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Conceitualização e

Desenvolvimento histórico
da Ética e Moral
Primeira Unidade
Vamos abordar,
1.Objecto formal da Ética
2.Relação Ética Vs Moral
3.Historicidade da Ética e da
Moral
O objecto Formal
da Ética
O Objecto formal
da Ética é a
MORALIDADE
dos actos humanos.
É justamente que a ética foi
definida como filosofia
moral porque estuda as
BASES DA MORAL.
Segundo Márcia M. Raymundo, em Essencia da Moral,
existe uma diferença entre Moral e Moralidade:
A moral designaria o conjunto dos princípios, normas,
imperativos ou idéias morais de uma época ou sociedade
determinadas.
A moralidade seria um componente efetivo das relações
humanas concretas que adquirem um significado moral
em relação à moral vigente.
- A moral estaria no plano ideal e a moralidade no
plano real.
- A moralidade é a moral em ação, a moral prática e
praticada.
❑CARACTERÍSTICA DA ÉTICA
1-A ética é pessoal e humana
É convicção universal que a
moralidade não se verifica em qualquer
acto realizado por um HOMEM, mas
apenas naqueles de que este é o
verdadeiro autor.
2. DEFINE O QUE É CERTO E ERRADO
Todos os princípios nos quais a ética é baseada têm
a intenção de gerar um tipo de guia, através do
qual estabelecer quais são os comportamentos
corretos e quais são os incorretos.
A ética permite reconhecer, com mais
racionalidade, boas e más ações, com base no
bem-estar que produz nos indivíduos e nas
sociedades.
2. LIDA COM DIREITOS E RESPONSABILIDADES
Ética é sobre identificar as ações que os indivíduos
devem tomar para gerar um ambiente harmonioso
e respeitoso, e isso tem a ver diretamente com os
direitos e responsabilidades de cada pessoa.
Sendo um sistema moral que busca reconhecer os
outros, direitos e deveres são aspectos
fundamentais, uma vez que fornecem uma base sobre
quais devem ser as diretrizes racionais para gerar um
ambiente justo.
3. PERMITE RESOLVER CONFLITOS
A ética pode servir como uma plataforma para
encontrar um terreno comum entre pessoas ou
sociedades em conflito.
A ética é baseada em valores universais,
como tolerância, respeito, solidariedade ou paz,
entre outros, e com base nesses princípios é
mais fácil encontrar consenso entre os
fatores em conflito.
4. NÃO ESTÁ ASSOCIADO A SENTIMENTOS
Geralmente acontece que, em situações comprometedoras
ou que têm um forte impacto na vida das pessoas, elas
se deixam levar por sentimentos e emoções, e esse
curso de ação não garante necessariamente uma resolução
ética da situação em questão.
A ética torna-se um sistema através do qual é possível
evitar ações baseadas na irracionalidade. Procura
observar todos os eventos do ponto de vista e levando em
conta o que é mais conveniente para a sociedade.
5. NÃO É BASEADO EM RELIGIÃO
A ética não é definida pela religião.
Muitas das religiões baseiam seus
preceitos em aspectos éticos, mas a ética
vai além, porque se aplica tanto a
pessoas religiosas quanto a ateus.
6. É DIFERENTE DA LEI
A lei se refere a um conjunto de regulamentos
estabelecidos de acordo com os interesses de
uma nação, e isso implica uma punição para
aqueles que não cumprem.
A lei deve basear-se em preceitos éticos,
mas a ética não é definida por lei. Em alguns
casos, a lei foi separada da ética, respondendo a
interesses individuais em detrimento do bem-
estar dos outros.
8. NÃO É DEFINIDO PELA SOCIEDADE
A ética também não é definida pelas sociedades.
Espera-se que os princípios éticos sejam aceitos pelas
sociedades.
No entanto, houve sociedades cujas ações socialmente
aceitas se afastam do universalmente ético.
Em algum momento, certas ações como escravidão,
tortura, violência e repressão, entre outras, foram
aceitas; e foram considerados pela sociedade como
comportamentos éticos.
RELAÇÃO ÉTICA E MORAL
Ética e moral são dois termos
geralmente confundidos.
Por serem parecidos, muitas pessoas
assumem que o significado seja o
mesmo.
Apesar de não ser um consenso entre
os autores, em geral, faz-se uma
distinção entre Ética e Moral.
Semelhança Ética e Moral
A posição que considera a ética como
sinónimo de moral fundamenta-se na
COINCIDÊNCIA ETIMOLÓGICA
e conceptual dos 2 termos.
-ÉTICA - Originária da palavra grega
ETHOS, que significa CARÁTER pessoal,
qualidade do ser. Numa segunda acepção,
ethos significa também o conjunto de
COSTUMES/HÁBITOS fundamentais.
- MORAL – Originou-se da tradução de
ethos para o latim, resultando na palavra
mos (mores, no plural), que significa
COSTUME.
Em última análise
percebe-se que os dois
termos (ética e moral) são
derivados da palavra grega
ethos....
DISSEMELHANÇA ÉTICA E MORAL
Apesar das mesmas origens e
significados semelhantes nos
primórdios, as palavras “ética”
e “moral” apresentam
significados diferentes
atualmente.
Todos os estudiosos consideravam
que Ética é o conhecimento que
oferece ao ser humano critérios
para a escolha da melhor
conduta possível para uma vida em
comunidade/sociedade.
Dentro de uma sociedade, ética é a
REFLEXÃO sobre quais ações são
virtuosas e quais não são.
1. Podemos concluir que a ética é
ESPECULATIVA e que se apresenta
como uma INVESTIGAÇÃO
TEÓRICA.
Desta forma, a ética é a parte da
filosofia que se ocupa do
comportamento moral do homem na
sociedade e que irá fornecer
elementos teóricos para a escolha
pessoal de determinada ação.
2. Ressalte-se, ainda, que a ética é
considerada uma medida que o
indivíduo tem de si mesmo. Ou seja, é
uma dimensão SUBJETIVA,
pessoal. Quando alguém é ético, o
faz por sua própria escolha. Ser
ético é uma escolha voluntária de
respeitar princípios e valores morais.
Esta noção pressupõe que o ser ético
depende de LIBERDADE para tomar
escolha de forma voluntária, já que, sob
coação, ninguém tem a liberdade de optar
voluntariamente em relação a uma ação ou
outra. Sob coação, não tem como se falar
em escolha individual para o bem ou para
o mal.
1. Diferentemente da ÉTICA, que se
apresenta por meio da REFLEXÃO, a
MORAL apresenta-se por meio da
AÇÃO.
A palavra MORAL, como vimos, significa
COSTUME e está ligada à ideia de
REPETIÇÃO DE ATOS aceites como
bons e necessários para a harmoniosa vida
em sociedade
2. Outra diferença, é que
enquanto a ética é uma disciplina
filosófica e ESPECULATIVA, a
moral é NORMATIVA, ou
seja, estabelece normas que
devem ser seguidas por todos.
A moral, portanto, ao lidar com
hábitos/costumes é considerada
como PARTICULAR. A ética,
por outro lado, por possuir cunho
filosófico, é mais abrangente e é
tida como UNIVERSAL.
Assim, fica fácil concluir que a moral é influenciada
por FATORES SOCIAIS e HISTÓRICOS (espaço-
temporais), o que dá espaço para diferenças entre
conceitos morais de um grupo para outro
(relativismo). No campo da ética, por outro lado, não
há esse mesmo tipo de abertura, pois é um conceito
que se baseia na UNIVERSALIDADE
(absolutismo) e considera que seus princípios
possuem os mesmos valores para todos os lugares e
em qualquer época
RELAÇÃO ÉTICA E MORAL
ÉTICA MORAL
1.REFLEXÃO/INVESTIG 1’. Apresenta-se por meio da
AÇÃO sobre a moral AÇÃO/PRÁTICA.
2. Disciplina filosófica 2’.Disciplina NORMATIVA
ESPECULATIVA 3’HÁBITOS/COSTUME
3. Cunho FILOSÓFICO 4’Dimensão
4.Dimensão UNIVERSAL PARTICULAR/TEMPORÁ
RIA (cultural)
5. PRINCÍPIOS
5’Condutas ESPECÍFICAS
6. Fornece critérios para
ESCOLHA da melhor 6’DETERMINA ações
conduta possível
N.B.:
1. A moral está ligada à ideia de:
• Norma,
• Código de conduta,
• Regras
2. Podemos ter mudanças
morais em duas dimensões:
• ESPACIAL; e
• TEMPORAL.
HISTORICIDADE DA ÉTICA
É importante a história porque
encontrámos inúmeras reflexões a
cerca da ética que são de extrema
importância não somente para aquele
tempo, mas para todo o fundamento
do pensamento sobre a ética até os dias
de hoje.
Podemos distinguir 4 fases
essenciais da história da Ética:
✓ Ética Grega
✓Ética Cristã
✓Ética Moderna
✓Ética Contemporânea.
❑ÉTICA GREGA
O problema ético surge acentuadamente no
século V a.C., no chamado período
clássico da Filosofia.
Portanto, a Ética Grega é a reflexão ética
do mundo ocidental que se iniciou na
Grécia antiga, no século 5 a.C.
A ética antiga grega não é uniforme,
possui variações conceituais.
No entanto, podemos destacar algumas
características da ética grega, como
✓A valorização da virtude e da sabedoria
✓ A definição de felicidade
✓ O domínio racional sobre as paixões e
desejos.
ERA DO SER
A ética grega antiga está voltada, em sua
maior parte, para a questão da essência
humana: o que é o homem, afinal? No
que consiste a felicidade? Onde
encontrá-la?
Os filósofos gregos acreditavam que ao
definir adequadamente a essência do
homem, se poderia, a partir daí, apresentar
as respostas para as grandes questões
éticas.
Nesta busca do que é o homem, a ética
grega antiga desenvolveu os seguintes
conceitos filosóficos: ALMA, VIRTUDE,
FELICIDADE
❑ALMA (PSIQUÉ)
A alma é o centro da ética antiga
grega. A ética não nos traz nenhum
benefício físico como saúde ou
beleza, sua finalidade é trazer
benefício à alma.
❑VIRTUDE (areté)
Em grego, tem o sentido de excelência.
Se aplica tanto às pessoas quanto aos
objetos, por exemplo, a virtude
(excelência) de uma faca é cortar bem; a de
um construtor é construir bem. As virtudes
morais mais comuns entre os gregos são:
coragem, justiça, piedade, moderação, etc.
❑Felicidade (eudaimonia)
A felicidade é o fim último do homem,
aquilo para o qual todo homem tende. Os
filósofos gregos buscaram definir o que é e
como alcançar a felicidade. Importante
ressaltar que felicidade entre os gregos não se
refere aquele sentimento agradável e
temporário; a eudaimonia deve ser
entendida mais como um modo de ser que
aperfeiçoa a natureza humana.
Para os filósofos Gregos, a ética é um
instrumento para a busca da
felicidade ou como vida boa. Ser
moral é sinônimo de aplicar o
intelecto para descobrir os meios
oportunos para alcançar a vida
plena, feliz e globalmente
satisfatória.
Entre os gregos houve divergências
sobre o modo de entender a
felicidade:
•Hedonistas defendiam
a felicidade como prazer
"Hedonismo vem do grego Hedonê.
O hedonismo é uma doutrina, ou filosofia
de vida, que defende a busca por prazer
como finalidade da vida humana. Buscar
prazer é o que move as paixões, os desejos e
todo o mecanismo da vida...
Quem o criou foi o filósofo grego
Aristipo de Cirene.
•Os eudaimonistas, a felicidade
como auto-realização.
•Platão, Aristóles vem a felicidade
deve estar conforme a vida boa,
virtuosa.
❑AUTORES DA ÉTICA GREGA
A ética Greca/Clássica foi dominada pelas
ideias éticas
1. dos Sofistas,
2. de Sócrates,
3. Platão,
4. Aristóteles e outros.
Os principais filósofos desta época refletiram sobre
o tema.
• Para SÓCRATES, ética é o caminho que conduz
o homem à FELICIDADE.
• Para PLATÃO, a ética relaciona-se com a
conduta humana ligada à JUSTIÇA e ao BEM.
• Para ARISTÓTELES, ética é o conhecimento
que propicia ao homem alcançar a VIRTUDE
cardeal, consistente na ação justa, prudente,
corajosa e temperada.
❖OS SOFISTAS
Para os sofistas, não existiam regras ou
verdades válidas universalmente,
consequentemente, não há uma ética
absoluta que determine o bem e o
mal universalmente. Portanto, a ética
dos sofistas era subjetivista e
relativista.
Exemplo:
Protágoras: ‘O homem é a medida de todas as
coisas enquanto são e das coisas que não são
enquanto não são’.
Isso significa, em outras palavras, que se uma
pessoa pensa que uma coisa é verdade, tal coisa é a
verdade para ela. Ou seja, a verdade é subjetiva
e relativa, não objetiva e absoluta.
Se o homem é a medida de todas as coisas,
então coisa alguma pode ser medida pelos
homens ou seja as leis, as regras, a cultura
tudo pode ser definido por um conjunto
de pessoas e aquilo que vale num lugar
não deve valer num outro.
❑SÓCRATES(470-399 a.C.)
Sócrates foi o primeiro filósofo a
colocar o homem no centro das
reflexões filosóficas.
Daí a sua máxima: "conhece-te a ti
mesmo’’...
Para Sócrates, se pode
fundamentar uma moral
Universal na RAZÃO
humana, sendo ela o que nos
difere essencialmente dos outros
animais.
Para Sócrates, é na razão
que as normas éticas
devem se fundamentar e a
alma humana se torna
perfeita através da ciência e
do conhecimento.
Para Sócrates, o conhecimento é a
principal virtude humana, que nos
conduz à conduta ética. Com o
aperfeiçoamento da nossa razão,
conseguimos controlar as paixões,
emoções e instintos, ou seja, temos
autodomínio.
Se alguém conhece aquilo que é
bom, fará exatamente o que é bom.
TODO ERRO MORAL
DECORRE DA IGNORÂNCIA.
Para Sócrates, portanto, o
conhecimento basta para se
alcançar a felicidade.
Sócrates professa o
INTELECTUALISMO
MORAL, pois quem conhece o
bem sente-se impelido a agir
bem e quem age mal é porque
é um ignorante.
Assim sendo, a Ética
Socrática é uma ética
RACIONALISTA.
Apesar de não ter deixado nada escrito,
Sócrates foi chamado de fundador da
moral, pela tentativa de compreensão da
justiça através da sua convicção pessoal.
Destaca-se por ter desafiado a
cidade-estado, questionando as
leis...
❑PLATÃO (427-347 a.C.)
Discípulo de Sócrates, Platão seguiu o
mesmo caminho do seu mestre
propondo uma ética racionalista mas
dá uma ênfase na separação
corpo e alma.
Como seu Mestre, Platão acreditava que todos os
homens estavam em busca da felicidade, no
entanto, sempre se questionava, onde estaria
esse bem supremo. Platão parecia acreditar em
uma vida após a morte, demonstrando em seus
diálogos a espera da felicidade especialmente
depois da morte. Ele acredita que esta vida
devia servir de contemplação de idéias,
dentre elas, a principal, a idéia do bem.
Neste sentido, Platão fala da necessidade
de um afastamento do mundo material
para se alcançar a ideia de bem.
No entanto, concebe Platão, o ser
humano sozinho não conseguiria
alcançar o caminho do bem, ele
necessita da sociedade, isto é, da pólis.
Segundo Platão, a ética se relaciona
intimamente com a filosofia política,
e a polis é o terreno da vida moral.
A Ideia do ser humano se realiza
somente na comunidade: o homem é
bom enquanto bom cidadão.
❑ARISTÓTELES (384-322 a.C.)
Aristóteles, discípulo de Platão, desenvolveu
também uma ética racionalista. Na ética
aristotélica encontramos as noções de:
•a felicidade
•a virtude
•meio-termo ou justo meio
•a justiça
Aristóteles fundou a sua própria
escola, o Liceu, cujos discípulos
eram chamados de peripatéticos
(de perípatos, que significa caminhar
por), pois ele ensinava os seus
discípulos caminhando.
Em suas investigações éticas,
Aristóteles determinou qual seria o
fim último do homem, que segundo
ele, SERIA A FELICIDADE. Todos
os homens buscam a felicidade, mas
alguns acreditam encontrá-la na riqueza,
no prazer ou na honra.
Segundo Aristóteles, a felicidade consiste
na vida contemplativa, isto é, no
aperfeiçoamento da nossa razão.
A nossa essência é ser racional,
portanto, o caminho para a felicidade
consiste no desenvolvimento das
VIRTUDES INTELECTUAIS.
Para Aristóteles, a virtude é um hábito
adquirido através da repetição e esforço de
um indivíduo.
Existem duas classes das virtudes:
a) As virtudes intelectuais ou dianoéticas: que
operam na parte racional do homem, isto é, na razão.
b) As virtudes práticas ou éticas: que operam
naquilo que há nele de irracional, ou seja, nas suas
paixões e apetites, canalizando-as racionalmente.
O homem virtuoso é, na
perspectiva aristotélica, o homem
que age de maneira equilibrada:
entre dois extremos instáveis e
igualmente prejudiciais, o homem
virtuoso escolhe o equilíbrio. in
medio virtus
Aristóteles funda assim o que é
conhecido como
ÉTICA DA MEDIDA JUSTA ou
ÉTICA DO EQUILÍBRIO ou
A ÉTICA DAS VIRTUDES ou
ÉTICA DO MEIO-TERMO
Por definição, A ÉTICA DO MEIO
TERMO é a concepção aristotélica de que
a virtude estaria entre dois extremos,
um de excesso e outro de deficiência.
Esta teoria ética foi desenvolvida na Ética a
Nicômaco, onde Aristóteles distingue vícios e
virtudes pelo critério do excesso, da falta e
da moderação.
Por exemplo, a coragem é uma virtude que
está entre a covardia (falta) e a temeridade
(excesso).

Covardia – CORAGEM- Temeridade


Outros exemplos:
Desenvergonhado-Modestia-Timidez

Insensibilidade-Temperança-Libertinagem

Descrédito Próprio-Veracidade-Orgulho
Para Aristóteles, o indivíduo bom é aquele que,
em suas ações, não pensa somente em si, mas
guiará suas ações de modo a beneficiar os
outros.
Nisso, o pensamento ético de Aristóteles está ligado
também à vida política, já que o ser humano é um
ser social, ele necessita viver em sociedade para ser
feliz e alcançar a perfeição de sua natureza

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