Crime de violação – art. 164.º

Caso prático 3
A matou o pai quando este, tal como era seu hábito desde há anos, espancava
violentamente e ameaçava de morte a sua mãe. A mãe de A dirige-se em desespero ao MP,
implorando-lhe que não abra inquérito contra o seu filho, uma vez que este agiu “apenas
em defesa da própria mãe e é bom rapaz e bom estudante”, ameaçando suicidar-se se lhe
tirarem o filho. O que deve o MP fazer?
No presente caso prático estamos perante um caso de homicídio qualificado tipificado no art.
132.º CP, dado que se trata de um homicídio praticado pelo filho ao respetivo pai: “se a morte
for produzida em circunstâncias que revelem especial censurabilidade ou perversidade, o agente
é punido com pena de prisão de 12-25 anos”; de acordo com o n.º 2 “é suscetível de revelar a
especial censurabilidade ou perversidade a que se refere o número anterior, entre outras, a
circunstância de o agente: a) ser descendente ou ascendente, adotado ou adotante, da vítima”.
O homicídio qualificado é um crime público, aplicando-se o art. 48.º: o MP tem legitimidade
para promover o processo penal (princípio da oficiosidade).
O inquérito vem previsto nos arts. 262.º e ss CP.
Não cabe ao MP fazer considerações de oportunidade sobre abrir ou não inquérito. O princípio
da oportunidade é definido à custa do seu contrário – o p. da legalidade. A oportunidade só pode
surgir com caráter excecional, enquanto expressão de limitações àquele princípio. A
oportunidade consiste na atribuição de uma certa discricionariedade ao MP para a promoção da
ação penal, que aqui não existe.
O p. da legalidade constitui o ponto de partida da modelação do sistema, segundo ANABELA
RODRIGUES, por se encarar a opção entre o p. da legalidade e o da oportunidade como
“tópicos privilegiados para caraterizar o modelo processual em vigor”. De acrescentar que o
CPP “tempera o princípio da legalidade, em certas hipóteses concretas, por meio de um
cauteloso reconhecimento do princípio da oportunidade”.
Segundo o p. da legalidade, o MP está obrigado a promover o processo penal, abrindo inquérito
e, se tiver recolhido indícios suficientes de se ter verificado crime e de que foi o seu agente, o
MP é obrigado a deduzir acusação. Só nestes moldes se assegurará a igualdade na aplicação do
direito, evitando-se tentações ao arbítrio e à parcialidade, geradoras de desconfiança por parte
da comunidade na objetividade da administração da justiça. Neste quadro, a atividade do MP
desenvolve-se sob o signo da estrita vinculação à lei, e não segundo considerações de
oportunidade.
Denegação da justiça – responsabilidade criminal.

Acórdão do TC n.º 403/2007, Processo nº 535/04

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Resumo:
Relatório:
Situação de duas menores, A e B, de 14 e 15 anos de idade, cada uma já mãe de um filho, sendo
pai de ambos C., que poderia andar a aliciar outras menores para a prática de relações sexuais.
Crime de abuso sexual de crianças (art. 172.º/2 CP) em relação à menor A; e crime de atos
sexuais com adolescentes (art. 174.º), em relação à menor B, ilícitos que possuem natureza
semi-pública.
O representante do MP entendeu que apesar de não ter sido apresentada queixa, o interesse das
vítimas, ambas menores de 16 anos, justificava a instauração de procedimento criminal contra o
denunciado (art. 178.º/4), até porquanto da prática dos factos participados resultou a gravidez
das menores.
O interesse da vítima é o da garantia das melhores condições para o seu desenvolvimento
integral, que é uma obrigação constitucional (art. 69.º CRP), sendo a sua defesa colocada nas
mãos do MP – função (art. 3.º/1, al. a) Estatuto do MP, representar os interesses dos menores.
Aos magistrados do MP cabe a responsabilidade de, mesmo se o procedimento criminal
depender de queixa garantir que o sistema funcione no sentido de a justiça penal ter intervenção
quando, atendendo aos interesses do menor com menos de 16 anos, a deva ter.
A prática de atos sexuais com menor, em menor ou por menor de certa idade prejudica o
desenvolvimento global do próprio menor.
O arguido apresentou contestação, suscitando a questão da ilegitimidade do MP por, tratando-se
de crimes semi-públicos, os representantes legais das menores não terem apresentado queixa e
já ter expirado o prazo de 6 meses, a contar da data em que tiveram conhecimento dos factos e
do seu autor, de que dispunham para o efeito (art. 113.º e 178.º/1 CP e 49.º/1 CPP) e por não
constar dos autos qualquer despacho dos representantes do MP com a legalmente exigível
fundamentação expressa das razões por que entendiam que, no caso, o interesse das vítimas
impunha o exercício da ação penal, ao abrigo do art. 178.º/4 CP.
Considera-se que a intervenção do direito penal pode ser mais prejudicial que benéfica, na
perspetiva da vítima, sendo preferível o esquecimento do que a publicidade e o escândalo.
Exceciona-se (art. 178.º/1) quando de qualquer desses crimes resultar suicídio ou morte da
vítima e quando o crime for praticado contra menor de 14 anos e o agente tenha legitimidade
para requerer procedimento criminal, por exercer sobre a vítima poder paternal, tutela ou
curatela ou a tiver a seu cargo.
E quando os crimes forem praticados contra menor de 16 anos de idade, pode o MP dar início ao
procedimento se o interesse da vítima o impuser (n.º 4 do art. 178.º).
Em momento algum do processo, os representantes legais das menores ofendidas apresentaram
queixa contra o arguido ou manifestaram vontade em fazê-lo.
Pelo que não tinham legitimidade para desistirem da queixa contra o arguido.
Art. 166.º/2 só o queixoso, quem tenha legitimamente exercido o direito de queixa, pode desistir
da queixa.
Tendo o presente processo sido iniciado, oficiosamente pelo MP, o respetivo procedimento
criminal deixou de estar na disponibilidade das ofendidas ou dos seus representantes legais. As
desistências de queixa apresentadas teriam de ser consideradas irrelevantes.

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Situação clara de predominância do interesse do procedimento criminal sobre o do segredo,


dado que a divulgação dos factos foi tão extensa, que já não há intimidade alguma para
preservar ou danos acrescidos a evitar.
Resposta do arguido:
Os crimes têm a ver com a esfera de intimidade da vítima e privilegia-se o interesse desta, a ela
cabendo decidir se ao mal do crime lhe convém juntar o que pode ser o mal do desvelamento da
sua intimidade e da consequente estigmatização processual.
Se o legislador pretendesse conferir natureza pública àqueles crimes na hipótese prevista no n.º
4 do art. 178.º CPP, tê-la-ia colocado como terceira alínea do n.º 1 da mesma norma, juntamente
com as duas situações em que tais indícios assumem tal natureza.
Tendo em conta a imprescindível conjugação com o n.º 1, a redação do n.º 4 do art. 178.º
significa que, tratando-se de menor de 16 anos e o interesse da vítima o impuser, o MP não tem
de esperar que quem de direito apresente queixa para dar início ao procedimento.
Aquela previsão legal foi estabelecida para os casos em que o MP, tendo conhecimento da
prática do ilícito sobre menor de 16 anos, porventura antes mesmo dos progenitores, e perante a
gravidade da situação, daí início ao procedimento por forma a, em tempo útil, fazer a recolha de
provas ou indícios que, com o decorrer do tempo ou a ação humana, corriam o risco de se
perder, por entender que o interesse da vítima o impõe.
Mas isso não significa que se tenha afastado a possibilidade de a vítima, ou os seus legais
representantes, decidirem o que é mais relevante para o interesse daquela.
O impulso processual do MP tem natureza subsidiária, ficando sujeito aos interesses do menor
ofendido.
Art. 178.º/4: permite que o MP dê início ao processo e o faça prosseguir quando os titulares do
poder paternal não exercerem o direito de queixa por razões censuráveis, na medida em que,
neste caso, terá sempre a possibilidade de inibir, limitar ou suspender o exercício do poder
paternal nos termos dos arts. 194.º e 199.º OTM.
Não é inaceitável que os progenitores venham pôr termo ao procedimento por entenderem que
essa é a atitude que melhor defende os interesses do menor e o MP, teimosamente, os procure
contrariar.
O MP nunca terá a mesma capacidade dos progenitores para fazer uma adequada avaliação da
concreta solução que os interesses do menor justificam, sendo certo ainda que o MP pode ser
tentado a agir em defesa de um qualquer interesse público.
Os arts. 113.º/6 e 178.º/4, interpretados no sentido de que os crimes assumem natureza pública,
estão feridos de inconstitucionalidade, na medida em que destarte se veria um pressuposto da
perseguição penal fixado por critérios de mera oportunidade do MP, não estabelecidos na lei e
judicialmente incontroláveis, o que viola o art. 29.º da CRP por traduzir um desvio do princípio
da legalidade na aplicação de reações criminais.
Existem, contudo, pequenos juízos de mera oportunidade do MP estabelecidos na lei.
Viola os direitos fundamentais do titular dos interesses que o legislador pretendeu proteger com
aqueles tipos legais de crime.
Inconstitucionalidade por violação dos arts. 25.º/1 e 26.º/1.
O TRC concedeu provimento ao recurso do MP, por não ser admissível a desistência de queixa.

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Ninguém põe em causa que o interesse público impunha que o MP desse início ao processo.
Não é essa, pois, a questão suscitada. Conhecendo o legislador a tradicional distinção entre
crimes particulares, semi públicos e públicos e que a queixa é uma condição objetiva de
procedibilidade, porque introduziu a redação referida no art. 178.º/2, em que reduziu a
necessidade de queixa apenas ao início do processo?
Art. 113.º/ introduziu o seu n.º 6 em que refere: quando o procedimento criminal depender de
queixa, o MP pode, nos casos previstos na lei, dar início ao procedimento quando o interesse da
vítima o impuser.
Art. 113.º/5: somos levados a concluir que foi intenção do legislador caraterizar de público tal
crime, já que, nunca poderia haver o exercício do direito de queixa e então o início do
procedimento seria um ato inútil se tal procedimento não pudesse conduzir à acusação.
Essa intenção resulta também da exposição de motivos da Proposta da Lei n.º 92/VI. Uma outra
nota que acentua a proteção do menor é a possibilidade de o MP, sempre que especiais razões de
interesse público o justifiquem, poder desencadear a ação penal quando a vítima for menor de
12 anos.
Sendo semi públicos, os crimes sexuais podem atualmente ser perseguidos, independentemente
de queixa, por iniciativa do MP, quando especiais razões de interesse público o impuserem e a
vítima for menor de 12 anos.
Outros argumentos: a CRP atribui ao MP a função de exercer a ação penal.
Se é a lei que expressamente faz depender do interesse público que o MP possa iniciar o
processo, mais não está do que a definir como público ou semi público tal crime.
Se os crimes sexuais são, em princípio, semi públicos, o que o n.º 2 faz é deixar de exigir a
queixa e como semi público já o MP sempre terá legitimidade para acusar.
O interesse público subjacente a tal possibilidade supera o interesse particular típico da
necessidade de queixa.
O interesse público não é subsidiário dos interesses particulares. Não se trata de qualquer
critério de mera oportunidade, como é bem evidente. É uma razão de política criminal. É o
interesse público que está em causa.
O recorrente apresentou alegações:
O elemento lógico-sistemático da interpretação conduz à conclusão de que se o legislador
pretendesse conferir natureza pública àqueles crimes na hipótese prevista no n.º 4 do art. 178.º
tê-la-ia colocado como terceira al. do n.º 1 da mesma norma.
Tendo em conta a imprescindível conjugação com o n.º 1 tratando-se de menor de 16 anos e o
interesse da vítima o impuser, o MP não tem de esperar que quem de direito apresente queixa
para dar início ao procedimento.
Mas isso não significa que se tenha afastado a possibilidade de a vítima, ou os seus legais
representantes, decidirem o que é mais relevante para o interesse daquela.
O impulso processual do MP tem natureza subsidiária, ficando sujeito aos interesses do menor
ofendido.
Não é inaceitável que os progenitores ou o próprio ofendido maior de 16 anos venham pôr
termo ao procedimento criminal por entenderem que essa é a atitude que melhor defende os
interesses do menor e o MP, teimosamente, os procure contrariar.

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O MP nunca terá a mesma capacidade dos progenitores ou do próprio ofendido para fazer uma
adequada avaliação da concreta solução que os interesses do menor justificam.
A entender-se de outro modo abrir-se-ia a hipótese de o MP poder ser tentado a agir em defesa
de um qualquer interesse público ou de determinada política criminal que ultrapassem o âmbito
do caso concreto e secundarizem os interesses que a lei visou proteger.
É inconstitucional, por violação do art. 29.º CRP, a interpretação dos arts. 113.º/6 e 178.º/4 CP,
segundo a qual os crimes de abuso sexual de crianças e de atos sexuais com adolescentes
assumem a natureza pública, na medida em que se veria um pressuposto da perseguição penal
fixado por critérios de mera oportunidade do MP, não estabelecidos na lei e judicialmente
incontroláveis, traduzindo um desvio dos princípios da legalidade e da tipicidade na aplicação
de reações criminais.
É inconstitucional, por violação dos arts. 25.º/1 e 26.º/1 CRP, a interpretação dos arts. 113.º/6 e
178.º/4 CP, segundo a qual os crimes de abuso sexual de crianças e de atos sexuais com
adolescentes mantêm a natureza semi pública, mas o procedimento criminal deixa de estar na
disponibilidade dos ofendidos ou dos seus representantes legais, ainda que estes não estejam
judicialmente inibidos do exercício do poder paternal, do ponto em que abre a porta à violação
de direitos fundamentais do titular dos interesses que o legislador pretendeu proteger com
aqueles tipos legais de crime, quais sejam os direitos à integridade pessoal e à reserva da
intimidade da vida privada.
MP contra alegou:
Goza o legislador de ampla discricionariedade relativamente à possibilidade de criminalizar
determinadas condutas ditadas pelo interesse público. Tal discricionariedade abrange as
condições de procedibilidade, em optar por soluções não totalmente enquadráveis nos regimes
próprios. Não viola qualquer norma ou princípio constitucional uma interpretação normativa
dos preceitos do n.º 6 do art. 113.º e n.º 4 do art. 178.º.
Fundamentação:
MARIA JOÃO ANTUNES: sendo a vítima menor, a proteção que lhe é concedida através da
natureza semi pública do crime tem a ver muito especialmente com os prejuízos que um
processo penal poderia acarretar para o desenvolvimento da personalidade de alguém que ainda
está em fase de formação. A natureza semi pública do crime tem a vantagem de permitir uma
seleção prévia por parte daquela dos casos que comportam uma efetiva ofensa à sua liberdade e
autodeterminação sexual.
A exigência de queixa desempenha aqui também a função de evitar que o processo penal
represente uma indesejável intromissão na esfera das relações familiares.
Em contraponto ao entendimento de que, tomando o MP a decisão de iniciar o procedimento,
tudo se passaria como se de um crime público se tratasse, com a consequente irrelevância de
posteriores manifestações de vontade do menor ou seus representantes no sentido da cessação
do procedimento, tem sido sustentado ser relevante a desistência, pelo ofendido ou seus
representantes, do procedimento iniciado nesses termos pelo MP.
Entre as referidas posições contrapostas têm sido defendidas posições matizadas, que
consideram que a todo o tempo o MP tem de aferir se o prosseguimento do processo não
contende com o concreto interesse da vítima, pois se tal suceder cessa a legitimidade para o
prosseguimento do processo, sendo um dos fatores relevantes para essa reponderação a
manifestação de vontade dos interessados. Nesta linha intermédia se insere a posição defendida
por MARIA JOÃO ANTUNES, que defende que de acordo com o disposto no art. 178.º/4 CP, a

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oposição do maior de 16 anos de idade é relevante, no sentido de a intervenção processual penal


do MP dever cessar, sempre que por via desta oposição sejam reavaliadas as razões que
determinaram o início ou a continuação do processo e se venha a concluir que o interesse da
vítima não impõe o prosseguimento deste.
JORGE MIRANDA: ao juiz constitucional não compete apreciar a oportunidade política desta
ou daquela lei ou a sua maior ou menor bondade para o interesse público, mas tão só averiguar a
correspondência de fins, a harmonização de valores, a inserção nos critérios constitucionais,
sem transformar o juízo de constitucionalidade em juízo de mérito em que se valora se a lei
cumpre bem ou mal os fins por ela própria estabelecidos.
O TC só deve proceder à censura das opções legislativas manifestamente arbitrárias ou
excessivas.
Não estava o legislador limitado à opção pela tripartição tradicional entre crimes públicos, semi
públicos e particulares, sendo-lhe constitucionalmente lícito criar novas categorias ou introduzir
modulação nas categorias tradicionais. É lhe lícito estabelecer um regime especial permitindo
que quando o interesse da vítima o impuser o procedimento seja iniciado pelo MP
independentemente de queixa e que seja irrelevante a posterior manifestação de vontade da
vítima ou dos seus representantes no sentido da cessação do procedimento criminal.
A introdução do n.º 2 do art. 178.º teve como finalidade evitar a desproteção do menor de 16
anos – incapaz de exercer o direito de queixa (art. 113.º/3 CP) – naqueles casos em que o titular
do direito de queixa não a apresenta (ou desiste dela) por razões alheias ao interesse da vítima.
Reduzem-se os casos de impunidade: os resultantes da circunstância de a vítima ainda não ter
capacidade para o exercício do direito de queixa e de o titular não a apresentar, não porque o
interesse da vítima justifica a não promoção do processo, mas porque entre o titular daquele
direito e o agente da prática do crime intercedem relações de certo tipo que condicionam a
decisão de apresentar queixa.
Seguramente, foi querido pelo legislador que esta magistratura possa dar início ao
procedimento, precisamente naqueles casos em que as razões justificativas da natureza semi
pública dos crimes contra a liberdade e autodeterminação sexual não presidem á não
apresentação da queixa.
Bem se compreende, que o MP possa decidir dar início ao procedimento criminal, segundo
critérios de estrita objetividade (art. 53.º CPP).
A atribuição desta faculdade ao MP também não contende com os princípios da legalidade e da
determinabilidade.
Os direitos à integridade moral e à reserva da intimidade da vida privada não são absolutos,
sendo constitucionalmente admissível a sua restrição na medida do necessário para assegurar o
respeito de outros valores fundamentais, como a defesa do direito à liberdade e
autodeterminação sexuais, designadamente de menores, a quem o Estado deve especial proteção
(arts. 69.º e 70.º CRP).
Decisão:
Não julgar inconstitucional a norma constante dos arts. 113.º/6 e 178.º/4 CP; negar provimento
ao recurso, confirmando a decisão recorrida, na parte impugnada.

Aulas práticas:

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Quem apresenta a participação – n.º 4 Paralelismo entre a participação e a queixa. Quem pode
exercer a participação é a autoridade ofendida; quem exerce a queixa é o ofendido.
Art. 319.º + 324.º CP – é o governo.
Caso aplicação da lei no tempo – taipa de carvalho.
Direito penal parte geral primeiro tomo. A lei processual penal também está presente.
-
Art. 143.º/3, als. a) e b) – possível caso de dispensa de pena (art. 280.º).
Reabertura do inquérito – requisito muito excessivo. QUASE NUNCA É REABERTURA DE
INQUÉRITO. Meios de prova que invalidem os meios de prova para arquivar.
Assistente ofendido por crime de roubo; MP acusa por furto. Art. 284.º - alteração substancial.
Art. 1.º, al. f) CPP. Teríamos um problema de imputar um crime mais grave do que a acusação
subordinada. A acusação subordinada deve ser igual à do MP.
Alteração não substancial de facto: imaginem que o MP acusa e diz que A deu dois pontapés ao
12h; circunstâncias de pormenor. Se eu disser que não foi de manhã, mas à tarde; não foram
dois pontapés, foram três, estamos perante alterações não substanciais.
Sempre que o assistente promove a alteração do crime, o que deve fazer é requerer a abertura de
instrução. Apesar de ter uma acusação, ele requer a abertura de instrução para a abertura daquele
crime.

III – TEORIA DA LEI PROCESSUAL PENAL: APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL


PENAL NO TEMPO
Caso prático 1
Suponha que o prazo geral de duração máxima da medida de coação prisão preventiva foi
agravado sucessivamente ao longo do tempo refletindo-se num determinado processo.
Assim:
 Em janeiro de 2003, o prazo geral era de 12 meses;
 Em janeiro de 2004, o prazo passou para 15 meses;
 Em janeiro de 2005, o prazo passou para 18 meses;
 Em janeiro de 2006, o prazo passou para 21 meses; e
 Em janeiro de 2007, o prazo foi novamente alargado para 24 meses.
Considerando que A praticou o crime em julho de 2004; o respetivo processo penal foi
aberto apenas em julho de 2005; e o arguido foi preso preventivamente em julho de 2006.
Qual seria o prazo de duração máxima da prisão preventiva em agosto de 2007? E em
novembro de 2007 (atendendo à redução do prazo para 18 meses em virtude da reforma
do CPP de 2007 – art. 215.º/1/1, al. d) CPP na redação da Lei 48/2007, de 29 de agosto)?

Resolução:

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As normas que dizem respeito à prisão preventiva são normas processuais penais materiais, por
contraposição às normas processuais penais formais. Se assim o é, significa que são normas que
condicionam a efetivação da responsabilidade penal ou contendem diretamente com os direitos
do arguido ou do recluso.
Se a LN é de natureza material = rege o princípio da aplicação da lei favorável = logo, proibição
da retroatividade, se é desfavorável; retroatividade, se é favorável.
Não se virá com o superficial argumento literal de que o art. 29.º CRP não fala de leis
processuais, mas de penas, de medidas de segurança e de leis penais.
 Não é pelo facto de a 2ª parte do n.º 4 do art. 29.º da CRP se referir somente a leis
penais que alguém poderá vir dizer que a CRP não abrange também a aplicação
retroativa das medidas de segurança mais favoráveis;
 Se uma tal argumentação formal-literal tivesse alguma valia, então haveria que contra-
argumentar que a mesma disposição fecha com um termo jurídico-processual “arguido”;
 Os deputados constituintes não são especialistas em técnica legislativa, embora não
fosse nada mau que o fossem.
 Mais censurável é a redação do art. 2.º CP;
 O art. 29.º CRP assume-se, no campo da responsabilização penal, como garantia dos
direitos e liberdades, direitos e liberdades que tanto podem ser arbitrariamente afetados
pela aplicação retroativa de leis sobre criminalização ou agravação da pena como pela
mesma retroatividade de alterações legislativas desfavoráveis de normas processuais
penais materiais (por ex., eliminação da exigência da queixa, alargamento do prazo de
prescrição do procedimento criminal ou da pena, imposição ope legis da prisão
preventiva).
Mesmo que não existisse a expressa imposição constitucional da aplicação retroativa das leis
penais de conteúdo mais favorável ao arguido, tal imposição não deixava de se impor por
virtude do art. 18.º que não só proíbe a retroatividade das leis restritivas dos direitos, liberdades
e garantias, como também impõe que as restrições destes direitos, liberdades e garantias se
limitem ao indispensável para realizar os fins prosseguidos pelas leis que contêm as
mencionadas restrições.
Apesar de o inovador art. 7.º CPP referir no n.º 2, al. a), a aplicabilidade da lei processual
vigente no início do processo penal, quando da aplicação imediata da lei nova resultar um
agravamento sensível e ainda evitável da situação processual do arguido, nomeadamente do seu
direito de defesa, há que afirmar que todo este artigo só é aplicável às leis processuais penais
formais. Nestas o princípio geral é o da aplicação imediata – tempus regit actum (CPP, art. 5.º/1)
-, sendo a exceção a aplicação da LN só aos processos iniciados depois da sua entrada em vigor,
o que significa a ultraatividade da LA (art. 5.º/2, al. b) CPP).
O momento decisivo para determinar, no caso de conflito temporal de leis processuais penais
materiais, a lei aplicável é não o momento em que se inicia o processo, mas o tempus delicti.
CRP art. 282.º/2, 2ª parte escreveu GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA: o enunciado
linguístico do preceito é suficientemente para abranger, não apenas o direito material
sancionatório, mas também as normas processuais de natureza substantiva.
Art. 2.º CP: não pode uma lei ordinária restringir o alcance das normas constitucionais
protetoras dos direitos, liberdades e garantias (art. 18.º/2). Neste aspeto o teor literal do art. 2.º/4
CP é suficientemente amplo para compreender a sucessão de leis processuais penais materiais.
Tempus delicti (art. 3.º/1) – momento da conduta (2004).

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Em especial, a sucessão de leis sobre a prisão preventiva rege-se pelo princípio da aplicação da
lei mais favorável: proibição da aplicação retroativa da lei desfavorável e imposição da
retroatividade da lei favorável ao arguido.
Corretamente o Ac. RE de 19-07-83: a lei que fixa prazos de prisão preventiva tem natureza
substantiva e está sujeita ao sistema da determinação do regime legal mais favorável quando se
sucedem disposições que modifiquem esses prazos.
Ac. De 18-05-83: a lei que modifica os prazos da prisão preventiva tem natureza adjetiva, pelo
que é de aplicação imediata às situações anteriores à sua entrada em vigor.
A objeção à aplicação retroativa de lei nova que encurte os prazos da prisão preventiva poderá
ser a seguinte: a necessidade de evitar que os arguidos-presos, por vezes perigosos e mesmo,
porventura, já condenados, embora não definitivamente, consigam a liberdade, dada a demora
processual. A refutação da validade desta objeção passa por um conjunto de argumentos-razões.
 A presunção de inocência do arguido até ao trânsito em julgado da sentença
condenatória é um direito e uma garantia fundamental;
 O caráter excecional da prisão preventiva impõe que se aplique retroativamente a lei
nova que reduza os prazos, independentemente de razões processuais.
 É de recusar – na sequência-imposição constitucional (art. 32.º/2, 2ª parte) – uma
conceção gradualista da presunção de inocência, segundo a qual esta presunção se ia
relativizando, esbatendo, à medida que o processo avançasse. A presunção da inocência
vale e impõe-se até ao trânsito em julgado.
 Não se coloca aqui qualquer necessidade de acautelar legítimas expetativas. Cabe
perguntar: expetativas de quem? Do legislador? – evidentemente que não; ele,
legislador bem sabe que a sua lei, porque mais favorável tem de ser aplicada aos
arguidos-presos preventivamente.
Expetativas do tribunal? Também é evidente que não: se o legislador entende que o novo prazo
da prisão preventiva é o razoável. É este que se tem de aplicar retroativamente às prisões
preventivas em curso. Se as expetativas do tribunal se baseavam na relação que ele estabelecia
entre o tempo durante o qual podia manter preso o arguido e a dinâmica a imprimir ao processo,
então tais expetativas são ilegítimas. Ilegítimas, pois que inconstitucionais – art. 32.º/2 CRP
estabelece a correta e justa relação entre a presunção da inocência do arguido e a exigência de
julgamento definitivo no mais curto prazo compatível com as garantias de defesa, o que,
valendo para o caso de arguido não preso, por maioria de razão se impõe, estando preso o
arguido – e revelam uma distorção da função processual da prisão preventiva. Esta distorção é
ilegítima, uma vez que atenta contra o referido princípio da presunção de inocência e contra o
princípio base constitucional da dignidade da pessoa humana, na medida em que as tais
expetativas se traduzem numa instrumentalização da pessoa do arguido-preso.
Nunca há quaisquer expetativas que possam impedir a aplicação imediata retroativa da LN, que
reduza os prazos da prisão.
Que razão há para impedir que uma LN que encurta o prazo da prisão preventiva se aplique ao
arguido-preso, mesmo que tal aplicação determine a sua imediata libertação provisória?
Nenhuma. Aqui não se trata de extinguir a responsabilidade penal pelos eventuais crimes
cometidos, mas apenas de aguardar, em liberdade, a condenação ou a absolvição definitiva; a
prisão preventiva constitui a mais grave intromissão que pode exercer o poder estatal na esfera
da liberdade do indivíduo, sem que medeie uma sentença judicial firme, com fundamento em
crime que a justifique.

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Caso Prático n.º 2


Considerando que:
- O arguido B foi condenado, em junho de 2007, pela 1ª vara criminal de lisboa, pela
prática do crime de extorsão agravado (art. 223.º/1 e 3, al. a)) por referência ao art.
204.º/2, al. a) e art. 202.º, al. a) CP a uma pena concreta de 5 anos de prisão;
- O arguido interpôs recurso para o TRL, em junho de 2007;
- O TRL confirmou a sentença do tribunal de 1ª instância em abril de 2008; e
- O arguido interpôs recurso para o STJ do acórdão do TRL em maio de 2008.
Atendendo à redação do art. 400.º/1, al. f) antes e depois da entrada em vigor da Lei n.º
48/2007, de 29 de agosto, seria admissível o recurso do arguido para o STJ? Atenda na sua
resposta ao conteúdo do acórdão do STJ, de 25/06/2008, bem como ao conteúdo do
acórdão de fixação de jurisprudência do STJ n.º 4/2009.

Acórdão 25/06/2008:
Para o efeito do disposto no art. 5.º/2, al. a) CPP, os direitos de defesa são apenas os que se
encontram consignados para a fase processual em curso no momento da mudança da lei.
Ao se iniciar a fase dos recursos, o arguido inscreve nas suas prerrogativas de defesa o direito a
todos os graus de recurso que a lei processual lhe faculta nesse momento.
A lei processual posterior que retirar o direito a um desses graus de recurso constitui um
agravamento sensível e ainda evitável da situação processual do arguido.
É recorrível para o STJ a decisão proferida pela Relação já depois da entrada em vigor da nova
lei de processo que não reconheça esse grau de recurso, se a lei que vigorava ao tempo da
decisão da 1ª instância o mandasse admitir.
A lei que regula a recorribilidade de uma decisão é a que se encontrava em vigor no momento
em que a 1ª instância decidiu, salvo se a lei for mais favorável para o arguido.

A arguida vem alegar que a pena é excessiva que deve ser reduzida para 4 anos suspensa na sua
execução uma vez que o tribunal não teve em consideração: o não ter antecedentes criminais, o
ter uma filha com poucos meses de idade, o ter um emprego estável numa casa de família onde
faz o trabalho doméstico, o estar bem inserida familiarmente e o ser uma jovem com 24 anos à
data dos factos.
Não está provado que: os arguidos estão bem inseridos familiarmente, se tal acontecesse
provavelmente não se dedicariam ao tráfico de heroína e cocaína; que o arguido AA sustenta a
sua família com proventos que aufere no exercício da profissão de pedreiro; que a arguida tem
um emprego estável numa casa de família onde faz o trabalho doméstico.
No acórdão recorrido refere-se que não existem circunstâncias atenuantes, no entanto os
arguidos são delinquentes primários, e têm uma filha menor a cargo, circunstâncias que apesar
de serem pouco relevantes neste tipo de crime, não deixam de ter aquela natureza.
Ponderando os elementos tidos em consideração pelo tribunal da primeira instância, o período
durante o qual se dedicaram ao tráfico de estupefacientes, o facto de serem delinquentes

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primários e terem uma filha menor a cargo, e as circunstâncias mencionadas no parágrafo que
antecede, consideramos como justo e adequado aplicar ao arguido AA a pena de 7 anos e 6
meses de prisão e à arguida BB a pena de 5 anos e 6 meses de prisão.
Impõe-se concluir que a pena concreta que foi fixada pela Relação se situa dentro da sub-
moldura a que se fez referência e que foram sopesados no essencial os elementos de facto que se
salientaram. Mas a consideração de que a concretização das vendas que o esquema montado e
referido nos factos provados permitiu, foi limitada e o papel menor da recorrente nesse mesmo
esquema e a sua idade então justificam que se vá mais longe na diminuição da pena que lhe foi
infligida e que se fixa agora em 4 anos e 6 meses de prisão.
Esta medida da pena impõe que o tribunal pondere a suspensão da execução, dada a nova
redação do n.º1 do art. 50.º CP, dada pela Lei n.º 49/2007, de 4 de setembro.
Sucede que chama a recorrente que, desde a data do acórdão em primeira instância a arguida
mudou de vida, e veio trabalhar para outra casa de família, lá fazendo limpezas bem como
noutras casas onde pratica a atividade de empregada de limpeza, praticando assim um trabalho
honesto e digno que lhe permite proporcionar a si e à sua filha o sustento que necessitam.
A possibilidade agora aberta, implica que então se decida pela eventual suspensão da pena.
Daí que se ordene a remessa dos autos à 1ª instância para que reabra a audiência, nos termos do
art. 371.º CPP, solicitando a realização do mencionado relatório social e produzindo outras
provas cuja produção que este relatório possa sugerir e decidir então sobre a aplicação da
suspensão de execução à pena de 4 anos e 6 meses que este STJ aplicou.

Acórdão STJ n.º 4/2009 – fixação de jurisprudência.


No acórdão ora sob recurso decidiu-se que, estando em causa processo iniciado antes da
vigência da Lei 2007, de 29 de agosto, que veio estabelecer na al. f) do art. 400.º/1 CPC não ser
admissível recurso de acórdãos condenatórios proferidos, em recurso, pelas Relações, que
confirmem decisão de 1ª instância e aplique pena de prisão não superior a 8 anos, há que afastar
a aplicação da lei nova, no caso em apreciação.
Uma vez que, conquanto a lei processual penal seja, em matéria de recursos, de aplicação
imediata, a aplicação da lei nova no caso vertente iria limitar os direitos de defesa do arguido,
visto retirar-lhes um grau de jurisdição.
Com a entrada em vigor da lei, o STJ perdeu competência para conhecer de tais recursos.
Em matéria de recursos, regem-se os mesmos pela lei em vigor da data da prolação da decisão
recorrida ou da sua interposição visto ser em tal ocasição que se configura o exercício do direito
de dela recorrer, para o efeito de apartar a regra da aplicabilidade imediata da lei processual
penal nova, prevista no art. 5.º/1, não são atendíveis as expetativas eventualmente criadas pelas
partes ao abrigo da legislação anterior, se, na altura capital em que a decisão foi proferida, tais
expetativas já não tinham razão de ser.
Não é admissível recurso de acórdãos condenatórios proferidos pelas relações que a partir de 15
de setembro de 2007, confirmem decisão de 1ª instância e apliquem pena de prisão não superior
a 8 anos.
Os direitos de defesa do arguido são apenas os que se encontram previstos para a fase
processual em causa na ocasião em que ocorreu a mudança da lei. E no momento em que se
abre a fase dos recursos, em que o arguido inscreve a possibilidade de fazer uso de todos os

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graus de recurso que a lei processual em vigor lhe faculta. Na falta de norma transitória explicita
que preveja na lei nova o modo de resolver os problemas decorrentes da sua aplicação na fase
de recurso, há que manter a regra da lei anterior quando a imediata aplicação daquela implique a
supressão de um grau de recurso que a anterior concedia.
Visto que a supressão de um grau de recurso quando já se iniciara a respetiva fase,
comprometendo as legítimas expetativas quanto ao direito a dele fazer uso, representa um
agravamento sensível e ainda evitável da situação processual do arguido, nomeadamente uma
restrição do seu direito de defesa.
É recorrível para o STJ a decisão proferida pela Relação já depois da entrada em vigor da nova
lei de processo que não reconhece esse grau de recurso, se a lei em vigor à data da prolação da
sentença em primeira instância o admita.
A lei reguladora é a que se encontrava em vigor no momento em que ficam definidas as
condições e os pressupostos do direito ao recurso, o que vale dizer no momento em que
primeiramente foi proferida uma decisão sobre o objeto do processo, a decisão de 1ª instância.
Pag. 136
Declaração de voto:
A preservação das garantias de defesa do arguido passa pela observação do contraditório de
modo a que possa ser dado conhecimento ao arguido do teor da acusação que lhe é feita e se lhe
dê oportunidade para dela se defender. A liberdade de conformação do legislador ordinário que
detém margem de liberdade suficiente para plasticizar o contraditório sem prejuízo de a ele
subordinar estritamente a audiência.
Entendemos que o ato que consubstancia o exercício do direito de defesa não é mais do que a
concretização de um direito que já está inscrito no estatuto do arguido e que lhe assiste pelo
simples facto de o ser. É da constituição como arguido que geneticamente nascem os direitos
que se irão conformar e exercitar ao longo do processo. Dir-se-á que o direito a recorrer não
nasce pelo facto de se recorrer de uma determinada decisão. Ele constava já do estatuto do
arguido desde o momento da sua constituição como tal e pelo simples facto de o ser. Daqui
deriva que o momento em relação ao qual se deve aferir da maior ou menor amplitude
qualitativa do direito de defesa com vista aplicar no tempo da lei processual – art. 5.º CPP – é
aquele em que é formatado o estatuto do arguido em função da sua constituição como tal.
DV N.º 2
A tese que fez vencimento, ao fazer depender a aplicação da redação pré vigente da al. l) do art.
400.º/1, ou seja, o direito ao recurso do arguido para este STJ, da temporalidade da prolação da
decisão condenatória de 1ª instância, apenas o admitindo nos casos em que aquela decisão foi
proferida antes da entrada em vigor da Lei 48/2007, quando é certo termos assumido no acordão
recorrido entendimento segundo o qual o momento a ter em conta para efeito do disposto no n.º
2 do art. 5.º CPC é o do início do processo.
N.º 2 do art. 5.º CPP afastou-se do regime entendido no sentido de que a lei processual se
aplicava a todos os atos praticados na sua vigência. Tendo acolhido a doutrina então defendida
por FD, segundo a qual o princípio da legalidade é extensível ao processo penal, importando
que a aplicação da lei processual penal a atos ou situações que decorram na sua vigência, mas
que se ligam a uma infração cometida no domínio da lei processual antiga, não contrarie nunca
o conteúdo da garantia conferida pelo p. da legalidade, razão por que não se deve aplicar a lei
processual penal a um ato ou a uma situação processual que ocorra em processo pendente ou
derive de um agravamento da posição processual do arguido ou do seu direito de defesa.

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TAIPA, GERMANO MARQUES DA SILVA E JOSÉ BARREIROS – exigência básica do


processo justo e equitativo.
Não é aceitável que se defensa, tal qual se faz na orientação que fez vencimento, que a lei pre
vigente só é aplicável, em matéria de direito ao recurso, se a decisão condenatória impugnada
tiver sido proferida na sua vigência.
GOMES CANOTILHO E VITAL MOREIRA – conquanto a CRP não explicite a partir de que o
momento do processo criminal podem fazer-se valer as garantias de defesa, certo é que todo o
feixe de direitos inseridos no direito constitucional de defesa deve ser posto em ação, pelo
menos, a partir do momento em que o sujeito assume a qualidade de arguido.
O direito ao recurso nasce no momento em que o arguido é como tal constituído, e não no
momento em que é proferida a decisão condenatória em 1ª instância.
“processos iniciados” – iniciar, quer para o jurista, quer para o leigo, para quem quer que seja,
significa começar, principar, inaugurar, o que relativamente ao processo, tem o sentido
inequívoco de instaurado, pelo que é inquestionável que o texto legal veda a aplicação da lei
processual a todos os processos que foram instaurados antes da sua entrada em vigor.
Fazer coincidir aquele momento ou fase processual com o da decisão condenatória proferida em
1ª instância é subverter o direito.

Caso Prático n.º 3


Analise e comente o teor do acórdão do TC n.º 2/2008.
A., preso preventivamente veio requerer a providência de habeas corpus.
Com a entrada em vigor da L 48/2007, de 29 de agosto o prazo máximo de prisão preventiva
para a situação considerada foi reduzido para 2 anos e 6 meses, pelo que, tendo-se esgotado esse
prazo no dia 18 de julho de 2007, o requerente devia ter sido libertado em 15 de setembro
seguinte, data em que entrou em vigor a nova lei.
No requerimento de abertura de instrução, o requerente arguiu a invalidade de um despacho
proferido, em sede de inquérito, pelo magistrado do MP.
O juiz de instrução criminal considerou essa arguição como intempestiva, por entender que
devia ter sido apresentada no prazo de 3 dias a seguir à notificação da acusação, nos termos do
art. 123.º/1 CPP.
O TC julgou inconstitucional, por violação do art. 32.º/1 CRP, a referida norma do art. 123.º/1
CPP, interpretada no sentido de consagrar o prazo de 3 dias para arguir irregularidades contados
da notificação da acusação em processos de especial complexidade e grande dimensão, sem
atender à natureza da irregularidade e à objetiva inexigibilidade da respetiva arguição.
O TRL veio então a reformar a decisão recorrida, considerando sanadas as irregularidades
suscitadas, por entender que, não obstante a exiguidade do prazo de 3 dias, tinha já decorrido o
prazo geral de 10 dias, que era suficiente para a invocação de tais irregularidades.
Dessa decisão, o requerente interpôs um novo recurso para o TC, com fundamento em violação
de caso julgado constitucional.
Não existia razão para se proceder ao prolongamento do prazo de prisão preventiva pelo período
de 6 meses, a que se refere o art. 215.º/3 CPP. É inconstitucional por violação dos arts. 27.º,

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28.º/2 e 18.º/2 CRP, a atual norma do n.º 5 do art. 215.º CPP, quando interpretada no sentido de
que todo o qualquer recurso interposto para o TC – interlocutório ou de decisão final – no
decorrer de um processo crime à ordem do qual se encontra o arguido em situação de prisão
preventiva determina necessariamente um acréscimo de 6 meses nos prazos referidos nas als. c)
e d) do n.º1 desses artigos, bem como nos correspondentemente previstos nos n.º 2 e 3 desse
artigo, mesmo que tal recurso não tenha determinado efetivamente a suspensão ou retardamento
do processo.
O STJ indeferiu a petição de habeas corpus, por considerar que o prolongamento de 6 meses no
prazo de prisão preventiva, se tiver havido recurso para o TC (art. 215.º/2 CPP), opera
independentemente de se tratar de recurso interlocutório ou de decisão final, pelo que, sendo
aplicável o prazo de 2 anos e 6 meses, por efeito das disposições do art. 215.º/1, al. c), 2 e 3
CPP, esse prazo foi acrescido de 6 meses, em virtude dos recursos interpostos para o TC, em
conformidade com o n.º 5 desse artigo e o termo da prisão preventiva só ocorre em 18 de janeiro
de 2008.
O arguido veio interpor recurso para o TC, invocando pretender ver apreciada a
constitucionalidade da norma do art. 215.º/5 CPP, interpretada no sentido de que todo e qualquer
recurso para o TC determina sempre e necessariamente um acréscimo de 6 meses aos prazos
referidos nas als. c) e d) do n.º 1 do art. 215.º, mesmo que tal recurso não tenha determinado a
suspensão e ou sequer, o retardamento de tal processo.
Fundamentação:
O recorrente encontra-se em prisão preventiva (desde 18janeiro2005).
O recorrente interpôs 2 recursos para o TC:
 Um, tendo por objeto a decisão instrutória, com fundamento na inconstitucionalidade da
norma do art. 123.º/1 CPP, quando fixa um prazo de 3 dias para a arguição de
irregularidades, independentemente da natureza da irregularidade ou complexidade dos
autos;
 Outro, na sequência da procedência desse recurso, incidindo sobre o acórdão do TR que
procedeu à reforma da decisão recorrida por alegada violação de caso julgado
constitucional.
O art. 215.º CPP fixa os prazos de duração máxima da prisão preventiva.
N.º 5: os prazos referidos nas als. c) e d) do n.º 1, bem como os correspondentemente referidos
nos n.ºs 2 e 3 são acrescentados de 6 meses se tiver havido recurso para o TC ou se o processo
penal tiver sido suspenso para julgamento em outro tribunal de questão prejudicial.
A nova redação reduziu os prazos de prisão preventiva para cada uma das situações elencadas
no n.º 1, sendo que, para a situação considerada nos autos – aquela em que ainda não tenha
havido condenação em primeira instância (al. c)), o prazo geral passou a ser de um ano e dois
meses.
Manteve-se a possibilidade de elevação do prazo em função de 3 diferentes fatores:
 A específica natureza crime pelo qual o arguido se encontra indiciado (quando se trate
de qualquer dos tipos legais identificados no n.º 2);
 O reconhecimento da excecional complexidade do procedimento quando se refira a
qualquer desses crimes;
 A interposição de recurso para o TC.

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O prazo máximo de prisão preventiva, quando não tenha havido ainda condenação em primeira
instância, passa a ser de 1 ano e 6 meses (quando se trate de qualquer dos crimes de catálogo
mencionados no n.º 2 do art. 215.º), eleva-se para 2 anos e 6 meses se cumulativamente for
declarada a excecional complexidade do procedimento, a que acrescem 6 meses se entretanto
for interposto recurso para o TC ou se o processo penal tiver sido suspenso para julgamento em
outro tribunal de questão prejudicial.
O novo regime é imediatamente aplicável, por se mais favorável ao arguido, pelo que o
recorrente, por se encontrar abrangido pela situação prevista nos arts. 215.º/1, al. c); 2, al. a) e 3
e 5, passou a encontrar-se sujeito ao prazo limite de prisão preventiva de 3 anos.
Foi esse o entendimento do STJ que indeferiu a petição de habeas corpus.
O recorrente sustenta que a prorrogação do prazo máximo de prisão preventiva deve ter lugar
apenas quando tal recurso tenha sido interposto de decisão condenatória proferida em primeira
instância, ou, tratando-se de um recurso de despacho meramente interlocutório, quando este
tenha um efeito suspensivo do processo.
Só em qualquer desses casos é que o recurso para o TC produz um prolongamento dos termos
do processo, ou porque impede o trânsito em julgado da decisão condenatória ou porque gera
uma efetiva suspensão do processo, que torna justificável o acréscimo de um novo período
temporal ao limite máximo da prisão preventiva.
Qualquer outra interpretação é materialmente inconstitucional por constituir uma restrição
desnecessária, inadequada e desproporcional ao direito fundamental à liberdade, e acarreta uma
violação nos arts. 27.º, 28.º/2, 18.º/2 CRP.

O direito à liberdade admite as restrições que se encontram previstas nos nrs. 2 e 3 do art. 27.º
CRP, entre as quais se conta a detenção ou prisão preventiva por fortes indícios de prática de
crime doloso a que corresponde pena de prisão cujo limite máximo seja superior a 3 anos.
Constituindo as restrições ao direito à liberdade restrições a um direito fundamental integrante
da categoria de direitos, liberdades e garantias, estão sujeitas às regras do art. 18.º/2 e 3 CRP, o
que quer dizer que só podem ser estabelecidas para proteger direitos ou interesses
constitucionalmente protegidos, devendo limitar-se ao necessário para os proteger.
Como decorre do art. 28.º/4 CRP a prisão preventiva está sujeita aos prazos estabelecidos na lei,
o que significa que não pode deixar de ser temporalmente limitada de acordo com a sua
natureza. Cabendo à lei a fixação dos prazos de prisão preventiva dispõe o legislador ordinário
de uma relativa margem de liberdade de conformação, ainda que deva respeitar o princípio da
proporcionalidade.
Art. 215.º CPP: o prazo de duração da prisão preventiva conta-se sempre do seu início e não
pode exceder certos limites que se reportam a 4 marcos processuais:
 Dedução da acusação;
 Prolação de decisão instrutória quando tenha havido instrução;
 Condenação em 1ª instância;
 Trânsito em julgado da condenação.
Aos prazos fixados para cada uma dessas fases processuais aplicam-se 3 diferentes regimes:
 Normal (4 meses, 8 meses, 1 ano e 2 meses e 1 ano e 6 meses);

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 Especial – atende-se à gravidade dos crimes (6 meses, 10 meses, 1 ano e 6 meses e 2


anos);
 Excecional – quando essa gravidade dos crimes acresce a excecional complexidade do
procedimento (1 ano, 1 ano e 4 meses, 2 anos e 6 meses e 3 anos e 4 meses).
Os prazos de duração máxima de prisão preventiva são pre determinados segundo a fase
processual, a gravidade do tipo legal de crime e a complexidade do procedimento.
Diferentemente, por efeito do nº 5 do art. 215.º CPP, a lei não pré determina o prazo total de
prisão preventiva a considerar quando tenha sido interposto um recurso para o TC, mas
estabelece um acréscimo de 6 meses, quando tenha havido esse recurso, aos prazos previstos
nas als. c) e d) do n.º 1 desse artigo e aos correspondentemente referidos nos ns. 2 e 3.
A norma não distingue entre recursos de decisão condenatória ou recursos de decisão
interlocutória, nem quanto ao efeito e regime de subida do recurso, limitando-se a fixar um
acréscimo temporal único sempre que tenha havido recurso para o TC, o que significa que o
legislador ponderou esse prazo como sendo o suficiente para resolver as questões de
constitucionalidade, independentemente da fase processual em que se suscitem e das
vicissitudes ou complexidade do processado.
O acréscimo de 6 meses a esse limite temporal visa suprir o retardamento processual que
sempre resulta da utilização desse meio recursório que tem um mero intuito dilatório. O prazo
acrescido é único independentemente das circunstâncias do caso, e independentemente de ter
sido interposto um ou vários recursos de constitucionalidade.
O acréscimo do prazo de prisão preventiva por efeito de interposição de recurso para o TC tem
como objetivo contrariar a dilação que decorre do simples facto de ter sido interposto um
recurso desse tipo, visto que essa é uma consequência que se encontra desligada de qualquer
outra específica vicissitude processual e do eventual efeito suspensivo dos termos do processo.
Se se tratar de um recurso de constitucionalidade que incida sobre a decisão condenatória
proferida, em sede de recurso, pelo tribunal da relação ou pelo STJ, naturalmente que esse
recurso vai impedir que a condenação transite em julgado, determinando um protelamento da
resolução do processo. Mas o recurso interposto de qualquer decisão interlocutória, como seja a
decisão instrutória ou a decisão sobre um incidente processual, mesmo que deva subir em
separado e não produza efeito suspensivo do processo (arts. 406.º e 408.º CPP), implica sempre
um retardamento processual que resulta da tramitação e expedição do recurso, da necessária
prolação do despacho de admissão do recurso e da fixação do respetivo efeito e regime de
subida, e que obriga, subindo o recurso em separado, a que o juiz averigue se o mesmo se
mostra instruído com todos os elementos necessários à boa decisão da causa, determinando a
extração e junção de certidão das pertinentes peças processuais (art. 414.º CPC). O recurso
desencadeia sempre uma atividade processual autónoma que perturba o andamento do processo
e que poderá retardar a prolação da decisão final.
O aditamento do prazo de 6 meses ao limite máximo aplicável de prisão preventiva destina-se a
permitir que esse recurso seja decidido no TC e que os tribunais de instância possam reformar a
decisão recorrida.
Esse é o prazo que o legislador considerou suficiente para a apreciação, independentemente do
circunstancialismo concreto que seja aplicável ao caso.
Sendo indiferente que o recurso tenha ou não determinado a suspensão dos termos do processo
ou um efetivo atraso na sua prossecução.

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O acréscimo do prazo de prisão preventiva previsto no art. 215.º/5 CPP mostra-se justificado
não apenas pelo eventual protelamento do trânsito em julgado da decisão condenatória, mas
também pela possível demora produzida na emissão de uma decisão em primeira instância. É
legitimada pelo potencial efeito dilatório do recurso de constitucionalidade, quer porque com a
interposição desse recurso se evitou que o processo chegasse ao seu termo com o trânsito em
julgado da decisão condenatória, quer porque esse recurso se poderá repercutir de algum modo
no julgamento da causa.
É irrelevante que se não encontre já pendente o recurso para o TC quando opera a dilação ao
prazo máximo de prisão preventiva aplicável por força das disposições conjugadas da al. c) do
n.º 1 e dos n.º2 e 3 do art. 215.º. Justamente porque o aumento do prazo se destina a suprir o
efeito negativo que a interposição do recurso poderá vir a gerar relativamente a qualquer das
fases do processo, segundo o momento processual em que o recurso seja interposto, e deverá
refletir-se necessariamente no cômputo global do prazo de prisão preventiva.
Reconhecendo-se ao legislador uma certa margem de conformação quanto à fixação dos prazos
de prisão preventiva, por efeito do disposto no art. 28.º/4 CRP, não parece que o acréscimo de 6
meses ao limite máximo da prisão preventiva por via da interposição de recurso para o TC, tal
como prevê o n.º 5 do art. 215.º CPP, represente uma restrição desproporcionada ou excessiva
em relação aos fins que se pretendem obter.
Essa prorrogação do prazo é aplicável por uma única vez, ainda que o interessado tenha
interposto mais do que um recurso de constitucionalidade. E também porque se traduz num
acréscimo temporal que se mostra ser ajustado às possíveis incidências processuais que poderão
resultar da interposição de um recurso desse tipo.
Não se verifica qualquer violação do disposto nos arts. 27.º, 28.º/2, 18.º/2 CRP.
Nota: aulas práticas sobre aplicação da lei no tempo estão em documento à parte.

IV – SUJEITOS PROCESSUAIS: EM ESPECIAL, O JUIZ E O TRIBUNAL –


COMPETÊNCIA E PRINCÍPIOS..

Esquema de resolução de hipóteses de competência


Em face da Lei n.º 3/99, de 13 de janeiro, que aprovou a LOFTJ, em vigor, para todo o
território nacional, até 13 de abril de 2009 – arts. 171.º, 186.º e 187.º Lei n.º 52/2008, de 28 de
agosto, que aprova a nova LOFTJ.
De 14 de abril de 2009 até 31 de agosto de 2010, a Lei n.º 3/99, de 13 de janeiro, será
aplicável a todo o território nacional, com exceção das 3 “comarcas piloto” (art. 187.º/3 Lei n.º
52/2008, de 28 de agosto).

1.º Jurisdição – Tribunais portugueses (arts. 202.º e 211.º CRP; art. 8.º CPP e art. 1.º LOFTJ).

2º Competência funcional – determinação do tribunal competente em função da fase


processual:

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 Regra: serão competentes os Tribunais judiciais de 1ª instância, salvo se for competente


o STJ ou os TR (a contrario sensu dos arts. 11.º, 12.º CPP e arts. 33.º-37.º, 55.º e 56.º
LOFTJ).
 Por fase processual:
 Inquérito e Instrução – tribunal de competência especializada criminal (arts. 17.º e
18.º CPP), nomeadamente o:
a) Tribunal de Instrução criminal (TIC) – arts. 78.º, al. a), 79.º, 77.º/1, al. b) e 131.º
LOFTJ; ou
b) Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC) – arts. 79.º, 80.º/1 da LOFTJ e art. 47.º/1
Lei n.º 60/98, de 27 de agosto (Estatuto MP).
Especialidade: em função de certas qualidades (do arguido) será competente nesta fase:

STJ – art. 11.º/7 CPP + art. 36.º, al. j) LOFTJ; ou


TR – art. 12.º/6 CPP + art. 56.º/1, al. i) LOFTJ.

 Julgamento:

Regra geral referida supra, ou seja, os tribunais judicias de 1ª instância.


Especialidade: em função de certas qualidades (do arguido), será competente nesta
fase:

STJ: art. 11.º/3 e n.º 4, al. a) CPP e arts. 35.º/1, al. a) e 36.º, al. b) LOFTJ.
TR: art. 12.º/3 CPP e art. 56.º/1, al. c) LOFTJ.

 Recurso: são competentes como tribunais de recurso:


a) STJ: arts. 11.º/3, al. b); 11.º/4, al. b) CPP e arts. 33.º, al. a), 35.º, AL. B) E 36.º LOFTJ;
ou
b) TR: art. 12.º/3, al. b) CPP e art. 56.º/1, al. a) LOFTJ.

 Execução de penas: é competente o tribunal de execução de penas – art. 18.º CPP e


arts. 91.º-92.º LOFTJ.

3º Competência material – determinação do tribunal competente em função:


 Da qualidade de certos agentes – o PR perante o STJ – art. 11.º/3, al. a) CPP e art.
35.º/1, al. a) LOFTJ;
 De certas matérias específicas – habeas corpus perante o STJ – art. 11.º/4, al. c) CPP e
art. 36.º, al. f) LOFTJ;
 Dos tipos de crimes e respetivas penas (rectius: da medida da pena abstratamente
aplicável).

 Competência residual: Tribunal de Comarca (de competência genérica) – art. 62.º


LOFTJ.

Tribunais de competência específica criminais (art. 64.º/1 e 2 LOFTJ);


- Tribunal do júri – art. 207.º CRP; art. 13.º CPP; arts. 67.º/1 e 110.º a 111.º LOFTJ;
- Tribunal coletivo – art. 14.º CPP – Vara Criminal (art. 98.º LOFTJ) ou Vara Mista (art.
96.º/2 LOFTJ);
- Tribunal Singular (art. 16.º CPP): que pode ser quanto aos tribunais de competência
específica:

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a) O juízo criminal – art. 100.º LOFTJ;


B) O juízo de pequena instância criminal – arts. 96.º e 102.º LOFTJ; e Tribunal de
competência especializada criminal (art. 64.º/1 e 2 LOFTJ);
c) O juízo de competência especializada criminal – arts. 93.º e 95.º LOFTJ.
4º Competência territorial – aferir do critério territorial segundo:
 Critérios especiais – arts. 20.º-23.º CPP;
 Subsidiariamente: critérios gerais do art. 19.º CPP.
No âmbito da determinação da competência territorial deverá ainda considerar-se os mapas
anexos ao Regulamento da LOFTJ – DL n.º 186-A/99, de 31 de Maio.

5º Competência por conexão?


São exigidos 4 requisitos:
 Pluralidade de processos (real ou hipotética);
 Pluralidade de tribunais competentes;
 Verificação de uma situação típica de conexão (arts. 24.º e 25.º CPP), respeitando-se os
limites à conexão (art. 26.º CPP); e
 Tramitação concomitante – art. 24.º/2 CPP.
Contudo, se não houver pluralidade de tribunais competentes e se verificarem os demais
requisitos, haverá apensação (art. 29.º), sem necessidade de determinar a competência por
conexão.
Determinação da competência em caso de conexão?
Articulação dos arts. 27.º e/ou art. 28.º CPP: cumulativos? Disjuntivos? Consequências da
conexão:
Apensação – art. 29.º CPP e
Prorrogação da competência (ainda que cesse a conexão) – art. 31.º, al. b) CPP.
Termo da conexão: separação de processos (art. 30.º CPP) e prorrogação da competência (art.
31.º CPP).
Em face da Lei n.º 52/2008, de 28 de agosto, que aprova a nova LOFTJ (em vigor a partir de 14
de abril de 2009 para as 3 comarcas piloto”: Alentejo Litoral; Baixo Vouga e Grande Lisboa –
Noroeste – arts. 171.º, 186.º e 187.º Lei n.º 52/2008, de 28 de agosto).
A partir de 1 de setembro de 2010 será aplicável a Lei n.º 52/2008, de 28 de agosto, a todo o
território nacional (tendo em conta a avaliação da experiência nas “comarcas piloto”) – art.
187.º/3 da referida Lei.
1º Jurisdição – tribunais portugueses (arts. 202.º e 211.º CRP; art. 8.º CPP e art. 2.º LOFTJ –
Lei n.º 52/2008, de 28 de agosto).

2º Competência funcional – determinação do tribunal competente em função da fase


processual:
Regra: serão competentes os tribunais judiciais de 1ª instância, salvo se for competente o STJ
ou os TR (a contrario sensu arts. 11.º, 12.º CPP e art. 41.º-45.º, 65.º e 66.º LOFTJ).

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Por fase processual:


 Inquérito e instrução – juízos de competência especializada criminal (arts. 17.º e 18.º
CPP), nomeadamente os:
a) Juízos de instrução criminal (JIC) – arts. 74.º/2, al. a), 111.º-113.º LOFTJ;
b) Juízo Central de Instrução criminal (JCIC) – art. 112.º/1 LOFTJ; e art. 47.º/1 Lei n.º
60/98, de 27 de agosto (Estatuto MP);
c) Juízos de competência especializada Mista – art. 74.º/3 e art. 127.º LOFTJ.
d) Designação especial de juízes de instrução criminal (art. 113.º LOFTJ).
e) Sempre que o movimento processual o justifique o Conselho Superior da Magistratura
poderá afetar juízes de direito, em regime de exclusividade à instrução criminal para as
comarcas em que não haja juízo de instrução criminal.
Competência residual:
 Juízos de Média Instância criminal (art. 132.º/1, al. c) LOFTJ) – nas comarcas não
abrangidas pela competência dos juízos de instrução criminal; ou (não havendo juízos
de média instância criminal):
 Tribunal de Comarca – art. 73.º LOFTJ – nomeadamente os juízos de competência
genérica (residualmente competente – art. 110.º/1 e 2, al. a) LOFTJ);

Especialidade: em função de certas qualidades (do arguido), será competente nesta fase:

STJ: art. 11.º/7 CPP e art. 44.º, al. h) LOFTJ; ou


TR: art. 12.º/6 CPP e art. 55.º, al. g) LOFTJ.

 Julgamento: regra geral referida supra, ou seja, os tribunais judiciais de 1ª instância –


que é, em regra, o tribunal de comarca – art. 72.º LOFTJ.

Especialidade: em função de certas qualidades (do arguido), será competente nesta fase:

STJ: art. 11.º/3 e 4, al. a) CPP e art. 43.º, al. a) e 44.º, al. b) LOFTJ.
TR: art. 12.º/3 CPP e art. 66.º, al. c) LOFTJ.

 Recurso: são competentes como tribunais de recurso:


a) STJ: arts. 11.º/3, al. b); 11.º/4, al. b) CPP e art. 41.º, al. a); 43.º, al. b) e 44.º, als. a) e g)
LOFTJ; ou
b) TR: art. 12.º/3, al. b) CPP e art. 66.º, als. a) e f) LOFTJ.

 Execução de penas: é competente o tribunal de execução de penas – art. 18.º CPP e art.
74.º/2, al. g) e art. 126.º LOFTJ.

3º Competência material – determinação do tribunal competente em função:


 Da qualidade de certos agentes – o PR perante o STJ – art. 11.º/3, al. a) CPP e art. 43.º,
al. a) LOFTJ;
 De certas matérias específicas – habeas corpus perante o STJ – art. 11.º/4, al. c) CPP e
art. 44.º, al. d) LOFTJ;

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 Dos tipos de crimes e respetivas penas (rectius: da medida da pena abstratamente


aplicável).
Competência residual: tribunal de comarca – art. 73.º LOFTJ – que se desdobra (art. 74.º/1)
em:
Juízos de Competência Genérica (residualmente competente – art. 110.º/1 LOFTJ); e
Juízos de Competência Especializada Criminal ou Mista (arts. 74.º, 127.º e 131.º-133.º LOFTJ).
a) Se existir, serão competentes os seguintes juízos de competência Especializada
Criminal:
- Juízos de Grande Instância Criminal (art. 131.º LOFTJ) – quando for competente o
Tribunal do Júri (art. 207.º CRP, art. 13.º CPP e arts. 75.º e 140.º-142.º LOFTJ) ou o
Coletivo (art. 14.º CPP e arts. 75.º e 137.º, al. a) LOFTJ);
- Juízos de Pequena Instância Criminal (art. 133.º LOFTJ) – competente para os
processos sob as formas de processo especiais; ou
- Juízos de Média Instância Criminal (art. 132.º LOFTJ) – para os restantes casos,
nomeadamente para os processos com a forma comum e julgamento no Tribunal
Singular (art. 16.º CPP).
Nas comarcas em que não existam outros Juízos de Competência Especializada Criminal,
poderão ser criados Juízos de Média Instância Criminal, adotando a designação de:
- Juízos de Instância Criminal e tendo competência residual – art. 132.º/1, al. b) e 2 LOFTJ.
Poderão também ser criados Juízos de Competência Especializada Mista (em matéria cível e
criminal) assumindo idênticas designações e competências (art. 127.º LOFTJ):
 Juízos de Grande Instância Cível e Criminal;
 Juízos de Média Instância Criminal; e
 Juízos de Pequena Instância Criminal.
No remanescente, mantém-se o esquema anterior.

Caso prático n.º 1


A, B e C evadiram-se do Estabelecimento Prisional de Alcoentre. Durante a fuga, na
Roliça, A, B e C aproveitaram a “oportunidade” para, em conjugação de esforços, matar o
guarda prisional (D) daquele Estabelecimento com quem tinham uma “longa história em
comum”. D foi assistido no local, contudo veio a falecer poucos dias depois no Hospital de
Santa Maria (em Lisboa) para onde tinha sido transferido.
Admitindo que A, B e C foram, de seguida, detidos na Foz do Arelho, e posteriormente
foram acusados da prática do crime de evasão (p. e p. no art. 352.º/1 CP), em autorias
paralelas, bem como da prática (como co-autores) do crime de homicídio (p e p. no art.
131.º CP), qual o tribunal material, funcional e territorialmente competente para o
julgamento do(s) respetivo(s) processo(s)?
Quanto ao crime de evasão (art. 352.º/1 CP) – praticado por A, B e C (em autorias paralelas):
A jurisdição está atribuída aos tribunais portugueses (arts. 202.º e 211.º CRP; art. 8.º CPP e
art.1.º LOFTJ).

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Segundo os critérios de competência funcional (determinação do tribunal competente em função


das fase processual em que o processo se encontre), seria competente, para o julgamento, o
tribunal judicial de 1ª instância (a contrario sensu dos arts. 11.º, 12.º CPP e 33.º-37.º; 55.º e 56.º
LOFTJ).
No que concerne à competência material (determinação do tribunal competente em função das
qualidades de certos agentes, das matérias específicas, ou dos tipos de crimes e respetivas
penas), dever-se-ia aplicar o critério qualitativo em função do tipo de crime (contra a autoridade
pública) integrando o catálogo do art. 16.º/2, al. a) pelo que seria competente o tribunal singular.
Acrescento segundo Código Anotado de Processo Penal por PPA:
O tribunal singular tem uma competência abstrata própria ou residual e uma competência
determinada de modo concreto. A competência abstrata própria está fixada no n.º 2 do art. 16.º e
inclui os crimes contra a autoridade pública e os crimes puníveis com pena igual ou inferior a 5
anos de prisão A reserva da competência do tribunal singular relativamente aos crimes contra a
autoridade pública é de ordem material, atinente à natureza destes crimes e, portanto,
independentemente da moldura dos crimes em causa. Esta reserva tem 3 consequências:
 O tribunal singular pode aplicar pena superior a 5 anos de prisão a um crime contra a
autoridade pública, por ex., aos crimes de auxílio de funcionário a evasão ou de motim
de preso;
 O tribunal singular pode aplicar pena até 25 anos de prisão, quando se tratar de
concurso de crimes contra a autoridade pública;
 O tribunal singular só pode julgar o concurso de crimes contra a autoridade pública e de
crimes de outra natureza quando a moldura abstrata do concurso for igual ou inferior a 5
anos de prisão.
Por último, quando aos critérios de competência territorial, por exclusão dos critérios especiais
(arts. 20.º-23.º), dever-se-ia aplicar a regra geral do art. 19.º, nomeadamente do seu n.º 1: seria
competente o tribunal da área da consumação: Alcoentre – comarca do cartaxo. Dever-se-ia
discutir a eventual aplicação do n.º 3 do art. 19.º. Contudo, como o crime de evasão não é um
crime duradouro, não parece ser aplicável o n.º 3 do art. 19.º. Acresce que a maior proximidade
de prova é oferecida pela área do estabelecimento prisional do qual os presos se evadiram –
local da consumação.
Em conclusão, seria competente para o julgamento o Tribunal Judicial de 1ª Instância da
comarca do Cartaxo que, de acordo com os mapas anexos ao Regulamento da LOFTJ (DL n.º
186-A/99, de 31 de maio), apenas tem 2 juízos – art. 100.º LOFTJ – pelo que seria competente o
Juízo (Criminal) da comarca do Cartaxo.
A competência supra determinada seria válida para cada processo organizado no âmbito do
crime de evasão, ou seja, a competência seria a mesma para os 3 processos correspondentes aos
3 crimes de evasão.
Deste modo, haveria que determinar se haveria competência por conexão. Existem (ou
poderiam existir) 3 processos distintos embora não exista pluralidade de tribunais competentes
(uma vez que o tribunal competente para cada processo seria o mesmo). Poderia haver uma
mera apensação de processos? Ou seria necessário aplicar os critérios de competência por
conexão? Neste caso, seria possível integrar lacunas por analogia com as situações típicas de
conexão? A competência por conexão é um critério autónomo de competência ou uma
derrogação das regras gerais de competência? Se for derrogação, admite a integração de lacunas
por analogia com as situações típicas de conexão?

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Parece, ainda assim, admitir-se a apensação (art. 29.º) dos 3 processos relativos ao crime de
evasão, com as demais consequências (nomeadamente a prevista no art. 31.º).
Acrescento segundo Código Anotado de Processo Penal por PPA:
A conexão processual supõe a existência de uma pluralidade de processos e uma pluralidade de
tribunais competentes para os conhecer de acordo com as regras gerais de competência
territorial, material e funcional.
A conexão pode ser subjetiva ou objetiva:
Subjetiva: depende da existência de um só autor;
Objetiva: depende da existência de um só crime ou de um determinado nexo entre vários
crimes.
A conexão objetiva de processos facilita a produção da prova e a descoberta da verdade
material. Favorecimento da economia processual, mas põem em causa as regras gerais da
competência funcional, material e territorial (art. 27.º).
Por isso, a disposição é taxativa e excecional e não admite aplicação analógica (Acórdão Coeme
e Outros v. Bélgica, de 22.06.2000) e, apontando no sentido da verificação de uma “situação de
exceção em relação ao regime-regra”, Simas Santos e Leal Henriques. Contra: Lobo
Moutinho.
PPA: parece, contudo, excessiva a imposição de uma interpretação restritiva do preceito, nos
termos previstos no ponto II.2 da Diretiva do PGR n.º 1/2008, mas abandonado no ponto III.2
da Circular n.º 4/2010.
Art. 24.º, al. d): a comparticipação para os efeitos do art. 24.º inclui a co-autoria, a instigação e
a cumplicidade, mas não a autoria paralela. Os casos de autoria paralela devem ser tratados
segundo os critérios objetivos de conexão da al. d), designadamente no caso de nexo de
contemporaneidade entre os crimes.
4 requisitos para a competência por conexão:
 Pluralidade de processos;
 Pluralidade de tribunais competentes (é isto que falha no caso);
 Verificação de uma situação típica de conexão (no caso, art. 24.º, al. d), respeitando-
se os limites à conexão, art. 26.º).
 Tramitação concomitante – art. 24.º/2.
Contudo, se não houver pluralidade de tribunais competentes e se verificarem os demais
requisitos, haverá apensação (art. 29.º), sem necessidade de determinar a competência por
conexão.
O funcionamento da conexão entre processos pendentes em diferentes tribunais ou diferentes
secções do mesmo tribunal determina a apensação dos diferentes processos. Em bom rigor, o
art. 24.º não se aplica a este caso (Acórdão TRL, de 16-05.1989) = PPA. Criticamente, Lobo
Moutinho, que considera a disposição aplicável na medida em que constitui um critério
autónomo de competência e não uma extensão de competência.

Quanto ao crime de homicídio (art. 131.º CP) praticado, em co-autoria, por A, B e c:


A resposta anterior seria integralmente válida, com as seguintes exceções:

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 No que concerne à competência material, o tribunal competente seria o tribunal


coletivo, uma vez que se aplicaria o critério qualitativo previsto no art. 14.º/2, al. a): o
crime de homicídio (art. 131.º CP) é necessariamente doloso e a morte de uma pessoa
integra os elementos do tipo objetivo de ilícito respetivo, prevalecendo o critério
qualitativo sobre os critérios quantitativos.
Acrescento segundo Código Anotado de Processo Penal por PPA:
O tribunal coletivo é composto por 3 juízes togados. O tribunal coletivo tem competência para
julgar os crimes dolosos ou agravados pelo resultado, quando for elemento do tipo a morte de
uma pessoa, mesmo que esse crime seja punível com pena igual ou inferior a 5 anos de prisão.
De outro modo, a al. a) do n.º 2 do art. 14.º seria desprovida de conteúdo útil em face da al. b).
 Relativamente à competência territorial, por exclusão dos critérios especiais (arts. 20.º a
23.º) dever-se-ia aplicar a regra geral do art. 19.º nomeadamente do seu n.º 2, dado que
a morte de uma pessoa é elemento do tipo e o tribunal da área onde os agentes atuaram
estará mais próximo da prova. Seria assim competente o tribunal da área da Roliça –
correspondente à comarca do Bombarral.
Acrescento segundo Código Anotado de Processo Penal por PPA:
A revisão do CPP estabeleceu uma exceção ao critério do art. 19.º/1 no crime de homicídio vale
o critério do local onde o agente atuou ou deveria ter atuado. A justificação dada é a de que pode
haver uma dilação considerável entre os 2 momentos. Esta justificação poderia ainda ser
invocada para os crimes de infanticídio e de aborto, que não foram, no entanto, incluídos na
exceção.
 Em conclusão, seria competente para o julgamento, o tribunal judicial de 1ª instância da
comarca do Bombarral, que de acordo com os mapas anexos ao Reg. da LOFTJ (DL n.º
186-A/99, de 31 de Maio), apenas tem um juízo – art. 100.º LOFTJ – pelo que seria
competente o tribunal de comarca (de competência genérica) do Bombarral que julgaria
em coletivo.
 A competência supra determinada seria válida para cada processo organizado no âmbito
do crime de homicídio, ou seja, a competência seria a mesma para os 3 processos
relativos àquele crime praticado por A, B e C;
 De igual modo, haveria ainda que determinar se haveria competência por conexão.
Existem (ou poderiam existir) 3 processos distintos embora não exista pluralidade de
tribunais competentes (uma vez que o tribunal competente para cada processo seria o
mesmo). Remete-se para a discussão supra referida (quanto ao crime de evasão).
Parece, ainda assim, admitir-se a apensação (art. 29.º) dos 3 processos relativos ao
crime de evasão, com as demais consequências (nomeadamente a prevista no art. 31.º).
Haveria conexão entre os processos relativos ao crime de evasão e aos processos relativos ao
crime de homicídio? E havendo conexão, qual o tribunal competente?
Dever-se-ia discutir a admissibilidade de organização de um único processo para conhecer de
todos os factos. Tal depende da aceitação da conexão entre todos os processos.
 Os requisitos de conexão estão verificados:
- Há pluralidade de processos (real ou hipotética);
- Há pluralidade de tribunais competentes (recorde-se: num processo seria o tribunal singular da
comarca do cartaxo e noutro processo seria competente o tribunal coletivo da comarca do
Bombarral);

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- Verifica-se de igual modo uma situação típica de conexão (arts. 24.º e 25.º CPP,
nomeadamente a prevista no art. 24.º/1, al. d)), respeitando-se os limites à conexão (art. 26.º
CPP);
- Pressupõe-se que exista tramitação concomitante – art. 24.º/2 CPP.
A este propósito dever-se-ia ainda discutir a aplicação do art. 24.º/1, al. d): efetivamente,
embora seja discutível, deverá exigir-se sempre a comparticipação como elemento comum ao
funcionamento daquela alínea (e o mesmo valendo para a 1ª parte da al. b) do mesmo preceito).
No caso em apreço, acresce que, aparentemente, o crime de homicídio foi praticado na mesma
ocasião (unidade temporal).
Por último, poder-se-ia ainda discutir se o facto de o crime de evasão constar do catálogo do art.
16.º/2, al. a) obsta à conexão. Haverá limites absolutos ou reservas absolutas de competência do
tribunal singular? Embora controvertida, a resposta parece ser negativa. Na verdade, nenhum
critério de competência (mesmo qualitativo) é absoluto e todas as vantagens da conexão
justificam-se nesta hipótese (prevenção de contradição de casos julgados, apreciação conjunta
da prova, economia processual, etc). Acresce que, por esta via, se assegura o julgamento num
tribunal coletivo (no que só pode constituir um plus e não um minus a todos os níveis). Não
procedem de igual modo os óbices com o facto de se ocupar um tribunal coletivo quando
poderia ser competente um tribunal singular. Na verdade, só um tribunal coletivo será
competente para o julgamento do homicídio. O que significa que o Coletivo não será, de modo
algum, poupado. A conexão neste tipo de processos não cria qualquer “mega-processo”, que se
deve evitar (Diretiva n.º 1/2008, publicada no DR, II Série, n.º 34, de 18 de fevereiro).
 Admitindo-se a conexão, haveria que determinar qual o tribunal competente para julgar
“todos os processos” apensados (art. 29.º) visto que nesta hipótese temos
inequivocamente pluralidade de tribunais competentes. Haveria que recorrer aos arts.
27.º e 28.º. Nos termos do art. 27.º CPP, seria competente, material e funcionalmente, o
tribunal coletivo (tribunal de espécie mais elevada). Mas territorialmente qual? A
resposta depende da posição que se adote sobre a natureza da competência por conexão,
nomeadamente: saber se a mesma se fundamenta numa visão derrogativa da
competência ou se a conexão é um critério autónomo de competência. Ver José Lobo
Moutinho.
Caso se adote uma visão derrogativa isso significa que o art. 27.º CPP escolheria um dos
tribunais potencialmente competentes, quer material, quer territorialmente competente. Ou seja,
o art. 27.º funcionaria como regra de resolução de conflitos. Neste caso, seria competente o
tribunal coletivo da comarca do Bombarral – espécie mais elevada.
Caso se defenda a conexão como critério autónomo de competência (como o CPP parece
apontar), o art. 27.º apenas afere a competência material e funcional (no caso, seria sempre o
coletivo) e o art. 28.º a competência territorial (no caso, seria igualmente competente o tribunal
coletivo da comarca do Bombarral – tribunal competente para conhecer do crime com pena
mais grave, art. 28.º, al. a)). Porventura, esta será a solução mais compatível com a sistemática
do próprio CPP.
Adotando a mesma posição Teresa Beleza e Costa Pinto.
No caso em análise, a aplicação isolada do art. 27.º ou a sua conjugação com o art. 28.º não teria
qualquer diferença em relação ao resultado concreto. Contudo, nem sempre será assim. Por ex.,
se ao invés de um crime de evasão estivéssemos perante um crime de motim de presos (art.
354.º CP) e o homicídio fosse privilegiado (art. 133.º CP), o tribunal competente, segundo a

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cumulação dos arts. 27.º e 28.º, seria um terceiro tribunal (distinto dos dois tribunais
originariamente competentes para cada processo.

Livro de Lobo Moutinho:


Visão derrogativa: confere prevalência às regras que previam o tribunal competente para cada
crime, com a consequente perspetivação das regras de competência por conexão em função
daquelas. Degrada a competência por conexão a algo que, para lograr justificar-se, impunha
uma condescendência por parte da ordem jurídico-processual, tanto mais que, tinha a
especialíssima caraterística de ser ela própria obrigatória ou facultativa, consoante a lei
processual previsse a faculdade de separar ou não os processos.
Critério autónomo da competência: A conexão era um critério de atribuição de competência, em
nada diferente da matéria, do território ou da função. Tinha de funcionar automaticamente.
Em qualquer uma das construções, as restantes regras são as regras de competência por
excelência, as regras da competência na sua configuração jurídica normal. Só que, num caso, as
regras ditas de competência são postas em relação àquelas como derrogação/desvios e no outro
são reconduzidas a elas mediante a transposição para o seu seio das caraterísticas que se julga
identificar também nas outras.
Opinião de Lobo Moutinho:
Competência por conexão, não como derrogação, mas como critério autónomo de
competência, pois nada impede ao legislador ordinário de estabelecer os critérios de
competência que entender. Se a lei ordinária previsse um sistema em virtude do qual, no caso
de pluralidade de crimes, o critério de competência por conexão se tornasse inoperante, seja no
sentido absoluto, deixando separados os processos por cada crime, seja no sentido relativo,
consentindo que conheça de todos um tribunal diverso do previsto, estar-se-ia perante outras
tantas hipóteses de competência alternativa que, a não ser justificada por outro princípio
constitucional e a não reafirmar o da naturalidade, estariam em contraste com este.
E não se diga que isto representa um excessivo automatismo na operatividade deste
critério de competência, pois um tal automatismo é imposto pela constituição ao consagrar
o direito à naturalidade do juiz que, a não ser assim, se esvaziaria.

Aula prática:
Casos para resolver na próxima aula:
Caso n.º 1- chegado a julgamento, na qualidade de defensores descobrimos que o assistente é
padrinho de casamento do juiz.
Caso n.º 2 – na qualidade de defensores pedimos para ditar um requerimento para a ata e o juiz
diz “faça silêncio vá queixar-se ao TOTTA”.
Caso n.º 3 – na sequência de uma violação, o perito que realizará ADN nomeado pelo tribunal, é
pai da vítima.

Suicídio – dúvida: se nós podemos submeter. Qual o tribunal competente para decidir um caso
de baleia azul?

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Aula Complementar
Organização do tribunal:
O arguido fica no meio e vai estar um juiz ou 3 consoante seja um tribunal singular ou coletivo.
Do outro lado fica o procurador do MP. Os advogados do assistente estão ao lado do MP e os
advogados do arguido ficam do outro lado.
O MP partilha o mesmo espaço que os juízes. Não há uma verdadeira separação, trabalham lado
a lado. Especialmente em comarcas mais pequenas, o advogado entra a perder 1-0 por este
facto. O mais racional será contratar um advogado da Comarca mais pequena pois o mesmo
também vai conhecer o juiz.
A primeira pessoa que vai falar é o arguido. O juiz pergunta-lhe um conjunto de informações às
quais ele é obrigado a responder: informações pessoais, rendimentos (para efeitos de uma
possível condenação) e pergunta se quer ou não prestar declarações. O arguido poderá dizer que
não quer, quer, ou não quer já. O arguido pode falar em qualquer altura do processo. Se o
arguido pede para prestar informações no final geralmente a valoração das informações é
inferior, porque o arguido prestou informação a todo o processo. Quando fala no fim, há juízes
que dizem exatamente isto.
As testemunhas no início do julgamento são enviadas todas para uma sala. Vão sendo chamadas
à medida que o tribunal precise delas.
Início do Inquérito:
Caso em que o inquérito foi começado com uma apreensão: despiram o arguido, num contexto
de uma tentativa de homicídio. Tentou esfaquear a mulher do pai, ele foi imediatamente detido e
nesse contexto foram as peças de roupa apreendidas, foi a apreensão validada, foi constituído
arguido. Despacho do MP a promover a prisão preventiva.
Auto de interrogatório do arguido: lavrado no processo, o arguido é colocado perante o juiz
de instrução pela primeira vez. O juiz de instrução recebe o despacho do procurador que
promove a aplicação de medida de coação mais grave. O juiz de instrução interroga o arguido.
Lê-se os factos ao arguido, ouve os factos que estão narrados no despacho do MP e pergunta-se
se quer ou não prestar declarações. Antigamente as declarações em fase de inquérito não podiam
ser usadas para julgamento; com a reforma de 2013, se o arguido prestar informações
acompanhado de advogado, as suas declarações podem ser utilizadas no julgamento, não podem
é ser usadas como confissão (podendo apenas ser valoradas).
O arguido estava a tentar fugir do local, não conhece a gravidade do crime; há um perigo de
fuga. Justifica-se a aplicação de medida de coação de prisão preventiva. É preciso verificar se
esta medida é a absolutamente necessária? Não existindo qualquer outra medida, conclui o
tribunal sujeitar o arguido à prisão preventiva.

Detenção em flagrante delito: uma das formas de começar o processo.

Auto de notícia: segunda forma de começar. Não há necessidade de ser detido, sabe que se
pode apresentar em tribunal mais tarde. Será notificado para estar presente em tribunal.

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Queixa-crime: terceira forma. O incumprimento contratual tem de ir para uma ação cível, e por
isso há quem recorra para outras vias tentando a burla.
O MP recebe a queixa; abre inquérito; notifica os ofendidos para prestar declarações. Depois
tenta-se notificar o arguido que naturalmente está fugido e não se consegue notificar e o MP
deduz acusação. Foi constituído arguido pela acusação e fica imediatamente arguido. Ainda não
foi notificado, não há prazos a correr. A abertura de instrução constitui o arguido, mas não há
prazos a correr porque não prestou morada.

Primeiro ato processual: o MP a dirigir ao chefe da GNR em que comunica, por despacho que
é delegada competência. Recebeu a denúncia e a polícia terá de investigar.
Constituição de arguido: se alguém é chamado à polícia e é constituído arguido dizem que nos
termos do art. 113.º, al. c) tem de indicar o seu endereço, comunicam os direitos e deveres
processuais. É uma mera transcrição do que está na lei. Nos termos do art. 196.º fica sujeito a
arguido e a obrigar-se a não mudar de residência. As notificações serão feitas por via postal para
essa residência.
Os advogados podem inscrever-se no patrocínio oficioso; quem escolhe tem a consequência de
receber notificações do tribunal: nomeações para processo (ex., a pessoa não tem advogado e
essa pessoa é obrigada a apresentar-se com advogado – o advogado não pode recusar); segunda
opção: inscrever em escalas – são notificados para estarem das 9h à 13h e estão a trabalhar para
casos destes. O arguido não tem advogado ou não está apresentado, diz-se a um desses
advogados para virem defender. O juiz dá o período de 10 minutos para o advogado perceber os
fundamentos da sua defesa; na generalidade diz “peço justiça”; noutros casos defende o arguido,
mesmo que não esteja presente.
Imagine-se que o ofendido quer ser constituído assistente. Faz-se um requerimento dizendo-se
que: “eu sou ofendido e pretendo a minha constituição de assistente”. Quem assina é o
advogado em representação do arguido. Dirige-se ao juiz de instrução criminal. O cabeçalho diz
a morada do processo físico. O MP tem o processo com ele, recebe a constituição de assistente e
envia para o juiz de instrução criminal que admitirá a constituição de assistente ou não.
Junto o DUC. Poder-se-ia juntar procuração ou não. Se é a primeira vez que o advogado
intervém tem de juntar procuração.
Na sequência da pessoa se constituir assistente, é notificada pelo tribunal.
O mandato de busca e apreensão pode ser feito pelo MP exceto se for busca em escritório de
advogados ou busca domiciliária.

Prisão preventiva: o principal fundamento para a prisão preventiva era ser consumidor de
droga, o que o tornava mais propício a venda da mesma. O requerimento foi que o principal
fundamento já não existe porque ele na prisão deixou de consumir.
Despacho de encerramento de inquérito: caso em que havia um crime particular e um crime
semi público.
Acusação subordinada: o assistente adere à acusação do MP, adere aos meios de prova da
acusação.

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Crime Particular:
Notificações do MP que dirige ao ofendido.
Constituição de assistente e o tribunal analisa a constituição de assistente.
Constituição de arguido – a polícia pode constituir arguido mas isso tem de ser validado pelo
MP.
Acusação particular: descrevem-se os factos. Art. 283.º
O MP não tem de intervir aqui.

Instrução:
20 dias para requerer instrução. Envia-se o processo para o DIAP.
Caso do advogado que foi constituído arguido de falsificação de documentos, quando ele não
fazia ideia do que estava em causa.
Realiza-se uma narração dos factos. Um conjunto de argumentos para dizer que a decisão está
errada, não existindo indícios que o arguido sabia que estava a entregar documentos falsos.
Direito: não se preenche o tipo objetivo. A acusação estava errada porque parte de algo que não
existe. A questão de direito vem depois. No fim conclui-se deve ser proferido despacho de não
pronúncia.
Cópias legais: documentos.
Depois abre-se instrução e o procurador recebe e diz que remete e envia para o tribunal de
instrução para ser decidido em qual juiz vai calhar.
O tribunal recebe e diz que é tempestiva, ou seja, foi apresentada desde os 20 dias. Declara
aberta a instrução. Reclamou-se do despacho afirmando-se que ela não prestou declarações no
inquérito. Fica notificado para o conteúdo do despacho de acusação.
Depois tem se uma decisão instrutória. Um dos argumentos do arguido era dizer que não era
responsável pelo crime, mas sim a empresa. O que é absurdo.

Julgamento
O tribunal de instrução criminal envia o processo para o tribunal de julgamento. Normalmente
até pode ser no mesmo edifício. Então é notificado as partes art. 315.º CP. Despacho que
designaria para audiência. É a partir daqui que pode realizar o arguido a contestação e
apresentar rol de testemunhas que pode apresentar ou não.
Nenhuma consequência se extrai para ele se não o fizer.
O tribunal profere o despacho. Este despacho vai ser notificado ao arguido juntamente com a
acusação. O arguido pode deduzir uma contestação. Dirige a contestação ao juiz.
Lado esquerdo: assistente:
Lado direito: advogados do arguido.
Centro: esquerda MP; direita juiz.

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Meio: arguido
Em cada julgamento tem de existir uma ata de audiência. Como é gravado, não tem tudo
resumido transcrito. O tribunal descreve resumidamente o que aconteceu, os presentes, a data e
a hora. O tribunal procede ao chamamento das pessoas, é declarada a audiência.
O CPP prevê a possibilidade de as partes fazerem declarações introdutórias, o que normalmente
não acontece.
O despacho fica gravado. O despacho é oral.
Informa-se o arguido que é obrigado a responder com a verdade.
Chama-se o arguido e pergunta-se se quer falar.
Depois é ouvido o assistente.
O mandatário do arguido requer uma alteração não substancial dos factos.
Motivação da decisão de facto: o tribunal diz porque determinados factos foram provados e
outros não.
Medida concreta da pena:

Casos para resolver ditados pelo Professor (Competência):


Caso n.º 1:
Chegado a julgamento, na qualidade de defensores descobrimos que o assistente é
padrinho de casamento do juiz.
A imparcialidade do juiz deve ser garantida a todo o custo. Por isso, o juiz é impedido de julgar
se tiver uma relação de parentesco ou outro tipo de proximidade com alguns dos participantes
processuais (art. 39.º e 40.º). As situações de impedimento do juiz são reguladas taxativamente e
não podem, portanto, ser aplicadas por analogia. Os impedimentos devem ser declarados
oficiosamente (art. 41.º/1), embora a declaração também possa ser requerida pelo MP, pelo
arguido, pelo assistente ou pela parte civil (art. 41.º/1).
Como a situação não se encontra nas alíneas do art. 39.º e sendo este taxativo não existe
qualquer tipo de impedimento do juiz julgar o processo.
Caso da vida real:
Isaltino Morais, antigo presidente da Câmara de Oeiras, foi notificado pelo tribunal de que as
listas eleitorais entregues não cumpriam os requisitos legais, o que pode comprometer a sua
candidatura às eleições deste ano. Isaltino questionou a imparcialidade do juiz Nuno Cardoso.
Paulo Vistas é padrinho de casamento do juiz que chumbou Isaltino Morais. O ex-presidente da
Câmara continua com as acusações que põem em causa a imparcialidade do magistrado Nuno
Tomás Cardoso. Uma denúncia que levou o Conselho Superior da Magistratura a abrir um
inquérito ao magistrado para “cabal apuramento da situação”.
Conselho da Magistratura abre processo disciplinar a juiz que chumbou Isaltino Morais.
Art. 39.º - taxativo?
Acórdão TRC de 22.10.2008 afirma que sim.

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Acórdão TRC, de 15-12-2016:


Henrique Gaspar, in Código de Processo Penal, Comentado: a norma do art. 39.º não prevê
com completude as situações de impedimento do juiz; a finalidade dos impedimentos como
modo de garantia da imparcialidade subjetiva exige que outras situações relacionadas devam ter
o mesmo efeito, por revelarem os mesmos riscos no plano pessoal e nas perceções externas
sobre a imparcialidade do juiz, que nesta parte deve ser subsidiariamente aplicável.
De acordo com o Acórdão STJ, de 07-07-2010: o regime de impedimentos do processo penal
previsto nos arts. 39.º e 40.º, para além de específico, é de enumeração taxativa. Não contém
lacunas que devam ser integradas por analogia. Por tal motivo, não é lícito recorrer ao CPP, ex
vi do art. 4.º CPP, para integração do pretenso caso omisso.
A doutrina e a jurisprudência dos nossos tribunais não tem sido consensual neste domínio,
prevalecendo, contudo, a defesa do elenco taxativo do art. 39.º CPP.
 Defendem o elenco taxativo: Maia Gonçalves; Paulo Pinto de Albuquerque; Simas
Santo e Leal Henriques; Também em Despacho de 02-03-2011, do Presidente da 4ª
Secção (Criminal) da Relação de Coimbra, não publicado; Acórdão STJ de 19-05-2010.
 Defendem um elenco incompleto: António Henriques Gaspar; Acórdãos da Relação de
Coimbra de 21-03-2007 e 13-10-2010 e do STJ de 08-01-2015.
Neste último aresto: “se no âmbito do processo civil foram considerados diversos motivos de
impedimentos dos juízes, como os constantes do art. 115.º CPC, não se vê como não devam
também ser como tal entendidos no âmbito do processo penal. Na verdade, seria absurdo, por
ex., considerar que no âmbito do processo civil o juiz esteja impedido de exercer funções
quando tenha intervindo na causa como mandatário judicial e o seu cônjuge ou algum seu
parente ou afim na linha reta ou no 2º grau da linha colateral (art. 115.º/1, al. d) CPC) e, todavia,
já concluamos que não está impedido de exercer funções se se tratar de uma ação penal.
Este acórdão considerou que não poderá deixar de ser esta última interpretação mais
consentânea com os princípios, constitucionalmente consagrados, orientadores do direito penal
moderno, decorrentes do Estado de Direito Democrático, com prevalência para a defesa dos
direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.
Constituindo os impedimentos um amplexo de situações em que o juiz fica impossibilitado de
intervir num processo, visando garantir as condições contextuais de imparcialidade do juiz,
como condição estatutária, funcional e pessoal essencial ao exercício da função jurisdicional,
afastando a participação do julgador nos casos em que circunstâncias pessoais ou objetivas
sejam adequadas a gerar fundadas dúvidas sobre a existência de condições para a afirmação e
para a perceção externa da sua imparcialidade, e sendo também certo que, por força dos ditos
princípios estruturantes do processo penal, a necessidade de confiança comunitária dos juízes é
mais intensa em processo penal do que em processo civil, redundaria em patente incongruência
o afastamento de qualquer uma das circunstâncias de impedimento também previstas na lei
adjetiva civil.
É normal que tenhamos de ser mais exigentes no processo penal do que somos no processo
civil. O processo penal criou situações específicas para o processo penal naquilo que for omisso
vamos para o art. 4.º. Tutela-se mais a imparcialidade nos casos menos graves do que nos mais
graves.
O Acórdão decide neste sentido.
Acórdão TR 2005

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Os arts. 39º e 40º do Código Processo Penal enumeram os factos determinativos do


impedimento do juiz, enquanto no art. 43º (recusas e escusas) se optou por uma fórmula mais
abrangente de molde a abarcar todos os motivos, sérios e graves, que sejam adequados a gerar
desconfiança sobre a imparcialidade do juiz. Assim, servem os casos dos arts. 126º/1 e 127º do
Código Processo Civil de meros exemplos.
Nestes termos, a primeira condição para escusa será o motivo, que se exige sério, grave e
adequado a gerar desconfiança – art. 43º/1/4 do Código Processo Penal.
A primeira reflexão será pois sobre o motivo.
Na densificação normativa do conceito motivo incluir-se-á tanto o que explica a acção (motivo
propriamente dito, o que faz mover), como o móbil (a expressão da acção).
Com efeito,
o motivo implica um conjunto da factores conscientes e inconscientes (pressupondo elementos
pessoais e sociais) que determinam a conduta numa situação, que levam a empreender uma
acção deliberada:; o motivo pressupõe o motu, a capacidade de determinação do agente; o
móbil por seu turno, refere-se á capacidade de resposta a uma situação que se apresenta ao
agente.
Cavaleiro Ferreira ( Curso ..., 1981, I, 236 e ss) realça que se quer significar haver a
possibilidade de estabelecer uma ligação entre um interesse pessoal do juiz e o processo, ou as
pessoas que nele intervêm.
Os motivos da imparcialidade geradora de escusa encontrar-se-ão em razões de ordem
subjectiva, por um lado, na medida em que estes obnubilem as capacidades de raciocínio,
discernimento e lucidez, mas também em razões objectivas, que se revelam quer numa
impossibilidade para tomar decisão quer na existência de um preconceito limitativo da
liberdade de querer.
Os mobiles são também geradores de imparcialidade quando os factos colocados perante o
julgador o lançam em situações pré - vividas que debelam a sua capacidade de dar resposta
intelectualmente livre.

Mas o motivo tem de ser sério e grave; sério no sentido de que é ponderoso, cuja verificação
não se coaduna com a leviandade de um juízo; grave porque tem peso apreciável na
formulação do juízo.

Exige ainda a lei que se estabeleça um nexo de adequação entre o motivo e a desconfiança
sobre a imparcialidade. Significa que o motivo tem de ser apto para gerar a desconfiança, não
valendo a verificação de um motivo para que releve para fundamentar a escusa.
O motivo tem de ser adequado a gerar desconfiança sobre a liberdade intelectual do juiz,
servindo de critério para se aferir dessa adequação, a representação de que um cidadão
médio, representativo da comunidade, pode, pelos factos invocados, suspeitar que o juiz deixe
de ser imparcial, e o prejudique ou favoreça qualquer dos intervenientes.

Os fundamentos da escusa encontram-se, de jure condendo (cfr. Cavaleiro Ferreira, Curso...,


1983, I, 237 e ss), na confiança pública na imparcialidade do juiz, confiança esta que, no limite,
pode abranger a própria aparência de parcialidade, no sentido de que, muitas vezes, não
importa que o juiz permaneça imparcial, mas alcança sobretudo as situações em que possa ser
reputado de parcial.

É sempre louvável que o juiz faça transparecer para o processo todas as situações que possam
desenhar uma invocação de parcialidade, pois, desde logo, revela o desprendido do julgador, a

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liberdade para que a sua conduta possa ser claramente avaliada. Não se trata de confessar
uma fraqueza ou impossibilidade de vencer ou recalcar questões pessoais ... mas de admitir ou
não admitir o risco do não reconhecimento público da sua imparcialidade ... (Cavaleiro Ferreira,
ob. cit. 237.

Caso n.º 2:
Na qualidade de defensores pedimos para ditar um requerimento para a ata e o juiz diz
“faça silêncio vá queixar-se ao TOTTA”.
Para além das situações de impedimento, o juiz pode ser recusado por suspeição. A lei não
exemplifica os motivos de suspeição, mas usa simplesmente o conceito indeterminado de
“motivo sério e grave, adequado a gerar desconfiança sobre a sua imparcialidade” (art. 43.º/1).
Várias razões são invocadas.
Por ex., o juiz, durante a audiência de julgamento, profere contra o defensor a seguinte
afirmação: “pergunto-me onde terá V. Exa., feito a sua licenciatura em Direito!”. Neste caso, a
declaração contra o defensor é suficientemente ofensiva para constituir fundamento de recusa
do juiz, pois o arguido teria razões para temer que essa declaração também o afetaria,
influenciando a decisão sobre a sua culpabilidade e a pena que lhe seria aplicada.
A declaração de suspeição poderá ser requerida pelo MP, pelo arguido, pelo assistente ou pelas
partes civis (art. 43.º/2). O juiz não pode declarar-se voluntariamente suspeito, mas poderá pedir
escusa (art. 43.º/4).
Acórdão TRL, de 02-11-2017: O n.º 1 do art. 43.º CPP determina que a intervenção de um juiz
no processo pode ser recusada quando correr o risco de ser considerada suspeita, por existir
motivo sério e grave, adequado a gerar desconfiança sobre a sua imparcialidade. Se não for
contestada a imparcialidade pessoal dos juízes nem indicados com precisão factos verificáveis
que autorizem a dela suspeitar, não é caso de pedido de escusa ou de recusa, pois que a
imparcialidade do tribunal é uma exigência que resulta da CRP e direito a que uma causa seja
decidida por um tribunal imparcial está expressamente consagrado na Convenção Europeia dos
Direitos do Homem (art. 62.º/1).
No incidente de recusa de juiz, é imperativo cruzar a matéria de facto, ou seja, estabelecer os
factos invocados como fundamento da recusa, com a matéria de direito, que consiste na
qualificação daqueles factos como estando investidos de um motivo sério, grave e adequado a
gerar desconfiança sobre a intervenção do juiz no processo.
Não basta um puro convencimento subjetivo por parte de um dos sujeitos processuais ou do
próprio juiz para que tenhamos por verificada a suspeição. E também não basta a constatação de
qualquer motivo gerador de desconfiança sobre a imparcialidade do juiz, sendo necessário que o
motivo seja grave e sério.
Acórdão STJ, de 22-01-2013:
As suspeições arrancam de uma particular posição do julgador ante a causa, que pode
comprometer a postura de independência e de imparcialidade, nos termos do art. 41.º/1 e 2 CPP,
desde que se perfile o concreto risco de verificação de motivo sério e grave adequado a gerar a
desconfiança sobre a sua imparcialidade, não podem ser declaradas voluntariamente, antes ser
requeridas pelo julgador ao tribunal competente, se não o tiver feito o MP, o arguido, assistente
ou partes civis (n.ºs 3 e 4 do art. 43.º CP).

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Na minha opinião, haveria aqui uma clara situação de suspeição do juiz, aplicando-se o art. 43.º
CPP.
Critérios:
MFP: não concorda com o critério do homem médio.
Tribunal Europeu dos Direitos Humanos: ver os critérios.

Caso n.º 3:
Na sequência de uma violação, o perito que realizará ADN nomeado pelo tribunal, é pai da
vítima.
De acordo com o art. 47.º/1 CPP: as disposições do presente capítulo são aplicáveis, com as
adaptações necessárias, nomeadamente as constantes dos números seguintes, aos peritos (…).
Neste caso haveria assim uma situação de impedimento por aplicabilidade do art. 39.º, al. b)
CPP.
E se não tivesse qualquer relação afetiva com o filho? Não interessa.
Caso que sai com frequência nos casos.
NOTA: Regime das perícias – colocar uma nota do art. 47.º relativo ao impedimento.
O próprio perito pode requerer escusa.

CONTINUAÇÃO DOS CASOS DE COMPETÊNCIA


Caso n.º 2
O Deputado E é acusado do crime de traição à Pátria, p e p., no art. 308.º do CP (punível
com pena de 10 a 20 anos de prisão) e nos arts. 7.º e 40.º da Lei n.º 34/87, de 16 de julho
(punível com pena de 10 a 15 anos de prisão). Poderia o MP requerer a intervenção do art.
16.º/3 CPP? Poderia o arguido requerer o julgamento pelo tribunal do júri e o MP
requerer a intervenção do art. 16.º/3 CPP?
Poderia o MP requerer a intervenção do art. 16.º/3 CPP?
Considerando que a acusação se referia apenas ao crime p. e p. no art. 308.º CP (pena de 10 a 20
anos):
 Tal requerimento era inadmissível por tal crime integrar a reserva de competência do
tribunal coletivo (art. 14.º/1) ou do tribunal do júri (art. 13.º/1) – se requerido;
 Não se tratando de um caso que integre o art. 14.º/2, al. b) não era suscetível de integrar
o art. 16.º/3;
 Acresce que, em caso algum, poderia integrar-se no art. 16.º/3, um crime com uma pena
mínima superior a 5 anos (como era o caso), por violação do princípio da legalidade;
 Em conclusão: este caso seria da competência do tribunal coletivo (art. 14.º/1) ou do
tribunal do júri (art. 13.º/1) – se requerido -, pelo que o requerimento do MP deveria ser
recusado.
Considerando que a acusação se referia apenas ao crime previsto nos arts. 7.º e 40.º Lei n.º
34/87, de 16 de julho (pena de 10 a 15 anos):

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 O tribunal competente seria o coletivo nos termos do art. 14.º/2, al. b), dado que neste
caso não integra a reserva de competência do tribunal coletivo (art. 14.º/1) ou do
tribunal do júri (art. 13.º/1), sendo subsidiariamente aplicável o art. 14.º/2, al. b) em
virtude de o mínimo da pena legal ser superior a 5 anos de prisão – critério quantitativo;
 Contudo, continuava a não ser admissível o requerimento do MP para intervenção do
tribunal singular – art. 16.º/3 – dado que o crime em causa tinha o mínimo da pena
superior a 5 anos (tal situação constituiria uma clara violação do princípio da
legalidade);
 Em conclusão: também nesta situação não seria admissível o requerimento do MP de
intervenção do tribunal singular (art. 16.º/3) e seria subsidiariamente competente o
tribunal coletivo (art. 14.º/2, al. b)).
Poderia o arguido requerer o julgamento pelo tribunal do júri e o MP requerer a intervenção do
art. 16.º/3?
Considerando que a acusação se referia apenas ao crime previsto no art. 308.º CP (pena de 10 a
20 anos):
 O requerimento seria válido nos termos do art. 13.º/1 – pelo que seria competente o
tribunal do júri.
Considerando que a acusação se referia apenas ao crime previsto nos arts. 7.º e 40.º Lei n.º
34/87, de 16 de julho (pena de 10 a 15 anos):
 Nos termos expressos do art. 40.º Lei n.º 34/87, de 16 de julho, o julgamento de tal
crime não poderia ser realizado com a intervenção do tribunal do júri;
 Contudo, a resposta final depende do acerto sobre a constitucionalidade de tal regra:
 Argumentos a favor da constitucionalidade desta interpretação (exclusão da intervenção
do tribunal do júri);
Visa evitar-se o julgamento político por jurados não “togados”, não se garantindo os
princípios da imparcialidade, isenção, das garantias de defesa ou processo justo e
equitativo; e
Nos termos do art. 207.º/1 CRP: nos casos e com a composição que a lei fixar – “lei”
seria também a Lei n.º 34/87, de 16 de julho, que expressamente exclui a intervenção do
tribunal do júri.
Assim, seria inadmissível o requerimento do próprio arguido.
 Argumentos a favor da inconstitucionalidade desta interpretação (exclusão da
intervenção do tribunal do júri):
 Não há razões objetivas para diferenciar o regime previsto no art. 308.º CP (para o qual
se admite expressamente o recurso ao tribunal do júri – art. 13.º/1) do regime previsto
naquela legislação especial – note-se que em ambos os casos podemos ter como
agentes/arguidos titulares de cargos políticos e que o regime do art. 308.º CP ainda é
mais grave, pelo que a discriminação não faz sentido;
 Acresce que o risco de um julgamento político com ideias preconcebidas não é
impedimento da intervenção do júri, nomeadamente nos crimes socialmente
estigmatizantes (homicídios, em especial quando a vítima seja uma criança, crimes
sexuais, etc.). As garantias de defesa têm de ser asseguradas independentemente dos
arguidos ou dos cargos que estes ocupem;
 Por outro lado, o tribunal do júri tem um valor e legitimidade reforçados nos termos da
CRP; no art. 207.º só se exclui a intervenção nos casos de terrorismo e criminalidade
altamente organizada;

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 Por último, neste caso concreto, sendo o arguido a requerer a intervenção do tribunal do
júri, parece indicar que o mesmo não considera que as suas garantias de defesa estejam
em risco, porventura até profere esta espécie de tribunal.
Assim, concluindo-se pela inconstitucionalidade da interpretação do art. 40.º Lei n.º 34/87, de
16 de julho, seria admissível o requerimento do próprio arguido, pelo que o seu julgamento
decorreria perante aquele tribunal.
Resolução em aula prática:
Art. 16.º/3: mecanismo em que apesar de a pena abstrata enviar para um tribunal coletivo, o MP
poderá fazer um juízo e remeter para o tribunal singular. Não aplicação de uma pena superior a
5 anos.
Este mecanismo existe por questões de celeridade processual e reservar os tribunais coletivos
para casos mais complexos.
Art. 308.º CP – a competência pertence aos tribunais coletivos ou de júri. O art. 16.º/3 nunca
podia ser aplicado, porque violar-se-ia o princípio da legalidade.
Professor:
Traição à pátria: podia recorrer ao art. 16.º/3?
Art. 16.º/3 depende da verificação de um conjunto de press legais: 14.º/2, al. b) – so pode ser
utilizado para estes casos. Mas mesmo nestes casos é preciso que para além de um juízo em
concreto seja expetável uma pena inferior a 5 anos, é preciso que seja possível a aplicar.
O exercício do art. 16.º/3 é sindicável? Vamos admitir que o MP utilizou o artigo nos dois casos:
sindicância de mérito e de legalidade. Mérito: saber se se justificava em concreto, em concreto a
pena nunca chegaria a 5 anos. Isto é sindicável? Se o MP definiu que a pena não seria superior,
o tribunal não pode sindicar isso.
O Pinto de Albuquerque: ser possível sindicar o mérito sem ser o juiz a fazer: em termos
hierárquicos. O art. 16.º/3 retira a definição da pena aplicável mas fará sentido que poderá haver
recurso desta decisão, que será feita no seio do MP.
PPA diz que se eu assistente vir que o tribunal recorre ao art. 16.º/3 atribuindo ao tribunal
singular, posso reclamar hierarquicamente. Isto é possível para PPA com fundamento na
inconstitucionalidade da solução inversa.
O recurso ao 16 3 podera ser sindicável oficiosamente pelo procurador hierarquicamente
superior. Os procuradores estão orgzandos hierarquicamente, ao contrário dos juízes. Isto tem a
consequência de que na fase de inquérito em que o MP conduz a decisão, as decisões são
sindicavzeis dentro da cadeia do MP. O art. 16.º/3: o MP utilizou licitamente o 16 3 mas não
tinha razão: é legal, mas não tem fundamento no plano do mérito. Por isso a sindicância
processualmente sim está na competência dos tribunais no art. 16.º/3. A sindicância de mérito
não está. Neste caso, imagine-se que o MP não pode aplicar o art. 16.º/3, aplica e envia para o
tribunal singular.
O MP usa o art. 16.º/3 apesar de não poder e envia para o tribunal singular. Qual o vício
processual em causa? Incompetência. Nulidade insanável 119.º, al. e).

Caso n.º 3

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F incita G a suicidar-se em Sacavém. No mesmo dia (em Lisboa) incita também G a


suicidar-se. Em resultado daqueles incitamentos, G tenta suicidar-se em Sintra, tendo
vindo a falecer dois dias depois em Lisboa (para onde tinha sido transferido após a
primeira assistência).
Admitindo que F e H foram acusados, em autorias paralelas, da prática do crime de
incitamento ao suicídio (p e p., no art. 135.º/1 CP), qual o tribunal material, funcional e
territorialmente competente para o julgamento do(s) respetivo(s) processo(s)?
A sua resposta mudaria caso o crime de que F e H tivessem sido acusados fosse o de
homicídio a pedido (p. e p. no art. 134.º CP) ou o crime de homicídio privilegiado (p e p. no
art. 133.º CP)?
16.º/2, al. b) a estes casos pode levar a que se chegue à conclusão que afinal aquilo é homicídio
e o tribunal não pode decidir naqueles casos. Isto não é elemento do tipo mas condição objetiva
de punibilidade logo não cabia no art. 14.º/2, al. a).
Pedir resolução à dina.

Caso prático n.º 4


O JIC que tenha ouvido o conteúdo de comunicações telefónicas nos termos do art. 188.º/4
e 5 CPP, estará impedido de participar no julgamento do mesmo processo? Atenda na sua
resposta ao conteúdo do Acórdão do TC n.º 129/2007 e à evolução histórica do art. 40.º
CPP.
Alega que se há a existência de um impedimento de participação dos juízes no julgamento por
terem aplicado e mantido a prisão preventiva.
Arguido e está em prisão preventiva. Ao lado do juiz estava a pessoa que manteve a prisão
preventiva. Nesta altura o regime de impedimentos era mais restrito.
O TC declarou com força obrigatória inconstitucional o artigo.
Avaliação da imparcialidade do tribunal: receio de pela frequência e relevância se formula uma
dúvida sobre a imparcialidade.
Imparcialidade objetiva versus. Imparcialidade subjetiva.
Professor:
O que justifica que a prisão preventiva esteja prevista na al. a) do art. 40.º CPP? À partida é a
medida mais gravosa de medidas de coação; verificação de fortes indícios da prática do crime.
Depende de um juízo de verificção de fortes indícios e portanto o tribunal que tiver decidido
terá pelo menos no seu espírito a ideia de que provavelmente existe suporte probatório
suficiente para a medida mais gravosa. Podemos referir a circunstância de ser subsequentemente
ser libertado e pedir uma indemnização contra o Estado.
O problema é a imparcialidade: aplica a prisão preventiva e depois vai ver se há factos ou não
para a aplicação da pena na fase de julgamento. A manutenção da prisão preventiva leva à
existência de um impedimento?
Quais os fundamentos para se considerar que no coletivo quem esteja quem decretou a prisão
preventiva e quem mantenha é impedimento? O arguido que entra com dois juízes que um já
aplicou e outro manteve, entra a perder 2-0.

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Tribunal: a atuação não viola o art. 40.º porque não há uma pree compreensão para a
condenação do arguido, não havendo uma violação do princípio da naturalidade. Porque uma
intervenção não basta, mas duas basta. Se tiver concentrada a aplicação e manutenção do
mesmo juiz, esse juiz vai ser levado na direção de condenar o arguido – violação dos direitos de
defesa.
Continuar a discussão na próxima aula: altamente criticável e o legislador veio a prever uma
norma suficientemente ampla. Há um acórdão anterior que se declarou inconstitucional o art.
40.º por ter havido uma participação da aplicação e manter a prisão preventiva.
Atualmente basta a prisão preventiva: fortes indícios, pode haver um juiz de culpa. Aptidão para
gerar desconfiança na sua imparcialidade basta.

Caso prático n.º 5


Deverá cessar a conexão entre dois processos quando um dos arguidos já tenha constituído
como mandatário o outro arguido que é advogado? Considere na sua resposta o conteúdo
do acórdão do TC n.º 196/2007.

Acórdão do TC n.º 196/2007:


A recorrente pretende que o TC aprecie a inconstitucionalidade do art. 24.º CPP quando
interpretado no sentido de permitir a conexão de processos que obste, em fase processual
subsequente à dedução da acusação, à escolha de um arguido, advogado, como defensor de
outro arguido, através da procuração previamente junta aos autos, por violação das garantias de
defesa do arguido em processo penal e do direito de escolha do defensor (art. 32.º/1 e 3 CRP).
O TRP deu provimento ao recurso, não declarando a inconstitucionalidade do art. 24.º/1, als. d)
ou b) CPP.
Fundamentos do acórdão a considerar:
 Se um arguido não pode ser defensor de si mesmo, também o não pode ser de outro
arguido posto que as normas processuais demarcam o estatuto processual do arguido e
defensor considerando a cessação da conexão de processos concluiu o acórdão no
sentido de que as garantias de defesa não são realizadas com segurança bastante,
quando alguém confere mandato judicial a advogado que se indiciou ter participado na
prática criminosa que se imputa àquele, concluindo que as normas estatutárias
demonstram esse aspeto.
 Existe uma compressão do direito contido no art. 32.º/3, mas positiva considerando as
garantias de defesa, não a imposição de qualquer defensor, mas a exclusão de um
determinado… sob pena de as normas constitucionais, desta natureza, se verem esvazias
de conteúdo.
Discordando defende a recorrente que na presente causa se questiona não a cessação da conexão
no sentido dos seus efeitos, mas a validade de decisão da conexão, quando esta põe em causa o
direito de escolha do defensor, sabendo-se que o mandato foi anterior ao conhecimento dos
factos a que se referia o inquérito.
Entende-se que existindo um preceito constitucional que lhe garante o direito à escolha de um
defensor, não lhe pode este ser coartado por norma inferior que provoque a conflitualização
desse direito.

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Não sendo a justiça gratuita, logo na decisão de escolha do seu defensor considera o factor
económico que naturalmente interagem com a realização das garantias de defesa.
É certo que se pode pôr em causa o “agir desapaixonado”, mas pode ganhar-se noutras
vertentes, como certeza absoluta de bom empenho, maior conhecimento da situação real, quer
na vertente física, quer das motivações, economia financeira, etc., por outro lado, não se pensa
que exista conflito com as normas estatutárias da Ordem dos Advogados, pois em PC o
advogado pode representar-se a si próprio e ao cônjuge, sendo certo que, virtualmente, pelo
menos, existem conflitos de interesses.
O que está em causa é saber-se se é possível decidir-se pela conexão de processos, no caso em
que um dos arguidos é defensor do outro.
Ao negar-se o direito à escolha de defensor, no caso de arguidos, no mesmo processo em que
um é defensor de outro, por livre escolha, está-se a comprimir o direito de defesa, não estando
em causa se essa compressão é positiva ou negativa. Mas, refere-se, que não é esta a situação.
As garantias de defesa são fundamentante do Estado de Direito, que, nesse seu modo de ser, se
preocupa com essas garantias. Razão porque vem consagrado na Convenção Europeia dos
Direitos do Homem (art. 6.º/3, al. c)) – considerando-se como os direitos mínimos garantidos
aos acusados, ora, se são mínimos, como admitir uma compressão destes?
A carga de subjetividade que se quer garantir a qualquer cidadão, quando acusado, não pode,
não deve ser impedida, sob pena de se interferir na livre capacidade do acusado definir a sua
estratégia de defesa perante uma acusação que lhe é feita.
Preceitos como este contêm uma regra eminentemente política.
É claro que limitar o direito à defesa, no caso de arguido e defensor, também arguido no mesmo
processo, impedindo a nomeação de defensor arguido, não poe por si em causa o Estado de
Direito, mas o que é certo é que é ferida a subjetividade que se quer deixar livre, entendendo-se
que estes preceitos pretendem garantir essa mesma subjetividade sem possibilidade de
interferência do Estado.
Fundamentos:
Segundo a recorrente o que está em causa não é a cessação da conexão no sentido dos seus
efeitos, mas a consideração de que não deveria ter sido ordenada a conexão dos processos, pois
tenderiam a conflituar com o direito de escolha de defensor; e que, existindo um preceito
constitucional que lhe garante o direito à escolha de um defensor, não lhe pode este ser coartado
por norma inferior que provoque a conflitualização desse direito.
Mas não será que as coisas se modificam com a separação dos processos, decorrente da
cessação da conexão? Não vemos que assim seja.
Não podemos esquecer que os arguidos continuam a ser os mesmos, somente divergindo uma
certa perspetiva formal. Não deixamos de ver este aspeto como que demonstrado por normas
estatutárias, que, se bem vemos, não aconselhava, sendo elas as que regem os impedimentos
(art. 78.º/1), a independência (art. 84.º), os deveres para com a comunidade (art. 85.º/1), os
princípios gerais nas relações com os clientes (art. 92.º/2), e os conflitos de interesses (art.
94.º/1, este e aqueles do Estatuto da Ordem dos Advogados).
O tribunal a quo adotou o sentido impugnado pela recorrente, não só devido à decisão de
permitir a conexão de processos, mas pelo que considerou ser uma afetação das garantias de
defesa resultante de um arguido conferir mandato judicial a advogado que se indiciou ter
participado na prática criminosa que se imputa àquele. É a circunstância de os arguidos o serem

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em relação a uma mesma prática criminosa que, nos termos da decisão recorrida, obsta, em fase
processual subsequente à dedução da acusação, também em virtude do disposto no art. 133.º/1,
al. a) e 2 CPP, à escolha de um arguido, advogado, como defensor de outro arguido, através de
procuração previamente junta aos autos.
Os direitos fundamentais impõem que este ao menos sendo advogado, se o desejar, possa
defender-se a si mesmo? A esta questão responde o Tribunal negativamente.
A tese do recorrente só seria de aceitar se se partisse de uma posição de harmonia com a qual,
sendo o arguido um advogado, a sua auto representação no processo criminal contra si
instaurado representasse, de modo objetivo, um melhor meio de se alcançar a sua defesa e se a
lei processual penal não reconhecesse ao arguido um conjunto de direitos processuais
estatuídos, verbi gratia, no art. 61.º/1 e 63.º/2, quanto a este último avultando o de poder, pelo
mesmo arguido, ser retirada eficácia a atos processuais praticados pelo seu defensor em seu
nome, se assim o declarar antes da decisão a tomar sobre tal ato.
E é justamente dessa posição que se não pode partir.
Não se nega que, na ótica do recorrente, este possa entender que a sua defesa em processo
criminal seria melhor conseguida se fosse prosseguida pelo próprio na qualidade de advogado
de si mesmo, do que se fosse confiada a um outro advogado.
Só que há respeitáveis interesses do próprio interessado, a apontar para a intervenção do
advogado, mormente no processo penal, sendo certo que, mesmo no caso de licenciados em
direito, com reconhecida categoria técnico jurídica, a sua representação em tribunal através de
advogado, em vez da auto representação, tem a inegável vantagem de permitir que a defesa dos
seus interesses seja feita de modo desapaixonada.
Mesmo relativamente aos licenciados em direito se pode afirmar que às partes faltaria a
serenidade desinteressada que se fazem mister à boa condução do pleito.
A opção legislativa que exige que o arguido, mesmo que advogado, seja defendido por um
advogado que não ele, não se vê que seja contraditada pela CRP.
O agir desapaixonado torna-se uma garantia mais acrescida no processo criminal, o que só
poderá redundar numa mais valia para as garantias que devem ser prosseguidas pelo mesmo
processo.
Convenção Europeia dos Direitos do Homem: o preceituado na al. c) do n.º 3 do art. 6.º não
impede os Estados aderentes de imporem, por via legislativa, a obrigação da representação dos
arguidos por intermédio de advogado.
Não se pode confundir a proibição da auto-defesa com a limitação de escolha de um advogado
que se vem a indiciar, posteriormente ao mandato, ter também participado na prática criminosa
que se imputa ao arguido, e que, por isso, é constituído arguido. Mas isso não significa que as
considerações transcritas não possam também ter aplicabilidade.
O desinteresse ou independência do advogado – como exigências do efetivo direito de defesa,
constituem para o advogado simultaneamente um direito e um dever. O dever de independência
(art. 84.º Estatuto da Ordem dos Advogados): no exercício da profissão, mantém sempre em
quaisquer circunstâncias a sua independência, devendo agir livre de qualquer pressão,
especialmente a que resulte dos seus próprios interesses ou de influências exteriores, abstendo-
se de negligenciar a deontologia profissional no intuito de agradar ao seu cliente, aos colegas, ao
tribunal ou a terceiros.

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Gomes Canotilho e Vital Moreira: do ponto de vista institucional, o defensor é uma parte no
processo e um órgão independente da justiça, o que aponta para uma posição jurídica
materialmente independente, quer perante o tribunal quer perante o constituinte.
A circunstância de a independência do defensor relativamente ao arguido ser condição de
salvaguarda da credibilidade da defesa.
A circunstância de o advogado ser co-arguido no mesmo processo pode ter repercussões
negativas na sua própria estratégia de defesa. E, na perspetiva do apuramento da verdade
material, o facto de o defensor ser igualmente arguido no mesmo processo pode também influir
sobre a defesa. O defensor co-arguido no mesmo processo pode vir a sentir-se tentado a
esconder ou destruir elementos probatórios ou outros, ou, simplesmente, a acentuar ou diminuir
aspetos relevantes para a sua defesa, mas que podem contender também com o interesse do
arguido.
A independência do defensor constitui um imprescindível ponto de referência na estratégia de
defesa do arguido e pode influir também sobre o resultado do processo na perspetiva do
apuramento da verdade material, não estando vinculada apenas a um fundamento subjetivo, mas
constituindo também uma exigência objetiva desse interveniente no processo. Compreende-se
que o legislador exclua a possibilidade de pessoas com ligação tão forte com o tema do processo
que são igualmente arguidas, e que podem assim vir a ser igualmente condenadas pelos factos
discutidos no processo penal, assumirem, ou manterem, o papel de defensor dos seus co
arguidos.
Invoca a recorrente que não sendo a justiça gratuita considera o fator económico que
naturalmente interagem com a realização das garantias de defesa.
Este argumento não é procedente no sentido da inconstitucionalidade, não sendo o interesse na
gratuitidade, ou na obtenção de uma defesa menos dispendiosa, aquele que é prosseguido com o
direito de escolha do defensor pelo arguido.
Não só é a própria CRP, ao garantir o acesso ao direito e aos tribunais, que proíbe a denegação
da justiça por insuficiência de meios económicos, como os requisitos exigidos para o recurso ao
instituto do apoio judiciário não se afiguram excessivos.
Apesar de a recorrente não beneficiar de apoio judiciário, nenhum indício existe de que a
limitação decorrente da dimensão normativa em apreciação importa uma inamissível
dificuldade na prossecução da defesa dos interesses do arguido em processo penal, pela escolha
de outro defensor, que não seja arguido.
A circunstância de o Estatuto da Ordem dos Advogados consagrar a regra geral segundo a qual
os inscritos podem advogar em causa própria e representar os seus cônjuges, o mesmo
sucedendo no tocante às normas processuais civis, não implica que se venha a concluir que, não
sucedendo isso especificamente para o domínio processual penal, se verifica só por isso a
violação do princípio constituc ional da igualdade.
No processo penal, é caraterística essencial o distanciamento pessoal da questão e a pureza de
entendimento essencial quer à defesa do arguido quer à descoberta da verdade.
Concluindo-se que a dimensão normativa impugnada, tal como foi interpretada e aplicada pelo
tribunal a quo, não é incompatível nem com as garantias de defesa do arguido nem como o
direito à escolha de defensor, há que negar provimento ao presente recurso.

Aulas práticas sobre competência:

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Art. 16.º/3: O MP decide acusar mas diz que passa a ser da competência do tribunal singular
não podendo ter uma pena superior a 5 anos. Ex., pessoa furta em dias diferentes 3 chocolates
em centro comercial. À partida pode ir até 9 anos de prisão. Furto simples até 3 anos de prisão.
O MP tende em conta tendo em conta a gravidade pouca, logo aplica o art. 16.º/3. Pode aplicar
num caso de homicídio?
Não pode. Violaria o princípio da legalidade (até 8 anos de prisão).
Ex., crime de burla e falsidade informática – o MP entende submeter o crime a tribunal singular
(por força do 16.º/3). Podia submeter a tribunal singular? Pressupõe o 16.º/3 que seja superior a
5 anos. À partida poderia. A questão é se mesmo que o MP aplica o 16.º/3 licitamente, se isto é
sindicável?
Art. 16.º/3 mecanismo que permite a limitação dos poderes do tribunal. O MP poe um selo de
limite e o juiz não pode fazer nada quanto a isso. A ser sindicável, que há quem entenda que é
segundo PPA, será dentro da estrutura do MP. Naturalmente uma sindicância subjetiva. Estamos
a ver se foi aplicada corretamente ou não (juízo de mérito).
Também o MP hierarquicamente superior poderá decidir se aquela decisão deve ou não manter-
se (PPA). No entanto, pode haver um controlo processual da legalidade processual da aplicação
do art. 16.º/3. O MP só pode recorrer ao 16.º/3 nos casos do 14.º/2, al. b). O critério do art.
16.º/3 é reconduzível ao do critério quantitativo. Os critérios qualitativos prevalecerão sobre o
art. 16.º/3. Se o MP utilizar um homicídio qualificado do art. 16.º/3, não é por isso que deixa de
ser do tribunal coletivo.
Não fazia sentido atribuir ao MP subtrair um crime mais crime ao tribunal coletivo.
MFP diz que há aqui um conjunto de problemas de legalidade; PPA entende que o que se trata
aqui é de um princípio de juízo de discricionariedade vinculada, juízo de prognose com base em
circunstâncias concretas do caso que depois decide ou não levar a julgamento.
O MP diz geralmente que tendo em conta que não é expetável que seja aplicada uma pena
superior a 5 anos de prisão aplica-se o art. 16.º/3. Normalmente não fundamenta. Sendo uma
decisão deve ser contudo fundamentada. Podemos encontrar um fundamento para não haver.
Sempre que temos um oficio processual é preciso saber qual a consequência processual: falta de
fundamentação = consequência? 118.º e ss CPP podemos estar perante nulidades insanáveis (art.
119.º taxativamente – há quem fale contudo de atípicas); nulidades dependentes de arguição
(art. 120.º). Quando a lei nada disser e há uma violação, há uma irregularidade.
Art. 339.º/2, al. b) falta de fundamentação para as sentenças mas não para os despachos. A
consequência para os despachos é a irregularidade.
Proibições de prova – art. 126.º - vício adicional. Vício autónomo com consequências
autónomas.
Se aplicado o art. 16.º/3, imagine-se que o MP aplica com base num entendimento de que aplica
o art. 16.º/3, chegando a julgamento existe uma alteração da qualificação jurídica. O juiz
entende que o homicídio não é privilegiado mas sim qualificado ou simples. Aplica-se o regime
da alteração não substancial. É possível, apesar de levar a um crime mais grave. Se o MP aplica
o art. 16.º/3 e em face de julgamento percebe que é necessário esta alteração que implica uma
aplicação de uma pena superior, o tribunal singular permanece competente e não pode aplicar
penas superiores a 5 anos.
Art. 19.º

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N.º 3: crime continuado – vários crimes cometidos ao abrigo de uma solicitação exterior para
diminuir a culpa. Ex., senhor no Hotel que na Alemanha e furta os sapatos todos. A gravidade
deste lícito não pressupõe uma pena tão elevada. Há uma solicitação exterior que diminui a
culpa, juntam-se os crimes todos como se fosse um só e é punido com o mais grave.
Competência por conexão
LM diz que é um problema de objeto de processo.
Art. 29.º: unificação do processo. Apensam-se e decide-se a partir daí. Quando existir um
processo que seja monstruoso, quando a conexão processual implique um mega processo, o
tribunal pode fazer algo, ou deve julgar em conjunto? Art. 30.º entende-se que pode ordenar a
conexão.
Existem limites adicionais à conexão, pense-se em casos com processos diferentes. Só se pode
apensar processos na mesma fase processual.
Imagine-se que o tribunal é territorialmente incompetente. Qual a consequência? Art. 33.º o
processo é remetido para o tribunal competente. O vício processual é: nulidade insanável com
regime atípico, isto é, próprio. Temos o regime do art. 32.º/2 que permite o aproveitamento de
alguns atos.
Existem outros casos em que o processo deve ser subtraído a um tribunal ou um juiz?
Interpretação do professor:
Aplicabilidade do art. 39.º com aplicabilidade das alíneas do art. 115.º CPP. Art. 43.º para
o resto das situações. Temos de filtrar a presunção de imparcialidade do juiz pelo crivo da
existência do motivo sério e grave.
Como há casos em que existe em concreto percebe-se que há um motivo sério e grave sobre a
imparcialidade do juiz.

Nota: resumo da competência das aulas práticas encontra-se num documento à parte.

Aula extra – 26 – 13h-14.


Quinta – 13h
Teste dia 2
Aula segunda – 13h-14h facultativa. Matéria: MP, arguido, medidas cautelares e de
polícia, processos especiais. Paulo Sousa Mendes. Tema dos acórdãos dos processos especiais.
Direitos dos arguidos é fundamental. Flagrante delito é muitíssimo importante. Houve um
crime, a polícia chegou lá o que é que deve haver: buscas, apreensões, etc. Tem relevo saber
qual a natureza do crime em causa, porque as soluções variam.
Ler o código na parte dos direitos do arguido.
Saber se tendo morrido o titular do direito que se constitui como assistente, nos crimes públicos,
tendo morrido o ofendido saber se os descendentes têm direito a constituir-se como assistente.
PSM entende que não podem (entendimento restritivo da leitura do preceito).
Esse tema costuma ser uma situação prévia aos testes.

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O Prof. Germano na nova Edição de 2018. Célia Reis “transmissão por morte (…)”.
Rui Soares Pereira.
68.º/1, al. c).
PSM fala mais especificamente sobre o problema.

CASOS
1
OPC: não são sujeitos processuais.
MP e OPC: independência funcional na relação entre ambos.
Situação de quase flagrante delito: 16.º/1, 2.º parte.
3 tipos de flagrantes delito:
 Flagrante delito em concreto – em sentido estrito. Se alguém está a cometer um crime,
o OPC assistiu. É o flagrante mais forte e mais evidente. Ex., PSP entra em casa e ele
está a tirar contra uma pessoa.
 Quase flagrante delito – quase que estamos naquela circunstância que falámos há
pouco.
 Presunção de flagrante delito – não há flagrante em sentido estrito, não se encontrou;
é para facilitar a detenção em casos de elevada probabilidade de ser o agente a cometer
aquele crime. Ex., EUA enquanto estava a conduzir recebi uma mensagem do Estado da
florida a dizer atenção veiculo X sujeito de rapto de criança. Imagine-se que a polícia
encontra um veículo a passar ao seu lado com uma pessoa que preenche aquela
descrição e o carro é igual. Sabe-se que o crime ainda está a ser cometido. Há um
indício muito forte que pode ser aquela pessoa, mas não temos notícia. Faz-se um juízo
de valor, logicamente estruturado, que nos permite concluir que a pessoa esteve
envolvida. Não é no local da prática do facto, mas pressupõe a verificação de um
conjunto de elementos. Pensando para casos de fuga, que o crime foi praticado, a pessoa
está à procura. Qual a alternativa: não podia haver detenção.
GMS distingue estes 3.
Consequência: 243.º. Auto noticia com valor probatório superior. No caso da presunção não há
auto de notícia. Nos outros existe. Porque o agente não presenciou a prática do facto. No quase
também não presenciou mas vai relatar aquilo que viu; na presunção, não pode dizer que
presenciou ou que chegou logo a seguir, há um ato de referência. Há quem diga que a
circunstância de existir presunção impede a forma sumária.
A possibilidade de flagrante ou quase pressupõe uma proximidade temporal e espacial.

Chegou ao local do crime, qual a primeira coisa a fazer?


Tirar-lhe a pistola, revista – medidas cautelares e de polícia (realidade extraprocessual conexa
com a processual). Temos uma situação em que é necessário adotar medidas cautelares e de
polícia, que assegurem a segurança de todos, da prova e que permitem encaminhar o facto para
dentro do processo e é a partir daí que começa o processo.

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Se houver detenção, o prazo conta-se a partir da abertura do inquérito e não da detenção.


Depois, se fosse necessário podia ter sido feitas buscas. Depois seria detido (255.º/1, al. a)).
TESTE:
Houve um caso de um teste em que alguém dava com um vaso na cabeça de outra pessoa.
Preservar os objetos da prática do crime, designadamente o vaso. Não basta transcrever as
normas, mas sim dizermos no teste como isso se materializa. Em concreto, o vaso, as capsulas
de balas, etc.
Perguntar aos vizinhos? 249.º/2, al. b). Principalmente os vizinhos que fizeram a ligação.
Interrogatório: não era da competência da PSP, art. 1.º, al. c). Podia perguntar-se: não há pistolas
mais em casa? Ou perguntar tem filhos, onde estão as crianças? 250.º/8.
356.º e 357.º
No contexto de uma diligência destas temos uma norma do grau de informações que podem ser
pedidas ao sujeito. Quaisquer outras, estão outras afetadas por proibição de prova, não podendo
ser utilizadas. O agente pode falar como testemunha? 356.º diz que as declarações do arguido
prestadas perante OPC podem ser utilizadas em julgamento? Podem, mas não podem valer
como confissão.
Quaisquer declarações antes da constituição de arguido não valem nada, porque o arguido tem
direito ao silêncio.
356.º/7.
Pode o tribunal condenar com base nestas declarações? 357.º/2. Não podem ser valoradas como
confissão (354.º). A confissão implica uma série de consequências, nomeadamente que não se
pode fazer mais prova, tendo um valor reforçado. No caso de o arguido ter falado na fase de
inquérito ou de instrução isto não vale como confissão. Isto significa que o tribunal não deve
condenar com base nestas declarações. S declarações que podem ser lidas em julgamento são
apenas duas, mas isto não basta. Imagine-se que a policia extrai informação do arguido com
abastonada e essa informação é que efetivamente matou, essas declarações não valem. E o
corpo? A prova obtida através dessas declarações? Meio de prova a partir da coação, não pode
ser utilizado – vício. Qual vício? 126.º
O 126.º é o vício mais grave porque a prova afetada pelo vício implica que toda a prova seja
destruída. Duas distinções:
- n.º 2 proibições absolutas de prova
- n.º 3 proibições relativas de prova.
Há quem entenda que estamos perante um vício autónomo. Estamos perante uma proibição de
prova. Sempre que haja uma declaração extraída em violação. Ex., polícia diz que se confessar
não vai acontecer nada, mas se não vais preso. E a pessoa confessa: isto está munido com
proibição de prova, porque isto foi obtido com vantagem inadmissível. A pessoa ofende a
integridade moral do arguido.
126.º/2 – relevante.
Se tiver no n.º 2 elas nunca podem ser utilizadas. Mais qualquer prova a partir delas não pode
ser utilizada. Se forem proibições relativas (n.º 3) sanam-se com o consentimento do arguido,
designadamente proibições obtidas com base em ingerências na vida privada, etc.

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Duas diferençoes entre as proibições: nas absolutas o consentimento não salva e não há lei
nenhuma que salve. No caso do n.º 3 pode haver lei que afasta a proibição de prova. Ex., busca
domiciliada. Ex., escuta telefonica à partida seria ilícita, mas como há base legal não é.
Pode a policia não constituir arguido? 58.º/1, al. c). Não pode. Casos de constituição de arguido
obrigatório.
Detenção vs. prisão preventiva?
Prisão preventiva: medida de coação. A detenção é uma medida cautelar.
Diferença de regime: duração máxima da detenção? 48 horas. A prisão preventiva é um limite
muito mais superior. Quem pode ordenar a detenção? Juiz, OPC.
Imagine que estou no trânsito e alguém chama o nome e eu saio do carro e digo: você está
detido e eu digo que chamo a polícia. Distinção com a natureza dos crimes; no caso do crime
público e semi-público sim, no caso do particular já não.
Fundamento legal de sabermos se é possível deter em alguém pela prática de um crime
particular? N.º 4

Falta aula que faltei

Resolução do teste
a) Questão da competência.
Tentativa de homicídio: art. 14.º/2, al. a).
Art. 24.º/1, al. b) – vários crimes na mesma ocasião ou lugar. Colocar OU no código.
Conexão.
Verificam-se os requisitos e não se verificam os obstáculos da conexão. Consequências da
conexão: organiza-se um só processo (art. 29.º).
Art. 27.º
Dois tribunais da mesma área competentes, art. 27.º resolve: tribunal de espécie mais elevada
(tribunal coletivo).
b) que forma de processo deve ser seguida?
Crime de tráfico de estupefacientes – forma sumária (382.º/3 CPP).
Tem plantação de canibas em casa, a mera detenção é crime, há um flagrante delito stricto
sensu, o próprio crime é ter a plantação.
255.º/1, al. a)
Natureza do crime: público.
Seguia a forma sumária.
256.º/1, al. a) flagrante delito
381.º/2.

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O crime não deve ser julgado pelo tribunal coletivo.


É difícil cumprir-se o prazo por casa das perícias, porque é preciso saber o grau de pureza, as
doses, a detenção não é por si só crime, é preciso ser nas doses superiores. Devido ao tempo
previsível, atestando a qualidade e pureza dos estupefacientes, isto acontece.
Se por algum motivo, designadamente não for possível cumprir os prazos previstos para inicio
da audiência de julgamento, então a consequência é abreviar. Então, se por acaso não se cumprir
o prazo vamos para o abreviado 390.º/1, al. a). Nada obsta a que o processo se inicie na forma
sumária.
Já se iniciou o processo sumário, mas chegámos à conclusão que não vamos conseguir cumprir.
O que acontece? Juiz remete o processo.
390.º/1, als. a) e b).
O tribunal que vai julgar isto? É o mesmo tribunal ou outro? Princípio do juiz natural = deve ser
no mesmo tribunal. 390.º/2.
Se, por acaso, seguir para o processo comum? Consequência = 120.º/2, al. a).
Quanto ao crime de homicídio tentado: forma de processo? Tribunal coletivo, há uma reserva
qualitativa do tribunal coletivo, tendo em conta o requisito implícito. Isto tem de ser tramitado
em processo coletivo. A pena máxima é superior a 5 anos. Consequência se por acaso isto for
tramitado em processo sumário = nulidade insanável.
Havia conexão de processos, por isso podemos julgar (um seria forma de processo comum,
outro sumário), mas estão conexos, então sendo apenas um só processo = seria o processo
comum, exceto se houvesse separação. Deveria haver separação?
Mesmo que se verifique art. 31.º temos de perceber se prevalece sobre os fundamentos da
conexão? O preenchimento das alíneas quanto comparado às vantagens da conexão? Prevalece
as vantagens da conexão.

Questão 2:
Qual é o problema que aqui se coloca? Descobre-se um crime através de uma escuta telefónica.
Poderemos utilizar o crime de furto, a escuta telefónica como prova do crime de furto? Não.
Pena do crime de furto = 203.º CP (até 3 anos).
Cabe no 187.º/1, al. a). terá de ser superior para caber.
Saber se numa escuta telefónica validamente realizada, tendo sido descoberta a prática de um
outro crime, pode ou não ser utilizado? Não pode, nos termos do art. 187.º/
Âmbito objetivo, subjetivo, indispensabilidade.
Não preenche o catalogo por isso não podia haver escuta telefonica.
Logo, coloca-se o problema de saber então o que é que se faz com esta informação? Não pode
utilizá-la noutro processo porque a escuta telefonica não preenche os requisitos do 187.º/7, logo
não pode utilizar. Se não houvesse processo-crime quanto ao furto? Porque é que não podia
usar? Imaginemos que utiliza noutro processo, a consequência é proibição de prova (126.º/3).
Dois tipos de proibição de prova: absolutas e relativas.

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Quanto às ingerências nas comunicações do 126.º/3 são relativas por dois motivos: podem ser
afastadas por lei. Neste caso, temos uma escuta validamente realizada.
Ex., em certos casos a prova pode ser validamente obtida, mas não pode ser valorada. É
proibição de valoração e não de produção. Caso dos diários. Senhora suspeitava que o marido a
andava a trair e não se provou. Até que um dia a senhora que divorciou descobriu um diário da
amante em que dizia que estava a ter um caso com o marido. Mostrou como prova o diário;
acontece que o conteúdo era tão intimo e o tribunal entendeu que apesar de ter sido obtido
validamente; o interesse do processo não era tão grande para se inferir tão intimamente na esfera
de alguém.
Processo Casa Pia: um dos arguidos tinha um diário. TC declarou inconstitucional o 126.º/1 e 3,
na interpretação de que o tribunal não tem de fazer um juízo de valoração quando se tem uma
prova tão íntima. Para juntar tenho de fazer uma fundamentação adicional, sendo muito intimo
para se justificar uma valoração.
Questão diversa é saber se o conhecimento que o MP tem ou juiz tem da realização da prática
deste furto, pode valer como noticia do crime? Aí diz-se que pode valer como noticia do crime.
Emails do benfica: os emails relariam a prática de crimes, mas funcionaram como noticia de
crime.
Conclusão: é proibida a valoração sobre informação do furto: 186.º/3, porque é uma prova
apesar de obtida licitamente, não pode ser valorada fora dos termos prevista. Portanto, não pode
ser valorada.
Há uma proibição de valoração de toda a prova daí decorrente.
Falta aula – susana (antes de dia 16).
13h30 – 15h – aula extra

Caso n.º 7:
Saber se existem classes, se o legislador discrimina em função da proximidade familiar do
ofendido. No art. 68.º/1, al. c) prevem vários casos em que alguém pode constituir assistente.
Duas questões: em primeiro lugar, saber se na primeira classe há alguma ordem de preferência.
Em segundo, perceber o que é na falta deles.
Existe alguma ordem de preferência? Na primeira classe não existe preferência, qualquer um
pode constituir-se assistente. Mas imagem que A foi a LV, conheceu uma pessoa, casou-se com
ela, na manhã seguinte percebeu o que tinha feito e decidiu vir se embora para Portugal. Chega
a PT e alguém o mata. Quem se pode constituir assistente? Ele só tem um irmão.
Interpretar “na falta deles” – impossibilidade jurídica, inexistência de alguém naquela categoria,
se for uma impossibilidade decorrente da extrema dificuldade em notificar a pessoa ou de uma
impossibilidade de facto de poder esperar a sua presença. De outro modo, a consequência seria
que teríamos de enviar uma carta para os EUA, identificar a pessoa em LV, admitindo que ela
era de lá e depois encontra-la. Durante este período tempo, o irmão está à espera de constituir-se
como assistente.
Se A tiver morrido e o B cônjuge, existe algum bloqueio legal a este exercício do direito? O
exercício do direito à constituição de assistente transmite-se por morte? Temos um artigo de
Doutora Célia Reis, Doutor Sousa Mendes com uma interpretação restritiva, e um artigo do Rui

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Soares Pereira, o que é relevante – pegar no PSM, pegar no artigo rui soares pereira onde tem
uma parte que diz as diferentes posições.
Se virem não há um evidente enquadramento legal para a transmissibilidade por morte da
constituição de assistente. Procurar onde está o direito de constituição de assistente no caso de
morte do ofendido, em crimes públicos e não encontramos.
PSM entende que não havendo uma previsão legal expressa vamos por uma interpretação
analógica do 68.º/1.
Não havendo fundamento jurídico evidente, não há direito à constituição de assistente. Confere-
se a um terceiro o direito de participar na qualidade de assistente do MP contra o arguido. O
problema na prática nunca se colocou.
Alguém morreu vítima de um crime – é possível constituir-se como assistente – o art. 68.º/1 não
permite, mas PSM diz isto e aquilo. Resolver desta forma nos testes.

Caso n.º 8:
Há casos em que, por ex., falsificação de documento, o problema coloca-se em perceber se é
possível interpretar a norma como titular dos interesses que em concreto forem afetados.
Imaginem que é praticado um crime de poluição no rio, não me afeta pessoalmente. Se eu tiver
uma casa à beira do rio, isso afeta-me e prejudica-me diretamente, o legislador quis tutelar em
abstrato um interesse coletivo que tem em concreto uma materialização que pode ser pessoal. O
legislador diz que quer tutelar em concreto o interesse coletivo, em concreto como não
conseguiu tutelar, houve danos causados a uma pessoa, podemos alargar o direito de
constituição de assistente a pessoas que foram afetadas. No caso da poluição, em abstrato não
posso constituir-me mas em concreto poderia porque há um interesse. A minha afetação pessoal,
ainda está abrangida no interesse coletivo que o estado visa punir.
É preciso analisar as pessoas do caso.
Admite-se que em concreto a pessoa se constitua assistente.

Caso n.º 9:
237.º/1, al. b)
Difamação – poderá o assistente crime particular reabertura de instrução para aditar um facto
essencial ? – 278.º/1, al. b) porque e que esta norma existe se o assistente faz a acusação por
correio não pode requerer a abertura de instrução.
Imagine-se que A fez acusação particular que diz: no dia 1 de abril o A dirigu-se a mim e disse
es um palhaço – injuria 180.º CP – problemas: falta o elemento subjetivo do tipo – MT
-
Caso n.º 13:
Podem as declarações do arguido ser usadas contra ele? Em que casos as declarações podem
valer? Se as declarações podem ser prestadas acompanhadas de advogado? Ou as declarações
mediante requerimento do arguido; quando as declarações tenham sido prestadas acompanhas

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de defensor, ou qualquer outro interrogatório na fase de inquérito ou na fase de instrução.


Podem valer para condenar o arguido?
Questão diversa é ter confessado em fase de inquérito ou instrução, ele nada diz, as declarações
são lidas em audiência. Chegando a esta fase, o tribunal vai ter de produzir prova, chega ao fim
e diz que não tem prova. O tribunal deve absolver, por força do princípio da imediação.
Neste caso, não deve o tribunal condenar com base neste acórdão apenas.
Proxima aula – objeto do processo.

-
O arguido confessa – 344.º - há um conjunto de benefícios.
249.º pressupõe que o crime não seja punível
344.º
Imaginem que há um crime de furto cometido em co autoria e que um confessa e outro não
confessa – consequência – salta-se a produção de prova? 344.º/3, al. a). Se um dos arguidos
confessar, se não houver obstáculo à confissão, mas se houver co arguidos, então a declaração
apenas produzirá o efeito da confissão se todos os arguidos confessarem no mesmo sentido.
Art. 345.º/4 em que se diz que imaginem que um dos co arguidos diz que combinamos os dois, e
os outros nada dizem. O arguido o primeiro, estas declarações podem valer se ele se sujeitar às
perguntas que lhe serão dirigidas pelos advogados dos arguidos – 345.º/4. Declarações do
arguido – 356.º e 357.º exceto se alguém considerar inconstitucional.
344.º - confissão do arguido – vale me fase de julgamento se tiverem preenchidos os requisitos
do n.º 1 e não houve as exceções do n.º 3
N.º 2
A confissão incide sobre factos exclusivamente e não quer dizer que se o arguido confessar e
incriminar terceiros, estas podem valer – 345.º/4

OBJETO DO PROCESSO
O objeto do processo é aquilo sobre o que o processo versa, de que o processo trata. Significa
que é o crime. É a imputação do crime, porque neste momento não há crime, existindo um
inocente a ser julgado. Art. 1.º, al. a), ou a imputação do crime. Abrange-se a matéria de facto.
Estando acima de tudo assente em factos pode ser alterado, apesar do regime para alteração dos
factos tem subjacente o princípio da identidade. O processo deve manter-se o mesmo do inicio
ao fim, o que significa que o processo, a questão a decidir deve manter-se a mesma até à decisão
final.
Quando se fixa o processo? Nos crimes públicos e semi públicos a partir da acusação do MP ou
requerimento para abertura do assistente (art. 287.º/2 in fine).
O MP acusa, o assistente diz que atenção isto não foi x ou y (não foi furto ou roubo), portanto
de acordo com alguma doutrina neste caso o assistente so pode uma via possível: requerimento
para abertura de instrução.

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Porque é que existe um regime do art. 309.º e ao mesmo tempo se diz que o asissntete pode: a
alteração do 309.º tem por referência a base do processo. É aqui que se fixa o objeto do
processo.
O objeto do processo está delimitado a partir do momento em que há acusação (pública ou
particular).
Vamos admitir que em fase e julgamento se descobre que o arguido para além de matar, violou.
O arguido além de matar em Lisboa a pessoa A, roubou também um quadro numa galeria de arte
em Beja, isto são factos novos, totalmente independentes, o tribunal manda extrair certidão para
valer como denúncia para estes factos e o MP deve abrir novo inquérito.
Os factos não são totalmente autonomizáveis, descobriu-se que antes de matar a vitima, a
violou? Alteração substancial dos factos? Art. 1.º, al. f) que tem dois requisitos: um é que dos
novos factos resulte a imputação de um crime diverso (crime diverso ou crime diferente?);
segundo requisito: pode resultar uma imputação com uma pena superior. Quando nos
confrontamos com alteração do objeto do processo: há alteração dos factos (são factos
totalmente independentes? Se sim – 262.º/2; se não, são factos autonomizáveis? Imagine-se que
o homicídio descobre-se que violou antes – julgado por homicídio simples porventura, sempre
em concurso efetivo com o curso de violação; deve realizar o mesmo que no caso anterior). O
problema coloca-se quando os factos não são autonomizáveis: caso do abuso de confiança. Eu
tiro o código à vossa colega e vou embora; pode emprestar-me o código e levo (abuso de
confiança). É o caso dos crimes alternativos. Ou seja, é um caso em que em julgamento
descobre-se que eu não furtei contrariamente ao que consta da acusação, mas cometi o crime de
abuso de confiança. Hip. 1: perguntar se cometeu o crime de furto ou não? Hip. 2: e agora? Eu
já percebi que não cometeste o crime tal, mas um muito próximo. Primeira hipótese: absolver;
segunda hipótese: alterar a qualificação dos factos.
Logo, quando a alteração dos factos implicar alteração do crime, qual a solução a dar? PSM +
TB: tem de ser absolvido. O tribunal está a decidir se cometeu o crime de furto ou não? E a
resposta é não. A pergunta não é: cometeste algum crime?
O tribunal não está lá para sanar erros do MP ou do assistente.
Existem autores que defendem soluções diversas. Neste caso, qual o problema? Há um crime
diverso, o que é o crime diverso?
PPA: crime diverso é uma narrativa diversa. Facto unitário histórico e diverso. Pode haver casos
em que entra com ofensa à integridade física e é alteração substancial. A é acusado de ser
acusado na faculdade e afinal é no parque das nações. Tipo legal é o mesmo, mas é outra
história, outra narrativa. Neste caso, Sousa Dias também defende isso.
Henrique Salinas: crime de família diversa. Narrativa diversa. Não tem a ver com o tipo legal de
crime.
Para além da posição de PSM que diz que se houver uma alteração substancial dos factos, qual a
consequência? Absolvição.
Há outras posições?
Ler PPTS de matéria que não foi dada aqui. Ler os acórdãos.
Augusto silva dias – entende que o legislador não tratou desta parte da matéria quanto aos
crimes alternativos – vamos ao art. 4.º que remete para o ramo do direito que é o processo civil.
O professor diz que vamos aplicar por remissão o regime da absolvição da instância. Ele diz isto
porque o problema que se coloca é o seguinte: se o tribunal absolve então já julgou, logo já

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julgou aqueles factos: caso julgado material. Eu sou julgado por factos, se mudarem o objeto do
processo não há impossibilidade. Não permite que eu vá novamente para inquérito. Se a solução
fosse absolve-se e vai se para um novo inquérito: a pessoa era julgada duas vezes. O tribunal
profere uma decisão meramente formal e diz absolve da instância, logo a consequência é voltar
para a fase de inquérito. Tem contra si a própria lei.
Cairos – de facto a lei não prevê e não fala disto, logo vamos ao art. 4.º e este diz que temos de
recorrer às normas do processo criminal, então vamos procurar dentro do código de processo
penal uma norma aplicável a este caso – 120.º/2, al. d) – nulidade atípica de objeto por remissão
do art. 4.º com anulação do processado e regressa à fase de inquérito. Ou seja, é dizer imaginem
que chegam à fase de julgamento e carregamos no botão de ir para trás, há uma insuficiência do
inquérito e voltamos a esta fase e aí sim o MP vai acusar novamente.
GMS+LB+SALINAS: qualificação jurídica incluem-se no objeto do processo. O objeto do
processo é composto por factos e direito; o crime incluem estas realidades.
Caso de pancadaria: A e B agridem o C: um da o soco e outro pontapé: ofensa à integrisdade
física. Não é co autoria. Chega-se a julgamento e percebe-se que afinal o pontapé foi dado pelo
outro e o soco pelo outro; há alteração substancial? O crime diverso não pode ser a qualificação
jurídica diversa, porque o crime é mais do que o nome, é mais do que tipicidade, existindo
outros elementos.
Cairos: nulidade atípica. Não há nulidades atípicas, mas diz que esta nulidade existe e vamos
aplicar analogicamente. Há uma lacuna.
Imaginem que há alteração substancial e o arguido não é notificado dela: consequência? 379.º/1,
al. b) – 410.º/3 + 411.º.
Se for na fase de instrução – 309.º.
309.º imaginem que há acusação e pronuncia: dupla conforme a decisão não é recorrível. O
arguido deve invocar a nulidade da decisão no prazo de 8 dias, essa decisão é recorrível.
Crimes complexos – crime de furto e afinal foi de roubo – são factos autonomizáveis – se sim o
arguido seria julgado pelo de furto mas haveria denuncia de abertura de inquérito quando ao
roubo.
PSM – solução – princípio da indivisibilidade.
Não esquecer o regime de alteração da qualificação jurídica – GMS – dificuldades aqui
colocadas. Nem sempre quando há imputação de um crime mais grave há alteração.
O que é importante é que é preciso ver se há alteração dos factos; se não, há qualificação
jurídica
GMS – se houver alteração na qualificação jurídica e e ela implicar a imputação de uma
moldura penal mais gravosa temos de criar um regime especifico. Tens um prazo para adjustar a
defesa ao novo crime e a seguir o processo prossegue, mesmo que o crime seja mais grave. O
problema é que estmoa sperante uma situação em que o tribunal concluiu que o MP, o assistente
errou – consequência – imagine se que a alteração implique uma moldura mais gravosa – e que
o agente podia ter recorrido a um tribunal de júri, mas não pode. Os diretios do arguido foram
afetados. O arguido não tem espetativa quanto à qualificção jurídica, mas quando toma a opção
de confessar é consoante a qualificação jurídic, não só estrategicamente. O arguido
autoincriminou-se sem ter qualquer benefício e GMS diz que a solução é: pode haver alteração
da qualificação jurídica no entanto o arguido será julgado de acordo com a nova qualificação

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com o limite máximo do outro crime. Tiramos os benefícios, logo tiramos os malefícios.
Conciliação de interesses.
Atualmente a doutrina não entende esta via. É uma via mais garantística.
De acordo com o acórdão 11/2013 – a alteração em audiência de julgamento da qualificação
jurídica não pode ocorrer sem que haja produção de prova. Tem de produzir prova e só depois
realiza a alteração da qualificação jurídica.

Caso n.º 2:
Não é o tribunal que vai corrigir, que vai andar a rever e corrigir os lapsos do MP. Não é esta a
tarefa do juiz, o mesmo é apenas confrontado com a versão da acusação e da defesa. O juiz não
vai sanar o processo, não vai realizar uma alteração. Vai decidir de acordo com aquilo que lhe é
apresentado. Não pode ser julgado pelo crime qualificado, sendo apenas pelo simples.
A circunstância que qualifica o crime não pode ser tomada em consideração porque é alteração
substancial dos factos. O conceito de crime diverso é tipo penal diferente? Quer dizer uma
narrativa diversa dos factos.
Factos novos que levam à imputação de um crime.
Há alteração substancial dos factos – temos de ver que o processo não pode prosseguir com
estes passos – temos de ver se é ou não autonomizável.
Em abstrato a introdução de um espaço não acessível ao público, vedado pode implicar outro
crime. A pergunta que se coloca é se neste caso se faz sentido, se a impossibilidade de decisão,
da ponderação dos factos neste caso impliquem que não possam de todo ser apreciados.
Na medida em que tutela bens jurídicos diversos, admite-se que sim.
É preciso saber se a circunstância de qualificar o crime, permite que seja autonomamente
investigado. Em que circunstâncias os factos são autonomizáveis?
Duas opções:
Se o tribunal condenasse por estes factos = sentença nula
Neste caso teremos uma situação em que há concurso aparente, afastado numa relação de
especialidade pelo furto. A circunstância pode ser autonomizada? Critério do concurso ideal.
Saber se ele pode ser julgado para esse crime?
Estando perante uma situação de concurso ideal, mesmo ato que configura ambos os crimes,
estaríamos perante factos não autonomizáveis. DR em reservas em configurar o crime como
concurso ideal, porque não estamos perante um tipo composto, mas um tipo simples agravado,
essa agravação tem como fundamento a lesão de um bem jurídico autonomo, a prática de uma
conduta encontra um fundamento autonomo, apesar de existir um tipo simples que é praticado,
a circunstância de existir um qualificação tornar mais simples a vida do arguido por causa do
concurso efetivo, existe uma lesão autonoma. Temos sempre de nos agarrar à doutrina e aos
critérios, desde logo a PSM.
GMS.
PSM entende que havia uma autonomização. O ex., é o caso da violação. Descobre-se que o
agente matou para esconder uma violação. Essa violação é por si só um facto autonomo. Vai ser

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ponderada a noticia do novo crime para iniciar um novo inquérito. Completa separação. PSM
diria que estamos perante factos novos não autonomizáveis.
O crime de furto qualificado estaria numa relação de concurso.
Consumação: para definição do objeto do processo e para efeitos do resto da matéria temos de
ter em conta consumação, comparticipação e concurso. Outra nota é que quando existe alteração
substancial ou não alteração não é apenas a não concordância entre matéria de facto e acusação.
Sempre que for acusado por vários factos, isto não existe que não existe alteração substancial
dos factos, o que existe é falta de prova. Se o agente é acusado e se vem a provar que afinal não
houve provas suficientes – há aqui uma absolvição. Quanto a diferentes qualificações jurídicas o
mesmo. Se tivermos a analisar um caso em que a decisão final não coincide com o objeto,
devemos ver se de algum modo isso já não estava contemplado lá. Se a alteração decorre de
falta de prova isto não é uma alteração substancial dos factos. O mesmo se diga se das
declarações do arguido resultrar uma solução jurídica contida na acusação.
Para saber se há uma alteração temos de sempre ver no objeto. Está ou não contida na acusação?
Se está contida, pode estar em causa uma diferença de prova.
Diferença entre falta de prova e alteração dos factos!
Alteração substancial tem sempre por referência o momento da definição do objeto.
O art. 287.º/2 prevê requisitos para a bertura de assistente que não prevê para o arguido.

Caso n. 3
Problema do crime alternativo. O juiz de instrução devia fazer o quê?
Solução que está na lei.
Alteração de factos – é ou não substancial?
Não há um agravamento da pena, há sim um crime diverso (PSM). Logo, o juiz devia fazer o
que? PSM sacrificar-se-ia o facto novo, 303.º/3. Por outro lado, deixar-se-ia cair o furto porque
não estão indiciados.
Art. 309.º/1 e 2. Arguir perante o juiz de instrução.
310.º/1
Temos duas coisas diferentes: acusação, confirmada pela pronuncia. O que vamos arguir é a
nulidade.
A decisão de que se vai recorrer é a que deferiu a arguição da nulidade por ponderar alterações
usbtanciais dos factos. O recurso define-se 339.º tudo é recorrível, exceto o que a lei dizer que
não é. No caso da dupla conforme, a lei diz que não é recorrível, mas é
-
Objeto do processo e medidas de coação:
Critério do concurso ideal – PSM refere que haverá factos autonomizáveis quando houver
concurso ideal. Ex., há um caso de homicídio ao A e descobre-se que cometeu o crime para
ocultar uma violação. Poderá entender-se um facto autónomo e como tal poderá dar origem a
inquérito novo.

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O problema: o problema que aqui se poe não é outro que o de saber em termos se pode dizer
assegurada a identidade entre o acusado, o conhecido e o decidido, e, é, é o problema da
identidade do objeto do porcesso, enquanto exigência essecial da própria estrutura acusatória.
O objeto do processo deve manter-se- o mesmo desde a acusação até à decisão final. Não se
trata de uma identidade desciritiva mas sim de uma identidade problemática intencional (ACN).
Deve haver uma identidade do problema a decidir.
O bjeto do processo deve ser conhecido de forma unitária e global. Um problema unitário deve
ficar resolvido num so processo, não só pelo interesse do arguido de que resolva de uma vez por
todas a totalidade do facto porque é acusado, como também porque a multiplicação de provas e
decisões poderia gerar contradições, necessairmanete iniquas – PSM.
A decisão do objeto do processo deverá considerar-se como tendo esgotado a sua apreciação
jurídico criminal. A esgotante cognição corresponde ao interesse do Estado na realização da
pretensção punitiva, assim como correspondente também ao interesse do arguido na decisão da
sua sorte, resguardando-se definitivamente da possibilidade de novos julgamentos.
Objeto do processo:
É a matéria sobre a qual versa o processo. Para GMS é o crime, tal como definido no art. 1.º/1,
al. a) CPP. Para Henrique salinas são os factos imputados ao arguido na acusação e que
delimitam os poderes de cognição do tribunal; para jlm é a imputação do crime. Não apenas o
facto criminoso mas o facto criminoso na plenitude da sua estrutura real e significativo
valorativo.
Componente jurídica associada à vloração jurídica e social daquele tipo de crime.
Para JLM o processo engloba, por isso: os factos, com o alcance que lhes é dado pelo 124.º; e a
sua relevância ou qualificação jurídica. Ainda que para efeitos de caso julgado o que interessa
não é a qualificação jurídica mas sim os factos enquanto construção histórica.
Quando se fixa?
Acusação pública (283); RAI de assistente (287.º/1, al. b) e n.º 2); acusação particular (285).
Alteração substancial dos factos: aquela que tiver por efeito: a imputação ao arguido de um
crime diverso ou a agravação dos limites máximos das sanções palicáveis. Logo, tem de
respeitar a factos constitutivos do crime ou que tenham por efeito a imputação de um crime com
pena mais grave.
Para PPA apenas interessa quando d alteração não resulte a imputação de um crime com pena
mais grave.
Pressupoe o mesmo facto histórico unitário, composto por todas as ações do agente que tenham
um conteúdo ilícito semelhante e uma estreita continuidade espácio temporal.
Para GMS se os novos factos puderem ainda integrar a hipótese de facto histórico descrita na
acusação, podem alterar-se as modalidades da ação, pode o evento material não ser inteiramente
coincidente com o modo descrito, podem alterar-se as circunstâncias e o elemenot subjetivo que
o crime não ser materialmente diverso, desde que a razão do juízo da ilicitude permaneça a
mesma.
O crime não sera também materialmente diverso quando apenas variarem as formas de
execução do crime ou as modalidades de autoria ou comparticipação, desde que os atos
acusados e apurados possam ainda reconduzir-se ao mesmo facto histórico.

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JLM – é necessário que seja um tipo de crime undamentalmente diverso, ou seja, diferente e não
aparentado.
Crimes aparentados são os que estão:
 em relação de concurso aparente;
 em que diferen apenas a forma de culpabilidade; homicídio doloso e negligente.
 em fases diferentes do iter criminis;
 praticados sob uma forma diferente de comparticipação.
JLM – quando não forem crimes aparentados, haverá imputação de crime diferente mas não
diverso. A alteração existirá apenas por aplicação da parte final do art. 1.º, al. f).
Exemplos de ASF (PPA): modificção do autor de crime, modificação da vítima do crime,
imputação do crime por ação e condenação por omissão; imputação de crime único e
condenação por crime continuado, imputação do crime de furto e condenação por receptação;
imputação do crime de burla de transportes e condenação pela transgressão de transporte sem
bilhete válido.
O que é o crime diverso? Tereza Beleza diz que imaginemos que estamos a julgar o furto de
dois cavalos; mesmo que em ambos os casos seja qualificado, o objeto da ação muda. Muda de
tal maneira de forma a que o próprio crime muda. A narrativa é outra.
Regime da ASF
Variável em função da natureza autonomiz´vvel dos factos. O que são factos autonomizáveis.
Resume-se à possibilidade de os desligar daqueloutros que já constituem o objeto do processo,
de tal sorte que, sem prejudicar o processo em curso, sejam criadas as condições para se iniciar
um utro processo penal sem violação do princípio ne bis in idem – PSM
Factos que pode, por si só, ser suscetíveis de fundamentar uma incriminação autónoma em face
do objeto do processo – FI
Factos que podem constituir objeto de novo processo, independentemente do resultado do
processo em curso – GMS
Os que integram uma variação dos que constituem o objeto do processo, mas, ainda, dentor do
facto histórico unitário – PPA.
Ex., caso da pessoa que vai a casa de outrem furtar uma televisão. Descobre-se que arrombou a
porta e entrar em casa e levar a televisão (furto qualificado). Duas variáveis: A entrou na casa de
B so porque sim, chegou lá e pensou vou levar a televisão, solução parece mais fácil, porque
não entrou na casa para furtar; entrou em casa e depois formou a sua convicção (factos
autonomizáveis); segundo hipótese em que entrou na casa para furtar e descobre-se que ele
estava na casa de outra pessoa (dois crimes – evasão de domicilio e furto). A descoberta destes
novos factos implicava que o processo tinha factos autonomizáveis?
R se estamos perante factos; a introdução do local foi motivada pelo objeto do crime e como tal
os factos são indicissociaveis; dai o tipo especifico que o legislador criou. EUma outra solução
seria dizer que ambos os factos são autonomiz´veis na sua realidade e acima de tudo de acordo
com os factos da acusação.
Regime da alteração substancial dos factos.
Ex., pessoa que tem uma arma e comete um crime de roubo mas nunca tira a pistola. A
circunstância de carregar consigo a arma. Caso tiico a mera detenção era crime antes e continou
a ser crime depois; a circunstância de ter a arma não teve relevo, logo é um caso em que os

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indícios são completamente autonomizáveis. Critério utilizado deve ser um critério. Se for
possível contar a história sem repetir os factos então os factos são autonomizáveis.
Concurso ideal – discutido porque o nosso legislador tornou indistinto se é ou não cometido em
concurso ideal.
Critério adotado (pouco operativo): se é possível contar outra história com base nos factos
novos, podemos autonomizar. No caso do ex., de PSM descobre-se. O problema costuma ser
com o critério jurídico que possamos repetir a ação sem violar o nebis in nibis. Pegar nos vários
critérios e agarrarmo nos a um.
Augusto silva dias – narrativa.
PPA – facto histórico unitário.
Concurso ideal – duas ações diferentes.
Se os factos não forem autonomizáveis temos na fase de instrução – na fase de instrução 303.º e
359.º
O arguido não vai consentir numa alteração substancial dos factos; no entanto devemos admitir
essa possibilidade. Duas opções: ou o arguido diz que não, há absolvição ou é julgado pelo
crime de que foi acusado; segunda opção: diz que sim que aceita; terceira opção: não reage – já
foi interpretada como aceitação tácita. Apesar de a maior parte da doutrina não o considerar.
Se houver alteração substancial dos factos na fase de instrução nada dizer – notificado da
alteração dos factos. Esta alteração normalmente não é comunicada.
Na fase de julgamento, se o arguido não der o seu parecer, se nada fizer – consentimento tácito.
Supremo diz que sim; doutrina diz que não.
Havendo alteração não substancial dos factos, qual a consequência 309.º/1
Regime da alteração dos factos em sede de instrução – mera irregularidade; só a ubstancial é
que é nulidade; em sede de julgamento é sempre nulidade.
No caso dos crimes alternativos, havendo uma alteração do crime de furto, houve abuso de
confiança – o tribunal é condenado por um ou por outro. Consequência: PSM: absolvição, não
podemos condenar, o tribunal é confrontado tem de ver se há ou não furto; se não há furto não
pode ser condenado por abuso de confiança;
JMS para haver alteração da qualificação jurídica é necessário que haja uma mudança em
relação à qualificação jurídica. Se houver alteração da qualificação jurídica, ela poderá ser
tomada em consideração desde que o tribunal com os mesmos factos mude a qualificação; se o
crime for mais grave do que aquele que vinha a acusar, devemos ter como teto máximo, o teto
do crime anterior.
MEDIDAS DE COAÇÃO:
Requisitos, fundamentos, pressupostos, acordaos do PPT.

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