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Fundamentos
de Hebiatria
Reflexões sobre temas atuais

editora


Fundamentos
de Hebiatria
Reflexões sobre temas atuais

editora
© Viviane Colares 2022

Produção editorial: Vanessa Pedroso


Revisão: Helen Bampi
Imagem de Capa: 5 Second Studio (Shutterstock)
Capa: Nathalia B. Cecconello
Editoração: Nathalia B. Cecconello

CIP-Brasil, Catalogação na fonte


Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
F977
Fundamentos de hebiatria [recurso eletrônico] : reflexões sobre temas atuais /
organização Viviane Colares.
1. ed. | Porto Alegre [RS] : Buqui, 2022.
recurso digital
Formato: epub
Requisitos do sistema: adobe digital editions
Modo de acesso: world wide web
ISBN 978-85-8338-594-3 (recurso eletrônico)
1. Medicina do adolescente. 2. Livros eletrônicos. I. Colares, Viviane.
22-76395 | CDD: 613.0433 | CDU: 613.96
Meri Gleice Rodrigues de Souza - Bibliotecária - CRB-7/6439

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AUTORES
Alane Tamyres dos Santos
Amanda de Morais P Ribeiro Escobar
Andresa Paula Rodrigues do Nascimento
Anierika Pereira dos Santos
Bonifácio Soares de Santana Neto
Carolina da Franca Bandeira Ferreira Santos
Claudia Margareth de Lira Nóbrega Vilar
Cristina Maria Mendes Resende
Débora do Carmo da Costa Barros
Douglas Batista de Oliveira
Fabiana de Godoy Bené Bezerra Laureano
Gabriela Brito Vasconcelos
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Kalina Vanderlei Silva
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Marcos André Moura dos Santos
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Maria do Socorro Santos Vilela
Mauro Virgílio Gomes de Barros
Mirian Domingos Cardoso
Mônica Vilela Heimer
Monique Vieira de Oliveira
Ricardo de Freitas Dias
Rui Gonçalves da Luz Neto
Sandra Conceição Maria Vieira
Valdenice Menezes
Viviane Colares
PREFÁCIO
Este e-book é resultado dos trabalhos elaborados em
2020 na disciplina de Fundamentos de Hebiatria do Pro-
grama de Pós-Graduação em Hebiatria — determinantes
de saúde na adolescência — da Universidade de Pernam-
buco (UPE). O Programa de Hebiatria da UPE, da área In-
terdisciplinar, foi criado em 2005, sendo o único programa
de pós-graduação stricto no Brasil com foco exclusivo na
adolescência.
O texto está organizado em oito capítulos, desenvolvi-
dos por grupos de mestrandos, sob a supervisão de docentes
do programa de Hebiatria.
Neste ano, os temas abordados foram as identidades
fragmentárias dos adolescentes na globalização, perfil alimen-
tar e saúde do adolescente, o direito da pessoa com deficiência
no Brasil, políticas de saúde pública para o adolescente, ex-
posição à violência por adolescentes em diferentes contextos,
qualidade do sono e saúde do adolescente, comportamentos
de risco à saúde na adolescência e a convivência com a Co-
vid-19 e o adolescente em tempos de isolamento social.
A adolescência, período da vida de enorme cresci-
mento e desenvolvimento, com mudanças através dos tem-
pos, requer estudos constantes e análises com base multi e
interdisciplinar.
Com alegria e orgulho, apresento este trabalho, fruto
da cooperação de equipe multiprofissional de estudantes e
professores, com o objetivo comum de produzir conheci-
mento, visando contribuir para melhor qualidade de vida
nessa fase decisiva do desenvolvimento humano.

Boa leitura!
Viviane Colares
Recife, 15 de dezembro de 2020
SUMÁRIO

1. IDENTIDADES FRAGMENTÁRIAS DOS


ADOLESCENTES NA GLOBALIZAÇÃO..............................06

2. PERFIL ALIMENTAR E SAÚDE


DO ADOLESCENTE..............................................................26

3. O DIREITO DA PESSOA COM


DEFICIÊNCIA NO BRASIL................................................... 41

4. POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA


PARA O ADOLESCENTE...................................................... 55

5. EXPOSIÇÃO À VIOLÊNCIA EM ADOLESCENTES


EM DIFERENTES CONTEXTOS.......................................... 71

6. QUALIDADE DO SONO E SAÚDE


DO ADOLESCENTE.............................................................. 91

7. COMPORTAMENTOS DE RISCO À SAÚDE


NA ADOLESCÊNCIA E A CONVIVÊNCIA
COM A COVID-19................................................................ 118

8. O ADOLESCENTE EM
TEMPOS DE ISOLAMENTO SOCIAL................................ 135
1.

IDENTIDADES FRAGMENTÁRIAS DOS


ADOLESCENTES NA GLOBALIZAÇÃO

Rui Gonçalves da Luz Neto


Douglas Batista de Oliveira
Fabiana de Godoy Bené Bezerra Laureano
Kalina Vanderlei Silva

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INTRODUÇÃO
Embora seja um fenômeno que vem sendo discutido
há anos, a globalização é um processo cujas repercussões
sociais ainda não foram totalmente exploradas e entendidas,
principalmente por conta da multiplicidade de efeitos pro-
vocados em cada região do planeta. No entanto, é inegável
que sua existência tenha transformado os modos de vida das
populações de diversas nações e seja, como afirma Outeiral
(2005), um dos fatores determinantes para a virada histórica
da modernidade para a pós-modernidade.
Partindo do pressuposto de que cada grupo social está
sendo atingido de forma particular pela globalização, tor-
na-se imprescindível que haja pesquisas específicas em cada
um desses grupos para que suas novas formas de funciona-
mento e interpretação do mundo possam ser compreendi-
das. Sendo assim, entre os grupos que compõem a socieda-
de, este trabalho pretende dedicar atenção aos adolescentes,
que embora não formem um grupo coeso, compartilham
determinadas características que permitem reuni-los, cons-
tituindo um ponto de partida para investigação.
Caracterizada em nossa sociedade como uma etapa da
vida de grandes mudanças, sejam de ordem física, psicológi-
ca ou social, a adolescência é compreendida, de acordo com
a Organização Mundial de Saúde (WHO, 1986), como o pe-
ríodo da vida entre 10 e 19 anos. No entanto, essa delimita-
ção temporal, como discutem Micalinski e Pinheiro (2020),
varia culturalmente entre as sociedades e, mais ainda, en-
tre os próprios indivíduos. Essa diversidade de definições
da adolescência se deve, como aponta Ariès (1986), ao fato
de que ela é uma construção sócio-histórica. Segundo Ariès
(1986), o conceito de adolescência foi desenvolvido a partir

7
do século XX e, desde então, essa fase da vida se tornou um
objeto de desejo de toda a sociedade e nicho de investigação
do conhecimento científico.
Objetivando descrever o que ocorria com os indiví-
duos durante a adolescência, vários trabalhos foram desen-
volvidos, especialmente por teóricos da área de desenvolvi-
mento humano. Nesses estudos, um aspecto frequentemente
associado à adolescência é o processo de construção da iden-
tidade que, segundo Bock, Furtado e Teixeira (1999), resulta
na capacidade do indivíduo em elaborar quem ele é, quem
quer ser e como deve ser reconhecido. Sendo a identidade
um construto significativo que atravessa a adolescência, é
pertinente discutir como esse processo está ocorrendo na
atual geração de adolescentes, que, diferentemente das gera-
ções anteriores, nasceu em um mundo em que os fenômenos
da globalização e da revolução digital já estavam instalados.
Nesse contexto, cabe à ciência buscar responder aos seguin-
tes questionamentos: “Quem são os adolescentes do século
XXI? Como constroem suas identidades atualmente? Como
os recursos digitais têm interferido nas formas de subjetiva-
ção contemporâneas?”.
Partindo dessas inquietações, este trabalho busca re-
fletir, a partir de uma revisão narrativa de literatura, quais
são os impactos provocados pela globalização nos proces-
sos de elaboração das identidades dos adolescentes na con-
temporaneidade. Sendo assim, objetivando a realização de
um estudo interdisciplinar que contemple contribuições das
ciências humanas, sociais e da saúde, a revisão foi pautada
nas considerações de autores de referência nessas temáticas,
bem como através de pesquisas nas bases de dados do Cen-
tro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciên-
cias da Saúde (Bireme), do Sistema Online de Busca e Análi-

8
se de Literatura Médica (Medline) e da Scientific Electronic
Library Online (Scielo). Além destes, também foi consulta-
do o Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

MUNDO GLOBALIZADO, IDENTIDADES


E ADOLESCÊNCIA
A globalização ocorreu concomitantemente a outros
fenômenos históricos que produziram profundas transfor-
mações em diversas sociedades e culturas e propiciaram a
instalação da pós-modernidade, como a revolução digital,
o fim da União Soviética e a consolidação da hegemonia do
capitalismo em quase todo o mundo. Rapidamente, diver-
sos âmbitos da vida humana foram afetados, especialmente
os modos de lidar com o tempo e o espaço, transformados
devido à diminuição de distâncias e à comunicação entre as
culturas (OUTEIRAL, 2005).
Segundo Hall (2006), o processo de globalização tor-
nou o mundo mais interconectado, o que diminuiu as fron-
teiras espaço-tempo que caracterizavam os modelos clássi-
cos de sociedade. Graças a isso, eventos locais começaram a
poder impactar pessoas localizadas em grandes distâncias,
e muitas vezes de forma instantânea, colocando em xeque
as fronteiras geográficas e temporais. Considerando tempo
e espaço como fatores básicos que demarcam as representa-
ções e as identidades, Hall (2006) aponta as alterações das
dimensões espacial e temporal provocadas pelo fenômeno
da globalização como importantes instrumentos de produ-
ção de novas formas de elaboração tanto das representações
quanto das identidades.

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Essas alterações do espaço-tempo, no entanto, não
ocorreram de forma uniforme. Segundo Bauman (1999), o
processo da globalização não tem um caráter unificado, pois
as transformações temporoespaciais até então referidas têm
implicações sociais e dependem do acesso dos indivíduos a
esse mundo globalizado. Ele reforça que, se por um lado,
uma parcela da população se tornou “global”, uma outra se
tornou ainda mais “local”, e o poder que a primeira exercia
sobre a segunda cresceu ainda mais. Enquanto algumas dis-
tâncias diminuíram, outras aumentaram.
Com um pensamento semelhante, Hall (2006) argu-
menta que a globalização tem se distribuído de forma de-
sigual pelo planeta. Contudo, a existência da hegemonia de
uma determinada porção do mundo que é mais afetada pela
globalização passa a imagem de que todo o globo segue a
mesma tendência. Esse segmento dominante é chamado por
ele como “o ocidente”, que representa um modelo de socieda-
de capitalista, urbanizada e supostamente mais desenvolvida,
que exerce poder sobre os demais perfis de sociedade, agrupa-
dos pelo autor sob a denominação de “o resto”. Nesse “resto”,
a influência da globalização tem se dado de forma mais lenta
e menos intensa do que no “ocidente”. Olhando especifica-
mente para o Brasil, onde coexistem regiões com diferentes
características, pode-se dizer que há um espectro de locais
com perfis mais próximos do “ocidente” e outros, do “resto”.
A derrocada dos limites espaciais e temporais tem
ocorrido, em grande parte, por conta da evolução das fer-
ramentas digitais, que têm possibilitado a circulação e a
transmissão instantâneas de informações. O acesso a esses
recursos é um dos fatores que estão na base da assimetria
de possibilidades de usufruto da globalização pelas popula-
ções. A partir desses recursos, o espaço ganhou uma nova

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dimensão: o espaço virtual, no qual as interações se dão de
formas diferentes daquelas existentes nas realidades objetiva
e subjetiva. Nesse espaço, o indivíduo transita em um hiper-
corpo, um corpo virtual, que não possui os limites físicos e
geográficos impostos ao corpo biológico. É esse ciberespaço
que muitos adolescentes ocupam atualmente e é nele que li-
dam com as transformações que vivem nessa faixa etária.
Ao dar poder aos indivíduos de transitar por diversos espa-
ços, discursos e imagens, potencializa-se sua fragmentação.
Essa fragmentação é tão imperativa, que é possível dizer que
não existe mais indivíduo, todos são divididos (LÍRIO; 2012,
OUTEIRAL; 2005, SONNEWEND; PUGA, 2013).
Falar em fragmentação e diferenciação em um cená-
rio de globalização pode parecer contraditório, mas não é. A
ideia de que o aumento da conexão entre as culturas propor-
cionado pela globalização apagaria gradativamente suas dife-
renças não se tornou uma realidade absoluta. Tanto Bauman
(1999) quanto Hall (2006) defendem que esse mesmo proces-
so que aproxima diferentes culturas provoca separações entre
elas, bem como realça diferenças entre as identidades ou até
produz outras novas. Para os adolescentes, que são impelidos
a definir suas próprias identidades, ou, para ser mais preci-
so, tentar defini-las, pois as identidades estão em constante
movimento, esse crescente arsenal de identidades pode tornar
seu processo de subjetivação ainda mais complexo.
Sendo assim, a adolescência na atualidade está sendo
experienciada de forma bastante distinta da adolescência vi-
vida décadas atrás, antes de o processo de globalização ter
transformado características das sociedades até então deli-
mitadas. A diminuição das referências de tempo e espaço
tem provocado, como discutido por Hall (2006), a fragmen-
tação dos indivíduos e suas identidades, que se tornam des-

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locadas e desvinculadas, como se estivessem fluindo livre-
mente pelo ar. Sob essas novas condições, o adolescente da
contemporaneidade elabora sua identidade, ou mais preci-
samente, suas identidades.

IDENTIDADES FRAGMENTÁRIAS
E IMAGENS CORPORAIS
Apesar das complicações características do período da
adolescência, tanto de natureza biológica quanto social, o
adolescente é um indivíduo que assimilou as ideias da socie-
dade em que vive, mas que se encontra em um período de
moratória. Segundo Calligaris (2000), essa moratória seria
um período de suspensão, no qual o adolescente ainda não é
considerado um adulto, embora tenha condições para exer-
cer algumas das atividades atribuídas à vida adulta, viven-
do, assim, entre a autonomia e a dependência. Dentro desse
período de moratória, o adolescente busca tornar-se adulto,
com toda a sua totalidade. Sendo assim, nessa busca por tor-
nar-se adulto é que os adolescentes vivem novas experiên-
cias, novas relações e desenvolvem uma ideia sobre si. Como
afirmam Carvalho et al. (2017), a adolescência seria, então,
um período de elaboração de identidade marcado pela inte-
gração dos indivíduos em grupos de pares e na sociedade.
Reforçando essa ideia, Erikson (1972) considera a bus-
ca pela identidade como o desenvolvimento da percepção
de si, seus valores e para onde se quer seguir no mundo. A
identidade é, portanto, um saber sobre si, formado através
de metas, ideias, imagens e crenças. Assim, a formação da
identidade recebe influência de fatores intrapessoais, inter-
pessoais e culturais. Para esse autor, o processo de constru-
ção da identidade em adolescentes acontece em dois movi-

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mentos: o primeiro consiste em uma percepção de si como
a mesma pessoa durante o tempo e o espaço, a solidificação,
e o segundo envolve a percepção das formas como os outros
lhe reconhecem no mundo. Uma característica importan-
te que ocorre nesse processo durante a adolescência seria a
crise de identidade, resultante dessa busca pela identidade,
que pode gerar instabilidade, confusão e rebeldia. Erikson,
no entanto, conferia à identidade um caráter de unicidade e,
provavelmente, na época em que desenvolveu seus trabalhos,
esse estatuto fizesse mais sentido. No entanto, as transfor-
mações sociais que esse autor não pôde presenciar têm alte-
rado as formas como as identidades estão sendo elaboradas.
Dentro dessa perspectiva, um elemento importante de
ser mencionado, pois representa um valor formativo da iden-
tidade pessoal de todos os indivíduos e é construído de ma-
neira multidimensional, é a imagem corporal. Esse conceito
pode ser entendido como uma representação individual cons-
truída a partir de cada subjetividade em relação ao tamanho,
aparência e forma do seu corpo (CARDOSO et al., 2020). Par-
tindo desse constructo, as formas como as pessoas constroem
as ilustrações dos seus próprios corpos afetam diretamente
sua relação com o mundo. Isso porque o corpo biológico re-
presenta parte da identidade de cada indivíduo, uma vez que é
a primeira impressão que atinge o outro e é a materialidade de
nossa existência. Considerando então o aspecto subjetivo das
imagens corporais, pode-se inferir que fatores como gênero,
idade, mídia, grupo social e cultura exercem influência na sua
elaboração (BRITO; CORDÁS; FERREIRA, 2018).
Um ponto importante de se considerar na constru-
ção da identidade e sua relação com as imagens corporais
é a insatisfação corporal. Enquanto na antiguidade o corpo
era considerado como instrumento efêmero, devendo a alma

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ser valorizada mais do que a matéria, as sociedades pós-mo-
dernas buscam a autonomia e a beleza do corpo (AMARAL;
CARVALHO; FERREIRA, 2014). Refletindo sobre o corpo e
a existência, Le Breton (2011) afirma que o corpo na pós-mo-
dernidade ganha o status de “lugar da censura, recinto obje-
tivo do ego”. Ou seja, o individualismo é a marca da estrutu-
ração social, lugar do interditado. Temos impressa na história
das sociedades ocidentais a tendência em cultuar a magreza
como padrão de beleza, principalmente a partir do fim do sé-
culo XX e início do século XXI, o que influencia diretamente
o comportamento de adolescentes frente à sua imagem corpo-
ral e à construção de identidades (ALVES, 2018).
Para Yoshino (2007), o aspecto da boa forma, ampli-
ficado pela mídia, exige dos indivíduos o controle de sua
aparência. Tal afirmação nos impulsiona a refletir sobre
como a globalização e suas implicações afetam a relação
subjetividade e corpo. Segundo Alves (2018), as mulheres,
principalmente adolescentes e jovens, são as mais vulnerá-
veis à influência da mídia em seus corpos. Ele explica que
as transformações próprias da adolescência feminina, que
incluem a deposição de gordura nos quadris, aumento de
peso e arredondamento das formas, estão entre as principais
preocupações desse público. Segundo o autor, esse fator oca-
siona um intenso esforço na busca pela boa forma, a fim de
serem aceitas e valorizadas. Sobre essa influência, Carvalho
et al. (2020) apontam que, por conta da insatisfação com a
imagem corporal reforçada pelas imposições da sociedade,
mídia e rede de contatos, muitos adolescentes recorrem a
medidas extremas e podem adoecer física e psiquicamen-
te, inclusive com aumento de risco de desenvolvimento de
transtornos alimentares.

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Apesar de apontar como fatores de vulnerabilidade para
a insatisfação com a imagem corporal o sexo feminino, o his-
tórico de bullying e práticas alimentares irregulares, Carvalho
et al. (2020) destacam que há similaridade na prevalência de
insatisfação corporal entre os sexos, mas o fato gerador des-
se desconforto muda de acordo com o sexo. A pesquisa indica
que os indivíduos do sexo feminino desejam corpos menores,
enquanto aqueles do sexo masculino desejam silhuetas maio-
res. Isso significa que as adolescentes, independentemente do
peso, almejam emagrecer, já os adolescentes do sexo masculino
desejam corpos com mais músculos. Esse resultado aponta a
influência da cultura nos padrões de beleza e nas formas dos
corpos. Associados a esse resultado, comportamentos relacio-
nados ao teasing, que é uma forma de assédio moral praticado
contra quem apresenta características corporais diferentes, são
apontados como um fator de risco para a insatisfação corporal
(CARVALHO et al., 2020). Barbosa et. al. (2019) apontam uma
associação entre hábitos alimentares não saudáveis e o bullying.
A literatura científica aponta, como afirmam Barbosa et. al.
(2019), que os adolescentes obesos tendem a ter baixa autoesti-
ma e insatisfação corporal, gerando episódios de bullying, que
interfere diretamente na saúde mental desses indivíduos.
Travado et. al. (2004) apontam que, atravessados pela
globalização e pela estruturação das sociedades pós-moder-
nas, a distorção da imagem corporal desencadeia caracte-
rísticas psicológicas, tais como autoculpabilização, agres-
sividade, isolamento social, absenteísmo, ideação suicida e
hostilidade social. Tais sentimentos e sensações, apontam
Aquino et. al. (2018), podem ser preditores de comporta-
mento suicida, principalmente em adolescentes que pos-
suam predisposição a problemas psicossociais.

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Para Frontzek (2015), a sociedade atual fomenta uma
cultura da magreza e de corpos musculosos ao mesmo tem-
po que estimula o consumo de alimentos não saudáveis. A
nossa cultura naturaliza um padrão social, ao passo que es-
quece que tal padrão é, na verdade, uma construção históri-
ca. Isso sem esquecer de mencionar que a relação entre cor-
po, ingestão de alimentos e subjetividade é perpassada pelos
componentes afetivo e cultural. Em outras palavras, a ali-
mentação é um processo de socialização. Sendo assim, é ne-
cessário repensar a imagem corporal através de abordagem
interdisciplinar que considere os aspectos biológicos, cultu-
rais, sociais e, é claro, históricos, pois não é possível pensar
em imagem corporal sem considerar as transformações cau-
sadas pela globalização e seus impactos nas identidades.

GLOBALIZAÇÃO, CULTURA DIGITAL


E CORPOREIDADE
Neste cenário globalizado e de advento dos recursos
tecnológicos, os meios de comunicação se tornaram instru-
mentos de aprendizado de comportamentos e formas de ser
ainda mais significativos. Extrapolando o espaço do lazer, a
mídia faz circular entre os adolescentes determinados valores,
crenças e representações. Desde a infância, o sistema midiáti-
co-cultural inserido na sociedade atua, levando às crianças a
ler o mundo de uma forma modulada. Esse sistema lança dis-
cursos que delimitam as identidades dos adolescentes, atra-
vés, por exemplo, dos conteúdos que regulam o que os indi-
víduos devem fazer com os seus próprios corpos. Prova disso
é que, como apontam Conti, Bertolin e Peres (2010), diversas
pesquisas mostram que o corpo ideal para as meninas da so-
ciedade ocidental está ligado à magreza, atributo valorizado
pela mídia. Por serem significados e alterados pela cultura,

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os corpos, que são importantes referenciais para elaboração
de algumas identidades, estão sujeitos às representações vei-
culadas pela mídia, que os molda, julga, aprova ou rejeita em
conformidade com o discurso social vigente (LOURO, 2010).
A própria mídia tem sido transformada através dos
processos de revolução tecnológica e globalização. Conti,
Bertolin e Peres (2010) destacam que os meios de comuni-
cação social são responsáveis pela educação no mundo mo-
derno. Isso, segundo os autores, traz tanto benefícios quanto
malefícios, afinal os meios de comunicação fazem circular na
sociedade valores e representações de determinados grupos
sociais, incluindo aqueles relacionados aos corpos. Contudo,
não são mais apenas os veículos de comunicação tradicional
que exercem esse poder. Para Jenkins (2009), as mídias na
pós-modernidade tornaram-se participativas e interativas,
gerando novos formadores de opinião. Agora todos podem
produzir e consumir o conteúdo, o que contribui ainda mais
para a fragmentação dos indivíduos.
Analisando os impactos da globalização nas diferentes
formas de comunicação e, consequentemente, das interações
nas sociedades, Lèvy (1999) lembra que não se separa o hu-
mano do seu ambiente e seus signos e imagens, pelos quais os
seres atribuem o sentido à vida e ao mundo. Por essa razão,
compreender os impactos da cultura digital na construção
das identidades é uma tarefa árdua, mas fundamental para
entender como os indivíduos se relacionam e representam
seus modos de vida. O referido autor aponta que uma nova
forma de construção cultural nasceu do processo de intera-
ção entre humano e tecnologia, a cibercultura, a qual definiu
como um “conjunto de técnicas, práticas, atitudes, modos de
pensamento e valores que se desenvolvem dentro do ciberes-
paço, um local de comunicação, sociabilidade, organização,
de conhecimento e transação” (LÈVY, 1999, p. 32).
17
Acompanhando as projeções feitas por Lèvy no fim
do século XX, Heinsfeld e Pischetola (2017) apontam que
o ciberespaço transformou as novas formas de significar o
mundo, levando os humanos a saírem do “estar conectado”
ao “ser conectado”. A partir dessa reflexão, entende-se por
cultura digital a relação entre os indivíduos e os elementos
constituintes dos processos de comunicação (emissor, re-
ceptor, mensagem, meio), atravessados pelos fenômenos de
conectividade global, produção de conteúdo, considerando
a forma, a velocidade e a autonomia. Em termos práticos, a
cultura digital deve ser entendida como uma estruturação
do ambiente social a partir da conectividade mediada pelos
aparatos tecnológicos. Nesse espaço, outro desafio que atin-
ge os adolescentes é o cyberbullying, que é a prática de atos,
gestos ou ações que geram desconforto utilizando o meio
eletrônico. Esses comportamentos geram impactos na saúde
mental e, consequentemente, na saúde física de adolescentes
e jovens (Barreto et. al., 2019).
Para Le Breton (2003), a relação existente entre huma-
no, tecnologia e cibercultura fomenta um universo onde “o
corpo se apaga”. Na visão dele, o ciberespaço “é um modo
de existência completo, portador de linguagens, de culturas,
de utopias” (LE BRETON, 2003, p. 141). Para esse teórico, o
corpo é a concretude da existência, e o ciberespaço estaria
aniquilando toda a corporeidade. Tanto Cruz Júnior e Silva
(2010) quanto Wunenburger (2006) apontam que o corpo e
a sua existência não estão atrelados exclusivamente ao com-
ponente material, mas é, sobretudo, um lugar de inscrição
marcado por signos e significados. Os autores explicam que
a virtualidade é um elemento do próprio corpo, principal-
mente a partir do momento em que o humano passa a vi-
ver em sociedade. Para eles, vestes, marcas, adornos, todos
constituem elementos virtuais da existência corpórea.
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Considerando então a nova estruturação social, a
geração atual de indivíduos convive com novas formas de
apresentação de informações pelos recursos midiáticos que
não são familiares às gerações anteriores. As redes sociais
virtuais surgiram e se tornaram a principal forma de comu-
nicação de grande parte da população, especialmente entre
os adolescentes, e, muitas vezes, é através delas que esse pú-
blico extrai os referenciais para a elaboração de suas identi-
dades e imagens corporais.
Essa nova característica da mídia tem possibilitado
que as produções de conteúdo midiático se descentralizem.
Através das redes sociais, não são necessários muitos recur-
sos para produzir e postar uma informação que pode ser
acessada por um número significativo de pessoas. Essa fa-
cilidade se tornou uma espada de dois gumes, pois, por um
lado, ampliou exponencialmente a disseminação de notícias
falsas que podem trazer impactos sociais negativos, mas,
por outro lado, abriu espaço para que importantes discursos
contra-hegemônicos, que até então ficavam restritos a de-
terminados grupos, pudessem circular. Ainda que discursos
dominantes persistam no poder, as redes sociais podem ser
utilizadas como ferramentas para que novos corpos e iden-
tidades ganhem destaque no espaço cultural. É o que Freitas
(2015), por exemplo, abordou em relação a jovens de reli-
giões afro-brasileiras que produziam conteúdos midiáticos
a partir dos seus próprios referenciais e, assim, defendiam
suas identidades e resistiam aos ataques de outros grupos
sociais. Movimentos que aclamam a diversidade humana,
seja em relação aos corpos, cores, gêneros, sexualidades e
outras características, têm crescido e ganhado destaque a
partir do uso das ferramentas digitais.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A globalização ditou uma nova ordem mundial. Uma
revolução foi iniciada na metade do século XX, sem a me-
nor perspectiva de acabar. A revolução digital trouxe novas
formas de se relacionar, de existir e, consequentemente, de
experienciar o mundo. De um lado, a conexão diminui es-
paços geográficos e temporais, de outro, dita uma cultura de
supremacia que potencializa alguns distanciamentos. Sen-
do agente e elemento da revolução, o ser humano, enquanto
experimenta as diversas nuances da globalização, descobre
novas formas de existir. Assim, nasce o indivíduo pós-mo-
derno, marcado pela experiência da fragmentação. Afastan-
do-se da estática de um mundo antigo, os indivíduos se cons-
troem dentro de uma sociedade globalizada, líquida, repleta
de possibilidades. Dentro desse cenário, compreende-se que
as identidades na pós-modernidade são múltiplas, plurais,
mutáveis e, é claro, construídas social e historicamente.
A globalização não influenciou apenas as novas formas
de construir as identidades, mas também de se relacionar com
os corpos e suas infinitas possibilidades. Compreendendo
que o homem existe no corpo, podemos pensar que as novas
relações com o corpo são fundamentais para a compreensão
da pós-modernidade e seus inimagináveis impactos. Nesse
sentido, as imagens corporais, importantes constructos que
compõem a identidade, foram completamente transforma-
das, permeadas pelas intensas mudanças no cenário social.
Isso sem falar dos impactos da cultura digital.
O ciberespaço permite novas formas de subjetivar os
corpos e as relações corporais, ultrapassando os limites dos
campos biológico e fisiológico e fomentando novas formas
de relacionamentos. A cultura digital nos torna híbridos e

20
deixa tudo mais volátil. Estudos como este reforçam a exis-
tência da conexão entre as dimensões física, psicológica, his-
tórica e social na constituição do ser humano e a impossibi-
lidade de compreensão total de um processo se apenas um
desses vértices for destacado.
Os efeitos da globalização, conforme destacado ao lon-
go do trabalho, não necessariamente formam uma cadeia li-
near e coerente de consequências, razão pela qual são neces-
sárias reflexões que, se não puderem dar sentido ao que não
tem sentido, ao menos possam destacar as inconsistências e
instabilidades das atuais instituições. As possibilidades aber-
tas pela globalização, quando em interação com as pessoas e
cruzadas com determinados marcadores sociais da diferen-
ça, como gênero, classe social e faixa etária, fazem aparecer
resultados diametralmente opostos. A maior comunicação
entre os grupos acentua suas diferenças, bem como a maior
proximidade entre os locais expande alguns dos abismos en-
tre eles. É nessa ambiguidade que o adolescente pós-moderno
está inserido e com ela precisa aprender a manejar para obter
os recursos para ingressar na vida adulta.

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25
2.

PERFIL ALIMENTAR E SAÚDE


DO ADOLESCENTE

Débora Do Carmo Da Costa Barros 


Hortência Nóbrega Santos
Cristina Maria Mendes Resende
Valdenice Menezes

26
INTRODUÇÃO 
Na adolescência, o indivíduo é impactado por inten-
sas mudanças físicas, sociais, comportamentais, emocionais
e psíquicas, sendo esta uma fase marcada pelo crescimento
e desenvolvimento acentuados (CIAMPO; CIAMPO, 2010).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), essa faixa
etária corresponde ao período entre os 10 e os 19 anos, 11
meses e 29 dias (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE,
1975). Adolescentes correspondem a 16,4% da população
mundial (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2014); no
Brasil, este grupo soma mais de 34 milhões de indivíduos,
representando 17,9% da população (INSTITUTO BRASI-
LEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010).
É importante ressaltar que, embora estreitamente re-
lacionados, há diferenças entre adolescência e puberdade. A
puberdade consiste em um segmento da adolescência e pode
ser definida como um fenômeno biológico que se inicia a
partir de uma atividade hormonal intensa e surgimento dos
caracteres sexuais secundários e finaliza com a completa
maturação e capacidade de fecundação do indivíduo. Em
contrapartida, a adolescência é uma transição entre a pu-
berdade e o estado adulto (COÊLHO, 2015), e pode variar
quanto ao seu aspecto cronológico, uma vez que se trata de
um fenômeno social e cultural articulado aos aspectos indi-
viduais (MATOS; LEMGRUBER, 2017).
As recomendações nutricionais para adolescentes sur-
gem de pequenas bases de pesquisa e geralmente são extra-
poladas de estudos direcionados a adultos e crianças. Uma
alimentação equilibrada nessa faixa etária deve proporcio-
nar o consumo de quantidades apropriadas de uma ampla
variedade de alimentos, com alta densidade de nutrientes,

27
que forneçam carboidratos, proteínas, gorduras, vitaminas,
minerais, fibra dietética e energia adequada à soma das ne-
cessidades para garantir o crescimento e o desenvolvimen-
to em graus variados de atividade física (IOM, 1997, 1998,
2000, 2004, 2005).
Em consequência da demanda energética elevada du-
rante a adolescência, há um aumento no apetite e na ingestão
alimentar nessa fase da vida, e o consumo de energia deve ser
suficiente para não prejudicar a velocidade de crescimento e
o desenvolvimento (COÊLHO, 2015). Também é importan-
te valorizar as necessidades de micronutrientes e o consumo
adequado de alimentos fontes de vitaminas e minerais para
evitar deficiências nutricionais (RUBERT et al., 2017). 
A alimentação estabelece uma grande influência na
saúde das pessoas. O hábito alimentar pode ser decisivo
tanto para o desenvolvimento de agravos à saúde como para
contribuir para evitá-los (LAGO; RIBEIRO; SOUZA, 2016).
O consumo e o comportamento alimentar saudável durante
a adolescência são essenciais para manter uma vida produti-
va e reprodutiva saudável, bem como para prevenir doenças
crônicas não transmissíveis (BARUFALDI et al., 2016). Sen-
do assim, este capítulo tem como objetivo descrever sobre o
consumo e o comportamento alimentar e sua importância
na saúde de adolescentes.

DESENVOLVIMENTO 
Na adolescência, o comportamento imediatista do in-
divíduo o expõe às mais diversas situações de risco, visto
que o adolescente carrega consigo um sentimento de con-
fiança de que nada poderá atingi-lo, uma vez que é jovem e
saudável (FELIX et al., 2020). Essa forma espontânea de agir

28
reflete, inclusive, no âmbito da alimentação, de modo que
os indivíduos desse grupo etário priorizam a satisfação mo-
mentânea que os alimentos lhes proporcionam, mas não se
preocupam com os possíveis danos desencadeados pela má
alimentação em longo prazo (BICA et al., 2012).
De acordo com Souza et al. (2016), apesar de a alimen-
tação dos adolescentes brasileiros envolver o consumo de ali-
mentos tradicionais, como arroz e feijão, esse grupo tem con-
sumido bebidas açucaradas e alimentos ultraprocessados em
excesso, além da baixa ingestão de frutas, legumes e verduras.
Ademais, o aumento no consumo de alimentos ultraproces-
sados vem acompanhado pela diminuição do gasto energético
diário dos adolescentes, fator que contribui para o aumento
das taxas de sobrepeso, obesidade e alterações metabólicas,
assim como as deficiências nutricionais nesses indivíduos. 
Nessa perspectiva, o Brasil atravessa uma transição nu-
tricional em que a subnutrição, a deficiência de micronutrien-
tes e os índices elevados de massa corporal ocorrem de forma
concomitante. Vale ressaltar que o excesso de peso não é sinô-
nimo de ingestão completa de nutrientes, de modo que a obe-
sidade, além de não prevenir as carências de micronutrientes
específicos em adolescentes, caracteriza um problema mais
complexo e com maior proporção (SANTOS et al., 2016).
A obesidade pode ser considerada como um dos prin-
cipais agentes promotores das doenças crônicas não trans-
missíveis na população e caracteriza-se como um grave
problema de saúde pública (KELISHADI et al., 2018). Esse
agravo provém principalmente das mudanças dos hábitos
alimentares, com o aumento do consumo de alimentos in-
dustrializados, ricos em gorduras, açúcares e sal, além da
redução do nível de atividade física (SÁ et al., 2017). No
Brasil, resultados do Estudo de Riscos Cardiovasculares em

29
Adolescentes (ERICA) apontam que 17,1% dos adolescentes
escolares estão com sobrepeso, 8,4% com obesidade, e cerca
de 1/5 da prevalência de hipertensão arterial nos adolescen-
tes é decorrente da obesidade (BLOCH et al., 2016). 
Segundo Veiga et al. (2013), adolescentes ficam mais
propensos às deficiências nutricionais, principalmente de fer-
ro, cálcio, zinco e vitaminas, visto que, nessa fase, devido ao
estirão de crescimento e às mudanças corporais característi-
cas da puberdade, eleva-se a necessidade de ingestão desses
nutrientes. O consumo de cálcio é essencial para desenvol-
ver e manter a massa óssea na adolescência, bem como para
prevenir osteoporose e fraturas na vida adulta ou velhice
(ASSUMPÇÃO et al., 2016). Em contrapartida, algumas vita-
minas apresentam funções antioxidantes e são essenciais na
proteção contra doenças cardiovasculares, e o seu consumo
inadequado, como tem sido observado nos adolescentes, ele-
va o risco do desenvolvimento dessas doenças (VEIGA et al.,
2013). A baixa ingestão de ferro e o consequente déficit desse
micronutriente é uma das principais causas da anemia ferro-
priva nesse grupo etário (PRATES et al., 2016).
A diminuição do consumo de leite e produtos lácteos
pelos adolescentes pode estar relacionada com o aumento do
consumo de refrigerantes, substituição de jantar por lanches e
o hábito de não fazer o desjejum, o que compromete o consu-
mo de alimentos fontes de cálcio (ASSUMPÇÃO et al., 2016;
SUGIYAMA et al., 2012; TRANCOSO, CAVALLI, PROEN-
ÇA, 2010). Da mesma forma, o baixo consumo de alimentos
fontes de vitaminas, como frutas, legumes e verduras, que é
uma realidade entre os adolescentes, compromete a ingestão
de vitaminas por esses indivíduos (VEIGA et al., 2013).
Desde a vida intrauterina, a criança tem seu desenvol-
vimento influenciado pela alimentação materna, que pode-

30
rá repercutir para toda a vida (INOUE et al., 2015). Nes-
sa sequência, a família possui uma forte influência sobre a
formação dos hábitos alimentares do indivíduo, visto que
o processo de educação alimentar tem início na infância,
mediante a alimentação que é definida pelos pais, apontan-
do a necessidade de estabelecer orientações para as famílias
(LAGO; RIBEIRO; SOUZA, 2016). 
Da mesma forma, os hábitos alimentares da família
também podem influenciar diretamente nas escolhas ali-
mentares dos adolescentes, ou seja, pais que disponibili-
zam e consomem alimentos saudáveis no contexto familiar
contribuem na adesão de hábitos alimentares saudáveis por
parte dos filhos (CARDOSO et al., 2015). Além disso, estu-
dos sugerem uma associação positiva entre realizar refeições
com a família e ingerir alimentos saudáveis, bem como asso-
ciação inversa entre esse comportamento e a ocorrência de
obesidade (BERGE et al., 2013, LARSON et al., 2013).
A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE),
realizada com escolares brasileiros do nono ano do ensi-
no fundamental, avaliou o hábito de realizar refeições na
presença da mãe ou responsável, entre outras variáveis de
consumo alimentar. Dois terços dos estudantes realizavam
frequentemente (cinco ou mais dias na semana) pelo menos
uma das principais refeições na presença da mãe ou respon-
sável, embora cerca de um quarto deles raramente ou nunca
tivesse essa prática (LEVY; CASTRO; CARDOSO, 2010).
No entanto, embora a família seja um importante de-
terminante na formação dos hábitos alimentares, não se pode
deixar de mencionar que há outros fatores que irão influen-
ciar no processo de construção dos hábitos alimentares (LI-
NHARES et al., 2016). As normas sociais e as amizades, por
exemplo, são expressas como fatores motivadores para o con-

31
sumo de fast-food, uma vez que sair para comer em lancho-
netes com os amigos é uma forma de socialização e convi-
vência. Além disso, o acesso ao fast-food, pelo fato de estarem
prontamente disponíveis, proporciona aos adolescentes uma
sensação de independência (MAJABADI et al., 2016).
O Guia Alimentar para a População Brasileira é um
documento desenvolvido a fim de auxiliar a população no
esclarecimento e escolha dos alimentos, abordando questões
referentes ao ato de se alimentar, quais tipos de alimentos se
enquadram em cada categoria, como deve ocorrer seu consu-
mo e o lugar mais apropriado (BRASIL, 2014). Segundo esse
guia, o café da manhã é uma das três principais refeições do
dia e, comparada aos lanches, a refeição matinal proporcio-
na maior ingestão de vitaminas e minerais e menor ingestão
de gorduras e colesterol (SUGIYAMA et al., 2012). 
Evidências científicas relacionam o consumo do café
da manhã com baixo risco de sobrepeso e obesidade abdo-
minal (NURUL-FADHILAH et al., 2013). Por outro lado, a
ausência dessa refeição pode favorecer deficiência de cálcio,
pois é no desjejum que geralmente se concentra o maior
consumo diário de leite e derivados, fontes desse mineral
(TRANCOSO, CAVALLI, PROENÇA, 2010). Contudo, ain-
da que o café da manhã possa proporcionar inúmeros be-
nefícios à saúde do adolescente, segundo os resultados do
ERICA, apesar de 48,5% dos jovens terem o hábito de con-
sumir o café da manhã quase sempre ou sempre, 21,9% não
realizam essa refeição (BARUFALDI et al., 2016).
O tempo que os jovens gastam em frente à televisão,
celular e computador cresce absurdamente (MARIZ et al.,
2015). O tempo de uso da televisão é um fator de risco para
o desenvolvimento precoce do sobrepeso, pois além da ina-
tividade física durante o período frente às telas, o indivíduo

32
tende a consumir uma quantidade considerável de alimen-
tos hipercalóricos. O aumento do consumo desses alimentos
é causado devido à distração que a televisão proporciona,
que vai interferir diretamente nos sinais fisiológicos de fome
e saciedade. Outro fator importante refere-se à influência
midiática, visto que as indústrias investem altos preços em
propagandas de  alimentos não saudáveis para persuadir o
espectador (OLIVEIRA et al., 2016). 
A banalização do uso de alimentos industrializados nas
práticas alimentares de crianças e de adolescentes ocorre não
só pela praticidade, mas também pela divulgação massiva da
indústria de alimentos (MONROY-PARADA et al., 2016). As
propagandas desenvolvidas para atrair esse grupo-alvo con-
tam com um grande poder de persuasão, que, por meio da
associação com brinquedos, desenhos animados ou mesmo
personagens, conseguem penetrar no universo, no imaginá-
rio desses jovens. Soma-se a isso o fato de que grande parte
das publicidades exerce influência negativa nas escolhas e há-
bitos alimentares dos adolescentes (OLIVEIRA; POLL, 2017).
Além da exposição massiva dos adolescentes às propa-
gandas televisivas, o uso de outras tecnologias como celula-
res e computadores tem tornado esses indivíduos cada vez
menos ativos, pois permanecem por longos períodos conec-
tados a esses meios (MARIZ et al., 2015). O avanço da tec-
nologia tem transformado cada vez mais a rotina dos ado-
lescentes, de modo que as interações na rua concorrem lado
a lado com os jogos multimídia. Ou seja, essa nova realidade
carrega a brincadeira da rua para dentro de casa, favorecen-
do o comodismo e estimulando o sedentarismo (SANTOS;
SILVA; TAKI, 2017). 
O comportamento sedentário é um fator contribuinte
para o desenvolvimento da obesidade e de outras doenças

33
associadas ao aumento de peso (MOREIRA  et al., 2014).
Por outro lado, a prática de atividade física regular, além de
manter o peso adequado em adolescentes, proporciona be-
nefícios para a cognição. Segundo Merege et al. (2014), uma
única sessão de exercícios físicos pode gerar efeitos positivos
sobre funções cognitivas importantes, e quando realizados
regularmente, os resultados são ainda mais significativos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS 
O período da adolescência é caracterizado por intenso
crescimento e desenvolvimento, o que já exige maior aten-
ção às questões relacionadas à nutrição e à alimentação.
Atualmente, verifica-se aumento do consumo de alimentos
ultraprocessados, ricos em açúcares e gorduras, e baixo con-
sumo de frutas e hortaliças, associado ao comportamento
sedentário. Esse perfil de consumo alimentar e de compor-
tamento está associado ao aumento de sobrepeso e obesida-
de, assim como problemas de hipertensão arterial, diabetes
e dislipidemia entre os adolescentes.
Trabalhar com mudanças de hábitos alimentares e de
comportamento em adolescentes é um desafio devido à ca-
racterística imediatista desses indivíduos. O planejamento
de programas de educação alimentar e nutricional demanda
a utilização de metodologias que propiciem o vínculo entre
o profissional de saúde, a família e o adolescente. Essa di-
nâmica facilita o diálogo sobre os problemas que precisam
ser considerados e enfrentados para a adesão de práticas ali-
mentares saudáveis em prol da saúde.

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40
3.

O DIREITO DA PESSOA COM


DEFICIÊNCIA NO BRASIL

Claudia Margareth De Lira Nóbrega Vilar 


Maria Do Socorro Santos Vilela 
Sandra Conceição Maria Vieira 
Ricardo De Freitas Dias

41
INTRODUÇÃO
Em uma sociedade na qual a imagem das pessoas está
vinculada a valores, padrões estéticos de beleza e suas repre-
sentações, o convívio das pessoas com deficiência torna-se
impactado por serem vistas como: “dependentes de cuida-
dos e proteção”. Conforme a Organização Mundial de Saúde
(OMS, 2011), deficiência é “qualquer perda ou anormalidade
relacionada à estrutura ou à função psicológica ou anatômi-
ca”. Nesse sentido, a deficiência pode ser congênita ou ad-
quirida ao longo da vida.
Segundo a OMS, as deficiências são classificadas em: fí-
sica, auditiva, visual, mental e múltipla, sendo que aproxima-
damente 10% da população mundial apresenta algum tipo de
deficiência, das quais: 5% apresentam deficiência mental; 2%,
deficiência física; 1,5%, deficiência auditiva; 0,5%, deficiência
visual e 1%, deficiência múltipla (OMS, 2015).
Do ponto de vista da deficiência como uma indagação
de direitos humanos, reconhecida pela Convenção sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência, da Organização das
Nações Unidas, Diniz, Barbosa e Santos (2009), ressalta uma
discussão que perpassa de compreender e tornar consciente
sobre a pessoa com deficiência (ONU, 2011). Em 2006, en-
trou em vigor a Convenção sobre Direitos das Pessoas com
Deficiência das Nações Unidas (CDPD), o que tornou cada
vez mais considerada uma questão de direitos humanos. “A
deficiência é uma importante questão de desenvolvimento,
visto que cada vez mais pessoas com deficiência experimen-
tam piores resultados sócio-econômicos e pobreza compa-
radas com pessoas não deficientes” (Relatório Mundial so-
bre a Deficiência, p xxi, 2012).

42
Os Direitos Humanos abordam temas inerentes como
a inclusão social e a não discriminação, além da reverência
pela diversidade, a dignidade e a aceitação das pessoas com
deficiência, que, mesmo com suas limitações, têm as mes-
mas competências das pessoas consideradas “normais”. A
Lei Federal Brasileira da inclusão 13.146/2015 define as pes-
soas com deficiência como “pessoas que têm impedimentos
de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais,
em interação em diversas barreiras, podem obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de
condições com as demais pessoas”. Segundo o Estatuto da
Pessoa com Deficiência (2015), deficiência é uma restrição
física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou tran-
sitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais ati-
vidades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo
ambiente econômico e social.
Os termos “aleijado”, “defeituoso”, “incapacitado” e “in-
válido” foram frequentemente utilizados até a década de 80,
quando então se adotou a expressão “pessoa deficiente”. Na
metade da década de 90, entrou em uso a expressão “pessoas
com deficiência”, que permanece até os dias atuais. Sobre a
classificação das deficiências, os termos corretos são: defi-
ciência física, visual, auditiva e intelectual (SASSAKI, 2002).
O uso correto da terminologia acerca das pessoas com
deficiência é uma prática importante e necessária, porque
desfaz ideias equivocadas e informações inexatas que po-
dem ser reforçadas e perpetuadas. Tem por objetivo o desen-
corajamento de práticas discriminatórias e a construção de
uma sociedade inclusiva. No Brasil, tem havido tentativas de
levar ao público a terminologia correta para uso na aborda-
gem de assuntos de deficiência a fim de que desencorajemos
práticas discriminatórias e construamos uma verdadeira so-
ciedade mais inclusiva (SASSAKI, 2009).
43
Atualmente está errado quando usamos a expressão
“portador de deficiência”, pois faz referência a algo temporá-
rio, quando na maioria das vezes é permanente. Pode formar
estigma, caracterizando a pessoa por sua deficiência, e não
por sua condição. Não são termos compatíveis com a pro-
posta de inclusão, que procura estabelecer igualdade. O ter-
mo correto e mais humanizado é “pessoa com deficiência”.
De acordo com Carvalho, pessoas com deficiência têm
na própria característica sua diversidade, que é o contrário
de pessoas que fazem parte de grupos sociais homogêneos
e congêneres apresentarem comportamentos e aspectos di-
ferentes (CARVALHO, 2012). A inclusão das pessoas com
deficiência compete ao respeito às necessidades próprias de
sua condição, o acesso a serviços públicos, aos bens cultu-
rais e aos produtos decorrentes, econômicos e tecnológicos
da sociedade.

LEIS NACIONAIS
A Constituição Federal de 1988 elegeu como funda-
mentos da República a Cidadania e a Dignidade da Pessoa
Humana e como um de seus objetivos principais a promoção
do bem de todos, sem preconceitos de origem, religião, raça,
orientação sexual, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
de discriminação. Estabeleceu a garantia dos direitos das pes-
soas com deficiência nos mais diferentes campos e aspectos. 
Sendo assim, no Artigo 1º da Constituição Federal de
1988, são citados alicerces que auxiliam os direitos de todos os
brasileiros, com ou sem deficiência: a cidadania e a dignidade.
Cidadania é a qualidade de cidadão, e dignidade é a honra e
a respeitabilidade devida a qualquer pessoa provida de cida-
dania. Deficiência, segundo o Estatuto da Pessoa com Defi-

44
ciência (2015), é “uma restrição física, mental ou sensorial, de
natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade
de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diária,
causada ou agravada pelo ambiente econômico e social”. 
O Decreto nº 6215/2007 regulamenta o compromisso
pela inclusão das pessoas com deficiência. Em seu Artigo
2º, implementa as ações para inclusão das pessoas com de-
ficiência, nas seguintes diretrizes: I - ampliar a participação
das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, me-
diante sua qualificação profissional; II - ampliar o acesso das
pessoas com deficiência à política de concessão de órteses e
próteses; III - garantir o acesso das pessoas com deficiência
à habitação acessível; IV  -  tornar as escolas e seu entorno
acessíveis, de maneira a possibilitar a plena participação das
pessoas com deficiências; V - garantir transporte e infraes-
trutura acessíveis às pessoas com deficiência; VI - garantir
que as escolas tenham salas de recursos multifuncionais, de
maneira a possibilitar o acesso de alunos com deficiência. 
As Leis, Decretos e Normas que dão subsídios à pessoa
com deficiência estão reverenciados na tabela 1 a seguir.

45
LEIS DECRETOS NORMAS

Lei Federal nº 7.405, NBR 13994:


Decreto Federal nº
de 11 de novembro de Elevadores de
9.296, de 2 de março
1985: obriga a inserção Passageiros -
de 2018: regulamenta
do Símbolo Inter- Elevadores para
o Artigo 45 da Lei nº
nacional de Acesso Transportes de
13.146/2015 LBI - Lei
nos locais e serviços Pessoa Portadora
Brasileira de Inclusão.
públicos. de Deficiência.
Decreto Federal
n° 3.298, de 20 de
Lei Federal n° 7.853,
dezembro de 1999:
de 24 de outubro de NBR 15290:
regulamenta a Lei n°
1989: trata do apoio à Acessibilidade
7853, que dispõe so-
integração social das em Comunicação
bre a Política Nacio-
pessoas portadoras de na Televisão.
nal para a Integração
deficiência.
da Pessoa Portadora
de Deficiência.
Decreto Federal
Lei nº 3.670, de 29 de
nº 5.296, de 2 de
outubro de 1999: dis-
dezembro de 2004:
põe sobre a adequação NBR 16001:
regulamenta as Leis
de logradouros e edifí- Responsabilidade
10.048 e 10.098, que
cios abertos ao públi- Social - Siste-
estabelecem respec-
co, garantindo acesso ma da Gestão
tivamente o atendi-
apropriado às pessoas - Requisitos.
mento prioritário e os
com deficiência, e dá
critérios de promoção
outras providências.
da acessibilidade.
Decreto Federal
Lei Federal n° 10.048,
nº 5.626, de 22 de NBR 15599:
de 8 de novembro de
dezembro de 2005: Acessibilidade
2000: prioriza o aten-
regulamenta a Lei n° - Comunicação
dimento às pessoas
10.436 sobre a Língua na Prestação de
portadoras de defi-
Brasileira de Sinais Serviços.
ciência física e idosos.
- Libras.

46
Lei Federal nº 11.126, NBR 16537:
Decreto Federal nº
de 27 de junho de Acessibilidade -
6215 de 2017: regu-
2005: aborda o di- Sinalização tátil
lamenta o compro-
reito do portador de no piso - Diretri-
misso pela inclusão
deficiência visual ao zes para elabora-
das pessoas com
acompanhamento do ção de projetos e
deficiência.
cão-guia. instalação.

ABNT NBR
Lei nº 10-098, de 19 de Portaria Nº 310, de 9050: 2015 -
dezembro de 2000: es- 27 de junho de 2006: Acessibilidade a
tabelece normas gerais aprova a Norma edificações, mo-
e critérios básicos para Complementar nº biliário, espaços
a promoção da aces- 01/2006, sobre recur- e equipamentos
sibilidade das pessoas sos de acessibilidade urbanos — acaba
portadoras de defi- na programação dos de ser publicada
ciência ou com mobi- serviços de radio- pela Associa-
lidade reduzida, e dá difusão de sons e ção Brasileira
outras providências. imagens. de Normas
Técnicas.

Lei 13.146/2015: Lei


Brasileira de inclusão
da Pessoa com Defi-
ciência. É destinada a
assegurar e a promo-
ver, em condições de
igualdade, o exercício
dos direitos e das
liberdades fundamen-
tais por pessoa com
deficiência, visando à
sua inclusão social e
cidadania.

47
LEIS INTERNACIONAIS
A partir do século XVIII, novas concepções filo-
sóficas surgiram, conferindo mais direitos à população.
O avanço da medicina proporcionou ações de tratamento
médico para pessoas com deficiência, porém só depois da
metade do século XX ações com a intenção de unir for-
ças em defesa das pessoas com deficiência e de influen-
ciar a legislação, no âmbito mundial, começaram a surgir
(RODRIGUES:MARANHE,2010).
A Declaração da Organização das Nações Unidas
(ONU) fixou 1981 como o ano internacional da Pessoa com
Deficiência e, como consequência, foi aprovado o Progra-
ma de Ação Mundial para Pessoa com Deficiência em 03
de dezembro de 1982. Esse programa ressalta o direito das
pessoas a oportunidades idênticas às dos demais cidadãos,
bem como o de usufruir, em condições de igualdade, das
melhorias das condições de vida (ONU, 2011).
O reconhecimento por parte da ONU das pessoas com
deficiência garante um tratamento dotado de planejamento
por parte dos estados partes que assinam essas declarações,
pois “O propósito maior desses instrumentos internacionais
é promover, proteger e assegurar o pleno exercício dos di-
reitos humanos das pessoas com deficiência (…)” (PIOVE-
ZAN, 2010, pág. 358).
Ressaltando que, em 1999, na Convenção Interamerica-
na que ocorreu na Guatemala, os governos que participaram
afirmaram que as pessoas com deficiências têm os mesmos
direitos humanos e liberdades fundamentais que os demais
cidadãos. Têm o direito de não serem submetidas à discri-
minação com base na deficiência, além da definição estabe-
lecida de deficiência como sendo “qualquer restrição física,

48
mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória,
que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades
essenciais da vida diária causada ou agravada pelo ambiente
econômico e social” (RODRIGUES, MARANHEM, 2010).
A tabela 2 mostra os anos das legislações que foram
fortalecendo os direitos das pessoas com deficiência.

ANO LEGISLAÇÃO
Década Internacional da pessoa com deficiência; 1981 -
1980
Ano Internacional da Pessoa com Deficiência.

1983 Elaboração da Convenção 159 pela OIT.

Aprovação da ADA (Lei dos deficientes dos Estados


1990 Unidos), aplicável a toda empresa com mais de quinze
funcionários.
Estabelecido o dia internacional da pessoa com defi-
1992 ciência em 03 de dezembro 1994 - Declaração de Sala-
manca - Educação especial.
Aprovação de legislação semelhante à dos Estados Uni-
1995 dos pela Inglaterra, aplicável para empresas com mais
de vinte pessoas.
Tratado de Amsterdã: a União Europeia se compromete
1997 em facilitar a inserção e a permanência de pessoas com
deficiência no mercado de trabalho.
Guatemala - Convenção Interamericana para elimi-
1999 nação de todas as formas de discriminação contra as
pessoas com deficiências.
Congresso Europeu sobre Deficiência em Madri, que
2000 estabeleceu que 2003 seria o ano europeu das pessoas
com deficiências (BRASIL, 2006).

49
Classificação Internacional de Funcionalidade, Defi-
ciência e Saúde (OMS) [que substituiu a Classificação
2001
Internacional de Impedimentos, Deficiências e Incapa-
cidades, de 1980].

Declaração de Montreal sobre Deficiência Intelectual


2004
(OMS-Opas).
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiên-
2006 cia (ONU) [adotada em 13/12/06 pela Assembleia Geral
da ONU].

Em 11 de dezembro de 2006, na sede da ONU em


Nova York, aconteceu a Convenção sobre os Direitos da Pes-
soa com Deficiência, resultando no primeiro tratado dos di-
reitos humanos, focando nas pessoas com deficiência e sua
inclusão social com autonomia e independência (BRASIL,
2001). Os direitos estabelecidos foram: Não discriminação;
Educação; Acessibilidade; Trabalho, entre outros. Pressu-
postos da Convenção: Acreditar no potencial da pessoa com
deficiência; Assegurar o atendimento às necessidades das
pessoas com deficiência, dentro do contexto social em que
vivem (BRASIL, 2001).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É notório o avanço no âmbito das legislações nacionais
e internacionais, assegurando às pessoas com deficiências
direitos e oportunidades iguais para a construção de uma
sociedade mais inclusiva. É certo que nem sempre se cumpre
com o que está escrito na lei, mas a pessoa com deficiência
deixou de ser ignorada ou referenciada apenas por sua
deficiência, passou a ser vista como pessoa com potencial a
ser explorado e barreiras a serem vencidas. 

50
O cumprimento das leis de forma integral ainda não
foi alcançado, mas os primeiros passos já foram dados rumo
a uma prática efetiva de igualdade de direitos. As pessoas
com deficiência precisam entender seus direitos, estipulados
na Constituição. Entender que não há diferença humana, a
deficiência está dentro de cada um. É importante a inclusão
na sociedade em todos os aspectos, oportunidades de traba-
lho, qualificação, saúde, acessibilidade nos centros urbanos,
garantias de inclusão e exclusão da discriminação e precon-
ceito (LOPES, 2014). 
A luta por uma sociedade mais inclusiva busca ga-
rantir a aceitação, o respeito, a autonomia das pessoas com
suas diferenças, não apenas pela imposição das leis, mas pela
conscientização de uma sociedade mais humana e justa. 

51
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54
4.

POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA PARA O


ADOLESCENTE

Andresa Paula Rodrigues Do Nascimento


Bonifácio Soares De Santana Neto
José Eudes Lorena Sobrinho
Mirian Domingos Cardoso

55
INTRODUÇÃO
Considerando que há uma distância entre o status quo
e uma situação ideal possível para a realidade pública, sur-
gem os denominados problemas públicos. A partir destes, são
formuladas leis, programas, campanhas, obras, prestação de
serviços, entre outros instrumentos concretos de intervenção,
o que corresponde ao aspecto prático de um conceito teórico
denominado “política pública” (SECCHI, 2016).
Assim, a política pública é considerada uma resposta
do Estado aos problemas vivenciados pela sociedade. Diver-
sas políticas podem ser formuladas, a exemplo das relativas
à saúde (SECCHI, 2013). O conceito foi proposto por Paim,
segundo o qual “política de saúde” é a resposta social (ação
ou omissão) do Estado aos problemas e às necessidades de
saúde da população, contemplando a intervenção sobre a
produção, distribuição, gestão e regulação de bens e servi-
ços que afetam a saúde, inclusive o ambiente (SANTOS &
TEIXEIRA, 2016).
Algumas populações específicas são alvo de políticas
públicas, a exemplo dos adolescentes. É de suma importân-
cia estudar a adolescência, não apenas como um compo-
nente orgânico, mas porque possui, também, importantes
experiências vividas no seio social que podem intervir dire-
tamente na saúde dessa população (SILVA et al., 2015).
Os direitos dos adolescentes ganham cada vez mais es-
paço na sociedade contemporânea. Por um longo período, es-
ses direitos mantiveram-se quase que inexistentes, com pouca
ou nenhuma inserção no cenário jurídico mundial. A existên-
cia de um sistema protetivo pouco eficaz passou, ao longo do
tempo, a ser motivo de preocupação para a população mun-
dial, que via o índice de crianças e adolescentes abandonados
e explorados aumentar cada vez mais (DE OLIVEIRA, 2017).
56
O conhecimento de como vivem e se comportam os es-
colares possibilita mensurar a magnitude e a distribuição de
importantes fatores de risco à saúde em adolescentes e jovens,
em diversos aspectos. O monitoramento da saúde do adoles-
cente é uma importante estratégia em saúde pública e a OMS
preconiza a realização de inquéritos epidemiológicos nessa
fase da vida visando ao acompanhamento das condições de
saúde e vida e apoiar políticas públicas (REIS et al., 2018).
As políticas de saúde no contexto brasileiro têm se
desenvolvido no reconhecimento da intersetorialidade. Em
nenhum outro momento histórico falou-se tanto em saúde e
promoção da saúde como no contexto atual, o que corrobo-
ra a valorização do papel de promoção da saúde vinculada
ao ambiente escolar como elemento transformador da rea-
lidade. Assim, reconhece-se a necessidade de atuação não
somente do setor saúde, mas também como o resultado de
ações intersetoriais e multidisciplinares, tornando a inter-
setorialidade uma condição para a prática da Promoção da
Saúde (FARIAS et al., 2016).

LINHA DO TEMPO SOBRE OS DIREITOS


DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
1° de janeiro de 1726 - Crianças são abandonadas
para caridade nas “Rodas dos Expostos”
Em 1726, a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia
criou a primeira “Roda dos Expostos”, na Bahia. Havia uma
roda em que um dos seus lados ficava na parte de fora, e
o outro, no lado interno da casa, e quando o bebê era co-
locado no lado externo, tocava-se um sino, assim as irmãs
giravam a roda, fazendo com que a criança fosse levada para
o lado interno, sendo recolhida e cuidada por elas, preser-

57
vando a identidade de quem a abandonava (DOS SANTOS
et al., 2020). A medida foi regulamentada em lei e se tornou
a principal forma de assistência infantil nos séculos 18 e 19.

11 de outubro de 1890 - Código Criminal da Repú-


blica determina penalização de crianças entre 9 e 14 anos
Em 1890, cria-se o Código Criminal da República para
conter o aumento da violência urbana. A responsabilização
penal passa a considerar a Teoria do Discernimento. Irres-
ponsável penalmente seria o menor com idade até 9 anos.
Quanto ao menor de 14 anos e maior de 9 anos, era adotado
ainda o critério biopsicológico, fundado na ideia do “discer-
nimento”, estabelecendo-se que ele se submeteria à avalia-
ção do magistrado (BORBA, 2018).

5 de janeiro de 1921 – Idade mínima para responder


criminalmente passa a ser de 14 anos
A lei nº 4.242 tratou da assistência e proteção de “me-
nores abandonados” e “delinquentes”. Foi a partir dessa lei
que o menor de 14 anos passou a ser considerado improces-
sável e irresponsável por seus atos (BARROS et al., 2014),
não valendo mais a Teoria do Discernimento de 1890.

20 de fevereiro de 1926 - Caso Bernardino: menino é


violentado na prisão
O engraxate Bernardino, de 12 anos, foi preso ao jogar
tinta em uma pessoa que saiu sem pagar pelo serviço. Co-
locado em uma prisão junto a adultos, o menino negro foi
violentado e jogado na rua. Levado para um hospital, nar-
rou o ocorrido para jornalistas. O caso ganhou repercussão
e mobilizou debates sobre locais específicos para destinar
crianças que cumpram algum tipo de pena. Um ano depois,

58
o governo do presidente Washington Luís baixou o Código
de Menores, estabelecendo os 18 anos como o marco etário
penal brasileiro (WAQUIM et al., 2018).

10 de dezembro de 1927 - 1º Código de Menores es-


tabelece imputabilidade antes dos 18 anos
O Código de Menores de 1927, promulgado através
do Decreto n° 17.943-A, que possuía como objetivo regular
medidas de assistência e proteção ao menor abandonado
ou delinquente (CUNHA & BOARINI, 2010), representou
avanços na proteção das crianças. A lei proibiu a “Roda dos
Expostos” e tornou os jovens imputáveis até os 18 anos.
Criou a “escola de preservação para delinquentes” e a “escola
de reforma para o abandonado”.

14 de dezembro de 1932 - Com reforma penal, Var-


gas consolida mudanças na idade penal para 14 anos
Em 1932, realizou-se uma reforma maior do Código Pe-
nal Brasileiro para validar várias alterações já feitas desde 1890,
entre elas a mudança na maioridade penal de 9 para 14 anos.

5 de novembro de 1941 - Serviço de Assistência a


Menores (SAM) é criado para atender todo o Brasil
O SAM foi criado para controlar os serviços de assis-
tência através de ações educacionais, médicas e psicológicas
a fim de diminuir os problemas dos menores delinquentes
(FERREIRA, 2015) e internando-os em colônias correcio-
nais e reformatórios.

59
1º de dezembro de 1964 - Militares criam as FEBEMs
Após o golpe de 64, os militares extinguiram o SAM, e
a questão da infância passou a ser tratada como problema de
segurança nacional e deu origem às Febems em nível estadual.
A intenção era retirar das ruas jovens e crianças considera-
dos pela sociedade improdutivos (BOEIRA et al., 2017).

19 de junho de 1975 - CPI do Menor investiga situa-


ção da criação desassistida
A 1ª Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criou
efetivamente a comissão parlamentar de inquérito destinada
a investigar o problema da criança e do menor carente do
Brasil (BOEIRA, 2018) e contribuiu para a elaboração de um
novo Código de Menores.

10 de outubro de 1979 - 2º Código de Menores adi-


ciona doutrina de proteção integral
Em 1979, é promulgado um novo Código de Menores.
Ele traz a doutrina da proteção integral presente na concep-
ção futura do ECA. O Código anunciava-se como instru-
mento de assistência e de proteção com o objetivo de educar
(COSSETIN; LARA, 2016).

1º de março de 1988 - Entidades da sociedade civil


criam Fórum de Defesa das Crianças e Adolescentes
O Fórum Nacional de Entidades Não Governamentais
de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Fórum
DCA) é criado a partir do encontro de vários segmentos or-
ganizados de defesa da criança e do adolescente. A Consti-
tuição de 1988 refere, à criança e ao adolescente, três grandes
princípios: proteção integral, respeito à peculiar condição de
pessoa em desenvolvimento e prioridade absoluta (ROSEM-

60
BERG, 1988). Teve papel preponderante no processo de dis-
cussão e elaboração da Nova Constituição e do ECA.

13 de julho de 1990 - Nasce o Estatuto da Criança e


do Adolescente (ECA)
Em 1990, foram criadas as leis de proteção e defesa dos
direitos para todas as crianças e os adolescentes. O Estatuto
da Criança e do Adolescente trata igualmente todas as clas-
ses sociais (PAES, 2017).
Aprovado no Congresso Nacional, o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA) é o marco legal em defesa
da ideia de que crianças e adolescentes são também sujeitos
de direitos e merecem acesso à cidadania e proteção.

1º de janeiro de 2003 - Governo federal assume Dis-


que 100 para receber denúncias
O Disque Denúncia foi criado em 1997 por organi-
zações não governamentais que atuam na promoção dos
direitos das crianças e dos adolescentes. Em 2003, o ser-
viço passou a ser de responsabilidade do governo federal.
O Disque Direitos Humanos - Disque 100 tem abrangência
nacional e consiste em um canal de comunicação entre a
sociedade civil e o poder público para que se possa fazer
denúncias sobre qualquer violação de direitos humanos (DE
LIMA; MAIA, 2020).

PROGRAMA SAÚDE NA ESCOLA


O PSE é uma política de saúde na escola que se propõe
a articular e integrar permanentemente os setores saúde e
educação com ações que buscam melhorar a qualidade de
vida dos alunos de escolas de educação básica, tendo por
base ações de prevenção, promoção e atenção à saúde. Se-

61
gundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a educação
para a promoção da saúde contém a transmissão de infor-
mações relativas às condições sociais, econômicas e ambien-
tais com influência sobre a saúde, bem como condições de
risco individual e condutas de risco (SA, 2020).
Instituído pelo Decreto Presidencial nº 6.286, de 5 de
dezembro de 2007, o Programa Saúde na Escola (PSE) resul-
ta de uma parceria entre os ministérios da Saúde e da Edu-
cação. Seu objetivo principal é contribuir para a formação
integral dos estudantes da rede pública de educação básica
por meio das ações de prevenção, promoção e atenção à saú-
de, integrando as redes do Sistema de Educação e do Siste-
ma Único de Saúde (SUS) mediante articulação das escolas
públicas, unidades básicas de saúde e unidades de Saúde da
Família (FARIAS et al., 2016).
Dessa forma, torna-se preponderante que é necessário
promover a saúde de adolescentes e jovens tornando um in-
vestimento com repercussão tanto no presente quanto no fu-
turo, uma vez que os comportamentos iniciados nessa idade
são cruciais para o restante da vida. Ter realmente implantada
uma política e, com ela, práticas integrais à saúde desse grupo
contribui sobremaneira na formação de jovens autênticos e
autônomos no mundo, no estabelecimento das relações inter-
pessoais e nos posicionamentos frente às dificuldades e pro-
blemas vivenciados pelos próprios (SILVA et al., 2015).

PROGRAMA DE SAÚDE DO ADOLESCENTE


O PROSAD foi o primeiro programa a se preocupar de
forma específica com a saúde dos adolescentes, o que repre-
sentou um avanço em termos de saúde pública destinada a
essa população (JAGER et al., 2014).

62
O programa vem buscando efetivar uma atenção de
forma integral à saúde desse público, com a identificação de
grupos de risco, achado precoce dos agravantes, tratamento e
recuperação. O PROSAD tem como característica a integrali-
dade das ações visando à prevenção e à educação. Tem caráter
multiprofissional, intersetorial e interinstitucional. O progra-
ma busca para os adolescentes a garantia de acesso à saúde de
forma a atender às necessidades inerentes a esse público, tais
como gravidez, DST, álcool e outras drogas (SILVA, 2017).
Mesmo com a implantação do PROSAD, ainda são en-
contradas grandes dificuldades para a atenção primária. Nesse
contexto, destaca-se que a atenção integral, a adequação dos
serviços de saúde, a criação de vínculos e o fortalecimento da
relação com a família e a comunidade e a inserção dos adoles-
centes nas atividades realizadas são elementos essenciais para a
melhoria da sua qualidade da assistência (JAGER et al., 2014).

ESTATUTO DA CRIANÇA E
DO ADOLESCENTE (ECA)
O crescente movimento em defesa dos direitos das
crianças e dos adolescentes, juntamente com a Constituição
Federal de 1988, contribuiu para embasar a elaboração do
Estatuto da Criança e do Adolescente, aprovado em 1990.
Crianças e adolescentes passam a ser sujeitos de direitos, a
contar com uma Política de Proteção Integral e com priori-
dade absoluta. O ECA foi um marco no fortalecimento sobre
esse segmento na legislação e consequentemente na socieda-
de brasileira (CASTRO & MACEDO, 2019).
Foi adotada a Doutrina da Proteção Integral, cujo
pressuposto básico afirma que crianças e adolescentes de-
vem ser vistos como pessoas em desenvolvimento, sujeitos

63
de direitos e destinatários de proteção integral. O Estatuto,
que é composto por 267 artigos, garante os direitos e de-
veres de cidadania a crianças e adolescentes, determinando
ainda a responsabilidade dessa garantia a todos os setores
que compõem a sociedade, ou seja, à família, ao Estado e à
comunidade (NASCIMENTO, 2017).
No art. 4º, o Estatuto define que:

É dever da família, da comunidade, da sociedade


em geral e do poder público assegurar, com abso-
luta prioridade, a efetivação dos direitos referen-
tes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivên-
cia familiar e comunitária (Brasil, 1990).

Com a introdução do Estatuto da Criança e do Adoles-


cente no ordenamento jurídico, as crianças e os adolescentes
deixaram de ser tratados como simples objetos e passaram
a gozar de proteção integral (NASCIMENTO, 2017). A ga-
rantia do direito à saúde existe com a efetivação da política
de atendimento para a infância e a adolescência, conforme
as diretrizes estabelecidas pelo ECA. É visto que a efetiva-
ção do direito à saúde pressupõe a articulação de uma rede
regionalizada e descentralizada dos serviços de saúde, os
quais devem ser regidos pelos princípios do SUS, que são:
universalidade, integralidade e igualdade, conforme previs-
to na legislação (RAPOSO, 2009).
No âmbito das mudanças que afetaram sensivelmente
a percepção dos brasileiros acerca dos princípios esculpidos
no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), destaca-se
o tema dos direitos humanos. Os direitos humanos foram
concebidos, ao longo da história, como sinônimos de di-
64
reitos inalienáveis da essência do homem. No entanto, tais
direitos sempre estiveram reservados às elites, que determi-
nam quais direitos devem ser garantidos e para quem. No
Brasil, tal afirmação faz sentido pelo fato de que — mesmo
depois da redemocratização, da Constituição de 1988 e do
próprio ECA — os seres humanos pertencentes às classes
menos favorecidas, que sempre estiveram fora desses direi-
tos, foram mantidos na mesma margem e seus comporta-
mentos continuaram servindo de contraste aos padrões do-
minantes (RODRIGUES, 2016).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diferentes programas, ações e políticas foram elabo-
rados ao longo dos últimos anos, no âmbito do Brasil, espe-
cificamente voltados aos adolescentes, considerando ações
protetoras no campo da assistência social, promotoras da
saúde, preventivas e curativas, capazes de garantir a atenção
integral.
Apesar desses esforços empreendidos, reconhece-se
uma limitação quanto à operacionalização intersetorial para
execução das políticas que garantam melhores condições de
saúde e vida dos adolescentes e jovens brasileiros. Aliada a
isso, faz-se necessária a qualificação dos profissionais que
lidam com os adolescentes para que sejam sensibilizados
e despertados para o olhar para os jovens, como autores e
emancipadores de sua própria história, com grande poten-
cial para parcerias e reflexões.

65
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70
5.

EXPOSIÇÃO À VIOLÊNCIA
EM ADOLESCENTES
EM DIFERENTES CONTEXTOS 

Amanda de Morais Pinto Ribeiro Escobar


Monique Vieira de Oliveira
Viviane Colares 
Lygia Maria Pereira da Silva

71
INTRODUÇÃO

A violência é um fenômeno sócio-histórico e acom-


panha toda a experiência da humanidade (MINAYO, 2005).
Define-se como violência “o uso de força física ou poder, em
ameaça ou na prática, contra si próprio, outra pessoa ou con-
tra um grupo ou comunidade que resulte ou possa resultar
em sofrimento, morte, dano psicológico, desenvolvimento
prejudicado ou privação” (KRUG et al., 2002, p. 05). A Orga-
nização Mundial de Saúde classifica a violência em três gran-
des grupos, segundo quem comete o ato violento: violência
dirigida a si mesmo (autoinfligida ou autodirigida), que é sub-
dividida em comportamento suicida e autoabuso (automuti-
lação); violência interpessoal, que é subdividida em violência
da família e do parceiro íntimo e violência comunitária; e vio-
lência coletiva, que se subdivide em violência social, política
e econômica. Com relação à natureza das agressões, a violên-
cia é classificada em: física, sexual, psicológica e privação ou
abandono (Figura 1) (DAHLBERG; KRUG, 2006).

Figura 1 - Tipos e Natureza da Violência.


Fonte: DAHLBERG e KRUG (2006).

72
As diferentes formas de violência vêm provocando
forte influência e modificações nos perfis de morbimorta-
lidade da população global. Em várias partes do mundo, a
violência contra adolescentes é entendida como um grave
problema de saúde pública, pois constitui uma das princi-
pais causas de morte e é amplamente responsável pelo adoe-
cimento dos jovens (DOS SANTOS et al., 2017). No Brasil,
no ano de 2018, foram registradas 350.354 notificações de
violência na população geral, destas 89.274 apontaram ado-
lescentes na faixa etária de 10-19 anos como vítimas (BRA-
SIL, 2020). Ou seja, em torno de 25% das notificações de
violência estão relacionadas a uma década de vida, a ado-
lescência. No mesmo ano, o estado de Pernambuco ocupa o
sexto lugar nacional em número de notificações de violência
na população de adolescentes (BRASIL, 2020a). 
Dos Santos et al. (2017) estudaram a prevalência da
violência em adolescentes de 10-19 anos em Pernambuco e
concluíram que, além da tendência crescente de notificação
de casos de violência, os resultados apontaram maior pre-
valência de violência em adolescentes de 15 a 19 anos, do
sexo feminino, pardos e negros, solteiros, com até 8 anos
de estudo e sem deficiências. A residência e a zona urba-
na foram os locais e áreas de ocorrência mais prevalentes. A
violência física é a mais denunciada, seguida pela violência
psicológica, agressão sexual e negligência, com coocorrência
de diferentes tipos em muitos casos. O estudo também ve-
rificou que dentre os fatores independentes associados com
os tipos de violência, estão: idade entre 15 e 19 anos e sexo
masculino, para violência física, e idade entre 10 e 14 anos e
sexo feminino, para agressão sexual.
Patias e Dell’ Aglio (2017) realizaram um estudo que
investigou a exposição à violência direta e indireta em 426

73
adolescentes de 12-18 anos de escolas em Porto Alegre, assim
como variáveis independentes associadas (sexo, faixa etária,
reprovação escolar e configuração familiar). Os resultados
indicaram que 65% dos adolescentes foram expostos a, pelo
menos, um episódio de violência sofrida, enquanto 97% fo-
ram expostos a, pelo menos, uma forma de violência teste-
munhada. Ademais, foi destacado que os adolescentes, além
de estarem expostos a vários tipos de violência como vítimas
diretas, eles também são expostos às mais variadas formas
de violência indireta. 
Nesse sentido, os adolescentes e jovens constituem gru-
pos populacionais nos quais as manifestações da violência
provocam mais impactos, são os que mais morrem por agres-
sões e também são os mais apontados como autores de agres-
sões no Brasil e na América Latina (KRUG et al., 2002), são
atingidos pela desigualdade social e econômica, bem como
fragilizados pelas desigualdades raciais e de gênero (HENRI-
QUES, 2001). Dessa forma, o impacto da violência pode ser
medido por meio de sua repercussão econômica, social, emo-
cional, na saúde física e mental, além do reflexo na expectati-
va de vida (MARTINS, 2013; SOUZA; JORGE, 2006). 
Corroborando com o exposto, Finkelhor et al. (2005)
realizaram um estudo com 2.030 crianças e adolescentes de 2
a 17 anos, concluindo que cerca de um quinto destas sofreu
bullying e que as agressões com ferimentos e ataques de pre-
conceito foram maiores no grupo de adolescentes. A violên-
cia no namoro foi um fenômeno exclusivamente adolescente,
a taxa geral calculada para o grupo de 13 a 17 anos foi de 36
por 1.000. Os autores verificaram que as vítimas de violência
sexual, violência no namoro e crimes de ódio estão entre aque-
las com frequências de vitimização extremamente altas, assim
como as vitimizações sexuais em geral eram consideravelmen-
te mais comuns contra meninas do que contra meninos. 
74
Com relação à violência autoinfligida, Bahia et al.
(2020) afirmaram que na adolescência, em decorrência das
transformações biopsicossociais, é acentuado o risco de vi-
venciá-la. Assim, no estudo foi descrito o perfil das noti-
ficações e internações por lesões autoprovocadas envolven-
do adolescentes no Brasil, e concluiu que, no período entre
2011-2014, das 67.388 notificações realizadas no País, um to-
tal de 15.702 (23,3%) referiam-se a adolescentes. Entre ado-
lescentes, alguns dos fatores de risco para os comportamen-
tos suicidas são: vivência de violências, conflitos familiares,
uso de substâncias psicoativas, pouco suporte social, decep-
ção amorosa, solidão, histórico familiar de comportamento
suicida, dentre outros (SOUSA, et al., 2020). 
Destarte, a violência no contexto da adolescência não
pode ser compreendida isoladamente, existem vários fatores
que atuam conjuntamente aumentando as chances de viven-
ciá-la. Os fatores sociodemográficos (sexo, área de moradia,
nível socioeconômico); familiares (nível educacional, violên-
cia familiar); psicológicos individuais (autoestima, depressão,
consumo de álcool e drogas), todos esses interagem na produ-
ção da violência (MARTINS, 2013). Portanto, compreender
como esses fatores estão relacionados com a violência é um
dos passos importantes na abordagem da saúde pública para
a prevenção da violência (DAHLBERG; KRUG, 2006).
Considerando a complexidade do tema e suas reper-
cussões na vida dos adolescentes, faz-se necessária a melhor
compreensão do fenômeno visando ao seu enfrentamento.
Dessa forma, vamos apresentar um resumo dos trabalhos
disponíveis na literatura sobre a exposição à violência na
adolescência, considerando a interpessoal e a autoinfligida,
além da violência observada em ambiente escolar.

75
VIOLÊNCIA INTERPESSOAL
Uma das formas de violência interpessoal existente na
adolescência é a violência no namoro, que é definida como
um comportamento dentro de um relacionamento íntimo
que causa dano físico, sexual ou psicológico, incluindo atos
de agressão física, coerção sexual, abuso psicológico e com-
portamentos de controle (WHO, 2009). 
A violência entre adolescentes em seus relaciona-
mentos íntimos é um tema recente na literatura científica.
A partir da década de 90, houve aumento desse interesse e
alguns estudos foram realizados objetivando compreender
e atuar na prevenção desse tipo de violência (SOARES; LO-
PES; NJAINE, 2013). A carência de estudos sobre essa pro-
blemática pode ser justificada pela ideia de que namoro não
é lugar de violência (BITTAR; NAKANO, 2017).
Em decorrência da maior vulnerabilidade dos adoles-
centes, a violência contra esse grupo etário causa maior preo-
cupação, incluindo aquelas que ocorrem nos relacionamentos
íntimos (DA SILVA et al., 2017). A violência na relação amo-
rosa na adolescência pode ser vista algo continuum, que inicia
com abusos sofridos pelos adolescentes ainda na infância, em
suas famílias de origem, e que se perpetua nas que eles pró-
prios formarão na vida adulta (OLIVEIRA, et al., 2011).
Desse modo, a violência nas relações de intimidade
ocorre a partir da adolescência e durante a vida adulta, fre-
quentemente no âmbito do casamento ou da coabitação, a
começar no namoro. Essa forma de violência é na maioria
perpetrada pelo sexo masculino contra o sexo feminino,
mas pode também ocorrer o inverso (BESERRA et al., 2016).
Observa-se que na adolescência podem ser acentuadas as di-
ferenças entre os papéis de gênero e ser ratificada a aceitação

76
da violência como uma versão do amor ou como aceitável
em certas situações (BITTAR; NAKANO, 2017).
Da Silva et al. (2017) realizaram um estudo em Per-
nambuco que objetivou descrever o perfil da violência per-
petrada entre namorados adolescentes, revelando que a
maior parte das vítimas de violência no namoro é do sexo
feminino, com idade entre 15 e 19 anos, de raça/cor parda
ou preta. Os autores verificaram ainda maior ocorrência de
casos na zona urbana, onde a violência mais prevalente foi
a do tipo sexual seguida da física. De acordo com Penado
Abilleira et al. (2019), o namoro adolescente agressivo é uma
realidade, dos 430 adolescentes participantes de seu estudo,
verificou-se que quase um terço apresentou algum tipo de
violência de comportamento contra o parceiro no último
ano e que as características de personalidade associadas
com esses atos de violência indicam um padrão diferencial
de acordo com o gênero.
É importante afirmar que as experiências de violência
vividas nas relações afetivas produzem efeitos negativos e
significativos à saúde em curto e longo prazo. Os efeitos
podem incluir reações emocionais negativas (medo, raiva,
isolamento, tensão, sofrimento), consequências físicas
(ferimentos, dores de cabeça, insônia) com prejuízo para a
qualidade de vida (DA SILVA et al., 2017). Acrescenta-se ain-
da baixa autoestima, depressão, ansiedade, ideação suicida,
insucesso escolar, consumo de substâncias, disfunções de
comportamento alimentar, estresse pós-traumático, com-
portamentos sexuais de risco (BITTAR; NAKANO, 2017).
Nessa problemática discutida, pode ser observado que
a população em geral até pode identificar as situações de vio-
lência íntima entre os adolescentes, entretanto por entende-
rem que se trata de um problema privado do casal, existe o re-

77
ceio de interferir, e isso pode ser um fator determinante para
manutenção do ciclo da violência no namoro (MELO, 2018).
Portanto, na intervenção ao adolescente vítima de
violência, faz-se necessário um acolhimento atencioso, com
respeito e segurança, através de uma escuta com pessoal
preparado e qualificado (BEZERRA, COLARES, SILVA,
2019). Ainda que exista a dificuldade das vítimas de relatar a
violência sofrida, os serviços de saúde compõem um espaço
privilegiado para identificação desses casos/situações, posto
que as agressões podem ser detectadas por sinais indiretos e
essa detecção precoce pode favorecer na prevenção de situa-
ções mais graves (DA SILVA et al., 2017).

VIOLÊNCIA AUTOINFLIGIDA
As violências autoinfligidas se referem ao comporta-
mento suicida e às diversas formas de automutilação (MI-
NAYO, 2005a). O comportamento suicida vai desde simples-
mente pensar em acabar com a vida até o desenvolvimento
de um plano para cometer o suicídio e conseguir os meios
de realizá-lo, enquanto a automutilação refere-se à destrui-
ção direta e deliberada de partes do corpo sem a intenção
suicida consciente (KRUG et al., 2002).
Os estudos sobre prevalência da automutilação na
população mundial têm resultados bastante variados, há
tendências de ser mais prevalente em adolescentes e exis-
tem registros de aumento nos últimos anos (GIUSTI, 2013).
O suicídio representa 1,4% de todas as mortes no mundo,
tornando-se, em 2012, a 15ª causa de mortalidade na po-
pulação geral e a segunda entre os jovens de 15 a 29 anos
(WHO, 2014). No Brasil, no período de 2011 a 2018, foram
notificados 339.730 casos de violência autoprovocada, dos

78
quais 154.279 (45,4%) ocorreram na faixa etária de 15 a 29
anos. No entanto, esses dados podem estar subestimados e
serem maiores do que se imagina, uma vez que muitos casos
de suicídio e automutilação não são notificados (BRASIL,
2019). No estado de Pernambuco, no período de 2009-2018,
o número de notificações por lesões autoprovocadas na fai-
xa etária de 10-19 anos passou de 670 para 4.703 (BRASIL,
2020). Além disso, considerando o número de notificações
por lesões autoprovocadas no país em 2018, Pernambuco
ocupa a sexta posição em relação aos demais estados da fe-
deração (BRASIL, 2020a).
Segundo Silva et al. (2018) em recente estudo realizado
em Olinda, com uma amostra de 2614 estudantes do ensino
médio, com idade entre 14 e 19 anos, de ambos os sexos, os
autores verificaram que 18,8% relataram ter tido pensamen-
tos suicidas nos últimos 12 meses. Verificaram ainda que os
adolescentes que pensaram em suicídio apresentaram 3,68
vezes mais chances de ter uma autopercepção negativa de
sua saúde.
Para Hedeland et al. (2016), a falta de escuta e apoio dos
pais é associada ao aumento da incidência de tentativas de
suicídio entre adolescentes e que a automutilação é um im-
portante fator de risco para o comportamento suicida. Assim,
é essencial que pais, professores e outros cuidadores sejam
capazes de identificar os primeiros sinais de comportamento
suicida, a fim de fornecer o apoio necessário aos adolescentes.
Nesse sentido, a recente lei 13.819/2019 instituiu a Po-
lítica Nacional de Prevenção da Automutilação e Suicídio,
que prevê a notificação compulsória dos casos de tentativa
de suicídio, suicídio consumado e automutilação, pelos es-
tabelecimentos de saúde e ensino públicos ou privados, bem
como objetiva promover a articulação intersetorial para a

79
prevenção do suicídio e automutilação (BRASIL, 2019a). A
notificação de violências autoinfligidas integra a lista de
doenças e agravos de notificação compulsória no Sistema
de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) desde
2010, em serviços sentinelas, e foi ampliada a partir de 2011,
quando a notificação passou a ser universal para todos os
serviços de saúde públicos e privados do país. A notificação
abrange tentativa de suicídio, entretanto a ideação suicida
não constitui objeto de notificação, embora exija ações de
atenção integral em saúde (BRASIL, 2019).
Diante da complexidade das situações de violência
autoinfligida na adolescência, o cuidado a esse público não
implica só ao setor saúde, mas perpassa outros campos, sa-
lientando-se a necessidade de uma integração intersetorial
de iniciativas como na área da assistência social, educação e
outras (KANTORSKI et al., 2014).

VIOLÊNCIA EM AMBIENTE ESCOLAR


Dentre as diferentes formas de violência ocasionadas
em ambientes públicos, destaca-se para os adolescentes o
ocorrido em ambiente escolar. Pode-se observar: bullying,
agressões físicas e preconceitos que decorrem no meio esco-
lar, mesmo não estando ligados às atividades da instituição
(AGUIAR, 2017).
O fato de sofrer negligência na infância parece guardar
relação direta com a prática de atos violentos na adolescência
ou fase adulta, podendo o adolescente/jovem desenvolver um
comportamento agressivo a partir de um ambiente hostil. Na
adolescência e na idade jovem, tem sido observado o cresci-
mento dos índices de violência, não apenas como vítimas, mas
também como infratores, em decorrência da maior exposição
e vulnerabilidade inerentes a essa fase (MARTINS, 2013).

80
A escola tem sido o cenário de preconceitos, refletindo
a violência tanto verbal como física pelo simples fato da não
aceitação das diferenças. O adolescente tido como o mais
forte torna o mais fraco alvo de desdenha, caracterizando
uma relação social desleal, evidenciando as diferenças como
algo que causa constrangimento, vergonha, fazendo o in-
divíduo violentado se sentir menosprezado, inferior diante
dos demais (STELKO-PEREIRA et al., 2018).
O sentimento de inferioridade vivenciado pelas víti-
mas reforça as agressões, colocando-as como alvo perfeito
para o agressor, tornando os insultos e agressões constantes.
Um estudo realizado no ano de 2020 com 871 estudantes,
com idade média de 15 anos, revela que 28% dos participan-
tes (12,5% dos meninos e 15,5% das meninas) já sofreram
algum tipo de preconceito ou bullying na escola e, dentre
estes, 33,6% refere-se ao peso corporal, 18,7 % preconcei-
to racial, 16,8% homofobia, 12,3% sofreram outros tipos de
preconceito, 7,8% devido à aparência física e 4,9% assédio
moral em geral (GIACOMOZZI et al., 2020).
Em outro estudo, realizado em Olinda, com uma
amostra de 2.614 estudantes do ensino médio, os autores
verificaram que 20,2% relataram bullying na escola, 30,2%
informaram terem sido roubados na escola e 29,5% se envol-
veram com briga na escola. Os autores destacaram a necessi-
dade de ações de cultura da paz na adolescência, envolvendo
o ambiente escolar, visando reduzir os índices de violência
(SILVA et al., 2018).
Em relação ao gênero e ao tipo de violência, um estudo
realizado em 2019, com 2.565 estudantes de 12 escolas muni-
cipais de Campina Grande, Paraíba, Brasil, verificou que es-
colares do sexo feminino foram, predominantemente, vítimas
de violência psicológica (79,7%), enquanto os escolares do

81
sexo masculino sofreram mais retaliações da violência física
(65,4%) e material (47,9%). Em contrapartida, 95% dos agres-
sores do sexo masculino referiram também serem vítimas de
algum tipo de violência escolar (MARCOLINO et al., 2019).
Em adolescentes, a violência física (agressões) tende a
ser mais frequente, em função do contexto urbano de violên-
cia, desigualdades sociais, exposição a brigas, envolvimento
com armas, disputas de gangues e exposição a atos violentos
praticados por desconhecidos, consumo de álcool e outras
drogas nas vias públicas e ambiente escolar (MALTA et al.,
2012). Relacionados aos comportamentos violentos, foram
evidenciados fatores de risco como o uso de álcool e outras
drogas, relação não saudável entre cuidadores e crianças, es-
tresse econômico familiar, exposição à violência comunitária
e iniquidades sociais. Emergiu a família como essencial nesse
debate, visto sua implicação nos comportamentos e ensina-
mentos oferecidos a esses jovens (BESERRA et al., 2019).
O sexo masculino é o apontado como tendo maior rela-
ção com o comportamento de violência, independentemente
da idade. Tal fato remete à formação de hábitos de uma socie-
dade machista, a qual tolera e até mesmo incentiva o homem a
atos agressivos. Associada à problemática da violência, temos
a repercussão no sistema de saúde, pois devido à gravidade
das lesões, a vítima procura assistência médica, impactando
nos recursos hospitalares e caracterizando a violência como
problema de saúde pública (DA SILVA et al., 2018).
A violência física, na maioria das vezes, é decorrente de
outros tipos de violência, seja: verbal, psicológica, bullying
ou sexual. O adolescente, assim, pode ser polivitimizado.
Com isso, é de fundamental importância o acolhimento e
escuta do profissional de saúde, o qual irá oferecer cuidados
ao indivíduo violentado, para identificar outros possíveis ti-

82
pos de violência que o adolescente pode estar sofrendo (BA-
TISTA et al., 2014).
Visando melhorias na garantia dos direitos das crian-
ças e adolescentes, foi criado em 1990, através da Lei 8069, o
Estatuto da Criança e Adolescente, o ECA, o qual assegura
às crianças e adolescentes o direito à cidadania, assim como
proteção integral e notificação compulsória (MORAIS, 2016).
A notificação compulsória é o registro da violência,
sendo o termo “notificação da violência” bastante conhecido
no âmbito da saúde. Os profissionais da saúde, ao realiza-
rem o preenchimento da ficha de notificação, direcionam
três vias: uma da instituição que notificou, outra encami-
nhada para a vigilância epidemiológica das Secretarias Mu-
nicipais de Saúde e uma terceira que deverá ser encaminha-
da ao Conselho Tutelar ou às autoridades competentes (Art.
13 da Lei n° 8.069/1990), alertando que aquele adolescente,
ou a família deste, necessita de ajuda (BRASIL, 2006).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A violência é uma problemática que se expressa de di-
versas formas na vida dos adolescentes e requer estratégias
para seu enfrentamento. Tendo em vista que o  adolescente
permanece um tempo significativo de seu dia na escola, sen-
do este um ambiente de interação e socialização, onde, porém,
também pode ocorrer violência de diferentes tipos, torna-se
fundamental o estabelecimento de identificação e interven-
ção através de professores e pessoal capacitado na escola.
Dessa forma, o enfrentamento da violência deve ocor-
rer atrás de diversos profissionais e setores, tais como: Justi-
ça, Assistência Social, Conselho Tutelar e Saúde. Com isso,
é de fundamental importância o trabalho intersetorial, pro-

83
porcionando não apenas o atendimento ao adolescente ví-
tima de violência, mas também promovendo estratégias de
identificação de risco, acompanhamento aos grupos vulne-
ráveis e às famílias, fortalecendo o elo de confiança entre
os serviços e os jovens para que eles se sintam acolhidos e
fortalecidos em casos de ameaças e/ou vivência de violência.

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90
6.

QUALIDADE DO SONO E SAÚDE


DO ADOLESCENTE

Gabriela Brito Vasconcelos


Gabriele Lima de Araújo
Marcos André Moura dos Santos
Mônica Vilela Heimer

91
INTRODUÇÃO
A Organização Mundial de Saúde definiu em 1965 a
adolescência como o período que tem início aos 10 anos de
idade e termina ao completar do décimo nono ano de vida
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1965). Nessa
fase, são observadas mudanças tanto físicas quanto compor-
tamentais e sociais, caracterizadas pelo desenvolvimento e
maturação do sistema cognitivo, dentre outras mudanças
essenciais para o crescimento do indivíduo. Nesse contex-
to de transições biológicas, no início da puberdade, ocorre
uma mudança no volume de massa cinzenta no cérebro, nos
lobos frontal e parietal, que aumentam nessa fase da vida e
diminuem posteriormente, e pode sofrer alterações relacio-
nadas ao sono (DEL CIAMPO, 2012). 
Ressalta-se que a importância do sono não está so-
mente associada ao papel restaurador das funções orgânicas,
sabe-se também que sua quantidade e qualidade estão rela-
cionadas às funções imunológicas, metabólicas, cognitivas e
psicológicas (LI, 2014). Além disso, o sono é um componente
importante do ritmo circadiano diário e desempenha um
papel fundamental na promoção da saúde (VAN DONGEN;
DINGES, 2003), visto que uma noite de sono satisfatória é
primordial para o bem-estar físico e mental do indivíduo
(KABRITA; HAJJAR-MUÇA; DUFFY, 2014). 
Na adolescência, ocorrem importantes mudanças no
padrão do sono, como o atraso na fase do sono, pois os ado-
lescentes tendem a ficar acordados até mais tarde e a dormir
até mais tarde pela manhã, quando comparados às crianças
pré-púberes (DAHL; CARSKADON, 1995). Vale destacar
que o padrão irregular e os distúrbios do sono, nessa fase
da vida, ocorrem por uma junção de influências dos fatores

92
biológicos, psicológicos e socioculturais, associados às mu-
danças no ritmo circadiano, maior autonomia para escolher
os horários de sono, pressão acadêmica, além do uso de dis-
positivos de tela e rede social (CARSKADON, 2011). Apesar
de a necessidade de dormir constituir-se em uma caracterís-
tica individual, durante a adolescência recomenda-se uma
média de 8,3 horas de sono por noite, a fim de prevenir a
sonolência diurna excessiva (PEREIRA et al., 2015). 
Esse é um período de vulnerabilidade ao surgimento de
distúrbios e padrões de sono irregulares, tais como duração
insuficiente e má qualidade do sono (CARSKADON, 2011;
DAHL; LEWIN, 2002), o que leva a uma série de eventos
prejudiciais, como baixo desempenho acadêmico, déficit da
função cognitiva (CAPPUCCIO et al., 2008; PEREZ-CHADA
et al., 2007), dores musculoesqueléticas, bruxismo, doenças
cardiovasculares, além do sedentarismo, que traz como con-
sequência a obesidade e distúrbios alimentares.
Nesse contexto, as alterações do sono têm sido asso-
ciadas a dores musculoesqueléticas, em que essa associação
não significa casualidade, mas uma relação cíclica na qual a
dor pode influenciar o sono, e o sono insuficiente pode in-
tensificar e gerar a dor (HARRISON; WILSON; MUNAFÒ,
2014). Outra condição relacionada às alterações do sono é o
bruxismo, que embora tenha etiologia multifatorial (TAKA-
GI; SAKURAI, 2003), a literatura reporta uma associação
com fatores psicológicos (EMODI-PERLMAN et al., 2016). 
É importante salientar que as repercussões da má qua-
lidade de sono podem ter relação de reciprocidade com sin-
tomas psicológicos, como a depressão, a ansiedade e o surgi-
mento de estresse, que pode desencadear intenções suicidas
em adolescentes. Grande parte das desordens psicológicas
pode emergir, indicando que essa fase é marcada por gran-

93
des mudanças capazes de expor os adolescentes a situações
de vulnerabilidade emocional (GOMES et al., 2017).
Tendo em vista a necessidade de padrões regulares de
sono para o desenvolvimento biopsicossocial e emocional do
adolescente e a influência dessa condição no seu bem-estar
cognitivo e mental, é de extrema importância o conhecimen-
to dos profissionais de saúde acerca de todos os aspectos sobre
o sono e suas repercussões na vida do adolescente, promo-
vendo uma prática pautada nas necessidades e peculiaridades
dessa população.
A adolescência é um período em que o indivíduo vi-
vencia inúmeras transformações, seja pela transição abrupta
do estado de dependência econômica total dos pais ao de re-
lativa independência, seja pela experimentação do seu corpo
em constante mudança, com os primeiros sinais dos carac-
teres sexuais chegando até a maturidade sexual; e ainda os
processos psicológicos e as formas de identificação que se
moldam da fase infantil para a adulta (OMS 1965). Nesse
contexto de intensidade e urgências, o período é de relevante
vulnerabilidade a fatores de risco no âmbito biopsicossocial
do adolescente. Os indicadores de saúde do início da adoles-
cência devem estar associados, principalmente, às condições
e hábitos de higiene, alimentação, estudo, prática de exer-
cícios físicos e sono (JENKINS, 2007). Pela perspectiva do
adolescente, esses hábitos de saúde são mais influenciados
pelas situações e necessidades de bem-estar imediato do que
pelas consequências que eles podem levar em longo prazo
(MICHAUD; CHOSSIS; SURIS, 2006).

94
SONO
O sono é uma condição fisiológica fundamental, sen-
do definida por um estado comportamental reversível, com
mudanças do nível de consciência e da responsividade a es-
tímulos internos e externos. Como processo ativo, envolve
complexos mecanismos de várias regiões do sistema nervo-
so central, os quais se relacionam com muitos processos de
desenvolvimento e maturação nos primeiros anos de vida,
como funções homeostáticas para conservação de energia,
reposição de neurotransmissores, remodelagem de sinapses e
receptores, modulação de sensibilidade dos receptores e con-
solidação de memória (ALOE; AZEVEDO; HASAN, 2005). 
Durante o sono, ocorrem mecanismos que promovem
uma maior estimulação do sistema nervoso parassimpático,
diminuição do ritmo cardíaco e respiratório, relaxamen-
to muscular e a temperatura corporal baixa (BATISTA et
al., 2018). Outra importante função do sono é a liberação
do hormônio do crescimento (GH) e do tireoestimulante
(TSH), hormônios essenciais para a transição e o desenvol-
vimento para a fase da adolescência (PESSOA, 2015).
Em relação às áreas psicológicas, somáticas e cogniti-
vas, o sono exerce papel de destaque nas alterações eletrofi-
siológicas, neuroquímicas e anatomofuncionais do cérebro.
Dessa forma, ele é controlado por mecanismos homeostá-
ticos e cronobiológicos; sendo este o ritmo circadiano, que
comanda sua frequência, enquanto o mecanismo homeostá-
tico determina sua necessidade (BRAND; KIROVV, 2011).
O ciclo vigília-sono é determinado pelo relógio circadiano
(BRAND; KIROV, 2011).
O ritmo biológico pode ser regulado por fatores não
fóticos (temperatura, alimentação, exercícios e fatores so-

95
ciais), bem como o ciclo claro-escuro. Este, em particular,
atua como um potente sincronizador dos ritmos biológi-
cos da espécie humana (DUFFY; KRONAUER; CZEISLER,
1996; LAVIE, 1996). O ciclo vigília-sono (CVS) é um ritmo
biológico caracterizado pela alternância de dois estados fun-
cionais distintos, o sono e a vigília, os quais são regulados
pela luz e pela escuridão (SILVA, 2005). Quando escurece,
há a liberação de melatonina, que é responsável pela indução
e manutenção do sono (LERNER; CASE, 1960).
O ritmo biológico é de grande importância para ma-
nutenção de um cronograma de horários durante as ativida-
des diárias como estudo, trabalho, sono, atividades de lazer
e refeições. Nesse sentido, biologicamente, e de acordo com
sua organização social, os seres humanos são programados
para serem ativos em suas funções físicas, principalmente
para atividades diurnas, mantendo uma relação direta com
o ritmo biológico de cada pessoa (HITZE et al., 2009).  

Para alcançar um estado ótimo de vigília, o adulto ne-


cessita uma média de 7-8 horas de sono em um período de 24
horas, com despertares noturnos que representem até 5% do
tempo total na cama (CÂMARA, V.; CÂMARA, W., 2002). É
importante destacar que ocorre uma diminuição progressiva
da duração do tempo de sono com o avanço da idade. O recém-
nascido, por exemplo, dorme entre 19 a 20 horas durante um
período de 24 horas. Até 10 anos de idade, passam a dormir
10 horas por noite, 8 horas na adolescência, 7,5 horas na fase
adulta e 6 horas a partir dos 60 anos de idade. Em relação aos
despertares noturnos, ocorre o inverso, ou seja, 1 despertar
na idade de 5 a 10 anos, 2 despertares entre 20 e 30 anos, 4
entre 40 e 50 anos, finalizando em 8 despertares entre 70 e 80
anos de idade (CÂMARA, V.; CÂMARA, W., 2002).

96
Considerada a interface multidimensional do sono,
com a influência dos fatores individuais, sociais e ambien-
tais, e de sua extrema importância na promoção do bem-
-estar físico e mental (BUYSSE, 2014), a qualidade do sono
é uma das cinco dimensões consideradas relevantes para a
avaliação do sono saudável. A literatura suporta evidências
sobre a privação do sono e os distúrbios relacionados, afe-
tando processos metabólicos e inflamatórios, com amplos
impactos negativos à saúde (COLTEN; ALTEVOGT, 2006).

SONO E ADOLESCÊNCIA 
A adolescência é um período caracterizado por im-
portantes mudanças biopsicossociais e emocionais, até mes-
mo quando se trata do padrão do ciclo vigília-sono. Existem
diversos elementos que podem colaborar para privação do
sono nessa faixa etária, tais como: fatores socioeconômi-
cos, tempo de tela excessivo, além de fatores patológicos que
caracterizam os distúrbios do sono (BATISTA et al., 2018;
FELDEN et al., 2015). Assim, rotinas vespertinas, atra-
so para o início do sono e a sonolência diurna dificultam
a manutenção do estado de alerta e, consequentemente, a
adaptação aos horários das atividades diárias sociais, como
a escola (VOLLMER et al., 2017).
Para avaliarmos a qualidade do sono dos adolescentes,
precisamos conhecer seu ciclo biológico, no qual o cronotipo
é considerado um importante influenciador nos padrões de
seu sono. O cronotipo classifica o indivíduo de acordo com a
sua predisposição, biologicamente determinada, para desen-
volver atividades de forma otimizada em momentos especí-
ficos do dia (FIGUEIREDO; HIPOLITO; TOMAS, 2018). Os
indivíduos podem ser classificados em matutinos, que são os

97
que preferem acordar e dormir cedo e apresentam bom nível
de alerta e desempenho nas atividades durante a manhã. Ves-
pertinos, que tendem a acordar e dormir tarde, apresentando
melhor desempenho nas atividades durante a tarde ou à noite,
e indiferentes, que são os que não têm preferência específica.
No início da adolescência, o ritmo circadiano tende a sofrer
mudanças, em que os cronotipos vespertinos tornam-se mais
prevalentes (VOLLMER et al., 2017).
Além do cronotipo, outro importante fator que sofre
alteração é o aumento do uso de mídias eletrônicas e tem-
po de tela. A elevada prevalência de adolescentes expostos
a tempo excessivo de tela tem sido considerada um fator de
risco nessa fase, devido à sua associação com diversos pro-
blemas de saúde, como sobrepeso e obesidade, alterações na
glicose e colesterol sanguíneos, baixo rendimento escolar,
diminuição do convívio social e menores níveis de atividade
física (LUCENA et al., 2015). 
É notória a importância de identificar fatores que
determinam os padrões de comportamento do sono na
adolescência. A hora de dormir e a latência do sono afetam a
duração deste e estão associadas à fadiga e ao humor inferior
(CROWLEY et al., 2014). Tais problemas afetam não ape-
nas o rendimento escolar desses adolescentes, mas também
suas relações sociais, desenvolvimento e estímulo cognitivo,
propiciando maiores riscos de problemas comportamentais
e psicológicos, afetando de forma significativa a sua quali-
dade de vida (BOWERS, 2017).

98
SONO E SAÚDE MENTAL EM ADOLESCENTES
As relações entre depressão, ansiedade e sono vêm
sendo alvo de interesse cada vez maior na literatura (MAT-
THEW et al., 2016). A fisiologia do sono na depressão está
associada a distúrbios eletrofisiológicos no sono, incluindo
desinibição do sono REM, fragmentação do sono REM, re-
dução do sono de ondas lentas e ritmo circadiano desregula-
do (RIEMANN; BERGER; VODERHOLZER, 2001), ou seja,
dificuldade na iniciação do sono, com despertar precoce fre-
quente, insônia ou hipersonia (PALAGINI et al., 2013). Si-
milarmente, nos transtornos de ansiedade, os distúrbios do
sono também se manifestam no padrão irregular durante
a noite, apresentando dificuldade de iniciação e/ou manu-
tenção do sono, sono insuficiente, agitado, além das altera-
ções na arquitetura do sono e insônia e também depressão
(MELLMAN, 2006).
A respeito dessa estreita relação, como a depressão e
a ansiedade apresentam a insônia como sintoma, os proble-
mas de sono podem também exacerbar os estados depres-
sivos e ansiosos, constituindo-se a insônia em um fator de
risco para o desenvolvimento de ambos agravos (MELL-
MAN, 2006; NECKELMANN; MYKLETUN; DAHL, 2007;
SPOORMAKER; BOUT, 2005).
Sendo a adolescência um período de intensas trans-
formações psicológicas, com mudanças sociais e comporta-
mentais, a saúde mental é bastante relevante, e uma parce-
la significativa dos adolescentes (20%) experimenta algum
problema de saúde mental, particularmente depressão e an-
siedade (PATEL et al., 2007). 
Nesse contexto, uma revisão de literatura a respeito dos
distúrbios do sono e depressão em adolescentes mostrou que

99
tanto os distúrbios do sono como a depressão apresentam-se
como fatores de risco entre si, concluindo a relação bidirecio-
nal entre essas condições. Segundo o mesmo estudo, o distúr-
bio do sono mais frequente encontrado entre adolescentes foi
a insônia e que adolescentes com insônia possuem alta preva-
lência de sintomas depressivos (TOLÊDO et al., 2019).
Além de a perda de sono provocar uma resposta emo-
cional mais pobre, como maior reatividade a experiências
emocionais negativas (KAHN; SHEPPES; SADEH, 2013;
PALMER et al., 2018), as rotinas sociais da vida do adoles-
cente também interferem na sincronia do ciclo biológico, pois
determinam exposição à luz, tipos de alimentação, dentre ou-
tros fatores, como uso de mídias eletrônicas. Tais mudanças
nas rotinas sociais foram consideradas fatores de risco para o
desenvolvimento desses sintomas (TONON et al., 2020).

SONO E AGRAVOS À SAÚDE


EM ADOLESCENTES 
Distúrbios alimentares e alterações cardiovasculares
Estudos mostram que os adolescentes apresentam
uma menor qualidade do sono e passam menos tempo nas
fases mais profundas deste. O tempo e a qualidade do sono
são considerados importantes determinantes para a saúde
(BOWERS, 2017; DUNSTER et al., 2018; FISCHER et al.,
2017). A restrição no tempo total de sono e a piora na quali-
dade do sono afetam diretamente o metabolismo da glicose
e lipídio (BIN, 2016). Gissoni e Quaresma (2020) afirmam
que apenas uma noite de restrição de sono impacta de for-
ma significativa na regulação glicêmica, além de restrições
crônicas de sono nessa fase diminuírem a sensibilidade de
insulina em adolescentes. Esses achados destacam a impor-

100
tância de considerar a perda de sono como um fator de risco
para o aumento de distúrbios associados. 
Acredita-se que a piora de sono, por diferentes meca-
nismos, promova aumento da ingestão alimentar, colabo-
rando para o aumento da ingestão de alimentos energéticos,
balanço energético positivo e aumento de tecido adiposo, re-
sultando em altos índices de obesidade nessa fase (GISSONI;
QUARESMA, 2020). 
Outro fator associado à importância do sono é seu pa-
pel no sistema cardiovascular, tendo em vista que a restrição
de sono afeta negativamente parâmetros cardiovasculares
(KHAN; AOUAD, 2017). A relação entre sono e alterações
cardiovasculares é atribuída, em parte, às mudanças hemo-
dinâmicas encontradas durante o período de sono (TRIN-
DER et al., 2012). Acredita-se que a restrição de sono seja
capaz de alterar o controle hemodinâmico e a regulação
cardiovascular em indivíduos saudáveis, associado com o
aumento da resposta inflamatória e alterações na função
endotelial (OLIVEIRA et al., 2020).
Dessa forma, observa-se a importância e a influência
dos padrões e regularidade do sono no bem-estar físico e
na regulação corporal dos adolescentes, sendo considerado
um importante determinante para agravos de saúde e im-
pactando não apenas durante a adolescência, mas também
na fase adulta. 

Sedentarismo e importância da atividade física


As pesquisas demonstram uma associação positi-
va entre a prática de exercícios físicos e a melhoria dos pa-
drões de sono nos indivíduos (FARIA, 2009; AWAD, 2013;
LLOYD, 2014). Segundo a American Sleep Disorders Associa-
tion (ASDA), o exercício físico vem sendo recomendado como

101
uma forma de intervenção não farmacológica para melhorar a
qualidade do sono. Santiago et al. (2015) sugerem uma relação
positiva entre a melhoria da qualidade do sono e as sessões
de exercícios realizadas pela manhã e à tarde em adolescentes
sedentários, evidenciando a importância dessa prática na me-
lhoria dos padrões de sono no grupo e consequentemente na
redução dos riscos provenientes desse problema. 
O mecanismo fisiológico que explica a influência do
exercício físico sobre o sono inclui a restauração de tecidos,
conservação de energia, diminuição da temperatura e alterações
na produção de compostos endógenos como hormônios ou
citocinas (FAIRBROTHER, 2011).
A forma como o exercício deve ser realizado e fre-
quência da prática ainda está sob investigação, embora exis-
tam várias descobertas importantes que apoiam o uso do
exercício para melhorar a quantidade e a qualidade do sono
(DOLEZAL, 2017). Sabe-se que exercício físico é um fator
extrínseco capaz de promover um desequilíbrio na homeos-
tasia do organismo e estima-se que essas alterações podem,
em certa medida, promover melhoria em indicadores e na
qualidade do sono, resultando em uma melhor qualidade de
vida desses adolescentes (PETIT et al., 2015).

Dores associadas 
Dentre os problemas de saúde frequentemente acha-
dos na infância e na adolescência, destacam-se as alterações
do sono e a cefaleia, sendo comum estarem associadas. A
enxaqueca e a cefaleia do tipo tensional ocorrem em 12% da
população pediátrica e 25% das crianças apresentam, pelo
menos, um tipo de perturbação do sono (ABU-AREFEH;
RUSSELL, 1994; OWENS; WHITMANS, 2004).

102
Achados na literatura sugerem uma correlação entre
os distúrbios do sono e a cefaleia, em decorrência de um
mecanismo fisiopatológico comum. Não estando a direção
dessa relação totalmente esclarecida, sabe-se que o sono está
relacionado à ocorrência de algumas síndromes de cefaleia,
enquanto que a cefaleia pode desencadear vários graus de
interferência no sono. De maneira similar, as cefaleias po-
dem ocorrer durante ou após o sono, e ao mesmo tempo, o
excesso, a privação, má qualidade ou duração inadequada do
sono podem provocar cefaleia (JENNUM; JENSEN, 2002).
Resultados de estudos populacionais (YOUNG T
et al., 2002) e da atenção primária (Logue EE et al. 2014)
trazem importantes associações entre distúrbios do sono e
condições médicas, dentre elas a dor crônica. Seng EK et al.
(2016), ao investigarem distúrbios do sono e condições de
comorbidades, em ambientes de atenção primária urbanos
com alta diversidade étnica, mostraram presença de dor
crônica associada à insônia clinicamente significativa. Des-
sa forma, são observadas prevalências de distúrbios do sono
tipicamente maiores nas populações com dores crônicas
do que na população em geral (SIVERTSEN B et al., 2009).
Insônia e apneia do sono são achados comuns em pessoas
com desordem temporomandibular, observadas em análi-
ses polissonográficas (SMITH MT et al., 2009), assim como
em pacientes com fibromialgia, em quem os distúrbios do
sono são constantes, com prevalência observada de até 99%
(THEADOM A., 2007). 
Outra associação que tem sido alvo de interesse na lite-
ratura são as dores musculoesqueléticas e o sono, especifica-
mente a qualidade e a quantidade do sono, devido aos acha-
dos sustentarem altas prevalências desses agravos em pessoas
com dor (ANDREUCCI et al., 2017). Metwolly et al. (2004),

103
em um estudo com adolescentes de 10 a 14 anos com dores
musculoesqueléticas, descobriram que cansaço e dificuldade
em adormecer são fatores preditivos para dores recorrentes.

Distúrbios do sono 
O sono é um fenômeno vital, no qual existem mecanis-
mos e sistemas orgânicos que têm por finalidade a preven-
ção da exaustão, em que são executados processos de recu-
peração e compensação de gastos energéticos e bioquímicos,
ocorridos no período das atividades (OLIVEIRA, G.; SILVA;
OLIVEIRA, E., 2019). Os distúrbios do sono podem resultar
em repercussões negativas para o ser humano, como déficit
cognitivo, alterações de metabolismo e alterações psicológi-
cas. A má qualidade do sono e o sono insuficiente são fatores
associados a patologias, como obesidade, distúrbios mentais,
hipertensão arterial e diabetes (CARONE et al., 2020).
Os distúrbios de sono mais prevalentes em adolescen-
tes são o curto tempo de sono, sonolência excessiva diurna,
baixa eficiência do sono, baixa qualidade do sono, bruxismo
do sono e apneia obstrutiva do sono (LIPINA et al., 2017). 
A Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono caracteriza-
-se pela obstrução parcial prolongada da via aérea superior e/
ou obstrução completa e intermitente (apneia obstrutiva), que
interrompe a ventilação normal durante o sono e o padrão
normal do sono (AMERICAN THORACIC SOCIETY, 1996).
Tal patologia leva a alterações de diversas funções, como en-
dotelial, tromboembolismo, processos inflamatórios, hiper-
tensão arterial pulmonar e sistêmica, além de mudanças da
geometria e da função cardíaca. Tratar tais distúrbios é es-
sencial para redução de riscos e agravos de saúde dos adoles-
centes, em que uma boa qualidade do sono se mostra fator
primordial para manutenção e reparação de sua saúde. 

104
O bruxismo do sono está entre os mais prevalentes dis-
túrbios do sono, e a International Classification of Sleep Disor-
ders (ICSD, 2014) o define como um distúrbio do movimento
caracterizado por ranger (com presença de ruído) ou apertar
(sem ruído) os dentes durante o sono (ITANI et al., 2013). O
bruxismo do sono difere do hábito de ranger os dentes duran-
te o dia, também chamado bruxismo da vigília, que envolve
diferentes estados de consciência (ALENCAR et al., 2020). 
A presença do bruxismo do sono na sociedade ain-
da é subnotificada e subestimada, sua etiologia é conside-
rada multifatorial e pode estar relacionada a alterações dos
padrões de sono, patologias do sistema nervoso central,
uso de drogas, dor crônica e alterações emocionais como
ansiedade, depressão e condições de estresse (VON BIS-
CHHOFFSHAUSEN et al., 2019).
Durante o crescimento e o desenvolvimento do ado-
lescente, a presença do bruxismo do sono pode contribuir
para o surgimento de diversas alterações craniofaciais e
temporomandibulares, como fadiga muscular, cefaleia,
dispneia, desgastes dentários, bem como efeitos deletérios
em sua qualidade de vida (CARVALHO et al., 2015; SERRA-
-NEGRA et al., 2014).

SONO E ISOLAMENTO SOCIAL 


No ano de 2020, o mundo foi afetado pela pandemia
da Covid-19 (doença respiratória aguda grave 2, ou chamado
novo Coronavírus, SARS-CoV-2) (ORGANIZAÇÃO MUN-
DIAL DE SAÚDE, 2020), resultando em uma série de infec-
ções respiratórias altamente contagiosas que rapidamente se
disseminaram globalmente (ZHU et al., 2020). 

105
Com a rotina modificada devido ao confinamento
domiciliar, uma situação estressante se desenvolveu para a
maior parte das populações, em nível global. As mudanças
abruptas nas rotinas diárias das pessoas, a obrigatoriedade
domiciliar de todas as atividades, menor interação social e
a maior carga horária de trabalho em circunstâncias estres-
soras, somadas aos riscos à saúde associados, repercutiu em
grande impacto no funcionamento diário e no sono noturno
(ALTENA et al., 2020).
De acordo com o manual da Fundação Oswaldo Cruz
sobre a Covid-19 e a saúde da criança e do adolescente, efei-
tos indiretos da pandemia foram observados. O estresse (e
sua toxicidade associada) possui papel de destaque, afetan-
do extremamente a saúde mental de crianças e adolescen-
tes, e repercutiu em um notório aumento de sintomas como
depressão e ansiedade (FIOCRUZ, 2020). Como efeito em
cadeia, padrões de sono irregular, quantidade e qualidade
do sono foram relatados durante esse período de pandemia
(ALTENA et al., 2020).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A segunda década de vida traz consigo inúmeros de-
safios: transformações biológicas com marcantes inquietu-
des emocionais, comportamentais, sociais, que levam a um
maior descuido nos hábitos e negligência à saúde. Especi-
ficamente a respeito do sono, deve-se ressaltar a influência
da pressão social que o mundo globalizado impõe, com ex-
pectativas e demandas diversas, somada aos hábitos da vida
moderna, os quais o jovem tem de absorver e adaptar-se.
O correto padrão de sono e os agravos de saúde que estão
associados são de grande importância e constituem um de-

106
safio na prática dos profissionais de saúde. Assim, o conhe-
cimento sobre todos esses aspectos é fundamental para uma
melhor abordagem clínica do profissional de saúde. 

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117
7.

COMPORTAMENTOS DE RISCO À SAÚDE


NA ADOLESCÊNCIA E A
CONVIVÊNCIA COM A COVID-19

Anierika Pereira dos Santos


Alane Tamyres dos Santos
Mauro Virgilio Gomes de Barros
Carolina da Franca Bandeira Ferreira Santos

118
INTRODUÇÃO
O enfrentamento aos comportamentos de risco à saúde
assumido como eixo da atenção à saúde teve como precur-
sor um documento datado de 1974 no Canadá, o Relatório
Lalonde (LALONDE, 1974). O referido relatório estabeleceu
que o sistema de saúde canadense deveria ser reorganizado
em torno de quatro eixos, a saber: a biologia, o ambiente,
a organização dos serviços de saúde e o estilo de vida. O
eixo “estilo de vida” abrangia práticas e comportamentos
não saudáveis, que se não fossem atenuados ou controlados,
tenderiam a agravar a carga de adoecimento, incapacidade
e morte (PUENTE-PALACIOS, et al., 2009). Essa iniciativa,
mais tarde, disseminou-se para vários países e, atualmente,
os comportamentos de risco à saúde constituem fator cen-
tral nas políticas de enfrentamento aos graves problemas de
saúde pública de abrangência global, como a elevada preva-
lência de doenças crônicas não transmissíveis (WHO, 2010).
Os comportamentos de risco costumam ser estabeleci-
dos durante a infância e a adolescência, tornando-se estáveis
e permanecendo até a idade adulta (BENER, 2013). São prá-
ticas e condutas que contribuem para as principais causas
de morbidade e mortalidade entre jovens e adultos (KANN,
2016) e, por conseguinte, constituem importante problema
de saúde pública (CARLINI et al., 2000). Talvez o tabagis-
mo seja o exemplo mais característico de comportamento
de risco que tem atraído a atenção de autoridades sanitárias
em todo o mundo, pois ao ser assumido como fator de risco
primário e independente para inúmeras doenças, passou a
ser alvo de políticas bastante abrangentes e assertivas com
vistas à redução da prevalência na população (SILVA, 2014;
FIGUEIREDO, 2016).

119
Características comuns da adolescência, como as trans-
formações físicas e sociais, a busca por autonomia e as novas
experiências vivenciadas são fatores que tornam essa fase da
vida mais vulnerável aos comportamentos danosos à saúde
(ALVES, 2015), os quais podem gerar agravos não só para
o próprio adolescente, como para seus familiares e socieda-
de de maneira geral (SCHOEN-FERREIRA, 2010). Quando
se pensa na adolescência, entre os comportamentos de risco
que mais preocupam as autoridades sanitárias, destacam-se:
o envolvimento em brigas, a inatividade física, o consumo
de drogas lícitas e ilícitas, hábitos alimentares inadequados e
comportamentos sexuais de risco (COUTINHO, 2013). Além
desses, no contexto da pandemia de Covid-19, as práticas ina-
dequadas de higienização das mãos e dos alimentos e a maior
resistência ao uso de máscaras e ao distanciamento social
passaram a ocupar a atenção de pesquisadores e profissionais
de saúde (BRUNS, 2020; OLIVEIRA, 2020). 
Há indicadores que sugerem elevada prevalência de
exposição a comportamentos de risco à saúde na adolescên-
cia (MOURA, 2018), achado observado tanto em países de
baixa quanto em países de alta renda, observando-se inclu-
sive agregação ou simultaneidade de tais fatores comporta-
mentais, aspecto que eleva as consequências para a saúde.
Nos Estados Unidos, foram identificadas prevalências de
uso de álcool, maconha e sobrepeso equivalentes a 32%, 21%
e 16%, respectivamente (KANN, 2016). No Brasil, a preva-
lência de comportamentos de risco (baixo nível de atividade
física, sedentarismo, consumo ocasional de frutas/horta-
liças, álcool e tabagismo) identificada nos adolescentes foi
equivalente a 31%, enquanto que a exposição simultânea a
mais de um desses comportamentos chegou a 58% na mes-
ma população (BRITO, 2015). 

120
Muitos adolescentes estão envolvidos em comporta-
mentos inadequados capazes de gerar consequências preju-
diciais à sua saúde física e mental em curto ou em longo pra-
zo (BARBOSA, 2016). Gravidez precoce, doenças crônicas
não transmissíveis e sexualmente transmissíveis, aumento
da violência e até a morte podem ser resultantes das condu-
tas de risco estabelecidas durante períodos sensíveis do de-
senvolvimento humano, a exemplo da adolescência (PENA,
2016; FRANKLIN, 2018). Logo, compreender a etiologia dos
comportamentos de risco do adolescente é essencial para
orientar estratégias de saúde públicas em fatores passíveis
de intervenção, visando prevenir a ocorrência de agravos,
reduzir o número de mortes, melhorar a qualidade de vida
e minimizar problemas de saúde no futuro dessa população
(MASLOWSKY, 2019; PENA, 2016).

A COVID-19 E OS RISCOS À SAÚDE


As doenças infecciosas emergentes são caracterizadas
como infecções que apareceram recentemente em uma po-
pulação ou até mesmo já existiam, mas que têm aumentado
rapidamente em incidência e alcance geográfico (PIGINAT-
TI, 2004). Elas podem ocorrer pela introdução do agente
etiológico em outras espécies ou como variante de uma in-
fecção humana existente, seguida pelo seu estabelecimento
e rápida disseminação dentro de uma nova população hos-
pedeira (GRISOTTI et al., 2010).
A pandemia causada pelo SARS-CoV-2, novo vírus
emergente, conhecida por Covid-19, é um exemplo de doença
infecciosa que se tornou grande ameaça à saúde global, para a
qual não há tratamento, vacina nem imunidade preexistente,
a infecção foi rápida, e cerca de 146 países relataram casos

121
da doença, contudo ainda tem muito a ser entendido sobre
sua transmissão (FERGUSON et al., 2020; GRISOTTI et al.,
2020). No momento, existe o conhecimento de que a trans-
missão pelo novo coronavírus pode ocorrer no contato direto
com secreções respiratórias ou salivares, fezes e superfícies
contaminadas (VILELAS, 2020) entre indivíduos suscetíveis
e infecciosos nos mais diversos locais (FERGUSON, 2020).
Diante da gravidade estabelecida no contexto mun-
dial, foi sugerido aos países realizarem protocolos de inter-
venções não farmacológicas, a exemplo do distanciamento
social, da utilização de máscaras e higienização adequada
das mãos e dos alimentos, como principais medidas para
conter a expansão da pandemia (COHEN, 2020). O impacto
dessas intervenções depende criticamente de como as pes-
soas respondem à sua introdução (BREVIDELLI, 2001). A
eficácia da intervenção isolada tende a ser limitada, exigin-
do que múltiplas intervenções sejam combinadas a fim de
promover maior impacto sobre a transmissão (DESLAN-
DES, 2020; FERGUSON, 2020). 
Os processos de tomada de decisão para conter a pan-
demia estão baseados em protocolos que mudam conforme
os contornos dinâmicos relacionados ao vírus em diferentes
indivíduos e grupos, em conhecimento científico ainda inci-
piente, especialmente sobre o papel dos portadores assinto-
máticos, sobre a relação entre infecção e imunidade e sobre a
especificidade e sensibilidade dos testes diagnósticos. Nesse
contexto de incertezas, a população tem sido forçada a al-
terar a rotina e os laços sociais, através do distanciamento
social, em busca da redução da velocidade de dispersão do
vírus (GRISOTTI, 2020). 

122
COMPORTAMENTOS DE RISCO PARA A
COVID-19 E A ADOLESCÊNCIA 
Embora a Covid-19 atinja pessoas de diversas idades,
níveis socioeconômicos, sexo e etnias, a vulnerabilidade a
essa enfermidade está intimamente relacionada aos deter-
minantes sociais do processo saúde/doença. A vulnerabili-
dade aumenta dependendo das condições de vida, instabi-
lidade financeira e falta de acesso aos serviços essenciais,
como saúde, educação e proteção social. Tal contexto condiz
com a situação de alta vulnerabilidade em que muitos ado-
lescentes se encontram, sobretudo nas periferias das gran-
des cidades (BRUNS, 2020; IMRAN, 2020). 
No âmbito da prevenção em saúde, o distanciamento
social ou físico tem sido realizado para proteger a comuni-
dade da exposição ao risco da doença contagiosa. Isso resul-
ta, por exemplo, na recomendação de não se reunir em gru-
pos e evitar lugares cheios como as aglomerações (FARO,
2020). Apesar de estudos confirmarem que os adolescentes
apresentam disponibilidade interna para aderir e compreen-
der a importância da execução de protocolos para conter a
expansão da pandemia, a exemplo do distanciamento social
(OOSTERHOFF, 2020), podem, através de atitudes facil-
mente impulsivas e impacientes, comuns na fase da ado-
lescência, apresentar maiores dificuldades para acatar tais
recomendações (COHEN, 2020). 
Após a fase aguda da Covid-19, uma nova etapa é esta-
belecida, a de reconstrução social. Com declínio do número
de novos casos e a diminuição da transmissão comunitária,
as medidas de distanciamento social são reduzidas e o sur-
to de contaminação tende a estar sob controle, ainda que
não seja necessariamente inexistente (SANTOS, 2020). Com

123
isso, as pessoas começam a retomar as atividades habituais,
há o retorno gradual do funcionamento das instituições e
comércio, além de um menor nível de exigência de proteção
contra o contágio (FARO, 2020). Tal flexibilização pode ser
interpretada de maneira errônea pelos adolescentes, levan-
do-os a apresentarem atitudes imprudentes e impulsivas de
risco para com eles e as pessoas que os cercam; exemplos
disso são a ineficiente higiene das mãos e a não utilização da
máscara, identificados em pesquisas (CHEN, 2020).
Um dos fatores que contribui para os indivíduos con-
tinuarem a adotar comportamentos patogênicos é a percep-
ção distorcida de risco e susceptibilidade, apontando um
otimismo irrealista de que ele tem menos probabilidade de
ser acometido de um problema de saúde que outros. Tal oti-
mismo irrealista pode ser resultante da “falta de experiência
pessoal do problema, das crenças de que o problema é facil-
mente prevenido pela ação individual; de que, se o problema
ainda não apareceu, não irá aparecer no futuro e da crença
de que o problema é pouco frequente”. As explicações para
esse fenômeno psicológico passam pela atenção seletiva e
egocentrismo, como a desvalorização de comportamentos
promocionais de saúde dos outros (Barletta, 2010).

TEORIAS DO COMPORTAMENTO
Os adolescentes fazem parte de uma população ainda
pouco estudada no contexto da Covid-19, mas mesmo assim
já são abordados os efeitos causados pela pandemia nas di-
ferentes dimensões da vida dos jovens (ALMEIDA, 2020).
Sugere-se que problemas de saúde mental, ocorrência de
violências ou comportamentos agressivos no contexto do-
méstico em adolescentes estejam relacionados com a pande-
mia e as medidas sanitárias adotadas para controle da con-

124
taminação (MARQUES et al., 2020). Especificamente, essa
população tem vivenciado de forma negativa as medidas de
distanciamento social e consequentemente o fechamento
das escolas (Oliveira, 2020). 
Muitas teorias têm estudado o comportamento hu-
mano frente a algumas vivências e situações. A Teoria do
Comportamento Planejado é uma delas, a qual defende que
o indivíduo pode responder de maneira favorável ou des-
favorável frente a uma situação, ambiente e pessoa. Assim
sendo, parte da avaliação do indivíduo responder de forma
positiva ou negativa sob determinada coisa (AJZEN, 1991).
A teoria ainda dispõe de uma definição concreta para o con-
ceito de “atitude”, ressaltando que a atitude de um indivíduo
está relacionada a um dado comportamento (avaliação fa-
vorável ou não), pode ser considerada um preditor de suas
intenções comportamentais, e tais intenções determinam
o comportamento, existindo ainda outros dois construtos
também somados à atitude para predizer as intenções desse
comportamento: a norma subjetiva que está relacionada à
pressão da sociedade percebida pelo indivíduo para reali-
zar ou não o comportamento e o controle comportamental
percebido que está relacionado ao grau de percepção da difi-
culdade ou da facilidade para realizar o comportamento em
questão (AJZEN,1991).
A prática do distanciamento social, por exemplo, é
um comportamento que deve ser seguido segundo reco-
mendações de órgãos competentes da saúde no contexto da
pandemia da Covid-19. No entanto, tem gerado opiniões
controversas referente à sua eficácia no enfrentamento da
pandemia, sendo possível evidenciar autoridades e chefes de
países externando opiniões pessoais que duvidam de resul-
tados científicos sobre a eficácia de tal medida preventiva

125
(BEZERRA, 2020). Diante disso, os jovens podem ser con-
dicionados a tomar decisões errôneas, repassar e incentivar
comportamentos equivocados com os indivíduos que os cer-
cam (GARCIA et al., 2020).
O modelo de Crenças em Saúde reforça a Teoria do
Comportamento Planejado e objetiva guiar um melhor
entendimento sobre a percepção dos indivíduos e sua to-
mada de decisão nos comportamentos em saúde no atual
contexto da pandemia (BREVIDELLI, 2001). Tal modelo é
composto por quatro dimensões: a suscetibilidade percebida
(refere-se à percepção particular do indivíduo sobre contrair
determinada doença), a gravidade percebida (percepção da
gravidade da doença através da situação emocional sobre a
doença ou pelas consequências que a doença pode causar),
os benefícios percebidos (crença sobre determinada ação e
suas consequências positivas) e a barreira percebida (aspectos
negativos da ação avaliados do ponto de vista custo-benefício,
considerando tempo, custos financeiros e esforços). 
De acordo com o modelo de crenças em saúde e a teoria
do comportamento planejado, os comportamentos preventi-
vos em saúde dependem da percepção do indivíduo frente a
algum agravo em saúde, de maneira que o problema pode ou
não o afetar (COLETA, 1999). De forma análoga, está a dis-
cordância em cumprir as normas sanitárias recomendadas
por parte da população, incluindo a população mais jovem,
possuindo a percepção de que a Covid-19 acomete apenas
determinado grupo social, idosos e portadores de doenças
crônicas (BORGES et al., 2020). 

126
ESTRATÉGIAS PARA ATENUAR O
IMPACTO DA PANDEMIA
Diante do contexto de crise na saúde pública atual, é si-
nalizada a necessidade em garantir à população uma assistên-
cia apropriada em saúde mental, em termos de atuação e boas
práticas de cuidado. Ações de educação e promoção de saúde
junto aos adolescentes, mesmo que virtualmente, merecem
atenção especial, pois além de esclarecer sobre medidas sani-
tárias adotadas para o controle da contaminação, estimulam
o desenvolvimento da responsabilidade social que pressupõe
o autocuidado e o cuidado com o outro (Oliveira, 2020).
A conscientização sobre a Covid-19, através do acesso
a informações, do conhecimento sobre o processo de adoe-
cimento e das medidas de prevenção, é considerada fator de
proteção capaz de atenuar a sintomatologia depressiva ou de
ansiedade (Zhow, 2020). Além desta, interações familiares
seguras e confiáveis, pautadas no suporte emocional e so-
cial, devem ser estimuladas e trabalhadas nas iniciativas de
cuidado às famílias, assim como nos serviços de saúde di-
recionados aos adolescentes, mesmo de forma remota, uma
vez que podem ser fatores protetivos para a saúde mental em
tempos de pandemia (Oliveira, 2020).
Outra estratégia fundamental é a criação de ações vi-
sando elucidar protocolos e medidas exclusivamente para a
faixa etária da adolescência, além de abordagem das con-
sequências que poderão surgir durante e após a pandemia
nessa população, como a prevenção das formas de violência
autoinfligidas e o controle dos meios de veiculação na inter-
net através de linguagem clara e compatível com o cotidiano
dos jovens. É necessário colocar esse público no papel das
ações e providências que poderão ser adotadas no decorrer e
no pós-pandemia (Deslandes, 2020).
127
Os adolescentes também podem e devem ser incluídos
nas atividades domésticas, pois isso restitui o senso de au-
toeficácia, caracterizada pela avaliação de que se é capaz de
fazer com sucesso alguma coisa em momentos de ruptura
com o cotidiano escolar ou social. Pais e responsáveis po-
dem auxiliar os adolescentes nesse momento, ajudando-os a
compreender de forma cognitiva ou emocional a importân-
cia das medidas sanitárias que estão sendo adotadas para o
controle da Covid-19 (Oliveira, 2020).

CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Os comportamentos de risco à saúde recebiam espe-
cial atenção pela sobrecarga de adoecimento e morte por
doenças crônicas não transmissíveis. Todavia, com a ree-
mergência das doenças infecciosas e parasitárias, cresce a
preocupação com a importância das práticas e condutas que
definem o estilo de vida das pessoas também pela importân-
cia que elas podem ter no sentido do controle e prevenção de
outras formas de agravos, como no caso da Covid-19. Até o
presente, embora existam vacinas em fase 3 de desenvolvi-
mento, não há medicamentos que possam ser usados em um
tratamento específico para os sintomas e para a gravidade
da infecção que pode ser causada pelo SARS-CoV-2. 
A curva de aprendizagem no tratamento dos casos
graves está auxiliando a seleção de terapias que conseguem
prolongar a vida e permitir que as pessoas consigam supe-
rar o ciclo do vírus no corpo. Mas, durante muito tempo, a
exemplo do que já era observado em países orientais, será
preciso adotar novos estilos de vida. O uso de máscaras pa-
rece ser uma conduta que “veio pra ficar” e todos, inclusive
os adolescentes, precisarão incluir essa nova prática no seu

128
estilo de vida, assim como uma frequente higienização das
mãos, medida de prevenção que ganhou destaque há alguns
anos no âmbito hospitalar e assistencial e que atualmente se
tornou uma medida simples e eficaz na prevenção do contá-
gio. Além dessas, o distanciamento social, prática atualmen-
te pouco adotada pela população, em especial os de menor
status socioeconômico, principalmente quando se fala das
necessidades diárias de emprego e locomoção por estarem
vinculadas às necessidades básicas que não foram interdita-
das pelas autoridades sanitárias.

129
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134
8.

O ADOLESCENTE EM
TEMPOS DE ISOLAMENTO SOCIAL

Joyce Neire Vidal Alexandre Souza


Laís Lavínia Cruz Soares
Marcos Valois
Viviane Colares

135
INTRODUÇÃO
No dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial
de Saúde declarou que o novo coronavírus (Sars-cov-2), cau-
sador da doença Covid-19, passou do estágio de uma epide-
mia para o de uma pandemia (WHO, 2020). Essa classifi-
cação foi tomada tendo em vista o aumento exponencial do
número de casos ao redor do mundo. Dessa forma, a OMS
sugeriu que nos países em que o sistema hospitalar não esti-
vesse conseguindo suprir a demanda sanitária relacionada à
nova doença, fosse seguido o protocolo do isolamento social
como a principal medida para conter a expansão da pande-
mia (FERREIRA et. al., 2020).
Apesar de não ser consenso na comunidade científica
mundial, a maioria dos países, incluindo o Brasil, a partir de
seus estados e municípios, decretou o fechamento de estabe-
lecimentos tidos como “não essenciais” como escolas, bares,
restaurantes e atividades culturais, com foco no distancia-
mento físico. Se por um lado essas medidas tentam diminuir
o contágio e consequentemente a sobrecarga no sistema de
saúde, por outro lado pode gerar impactos acadêmicos, so-
ciais, econômicos e psicológicos. Os pais de crianças e ado-
lescentes, sobrecarregados pelas mudanças de vida exigidas
pela nova situação, têm também de gerenciar o dia a dia
de seus filhos, minimizando possíveis impactos das atuais
circunstâncias na saúde mental de crianças e adolescentes
(ALMEIDA et. al., 2020). Em um período de reclusão do-
miciliar, a população tende a adotar uma rotina sedentária,
o que favoreceria um aumento no ganho de peso corporal e
surgimento de comorbidades associadas ao maior risco car-
diovascular, como obesidade, aumento da pressão arterial,
intolerância à glicose, bem como transtornos psicossociais
como ansiedade e depressão (LIMA, 2020).
136
Diante das recomendações de isolamento social atual-
mente impostas em vários países, cresce a importância de se
adaptar às necessidades que a pandemia impôs à sociedade.
Isso porque houve uma mudança de realidades e paradigmas,
forçando gerações inteiras a trabalharem suas angústias e
seus receios, em uma nova busca intensa por ferramentas que
auxiliem no caminho da busca de soluções. Dessa maneira,
ainda não foi possível, de fato, traçar uma análise profunda
sobre as mudanças que estão ocorrendo na atualidade mun-
dial, já que ainda é cedo para entender se existem mais pontos
positivos ou negativos, mais ganhos ou perdas.
Tal questão ocorre porque estamos vivendo intensa-
mente todo esse contexto por estarmos no exato momento
histórico do episódio inédito no universo da saúde, tendo,
sempre, mais perguntas do que respostas, embora sempre
busquemos experiências passadas junto com a prática ba-
seada em evidências a nosso favor. De toda forma, precisa-se
atenuar as consequências negativas em assuntos que a co-
munidade científica mundial já adquiriu, um conhecimen-
to mais consensual e estruturado, por exemplo, incentivar
a manutenção de uma rotina de vida fisicamente ativa por
parte da população como uma medida preventiva para a
saúde (DESLANDES e COUTINHO, 2020).

A HISTÓRIA DAS PANDEMIAS AO


REDOR DO MUNDO
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, pan-
demia é um termo usado para uma determinada doença que
rapidamente se espalha por diversas partes de várias regiões
através de uma contaminação sustentada. Nesse quesito, a
gravidade da doença não é determinante, e sim o seu poder
de contágio e sua proliferação geográfica (WHO, 2020).

137
Um dos primeiros casos de pandemia registrados é a
Peste de Justiniano, ocorrida por volta de 541 d.C. e que se
iniciou no Egito até chegar à capital do Império Bizantino.
Provocada pela peste bubônica, transmitida através de pul-
gas em ratos contaminados, a enfermidade matou entre 500
mil a 1 milhão de pessoas apenas em Constantinopla, espa-
lhando-se por Síria, Turquia, Pérsia (Irã) e parte da Europa.
Estima-se que a pandemia tenha durado mais de 200 anos
(ANDRADE et. al., 2009; ALFANI e MURPHY, 2017).
Em meados do século XIV, a Peste Bubônica, também
conhecida como Peste Negra, foi a primeira grande pande-
mia de que se tem conhecimento. Não há números exatos
quanto aos mortos, mas estima-se que aproximadamen-
te um terço da população europeia foi dizimada pela pes-
te. Parte da Ásia, particularmente o Oriente Próximo, e o
Norte da África também foram duramente atingidos pela
devastação epidêmica. Uma diferença fundamental entre a
pandemia da Peste Bubônica e o atual surto de Covid-19 é
que a pandemia medieval foi causada por uma bactéria, a
Yersinia pestis, transmitida por meio de pulgas que infesta-
vam os ratos e outros roedores, já a Covid é ocasionada por
um vírus que se acredita que o hospedeiro sejam morcegos
(ANDRADE et. al., 2009).
As péssimas condições de saneamento urbano da épo-
ca atuavam como principal fator na explosão populacional
de ratos. Só se pode falar em condições modernas e mais
abrangentes de saneamento entre as grandes cidades a partir
do século XIX. Acredita-se que a Peste Bubônica atingiu a
curva descendente na medida em que a higiene e o sanea-
mento das cidades melhoraram, mesmo que timidamente,
impactando na diminuição populacional de ratos urbanos
(ALFANI e MURPHY, 2017).

138
O primeiro registro de uma pandemia de gripe ocor-
reu em 1889-90, na Rússia, com cerca de 300 mil óbitos,
principalmente entre idosos, em decorrência de complica-
ções respiratórias, como pneumonia bacteriana. Em 1918
e 1919, ocorreu uma das mais devastadoras pandemias da
história da humanidade, que ficou conhecida como “Gri-
pe Espanhola” e foi causada pelo vírus influenza A H1N1,
sendo responsável por 40-100 milhões de óbitos em todo o
mundo. No século XX, ocorreram outras pandemias de gri-
pe: a “Gripe Asiática” (1957-58), causada pelo vírus H2N2.
No entanto, as últimas pandemias foram responsáveis por
uma mortalidade menor, cerca de 2 milhões. A menor leta-
lidade deve estar relacionada à menor virulência dos vírus
e à maior disponibilidade de recursos médico-hospitalares,
incluindo vacinas, terapia intensiva e agentes antimicrobia-
nos (ANDRADE et. al., 2009).
Destaca-se que na gripe espanhola, em 1918, no início
do surto, as autoridades governamentais seguiam, em geral,
o padrão de negação da própria realidade da crise sanitária,
diante, principalmente, da dificuldade de se diagnosticar a
natureza da doença e de seu potencial em interferir na eco-
nomia e nos sistemas de saúde. O resultado no século passa-
do, contudo, foi a contaminação de praticamente um quarto
da população mundial e uma estimativa de 17 a 50 milhões
de mortos (ANDRADE et. al., 2009; COSTA e MERCHAN-
-HAMANN, 2016).
A gripe suína de 2009, causada por uma variação vio-
lenta do vírus H1N1 e originada no México, também contou
com medidas de isolamento e de restrição à circulação livre
de pessoas, embora em grau muito menor. O principal dife-
rencial, contudo, foi a possibilidade de obtenção da vacina
em curto prazo, o que não se verifica na atual situação. As
estimativas de descoberta da vacina contra a Covid-19 apon-
139
tam para um período de até um ano e meio. Não há ainda
medicação comprovadamente eficaz. Portanto, diante da in-
certeza, cabe acolhermos medidas de precaução recomenda-
das por autoridades em saúde e, sobretudo, fazermos a nossa
parte (ANDRADE et. al., 2009; COSTA e MERCHAN-HA-
MANN, 2016; OLIVEIRA et. al., 2020).

Agente
Doença Local Período Mortalidade
Transmissor
Egito -
Peste do Meados dos Pulgas e 500 mil -
Império
Justiniano anos 541 Roedores 1 milhão
Bizantino
Europa,
Peste Pulgas e 75 - 200
Ásia e Século XIV
Negra Roedores milhões
África
Gripe 40 - 100
Mundo 1918 e 1919 Homem
Espanhola milhões
Gripe
Mundo 1957 - 1958 Homem 2 milhões
Asiática
Gripe
Mundo 2009 Suínos 575 mil
Suína

Quadro 1: As principais pandemias ao redor do mundo. Fonte: autor.

ASPECTOS POSITIVOS E NEGATIVOS DA


COVID-19 PARA O ADOLESCENTE
A adolescência é um período marcado por caracterís-
ticas diversas e com transformações biológicas, psicológicas
e sociais. Atualmente, a Covid-19, patologia provocada pelo
SARS-CoV-2, foi declarada como sexta emergência que exige
atenção. Entre as medidas sanitárias de controle do contágio
que foram impostas para garantir a proteção da população,
temos o fechamento das instituições de ensino. De acordo

140
com a OMS, esse fechamento retirou cerca de 1,5 bilhões de
crianças e adolescentes das escolas. Situação que pode gerar,
entre os adolescentes, ansiedade, medo, incertezas, distan-
ciamento social, além de afetar o bem-estar e a qualidade de
vida (OLIVEIRA et al., 2020; BRASIL, 2020).
O fechamento das escolas, que acaba afetando negati-
vamente as crianças e adolescentes, não só no direito à edu-
cação, mas também em outros direitos humanos, como o
direito à alimentação de qualidade promovida pelos progra-
mas de alimentação escolar. É possível que uma parte bas-
tante ascendente de crianças e adolescentes sofra de fome
na ausência da merenda escolar, mesmo que tenham sido
criados critérios para o fornecimento de alimentos durante
esse período. Além do mais, os bloqueios globais relaciona-
dos à Covid-19 atravancaram todos os estágios da cadeia de
suprimento dos alimentos, o que inclui processamento, pro-
dução, transporte e consumo, forçando milhares de famílias
a ter acesso a alternativas pobres em nutrientes (SILVA; OLI-
VEIRA, 2020; ARAÚJO, 2020; BRASIL, 2020).
Além disso, estamos em uma sociedade de classes,
onde milhares de crianças e adolescentes são menos favo-
recidos, onde se aponta o desamparo, que pode se acentuar
ainda mais nesse cenário de situações-limite (SILVA; OLI-
VEIRA, 2020; ARAÚJO, 2020). Observa-se, dessa forma, a
exposição dos adolescentes à insegurança alimentar associa-
da a inadequações alimentares (BRASIL, 2020).
Essas instabilidades causadas pela situação de pan-
demia, embora atingindo pessoas de todas as idades, sexo,
etnia e nível socioeconômico, estão inteiramente ligadas ao
processo saúde/doença. E nessa perspectiva, os adolescen-
tes se apresentam em uma condição de alta vulnerabilidade.
Além disso, as mudanças provocadas pela puberdade e a si-

141
tuação de distanciamento social fazem com que os adoles-
centes avaliem negativamente sua situação, até mesmo no
relacionamento interpessoal, aspectos considerados essen-
ciais na adolescência, quando deveria ocorrer um natural
afastamento da família e maior proximidade com os pares.
A situação pandêmica pode provocar nos adolescentes frus-
tação, irritação, desconexão emocional e tédio por conta do
distanciamento social (OLIVEIRA et al., 2020).
Em outro aspecto, enquanto o vírus e sua propagação
avançam na comunidade, o lar torna-se refúgio de proteção,
porém infelizmente os lares não são seguros para todos. As
situações de violência domésticas podem aumentar nesse
período, pois a partir do momento em que escolas foram
fechadas, os adolescentes ficaram mais próximos de figuras
parenterais abusivas que utilizam práticas de castigos e pu-
nição para controlar comportamentos indesejados; confina-
do em casa com a família, o autor da violência compartilha
ainda mais desse mesmo espaço. Estima-se que 85 milhões
de crianças e adolescentes entre 2 e 17 anos possam ter se so-
mado às vítimas de todos os tipos de violência física, sexual
e psicológica nos primeiros meses da pandemia (OLIVEIRA
et al., 2020; SILVA; OLIVEIRA, 2020; BRASIL, 2020).
O aumento no consumo de bebidas alcoólicas e de dro-
gas, movido pelo confinamento, também contribui para o
crescimento dos conflitos domésticos. Todavia, os adolescen-
tes podem ficar mais irritados, devido às restrições, o que re-
sulta em comportamentos agressivos e desobediência. Outro
fato também são as redes sociais digitais, que geram ambien-
tes mais predispostos às violências vividas em uma ambiência
digital por crianças e adolescentes, já que temos uma inten-
sificação da sociabilidade digital durante a pandemia (OLI-
VEIRA et al., 2020; SILVA; OLIVEIRA, 2020; BRASIL, 2020).

142
Nesse cenário, até mesmo a convivência familiar pode
ocasionar e favorecer o surgimento das doenças mentais.
Diante de tudo, as pessoas tendem a ficar com humor depri-
mido e podem até mesmo adotar comportamentos de risco
à saúde, como a violência autoinfligida, com ideação e ten-
tativa de suicídio e automutilação (OLIVEIRA et al., 2020;
SILVA; OLIVEIRA, 2020).
Vale salientar também que recentemente a OMS e o
UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) adver-
tiram para o risco de interrupção do calendário de vacina-
ção de crianças e adolescentes, o que pode afetar gravemente
a saúde desse segmento populacional, com o ressurgimento
de doenças imunopreviníveis. A vacinação é uma prioridade
em saúde pública mesmo na pandemia, e sempre que possí-
vel deve ser mantida, com a adoção de estratégias adaptadas
à realidade local, preservando a segurança de todos. A que-
da da cobertura vacinal é um dos principais problemas de
saúde enfrentados pela humanidade, e a pandemia da Co-
vid-19 agravou ainda mais esse quadro (SILVA; OLIVEIRA,
2020; BRASIL, 2020).
Assim, o nosso sistema de saúde não estava preparado
para lidar com esse novo ambiente, em que medidas de segu-
rança e proteção à vida foram estabelecidas, e dessa forma,
crianças e adolescentes foram privados dos serviços de saú-
de com relação ao acompanhamento regular de programas
preconizados, por exemplo, para a asma, atendimentos on-
cológicos e outros. Algumas unidades de saúde registraram
uma redução no número de atendimentos, principalmente
nos ambulatórios de pediatria, de até 90%, entre março e ju-
lho de 2020, quando comparados ao ano de 2019 no mesmo
período. Essa situação fez com que as instituições de saúde
e o Sistema Único de Saúde reavaliassem suas práticas de

143
trabalho para melhor organizar seus planos de contingência
com foco no seguimento dos atendimentos (BRASIL, 2020).
Nesse âmbito, e em toda a discussão, as medidas públi-
cas voltadas para o público infantojuvenil precisam ser man-
tidas e adequadas ao momento atual e reelaboradas para o
futuro próximo, visto que o impacto da Covid-19 afeta crian-
ças e adolescentes, e estes demandam ações e planejamento.
E nesse período pós-pandemia, quando as medidas de isola-
mento social forem cessadas, as crianças e adolescentes con-
tinuarão a ser um grupo extremamente vulnerável e especial
com relação à pobreza e à violação de seus direitos humanos.
Assim, a realidade atual demanda políticas, compensatórias
e universais, que contribuam para a inserção constitucional-
mente de crianças e adolescentes, conduzidos pela equidade,
justiça e democracia (SILVA; OLIVEIRA, 2020).
Todavia, o combate à Covid-19 não pode ser pensado
em sentido único, a partir dela mesma, mas principalmente
nas condições de desigualdade sociais. A Covid-19 não será
vencida se as desigualdades sociais que a cercam não forem
enfrentadas (ARAÚJO, 2020).
As consequências da Covid-19 sobre crianças e adoles-
centes no Brasil e em outros países da América Latina têm
um potencial muito mais negativo do que vem sendo rela-
tado em outras regiões, como Europa e América do Norte.
Diante desse panorama, o fortalecimento da capacidade da
atenção à saúde da criança e do adolescente no contexto do
SUS deve ter prioridade em todo o país. A avaliação dos im-
pactos da Covid-19 sobre a saúde da criança e adolescente
deve se dar com a perspectiva ampliada de saúde e que o
curso da pandemia em nosso país pode ser considerado ele-
vado risco de morbimortalidade; reduzir esse risco é, entre-
tanto, uma tarefa urgente (BRASIL, 2020).

144
Assim, convivemos com a incerteza de um novo fu-
turo, de não ter uma visão exata, segura, lúcida e sensata. A
advertência e a insegurança do presente alimentam o medo.
E agora, em nossos lares, somos capazes de refletir também
sobre como era o “mundo lá fora” e as pessoas que nos fazem
falta, o que aguça a nossa capacidade de empatia. E nesse
aspecto, crianças e adolescentes no momento atual deman-
dam de respostas por parte da família, sociedade e do Esta-
do (SILVA; OLIVEIRA, 2020; MORETTI; GUEDES-NETA;
BATISTA, 2020).
A problemática relacionada à Covid-19 também nos
trouxe uma conturbada situação em todo o seu contexto, re-
percutindo os aspectos positivos. Podemos ter, a partir dis-
so, determinada reflexão sobre nosso sistema de saúde, que,
em meio a esse momento cheio de incertezas que estamos
passando, é de suma importância, mostrando, de fato, a real
necessidade pela população de um sistema capaz de cum-
prir seu papel, como o nosso Sistema Único de Saúde. Além
disso, há o movimento da vacina, processo de conscienti-
zação acerca da importância da vacinação, em que diver-
sas medidas estão sendo estudadas e empregadas, para que,
de fato, haja a imunização contra o novo coronavírus. No
entanto, existem, ademais, diversos grupos que defendem
a não vacinação, algo que é, substancialmente, relevante de
ser analisado, dentro de todo o contexto no qual todos esta-
mos inseridos.
Outro aspecto foi na educação, sobretudo com o acom-
panhamento dos estudos, sendo válido não só para os pais,
mas também para as crianças e adolescentes, reconhecerem
o papel dos professores brasileiros, reforçando também a
importância das escolas no processo de ensino e aprendiza-
gem. O que nos faz ver também a importância da coletivi-

145
dade, do saber e aprender a viver em coletivo. O período de
isolamento também foi propício ao descanso, já que os ado-
lescentes possuem uma intensa demanda escolar, o que pode
ocasionar estresse. Destacamos, assim, a transformação di-
gital, a necessidade instantânea de se adequar aos processos
remotos, surgindo as inovações com ferramentas práticas.
É preciso pensar no futuro: o que de positivo esse pe-
ríodo conturbado vai deixar para nossos jovens, os novos
hábitos de higiene, a importância da lavagem das mãos e
o cuidado com os alimentos, o cuidado e respeito ao pró-
ximo, sobre empatia e autorreflexão de pensar como nos-
sas atitudes refletem no mundo à nossa volta. No âmbito
da tecnologia, a educação a distância, que parecia ser algo
irrealizável ou muito distante, por vezes até desacreditado
por quem já estava nesse ramo há muito tempo, finalmente
tornou-se possível para as escolas e universidades avança-
ram o esperado para mais de 10 anos em nove meses. Para
a geração que já nasceu em frente às telas, o grande desafio
dessa pandemia foi manter o contato mesmo estando fisi-
camente distante, estar presente em momentos importantes
através das chamadas de vídeo e reuniões on-line. E, em es-
pecial, todo esse momento trouxe também a importância do
fortalecimento das relações familiares, as quais tornaram a
via de interação social corpo a corpo mais intensa no pe-
ríodo, levando-nos a refletir sobre a necessidade de amor e
empatia pelo próximo, como também àqueles que sempre
estão dentro do nosso círculo social fraterno.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
No ano corrente, a Covid-19 passou a fazer parte do
panorama da saúde do adolescente em todo o mundo, cau-
sando impactos diretos e indiretos para esse grupo popu-
lacional. É nítido que não podemos desconsiderar outros
problemas na agenda da saúde infantil, como a desnutrição,
doenças infecciosas, dentre outros. Todavia, é importante
destacar que a faixa pediátrica se constitui uma população
suscetível à infecção pela Covid-19, trazendo consequências
na saúde de crianças e adolescentes.
No decorrer do curso da pandemia em nosso país, esta
constitui elevado risco de morbimortalidade. Entretanto,
não é possível medirmos o custo que a pandemia terá sobre
a comunidade em geral, o que sabemos é que as marcas gera-
das por ela sobre a saúde de adolescentes permanecerão. Por
isso, requer-se medidas de planejamento e controle, a fim
de garantir o fortalecimento da assistência integral à saúde
do adolescente. E essas medidas precisam ser preservadas,
para um futuro próximo pós-pandemia, já que a Covid-19
transformou rapidamente o contexto em que os adolescen-
tes vivem, sendo fundamental assegurar a proteção integral
e a garantia fundamental dos seus direitos.

147
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149
www.editorabuqui.com.br

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