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Perguntas do capítulo 3

1. Que diferença existe entre História e Historiografia?


A Historiografia se debruça em descrever os fatos e acontecimentos que aconteceram
no passado. Porém, como quem historicamente (e uso esse termo com uma pitada de
ironia) detém o conhecimento de métodos como leitura, escrita, catalogação,
reprodução é um pequeno grupo de pessoas, temos que ter cuidado com esses 2
termos. A História, para a Análise Institucional, não se finda no que se propõe a
Historiografia. Isso ocorre porque entende que não há só uma história. Vou continuar
esse pensamento na próxima pergunta:

2. Existe uma História que totaliza todos os percursos dos processos


sociais-econômicos-subjetivos e naturais?
De forma nenhuma! A própria palavra “história” no dicionário tem múltiplos significados
que vão muito além de acontecimentos pré datados ao dia atual. Temos o significado
de ficção, de algo inventado, de uma mentira, de um relacionamento, de confusão, etc.
Quem conta a história (seja ela a dos acontecimentos ou a fictícia) decide quais
personagens priorizar, que fatos são mais relevantes, quais lutas não precisam ser
mencionadas, quem tem culpa do quê, qual argumentação é forte ou fraca, qual
questão esmiuçar, e por aí vai. A História que o senso comum remete às aulas de
história da escola, mesmo sem, talvez, se dar conta disso, diz respeito ao que foi, de
modo puro e simples. Porém aqui, sabemos que o buraco é mais embaixo.

3. O que significa Molar e Molecular?


São conceitos emprestados da física e química que fazem referência a micro ou macro
instâncias dentro de um contexto.

4. O que se entende por produção, reprodução e antiprodução?


Esses são conceitos interessantíssimos. Como podem expressar muitas coisas, vou
me ater a como eles interagem com o sujeito numa perspectiva mais molecular, apesar
de manter o molar em mente. A produção diz respeito ao processo de construção de
subjetividade e de subjetivação. Essa não é inerente, universal, e única. Inclusive,
vamos parar com essa generalização incabida? Quase nada (ops, pequena
generalização aqui, mas essa pode ajudar no processo de compreensão) na Análise
Institucional (AI) vai caber numa só caixinha. Então vamos dar uma relaxada das
categorizações, por favor. A AI se interessa exatamente nas diferenças e do que pode
ser pensado à partir delas pra exercitar e ​produzir ​autonomia. E já que o interesse é
esse, também é preciso então entender o quê ​não​ promove autonomia, certo? Quando
notamos forças que não têm esse interesse e objetivo - o de promover independência,
autonomia - podemos chamá-las de anti produtivas, de antiprodução. A reprodução,
inclusive, estaria a serviço dessa antiprodução. Seria a repetição dos interesses dos
exploradores. Uma tentativa de reiterar discursos, técnicas, opressões que não
promovem identidades singulares, protagonismo, colaboração e senso coletivo.

5. Qual é o papel da repetição e da diferença, do acaso e das regularidades na


História?
O papel da repetição seria precisamente o de nos alertar sobre as diferenças. Isso nos
possibilita observar brechas em sistemas molares. Fissuras que podem ser exploradas
em nome do instituído, pra articular propostas voltadas a proporcionar maior liberdade,
oportunidades, políticas coletivas, enfim. Saber das regularidades na História é
imprescindível para entender onde estamos e como chegamos onde estamos. Por que
tentativas de eugenia aconteceram em variados momentos sociohistóricos e como elas
afetaram, e ainda afetam, populações. Como e por quem ficamos sabendo desses não
acidentes e o quê podemos fazer pra tentar evitar próximos. É importante entender
onde o acaso atua e não atua também. O que há de aleatório e imprevisível, como um
raio que cai sob uma árvore, em detrimento de um chamado “acidente” ambiental,
como um rompimento de barragem, que deixa milhares de desabrigados por conta de
ineficiência, corrupção, má gestão e até práticas necropolíticas por parte de um grupo
de instituintes.

6. Qual é a diferença do modo de definir sujeito e desejo: na Psicanálise e no


Institucionalismo?
Putz. Vamos lá: o Institucionalismo se apropria desses conceitos da Psicanálise com a
intenção de dimensioná-los de forma mais ampla. Enquanto a Psicanálise
frequentemente se preocupa mais com um viés individual, de trauma que vem da
infância, de falta constitutiva, de instâncias inconscientes e de como vivemos de certa
forma sob o desejo do outro, se não nos responsabilizamos e tomamos as rédeas de
nossa vida psíquica particular, a AI expande essas ideias. Com ressalvas, claro, e
muita contextualização, diz de um desejo relacionado ao seu conceito de produção.
Como o autor diz, não é um desejo de “restituir alguma coisa perdida, mas é um desejo
que, por substância, é revolucionário.” Também quanto a noção de sujeito há
diferenças. O Institucionalismo se distancia do sujeito enquanto ego que tenta mediar
forças que vem do id e de ouvir ou barrar seu superego, que é narcísico e que, num
curso ideal, tenha passado pelas fases do desenvolvimento psicossexual e tenta
enquanto adulto “resolver” seu édipo. Não haha. Para a AI o sujeito é produto (como
também produz) de “processos instituintes, organizantes, criadores, assim como de
outros repetitivos ou antiprodutivos.”

Perguntas do capítulo 4

1. Qual é o sentido dos termos sujeito, desejo e sobredeterminação em suas


teorias de origem e no lnstitucionalismo?
Bom, já respondi o sentido dos primeiros dois termos. Sobredeterminação foi um termo
que Althusser cunhou baseando-se na segunda tópica freudiana. Originalmente, temos
indissociavelmente das instâncias conscientes, pré conscientes e inconscientes, a
divisão que responde pela causalidade dos acontecimentos individuais: Id, Ego e Super
Ego. Nas AIs, existe uma tentativa de olhar para a causalidade das coisas de uma
forma mais ampla e expandida, de forma inclusive mais complexa e articulada das
instâncias da vida.

2. Que diferença existe entre os conceitos de campo de análise e campo de


intervenção?
No primeiro se recorta para pensar sob filtros da AI. Delimita-se um foco e se
questiona, entende, faz sentido de como é e por que é. No segundo pega este recorte
pra planejar e pensar como agir. Qualidade de vida de Idosos em instituições de longa
permanência pode ser um campo de análise​.​ Utiliza-se do aparato teórico da AI para
pensar este recorte e, depois de uma executar uma análise de oferta e de demanda,
como explicado abaixo, é possível partir pensar um um campo de intervenção.

3. O que significa dizer que a análise da oferta deve preceder a da demanda?


Essa é simples - mais de explicar do que de fazer. Antes de ofertar propostas, ajudas,
melhorias, programas, o que for, é preciso entender o que já é feito, o que já vem
sendo articulado, o que já foi construído, quem são os líderes moleculares, etc. É
preciso muita auto-análise e análise de implicação do corpo que pretende analisar o
analisador. Que frasezinha!
4. O que é análise da implicação?
Seria o processo de que o analista social ou a equipe de analistas sociais têm de se
submeter para compreenderem o seu papel frente ao que estão se propondo analisar.
É o compromisso que se tem com a tarefa pela frente e com as pessoas que serão
afetadas no caminho, incluindo a si próprio(s).
5. O que são: analisador, equipamento, dispositivo, logística, estratégia, táticas e
técnicas?
Bem objetivamente, analisador: é o recorte escolhido a ser submetido a um processo
de análise através dos
Equipamento: ”uma série de organizações, estabelecimentos, aparatos, maquinarias e
tecnologias muito diversificados e inclusivos, de grande, médio ou pequeno porte, cuja
finalidade fundamental (mas não única) está a serviço da repressão, do registro ou do
controle social.”
Dispositivo: é o que está em função da produção, que vai de encontro ao equipamento.
Enquanto um equipamento está na ordem na reprodução, o dispositivo constrói,
ampara e extrapola.
Logística: é que está na mesa para ser usado pela AI. São os elementos,
potencialidades, recursos, etc.
Estratégia: é o plano sistematizado de onde se quer chegar.
Táticas: são o que substanciam a técnica. São os detalhes que possibilitam a execução
da estratégia.
Técnicas: é o passos a passo da estratégia. As etapas e subdivisões.

Perguntas do capítulo 5
1. O que se entende pela Sociopsicanálise de Gérard Mendel?
O psicanalista e psiquiatra francês construiu uma Sociopsicanálise que buscava
entender o sentimento de impotência; o que gera e desencadeia processos patológicos
num domínio coletivo; e também as regressões. À partir de construções do
Materialismo Histórico, pensou em estudar o “lugar natural” desses processos, ou seja,
o âmbito de trabalho. Nestes, e apenas se propondo a uma investigação coletiva, seria
possível compreender essas dinâmicas para, aí sim, conduzir uma auto-análise em
conjunto com colaboradores, gestores, etc.
2. O que se entende pela Análise Institucional de René Lourau e Georges
Lapassade?
Esse nominho que não nos ajuda nas diferenciações dos vários termos desse
compêndio, foi uma proposta de certa forma política, como, bem como nas outras
vertentes citadas, advinda de grandes influências do Materialismo Histórico e da
Psicanálise. Seria uma incessante investigação sobre os processos que influem nos
comportamentos, forças, subjetividades, hierarquias, etc. Principalmente, entende o
poder como fruto das relações com o capital. Por fim, de forma super resumida,
empenha-se em criar possibilidades para que indivíduos e coletivos saiam de um
estado de não-saber que provoca mal estar, conflito e impotência.

3. O que se entende pela Esquizoanálise de Gilles Deleuze e Félix Guattari?


Talvez a mais radical de todas, sendo associada com o anarquismo, é a mais libertária
e revolucionária de todas. Não interessada em ser científica ou em se apresentar com
grandes pompas, se auto prescreve para ser usada por todos e em qualquer cenário.
Uma constante e incessante auto análise, que se itera, sem ter técnicas ou
metodologias próprias, tentam mostrar uma visão mais holística ao meu ver da
conjuntura do que quer que seja que se deseje analisar ou produzir.

4. Qual é a relação entre estas três tendências, a Psicanálise e o Materialismo


Histórico?
Todas beberam da fonte da Psicanálise. Algumas utilizam seus termos, os reinventam
e aplicam de forma a que lhes melhor serve. Já o Materialismo Histórico foi muito
levado em conta por todas por abordar pontos como o capital, a relação produtiva e
anti produtiva, a hierarquização, as forças que atravessam as vidas dos operários, etc.
Todas questões concernentes ao estudo da Análise Institucional como um todo.
5. Com que movimentos políticos poderia-se relacionar predominantemente cada
uma das tendências do Institucionalismo descritas neste capítulo?
“De Mendel a Deleuze e Guattari existe, politicamente, todo um abandono paulatino do
Liberalismo e da Social Democracia e até do Marxismo, para se aproximar muito mais
do Anarquismo.”
Perguntas do capítulo 6

1. Que modalidades de intervenção institucional você conhece?


Antes do texto, creio que não conhecia nenhuma. Imagino que numa reunião de
condomínio, ou num Grupo de Trabalho de Psicologia regional, que são duas situações
pelas quais já passei, muito poderia ser feito com com uma modalidade de intervenção
mais orgânica. Partindo do papel de moradora ou de psicóloga, poderia tentar articular
um processo menos elitizado e subordinativo de auto análise com os outros moradores
e psicólogos e integrantes, caso houvesse demanda para, por exemplo.
2. Qual é a vantagem do roteiro ​standard​ de intervenção institucional?
Apesar de não conhecer com profundidade um roteiro ​standard,​ penso que partir de
uma posição autônoma possa abrir portas para argumentos e debates mais amplos do
que se viesse de uma empresa prestadora de serviços de análise institucional. Ou se
fosse vinculada a uma universidade, talvez. Partir de uma unidade que tenha, dentre as
possibilidades, talvez a forma mais estruturada, auxilie o profissional que não é tão
experiente ou seguro da flexibilidade que lhe é ofertada no campo de análise para o
qual foi convocado a intervir.
3. Repasse cada um dos itens do roteiro standard.
O primeiro passo é uma análise de demanda bem feita. Compreender o que já é
ofertado, como as relações se dão naquele campo de análise - se tratando de uma
instituição formal como escola ou empresa, por exemplo -, buscar saber sobre as
relações hierárquicas, sobre os espaços físicos, enfim. Questões pra análise de
demanda são o que não faltam. O importante nesta etapa é entender que elas nunca
serão universais ou estagnadas, elas são produzidas, construídas e vão se
modificando a partir de várias influências. Depois de uma análise de implicação, há
uma tentativa de análise de encaminhamento, buscando entender o que está nos
imaginários dos que solicitam o trabalho do analista institucional. Após essa etapa,
faz-se uma análise de gestão parcial e depois a análise de encargos, que andam
juntos. Em seguida, pensa-se num diagnóstico provisório, onde muito se planeja, para
que aí sim, faça-se uma análise de demanda e de encargo “definitivas”. Isso tudo feito,
parte-se para o contrato, que é explicado logo abaixo e depois, para a intervenção
propriamente dita.

3. Que diferença existe entre um analisador "natural" e um construído?


Um analisador “natural” seriam aspectos mais espontâneos, enquanto os construídos
seriam implantando ou inventado por analistas para preencher algum fim necessário,
para explicar um fim. Fim este que possibilitará que fique claro como se dá o jogo de
forças, interesses e desejos. Neste, cabem recursos artísticos, dramáticos e até
científicos.

4. Qual é a importância da autogestão do contrato?


Acho que ao diferir das propostas de trabalho convencionais, vai de encontro a
propostas encaixotadas e universais de respostas simples e mágica para problemas
difíceis. Quem propõe um trabalho de AI não entrega um valor fechado, com horas de
trabalho fechadas e amarradas, com uma intervenção pronta e aguarda um sim ou um
não. É uma parceria que implica não só a um dos lados do processo envolvido. A
importância dessa parceria é a de responsabilizar ambas as partes, no que as cabe, da
efetividade, ética e compromisso que se terá durante o caminho.

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