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C APÍTULO 6

Ética Profissional
Norberto Siegel

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

33Conhecer as principais concepções éticas que marcaram a história da humanidade.

33Apresentar os princípios que norteiam a ética profissional.

33Desenvolver uma reflexão sobre a ética profissional, visando o respeito e


responsabilidade em seu ambiente profissional.
Competências Profissionais no Mundo Moderno

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Capítulo 6 Ética Profissional

Contextualização
Uma das questões que mais tem sido debatidas nestes últimos tempos é o
posicionamento ético e moral das pessoas. É uma questão que está presente
em todos os momentos de nossa vida. Se ligarmos a TV, ao assistirmos aos
noticiários, às novelas e às outras programações, percebemos que a discussão
gira em torno do comportamento e das atitudes das pessoas. Sobre o que é
certo e o que é errado. Sobre o que é bom e o que é ruim. Ou seja, sobre a
questão ética e a conduta moral das pessoas.

A partir destas indagações, percebe-se que a ética e a moral fazem parte


do nosso cotidiano e estão presentes em todas as ações. A questão que surge
é: mas o que é ética e o que é moral? O que é ética profissional? O que é um
código de Ética? Nas próximas páginas, vamos apresentar as semelhanças
e diferenças entre Ética e Moral e expor, de forma sintética, alguns princípios
éticos que marcaram a história da humanidade.

Afinal, o que é Ética e Moral?


Tanto a ética quanto a moral, todos sabem o que significa, mas quase
ninguém consegue explicar quando é questionado. A ética tem vários sentidos,
mas é comumente conhecida por sua origem grega êthos e significa maneira
de se comportar, regulada pelos hábitos e costumes. Também é conhecida
como lugar onde se habita, uma espécie de segunda casa, a natureza.
Este segundo sentido significa “tudo aquilo que ajuda a tornar melhor o
ambiente para que seja uma moradia saudável: materialmente sustentável,
psicologicamente integrada e espiritualmente fecunda”. (BOFF, 1997, p. 90).

Como adquirir esta maneira de ser ético? Podemos construir mediante


a criação de hábitos que se alcançam por meio da repetição dos atos. Seria o
caráter de uma pessoa que se constitui por meio de um conjunto de hábitos e
de nossa maneira de ser.

Enquanto a moral é de origem latina moralis, que também significa


hábitos, costumes, condutas. Com a palavra moral, os romanos queriam dar
o mesmo sentido atribuído pelos gregos à palavra ética: os costumes também
se alcançariam a partir da repetição dos atos.

Assim sendo, desde a sua origem, as palavras ética e moral tinham muita
coisa em comum, mas, com o passar dos anos, com o surgimento da filosofia,
outras reflexões foram sendo feitas sobre as normas e as regras morais. Estas
reflexões estabeleceram algumas distinções entre ética e moral. Vejamos.

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A ética aponta para A ética aponta para aspectos gerais, faz referência ao campo da teoria e
aspectos gerais, faz da ciência que estabelecem os mais importantes princípios que servem para a
referência ao campo reflexão e análise da moral. É responsável por discutir e justificar os princípios
da teoria e da ciência ou regras que constituem a nossa moral.
que estabelecem
os mais importantes Já a moral se refere mais ao modo de comportar-se segundo os costumes
princípios que servem
de um grupo social ou do indivíduo. Diz respeito a um conjunto de princípios,
para a reflexão e
normas, valores que guiam nosso comportamento; faz-nos agir de determinada
análise da moral.
maneira e o que fazer em determinada situação. Está relacionada ao campo
prático do agir humano.
A moral se refere
mais ao modo de
comportar-se segundo É indiscutível que há uma ligação muito forte entre ética e moral, porém
os costumes de um não podemos simplesmente ignorar esta situação (TOMELIN; SIEGEL, 2007).
grupo social ou do Antes de abordamos os aspectos da ética profissional, vamos apresentar
indivíduo. sinteticamente algumas concepções de ética que marcaram a história da
humanidade ocidental.

Concepções de Ética que Marcaram a


História Ocidental
Ao longo da história da humanidade, a ética foi entendida como parte
integrante da filosofia. Os filósofos procuraram estabelecer princípios e
pressupostos que caracterizaram o campo de compreensão da ética e da
moral. Em cada uma das épocas, o campo de compreensão se ampliava e
adquiria novos sentidos, fazendo com que as ações e as condutas das pessoas
fossem compreendidas de maneira diferente.

A ética e a moral nos remetem à ideia de costumes. Muitas foram as


teorias e as concepções que se formaram entre os pensadores do assunto. Por
isso, passo a apresentar de maneira resumida, algumas concepções de ética
que marcaram a discussão ao longo de nossa história da humanidade. Estas
concepções não devem ser entendidas como um conjunto fixo e irredutível de
prescrições, mas dentro do seu contexto histórico.

a) A Ética na Concepção Socrática

Foi com os primeiros filósofos gregos, principalmente com Sócrates, que


teve início a discussão sobre Ética. Para Sócrates, a moral parte do princípio
de que a felicidade humana é resultado de uma vida virtuosa, ou seja, de que
a felicidade é a própria perfeição ética. O bem consiste no proveito de todos.
O homem, agindo pelo interesse comum, ganha também a própria felicidade,

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Capítulo 6 Ética Profissional

que reside precisamente na consciência do agir de acordo com a justiça, no


domínio de si mesmo e dos próprios impulsos. Para Sócrates, é virtuoso quem
é sábio e pratica o bem, do contrário, quem não conhece o bem e não o pratica
é infeliz. Aqueles que praticam o mal fazem-no por ignorância. Portanto, a
origem de todos os males está na ignorância. (SCIACCA, 1995).

b) A Ética na Concepção Aristotélica

Os gregos desenvolveram outras formas de compreender a ética. Para


Aristóteles, a Ética está vinculada à vida prática. É nesse sentido que Aristóteles,
na obra Ética a Nicômaco, trata dos conceitos de Ética com maior detalhe,
cuja preocupação principal, acima de qualquer coisa, é com o bem comum. A
vida boa, que todo ser humano deseja, é o que chamamos de felicidade, que
se refere a certa forma de viver que, no entanto, como a natureza humana,
é complexa e, muitas vezes, apresenta tendências adversas, sendo preciso
submetê-la a certas regras ou critérios racionais que equilibrem a felicidade
entre os demais. Conseguir esse equilíbrio (meio termo) é o que Aristóteles
chama de virtude, apresentada como um componente essencial da felicidade.

O fim da medicina é a saúde, o da construção naval é um


navio, o da estratégia militar é a vitória, e o da economia é a
riqueza. Se existe então, para as coisas que fazemos, algum
fim que desejamos por si mesmo e tudo o mais é desejado
por causa dele [...] evidentemente tal fim deve ser o bem, ou
melhor, o sumo bem (ARISTÓTELES, 2003, p. 17).

A virtude não é uma atividade adversa da felicidade, mas um hábito ou


uma maneira habitual de ser. Como tal, não pode ser adquirida da noite para
o dia porque depende de muito exercício, que não se caracteriza como uma
A virtude moral é
atividade, mas como uma disposição para agir sempre da mesma forma nas adquirida em resultado
ações futuras. É nesse sentido que, na Ética a Nicômaco, Aristóteles afirma do hábito.
que “a virtude moral é adquirida em resultado do hábito”; em que se configura
a ética como uma ciência prática, pois como diz ele, “[...] não investigamos
para saber o que é a virtude, mas a fim de nos tornarmos bons, do contrário o
nosso estudo seria inútil [...].” (ARISTÓTELES, 2003, p. 27).

c) A Ética na Concepção Cristã

Na Idade Média, o cristianismo exerceu um domínio muito forte sobre a


vida das pessoas, consequentemente, influenciou na maneira de organizar- A nossa relação com
se e de relacionar-se. O relacionamento, nesta época, não estava ligado os outros depende da
qualidade de nossa
diretamente à questão político-social, mas ao comportamento individual
relação com Deus.
com Deus.

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A concepção de ética na Idade Média se diferenciava da concepção grega.


A principal diferença estava na ideia de que a virtude se define na relação com
Deus e não com a sociedade e nem com os outros. Portanto, a nossa relação
com os outros depende da qualidade de nossa relação com Deus. Por esse
motivo, a fé e a caridade eram as duas virtudes cristãs indispensáveis para um
bom relacionamento com Deus.

d) A Ética na Concepção Antropocêntrica

Com o início do desenvolvimento do capitalismo e da ciência, a sociedade


passa a ser entendida a partir do indivíduo e não mais a partir dos interesses
da coletividade. Ou seja, para os gregos, a comunidade era vista como algo
constitutivo do ser humano e que tinha sua realização na “pólis”. Na Idade
Média, a comunidade era compreendida como algo imutável e pré-estabelecido
por Deus, cabendo ao homem apenas aceitar as determinações impostas
pela Igreja e segui-las. A ética era entendida a partir da ideia do dever. As
pessoas deveriam ter: “deveres para com Deus, deveres para consigo mesmo
e deveres para com o próximo.” (VIDAL, 1981, p. 33).

Posteriormente, na Idade moderna, o homem se apega à ciência como


construtora de sua vida. O dever passa a ser compreendido como um
postulado racional universal que deve regular a vida dos cristãos e não cristãos
na sociedade. Um dos filósofos que procurou dar uma resposta a essas
dificuldades foi Rousseau, no século XVIII. Para ele, a consciência moral e o
sentimento do dever são inatos e independem da nossa vontade. Chauí (1997,
p. 344) faz a seguinte reflexão sobre as idéias de Rousseau no que se refere à
ética do dever e a consciência moral:

[...] nascemos puros e bons, dotados de generosidade


e benevolência para com os outros. Se o dever parece
ser uma imposição e uma obrigação externa, imposta
por Deus aos humanos, é porque nossa bondade natural
foi pervertida pela sociedade, quando esta criou a
propriedade privada e os interesses privados, tornando-os
egoístas, mentirosos e destrutivos.

Rousseau (1983) defende uma ética do coração, onde o dever


simplesmente nos faz recordar da nossa natureza originária, que é seguir
as pré-determinações impostas a nós antes de nascermos. Nesse sentido,
devemos obedecer não a nossa razão, que é perversa e egoísta, mas aos
nossos sentimentos e emoções que constituem o nosso ser, que é dotado de
bondade e ternura.

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Mas é com Kant, filósofo alemão (1724-1804), que a ética dos tempos
modernos adquire uma característica mais individualista influenciada pela
ciência, onde os aspectos racionais e antropológicos passam a ser referências
diretas para toda e qualquer conduta humana e para o sistema capitalista.
Immanuel Kant, contrariando as ideias defendidas por Rousseau, afirmava
que somos, por natureza, dotados de bondade e de maldade e que nossos
atos não dependem de nossa vontade própria, a qual temos que seguir pelos
impulsos do coração. Santos (1997, p. 87) faz a seguinte reflexão sobre a ética
em Kant: “o homem é um ser determinado e sabe que não pode ser totalmente
livre, mas pela sua força de vontade é capaz de fazer o bem e rejeitar o mal”.

Em síntese, a ética kantiana se baseia nos seguintes princípios ou regras, Qualquer conduta
a saber: qualquer conduta aceita como padrão ético deve valer para todos os aceita como padrão
que se encontrem na mesma situação, sem exceções; só se deve exigir dos ético deve valer
outros o que exigimos de nós mesmos; devemos agir de alguma forma que a para todos os que
causa que nos levou a agir possa ser transformada em lei universal. (KANT, 1974). se encontrem na
mesma situação, sem
exceções.
e) A Ética na Concepção Marxista

Um dos maiores pensadores do mundo moderno, Karl Marx, afirmou


que as transformações sociais são produzidas pela luta de classes e que
seu objetivo era construir uma sociedade sem classes. Mas, segundo Marx, Segundo Marx, numa
numa sociedade onde vivem exploradores e explorados é a moral da classe sociedade onde
dominante que predomina. Os valores, como liberdade, amizade e felicidade, vivem exploradores e
são hipócritas porque são irrealizáveis numa sociedade fundada em classes explorados é a moral
da classe dominante
sociais. Portanto, falar em moral ou ética universal numa sociedade dividida
que predomina.
em classes é completamente falso, é camuflar os interesses antagônicos das
classes para manter a dominação de uma sobre a outra. Somente poderá
existir uma ética verdadeira quando vivermos numa sociedade sem Estado,
sem classes e sem propriedade privada.

f) A Ética na Concepção de Jürgen Habermas

Para Jürgen Habermas, que nasceu na Alemanha em 1929, a ética se A vida boa é definida
baseia no uso da razão prática e busca o que é bom, tanto para o indivíduo pelo grupo social
como para a coletividade. De acordo com o pensamento de Habermas, ao qual o indivíduo
o comportamento prático do cidadão deve orientar-se pelo ideal da vida pertence.
boa. A vida boa é definida pelo grupo social ao qual o indivíduo pertence;
trata-se de um ideal coletivo ancorado na tradição. O cidadão deve buscar
uma forma de integrar-se ao projeto coletivo que respeite também as
características de sua individualidade.

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g) A Ética da Libertação de Enrique Dussel

Nascido em 1934, na cidade de Mendoza (Argentina), é considerado


um importante representante da Filosofia da Libertação. Desenvolve seu
pensamento tendo como base a realidade latinoamericana de dominação
e opressão. Defensor dos mais pobres, sua concepção de Ética tem como
princípio primeiro defender a vida a partir de um continente oprimido e
marginalizado.

A ética ou a moral é sempre certo respeito ao outro. Como crítico do


processo de colonização, adotado pelos povos europeus, Dussel (1977, p. 47)
apresenta o princípio primeiro e supremo da ética latinoamericana, que é:

“Não mates o Outro, ame-o com amor-de-justiça”. “Não o


mates” porque então permanecerás “só”[...]. Não só deves
deixá-lo viver (“deixar viver” é condição da afirmação da
negação da negação: “não mates’); é ainda necessário amá-
lo como outro, e pode depois dar-lhe o que é justo aquele
que assim ama o Outro benevolentemente.

A ética, para Enrique Ao contrário, o mal é a “negação do Outro” no sentido de não poder fazer
Dussel, é ouvir a voz parte do processo histórico, consequentemente, vive excluído da sociedade.
do outro. Aquele que A maldade é o desprezo ao Outro, enquanto a bondade é acolher o outro.
ouve a voz do outro Portanto, a origem do bem está no Outro. Em síntese, a ética, para Enrique
ou a sua palavra está Dussel, é ouvir a voz do outro. Aquele que ouve a voz do outro ou a sua palavra
praticando a justiça.
está praticando a justiça.

h) A Ética para Paulo Freire

Considerado um dos principais representantes da Educação brasileira,


Paulo Freire não desenvolveu um conjunto de princípios ou teorias a serem
seguidas, mas sua ética se apresenta mais como um olhar ou uma ótica que
perpassa todas as dimensões da vida, desde as questões mais simples até as
situações mais complexas da vida.

A ética se manifesta na capacidade que as pessoas têm de relacionar


as suas vivências. Quando somos capazes de comparar, intervir, romper,
tornamo-nos seres éticos, estamos caminhando para a libertação da opressão
e da marginalização sofrida na sociedade. Além disso, a ética se manifesta na
capacidade de indignar-se contra as crueldades que acontecem. “Está errada
a educação que não reconhece na justa raiva, na raiva que protesta contra as
injustiças, contra a deslealdade, contra o desamor, contra a exploração e a
violência um papel altamente formador.” (FREIRE, 1996, p. 45).

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Capítulo 6 Ética Profissional

Em síntese, para Paulo Freire (apud BARRETO, 1998, p.58), "é exatamente Para Paulo Freire é o
a vida, que aguçando nossa curiosidade, nos leva ao conhecimento; é o direito de direito de todos à vida
todos à vida que nos faz solidários; é a opção pela vida que nos torna éticos”. que nos faz solidários;
é a opção pela vida
Em linhas gerais, as ideias até aqui apresentadas sobre as diferentes que nos torna éticos.
concepções de éticas nos permitem concluir que ela não está pronta e acabada,
mas em constante processo de construção. Além do mais, condição essencial
para o exercício de qualquer profissão, tema este que será desenvolvido na
próxima seção.

Atividade de Estudos:

1) Apresente as principais características da ética e da moral.


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2) Na leitura do texto sobre as concepções de ética que marcaram


a história ocidental, você pode perceber que há diferentes
explicações e compreensões para a ética. Procure sintetizar,
em uma ou duas frases, cada uma das concepções de ética
apresentada.

a) A Ética na concepção socrática


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b) A Ética na concepção aristotélica


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c) A Ética na concepção Cristã


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d) A Ética na concepção antropocêntrica


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e) A Ética na concepção marxista


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e) A Ética na concepção de Jürgen Habermas


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f) A Ética da Libertação de Enrique Dussel


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g) A Ética para Paulo Freire


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3) Leia o texto que segue:

Uma jovem descobre que está grávida. Sente que seu corpo e seu
espírito ainda não estão preparados para a gravidez. Sabe que seu
parceiro, mesmo que deseje apoiá-la, é tão jovem e despreparado
quanto ela e que ambos não terão como se responsabilizar
plenamente pela gestação, pelo parto e pela criação de um filho.
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Ambos estão desorientados. Não sabem se poderão contar com o


auxílio de suas famílias (se as tiverem).

Se ela for apenas estudante, terá que deixar a escola para trabalhar,
a fim de pagar o parto e arcar com as despesas da criança. Sua
vida e seu futuro mudarão para sempre. Se trabalha, sabe que
perderá o emprego, porque vive numa sociedade onde os patrões
discriminam as mulheres grávidas, sobretudo as solteiras. Receia
não contar com os amigos. Ao mesmo tempo, porém, deseja a
criança, sonha com ela, mas teme dar-lhe uma vida de miséria
e ser injusta com quem não pediu para nascer. Pode fazer um
aborto? Deve fazê-lo? (CHAUI, 1997, p. 334).

A partir deste problema ético, procure dar uma resposta para o


caso e fundamente em um dos princípios éticos apresentados
na questão 2.
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Ética Profissional
Até aqui apresentamos as diferenças entre ética e moral e as principais
teorias éticas que se formaram ao longo da história da humanidade. Todas
essas ideias apresentadas até então irão servir de base para a compreensão
das questões relativas à ética profissional. Primeiramente, discutiremos a
questão da boa forma ética e, posteriormente, a ética profissional e a função
do código de ética na sociedade.

a) A Boa Forma Ética

Antes de abordamos o tema ética profissional, gostaria de destacar um


ponto muito importante e que está relacionado a questão da formação ética.
Será que já nascemos bons ou ruins? Será que já nascemos com os valores
éticos e morais ou será que eles são construídos ao longo de nossa vida?

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Diante desses dilemas apresentados, a ideia que predomina mais


fortemente é que ninguém nasce bom ou mal, justo ou injusto, solidário ou egoísta,
mas vamos construindo a nossa personalidade ao longo de nossa história.

Para compreendermos como se dá a formação ética, relaciono o tema


com a boa forma física. Para que um jogador de futebol seja um bom jogador é
necessário muito treino, exercício com bola, calcular conscientemente a força,
o ângulo, a velocidade, o peso da bola, antes de fazer qualquer passe ou drible.
Nem sempre o jogador tem sucesso em suas jogadas, mas sua habilidade e
destreza estarão ligados ao treinamento contínuo e uma boa forma física será
fundamental. (MEYER, 2008).

Note o quanto a boa forma ética se assemelha à boa forma


física. Você não nasce com boa forma física. Alcança-a
fazendo um pouco de esforço a cada dia. [...] Mas alcançar
boa forma não é o suficiente. Uma vez conseguida é preciso
mantê-la. [...]

Com a boa forma ética ocorre algo semelhante. Você pode


ser da família de mais alta moral, de mais elevados princípios
e de maior sensatez do mundo – e isso ajuda. Pode ter
recebido uma boa formação escolar e religiosa, ter crescido
junto a pessoas honestas e trabalhadoras – e isso torna
muito mais fácil você também ser ético. Na escola, pode ter
estudado ética, ou haver trabalhado para alguém que era um
modelo de retidão. (KIDDER, 2007, p.77-78).

A boa formação ética se assemelha com a boa formação física. É


necessário treinar constantemente, caso contrário, não desenvolvemos os
valores que caracterizam a atitude ética. A boa formação ética significa um
A presença da ética envolvimento com os valores e é “uma atividade sumamente humana em
em nosso dia a dia que ocorre envolvimento suficiente para que os outros queiram que o certo
é uma forma de
prevaleça.” (KIDDER, 2007, p. 78). A presença da ética em nosso dia a dia
exercício da boa
é uma forma de exercício da boa formação ética. É necessário dedicação
formação ética.
e esforço para poder praticá-lo e estarmos sempre em boa forma ética, a
exemplo do atleta que treina todos os dias para poder estar em boa forma
física durante o jogo.

Em nossa vida estamos diante de valores muito claros – responsabilidade,


lealdade, verdade, justiça, sinceridade, honestidade, compreensão – no
entanto, não nos sensibilizamos e envolvemos o suficiente diante das injustiças
e transgressões éticas que ocorrem na sociedade.

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Capítulo 6 Ética Profissional

Atividade de Estudos:

Até agora estudamos a questão da formação ética. Proponho que


você leia o pensamento de Rui Barbosa e posteriormente reflita
sobre a questão ética na atualidade:

De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver


prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça.
De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos
dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude,
a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.
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b) Ética Profissional

Como pudemos perceber, o termo ética tem vários significados e,


consequentemente, várias interpretações. Do mesmo modo as profissões,
pois a maioria é formada por trabalhadores contratados que desempenham
suas funções em empresas e instituições ou são profissionais liberais.

Mas uma das principais preocupações do profissional moderno é


com relação ao seu comportamento no local de trabalho. As questões
que surgem são: será que as minhas atitudes são coerentes com os
princípios que a empresa e/ou minha profissão exigem? Será que
estou agindo corretamente? O que é certo e o que é errado diante de
tantos acontecimentos negativos que ocorrem na sociedade? Estes
questionamentos fazem parte da ética profissional.

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Alguns autores utilizam a expressão deontologia com o sinônimo


para se referir à ética profissional. Deontologia é de origem grega:
déon que significa convincente, necessário, obrigatório; e logia que
significa conhecimento ou estudo. Portanto, a deontologia é um
conjunto de conhecimentos exigidos nas atividades profissionais.
Em nossos estudos não vamos utilizar a expressão deontologia,
mas ética profissional, pois entendemos que melhor caracteriza a
relação da ética com a atividade profissional.

Primeiramente, ética profissional significa a aplicação dos valores e


das normas no exercício profissional. Para a sua aplicação são elaborados
códigos de conduta que regulam o relacionamento entre os membros de uma
profissão. Como exemplo, podemos citar o código de ética dos advogados,
contabilistas, profissionais de educação física, engenheiros entre outros.

Mas o que é ética profissional? A seguir apresentamos algumas das


definições de ética profissional na opinião de alguns autores.

Segundo Santos (1997, p. 15), ética profissional é:

[...] a reflexão sobre a atividade produtiva, para dali extrair o


conjunto excelente de ações, relativas ao modo de produção.
Atividade produtiva tem hábitos e costume próprios, tem
também acordos que asseguram a produção de justiça
mínima no decorrer de seu exercício e constituem, ambos, o
objeto da ética profissional.

A ética profissional
é a aplicação da Já para Camargo (1999, p. 31), “a ética profissional é a aplicação da ética
ética geral no campo geral no campo das atividades profissionais; a pessoa tem que estar imbuída
das atividades de certos princípios ou valores próprios do ser humano para vivê-los nas suas
profissionais. atividades de trabalho.”

Em suma, a ética profissional não se resume a um conjunto de leis ou


regras que disciplina o exercício de uma profissão, mas vai muito além. Diz
respeito ao agir de cada profissional perante o seu grupo de trabalho e no
relacionamento com os demais profissionais.

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Capítulo 6 Ética Profissional

c) Código de Ética

Até agora estudamos como a ética foi sendo compreendia através da


história e o que é ética profissional. Quando uma organização ou uma classe
profissional quer aplicar a ética se estabelece um código de ética que vai
sistematizar todas as ações do profissional em seu ambiente de trabalho.

O código de ética serve para orientar, disciplinar e fiscalizar os profissionais


de uma determinada classe ou organização. Além disso, serve para
estabelecer uma linha de conduta entre integrantes de uma organização. É a
sistematização por escrito das obrigações de cada um no campo profissional.
Para que o código de ética tenha eficácia é necessário que os responsáveis
pela empresa expliquem constantemente aos funcionários quais são seus
direitos e responsabilidades éticas.
A missão do código
Segundo Moreira (1999, p.33), a missão do código de ética é “padronizar de ética é “padronizar
e formalizar o entendimento da organização empresarial em seus diversos e formalizar o
entendimento
relacionamentos e operações. A existência do Código de Ética evita que os
da organização
julgamentos subjetivos deturpem, impeçam ou restrinjam a aplicação plena
empresarial em
dos princípios”.
seus diversos
relacionamentos e
Numa rápida análise sobre alguns códigos de éticas, percebe-se que há operações.
valores que são semelhantes e apontam para a sua utilidade. Tomemos como
exemplo alguns códigos:

• Princípios Éticos do Sistema Petrobras:

I - O respeito à vida e a todos os seres humanos, a


integridade, a verdade, a honestidade, a justiça, a equidade,
a lealdade institucional, a responsabilidade, o zelo, o mérito,
a transparência, a legalidade, a impessoalidade, a coerência
entre o discurso e a prática, são os princípios éticos que
norteiam as ações do Sistema Petrobras. (PETROBRAS,
2010, p. 5).

Além deste princípio ético, há outros compromissos de conduta do Sistema


Petrobras com os empregados, fornecedores, prestadores de serviços,
sociedade e meio ambiente.

• Código de Ética e Conduta da Embraer: Baseia-se nos dez princípios


estabelecidos pelo Pacto Global da ONU, voltados para sustentabilidade,
ao qual a Embraer aderiu no ano de 2008, a seguir relacionados:

• respeitar e proteger os direitos humanos;


• impedir violações de direitos humanos;
• apoiar a liberdade de associação no trabalho;

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• abolir o trabalho forçado;


• abolir o trabalho infantil;
• eliminar a discriminação no ambiente de trabalho;
• apoiar abordagem preventiva aos desafios ambientais;
• promover a responsabilidade ambiental;
• encorajar tecnologias que não agridam o meio ambiente; e
• combater a corrupção em todas as suas formas, inclusive
extorsão e propina. (EMBRAER, 2010).

• Código de Ética dos Profissionais de Educação Física:

Art. 4º - O exercício profissional em Educação Física pautar-


se-á pelos seguintes princípios:

I - o respeito à vida, à dignidade, à integridade e aos direitos


do indivíduo;

II - a responsabilidade social;

III - a ausência de discriminação ou preconceito de qualquer


natureza;

IV - o respeito à ética nas diversas atividades profissionais;


V - a valorização da identidade profissional no campo da
atividade física;

VI - a sustentabilidade do meio ambiente;

VII - a prestação, sempre, do melhor serviço, a um


número cada vez maior de pessoas, com competência,
responsabilidade e honestidade;

VIII - a atuação dentro das especificidades do seu campo


e área do conhecimento, no sentido da educação e
desenvolvimento das potencialidades humanas, daqueles
aos quais presta serviços. (CONFEF, 2003).

Além desses princípios gerais, o código de ética do profissional de


educação física se baseia na Declaração Universal dos Direitos Humanos no
que diz respeito aos direitos e deveres dos cidadãos.
Código de ética
é conciso e de Mas, o que caracteriza um código de ética? Em primeiro lugar, ele
fácil memorização é conciso e de fácil memorização com destaque para os valores que são
com destaque para essenciais no relacionamento profissional. Em segundo lugar, um código de
os valores que ética pode ser expresso de diversas formas, ou seja, pode ser positivo ou
são essenciais no negativo, uma definição ou uma exortação, um conjunto de palavras isoladas
relacionamento ou uma série de frases elaboradas. (KIDDER, 2007).
profissional.

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Capítulo 6 Ética Profissional

Caso você queira consultar alguns códigos de ética apresentados


neste capítulo acesse os sites:

http://www2.petrobras.com.br/petrobras/portugues/pdf/codigo_de_
etica_sistema_petrobras.pdf

http://www.confef.org.br/extra/resolucoes/conteudo.asp?cd_
resol=103

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Atividade de Estudos:

1) O que é Ética Profissional?


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2) No desempenho de qualquer profissão, apresente, no mínimo,


5 princípios ou valores éticos que todo profissional deve ter.
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3) O que caracteriza um código de ética?


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139
Competências Profissionais no Mundo Moderno

Algumas Considerações
Neste capítulo procuramos apresentar as principais diferenças entre
ética e moral e as principais teorias que se formaram ao longo da história da
humanidade sobre a questão ética. Por fim, apresentamos os aspectos que
caracterizam a ética profissional e os códigos de ética.

Estudar ética é essencial a qualquer profissional do mundo moderno,


pois a preocupação principal é com o respeito à vida, a não discriminação e a
dignidade do ser humano que é o fundamento da ética.

Por fim, este capítulo procurou refletir sobre os princípios básicos de


todo profissional no mundo moderno, que são a responsabilidade, a justiça, a
dignidade e o respeito com as demais pessoas da sociedade, pois dependemos
um dos outros em nossas atividades profissionais.

Referências
ARISTÓTELES. Ética a nicômaco. Tradução de Pietro Nassetti. São Paulo:
Martin Claret, 2003.

BARRETO, Vera. Paulo Freire para educadores. São Paulo: Arte & Ciência,
1998.

BOFF, Leonardo. O Despertar da Águia. Petrópolis: Vozes, 1997.

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CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1997.

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140
Capítulo 6 Ética Profissional

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática


educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura)

KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo:


Abril Cultural, 1974. (Coleção Os Pensadores)

KIDDER, Rushworth M. Como tomar decisões difíceis: ou como escolher na


vida entre o certo e o certo. São Paulo: Editora gente, 2007.

MEYER, Ildo. Parabéns a você: um ensaio sobre ética e felicidade. Porto


Alegre: AGE, 2008.

MOREIRA, Joaquim Manhães. A ética empresarial no Brasil. São Paulo:


Pioneira, 1999.

PETROBRAS. Código de ética do sistema Petrobras. Disponível em:


<http://www2.petrobras.com.br/petrobras/portugues/pdf/codigo_de_etica_
sistema_petrobras.pdf>. Acesso em: 27 ago. 2010.

SANTOS, Antônio Raimundo. Ética: caminhos da realização humana. 3 ed.


São Paulo: Ave Maria, 1997.

SCIACCA, Michele Frederico. História da filosofia. São Paulo:


Melhoramento, 1995.

TOMELIN, Janes Fidélis; SIEGEL, Norberto. Filosofia: caderno de estudos:


Indaial: Grupo UNIASSELVI, 2007.

VIDAL, Marciano. Moral de atitudes: Ética da pessoa. 2 vol. Aparecida:


Santuário, 1981.

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