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APRESENTAÇÃO

A vida vem nos apresentando situações em que as condutas morais vêm se


transformando constantemente. Mas em meio às transformações das
condutas morais, dos costumes que a sociedade vem sofrendo, os valores
vão se transformando em outros e em outros mais.

A ética e a moral são os condutores para a sustentabilidade de uma


sociedade mais humana, mais justa, mais igualitária. É o bem comum que
subsidia as condições para as condutas morais, para a manutenção de
valores que coadunamcom o interesse coletivo. Estas temáticas estarão
presentes na Unidade 1 do nosso Caderno de Estudos, além de conceitos
que nos farão compreender melhor a ética, a moral, o sujeito e a sociedade.

Na Unidade 2, você irá perceber que a nossa vida é norteada por política,
porque ela faz parte dela até a morte. Somos sujeitos sociais e vivemos em
conjunto, em uma organização social. Nós nascemos, vivemos e morremos
em uma organização. Essas organizações são geridas por uma política.

Quando nascemos dependemos de um hospital e, portanto, uma política de


saúde pública; se vamos para uma creche ou escola de educação infantil,
dependemos de uma política educacional.

Você vai acompanhar o movimento do pensamento que construiu as teorias


filosóficas a partir das concepções dos filósofos. De forma linear e gradativa,
começamos com a ideia de política na Grécia antiga, até o modelo adotado
pelo Estado brasileiro. Em alguns momentos vamos apresentar dicas de
leituras e filmes para que você possa se utilizar de outros instrumentos que
lhe servirão de aprendizado.

Quando o assunto é política podemos nos calar e apenas ouvir, ou nos


inflamar com discussões que orbitam entre o senso comum e a paixão cega
por um candidato ou partido político. Essas posturas, no entanto, não
traduzem o verdadeiro sentido de discussão ou pensamento político, mas de
discussão partidária e individualista. É o que veremos na segunda unidade
deste nosso caderno.

Passamos a maior parte de nossa vida trabalhando e pagando contas dos


mais diferentes tipos. Por isso, o modelo político de nossos pais é muito da
nossa conta, da nossa responsabilidade. É assim que vivemos em
sociedade.

E sociedade é o tema central da nossa terceira unidade. Como a sociedade


se apresenta a nós, como ela vai se transformando, evoluindo. A sociedade é
global. Vivemos em um mundo global. Para isso, devemos entender o
processo histórico da globalização e seus impactos econômicos, políticos,
culturais e que cidadão se desenvolve nessa realidade, que homem, com
que direitos e com que deveres acontece essa evolução da sociedade com
esse cidadão em seu seio. Vamos também estudar nessa unidade o que
grandes pensadores contribuem neste pensar uma sociedade com suas
principais características.

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• compreender o conceito de ética e o conceito de moral;


• verificar a evolução da conduta moral ao longo dos anos;
• identificar a importância da ética e da moral para o desenvolvimento da
sociedade.

1 INTRODUÇÃO
Vamos iniciar este tópico buscando a compreensão dos conceitos de ética
e moral, assim como sua contribuição para a valorização das relações
humanas.

Não podemos falar de ética sem vislumbrar a filosofia como fundamento


da própria ética e da moral. A filosofia foi campo fértil, ao longo da história da
humanidade, para o desenvolvimento da moral e da ética como parte
integrante de uma sociedade que queremos sempre melhor. Enquanto a
filosofia nos lança nos questionamentos acerca do que é certo e do que é
errado, a ética nos conduz no caminho daquilo que acreditamos ser o melhor
para nós mesmos e para os outros. Com esta unidade você terá
oportunidade de aprender a construção histórica e social da moral, bem
como os conceitos de valor e da ética. Também terá oportunidade de
perceber que a moral está fundamentada (como a fundação de uma
construção) a um ethos que foi constituído durante a modernidade pelo
modelo epistemológico inaugurado naquele período. Você poderá analisar e
refletir sobre os valores que norteiam o nosso agir nos dias atuais e como
esse agir foi se modificando na história da cultura ocidental.

2 A ÉTICA
Ao longo da história da humanidade, várias têm sido as áreas que fomentam
reflexões acerca da ética, até porque a humanidade necessita de acordos
para que a sua interação e convivência se tornem sustentáveis. Por isso
vamos também estudar as concepções doutrinais da Grécia até a
contemporaneidade.

É nessa perspectiva, da convivência, do entendimento, que queremos


trabalhar os conceitos a seguir.

2.1 CONCEITO
Quando falamos de ética, não podemos limitar a uma realidade somente
conceitual, em que as práticas encontram-se distanciadas do nosso dia a dia,
mas, na verdade, ao estudarmos a ética poderemos observar que a mesma
se encontra implícita nas ações humanas.

No nosso dia a dia, a ética tem presença garantida, porque ela faz parte do
ser humano em todas as suas atividades, funções, espaço, ou seja, na
família, notrabalho, no lazer, enfim, onde o ser humano interage com outro, a
ética aí se faz presente.

Uma boa percepção de ética vem de Solomon (2006, p. 12), segundo o


qual “estudar ética não é escolher entre o bem e o mal, mas é se sentir
confortável diante da complexidade moral”. Nesse sentido, estudar, refletir e
entender ética, a sua mais-valia, se faz ao pensarmos no contexto da nossa
sociedade, nas atitudes humanas.

Diversas questões éticas e morais são facilmente confundidas, como coloca


Valls (1994, p. 7): “A ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que
são, mas que não são fáceis de explicar, quando alguém pergunta”.

Vejamos então algumas definições sobre ética dentre as referências


bibliográficas pesquisadas, para nos auxiliar na formação do conceito de
ética:

Tradicionalmente, ela é entendida como um estudo ou uma reflexão,


científica ou filosófica, e eventualmente até teológica, sobre os costumes
ou sobre as ações humanas. Mas também chamamos de ética a própria
vida, quando conforme aos costumes, e pode ser a própria realização de
um tipo de comportamento. (VALLS, 1994, p. 7).

“A ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em


sociedade, ou seja, é a ciência de uma forma específica de comportamento
humano.”
(VÁZQUEZ, 2003, p. 23).

Ética é a ciência da conduta humana, segundo o bem e o mal, com vistas


à felicidade. É a ciência que estuda a vida do ser humano, sob o ponto
de vista da qualidade da sua conduta. Disto precisamente trata a Ética,
da boa e da má conduta e da correlação entre boa conduta e felicidade,
na interioridade do ser humano. A Ética não é uma ciência teórica ou
especulativa, mas uma ciência prática, no sentido de que se preocupa
com a ação, com o ato humano. (ALONSO; LÓPEZ; CASTRUCCI, 2006,
p. 3).

Etimologicamente falando, ética é derivada do grego ethos, que significa


costume, hábitos e valores de determinada coletividade. A palavra moral
deriva do latim mos – ou mores no plural – que também significa costume ou
as normas adquiridas como hábito. Segundo o Houaiss (2009, p. 324), ética
é: “1) Estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana, do
ponto de vista do bem e do mal; 2) Conjunto de normas e princípios que
norteiam a boa conduta do ser humano”.

A Ética é um saber científico que se enquadra no campo das Ciências


Sociais. É uma disciplina teórica, um sistema conceitual, um corpo de
conhecimentos que se torna inteligível aos fatos morais. Mas o que
são fatos morais? São os fatos sociais que dizem respeito ao bem e ao
mal, juízos sobre as condutas dos agentes, convenções históricas sobre
o que é certo e errado, justo e injusto, o que é certo ou errado? Toda
coletividade formula e adota os padrões morais que mais lhe convém.
(SROUR, 2003, p. 7-8).

Portanto, do ponto de vista etimológico, ética e moral significam a mesma


coisa, contudo há o limiar tênue entre uma e outra. E isso você poderá
observar à medida que vamos nos aprofundando no assunto. Veja então,
resumidamente:

“A ética é teoria, investigação ou explicação de um tipo de experiência


humana ou forma de comportamento dos homens, ou da moral, considerado,
porém, na sua totalidade, diversidade e variedade”. (VÁZQUEZ, 2003, p. 21).
A moral é o estudo dos costumes de uma determinada sociedade numa
determinada época e lugar.

O que Srour (2003) quer observar é que a ética será sempre o estudo dos
valores morais, e esses se relativizam conforme a história da humanidade.
Vários exemplos de práticas da coletividade mundial poderiam se perfilar
aqui. E chegaríamos à conclusão de que as condutas morais, independente
de serem aceitáveis ou não do nosso ponto de vista, são práticas de uma
sociedade.

Vamos citar alguns exemplos que você poderá aprofundar:


Infanticídio significa assassínio de recém-nascido ou de criança; o ato
de matar o próprio filho, sob a influência do estado puerperal, durante
o parto ou logo depois. O infanticídio feminino é prática que ainda
acontece na China, em função da política do único filho. (FERREIRA,
2001, p. 417).

Outro exemplo de prática é a excisão feminina ou circuncisão feminina. É


a mutilação genital feminina, prática realizada em meninas adolescentes
para que não tenham prazer no ato sexual.

2.2 O CAMPO DA ÉTICA


Embora a ética seja um assunto basicamente filosófico, seu campo de
atuação e reflexão pode ser estendido por todas as áreas. A ética também se
divide em vários campos do saber: teologia, filosofia, psicologia, direito,
economia e outros.

A ética como disciplina teórica busca explicar e indicar o melhor


comportamento do ponto de vista moral, mas como toda teoria não se
distancia da prática, porque é a prática do comportamento humano que a
sustenta e tem como função fundamental “explicar, esclarecer ou investigar
uma determinada realidade, elaborando os conceitos correspondentes”.
(VÁZQUEZ, 2003. p. 20).

Os problemas teóricos da ética podem ser divididos em dois campos:


1) os problemas gerais e fundamentais: liberdade, consciência, bem, valor,
lei eoutros;

2) os problemas específicos: aplicação concreta, ou seja, ética profissional,


ética política, entre outros.

Srour (2011) aborda as acepções e confusões que a ética provoca. Ele


considera que existem três tipos de acepções que podem causar confusões,
porque ampliam demais as concepções da ética:
1 - A ética é descritiva – que corresponde a juízo de valor, ou seja, quem
tem boaconduta pode ser considerado como uma pessoa ética, ou seja, uma
pessoa virtuosa e íntegra. Enquanto quem não condiz com as expectativas
sociais pode ser considerado ‘sem ética’. Nesse sentido, Srour (2011)
considera que a ética assume uma ideia simplista reduzida a um valor social,
ou apenas um adjetivo.

2 - A ética é prescritiva – a ética como “sistema de normas morais ou a um


código de deveres” (SOUR, 2011, p. 19), ou seja, os padrões morais que
deveriam conduzir categorias sociais ou organizações passam a se chamar
de código de ética; nesse sentido de prescrição a ética e moral tornam-se
sinônimo indistinguível.

3 - A ética é reflexiva – que corresponde à teoria de um estudo sistemático


como objeto de investigação que, ao transitar por diferentes áreas, pode ser
considerada como:

• Ética filosófica – que reflete sobre a melhor maneira de viver (ideais


morais).
• Ética científica – que estuda, observa, descreve e explica os fatos morais (a
moralidade como fenômeno).

Visto tudo isso, você pode pensar: então estudar ética é muito complicado?
Claro que não, a ética dá a oportunidade para refletir a maneira de viver e
entender os costumes do nosso tempo.

2.3 O VALOR DA ÉTICA


Qual seria mesmo o valor da ética para a sociedade? A ética é o
discernimento de que, embora existam práticas que poderiam ser
consideradas ‘morais’, por se tratarem de recorrentes na sociedade, ainda
assim são práticas que não se suportam do ponto de vista ético. A corrupção,
por exemplo, tem sido ato recorrente no cenário político nacional e nem por
isso tornou-se moral e eticamente aceitável.

Então podemos dizer que tudo que é legal é moral? Ou se é moral é legal?
Todos nós conhecemos algumas práticas que com o passar do tempo
tornaram-secostumes e hábitos. Mas não quer dizer que práticas como a
corrupção passarão a ser aceitas, pela sua recorrência ou porque a
sociedade já se acostumou.

Práticas que prejudicam a maioria, que não preservam o bem comum, que
não beneficiam a sociedade, que não preservam a felicidade apontam ao
valor da ética, porque é através da ética que é possível fundamentar a
moralidade e a legalidade.
Então é por isso que a ética tem enorme valor para a sociedade como um
todo, porque seu papel é fazer reflexões acerca do comportamento humano
e a preservação do bem comum.

As questões de legalidade, ilegalidade, moralidade e imoralidade,


apresentadas por Srour (2003), são muito importantes para que se possa
observar na prática o que há de legal e moral nas ações do nosso cotidiano.
Nem tudo que é legal é moral e nem tudo que é moral é legal.

Estudar ética, falar de ética, refletir sobre a ética é, portanto, entender toda
a dimensão da sociedade, da humanidade. A ética, por si só, não vai elaborar
um manual de condutas, nem tampouco elencar um rol de atitudes certas e
erradas.

2.4 ÉTICA E JUSTIÇA


O trabalho em sociedade implica tomar decisões. A todo tempo se decide
sobre questões gerais e específicas, internas e externas de uma
organização.
De acordo com Alonso, Lopes e Castrucci (2010, p. 110), existem três tipos
de características na tomada de decisões:

1) decisão pessoal – é o ato humano, livre e de inteira responsabilidade


de quem toma a decisão;
2) decisão ética – é o ato do homem, em que a moralidade norteia;
3) decisão que afeta outrem – é a decisão que considera princípios éticos
e toma conhecimento dos direitos e limita-se a tais aspectos.

O que os autores querem esclarecer é que as decisões envolvem essas três


características: o aspecto pessoal da decisão, a moralidade e a ética do
quanto a decisão pode interferir no outro.

A ética influencia o processo de tomada de decisão para determinar quais


são os principais valores. A tomada de decisão envolve momentos de
escolha entre o bem e o mal e entre o bem e o bem. É nesse momento que a
alteridade e a justiça tomam parte.
A tomada de decisão envolve a alteridade, que é o senso de justiça, porque
diz respeito aos outros. Dessa forma, existem tipos de justiça a conhecer que
não se esgotam por si só, mas organizam a sociedade e dão as prioridades.

● Justiça social – a justiça social apresenta duas vertentes: a) justiça legal –


que são as obrigações dos cidadãos para com o Estado; b) justiça
distributiva – que são as obrigações do Estado para com seus cidadãos.
● Justiça legal – “compreende as obrigações dos cidadãos para a
sociedade politicamente organizada, tais como pagamento de impostos,
prestação de serviços públicos (serviço militar, serviços emergenciais) etc.”
(ALONSO; LOPES; CASTRUCCI, 2010, p. 111).
● Justiça distributiva – leva em consideração o mérito, ou seja, procura
respostas às desigualdades e regula as relações entre a comunidade, tais
como o imposto de renda: quem ganha mais paga mais e quem ganha
menos paga menos ou não paga.

● Justiça comutativa – vem do direito positivo, também conhecida como


corretiva, é a justiça que intercede entre as pessoas físicas ou jurídicas, em
virtude decontratos em que são fixadas as obrigações das partes.

● Justiça equitativa – é aquela que parte do pressuposto de que todos são


iguais.A justiça, junto à moral e à ética, conduz o ser humano a práticas mais
eficientes. Nesse caso, não estamos falando da justiça como entidade
jurídica, mas da justiça de realizar ações que sejam de consciência ética e
moral e, é claro, legal.

2.5 ÉTICA E FILOSOFIA


A ética tornou-se um campo vasto nas diversas áreas científicas. Na área
médica, por exemplo, existe uma grande preocupação quanto ao que é ético
ounão nas pesquisas de campo, por se tratarem de pesquisas que lidam com
o ser humano. Existe um código de moral, na verdade chamado de código de
ética, quelimita e/ou exige que a integridade do ser humano seja respeitada.
Apesar de hoje a ética ser uma disciplina adotada em quase a totalidade
de áreas existentes, seja nas ciências exatas, humanas, biomédicas, sociais,
entre outras, ainda assim, para que se possa entender a complexidade de
seu dinamismo e, por que não, a simplicidade de sua reflexão, não se pode
fugir da sua origem filosófica.

A filosofia é o arcabouço para os desdobramentos da ética, por isso


que existem algumas correntes que argumentam contra o caráter científico e
independente da ética. A respeito disso, Vázquez (2003, p. 25) observa:
Mas, já como assinalamos, isso se aplica a um tipo determinado de
ética – a normativa –, que se atribui a função fundamental de fazer
recomendações e formular uma série de normas e prescrições morais;
mas esta objeção não atinge a teoria ética, que pretende explicar a
natureza, fundamentos e condições da moral, relacionando-a com as
necessidades sociais do homem.
Nesse sentido, a apropriação da ética, seja no sentido filosófico ou científico,
busca na fonte filosófica a doutrina para melhor entender a ética, seja em
qual área for.

Vamos então para o próximo passo. Já vimos alguns conceitos que


aproximam a ética da moral. No próximo ponto vamos então entender a
moral, sem deixar de recorrer à ética, pois você deve ter percebido que não é
possível falar de ética sem falar da moral e vice-versa.

3 A MORAL

Caro acadêmico! Conversamos no primeiro ponto sobre a ética e você pode


perceber que já apareceram alguns aspectos da moral, ou seja, existe uma
interface entre moral e ética que é indissociável. O importante desse ponto é
dar desta que ao conceito de moral e você compreender o comportamento
humano em relação ao que é moral. Vamos seguir praticamente o caminho
do conhecimento dos pontos desenvolvidos em relação ao estudo da ética.

3.1 CONCEITO DE MORAL


De acordo com Srour (2003), a ética é perene e a moral é mutável. A ideia de
ética é que ela não muda, a ética faz reflexões acerca dos costumes, que é o
campo da moral. Para melhor compreendermos, no Brasil, temos a história
da mulher como um bom exemplo de mudança de costumes e, por
conseguinte, mudança de valores morais.

Até a década de 30, a mulher não podia votar e nem ser votada, portanto o
sufrágio feminino foi uma conquista de equiparar a mulher ao homem e
torná-la um membro da sociedade como qualquer um, ou seja, uma pessoa
participativa aos desígnios políticos do país.

No cenário político nacional, a primeira mulher a se tornar deputada


federal foi em 1933, e somente em 1979 foi eleita a primeira senadora. Em
2011 o país elegeu pela primeira vez uma mulher como Presidente da
República. Se você observar os anos – 1933, 1979 e 2011 –, verá o quanto
demora para que os valores se transformem e, ao mesmo tempo, depois de
estabelecida a mudança, esses valores tornam-se tão familiares que nem
mais pensamos nessa trajetória de conquista e transformação.

No mundo do trabalho, a mulher conquistou espaço tardiamente, e por


esse motivo, várias são ainda as desigualdades entre a mulher e o homem
no mundo do trabalho. Existem diversas pesquisas que apontam mulheres e
homens com mesmo nível de escolaridade e mesma função e que têm
salários diferentes.
Não se pretende aqui fazer algum tipo de apologia à mulher, muito pelo
contrário, a mulher é só um bom exemplo para que possamos perceber o
quanto ela se transformou perante a sociedade. Antes ela não votava e nem
era votada, antes ela não trabalhava fora de casa, antes a sua vida limitava-
se a cuidar de filhos e marido e da casa. E hoje?
Portanto, a moral são os costumes, são as práticas do comportamento
humano e as práticas aceitáveis de uma sociedade. Então, como esses
costumes, práticas e culturas mudam? Mudam quando a própria sociedade
clama por mudanças ou quando, a partir de um movimento de um grupo,
procura-se conscientizar o resto da sociedade da importância de pensar e
agir diferente. Foi dado o exemplo da mulher, mas muitos são os outros
exemplos que se enquadrariam nesse momento para ilustrar essa
transformação de valor e costume, a exemplo do homossexualismo, doenças
que carregavam preconceitos e hoje não mais, entre outros grandes
exemplos.

Então se pode dizer que a moral é mutável, como diziam os romanos – “o


tempora, o mores” – ou seja, os costumes mudam com o tempo.
Srour (2003, p. 56) elenca alguns itens para a compreensão do que vem a
ser moral:
● É um sistema de normas culturais que pauta as condutas dos agentes
sociais
de uma determinada coletividade e lhes diz o que é certo ou não fazer.
● Depende da adesão de seus praticantes aos pressupostos e valores que
lhe
servem de fundamentos.
● Representa um posicionamento diante das questões polêmicas ou
sensíveis
e constitui um discurso que justifica interesses coletivos.
● Organiza expectativas coletivas ao selecionar e definir melhores práticas a
serem observadas.
● Tem natureza simbólica, essência histórica e caráter plural, e seus cânones
variam à medida que espelham as coletividades históricas que o cultivam.

Srour (2003, p. 57) ainda resume a moral comparativamente à ética:


Por isso mesmo, as morais são as nervuras sensíveis das culturas e dos
imaginários sociais, as peças de resistência que armam as identidades
organizacionais, códigos genéticos das condutas sociais requeridas
pelas coletividades. Assim sendo, enquanto as morais correspondem às
representações mentais que dizem aos agentes sociais o que se espera
deles, quais comportamentos são recomendados e quais não o são, a
ética diz respeito à disciplina teórica e ao estudo sistemático dessas
morais e de suas práticas efetivas.
Portanto, o quadro que segue auxilia na formulação de um comparativo entre
ética e moral, para que essas palavras-chave possam ajudar na
diferenciação de uma e outra.

A ética é perene porque as suas reflexões são num curso contínuo e eterno,
sempre haverá reflexões sobre a ética. Já a moral é temporal, porque de
acordo com o tempo, os costumes e valores de uma sociedade se
modificam.

A ética é universal porque as suas reflexões independem da cultura,


sociedade ou tempo histórico, as suas reflexões cabem em qualquer lugar e
em qualquer tempo, porque se referem ao comportamento humano. A moral
é cultural porque em cada sociedade, em cada lugar, os costumes e valores
serão diferentes.

A ética é regra, porque não existe mutabilidade em suas reflexões, as suas


reflexões é que podem ser realizadas perante as mudanças. A moral é
conduta de regra, porque é preciso relacionar os valores para que a moral
possa instituir a sua conduta.

A ética é teoria porque está situada no campo das reflexões, enquanto a


moral se refere às práticas do comportamento humano, seus costumes, seus
hábitos e seus valores.

Essas as principais diferenças entre ética e moral, que ajudam para auxiliar
na compreensão quanto às suas ramificações e desdobramentos.

3.2 CAMPO DA MORAL

O campo da moral, pela sua mutabilidade, se torna um campo vasto, em


que se possibilita uma multiplicidade de ações. Até porque a moral é oriunda
das ações e interações humanas. A moral, portanto, está em toda parte, nas
escolas, nas igrejas, nos hospitais, nas organizações privadas e públicas.

É através da moral que os códigos de convivência são estipulados, para que


as pessoas se comportem adequadamente e também para que haja
harmonia na interação humana e da instituição.

Do ponto de vista dessas ações humanas existem dois universos que se


constroem perante o fim de suas ações: universal e particular.
Na administração pública, por exemplo, os atos administrativos devem
estar voltados ao universal, porque as suas ações sempre devem preservar
o interesse coletivo, portanto no meio da administração pública não cabem
atos administrativos voltados ao interesse particular.
O campo da moral é vasto, a moral é o alicerce para que a sociedade
possa estipular as suas regras de convivência. Portanto, condutas morais
não são exclusividade da administração pública, as condutas morais estão
presentes a todo tempo e em qualquer lugar.

Se você for um servidor público, legislador, ou quem sabe um responsável


na elaboração de políticas públicas, ou simplesmente um cidadão, deve se
perguntar: Quem são as pessoas que irão se beneficiar com a minha ação?

Quais são as atitudes mais apropriadas para que um maior número de


pessoas possam se beneficiar com as minhas atitudes? A minha ação é de
interesse próprio ou de interesse coletivo?

Essas perguntas e tantas outras ajudam a sinalizar em qual campo da moral


se encaminham as nossas ações.
Segundo Srour (2011), existem dois universos que se podem tomar como o
início para melhor compreensão da prática moral: particularismo e
universalismo

O universalismo dita as condutas morais positivas, em que existe o


consenso para que o bem comum seja preservado. Nesse sentido, mesmo
quando existem ações voltadas ao interesse de uma minoria ou de um grupo
específico, ainda assim esses interesses não vão se confrontar com o
interesse dos demais.

Não há uma rivalidade de interesses, pelo contrário, a satisfação dos


interesses se dá de forma consensual.

No particularismo, os interesses pessoais ou de um grupo se prevalecem


em detrimento do interesse de outros, por isso são práticas negativas. Não
há um consenso de quem precisa mais, para que as práticas nesse universo
sejam realizadas de forma consensual e em preservação do bem comum.

Pelo contrário, existe uma rivalidade de interesses para que a vontade de


uns se realize independente da necessidade de um ou de outro ser maior .

A administração pública, com certeza, está na esfera do universalismo, e


é por isso que ela existe e é dessa forma que ela deve servir aos cidadãos.

Mas o servidor público, que é o condutor da prática do serviço público,


poderá se encontrar na polaridade da escolha entre universalismo e o
particularismo, em pequenas atitudes do seu cotidiano.

3.3 MORAL, AMORAL E IMORAL


No item anterior foi possível diferenciar fatos morais de fatos sociais, e
dissemos ainda que um fato moral pudesse afetar positivamente ou
negativamente outrem. Então fato moral se divide em moral, quando
positivo, e imoral quando negativo. E fato social seria o que alguns autores
chamam amoral.

Então, o que é agir conforme a moral? O que é o agir imoralmente? Ou o


que é uma atitude amoral? Como podemos diferenciá-los? De forma bem
resumida pode-se dizer que:
● Moral – é agir conforme os valores da sua organização ou sociedade sem
prejudicar os outros.
● Imoral – é uma atitude que vai contra as normas e valores de uma
organização ou sociedade e que prejudica os outros.
● Amoral – quando uma atitude não influi nem positiva e nem negativamente,
ou seja, é uma ação neutra.

Pode-se concluir que uma atitude moral é uma ação positiva, uma atitude
imoral é uma ação negativa e uma atitude amoral é uma ação neutra. Dessa
forma, o âmbito da moral é decidir como agir, é uma questão da prática,
enquanto que o âmbito da ética é refletir sobre essas ações e suas
implicações na felicidade humana.

4 CONCEPÇÕES DOUTRINAIS DA GRÉCIA ANTIGA À


CONTEMPORANEIDADE
O conceito de ética visto anteriormente, bem como sua relação com a
filosofia, com a moral, nos mostrou a grande contribuição e importância da
corrente filosófica ao mundo da ética e da moral. Neste ponto sobre
concepções doutrinais da Grécia antiga à contemporaneidade, vamos
apresentar as principais doutrinas éticas de acordo com o seu tempo.

4.1 IDADE ANTIGA


A Idade Antiga é representada pelos filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles,
e é nessa época que a ética adquire extremo valor. Esses filósofos se
preocupavam com o ser no mundo físico, voltados aos problemas sociais e
morais. Embora não haja propriamente coesão no pensamento e doutrina
dos três, ainda assim suas ideias tornam-se próximas no sentido da reflexão
acerca do homem e da cidade.

O estudo da Ética, se pode dizer, teve início com os filósofos Sócrates,


Platão e Aristóteles. O livro Ética a Nicômaco é uma obra de referência, em
que a ética vai determinar que a finalidade suprema é a felicidade
(eudaimonia).

Nessa época, a questão da ética era o bem supremo da vida humana e, de


acordo com Passos (2004, p. 32), “não devia consistir em ter a sorte ou ser
rico, por exemplo, e sim em proceder e ter uma alma boa”.

Para Socrátes, a questão ética era o que bastava o homem saber, ter
bondade para ser bom. O conhecimento, para Sócrates, era uma virtude,
porque pensava que com o conhecimento o homem conseguia ser bom e ter
a felicidade. Por esse motivo é que há um entrelaçamento entre bondade,
conhecimento e felicidade.

Para Platão, o conceito de cidade (polis) perfeita estava baseado em valores


éticos e morais. Platão aborda que os conceitos da mente humana não são
reais, mas sim imagens reflexas. Diferente de Socrátes, Platão considerava
que a moral é a arte de preparar o indivíduo para a felicidade que não se
encontra na vida terrena.

Em Aristóteles, a felicidade, finalidade suprema da ética, só pode ser


alcançada se o homem fosse capaz de moderar suas paixões. Aristóteles
preocupou-se com a forma como as pessoas viviam na sociedade e
contribuiu muito para o entendimento da ética e a busca da felicidade
individual e coletiva. De acordo com Passos (2004, p. 34), Aristóteles
propunha uma ética finalista:

no sentido de visar um fim, no caso, que o ser humano pudesse alcançar


a felicidade. Entendia a moral como um conjunto de qualidades que
definia a forma de viver e de conviver das pessoas, uma espécie de
segunda natureza que guiaria o homem para a felicidade, considerada
a aspiração da vida humana.

Sócrates foi considerado um marco da filosofia, de modo que todos os


filósofos que antecederam a época dos filósofos citados são conhecidos por
présocráticos.

Os pré-socráticos também eram conhecidos como naturalistas, ou


filósofos da natureza. Esses filósofos preocupavam-se mais em entender as
coisas, em dar explicação para a natureza e para o mundo.
A ideia da polis (cidade) é muito importante, porque é referência na
organização social da sociedade em prol do bem comum. É que os homens
se reuniam e decidiam o melhor para todos, assim como aborda Passos
(2004, p. 32):

O surgimento da polis fez com que o centro da cidade passasse a ser a


praça pública, a ágora. Nela aconteciam as discussões e era permitida
a participação de todos os cidadãos, quais sejam: os homens adultos,
excetuando-se os escravos e os estrangeiros. Nessa nova forma de
organização social e política, a democracia, o logos, ou seja, a razão, a
palavra e o discurso tornaram-se mais importantes do que a condição
social e econômica do indivíduo. Isso porque se entendia que os
assuntos públicos dependiam do poder de argumentação.

Outro autor importante a que podemos recorrer é Passos (2004), que em


seu livro “Ética nas organizações”, discorre e elucida resumidamente sobre
as principais doutrinas éticas, apresentando como principais filósofos:
● Sócrates (469-399 a. C.): dedicou-se à busca da verdade, que deveria ser
uma forma de juízo universal, capaz de dirigir a vida das pessoas, no plano
pessoal e político”. Para Sócrates, “as questões morais não são puramente
convenções influenciadas pelas circunstâncias, mas problemas que
devem ser resolvidos à luz da razão”. (PASSOS, 2004, p. 32-33).
● Platão (427-347 a. C.): sua teoria ética relaciona-se com a política e a
razão (prudência), sua maior contribuição foi vislumbrar a cidade perfeita
guiada pelos princípios morais.

● Aristóteles (384-322 a. C): “O bem moral consistia em agir de forma


equilibrada e sob a orientação da razão. O ‘meio-termo’, o ponto justo,
levaria à felicidade, a uma vida ‘boa e bela’, não como privilégio individual e
sim coletivo”. (PASSOS, 2004, p. 35).
● Epicuro (341-270 a. C): teve sua filosofia dividida em três partes: canônica,
física e ética; “uma vida feliz é impossível sem a sabedoria, a honestidade e
a justiça, e estas, por sua vez, são inseparáveis de uma vida feliz”.
(CARBISIER apud PASSOS, 2004, p. 35).
● Zenão (324-263 a. C.): doutrina do estoicismo, que é uma ética, uma forma
de viver em que a natureza consistia na orientação central, que significava
viver conforme a virtude.

Vistos os principais nomes da filosofia da Idade Antiga, é interessante o


seu estudo e sua contribuição à ética, na medida em que o pensamento
filosófico, também como os costumes, se embebe de novas fontes, contudo
sem perder o fio condutor em relação à sua reflexão quanto aos aspectos
morais e às virtudes.

Vamos para o próximo período, a Idade Média.


4.2 IDADE MÉDIA
A Idade Média é identificada muito fortemente pelo Renascimento, que
foi considerado um movimento literário, artístico e filosófico que teve duração
entre o fim do século XIV ao fim do século XVI. Suas características
principais foram o humanismo, a renovação religiosa, a renovação das
concepções políticas e o naturalismo (novo interesse pela investigação da
natureza).

Nessa época, a situação política e social era mais complexa, por esse motivo
não se podia pretender a mesma harmonia da polis. De acordo com Passos
(2004,p. 37), “também por questões ideológicas houve o predomínio da
teoria sobre a prática”, e o cristianismo tornou-se a religião oficial, o que
influenciou as condutas morais.
As concepções filosóficas destacadas por Passos (2004), ou seja, os
principais filósofos deste período, foram:

● Santo Agostinho (354-430): ‘compreender para crer, crer para


compreender’.
Para Agostinho, o dom divino era o único capaz de resgatar o homem de
seus pecados. Nesse sentido, a ética estava ligada aos valores da moral
cristã.
● Tomás de Aquino (1225-1274): a ética consiste em agir de acordo com a
ordem natural, o homem tem livre-arbítrio e, orientado pela consciência, tem
uma capacidade de captar, pela intuição, a ordem moral – ‘faz o bem e evita
o mal’.

De acordo com Passos (2004, p. 39), a Idade Média inaugura uma novidade
na questão da moral:
ao deslocar o eixo fim último da vida humana, de um valor bom em
si mesmo para um bem que está em Deus. Se, para as concepções
anteriores, a felicidade era atingida no próprio ser, agora ele se encontra
no plano transcendental, e atingi-la requer apreender o fim último que
se encontra em Deus.
A ética na Idade Média, portanto, foi considerada a fase da era cristã, em que
os desígnios morais do cristianismo tornavam-se os ditames do
comportamento moral. Na Idade Média, portanto, o conceito de felicidade
não pode ser atingido nem pela razão, nem pela filosofia, mas pela fé cristã.

4.3 IDADE MODERNA


Como estudamos a ética, na Idade Antiga, era explicada pela perspectiva
da natureza. Vamos ainda estudar de modo mais demorado no Tópico 1 da
Unidade 2, a perspectiva cristã da ética com Agostinho e Tomás de Aquino,
em que tudo vinha da natureza ou de Deus. Na Idade Moderna essa
perspectiva muda e traz o homem como responsáv el pelas suas ações.
Nesta perspectiva, nossa primeira dificuldade está na demarcação temporal
daquilo que nomeamos de modernidade. Partindo de uma visão histórica,
pautada numa lógica linear, podemos estabelecer as fronteiras temporais da
modernidade do século XVI ao século XX, mas tendo presente que estas
datações têm um significativo caráter de arbitrariedade em relação aos
acontecimentos culturais, políticos, econômicos. Porém, se buscarmos
estabelecer uma demarcação dos primórdios da modernidade a partir de
ideias norteadoras, também encontraremos algumas dificuldades, na medida
em que a modernidade assume prerrogativas medievaisem sua constituição,
perpassando o pensamento de filósofos e influenciando nossa forma de ser e
estar no mundo até a contemporaneidade.

Portanto, tendo em vista os limites históricos e conceituais da modernidade,


nosso esforço será o de destacar alguns pressupostos que consideramos
fundamentais para a discussão das propostas éticas que se constituirão no
desenvolvimento do mundo moderno.

Um dos primeiros pressupostos é o clássico conceito de “antropocentrismo”.


O homem assume a centralidade do cosmo, ou seja, através do
desenvolvimento da razão assume a existência em suas próprias mãos
(“Cogito, ergo sum” – “Penso, logo existo”, de René Descartes), e a explicar
os fenômenos, dominar a natureza (Conhecer é poder, de Francis Bacon), a
construir seu mundo segundo sua vontade e representação (Schopenhauer),
afastando-se assim da perspectiva teocêntrica medieval que o submetia a
uma perspectiva heterônoma diante de si, dos outros, do mundo. Portanto, o
ser humano moderno passa a ser senhor de si, a afirmar em alto e bom tom
“eu sou”, sou livre e igual aos outros homens por meio da razão, da
capacidade de pensar, de refletir e intervir no mundo e modificá-lo,
modificandos e a si próprio.

Outro pressuposto decorrente dos princípios anteriormente expostos é


a ideia de verdade presente na modernidade. A verdade já não é mais
revelada pelo transcendente ao homem, mas o resultado do esforço racional
subjetivo de representação que o ser humano realiza sobre o mundo, a partir
das relações que estabelece em sociedade. Portanto, algo passa a ser
verdadeiro na medida em que pode ser racionalmente objetivado e
universalizado entre os seres humanos.

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