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Gisele Varani
Introdução à ética
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Neste capítulo, você será apresentado aos diversos conceitos de ética ao
longo dos tempos, conferir as diferenças e refletir sobre o papel dela em
sua trajetória de vida, a necessidade da ética em nossa sociedade atual
e como a sociedade contemporânea se comporta diante dos aconteci-
mentos deste milênio.
Conceituando ética
Nessas últimas décadas, o vocábulo “ética” tem sido muito utilizado em arti-
gos de jornal, noticiários diversos, rodas de conversa presenciais ou virtuais.
Em quase todos os lugares tem sido usada para medir valores, parâmetro de
honestidade ou justiça e, até mesmo, é um tema divisor de opiniões entre
discussões. Mas você sabe o que significa o conceito? Tem conhecimento
acerca da construção teórica e filosófica sobre o que envolve? Já parou para
pensar sobre isso?
Ética é aquela expressão que todos sabem o que é mas fica difícil de explicar
em palavras, não é mesmo? Mas com essa quantidade de acontecimentos que
a sociedade vem atravessando ainda cabe discutir o tema? É possível debater/
estudar ética?
2 Introdução à ética
O que é ética?
Leonardo Boff (2003) em seu livro Ética e moral: em busca de fundamentos
define a ética como parte da filosofia com a finalidade de elaborar concepções
profundas a respeito do ser humano e seu destino, do universo e da vida,
institui princípios e valores que orientam pessoas e sociedades. Já o Padre
Vaz, em seus Escritos de filosofia IV, diz que a ética se origina do saber
ético de determinada tradição cultural. Se constituiria em saber normativo,
indicativo e prescritivo do agir humano (VAZ, 1999). Em que seria um
saber vivido ao longo da experiência humana. O filósofo e professor da
USP Sérgio Cardoso traz um sentido mais comum e amplo sobre a palavra
ética. Ele diz que:
em seu bojo ético, embora a realidade pareça ser diferente. A equidade entre
os seres humanos é ainda um valor ético para a sociedade em que vivemos
mesmo vejamos na mídia fatos que podem parecer o contrário. A sociedade
ocidental ainda não aceita esses valores dispostos hoje em dia, embora haja
quem faça de tudo para que eles sejam aceitos. Urge uma retomada pela justiça
social e respeito ao planeta para que não se percam os preceitos humanos de
bem coletivo e felicidade terrena construídos há muitos séculos.
A ética aparece, assim, como resultado das leis determinadas pelos costumes
e das virtudes e hábitos gerados pelo caráter dos indivíduos. Os costumes
representam, então, o conjunto de normas e regras adquiridas por hábito,
enquanto a permanência destes define a caráter virtuoso da ação do sujeito.
A excelência moral seria não apenas determinada pelas leis da cidade, mas
também pelas decisões pessoais que geram as virtudes e os bons hábitos
(PEQUENO, 2008, documento on-line).
Ética na Antiguidade
O viver bem em comunidade, a teoria e a sabedoria eram considerados pilares
da filosofia para os pensadores gregos na Antiguidade e foram trazidos até hoje
na história pelos autores da época. As ideias sobre ética eram sempre atreladas
6 Introdução à ética
ao conceito da felicidade, pois para esses filósofos o sumo bem era a busca final
de existência humana (não um bem individual, mas um bem viver coletivo).
Sócrates é considerado um pioneiro na busca de conhecimento sobre o
humano. Ele acreditava que a felicidade era o real objetivo do homem e que
a alma humana era o objeto de estudo. Para o problema da impossibilidade
humana em encontrar a sua verdade (felicidade ilimitada) individualmente,
bem no seu interior da alma, ele acreditava que a coletividade auxiliaria no
encontro com o lado virtuoso do mundo, sempre orientado por atos de bondade,
prazer e conduta reta. Ele preconizava o “cidadão perfeito” (RAMOS,
2012), homem que suprimia os desejos despertados em benefício da
comunidade. Atente-se, porém, às hierarquias sociais existentes na
época: mulheres, escra-vos e estrangeiros não eram “cidadãos”, ou
seja, não pertenciam ao processo virtuoso de liberdade, virtude e
bondade.
O período contemporâneo
No século XVIII o Iluminismo trouxe novas leituras da ética e volta a centra-
lizar o foco na razão, na autonomia humana e na crença otimista do progresso.
Exemplos como o da Revolução Francesa mostraram como a sociedade
estava
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em primeiro lugar ele pensa que a religião pode ser um aglutinador de pessoas
com a mesma afinidade e assim criariam normativas mais justas. Ele discorre
sobre a justiça social internacional, em que os pobres, excluídos e vulneráveis
seriam reconhecidos e assim haveria um equilíbrio entre o bem viver dos ho-
mens. Também fala sobre o ser humano ter em sua alma intrínseca o cuidado
e isso seria uma ferramenta para a busca de transformar a Terra numa casa
melhor cuidada, com mais qualidade de vida para todos no futuro. É claro
que há muito a questionar e assim buscar novas possibilidades para equilibrar
a busca do lucro e poder com bem comum e felicidade. Urge buscar novas
soluções para velhos problemas (BOFF, 2012).
A sociedade ocidental, como a conhecemos, foi inventada pelo próprio
homem na tentativa de viver melhor em comunidade e com isso foram criadas
normas e regras para não se extinguir. O homem é um ser social e viveu bem
no início com esses protocolos e regulamentos gerais. Porém, à medida em
que foram sendo criadas novas tecnologias e modos de produção também
começaram a existir a injustiça social e a quebra dos preceitos iniciais do bem
viver em comunidade, o que levou a uma crise dos valores humanistas. O que
vemos hoje é uma sociedade marcada pelo egoísmo nas relações sociais, na
valorização do “tirar vantagem”, indiferença pela miséria alheia, ausência
de solidariedade humana e certa tolerância com a corrupção e impunidade
(GONÇALVES; WYSE, 2007).
Mas o que tem sido feito para que a sociedade não definhe, para que ela possa
reinventar-se? O que tem sido dito é que a sociedade deveria tomar consciência
de que a vida solitária é insuportável visto sermos seres políticos e toda a base
dos valores individuais foi construída em sentidos de vida coletivos. Além disso,
a finalidade humana no mundo não é para a produção de bens materiais ou
imateriais. Há toda uma construção existencial, generosa e coletiva. Resta saber
se a humanidade conseguirá abandonar esse projeto egoísta e individualista por
um comum, da sociedade que habitará este planeta no futuro.
Introdução à ética 13
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