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1. INTRODUÇÃO
A força do marxismo e sua atualidade são comprovadas pelos fatos. Estes mostram a que ponto
chegou a crise do capitalismo em nossos dias, trazendo novos e crescentes sofrimentos aos povos.
Revela também como os trabalhadores, apesar de tudo, continuam o combate por sua emancipação.
Isso explica por que o marxismo provoca tanto ódio por parte dos representantes da burguesia. A
classe dominante precisa caluniá-lo, para tentar confundir os trabalhadores.
Recentemente, mais uma vez, tais pessoas anunciaram a “morte do marxismo” e o “fim do
comunismo”. O pretexto para isso foram os grandes acontecimentos desde a queda do Muro de
Berlim (novembro de 1989), quando as ditaduras burocráticas stalinistas do Leste Europeu foram
derrubadas pela ação dos trabalhadores. Em particular, o desabamento da burocracia da ex-União
Soviética é apresentado como uma prova da “força” do capitalismo, da economia de mercado.
O que se tenta fazer é confundir o marxismo e o comunismo com aquelas ditaduras, controladas
por camarilhas que usurparam o poder dos trabalhadores e povos. Basta que burocratas dos antigos
PCs (muitos dos quais hoje são os mais fiéis aplicadores dos planos do FMI) digam que eram
“marxistas”, para que a burguesia os utilize, procurando fazer crer que seus crimes foram cometidos
em nome do marxismo. Mas aqueles regimes e os burocratas nada tinham a ver com o comunismo.
O marxismo representa mais que nunca a arma do pensamento e da ação indispensável para acabar
com esse velho mundo e ajudar a humanidade a instaurar o comunismo, quer dizer, uma sociedade
sem classes sociais, uma sociedade livre da exploração e da opressão.
“Nada esquisito se a doutrina de Marx, que serve precisamente para esclarecer e organizar a
classe avançada da sociedade moderna (os trabalhadores), que mostra as tarefas desta classe e
demonstra que, em virtude do desenvolvimento econômico, o regime atual será inevitavelmente
substituído por uma nova ordem das coisas, nada esquisito se essa doutrina precisou conquistar à
força cada passo no caminho da vida.”
Contra todos os que anunciam a morte do marxismo, continuamos mostrando, a partir dos fatos,
dos acontecimentos políticos, econômicos e sociais, a validade do método e do sistema de ideias de
Marx, achando, como Lenin, que sua teoria “é justa . . . oferece aos homens uma concepção
coerente do mundo, inconciliável com toda superstição, toda reação e toda defesa da opressão
burguesa.” (Lenin - “As três fontes do marxismo”).
2. O MARXISMO
Marx orientou sua análise ao mundo existente na sua época, ao estudo da história, da sociedade e
da luta econômica, política e social, num momento em que a classe trabalhadora começava a
formar-se politicamente e a organizar-se.
O marxismo se apoia numa análise da realidade e em sua verificação através da experiência. Quer
dizer, ele se opõe aos dogmas, as “verdades” consideradas indiscutíveis. Todas as análises e
avaliações devem ser confrontadas com a prática, para se confirmar ou não. Foi desta forma que
Marx pôde chegar a um estudo aprofundado sobre o capitalismo, desvendando seu funcionamento e
explicando-o aos trabalhadores.
Dito isso, vamos explicar o que é materialismo dialético e sua aplicação à história humana: o
materialismo histórico.
3. O MATERIALISMO
Para todos os “idealistas”, as ideias criam o mundo e o regulam. A partir dessa concepção, eles são
obrigados, de uma maneira ou outra, a admitir uma criação do mundo, qualquer que seja ela. Por
isso, todas as filosofias idealistas são sempre ligadas de alguma forma à religião. Para os idealistas o
espírito, as ideias, é que dominam e determinam a natureza.
Por exemplo: a visão de mundo de um artesão da Idade Média era completamente distinta da de
um operário brasileiro hoje. Enquanto o artesão só alcançava uma compreensão que ia até o limite
do pequeno território e a experiência de vida que tinha em sua aldeia, o operário hoje (mesmo o
mais despolitizado) tem mais condições de sentir-se parte de uma classe que enfrenta outra, a
burguesia. Trabalha junto com outros companheiros que têm as mesmas dificuldades, pode ter
acesso às informações sobre o que ocorre em outros pontos do Brasil e do mundo, pode ser atingido
pelo trabalho de seu sindicato e do PT, etc.
Marx e Engels lutaram para defender o materialismo, contra toda forma de idealismo que
acorrentava os homens, seja a um ou mais deuses, aos preconceitos ou às superstições. Suas
concepções materialistas fundamentais estão reunidas e explicadas de forma detalhada em três
obras: “Ludwig Feuerbach”, “Anti-Duhring” e o “Manifesto do Partido Comunista".
4. A DIALÉTICA
Marx e Engels completaram o materialismo, nascido na Inglaterra no século 18, com a dialética,
desenvolvida em particular pelo filósofo alemão Hegel, no início do século 19.
O pensamento humano utiliza-se do pensamento lógico formal e da dialética para poder entender a
realidade. O pensamento lógico formal é aquele no qual utilizamos o silogismo, um raciocínio que
parte de várias constatações -chamadas de “premissas”- para chegar a uma conclusão. Por exemplo:
se constatamos que uma barra de ferro está vermelha (premissa) imediatamente pensamos que ela
está quente (conclusão). Este raciocínio parte de várias constatações (o fato de que a barra em
estado normal não tem esta cor, que o fogo dá uma cor vermelha, etc.) para chegarmos a uma
conclusão, sem que precisemos queimar a mão para fazer a experiência.
A lógica formal é suficiente para resolvermos questões mais simples de nossa vida cotidiana. Mas
não dá conta de alcançarmos uma compreensão maior da realidade. Para isso temos de recorrer à
dialética, que é a teoria da evolução no seu aspecto mais completo. A dialética apresenta o mundo, a
sociedade, o próprio homem em constante mudança, nascendo, vivendo, transformando-se,
morrendo. Em resumo, a dialética vê todas as coisas em constante movimento e transformação. Para
se entender qualquer fato, é preciso combinar seus elementos mais importantes, em evolução, para
que nos aproximemos de seu significado.
Procurando ilustrar a diferença entre a lógica formal e a dialética, Trotsky usou a seguinte
comparação:
“O pensamento dialético está para o pensamento vulgar (a lógica formal - NR) assim como o
cinema está para a fotografia. O cinema não nega a fotografia, mas combina-as numa sequência
que segue as leis do movimento. A dialética não recusa o silogismo, mas ensina a compor os
silogismos de maneira a aproximar nosso conhecimento da realidade sempre móvel”.
Voltando ao exemplo da barra de ferro: se a lógica formal é suficiente para explicar a uma criança
porque não deve encostar a mão na barra quente, é insuficiente para que o operário siderúrgico
determine as condições e o processo de transformação do ferro em aço.
Assim, se até mesmo nas tarefas de nossa vida cotidiana os silogismos da lógica formal mostram-
se insuficientes, tanto mais o são quando se trata da compreensão e da capacidade de ação sobre os
fenômenos econômicos, políticos e sociais -como, aliás, todos os outros fenômenos da natureza e da
vida humana. Nestes casos, precisamos de um método de análise, de investigação e de dedução
mais complexos e mais completos, que só nos fornecem as leis do pensamento dialético.
5. O MATERIALISMO HISTÓRICO
“Na produção social da sua existência, os homens entram em relações determinadas, necessárias,
independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a um grau de
desenvolvimento determinado das forças produtivas materiais.
Do mesmo modo que não ajuizamos um indivíduo pela ideia que ele faz de si próprio, não
poderíamos ajuizar uma tal época de alterações pela sua consciência de si mesma; é necessário, pelo
contrário, explicar esta consciência pelas contradições da vida material, pelo conflito que existe
entre as forças produtivas sociais e as relações de produção..."
Foi generalizando o antigo materialismo e completando-o com a dialética que Marx e Engels
fizeram com que ele chegasse ao seu ponto máximo. Eles o estenderam do conhecimento da
natureza até o conhecimento da própria sociedade humana, da história da humanidade e da luta
econômica, política e social dentro das sociedades humanas. isto é o que chamamos de materialismo
histórico.
A burguesia dissemina uma ideia da História em que os fatos, a atividade dos políticos, militares,
religiosos, dos estadistas, dos reis, fossem bons ou ruins, pareciam resultar de suas próprias
decisões, do seu caráter bom ou mau, da sua habilidade, da sua sabedoria (ou falta dela)... A ideia
da história humana, resultado dessas concepções, apresenta-se caótica e arbitrária.
O materialismo histórico permitiu compreender porque e como desenvolve-se a ação das massas,
das classes sociais, e seus choques, determinados pela luta por seus interesses de classe, que
constituem a História.
“Os homens são os artesãos de sua própria história. Mas, o que determina, o que move os homens
e mais precisamente as massas humanas? Qual é a resultante de todos estes conflitos no conjunto
das sociedades humanas? Quais são as condições objetivas da produção da vida material sobre a
qual está baseada toda a atividade histórica dos homens? Qual é a lei que determina a evolução
dessas condições? Marx dedicou sua atenção a todos esses problemas e traçou a via do estudo
científico da história, concebida como um processo único, regido por leis, por mais prodigiosa que
seja a sua variedade e todas as suas contradições.” (Lenin - “Karl Marx”)
O marxismo estabeleceu um método para não apenas compreender a história da humanidade, mas,
neste aparente caos, onde se sucedem períodos de revolução e de reação, de paz e de guerra, de
progresso e de decadência, também poder compreender a lei que rege o nascimento, a vida e morte
das sociedades: a luta de classes.
Marx e Engels escreveram no “Manifesto do Partido Comunista” (1848):
"A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de
classes.
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de corporação e oficial, numa
palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido uma guerra ininterrupta, ora
franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre ou por uma transformação
revolucionária da sociedade inteira ou pela destruição das suas classes em luta.
Nas primeiras épocas históricas, verificamos quase por toda parte, uma completa divisão da
sociedade em classes distintas, uma escala graduada de condições sociais. Na Roma antiga
encontramos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores feudais, vassalos,
mestres, oficiais e servos; e, em cada uma dessas classes, gradações especiais.
A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os
antagonismos de classes. Não fez senão substituir velhas classes, velhas condições de opressão,
velhas formas de luta, por outras novas.
Com o materialismo histórico começou na realidade a era da história científica, que possibilitou
mostrar como, dentro de uma forma de organização social, surge e desenvolve-se outra forma, mais
evoluída, em razão do desenvolvimento das forças produtivas. Como, por exemplo, o capitalismo
nasceu do feudalismo, e como o próprio capitalismo aponta para a necessidade do socialismo.
Depois de haver verificado que o regime econômico é a base sobre a qual se ergue a estrutura
política, Marx estuda o regime econômico da sociedade burguesa, o capitalismo, para deduzir as
bases e as condições da luta da ciasse operária.
O que domina na sociedade capitalista é a produção de mercadorias, e Marx inicia a sua análise
pelo estudo das mercadorias.
a) Mercadoria/Valor/Trabalho
As leis que regem as diferentes esferas da economia capitalista (salários, preços, lucros, etc... ) são
muitas e complexas. Porém, todas são consequência de uma única lei descoberta por economistas
clássicos, da qual Marx tirou todas as conclusões: a Lei do Valor - Trabalho, a qual regula
basicamente a economia capitalista.
O essencial dessa lei é simples: desde que a sociedade humana ultrapassou seu estágio inicial,
quando o grupo social produzia - na realidade recolhia, pescava, caçava. . . - apenas para sua
subsistência, iniciou-se a troca de produtos (supérfluos) entre os grupos. Surgiu, então, a
mercadoria, que definimos como um produto que é, em primeiro lugar, uma coisa que satisfaz
alguma necessidade do homem e, em segundo lugar, uma coisa que se troca por outra. As
mercadorias foram trocadas entre si, a princípio diretamente, e, mais tarde, através do ouro e da
moeda (dinheiro).
Mas, como pode-se estabelecer o valor de uma mercadoria por outra? Um quilo de sal e um metro
de tecido ?
Ocorre que as mercadorias têm em comum o trabalho humano dispendido nelas. Por exemplo, uma
roupa contém não apenas o trabalho final de confecção, mas também o trabalho da fabricação do
tecido, da safra do algodão, e ainda o trabalho de fabricação das máquinas que são usadas para
produzir a roupa. Esta é a base para determinação do valor delas. A produção de mercadorias
conduz a um sistema de relações sociais, no qual os diferentes produtores criam produtos variados
(divisão social do trabalho) e os tomam equivalentes entre si no momento da troca, tomando como
base o que é comum a todas as mercadorias: a quantidade de trabalho humano contido nelas.
“Enquanto valores, todas as mercadorias são apenas trabalho humano cristalizado”. (Marx)
Assim, onde os economistas burgueses viam apenas relação entre coisas (troca de uma mercadoria
por outra), Marx descobriu relações entre homens.
b) O Capital
No início, a troca de mercadorias faz-se de maneira direta: o produtor de trigo leva-o ao mercado
para trocá-lo por uma peça de tecido, por exemplo. A expansão da produção, a generalização da
troca, leva à incorporação, nesse processo, de uma representação convencional do valor das
mercadorias: a moeda.
No seu início, ele esteve ligado ao comércio, ou seja, à revenda com lucro de mercadorias. Nessa
fase, o lucro advém da diferença entre os preços de compra e de venda.
Analisando o processo de formação do capital, Marx mostrou qual é a origem do lucro, ao que
chamou de mais-valia.
Para obter-se a mais-valia, Marx demonstrou que foi “necessário que o possuidor da moeda tivesse
a sorte de descobrir... no próprio mercado, uma mercadoria cujo valor usual possuísse a virtude
particular de ser fonte de valor”, uma mercadoria que, além de servir para consumo, fosse também
capaz de criar valor. Essa mercadoria existe: é a força de trabalho humana.
O possuidor da moeda, o capitalista, compra a força de trabalho pelo seu valor. Este, como o de
qualquer outra mercadoria, é determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário à sua
produção, quer dizer pelo custo do sustento do operário e da sua família (para comer, dormir, vestir-
se, etc...), para permitir, como diz Marx, ao trabalhador “recompor sua força de trabalho” e voltar
cada dia ao serviço. Isso só é possível porque o capitalista é o proprietário dos meios de produção
(fábricas, máquinas) enquanto o operário só tem a força de trabalho para vender.
Este custo da força de trabalho também muda conforme a época e o local. O que é considerado,
hoje, no Brasil, indispensável para o operário sustentar-se, é diferente do que é nos EUA, assim
como do que era há 50 anos no próprio Brasil. Não só os hábitos de consumo e o custo dos produtos
e serviços essenciais diferenciam-se e transformam-se, como a própria lute de classe dos
trabalhadores incorpora conquistas ao seu padrão de vida, que passam a ser consideradas o mínimo
aceitável numa época e num país. Às vezes ocorre o oposto, e as derrotas do proletariado permitem
à burguesia rebaixar o custo de manutenção da força de trabalho.
Desde que o capitalista compra essa força de trabalho, ela produz uma certa quantidade de
mercadoria por dia. Mas o valor diário da força de trabalho e o valor das mercadorias produzidas
não são iguais. Por exemplo, uma trabalhadora ganha CR$ 500,00 por dia e nesse dia produz 20
metros de tecido que valem CR$ 2.000,00. Assim, essa trabalhadora, que trabalha 10 horas por dia,
cria em 2,5 horas um produto cujo valor cobre as despesas do seu sustento (salário), e, durante as
outras 7,5 horas cria um produto “suplementar”, não retribuído pelo capitalista, que constitui a
mais-valia.
A força de trabalho é, portanto, a única mercadoria que, sendo a base de todas as outras, é capaz
de gerar a mais-valia. O capitalista compra a força de trabalho para explorá-la. Essa exploração é a
característica da sociedade capitalista, fonte da desigualdade social, que impulsiona a luta dos
trabalhadores contra essa sociedade. Por maior que seja o salário do operário, ele será sempre
menor do que o valor criado nas horas que trabalhou.
Marx verificou que no processo de desenvolvimento do capitalismo ocorre uma batalha constante
para fazer aumentar a mais-valia, quer seja pelo aumento da jornada de trabalho, quer seja pela
redução do tempo de trabalho necessário para a produção das mercadorias, possível graças à divisão
do trabalho, às máquinas, às grandes indústrias, ao avanço tecnológico etc... Em seguida, ele passa a
analisar o processo da acumulação do capital.
Na luta impiedosa dos capitalistas entre si, e contra a pequena produção, pela venda das
mercadorias, sem o que não pode ser realizado o lucro (quer dizer, transformar em dinheiro a mais-
valia existente em cada mercadoria), a tendência do capital é a da acumulação. A acumulação de
capital significa a transformação de uma parte da mais-valia em capital, e o seu emprego não mais
para satisfazer as necessidades pessoais ou os caprichos dos capitalistas, mas nos meios de
produção (instalações, máquinas, equipamentos, matérias-primas...).
Ao mesmo tempo, a luta dos operários, cada vez mais organizados para defender e aumentar seus
salários, aliada à luta por melhores condições de trabalho (diminuição da jornada de trabalho, de
ritmo de trabalho, etc...), conduz o capitalista a procurar aumentar a capacidade de produção,
ampliando sua empresa, aperfeiçoando as máquinas para produzir mais no mesmo tempo de
trabalho.
Ocorre, assim, uma progressiva substituição da força de trabalho por meios de produção,
especialmente máquinas. Esse processo hoje em dia é ainda mais intenso que no tempo de Marx,
devido ao avanço da automação e robotização industriais.
Marx estabeleceu uma diferença fundamental entre a parte do capital formada pelos meios de
produção e aquela investida na força de trabalho. A primeira não cria valor, permanecendo
constante do início ao fim do processo produtivo. Por isso, foi chamada por Marx de capital
constante. Já a força de trabalho cria a mais-valia e, portanto, cria um novo valor. Essa parte do
capital modifica (aumenta) o seu valor no processo de produção. Marx chamou-a por isso de capital
variável. A relação entre capital constante e o capital variável é o que Marx denominou de
composição orgânica do capital, que cresce devido á concorrência entre os capitalistas e á própria
luta de classe dos trabalhadores.
Mas, é preciso repetir, apenas o capital variável - o próprio trabalhador - é capaz de produzir a
mais-valia. As máquinas não! Então, a substituição de trabalhadores por máquinas, cada vez mais
potentes, mais sofisticadas, aumentando a parte do capital constante, diminuindo a parte do capital
variável, traduz o que Marx define como a tendência de queda da taxa de lucro: a marca da crise
insolúvel do capitalismo.
Suponhamos que um capitalista investisse CR$ 1.000.000, e obtivesse um lucro de CR$ 100.000.
A taxa de lucro obtida em relação ao capital investido é de 10%. À medida que o capital aumenta,
seria normalmente necessário que o lucro realizado aumentasse pelo menos nas mesmas proporções
que o capital se o capitalista quer que sua taxa de lucro se mantenha. Se seu capital aumenta por
exemplo 20% (nova maquinaria, novos equipamentos, mão-de-obra suplementar, etc.) para atingir
um valor de CR$ 1.200.000, será necessário que seu lucro também aumente 20% e atinja CR$
120.000, para que sua taxa de lucro se mantenha em 10%.
Mas à medida que o capital se acumula, isto se toma cada vez mais difícil. Com efeito, à medida
em que o capital se amplia, a parte do capital voltada para o emprego de mão-de-obra suplementar
toma-se cada vez menos importante em relação à parte consagrada à compra de novos meios de
produção. Mas a força de trabalho é justamente, para o capital em geral, a única fonte de lucro e a
diminuição de sua força relativa provoca uma tendência á queda da taxa de lucro.
Um exemplo: Considere-se uma população operária que num período de tempo dado (x anos),
passe de 2 para 3 milhões; do mesmo modo o capital variável ( V ) que lhe pagam em salários passa
de 2 para 3 milhões. Durante esse período de tempo, considerando o progresso técnico e a
acumulação, o capital constante ( C ) passa de 4 para 15 milhões. Supondo que a taxa de mais-valia
permanece constante em 100%, que a duração da jornada de trabalho não muda e a massa de mais-
valia produzida no período zero será de mv = 2, ela será de mv = 3 x anos mais tarde. No mesmo
período de tempo, a taxa de lucro diminui de 33,33% para 16,66%.
C (milhões) 4 15
V (milhões) 2 3
mv 2 3
m’ 33,33% 16,66%
" A expropriação dos produtores imediatos executa-se com vandalismo implacável que estimula
os modos mais infames, as paixões mais sórdidas e mais odiosas na sua mesquinhez. A propriedade
privada, fundada no trabalho pessoal (do camponês e do artífice), essa propriedade que funde por
assim dizer o trabalhador isolado e autônomo com as condições exteriores do trabalho, vai ser
suplantada pela propriedade privada capitalista, fundada na exploração do trabalho de outrém, no
assalariado... o que agora há a expropriar, não é o trabalhador independente, mas o capitalista, o
chefe de um exército ou pelotão de assalariados. Esta expropriação cumpre-se pelo jogo das leis
imanentes da produção capitalista, as quais levam à concentração dos capitais. Correlativamente a
esta centralização, à expropriação de um grande número da capitalistas por um punhado deles, a
ciência e a técnica são aplicadas em uma escala cada vez maior, a exploração metódica e
sistemática da terra, a transformação dos utensílios em instrumentos exigindo, para serem eficazes,
um arranque coletivo e, por conseguinte, a economia dos meios de produção, o entrelaçamento de
todos os povos na rede do mercado universal, daí o caráter internacional imprimido ao regime
capitalista. À medida que diminui o número dos potentados do capital que usurpam e monopolizam
todas as vantagens deste período de evolução social, crescem a miséria, a opressão, a escravatura,
a degradação, a exploração, mas também a resistência da classe operária... em crescimento
permanente e cada vez mais disciplinada, unida e organizada pelo próprio mecanismo da produção
capitalista. O monopólio do capital torna-se um entrave para o modo de produção que cresceu e
prosperou como ele e sob os seus auspícios. A socialização do trabalho e a centralização dos seus
recursos materiais atingem um ponto tal que não podem mais manter-se no seu invólucro
capitalista. Este invólucro estala, a hora da sociedade capitalista soou. Os expropriadores são por
sua vez expropriados.” (O Capital, vol. I).
Mas, para Marx, assim como para nós, essa “expropriação dos expropriadores” exige para ser
realizada a ação consciente da classe operária organizada. É por isso que Marx e Engels
concentraram todos os seus esforços na luta para a construção do partido dos trabalhadores, que,
desde o início, conceberam como necessariamente internacional.
Todos os erros de "interpretação", todas as “revisões” do marxismo, há mais de cem anos, foram
devido á ignorância ou á negação do objetivo central do marxismo, colocado à época da publicação
do “Manifesto Comunista", como também no Programa de Transição, e que continua a ser a tarefa
do nosso tempo, a saber a construção do partido operário revolucionário internacional.
“Os comunistas não formam um partido à parte, oposto aos outros partidos operários. Não têm
interesses que os separem do proletariado em geral. Não proclamam princípios particulares,
segundo os quais pretenderiam modelar o movimento operário”.
O marxismo não é uma ideologia. Ao contrário, é a crítica radical de toda ideologia, caracterizada
como expressão invertida das relações de classe na consciência dos homens. É por isso que os
marxistas diferenciam-se dos antigos socialistas utópicos (que propunham "utopias”, ou propostas
ideais para a reorganização da sociedade, a serem aplicadas após o convencimento dos poderosos e
não pela mobilização dos próprios trabalhadores), que existiram antes de Marx. Os marxistas não
têm “princípios particulares” sobre os quais pretendessem “modelar o movimento operário”. Eles
não têm, também, interesses distintos dos do proletariado em seu conjunto. Trata-se, para eles, não
de aplicar uma doutrina pré-estabelecida, mas sim expressar cientificamente o movimento histórico
e no seu meio contribuir para a auto-organização dos trabalhadores.
“Os comunistas só se distinguem dos outros partidos operários em dois pontos: 1) Nas diversas
lutas nacionais dos proletários, destacam e prevalecem os interesses comuns do proletariado,
independentemente da nacionalidade; 2) Nas diferentes fases por que passa a luta entre proletários
e burgueses, representam, sempre, e em toda parte, os interesses do movimento em seu conjunto”.
O partido operário revolucionário só pode ser então internacional, na medida justamente em que a
burguesia, constituindo o mercado mundial, tomou o proletariado uma ciasse internacional no que
diz respeito a seus interesses revolucionários e às condições históricas da sua vitória.
Ao mesmo tempo, esse partido não pode representar apenas uma camada do proletariado,
excluindo e opondo-se aos interesses do conjunto da classe operária. Pelo contrário, sua função
reside em unificar politicamente a ciasse operária quando a burguesia sempre cuida de dividi-la.
Essa tarefa do partido revolucionário, de unificar e homogeneizar a classe operária, expressou-se
completamente na estratégia da Frente Única Operária e Frente Única Antiimperialista (união de
todos os trabalhadores e de todas as organizações operárias sobre uma linha de ruptura com a
burguesia, que no caso dos países atrasados arrasta outros setores sociais, como o campesinato,
numa luta contra o imperialismo). Foi a 3a Internacional que definiu, a partir da experiência anterior
do movimento operário, essa estratégia que Trotsky e os fundadores da 4a Internacional
generalizaram e incluíram no Programa de Transição, contra a política de colaboração de classe das
Frentes Populares iniciada pelo stalinismo junto com a social-democracia.
LEITURAS
Para aprofundamento
“Anti-Duhring” - F. Engels
Para aprofundamento
“Anti-Duhring” - F. Engels
1 INTRODUÇÃO
A experiência dos trabalhadores lhes ensina que, em cada mobilização, em cada greve, em cada
luta verdadeira, eles acabam se chocando diretamente com o Estado, com suas leis, sua polícia, seu
aparelho judiciário.
Assim, os trabalhadores verificam na sua própria experiência uma das lições fundamentais do
marxismo, a saber, “ o Estado é um organismo de dominação de classe, um organismo de opressão
de uma classe por outra”.
A burguesia, a classe dominante, procura esconder este fato, a fim de proteger seus interesses. Por
isso, procura criar uma falsificação do significado do Estado e do seu papel. Procura apresentá-lo
como uma entidade superior, indispensável, que sempre existiu e sempre existirá, que determina a
existência da sociedade e de sua organização e que paira sobre esta sociedade, arbitrando seus
conflitos. Esta “entidade” se materializaria em governos cujo papel seria gerir este Estado, e cuja
substituição não deveria interferir no que eles chamam “a estabilidade do Estado”.
Vemos por vezes a teoria das “vias pacíficas para o socialismo”, segundo a qual a destruição do
Estado burguês não mais seria uma necessidade. Outras vezes, a visão de que o importante é
construir “poderes" -poder na fábrica, poder na empresa, poder na rua-, que não considera o Estado
uma centralização do poder. Vemos ainda outros, apoiando-se no fetichismo do Estado, darem a
explicação da que seria sempre preciso uma polícia, um Exército, embora “democráticos” etc.
"O Estado não é, pois, de modo algum, um poder que se impôs à sociedade de fora para dentro;
tampouco é a “realidade da idéia morar, nem “a imagem e a realidade da razão”, como afirma
Hegel. É antes um produto da sociedade, quando esta chega a um determinado grau de
desenvolvimento: é a confissão de que essa sociedade se enredou numa irremediável contradição
com ela própria e está dividida por antagonismos irreconciliáveis que não consegue conjurar. Mas,
para que esses antagonismos, essas classes com interesses econômicos colidentes, não se devorem
e não consumam a sociedade numa luta estéril, faz-se necessário um poder colocado
aparentemente por cima da sociedade, chamado a amortecer o choque e a mantê-lo dentro dos
limites da “ordem”. Este poder, nascido da sociedade, mas posto acima dela, distanciando-se cada
vez mais, é o Estado". (Engels: “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado”).
Para resumir.
• ele está, na aparência, acima da sociedade, mas na realidade é o órgão de dominação de uma
classe determinada, o instrumento da preservação da “ordem” econômica, social e política existente.
Vamos examinar cada uma dessas características e, a partir disso, definir as condições e os
objetivos da luta dos trabalhadores no que diz respeito ao Estado.
a) a “gens” (grupo de famílias unidas por parentesco, também chamado de “clã”) elege seu
“sachem” (chefe do tempo de paz) e seu chefe militar, que só dá ordens para expedições guerreiras.
O poder do “sachem” é puramente moral, pois ele não tem praticamente nenhum poder policial de
coerção;
b) a “gens” revoga à sua vontade o “sachem” e o chefe de guerra. A eleição e a destituição são
decididas pelo conjunto de homens e mulheres componentes da “gens”;
c) os bens dos mortos se revertem para todos os membros da “gens”, não devendo sair da
mesma. Considerando o direito materno, marido e mulher fazem parte de “gens” diferentes, não
podendo portanto herdar um do outro;
Engels conclui:
“E com toda a sua ingenuidade e simplicidade, que admirável constituição é esta organização
gentílica! Sem soldados, guardas e policiais, sem nobreza, sem reis, sem governadores, sem
prefeitos, sem juizes, sem prisões, sem processos, tudo funciona. Todas as querelas e disputas são
esmiuçadas pela coletividade interessada, a ’’gens” ou a tribo, ou as diferentes “gens” entre si.
(.. ,) Os interessados decidem e, na maioria dos casos, costumes seculares sempre os regulamentam
previamente. Aí não pode haver pobres e necessitados -a economia doméstica comunista e a "gens”
conhece suas obrigações em relação aos velhos, aos doentes, aos inválidos de guerra. Todos são
iguais e livres - inclusive as mulheres. Não há ainda lugar para os escravos, não mais que em geral
para a servidão de tribos estrangeiras".
“Ao chegar a certa fase de desenvolvimento econômico, que estava necessariamente ligada à
divisão da sociedade em classes, essa divisão tornou o Estado uma necessidade.” (Engels: “A
Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado”).
A criação de animais e a agricultura foram fatores importantes no surgimento das classes sociais,
uma vez que elas permitem conservar um sobreproduto social não perecível, o que é impossível
numa economia baseada na pesca, na caça e na colheita natural. Daí decorrem as seguintes
consequências:
b) a força de trabalho passa a ter um valor e, a partir daí, estão reunidas as condições para a
apropriação da força de trabalho suplementar, pois existem os meios para o seu emprego. Não mais
se matam ou incorporam os prisioneiros: serve-se do seu trabalho. Então aparece uma classe que
explora o trabalho de outros homens. Assim surge a escravidão, na qual baseou-se o modo de
produção antigo, isto é, a organização socio-econômica dos países da Antiguidade (Egito,
Babilônia, etc., até o Império Romano).
Surgem então classes sociais com interesses antagônicos: uma classe de produtores e uma classe
de apropriadores. Torna-se impossível manter a antiga estrutura social: a divisão da sociedade em
classes, entre explorados e exploradores, tem como consequência e condição o desarmamento geral
da população e a criação de um corpo repressivo especial, encarregado de manter os privilégios dos
exploradores contra os explorados.
“Esta força pública existe em todo o Estado; é formada não só de homens armados como, ainda,
de acessórios materiais, os cárceres e as instituições coercitivas de todo gênero, desconhecidas
pela sociedade da ”gens" (Engels).
Lenin, no livro “O Estado e a Revolução”, apoia esta conclusão de Engels, mostrando seu caráter
geral: “Como todos os grandes pensadores revolucionários, Engels visa chamar a atenção dos
operários conscientes precisamente sobre o que aparece para o filisteísmo dominante como a causa
menos digna de atenção, a mais costumeira e consagrada pelos preconceitos mais persistentes,
poderíamos dizer, petrificados. O Exército e a polícia são os principais instrumentos da força do
poder de Estado".
O governo não é portanto o Estado, mas apenas um dos seus componentes, “o conselho de
administração dos negócios comuns da burguesia”, como dizia Marx. O aparelho judiciário nada
seria sem as Forças Armadas e a polícia, que exprimem o poder efetivo de repressão da classe
dominante. Os famosos três poderes separados - Executivo, Legislativo e Judiciário - são apenas
órgãos complementares desse instrumento fundamental, o aparelho de Estado, encarregado de
manter a ordem pública. O Estado é, por outro lado, um aparelho administrativo, é a burocracia. Ela
atinge todos os aspectos da vida social e econômica, que são importantes para a classe dominante.
“Como o Estado nasceu da necessidade de conter o antagonismo das classes e como, ao mesmo
tempo, nasceu em meio ao conflito delas, é, em regra, o Estado da ciasse mais poderosa, da classe
economicamente dominante, classe que, por intermédio dele, se converte também em classe
politicamente dominante e adquire novos meios para a repressão e exploração da ciasse oprimida"
(Engels).
Ele é o órgão da dominação de uma classe sobre outra e não um órgão de “conciliação" de classes
antagônicas. Ele é o órgão da classe dominante, quaisquer que sejam as formas como se apresenta:
democrática, aristocrática ou ditatorial.
Ao modo de produção na Antiguidade correspondia, assim, um Estado escravista, quer ele fosse
republicano, democrático, aristocrático ou monárquico. Da mesma forma, o Estado moderno nos
países capitalistas -quer ele se apresente como democrático, ditatorial ou “bonapartista”- é sempre o
Estado da classe dominante, quer dizer, a forma de coerção dos capitalistas sobre os trabalhadores.
As formas do Estado podem variar, mas elas têm sempre a função de órgãos de dominação de uma
classe sobre outra.
5. AS DIFERENTES FORMAS DO ESTADO BURGUÊS
Hoje, no nosso país, a burguesia tenta apresentar-se como adepta da democracia, do sufrágio
universal etc. Mas a experiência já mostrou que seria um engano desastroso acreditar nessas
declarações e pensar que a burguesia é uma classe interessada num regime democrático.
Basta comparar, na história da dominação burguesa no nosso país, o tempo total de regimes
democráticos e o de regimes ditatoriais (sejam civis ou militares).
E mesmo quando acontece como hoje uma situação de relativa democracia - relativa, porque basta
enumerar o número de militantes operários e camponeses mortos com a cumplicidade dos órgãos
policiais, militares e judiciários do Estado a "democracia" e mesmo simplesmente o "sufrágio
universal” nem sequer atingem a totalidade da população. A manipulação da opinião pública graças
aos poderosos meios de comunicação, como a Rede Globo (lembremos a edição do debate Lula
versus Collor, que pesou na manobra fraudulenta do resultado eleitoral de 89), a corrupção, o
fisiologismo e todos os demais meios de utilização do poder econômico estabelecem os limites
restritos da "democracia" impostos pela classe dominante.
Ideologicamente, ela corresponde aos princípios liberais que refletem a liberdade econômica
estabelecida pela burguesia em sua fase ascendente, de livre concorrência. O sufrágio universal,
expressão prática desses princípios, repousa na igualdade formal dos cidadãos, mas deixa intacta a
desigualdade econômica e social. Existe a liberdade de imprensa, mas os trabalhadores não têm
condições de ter gráficas ou concessões de televisão, para poder divulgar suas posições.
A igualdade, a liberdade e a fraternidade são a liberdade para o capital explorar aquilo que ele não
possui.
“Decidir periodicamente”, dizia Lenin, “por um certo número de anos, qual o membro da classe
dirigente que espezinhará e esmagará o povo no parlamento, tal é a verdadeira essência do
parlamentarismo burguês, não apenas das monarquias constitucionais, parlamentares, mas também
nas mais democráticas repúblicas.”
No entanto, isso não significa que os revolucionários são indiferentes à forma da dominação de
classe. Em “O Estado e a Revolução”, Lenin ressalta: “Uma vez que Engels afirma que, tanto numa
república democrática, quanto na monarquia, o Estado não passa de uma máquina para oprimir uma
classe sobre outra, ele não entende absolutamente que a forma de opressão deva ser indiferente ao
proletariado, como alguns anarquistas o ensinam. Uma forma mais viva, mais franca de luta de
classes e de opressão (como é a democracia), facilita consideravelmente a luta do proletariado pela
supressão das classes em geral”.
O que está em discussão são as relações entre a burguesia e o proletariado. Nas diversas formas de
ditadura da burguesia, trata-se do direito de organização do proletariado. Assim, nos “Escritos sobre
a Alemanha”, Trotsky explicava:
b) O bonapartismo
principal fonte criadora do capitalismo e sua justificativa histórica. Por isso mesmo, a liquidação da
concorrência significa a transformação dos acionistas em parasitas sociais. A concorrência
precisava de uma certa liberdade, de uma atmosfera liberal, de um regime democrático, de um
cosmopolitismo comercial. O monopólio requer um governo tão autoritário quanto possível,
barreiras alfandegárias, suas próprias fontes de matérias primas e seus próprios mercados (suas
colônias). A última palavra da desagregação do capitalismo está no fascismo.”
Com o imperialismo - época das guerras e revoluções - a democracia burguesa tradicional não tem
mais nenhuma estabilidade. Por isso a burguesia tem que recorrer a outras formas de dominação de
classe: o fascismo ou o bonapartismo. No bonapartismo, um “salvador da pátria”, apoiando-se na
luta dos dois campos - burguesia e proletariado -, procura salvar a sociedade burguesa com a ajuda
quase sempre de uma ditadura burocrático-militar. Isso se traduz pelo estabelecimento de um poder
forte, concentrado em algumas mãos ou nas mãos de um só homem, e que permite subsistirem
algumas aparências formais do sistema da democracia burguesa, esvaziadas em seu conteúdo.
O bonapartismo corresponde também, em particular num país dominado como o nosso, a uma
evolução inevitável do Estado burguês, nas condições de centralização econômica próprias do
imperialismo. O bloqueio ao desenvolvimento das forças produtivas verificado desde o início do
século 20, a concentração extrema do capital, a interdependência dos vários setores da economia
tornam ultrapassadas as normas liberais anteriores. O papel do Estado como organizador da vida
econômica cresce, e cada vez mais ele passa a representar os interesses políticos da grande
burguesia, dos monopólios e do capital financeiro internacional.
O exemplo do Brasil
Os governos de Getúlio Vargas são demonstrações práticas desse fenômeno. Quando o impacto da
crise mundial do capitalismo em 1929 agudizou a revolta das massas populares, uma “revolução”
comandada por setores dissidentes da própria burguesia derrubou a “República Velha” dos
fazendeiros de São Paulo e Minas. A frase de um dos organizadores da Revolução de 1930,
“façamos a revolução antes que o povo a faça”, prova seu caráter preventivo. Vitorioso, Getúlio
Vargas começou a modificar as instituições do Estado burguês, usando um discurso voltado aos
trabalhadores e à pequena-burguesia. Os sindicatos livres existentes foram destruídos, surgindo uma
máquina sindical atrelada ao Ministério do Trabalho. A repressão às lideranças operárias combinou-
se com a concessão de alguns direitos sociais aos trabalhadores. Mais tarde, em 1937, o regime
bonapartista evoluiu para uma ditadura aberta (o “Estado Novo”), suspendendo as eleições
presidenciais e eliminando até os vestígios de parlamentarismo ainda existentes, com o fechamento
do Congresso. A vanguarda operária foi massacrada, o proletariado teve suas organizações
destroçadas. Ao mesmo tempo, novas concessões trabalhistas foram realizadas, enquanto a
propaganda oficial ressaltava a figura de Getúlio “pai dos pobres”.
O segundo governo Vargas (1950-1954), quando o ex-ditador retoma à presidência eleito pelo
povo, retoma o bonapartismo, reforçado por um discurso mais nacionalista. Expressando em parte
uma resistência tímida da burguesia à crescente penetração do imperialismo no Brasil e tentando
por outro lado controlar as mobilizações populares por meio do apelo nacionalista, Vargas acaba
levado ao impasse. Incapaz, como a burguesia que ele representa, de romper com o imperialismo,
vendo setores crescentes da burguesia abandonarem seu governo por medo das mobilizações das
massas e pressionado pelos setores mais pró-imperialistas, Vargas suicida-se em 1954.
Após sua crise mortal em 1984, provocada pelo ascenso das mobilizações populares (Diretas-Já,
greves, ocupações) e pelo fortalecimento do PT e da CUT, ele foi substituído pela “Nova
República”. A falência precoce desta última decorreu em grande parte de não ter conseguido criar
outra forma “estável” de bonapartismo, pela impossibilidade de incorporar o PT e a CUT à sua
sustentação e, por seu intermédio, controlar o movimento operário. O que, sem dúvida, contrasta
com o papel ativo do PCB na sustentação do bonapartismo de Vargas e dos governantes que o
sucederam até o golpe de 1964.
Desde a falência da “Nova República”, a burguesia não conseguiu resolver de forma duradoura o
problema de garantir a sustentação do regime. As crises de governo foram uma constante nos
últimos tempos, assumindo a dimensão de uma crise de regime.
c) O fascismo
Recorrendo ao fascismo, a burguesia viola sua própria legalidade. Não apenas cede seu poder
político a um aparelho militar-burocrático, como no caso do bonapartismo. Utiliza-se de bandos
terroristas vinculados ao aparelho de Estado que se encarregam de destruir qualquer tentativa de
luta por liberdades democráticas. Isso é acompanhado de uma demagogia nacional e social, para
atrair e mobilizar a pequena-burguesia empobrecida pela crise do capitalismo.
“Para tentar encontrar uma nova saída à sua crise”, explica Trotsky, “a burguesia deve
desembaraçar-se completamente da pressão das organizações operárias, descartá-las, destruí-las e
dispersá-las. Aqui começa a função histórica do fascismo. Ele atrai as camadas (a pequena-
burguesia golpeada pela crise econômica) que se erigem imediatamente acima do proletariado e que
estão em vias de precipitar-se para suas fileiras. Ele os organiza e os militariza com os meios do
capital financeiro, sob a cobertura do Estado oficial, e os orienta rumo à destruição das
organizações proletárias, desde as mais revolucionárias às mais moderadas. A essência e função do
fascismo consiste em abolir completamente as organizações operárias e em impedir seu
restabelecimento. Numa sociedade capitalista desenvolvida esse objetivo não pode ser atingido
apenas por meios policiais. A única via para isso é opor ao ataque do proletariado, no momento de
seu debilitamento, o ataque das massas pequeno-burguesas enfurecidas. É precisamente esse
particular sistema de reação capitalista que entrou na história com o nome de FASCISMO.”.
Vimos tais Estados erguerem-se sobre a derrota da classe operária com Mussolini, na Itália, após
1922, Hitler, na Alemanha, em 1933; Franco, na Espanha, após a derrota da revolução em 1938; no
Chile, em 1973, depois que a classe operária foi conduzida à derrota pelo governo de frente popular
de Allende.
Se, na sua luta, os trabalhadores não conseguem derrotar a burguesia, esta utiliza todos os meios,
até os mais bárbaros, para assegurar a sobrevivência do seu regime decadente. E o desafio com o
qual a classe operária está confrontada. Toda política conciliatória, todas as meias-medidas, todos
os que se recusam a romper com a burguesia, preparam o terreno para a vingança terrível desta
classe, que faz tempo já compreendeu que não tem futuro senão na astúcia e na barbárie.
O fascismo é uma tentativa extrema de manutenção de sua dominação à qual a burguesia tem de
recorrer em determinadas condições. Juntamente com as chamadas “frentes populares” são os
últimos recursos políticos com que a classe dominante conta para barrar a revolução proletária.
Na verdade, o caminho para o fascismo foi frequentemente “preparado” por políticas de frente
popular, como no caso da Espanha em 1938 ou do Chile em 1973.
Por mais que o povo chileno, em 1973, considerasse o governo Allende como seu, as medidas do
governo, em meio a uma situação de radicalização das massas, foram no sentido de preservar
Contra a política de frente popular é preciso levantar a luta persistente pela frente única, quer
dizer, a unidade de todos os trabalhadores e suas organizações em tomo da luta pelas reivindicações
e contra as medidas da burguesia.
Sem dar nenhum apoio à política de frente popular nem participar de um governo deste tipo, é
dever dos revolucionários, no entanto, saber como trabalhar em tal situação. As massas encaram tais
governos como seus. É preciso então atuar sob a égide da frente popular, de forma positiva,
cobrando o tempo todo o atendimento das reivindicações e a ruptura com os setores burgueses, que
são um obstáculo a esse atendimento.
Isso significa levar em conta as ilusões que as massas têm em suas direções reconhecidas, e que no
quadro de um governo de coalizão recusam-se ao rompimento com a burguesia.
Esta discussão tem grande importância prática. Vimos como em 1989, do 1o para o 2o turno da
eleição presidencial, houve o processo de formação de uma frente popular, em tomo da candidatura
de Lula, reunindo não apenas o PT e as forças da Frente Brasil Popular, mas também o PDT, PSDB
e governadores do PMDB.
Um eventual governo com tal coalizão representaria um verdadeiro confisco da vitória que teria
significado eleger Lula presidente. O governo estaria “amarrado” aos compromissos de co-gover-no
com setores da burguesia. A luta pelo atendimento das reivindicações, pela unidade de todos os que
se colocam contra os planos do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do imperialismo deve ser o
eixo de uma atuação revolucionária.
Depois da Comuna de Paris, em 1871, a primeira grande revolução operária, Marx considerou
indispensável fazer uma “correção” no “Manifesto Comunista” sobre este ponto. O último prefácio
assinado por Marx e Engels, em 1872, declarava o manifesto “envelhecido sobre certos pontos”.
Eles escrevem: “A Comuna de Paris demonstrou em particular que a classe operária não pode
limitar-se a conquistar a máquina do Estado e fazê-la funcionar por sua conta própria”.
E, já em 1871, foi pensando na luta dos operários de Paris que Marx escrevia:
“A próxima tentativa da revolução na França não terá mais que consistir em transmitir a
máquina burocrática e militar para outras mãos, como foi o caso até agora, mas sim quebrá-la"
(sublinhado por Marx). “É a primeira condição de toda revolução popular real sobre o continente.
É também o que tentaram nossos heroicos companheiros de Paris.” (Marx, “Cartas a Kugelmann”,
12 de abril de 1871).
A Comuna, tal é a forma, “enfim encontrada” pela revolução proletária, sob a qual se efetuará a
emancipação econômica do trabalho.
Esta questão tem particular importância nos dias de hoje, com desdobramentos práticos no PT.
Desde 1988, expressando no terreno eleitoral a radicalização das massas verificada em milhares de
greves e mobilizações, observamos o crescimento do PT, que passou a administrar dezenas de
prefeituras bem como deter centenas de posições parlamentares.
São postos conquistados no interior do Estado burguês pelo movimento operário e popular, que se
choca contra a natureza desse Estado. Mas, em nome de um pretenso “realismo político”, alguns
que pretendiam demonstrar sua capacidade de gestão terminaram por dar as costas ao mandato que
o povo lhes deu. Como resultado tivemos uma sucessão de choques entre as prefeituras e os
movimentos, assim como atritos com o próprio partido.
Sim, há outro caminho. Ele implica reconhecer que recebemos para “gerir” uma fatia limitada do
Estado burguês em crise, Estado cujas instituições estão moldadas para servir aos interesses dos
diversos grupos capitalistas nele enquistados e da burguesia em geral. Refletindo as características
semicoloniais dessa burguesia, o Estado brasileiro tem sua gestão orientada em primeiro lugar para
o pagamento da dívida externa, principal instrumento da opressão imperialista sobre o país. Isto
vale também para os municípios, que veem a renda neles gerada ser drenada peio governo federal
para o pagamento da dívida.
Uma administração consequente deve partir da recusa de pagar essa dívida ao governo central,
chamando as demais prefeituras a unirem-se a essa posição. Ao mesmo tempo, deve lutar para
arrancar os recursos que esse governo retém ilegitimamente para pressionar os municípios
endividados. E precisa também voltar-se contra os ricos e as empresas sediadas no município,
jogando sobre eles a carga tributária. Tal política, em nome da luta pelo atendimento das
reivindicações, permite mobilizar amplamente a população trabalhadora contra a burguesia e o
governo central, mobilização indispensável para viabilizar aquelas medidas. Estaríamos assim
abrindo caminho à auto-organização popular na luta pelas reivindicações, dando origem a
organismos autônomos das massas, como os Conselhos Populares. Ou seja, usando o aparelho de
Estado burguês para estimular as massas a criarem seus próprios órgãos de poder, cujo embrião
poderiam ser esses conselhos, aprofundando e generalizando a luta contra o poder central e o Estado
burguês em seu conjunto.
Algumas iniciativas nessa via permitem-nos confirmar sua justeza. Em Santos, por exemplo, num
determinado momento a então prefeita chamou a mobilização da cidade, convocando uma greve
geral contra os planos do governo Collor em relação ao porto da cidade. Em Porto Alegre, merece
atenção a experiência apenas iniciada com o denominado “orçamento participativo", que em 1992
reuniu aproximadamente 20 mil pessoas em assembleias populares para discutir o orçamento da
cidade e eleger um amplo Conselho Municipal cujo mandato é acompanhar suas deliberações.
Iniciativas desse tipo despertam ódio da burguesia, pois colocam em xeque as instituições do
Estado montadas para manter a exploração e ajudam as massas a compreender os limites que o
Estado burguês impõe a essas prefeituras.
“As formas das relações políticas e agrupamentos políticos podem diferir em diversos países, mas
a questão de base é sempre a mesma: trata-se para nós da preparação imediata, política e técnica,
da sublevação do proletariado, que deve destruir o poder burguês e estabelecer o novo poder
proletário. Para os comunistas, o parlamento não pode ser de forma alguma, nos dias de hoje, o
palco de uma luta por reformas. O centro de gravidade da vida política atual saiu do parlamento,
completa e definitivamente. Em toda a IC, no mais grave momento da luta de classes, quando ela se
transforma em guerra civil, a tarefa do proletariado consiste em explodir a máquina
governamental da burguesia, em destruí-la, inclusive as instituições parlamentares... O mesmo se
dá com as instituições municipais e comunais da burguesia, às quais é teoricamente falso opor os
antagonismos governamentais... O Comunismo nega a possibilidade da conquista duradoura do
parlamento: ele se coloca como objetivo a abolição do parlamentarismo. Portanto, a utilização das
instituições governamentais burguesas não pode se dar senão tendo em vista sua destruição. É
nesse sentido, e unicamente nesse sentido, que a questão pode ser colocada”. (2° Congresso da
Internacional Comunista - “Teses sobre o Parlamentarismo”)
7. O ESTADO OPERÁRIO
A estratégia da vitória do proletariado, embora seja internacional, encontra em cada país diferentes
ritmos da luta de classes. A burguesia utilizará contra a classe operária todos os meios que
estiverem ao seu dispor. Os trabalhadores terão que construir seu poder com órgãos de dominação e
de luta, não apenas nacional, mas internacional, contra a burguesia e o imperialismo.
O primeiro decreto da Comuna suprimiu o Exército permanente e substituiu-o pelo povo armado
diretamente. Os conselheiros municipais eram eleitos por voto universal nos distritos e destituíveis a
qualquer momento. Eram operários, em sua maioria. A polícia foi despojada de atribuições políticas
e convertida em instrumento da Comuna, responsável perante ela e destituível a qualquer momento.
Todos os que desempenhavam cargos públicos, inclusive os membros da Comuna, recebiam
salários de operários.
As revoluções russas de 1905 e 1917, por sua vez, retomam num nível superior a experiência da
Comuna ao constituir os sovietes, conselhos de operários e soldados que viriam a ser a base do novo
Estado operário surgido após Outubro de 1917.
O proletariado não recria o parlamentarismo. Pelo contrário: ele o destrói. Ele abole a divisão
entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, que mistificam a irresponsabilidade da
burguesia perante seus eleitores.
O Estado operário se organiza de uma forma totalmente nova. Desde sua criação ele prepara as
condições para o seu próprio desaparecimento enquanto Estado.
porque as funções são garantidas por todos e não apenas por uma minoria especializada;
enfim, porque o comando é substituído pela supervisão da gestão.
A sociedade socialista nasce da sociedade capitalista e traz as suas marcas. Ela não poderá se livrar
de uma só vez das condições econômicas, sociais e intelectuais que herda e, sobretudo, não poderá
ser construída plenamente apenas na escala de um país só. Este é um ponto importante e precisamos
refletir sobre ele, em particular porque em parte explicará as condições da degeneração do Estado
operário na URSS.
A trajetória do Estado operário para a sua extinção não é linear. Esta trajetória depende do
desenvolvimento da luta de classes mundial. Enquanto instrumento do proletariado, o Estado
operário deve ser um ponto de apoio para a revolução mundial, pois seu futuro depende desta. Se a
revolução não ocorre num ou em mais de um outro
país, estendendo o socialismo progressivamente em escala mundial, o jovem Estado será o prato
predileto da burguesia intencional, visando a sua destruição. Uma situação de isolamento do Estado
operário pode produzir sua degeneração, tal como ocorreu com a URSS.
LEITURAS
Básicas
Para aprofundamento
1 - INTRODUÇÃO
Nestes últimos anos, o liberalismo surge como uma “nova” alternativa proclamada pelos
pensadores da burguesia. Para estes, o marxismo, a ideia da abolição da propriedade privada dos
meios de produção, teria envelhecido e portanto falido a perspectiva do socialismo. O novo, o
moderno passaria a ser o liberalismo, a livre empresa, a livre concorrência.
Todos são “liberais": banqueiros e industriais do mundo inteiro só rezam por “São Liberalismo”.
Atrás deles, jornalistas e políticos da direita à esquerda formam o cortejo dos novos padres da
religião liberal.
Assim, o liberalismo (que nada tem de novo, pois foi a filosofia econômica do capitalismo na
época de sua ascensão, quando a livre empresa e a livre concorrência eram os fundamentos da
economia de mercado) passa a ser o revestimento ideológico de um capitalismo em que na sua atual
fase “ganhou corpo a dominação dos monopólios e do capital financeiro, adquiriu marcada
importância a exportação de capitais, começou a partilha de todo o mundo pelos trustes
internacionais e terminou a partilha de toda a Terra entre os países capitalistas mais importantes”
(Lenin, “O imperialismo, etapa suprema do capitalismo”).
Analisando o imperialismo, que se assenta sobre a formação dos monopólios e não mais sobre a
“livre empresa”, como apregoa o liberalismo, podemos retomar uma a uma as análises de Lenin no
“Imperialismo, etapa suprema do capitalismo”.
O “liberalismo” na nossa época apenas significa a total liberdade dos bancos, trustes, tubarões das
finanças e da indústria para submeter toda a economia das nações e impor suas leis aos
trabalhadores e aos povos.
Esse processo de concentração da produção, que se encontra numa escala gigantesca em todos os
países imperialistas (EUA, Japão, Inglaterra, etc.), pode ser constatado em nosso país ao
analisarmos a indústria metalúrgica do ABC, na década de 80, 40% dos 140 mil metalúrgicos
concentram-se em quatro empresas (VW, Ford, Scania, Mercedes - hoje 53 mil). Se, por exemplo,
analisarmos o mercado mundial de petróleo, veremos que é controlado por alguns trustes
gigantescos, as chamadas Sete Irmãs (Esso, Shell...). No caso da indústria automobilística acontece
o mesmo (Ford, GM, Chrysler, Fiat, Renault, VW...), e assim com os principais ramos da produção.
Comparando os lucros das grandes empresas com os das pequenas, veremos que as primeiras são
tudo e as últimas, nada.
A concentração da produção, criando as grandes empresas, que por sua vez situam-se de forma
privilegiada no mercado, pôs fim à livre concorrência. No imperialismo, existem grandes empresas
que se associam e controlam ramos inteiros da produção, vencendo sistematicamente suas
concorrentes, que são aniquiladas ou englobadas por aquelas. Essa é a origem do monopólio.
Os métodos para essa atividade foram enumerados por Lenin: 1-privação da matéria prima; 2-
privação de mão-de-obra mediante alianças dos capitalistas com sindicatos operários; 3- privação
dos meios de transportes; 4- privação de possibilidades de venda; 5- acordo com os compradores
para manterem relações unicamente com os cartéis; 6- diminuição sistemática dos preços com o
objetivo de arruinar os “estranhos"; 7- privação de créditos; 8- declaração de boicote.
A operação acima, que ainda é feita hoje, sofre no imperialismo uma diferença qualitativa. Isto
porque no imperialismo as operações bancárias sofreram um crescimento substancial e, ao mesmo
tempo, concentraram-se num número reduzido de bancos.
Nos dados da brochura de Lenin, entre 1912 -1913, 49% dos depósitos dos bancos alemães
concentravam-se em nove estabelecimentos e os restantes 51% distribuíam-se entre 166 bancos.
Essa concentração do sistema bancário, abrangendo o mercado financeiro do mundo inteiro, atinge
hoje um patamar ainda superior. Assim, num documento publicado pelo governo francês lê-se:
“Em 1982, a rede dos bancos franceses compreendia 762 implantações em 104 países. Em 1961 o
total das implantações não ultrapassava 201 unidades. A rede bancária francesa é hoje a terceira do
mundo. Esta formidável rede (na qual os sete primeiros bancos representam 80% das agências e
92% dos ativos no estrangeiro) não basta no entanto à França para ter um grupo do nível dos
gigantes que são o City Bank (110 países, 1700 implantações), o Bank of América (90 países) ou o
Barclay’s (1800 implantações)”.
No imperialismo, o banco reúne grandes quantias de capital e, ao mesmo tempo, tem em suas
mãos a conta corrente das empresas, permitindo-lhe “conhecer melhor” a situação econômica de seu
cliente, seus pontos frágeis etc. Este é o mecanismo pelo qual o banco disciplina o capitalista.
O disciplinamento dos capitalistas desenvolve-se e concretiza-se na união pessoal dos bancos com
as maiores empresas. Essa fusão se materializa na posse das ações e na participação dos diretores
dos bancos nos conselhos de administração das empresas.
A fusão dos bancos com as indústrias determina um aprofundamento ainda maior no processo de
fim da livre concorrência. Aqueles que não estão aliados perdem os créditos, sofrem boicotes etc.
Esta fusão dá origem ao capital financeiro. Este produz o surgimento da oligarquia financeira, que
controla a produção, determina os lucros, reunindo em suas mãos a maior parte do capital financeiro
mundial. Assim, vemos meia dúzia de bancos imperialistas (City Bank etc.) controlar e decidir
através da dívida externa o destino de uma grande nação como o Brasil e os demais países
endividados.
c) A Exportação de Capitais
A acumulação de capital, atingindo proporções gigantescas em poucos países, constitui um
“excedente de capital” o qual as oligarquias financeiras procuraram aplicar lucrativamente através
da exportação de capitais.
Os reformistas, que na nossa época nem sequer lutam por reformas verdadeiras, vêem nisso um
problema de “política”: o excesso de capital deveria ser investido nos próprios países para elevar o
nível de vida das massas. Mais uma vez nos defrontamos com o problema de entender o
capitalismo, cujo motor não é a satisfação das necessidades das massas e sim a produção do lucro
para os possuidores do capital. O excedente de capital no capitalismo foi e continua a ser usado
pelas oligarquias financeiras para dirigi-lo aos países atrasados, visando o aumento de seus lucros a
partir da exploração ainda maior ( baixos salários, condições políticas e sociais de exploração dos
trabalhadores...) de grandes contingentes de trabalhadores em outros países.
No imperialismo, a diferença entre o nível de vida dos trabalhadores nos países ricos e nos países
pobres é unicamente o resultado das conquistas sociais do proletariado. Esta não é uma situação
estável, pois a todo momento o proletariado dos países avançados sofre ataques em suas conquistas.
A exportação de capitais e sua evolução podem ser constatadas no quadro abaixo, extraído do livro
de Lenin:
Estes dados dão uma noção da evolução da exportação dos capitais no início do século.
A situação atual pode ser vista através do crescimento do lucro realizado no estrangeiro pelos
principais bancos americanos, entre 1970 e 1982:
Estabelecimentos Lucros no exterior Participação no
Lenin, em seu livro, cita o exemplo da indústria elétrica, na qual havia dois grandes monopólios
internacionais, AEG (alemã) e GE (americana) , que suprimiram a concorrência entre si em 1907.
Isto se deu através de um acordo de partilha do mundo. O truste americano recebeu “os EUA e o
Canadá” e ao truste alemão coube “a Alemanha, Áustria, Rússia, Holanda, Dinamarca, Suíça,
Turquia e os Balcãs”. Este acordo incluía também a cooperação entre os dois trustes com
intercâmbio de invenções e experiências. Com isto, criou-se um único truste “impossível de ser
superado”.
e) A Partilha do Mundo Entre as Grandes Potências
O surgimento do imperialismo ocorreu num momento em que o mundo já estava dividido pela
política colonial dos países capitalistas. O quadro abaixo ilustra esta situação.
1862 3,6
1893 42.0 20 _
1914 75-100 60 44
Em 1900 o globo já estava dividido. Não havia nenhum lugar sem dono para explorar. Para as
potências imperialistas, as colônias tinham o importante papel de fontes de matéria-prima e
consumidoras de produtos industrializados, funcionando, além disso, como receptoras dos capitais
exportados. No entanto, esta divisão do globo não correspondia à nova relação de forças entre os
países capitalistas. Existia uma diferença muito grande entre as possessões coloniais das grandes
potências em 1914:
km2 habitantes
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) tem o mesmo processo na sua origem: disputa pelo
controle dos mercados mundiais peias grandes potências imperialistas. Este é o verdadeiro sentido
político do imperialismo: a exploração de milhões de trabalhadores por uma oligarquia financeira
que gera na sua atividade a violência e a reação.
Mas, poderia comentar o leitor, tudo isso pode ter sido verdadeiro na época do colonialismo. Hoje
as colônias não são livres?
A verdade é muito diferente. A independência administrativa das ex-colônias não significou sua
independência econômica e, portanto, política, em relação às grandes potências que as dominavam
anteriormente.
A fora todo o rendimento obtido com as operações relativas à cobrança da dívida externa, os
capitalistas criam a especulação pura e simples: o empréstimo é cobrado com juros flutuantes ao
sabor dos interesses do credor. Para se ter uma ideia, em 18 anos (1971-1989) o Brasil pagou 122
bilhões de dólares de juros do serviço da dívida, o que é mais que o montante da própria dívida (111
bilhões de dólares).
A relação das oligarquias financeiras dos países imperialistas com a burguesia dos países
devedores é marcada por estreita dependência destas para com as primeiras. Assim, os
investimentos estrangeiros tomam um conteúdo importante ao financiar as burguesias locais para
explorarem os trabalhadores. Com efeito, esta dependência real faz com que o Estado burguês dos
países atrasados execute os planos dos imperialistas nos seus pontos fundamentais: a exploração até
o último limite das massas trabalhadoras.
A grande maioria dos políticos, inclusive os que se dizem de esquerda, consideram essas
afirmações de nosso programa equivocadas. Esse foi também um dos pontos mais contestados pelos
revisionistas que abandonaram o programa da Quarta Internacional, levando-a à destruição em 1953
(ler o capítulo V - A 4a Internacional).
O desenvolvimento gigantesco das técnicas e da produção após a Segunda Guerra Mundial seria,
segundo esses críticos, a prova de que o capitalismo conseguiu superar suas crises, adquiriu uma
“flexibilidade”, uma capacidade de “auto-regulamentação” que lhe oferece desde então uma
segunda juventude.
Quais foram as bases do aumento da produção e das técnicas após a guerra e quais são as
consequências atuais desta sobrevivência do imperialismo?
Para o capital financeiro, é necessário destruir tudo que o impeça de se apropriar diretamente da
mais-valia. Em particular, todas as conquistas sociais que foi obrigado a conceder ao final da
Segunda Guerra Mundial e na época das guerras de libertação dos países coloniais. Mas também,
todos os setores públicos que antes o capitalismo ascendente necessitava desenvolver e que se
transformaram em obstáculos no momento da destruição em massa das forças produtivas. Esta
orientação o conduz a provocar o enfrentamento com a classe operária, contribuindo para agudizar a
luta de classes e, assim, a resistência à aplicação desses planos.
Não há a menor das caracterizações do imperialismo feitas por Lenin em 1916 que não se
verifique atualmente. A concentração e centralização do capital é tal que os 200 primeiros grupos
mundiais representam o equivalente a 30% do PNB (Produto Nacional Bruto) mundial. Os grupos
industriais entraram numa luta concorrencial que não visa a abertura de novos mercados, mas uma
nova repartição dos mercados existentes.
As primeiras fases da recessão que se manifestaram nos anos 50 exprimiam, depois de 15 anos de
crise e guerra, o reaparecimento dos mesmos sinais da contradição entre a tendência ao crescimento
ilimitado da produção e os limites impostos pela forma privada de apropriação.
A economia de armamentos permitiu então manter, através das encomendas públicas americanas, a
produção em setores industriais como o mecânico, o aeronáutico etc., e realizar lucros. Mas não se
tratava absolutamente de uma demanda vinda do mercado, tratava-se de um estreitamento do
mercado que era artificialmente compensado pelos gastos militares.
Com a economia de armamentos, desenvolveu-se nos Estados Unidos a economia da dívida sobre
a base de déficits públicos. Uma massa de capitais fictícios cresceu assim ao longo dos anos,
expressão “deformada” da superprodução de capitais reais.
Engendrados pela economia de armamentos, pela economia da dívida e pelo conjunto das formas
parasitárias de “apoio” das economias (no rastro do “apoio” da economia dos EUA), os capitais
fictícios são a fonte das atividades especulativas. Hoje é secundário para o capital saber em qual das
relações com a produção se opera o lucro que realiza. Todo lucro realizado aparece sob a forma de
uma valorização do capital, quer este seja investido na especulação, na economia da destruição, na
droga ou na produção. Este caráter de certa forma indiferenciado de apropriação de lucros pelo
capital financeiro explica o atual crescimento das atividades especulativas em relação às atividades
produtivas. A sobrevivência do capital sobre a base de uma generalização do endividamento
(atualmente, 30 trilhões de dólares de endividamento mundial), o desenvolvimento gigantesco de
capitais fictícios marcam o triunfo da especulação, que não cria nenhum novo valor. No final dos
anos 60, as taxas de rentabilidade do capital e os índices de produtividade começaram a diminuir. O
imperialismo considerava que não era mais possível continuar a sustentar artificialmente as
economias. E o imperialismo ( os diferentes imperialismos) passa(m) a uma política de defesa
furiosa de seus lucros.
Em 1971, os Estados Unidos impõem a não conversão do dólar em ouro: o mercado mundial é
dominado pela política econômica norte-americana.
A alta do petróleo permite ao capital financeiro norte-americano se apoderar de uma parte da mais-
valia mundial em detrimento dos capitalistas europeus e japoneses.
1979/82: é a política das taxas de juros altas e do dólar forte e a política de desregulamentação que
os EUA impõem sobre os mercados dos países capitalistas partindo da defesa de seus próprios
interesses.
Como país atrasado, o Brasil sempre teve endividamento. No início do século, como
consequência das relações com o imperialismo, principalmente o inglês, o país assumiu diversos
compromissos pelos municípios e estados. Após uma moratória, o decreto-lei n° 6.019 de 23/11/43
consolida o pagamento daquela dívida. Assim, o Ministério da Fazenda passou a remeter
mensalmente ao banco NM, Rotschild & Sons em Londres uma média de 15 mil libras esterlinas à
disposição dos credores. Além desta, outras dívidas foram contraídas no início do século. Contudo,
o processo de endividamento sofreu um salto de qualidade a partir dos anos 60.
O excesso de capital existente nos países imperialistas, e em especial nos EUA, foi direcionado,
via empréstimos bancários, aos países atrasados com governos “dóceis''. Era uma saída para a crise
do próprio imperialismo. Os juros eram baixos na época, mas sujeitos a “flutuações", isto é, podiam
variar a cada momento. A aplicação dos recursos teve três destinos principais: financiamento de
empresas privadas brasileiras, que assim se associavam aos bancos imperialistas; financiamento de
obras faraônicas do governo ( Transamazônica, Ferrovia do Aço, etc) em grande parte fracassadas;
e corrupção (propinas, contas na Suíça, etc.). Ao mesmo tempo a política econômica do governo
provocava a falência de pequenas e médias empresas e sua absorção ou fusão com o capital
estrangeiro ou o grande capital nacional, tomador de empréstimos. Aliás, mais tarde o governo
“estatizou” as dívidas privadas, assumindo a maior parte delas sob sua responsabilidade.
O grande “crescimento econômico” fruto dos investimentos estrangeiros acelerou da noite para o
dia o processo de constituição de grandes concentrações de operários. As grandes indústrias
multinacionais ou mesmo a participação de capital externo nas empresas nacionais geraram a
exploração de grandes contingentes de trabalhadores. O crescimento do PIB (Produto Interno
Bruto) foi e ainda continua indo para as mãos dos capitalistas internacionais. O grande exército de
trabalhadores que se formou nesse processo persiste, é claro, numa situação de miséria absoluta.
A análise dos credores brasileiros dá os seguintes dados até 1990; dos US$ 114 bilhões, US$ 72
bilhões eram devidos aos bancos comerciais estrangeiros; US$ 7,3 bilhões a bancos brasileiros no
exterior e US$ 35 bilhões para instituições não bancárias como o FMI, Banco Mundial e Clube de
Paris. Dos bancos estrangeiros, ocupam lugar de destaque os bancos americanos, refletindo a
hegemonia do imperialismo americano.
O “milagre brasileiro”, com sua origem na importação de capitais, criou um enorme contingente
de proletariado novo. Este, por sua vez, sofreu diretamente os efeitos da rapina imperialista num
grau muito maior do que a classe operária dos países avançados. Isto porque este jovem proletariado
não possuía nenhum tipo de conquista a não ser uma tradição de lutas e organização.
Mecanismo de Reprodução e Crescimento da Dívida
Com efeito, no Brasil, a dívida de 6,6 bilhões de dólares, em 1971, cresceu para 111,9 bilhões de
dólares em 1989, o que representa um crescimento de 1.590%. Em 71 o governo pagava 344
milhões de dólares de juros e terminou os anos 80 pagando 11,2 bilhões de dólares ao ano, o que
representou um crescimento no pagamento anual dos juros de 3.155%, quase 100% a mais que o
próprio crescimento da dívida. Isto se deve ao mecanismo já citado dos juros flutuantes.
A exploração dos países atrasados é completada por uma série de artifícios que vão desde uma
política rebaixadora de preços para as matérias-primas que eles exportam, até o estabelecimento e
manipulação das taxas de juros pelos credores internacionais.
A contratação da dívida só gera benefícios aos grandes capitalistas. Os empréstimos são orientados
para a ação especulatória e os superinvestimentos. Aconteceu com a Transamazônica, projeto Jari,
usinas hidrelétricas, nucleares e muitos outros. Entre os capitalistas, todos lucram: bancos credores,
monopólios e os capitalistas nacionais. Já à classe operária e ao conjunto da nação oprimida cabe
pagar a conta das políticas de “ajuste” que o pagamento da dívida exige: arrocho salarial,
desemprego e subemprego, piora dos serviços públicos, em suma, miséria crescente.
Se é verdade que todos os capitalistas lucram, isto não pode apagar as diferenças nas quantias que
cabem a cada um. Os bancos internacionais são os maiores beneficiários do sistema. Para se ter uma
idéia, no ano de 1988 os bancos dos EUA tiveram um lucro recorde de 25,2 bilhões de dólares. Este
balanço não teria relevância se não fosse comparado ao fraco desempenho destes bancos em 1987,
coincidente com a moratória brasileira no pagamento dos juros e no serviço da dívida. Desta forma,
a retomada do pagamento da dívida em 88 foi a principal responsável pelo lucro absurdo obtido
pelos bancos americanos.
Há mais de dez anos, sob o rótulo de “planos de ajuste estrutural” definidos pelo FMI, pelo Banco
Mundial, pela Comunidade Econômica Europeia (CEE), os governos de todos os países do mundo
vêm aplicando uma política econômica cuja característica predominante é a destruição das forças
produtivas. O abismo entre os países dominados pelo imperialismo e os países desenvolvidos
aprofundou-se nesse período e é importante para “tomar o pulso” do capitalismo deste final de
século 20 examinar a situação dos países mais desenvolvidos.
Durante os últimos quinze anos, os 24 países mais ricos do mundo, agrupados na OCDE
(Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), perderam mais da metade dos
empregos existentes nos setores industriais de base (siderurgia, têxtil, estaleiros navais). Apenas na
CEE, a siderurgia não só perdeu metade de seus empregos nos arras 80, como também a outra
metade dos empregos restantes está ameaçada de desaparecimento até 1995. Nos estaleiros navais, a
produção da CEE sofreu uma queda de 50% neste período. Na França, 40% dos empregos no setor
automobilístico foram eliminados nos últimos dez anos. Em países como o Reino Unido, Bélgica,
Espanha, a produção manufatureira diminuiu em mais de 25 % nos últimos dez anos. Na França,
nos últimos quinze anos, o número total de operários ligados à produção não parou de declinar,
tanto em relação à população economicamente ativa como também em números absolutos.
Considerando o total de empregos, a parcela dos que estão diretamente relacionados com a
produção não para de regredir, em ritmo que vai se acelerando.
Segundo as estatísticas oficiais da OCDE, os 24 países deverão conviver com uma nova escalada
no desemprego e contar com 34 milhões de desempregados até o final de 1993. Só na CEE, um
relatório da Comissão de Bruxelas aponta 45 milhões de pobres (segundo os critérios oficiais) em
340 milhões de habitantes. Na Grã-Bretanha o desemprego atinge 10% da população
economicamente ativa. Nos Estados Unidos, os empregos nas indústrias manufatureiras
representavam em 1990 não mais que 17,3% do total de empregos não agrícolas, contra 22,4% em
1980 e 27,3% em 1970. Lá, o desemprego atinge cerca de 10 milhões de trabalhadores, além dos
milhões e milhões em situação precária.
O ritmo da supressão de empregos vai se acelerando. Mesmo as indústrias de ponta estão sendo
atingidas: 74 mil empregos eliminados na General Motors até 1995; 200 mil cortes no setor de
informática, na maioria nas grandes empresas americanas. Quanto às industrias aeronáuticas
americanas, elas perderam 117 mil empregos só em 1992 e preveem a continuidade da deterioração
nos próximos anos.
Mesmo o Japão, que até há pouco tempo parecia ter sido poupado pela crise, começa a conviver
com sinais de recessão, reconhecidos pela própria agência de planejamento econômico japonesa.
O capitalismo, que historicamente se justificava por sua capacidade de desenvolver as forças
produtivas, incluindo o desenvolvimento dos serviços e da técnica, chegou a um ponto de inversão
de todos os parâmetros. A destruição sistemática das forças produtivas põe um fim a toda
justificativa para a manutenção do sistema fundado na propriedade privada dos grandes meios de
produção.
É preciso ainda ressaltar que esta lógica destruidora teria ido ainda mais longe não fosse a
resistência da classe operária e dos povos. Defendendo-se contra os planos de morte que a
ameaçam, preservando suas conquistas sociais e seus sindicatos independentes, a classe operária se
afirma mais que nunca como o único setor da sociedade capaz de preservar a humanidade de uma
terrível degeneração.
Qual era a consequência da exportação de capitais para os países aos quais eles se destinavam? Ba
introduzia e desenvolvia até um determinado ponto -certamente, sob condições de uma abominável
exploração do trabalho humano - o modo de produção capitalista nesses países. Ao mesmo tempo
em que provocava uma moderação na evolução dos países exportadores, a exportação de capitais
estendia o capitalismo ao mundo inteiro.
Hoje, para restaurar as taxas de lucros, os grandes monopólios recorrem ao deslocamento das
indústrias ocidentais: o trabalho humano em Taiwan ou no México custa dez vezes menos que nos
Estados Unidos ou países capitalistas. Entretanto, o essencial das exportações de capitais é hoje de
um outro tipo.
O Imperialismo de Tipo Usurário
O imperialismo senil deste final de século 20 privilegia a exportação de capitais de tipo usurária.
Assim, os países para onde se dirigem os capitais exportados são integrados ao mercado mundial
por relações de desagregação e não mais de desenvolvimento das forças produtivas. Longe de
permitir um desenvolvimento, mesmo limitado e contraditório, do capitalismo no mundo inteiro, o
imperialismo do fim do século aparece caracterizado, em primeiro lugar, por um capitalismo
usurário, capitalismo de putrefação e de destruição das forças produtivas.
Desta forma, os dados referentes aos países desenvolvidos não devem enganar. Anualmente,
nesses países, os pobres estão cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos. O relatório anual
dos prefeitos das grandes cidades americanas, publicado em dezembro de 1992, ressalta, por
exemplo, um forte aumento do número dos sem-teto e de pessoas vítimas da fome. O número de
pedidos de ajuda alimentar de urgência saltou 18% em reação ao ano anterior; dois entre três
pedidos são de crianças ou de seus pais. Quanto aos pedidos de abrigo, houve um aumento de 14%.
Os prefeitos afirmam que, por falta de recursos, esses pedidos foram rejeitados na proporção de
21% e 23% respectivamente.
Fala-se de “ajuda aos países do Terceiro Mundo”. Na realidade não há, mesmo que formalmente,
qualquer ajuda. Pois a riqueza extraída dos países pretensamente beneficiários é muito mais
importante que a ajuda que lhes é concedida. Tomemos como exemplo o ano de 1991: os juros da
dívida pagos pelos países atrasados somaram 167 bilhões de dólares. Nestes mesmos países as
multinacionais lucraram 34 bilhões de dólares. No total, 201 bilhões de dólares foram repassados
aos países imperialistas. Mesmo descontando-se a “ajuda” destes últimos aos países pobres (69
bilhões de dólares), o resultado é que foram transferidos líquidos 132 bilhões de dólares.
A Recolonização
O que se entende por “recolonização”? Antes, as potências imperialistas, exportando capitais para
os países coloniais, os países dominados, visavam a produção da mais-valia, que era essencialmente
apropriadas pelos detentores dos capitais investidos: isso era a colonização. Hoje, as medidas
impostas pelo FMI e outras agências do imperialismo visam retirar uma parte crescente da renda
nacional dos países dominados, dos Estados sobre os quais se exerce uma pressão constante pelo
controle de sua política e, cada vez mais, uma participação direta nos campos econômicos,
financeiros, do comércio exterior, das Forças Armadas, da polícia, etc.
É neste sentido que se pode falar de um processo de recolonização, sob a égide não só do FMI, do
Banco Mundial, mas também das Nações Unidas, que organizam uma verdadeira tutela dos países
pobres, uma dominação quase direta para coagi-los a uma reestruturação em função das exigências
do capital internacional. Processos de recolonização que levaram à multiplicação das intervenções
armadas substituindo, de fato, uma administração americana, francesa, japonesa, ou outra qualquer,
por um Estado desagregado, tudo sob a cobertura da ONU.
Assistimos, de fato, a um sequestro direto da mais-valia produzida nos países dominados, através
da economia da dívida. O imperialismo reduz drasticamente os orçamentos de saúde, educação,
proteção social, habitação e também obriga esses países a produzirem para a exportação, destruindo
as bases da economia nacional, a produção agrícola alimentar, a pequena indústria, o serviço
público. . . tudo o que é necessário para valorizar o capital (a recolonização tem ainda um aspecto
político, que abordaremos adiante).
As políticas de ajuste estrutural desenvolvidas pelo FMI e que dizem respeito, particularmente, a
redução dos gastos públicos, privatização das empresas públicas e sua reestruturação, obrigam os
países dominados a vender uma parte do patrimônio nacional às potências capitalistas.
É nesse quadro que se situa o Tratado de Livre Comércio (TLC ou NAFTA, de sua sigla em
inglês) elaborado pelos governos americano, canadense e mexicano.
O futuro imediato que a economia de mercado capitalista promete para o mundo é o que vemos na
África. A tendência geral do capitalismo de nossa época é o processo de recolonização. Incapaz de
investir produtivamente em grande escala, incapaz de ampliar as relações de produção, o capital
destrói as forças produtivas. A recolonização não significa sequer a integração num mercado
mundial em plena expansão, mesmo através dos métodos abomináveis do início do século. Trata-se,
hoje, de uma pilhagem sem outra perspectiva senão a da destruição das bases econômicas de cada
país, a destruição das forças produtivas.
“Há dez anos, se aplica nos países ocidentais a seguinte fórmula (que se pretende aplicar
atualmente aos países da Europa do Leste): ’é preciso demitir e reduzir o orçamento social do
Estado, cortando hoje os serviços públicos para favorecer os investimentos de amanhã, que criarão
os empregos de depois de amanhã.’
Eis o resultado da aplicação de dez anos dessa política na França: 316 bilhões de francos em
cortes orçamentários oferecidos em exoneração ao patronato, cujos investimentos especulativos
passaram de 39 bilhões de francos para 326 bilhões. Em contraposição, os investimentos produtivos
não pararam de decrescer e o número de desempregados passou de 1,8 milhão para 3 milhões, aos
quais se somam 4 milhões de trabalhadores em situação precária.
O governo cortou milhares de vagas nas escolas, leitos nos hospitais, centenas de estradas de ferro
foram suprimidas, bem como milhares de cargos nos serviços públicos. A mesma política é aplicada
na Alemanha, na Espanha, na Itália e em todos os países ocidentais. Da mesma forma, no Estado
mais poderoso, nos EUA, o governo reduziu em 150 milhões de dólares a parte do orçamento
destinada aos serviços públicos. Na área da saúde e educação, as privatizações afetam em particular
as populações mais pobres. Paralelamente, a curva de desemprego sobe cada vez mais, atingindo,
atualmente, cerca de 10 % da população economicamente ativa.
Reacionário em toda linha, o sistema fundado na propriedade privada dos grandes meios de
produção se encarrega de desmantelar metodicamente cada uma das conquistas sociais coletivas que
os trabalhadores arrancaram durante mais de um século e meio de combate: seguridade social,
escola pública, saúde, etc, provocando a resistência crescente das massas operárias e camponesas e
dos povos oprimidos.
Nos países da América Latina e da África, as privatizações, que decorrem da política da dívida
são uma das formas de pilhagens desses países, trazem consequências diretas sobre a soberania
nacional. As privatizações atingem primeiramente o petróleo, uma das principais riquezas naturais
de vários países da América Latina. As empresas petrolíferas nacionalizadas no Equador, México,
Peru, se constituíram como empresas nacionais numa época em que as grandes companhias
americanas pretendiam controlar diretamente a produção de petróleo. A própria existência dessas
empresas estatais desempenhou um importante papel na constituição da independência política
desses Estados.
Privatização e Recolonização
Ora, assistimos hoje, tanto no México como no Equador ou no Peru, a uma verdadeira liquidação
das empresas nacionais de petróleo, em benefício das multinacionais. No Equador, a liquidação da
empresa nacional de petróleo, responsável por 40% das divisas do país, visa fazer frente a uma
dívida externa que representa 100% do Produto Interno Bruto do país. A liquidação dessas
empresas acarreta uma verdadeira recolonização da América Latina, bem como de uma série de
países da África e Ásia, onde a indústria nacional é destruída e oferecida aos investidores
estrangeiros, em particular aos americanos. No México, por exemplo, das 1.115 empresas estatais
existentes em 1982, restam hoje 241. No quadro desses processos de privatização, cem mil
trabalhadores perderam seus empregos.
Esta política de privatização segue de mãos dadas com uma política de brutal liquidação dos
serviços públicos, dos serviços de saúde, dos serviços escolares, tudo para pagar a dívida.
Consequências? O jornal francês “Liberation” (6 de agosto de 1992) anunciou que, a partir de 31 de
agosto, não mais haverá trens na Argentina. Em atendimento às exigências do FMI, o governo
propôs a formação de “consórcios estrangeiros para participar de uma eventual privatização dos
serviços férreos”, mas não houve interessados. Outra consequência: o brutal desenvolvimento da
miséria na América Latina. Doenças como o cólera ressurgem com força no continente e semeiam a
morte, por falta de condições sanitárias elementares. 204 milhões de latino-americanos, 40% da
população do continente, vivem abaixo do índice oficial de pobreza.
A privatização afeta igualmente a agricultura. Num país como o Senegal, onde as terras são
nacionalizadas, o Banco Mundial pressiona para obter a desnacionalização. Isso passa pela
privatização em curso da Caixa de Crédito Agrícola, acarretando uma concentração da agricultura e
a eliminação de grande número de trabalhadores rurais. Mas isso também é verdade para outros
países da África (como a Costa do Marfim) e, de outra forma, para a agricultura europeia.
Nesta fase de decomposição crescente, o sistema da propriedade privada dos meios de produção
gera os fatores de sua desagregação. Fatores de desagregação no plano econômico, na medida que a
relação entre a especulação e a produção tende sempre a pesar em favor daquela. Fatores de
desagregação social, na medida que para combater os efeitos de sua crise, o sistema é levado a
golpear cada vez mais duramente a classe operária e os povos, provocando uma resistência que por
si só é um obstáculo aos planos de rentabilização do capital. Fatores de desagregação política na
medida que a crise do sistema alimenta uma crise de desmantelamento de todas as instituições, dos
Estados, das alianças, aumenta as contradições interimperialistas, alimenta os fenômenos de
confronto e até mesmo de guerra.
1 - INTRODUÇÃO
‘... As premissas objetivas da revolução proletária não estão somente maduras: elas começam a
apodrecer. Sem vitória da revolução socialista no próximo período histórico, toda a civilização
humana está ameaçada de ser conduzida a uma catástrofe. Tudo depende do proletariado, ou seja,
antes se mais nada, de sua vanguarda revolucionária. A :_se histórica da humanidade reduz-se à
crise de direção revolucionária”.
Qual o significado dessa afirmação? Se observarmos a história do nosso século, o séc. 20, veremos
que o capitalismo - que no século anterior, de alguma maneira, trouxera progresso material e
cultural à humanidade - passou a destruir cada vez mais as condições da existência humana e até
mesmo aqueles fatores de progresso que ele havia criado.
Essa situação tem empurrado as massas à ação em todos os continentes, contra a barbárie
capitalista. De fato, o que não faltou neste século foram revoluções e combates revolucionários.
Contudo, em sua esmagadora maioria, eles foram derrotados pela burguesia, ou tiveram seus
resultados deformados (como vimos hoje no leste europeu). E isto foi devido essencialmente à
política traidora dos partidos e organizações colocados à frente dessas mobilizações, os quais,
durante muito tempo receberam a confiança da maioria dos trabalhadores organizados, na maioria
dos países. Isso é o que o Programa de Transição chama “a crise de direção revolucionária”.
Assim, verificamos que os partidos que a classe operária construiu, em épocas distintas, para
tomar o poder das mãos da burguesia, passaram a defender a ordem capitalista. Tomaram-se
aparelhos burocráticos - isto é, com interesses próprios, distintos das massas que dizem representar -
dirigindo o movimento operário segundo orientações contrárias aos interesses do proletariado, isto
é, contra-revolucionárias. Graças a isso, o capitalismo, apesar de sua falência objetiva, conseguiu
fôlego para sobreviver até nossos dias.
No entanto, essa sobrevivência tem forçado as massas a lutarem cada vez mais pelas
reivindicações mais elementares negadas pelo capitalismo apodrecido, entrando em choque com os
aparelhos que as dirigem, seja na China, nos países da ex-URSS, ou na Europa Ocidental, como na
França e Itália. As massas colocam em questão tanto os ex-PCs quanto os PSs. Isto abre um terreno
enorme para a luta por uma Internacional Operária revolucionária. Terreno que nossa corrente a 4ª
Internacional reproclamada em junho de 1993, vem procurando preencher ao impulsionar com
outras forças, o AcIT (Acordo Internacional dos Trabalhadores). Partimos da afirmação contida no
Programa de Transição:
“...cada vez mais seus esforços desesperados (dos aparelhos contra-revolucionários) para deter a
roda da história demonstrarão às massas que a crise de direção do proletariado, que se transformou
na crise da civilização humana, só pode ser resolvida pela 4a Internacional”.
Sem exigir concordância prévia com essa conclusão (mas também sem escondê-la de ninguém,
pois consideramos que a história dos últimos 50 anos só a confirmou), procuramos associar à luta
por uma nova Internacional o maior número de forças rompidas ou em ruptura com os aparelhos,
contando com a experiência da ação e da discussão em comum para convencê-los daquela opinião.
(A esse respeito, o leitor encontrará maiores informações no próximo capítulo “ A 4a
Internacional”).
Para combater os aparelhos e sua influência (que exerce pressões sobre partidos operários
independentes como o PT), os militantes precisam conhecê-los. Neste texto, vamos abordar as
origens, degeneração e crise dos partidos socialistas (social-democratas) e comunistas (stalinistas).
2.1 - A ORIGEM
A social-democracia surgiu no final do séc. 19, com a formação dos grandes partidos socialistas
na Europa (França, Alemanha, Inglaterra, Itália, etc.). A fundação da 2a Internacional, em 1889,
unificando os partidos socialistas existentes e os novos que vinham surgindo, representou a
continuidade do combate dos marxistas pelo partido revolucionário internacional do proletariado.
Continuidade não apenas física (Engels, ainda vivo, contribuiu para a fundação da Internacional; os
principais dirigentes social-democratas na França e Alemanha eram discípulos diretos de Marx),
mas principalmente política. A base do programa da 2* Internacional era o Manifesto Comunista de
1848, redigido por Marx e Engels como síntese das posições políticas do socialismo científico.
Além disso, a construção da Internacional levava em conta o balanço da experiência da Comuna de
Paris , quando a primeira tentativa de tomada do poder pelos operários terminou derrotada devido
ao desarmamento político da sua direção, fortemente influenciada pelo anarquismo.
No final do século 19, o Partido Operário Social-Democrata Alemão contava com mais de um
milhão de filiados, dezenas de parlamentares, tinha influência dirigente no movimento sindical,
editava jornais legais, etc. Esse partido era o mais forte da 2a Internacional. Outros partidos
socialistas, noutros países, avançavam na mesma direção. Como fruto desse fortalecimento, a classe
operária arrancou importantes conquistas sociais dos patrões, como a jornada de trabalho de 8
horas, garantias trabalhistas, liberdade sindical, direito de greve, etc.
b) Degeneração
Em agosto de 1914, os governos imperialistas das principais potências da Europa solicitaram aos
Parlamentos desses países a concessão de créditos de guerra nos orçamentos nacionais. Com a
aprovação dos mesmos, começava a mais terrível carnificina já havida até então na história: a 1a
Guerra Mundial (1914-1918), que deixou um saldo de milhões de mortos, feridos e mutilados, além
de miséria e devastação brutais. Tudo para que as grandes potências imperialistas decidissem qual
delas dominaria a produção e o comércio mundiais, com quem ficaria a posse das colônias na
África e Ásia, etc. Pela primeira vez, demonstrava-se praticamente o grau de apodrecimento a que
chegara o capitalismo na era imperialista, obrigado a organizar a destruição maciça de forças
produtivas para continuar a existir.
Então, produziu-se um fato terrível para o movimento operário: os deputados socialistas, com
raríssimas exceções, votaram a favor dos créditos de guerra para os seus governos! Agindo assim,
eles e as direções de seus partidos (que não os puniram por essa monstruosa traição) tomaram-se
cúmplices da carnificina imperialista, carrascos dos trabalhadores - usados como bucha de canhão
na guerra entre os patrões imperialistas.
Veja-se, por exemplo, a maneira oportunista como Kautsky (um dos principais dirigentes social-
democratas na Alemanha e um dos principais teóricos marxistas antes de degenerar politicamente)
defendia o voto nos créditos de guerra:
‘Todos tem o direito e o dever de defender sua pátria; o internacionalismo verdadeiro consiste em
reconhecer esse direito aos socialistas de todas as nações, inclusive da nação que guerreia contra
a minha...”.
A resposta a Kautsky (e a todos os “social-traidores”, como passaram a ser chamados) foi dada
pela pequena minoria de internacionalistas que combatiam o oportunismo na 2a Internacional, como
Karl Liebknecht (o único deputado social-democrata alemão a votar contra a guerra, declarando no
Parlamento: “Abaixo a guerra e viva a revolução!”), Rosa Luxemburgo, Trotsky e Lênin. Este
último - que fundara a Fração Bolchevique no partido social-democrata russo, a qual mais tarde se
tornaria um partido independente e dirigiria a revolução proletária vitoriosa na Rússia - comentou
assim as palavras cínicas de Kautsky citadas acima:
Ao mesmo tempo em que caracterizava esse fato como síntese da “falência da 2a Internacional”
(nome do livro que escreveu a respeito), Lênin procurou explicar, à luz do método marxista, essa
degeneração. Ele situou-a como resultado da passagem do capitalismo para a sua última etapa, o
imperialismo, com o fim das revoluções burguesas e nacionais.
Agora, na época imperialista, “era das guerras e revoluções” segundo Lênin, eram necessários
métodos mais audazes, mais firmeza e coragem, maior independência das instituições da burguesia,
para poder defender os interesses dos trabalhadores. E nisso, a maioria da 2a Internacional
fracassou. Tomou-se então refém e por fim cúmplice da burguesia na carnificina imperialista.
Depois do “atestado de óbito” passado por Lenin, Rosa, Trotsky à 2a Internacional, como explicar
sua sobrevivência? Em primeiro lugar o que faliu em 1914 foi uma organização internacional de
combate pelos interesses do proletariado. Ao mesmo tempo o apoio a governos burgueses, a política
de alianças com a burguesia imperialista, significa o fortalecimento do aparato da social-democracia
como política reacionária, política de divisão do proletariado a serviço da classe inimiga. O próprio
imperialismo necessita -como condição de sua sobrevivência- do apoio sistemático dos aparelhos
sindicais e partidários da social-democracia para frear o movimento operário, para assegurar a
manutenção do seu sistema de exploração em escala mundial. A social-democracia converteu-se
numa corrente internacional do movimento operário subordinada e sustentada diretamente pelo
imperialismo.
Assim na Alemanha, ao final da 2a Guerra Mundial (1945), fica clara a divisão de tarefas entre a
social-democracia e o stalinismo. O SPD (Partido Social-Democrata), partido mais forte da Interna-
cional Socialista (IS), sustentado diretamente pelo imperialismo norte-americano, no lado ocidental,
assim como o PC, subordinado à burocracia da URSS, no lado oriental, garantem de comum acordo
a divisão da nação alemã e de seu proletariado. Um “denominador comum” dos partidos social-
democratas é que seu alinhamento à sua própria burguesia é acompanhado de uma submissão ao
imperialismo mais forte. Desde o final da 2a Guerra, os partidos da IS estiveram na “vanguarda" da
defesa das “instituições” ou “construções internacionais” que correspondiam à hegemonia do
imperialismo dos EUA (Plano Marshall, papel da ONU, OTAN, Mercado Comum Europeu, etc...).
a) Origens
Nos seus quatro primeiros congressos (1919, 1920, 1921 e 1922), realizados ainda em vida de
Lênin, a Internacional Comunista elaborou resoluções históricas da maior importância, abrangendo
desde a avaliação da situação política e econômica do imperialismo após a guerra, até a estratégia e
a tática da revolução proletária. Questões como a da necessidade da Frente Única Operária contra a
burguesia, da Frente Única Anti-Imperialista nos países atrasados e da participação dos comunistas
nas eleições e nos parlamentos burgueses; questões como a forma de organização dos partidos
comunistas, baseados no centralismo democrático, e suas tarefas na revolução, deram a base para o
desenvolvimento de uma verdadeira política revolucionária em escala mundial, abrindo uma nova
alternativa frente à social-democracia corrompida pela burguesia. Em alguns anos, os partidos
comunistas em países como a França, Alemanha, Itália e outros, passaram a disputar palmo a palmo
a direção das massas com a social-democracia. Mas isso não ocorreu de imediato, pois os PC’s
começaram pequenos e a social-democracia, como dissemos, ajudava ativamente a reprimir os
núcleos de revolucionários existentes em cada país.
b) Degeneração
Os marxistas sempre souberam que a vitória definitiva do socialismo só poderia ocorrer a nível
mundial, substituindo globalmente o modo de produção capitalista, que já é internacional. Por isso,
o destino da revolução russa estava totalmente ligado ao da revolução mundial. Mas a vitória desta
não foi rápida como esperavam os bolcheviques e os dirigentes da 3a Internacional.
A Rússia era economicamente atrasada. O primeiro Estado operário da história teve ainda por
cima que enfrentar a guerra civil e a invasão do país por exércitos estrangeiros.
A situação de isolamento e miséria permitiu surgir no interior do Estado operário uma camada de
administradores com controle cada vez maior das decisões. Formou-se assim uma burocracia
diretamente ligada ao Estado soviético que, em pouco tempo, conseguiu ocupar também os
principais postos no PCUS (ex-Partido Bolchevique). A supressão dos partidos de oposição, devido
à guerra civil, e a proibição (pela primeira vez em vinte anos de existência do partido) do direito de
tendência e de fração no PCUS - medida que se pretendia apenas provisória mas acabou tornando-
se definitiva - criaram as condições para que essa burocracia deslocasse a classe operária,
enfraquecida pela guerra civil e ainda minoritária no país, tomando o seu lugar no comando do
partido e do Estado.
'Todos os esforços de Stalin, com o qual seguiam nessa altura Zinoviev e Kamenev, dirigiram-se
desde então para a libertação do aparelho do partido do controle de seus membros. Stalin foi,
nessa luta pela "estabilidade" do Comitê Central, mais consequente e mais firme que seus aliados.
Acreditava profundamente que a construção do socialismo era de ordem nacional e administrativa.
Considerava a Internacional Comunista um mal necessário de que necessitava enquanto dela
pudesse tirar partido para questões de política externa. O partido só tinha sentido aos seus olhos,
como a obediente base dos secretários do Estado.
Simultaneamente com a teoria do socialismo num só país, uma outra foi formulada para o uso da
burocracia, segundo a qual, para o bolchevis-mo, o Comitê Central é tudo, o partido não é nada..
Aproveitando a morte de Lênin, a burocracia iniciou a campanha de recrutamento chamada de
“promoção de Lênin”. As portas do partido, até então bem guardadas, escancararam-se
completamente: os operários, os empregados e os funcionários para ele se precipitaram em
massa. . O centralismo democrático deu lugar ao centralismo burocrático. Os serviços do partido
foram radicalmente remodelados. A obediência tomou-se a principal virtude do bolchevista. Sob o
estandarte da luta contra a oposição, iniciaram-se as substituições de revolucionários por
funcionários. A história do partido bolchevique tomou-se a da sua rápida degenerescência".
A “teoria” do socialismo num só país, defendida a partir de 1924 por Stalin e Bukarin, contradizia
tudo o que os marxistas, Lênin e os bolcheviques haviam ensinado ao proletariado. O capitalismo,
como sistema internacional de relações sociais e econômicas, baseado no mercado mundial, só pode
ser substituído efetivamente por outro modo de produção em escala internacional. Evidentemente, a
revolução proletária começa num ou noutro país, mas sua extensão mundial é necessária para
derrotar o imperialismo. Por isso, Marx afirmava no Manifesto Comunista que a revolução é
nacional na sua forma, mas internacional no seu conteúdo. A convivência entre o imperialismo e
um ou alguns Estados operários só pode levar a conflitos crescentes, em que o proletariado dos
países capitalistas tem como aliado o Estado operário na luta contra a burguesia. Essa luta só
terminará pela vitória de um ou outro campo. Era o que Lênin repetia insistentemente, com sua
famosa pergunta: “Quem vencerá?”
A burocracia substituiu essa concepção marxista, internacionalista, pela idéia de que seria possível
construir o socialismo de forma completa nas fronteiras isoladas de um só país.
A maior consequência prática da teoria do socialismo num só país foi o esvaziamento da IC como
instrumento da revolução mundial. De fato, se bastavam os esforços do proletariado soviético para
construir o “paraíso socialista", para que comprar a briga com a burguesia em escala mundial?
Bastava “neutralizá-la”, impedi-la de invadir a URSS, fazer amizade com ela... . E isso teve
consequências sobre todos os partidos da Internacional.
Na China, a revolução esteve na ordem-do-dia durante a maior parte dos anos 20. A burguesia
formou um partido nacionalista chamado Kuo-Min-Tang. E Stalin orientou o PC Chinês a
dissolver-se nele privando o proletariado de seu próprio partido independente. Quando os operários
tentaram revoltar-se, foram massacrados (caso da revolta de Xangai, maior cidade chinesa). Mas o
chefe do Kuo-Min-Tang, general Chiang-Kai-Chek, foi nomeado presidente de honra da
Internacional Comunista! Tentando depois desfazer-se das críticas incômodas da Oposição de
Esquerda internacional, dirigida por Trotsky contra a burocracia, esta ordenou uma insurreição
operária em Cantão, cidade portuária da China. Sem preparação, terminou em massacre. Foi uma
aventura irresponsável, representando a outra face da moeda da política oportunista da burocracia,
de apoio à burguesia.
Na Alemanha, em 1933, a política traidora da IC levou à maior derrota da classe operária, com a
ascensão de Hitler e do nazismo. A política do PC Alemão, diretamente orientado pela IC, foi de
dividir a classe operária. Esta estava organizada em dois partidos principais: o Comunista e o
Social-Democrata, ligado à 2ª Internacional. A ofensiva anti-operária da burguesia, apoiando os
bandos nazistas, exigia a Frente Única Operária, política de luta pela unidade dos trabalhadores e
suas organizações, que deveria obrigar os dirigentes social-democratas, pressionados por sua
própria base, a unir-se ao PC na luta contra Hitler. Mas o PC Alemão declarou que os socialistas
eram “social-fascistas - irmãos gêmeos dos nazistas” e deixou que Hitler chegasse ao poder frente a
um proletariado dividido. O resultado foi o massacre da classe operária mais forte da Europa, cujas
organizações (sindicatos e partidos, inclusive o PC) foram dissolvidas e suas lideranças liquidadas
pelo nazismo.
Por isso, a Oposição de Esquerda internacional, liderada por Trotsky, que até então lutava para
regenerar a IC , decidiu a partir daí lutar para construir uma nova Internacional - a 4a - já que a 3a
Internacional demonstrava, na tragédia alemã, estar perdida para a revolução proletária. A ausência
de qualquer autocrítica, em qualquer dos partidos da Internacional, passados seis meses da vitória
de Hitler, convenceram definitivamente Trotsky e a Oposição disso. Ele afirma em “A Revolução
Traída”:
“Presentemente, a IC não passa de um aparelho perfeitamente dócil, pronto a todos os zigue-
zagues a serviço da política externa soviética”.
Em Yalta (URSS) e Potsdam (Alemanha), em 1945, Stalin reuniu-se com os dirigentes maiores do
imperialismo (governos dos EUA e Inglaterra), para discutir o espólio da guerra. Em conjunto,
dividiram o mundo em “esferas de influência”. O ponto central dessa divisão era a separação da
Alemanha em dois Estados, um sob controle da URSS e o outro, das potências imperialistas. Mais
uma vez, a classe operária alemã era dividida a serviço da contra-revolução. Em nenhum lugar do
mundo, previa-se a destruição do capitalismo. Ao contrário, Stalin jogava a força dos PC’s para
manter a ordem burguesa.
Terminada a 2a Guerra Mundial, o imperialismo mundial teve que recuar frente à vaga
revolucionária, mas a pressão econômica e militar sobre a União Soviética não foi abrandada a
“guerra fria”, isto é, a pressão do imperialismo, estava subjacente desde a criação da União
Soviética, visando a sua reintegração ao mercado mundial da propriedade privada.
Apenas firmados os acordos após um breve período de reconstrução dos estragos causados pela
guerra, reencontrou o conjunto do mercado mundial em que as forças produtivas sufocam na
camisa-de-força da propriedade privada dos Estados nacionais. Com a instituição do Pacto
Atlântico e da guerra-fria, a economia de armamentos se tornou o motor da economia mundial até
que ela esgotasse seus efeitos , para finalizar na mais severa crise que o capitalismo jamais
conheceu.
Mas, como diz o Programa de Transição, “as leis da história são mais fortes do que os aparelhos”.
No Leste, as massas foram tão longe na expropriação das propriedades capitalistas que a própria
burocracia não conseguiu restaurá-las. Seus intentos de formar governos burgueses apoiados pelos
PC’s e que fossem neutros em relação à URSS fracassaram. A burguesia não pôde retornar. De fato,
a sociedade já tinha sido transformada pelo combate dos trabalhadores e o único Estado possível já
não era o Estado burguês, mas o Estado operário. Percebendo isso, a burocracia tratou logo de
impedir o controle dos operários sobre os novos Estados, erguendo-os desde o início com base
numa estrutura burocrática rígida: regime de partido único (PC’s cuidadosamente selecionados e
depurados por Moscou), sindicatos atrelados ao Estado, repressão política e cultural, etc. Em breve,
explodiram as primeiras revoltas operárias e populares contra esses Estados deformados
burocraticamente: na Alemanha Oriental em 1953, na Hungria e Polônia em 1956, na Tche-
coslováquia em 1968... Todas elas foram afogadas em sangue pelos tanques soviéticos, sob a
cobertura do “Pacto de Varsóvia” montado por Kruchev, sucessor de Stalin com os Estados-satélites
do Leste.
Na China, no Vietnã e mais tarde em Cuba, os esforços da burocracia não conseguiram impedir a
revolução proletária. Nalguns casos (China), ela foi vitoriosa mesmo sob a liderança dos próprios
PC’s, levados pela insurreição das massas a ir muito mais longe do que suas direções pretendiam.
Noutros casos (Cuba), contra esses mesmos partidos - que, depois de derrotados, trataram logo de
recompor-se com a direção de Castro que esteve a frente de um processo revolucionário , atrelando-
a à política externa do Kremlin (ver o caderno "A 4a Internacional"). Em todos esses casos, a
ausência de partidos operários revolucionários levou as direções locais a caírem nos braços da
burocracia soviética. O resultado foi a bu-rocratização desses novos Estados, desde o seu início
(partido único, etc.).
A crise mortal que atravessa o aparelho stalinista é irreversível. E isto porque as bases da
dominação burocrática na ex-URSS não correspondem mais às relações de forças entre as classes a
nível internacional e no interior do que foi a União Soviética. Os PCs, aparelhos selecionados como
agências do Kremlin estão destinados a desaparecer. Entretanto daí não concluímos que eles não
joguem mais um papel contra-revolucionário.
Enquanto sobreviver um aparato, mesmo profundamente abalado e desmembrado pela crise, os
PCs e seus restos tratarão de jogar um papel contra-revolucionário.
A Internacional Socialista, como organização internacional, vive também uma crise que
acompanha o desabamento do aparato stalinista. Seu objetivo é a manutenção da "nova ordem
mundial”, que o imperialismo busca impor.
Hoje, na URSS, a situação é marcada por uma briga de facções dos restos do antigo aparato
stalinista, que, como gangues mafiosas, disputam entre si quem melhor servirá ao FMI. A crise
também perpassa os estados da ex-URSS, onde os chamados “conflitos nacionais” são a capa para
disputas dessas gangues pelo poder. O imperialismo não conseguiu encontrar em nenhuma fração
da nomenklatura uma representação política com real influência. O desabamento do Kremlin e a
explosão da URSS significaram a desarticulação de todo o aparelho de estado. E nesta crise de
decomposição, o caráter mafioso desses destroços da nomenklatura só fazem acelerar a crise de
desmantelamento dos restos do aparelho de estado.
as conquistas arrancadas pela classe operária; o papel de “refúgio” para parcelas crescentes da
classe que recusavam o stalinismo, o que gerou uma “mistura” entre aqueles que negavam a
capitulação dos PCs diante da burguesia com os organizadores de enormes crimes contra a própria
classe operária, os partidos da IS.
O primeiro elemento está abalado profundamente pelas exigências do próprio imperialismo. Como
instrumento da aplicação dos planos destrutivos da burguesia mundial (que sozinha não pode fazê-
lo), os partidos da IS assumem uma responsabilidade direta diante das massas pela piora de suas
condições de vida, particularmente a partir de 1980.
Para aplicar estes planos a IS mobiliza todas suas forças para defender as instituições dos Estados
que governa, o que faz com que o aparelho desses partidos se confunda cada vez mais com o
aparelho de Estado. A vida própria desses partidos se toma cada vez mais reduzida.
Em relação à questão chave do rompimento com a política de pagamento da Dívida Externa, todos
eles se situam no marco de negociações que mantenham os laços de subordinação na nação atrasada
ao capital imperialista.
Não é, por outro lado, a partir das posições ocupadas pelos partidos filiados em seus respectivos
países qua a IS maneja sua ofensiva sobre as organizações independentes ou de massas da América
Latina, ainda que possa utilizá-los como ponto de apoio.
A única conclusão prática que pode ser tirada numa situação mundial onde se verifica que em
cada questão da vida econômica, social e política, o imperialismo é a “reação em toda a linha”
como já dizia Lenin.
Para a 4a Internacional, dar hoje um sentido prático a essas palavras, é propor a ação comum, em
escala internacional, a todas as forças que desejam defender, na prática e realmente, os interesses da
classe operária em seu conjunto. Isto é, engajar-se, em escala internacional e em cada país, em uma
política de frente única que ajude a unidade de ação da classe operária e de suas organizações,
contra a guerra, a exploração e os planos do FMI.
LEITURAS
Básica:
Hoje, ninguém, do lado dos capitalistas, procura esconder o fato de que essa luta, como aliás toda
a política e a economia, tomou-se internacional, mundial. Um exemplo, no final da última guerra
mundial, em 1945, foi o agrupamento dos países imperialistas e dos bancos internacionais,
fundando o FMI e o Banco Mundial, e pouco mais tarde a Comunidade Econômica Europeia
(CEE), para tentar controlar o conjunto da economia mundial -quer dizer, organizar a pilhagem do
mundo por um punhado de poderosos grupos financeiros e países imperialistas.
Assim, os EUA constituíram a Organização dos Estados Americanos (OEA) como instituição de
controle e de dominação dos povos e das nações da América Latina. No plano militar foram
constituídas a OTAN, OTASE etc. Esses organismos políticos, econômicos e militares podem ser
chamados de “comando internacional da burguesia” contra os trabalhadores e os povos, para
dominação e a pilhagem do mundo entre as nações imperialistas dominantes.
Hoje, a ONU, ela própria, está colocada a serviço da chamada “Nova Ordem Mundial”, que vem
sendo preconizada pelos EUA após a Guerra do Golfo e um dos instrumentos centrais da política
imperialista, dando cobertura às ações de guerra e de pilhagem organizadas pelo imperialismo
norte-americano.
Para a classe operária e os povos oprimidos, isso já seria mais que suficiente para tomar
indispensável a construção do seu próprio "comando internacional”, que permita unificar a luta de
todos os trabalhadores do mundo inteiro. O caráter mundial do capitalismo faz com que a luta dos
trabalhadores e dos povos, em cada país, esteja ligada com a que ocorre no resto do mundo. Por
exemplo: quando os trabalhadores dos países dominantes no mundo - nos EUA, na Europa, no
Japão - combatem para defender suas conquistas sociais, suas condições de vida ameaçadas pela
crise do sistema capitalista, eles combatem e enfraquecem os mesmos governos, os mesmos bancos,
as mesmas multinacionais que pilham o Brasil, a América do Sul e todas as nações e povos
submetidos à dominação imperialista.
Vimos, na Europa de Leste na ex-URSS a derrocada dos PCs, dos regimes burocráticos, stalinistas,
odiados pelos povos, exatamente porque os povos destes países se levantavam contra o
autoritarismo e contra as medidas antipopulares que estes governos introduziam na economia, em
resposta às pressões imperialistas.
Hoje, longe de levarem os países da ex-URSS e Europa do Leste ao “progresso" do
desenvolvimento capitalista, os chamados “governos de transição” levam seus países à derrocada
econômica, onde só progridem a especulação financeira, o narcotráfico, a miséria e o desemprego.
As conquistas sociais estão sendo destruídas, a propriedade social ameaçada. Cada vez mais,
segmentos maiores compreendem que, se não querem os antigos regimes, também não desejam os
atuais porta-vozes do imperialismo nos seus países.
A situação atual de Cuba, ameaçada pela ação de boicote econômico dos EUA e pela política
capituladora dos seus dirigentes; a situação na China, cujos mercados se abrem para o capitalismo,
mas prossegue num regime ditatorial, contra o qual se voltam os trabalhadores e a juventude, são
todas essas situações políticas de fundamental importância para a luta da classe trabalhadora em
todo o mundo.
Ao sistema de partido único e dos sindicatos oficiais -ligados ao Estado- sucedeu-se um sistema no
qual constituem-se uma multiplicidade de partidos políticos, agrupamentos políticos às dezenas e
dezenas, fruto da decomposição do pretenso “centro do movimento comunista mundial”.
Devemos partir das soluções necessárias à crise de direção revolucionária para ajudar as massas a
empreender, pela ação independente, o caminho de sua emancipação por seus próprios meios.
Mais do que nunca é necessária uma ação consciente do movimento operário organizado
internacionalmente para ajudar as massas e os trabalhadores a encontrarem o seu caminho, o
caminho de sua ação independente.
Poderíamos multiplicar os exemplos - África do Sul, Palestina etc. - tudo isso, a nosso ver, toma
cada dia mais urgente a necessidade de uma nova Internacional.
Aqueles que pretendem dividir os trabalhadores, dividindo o mundo em “primeiro”, “segundo” e
“terceiro” mundo, em “Leste” e “Oeste”, “Norte” e “Sul”..., só podem conduzir a luta dos operários
e dos povos em cada país a uma via sem saída, da qual apenas os capitalistas seriam os
beneficiários.
Para vencer, o partido operário só pode ser internacional. Aliás, como já tinham compreendido os
militantes operários que, junto com Marx e Engels, fundaram em 1864 a 1a Internacional, a
“Associação Internacional dos Trabalhadores”:
“A emancipação da classe operária tem que ser obra dos próprios trabalhadores. A emancipação
do trabalho, não sendo um problema local, nem nacional, mas sim social, envolve todos os países
nos quais existe a sociedade moderna e precisa para uma revolução o concurso teórico e práticas das
mais avançadas”, proclamava o Manifesto do Conselho Geral da 1a Internacional, que acrescentava:
“A conquista do poder político acaba sendo o primeiro dever da classe operária (...) A experiência
do passado nos ensinou como o esquecimento destes laços fraternos, que têm que existir entre os
trabalhadores dos vários países e incentivá-los a apoiar-se uns aos outros em todas as lutas para sua
emancipação, será castigado por uma derrota comum de suas ações divididas. Levados por este
pensamento é que os trabalhadores de vários países reunidos num ato público em Saint-Martin’s
Hall em 28 de setembro de 1864 resolveram fundar a 1a Internacional”.
A 2ª Internacional
Marx e Engels continuaram a lutar pela construção do partido mundial da revolução socialista. A
experiência da 1a Internacional deixara claro para eles que a próxima organização do proletariado
deveria ser marxista, isto é, baseada na análise científica do capitalismo e dos caminhos para sua
superação. Com a retomada das grandes lutas operárias, alguns anos mais tarde, surge a 2a
internacional, fundada em 1889. Ela permitiu construir e agrupou, entre 1889 e 1914, poderosos
partidos e sindicatos integrados por milhões e milhões de trabalhadores. Suas atividades
envolveram todos os aspectos da vida social e política: participação nas lutas reivindicativas dos
trabalhadores, nas lutas políticas - não apenas eleitorais, mas também nas lutas diretas contra o
despotismo como na Rússia, na Espanha etc. - gestão municipal, edificação de poderosos sindicatos,
do movimento cooperativista, de associações de previdência, culturais, de juventude etc.
É nesta primavera histórica da internacional operária, no fim do século 19, que o proletariado
ergueu-se verdadeiramente como classe organizada, conseguindo impor à burguesia conquistas
sociais e políticas que aumentaram sua potência.
Infelizmente, não foi o que aconteceu. O que aconteceu foi a formação, no quadro do próprio
aparelho de direção dos partidos e da Internacional, de uma camada de dirigentes escapando
progressivamente ao controle da base.
“Na realidade”, explica Trotsky, “o centro de gravidade do movimento operário passou nesta
época ao terreno nacional, no quadro dos Estados nacionais, sobre a base da indústria nacional, no
quadro do parlamentarismo nacional. Uma dezena de anos de trabalho, de organização e de
reformas forjaram uma geração de chefes cuja maioria aceitava em palavras o programa da
revolução social, mas, nos fatos, renunciavam a isto, mergulhando no reformismo, na adaptação
servil à dominação burguesa”.
Até que eles entregaram os operários de cada país nas mãos das burguesias para jogar uns contra
os outros como bucha de canhão na Primeira Guerra Mundial, cujo único objetivo era a partilha das
riquezas do mundo entre os bancos e as multinacionais imperialistas.
Essa traição dos principais partidos e dirigentes da 2a Internacional teve opositores muito
combativos, porém minoritários, como Lenin e Trotsky na Rússia, Rosa Luxemburgo e Karl
Liebknecht na Alemanha. Particularmente na Rússia, uma das alas em que se dividira o Partido
Social-Democrata Russo, a Fração Bolchevique dirigida por Lenin, denuncia a falência da 2ª
Internacional como organização da classe operária e passa a lutar pela construção de uma nova
Internacional.
A 3a Internacional
O funcionamento da Internacional e de seus partidos baseava-se no método que dera a vitória aos
bolcheviques na Rússia: o centralismo democrático (ampla liberdade na discussão, disciplina rígida
na ação). Considerando que a época imperialista é a última fase do capitalismo, a fase de seu
apodrecimento, a Internacional Comunista assumia a tarefa de levar a revolução proletária à vitória,
construindo verdadeiros partidos revolucionários capazes de dirigir a tomada do poder contra a
burguesia.
Ela permitiu definir as bases políticas teóricas e práticas da luta revolucionária da nossa época - a
época do imperialismo. Nos seus quatro primeiros congressos estabeleceu: a estratégia de
construção dos partidos operários revolucionários, a da unificação da classe operária contra a
burguesia e o imperialismo - frente única operária - a da luta nos países dominados, a estratégia da
frente única antiimperialista, a da conquista do poder, do governo operário e camponês etc.
Mas, apesar da revolução ter avançado em vários países, a vitória não foi rápida como esperavam
os dirigentes da Internacional Comunista. Fora da Rússia, os Partidos Comunistas eram em geral
ainda fracos e inexperientes. Além disso, os social-democratas ajudavam ativamente a burguesia a
reprimir a revolução, chegando ao ponto de assassinar Rosa Luxemburgo e Liebknecht, dirigentes
revolucionários dos trabalhadores alemães. Isolada e economicamente atrasada, a Rússia Soviética
teve ainda que enfrentar uma violenta guerra civil desencadeada pelos burgueses e oficiais czaristas,
apoiados por cinco exércitos estrangeiros mandados pelos países imperialistas. A fome e a guerra
civil devastaram o país.
A derrota dos operários na Alemanha e noutros países impossibilitou a resolução rápida desses
problemas. Aos poucos, uma camada de especialistas e administradores foi tomando conta dos
principais órgãos do Estado e do próprio Partido Bolchevique (Comunista). Formou-se assim uma
burocracia que passou a usar o Estado operário soviético em seu próprio benefício. Para defender
seus privilégios, ela destruiu a democracia interna existente no Partido Bolchevique (PCUS),
especialmente após a morte de Lenin (1924). O líder dessa ala burocrática foi Stalin.
Em oposição a Stalin e à burocracia, formou-se no PCUS uma oposição dirigida por Leon
Trotsky, principal líder, junto com Lenin, da Revolução de 1917. Ela defendia uma política voltada
ao reforço da classe operária na sociedade soviética; o retorno da democracia no partido e nos
sovietes (conselhos de operários e soldados, que eram a base do novo Estado operário, mas foram
sendo crescentemente controlados pela burocracia); e uma ajuda mais decidida à revolução
mundial. Para derrotar a Oposição de Esquerda, os stalinistas utilizaram os métodos mais brutais. A
calúnia e a perseguição política, largamente empregadas, não foram suficientes: passou-se ao
massacre físico dos oposicionistas. Milhares foram presos e torturados. Nos anos 30, a burocracia
forjou os famosos Processos de Moscou, onde toda a geração de dirigentes da época de Lenin foi
acusada dos piores crimes e fuzilada. Trotsky já havia sido expulso da URSS. Ele e seus seguidores
foram alvo constante de atentados da polícia política de Stalin, a GPU (depois KGB).
Em 1933, a política de divisão das fileiras operárias pelo PC Alemão, sob as ordens diretas de
Moscou, conduziu à vitória de Hitler e ao esmagamento da classe operária alemã, preparando o
terreno para a deflagração da barbárie nazista e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Começa então a luta pela construção da 4a Internacional, que viria a ser fundada em 1938.
Assim, antes de morrer como Internacional operária, cada uma delas, a 1a a 2a e a 3a Internacional
concentrou num determinado momento a história, a experiência, as conquistas e o combate
revolucionário dos trabalhadores, dos explorados e dos oprimidos.
E desde o início foi colocada a questão de se saber se era ou não “justificada” a proclamação da 4a
Internacional.
Polemizando contra aqueles que declaravam que “não se pode construir de maneira arbitrária uma
Internacional digna desse nome”, Trotsky respondia perguntando: “Por quê? Será que foi possível
construir de maneira arbitrária partidos operários nacionais?” e opõe a essas visões sumárias o
ponto de vista dos trotskistas:
“Vemos as coisas de uma outra maneira. Para nós, a Internacional é um instrumento do qual o
proletariado precisa, como precisa do partido nacional. Temos que criar este instrumento, melhorá-
lo, aperfeiçoá-lo. É o que faremos. Não esperamos que alguém o faça por nós. Chamamos todos os
revolucionários a colocar a mão nesta obra desde já, de imediato, sem perder um minuto.”
A justificação da proclamação da 4a Internacional, por mais limitadas que fossem suas forças
numéricas iniciais, era apresentada no seu próprio programa de fundação:
“Os céticos perguntam: mas chegou o momento de criar uma nova Internacional? É impossível,
dizem, criar uma Internacional artificialmente: apenas os grandes acontecimentos podem fazê-la
surgir etc. Todas essas objeções demonstram apenas que os céticos não servem para criar uma nova
Internacional. Em geral não servem para nada.
Um combate que exige elaboração política e teórica e capacidade de ação, que só uma organização
e um programa, concentrando toda a experiência anterior do movimento operário, permitem.
Assim por exemplo, foram apenas os trotskistas, a 4a Internacional, que desde os anos 30 deram
uma análise coerente, uma explicação racional da degenerescência stalinista da URSS e dos PCs, a
partir da qual foram capazes de deduzir a estratégia e a tática da luta dos trabalhadores. Qual é a
outra corrente internacional capaz de apresentar tal balanço da sua própria elaboração? Basta citar,
por exemplo, nosso programa:
A luta pela liberdade dos comitês de fábrica e dos sindicatos, pela liberdade de reunião e de
imprensa, transformar-se-á em luta pelo nascimento e pelo desabrochar da democracia soviética (...)
A democracia dos sovietes é inconcebível sem a legalização dos partidos soviéticos. Os próprios
operários e camponeses, mediante votação livre, mostrarão quais partidos são soviéticos.
Revisão da economia planificada de alto a baixo no interesse dos produtores e dos consumidores!
Os comitês de fabrica devem retomar o direito de controle sobre a produção..."
Sim, a fundação da 4a Internacional era justificada. Contudo, faltava aos trotsquistas aprender que
“proclamação” não significa ainda “construção". Demoramos muito tempo para aprender. E este
tempo custou caro: foram crises, enfraquecimento da nossa Internacional, até sua destruição como
organização em 1952.
4- 50 ANOS APÓS SUA FUNDAÇÃO, A 4ª INTERNACIONAL AINDA TEM QUE SER
CONSTRUÍDA: POR QUÊ?
O texto "Algumas lições da nossa história”, escrito por Pierre Lambert, dirigente da seção francesa
da nossa Internacional, procura responder, a partir da experiência, a essa pergunta, falando das
enormes mobilizações revolucionárias do final da Segunda Guerra Mundial até 1950:
“...os trotskistas não assimilaram logo as leis que regem o desenvolvimento do movimento de
massas. Eles demoraram a aprender, por sua própria experiência, que a crise revolucionária que leva
milhões e milhões de trabalhadores à constituição de órgãos de poder reforça, na primeira etapa, as
organizações tradicionais dominadas pelos aparelhos. Para passar à etapa seguinte, é preciso que a
massa se volte contra os aparelhos, por sua própria experiência, mas auxiliada pelo combate travado
pela vanguarda organizada pela construção do partido revolucionário”.
Stalin sabia perfeitamente o que fazia quando mandou assassinar Trotsky em 21 de agosto de
1940, às vésperas da transformação da Segunda Guerra Mundial no poderoso período
revolucionário que culminou com a revolução chinesa, as insurreições revolucionárias na Grécia, na
Iugoslávia, na Itália, as greves gerais na França, as lutas nacionais dos povos do Vietnã, da Argélia,
Marrocos etc. O assassinato de Trotsky tinha como objetivo cortar a continuidade material entre a
geração de revolucionários da Revolução Russa e a nova geração de operários e jovens militantes
do período revolucionário inevitável do pós-guerra, obrigando essa nova geração a aprender de
novo e por si mesma as lições das gerações anteriores.
Nesse período, o prestígio dos Partidos Comunistas chegou ao auge, capitalizando para o
stalinismo os combates heróicos do povo soviético (a “virada” na Segunda Guerra começou pela
derrota dos nazistas na batalha de Stalingrado, na URSS). Milhões de trabalhadores viam nos PCs a
continuidade da Revolução de Outubro e aderiam a eles. Os crimes de Stalin e da burocracia eram
desconhecidos da grande maioria. Esses crimes prosseguiram. Stalin realizou novos "expurgos"
(eliminação política e física dos adversários) na URSS. No Leste da Europa, ocupado pelo Exército
Vermelho, depois de não conseguir reconstruir os Estados burgueses destruídos com a derrota do
nazismo e a ação ofensiva das massas ao final da guerra, Stalin montou regimes burocráticos iguais
ao da URSS: sem liberdade política e partidária, com controle dos sindicatos pelo Estado, com uma
burocracia privilegiada acima de tudo. Em breve explodiriam revoltas contra a burocracia nesses
países. Na França, na Itália etc., os stalinistas saíam das cadeias nazistas e iam participar de
governos em conjunto com a burguesia, tentando impedir as greves. Mesmo assim, os PCs cresciam
muito. No Brasil, Prestes, dirigente do PCB, saía da cadeia para apoiar Getúlio Vargas que o
prendera e pedir aos operários para "apertar os cintos” em defesa da democracia...
Porém, ao não assimilarem imediatamente as “leis do movimento das massas" os jovens dirigentes
pouco experimentados da 4a Internacional não conseguiram achar o caminho que levasse o
programa às massas no seu movimento concreto, espontâneo. Auto-proclamando-se “partidos
revolucionários" e “4a Internacional’ já construídos, conseguiram até construir organizações que
contavam com uns milhares de filiados, intervindo de maneira corajosa nas lutas revolucionárias da
época. Mas as massas passaram a seu lado. À frente dessa situação começaram, dentro da
Internacional, a surgir tentativas de procurar substitutos, teóricos e práticos, à tarefa de construir os
partidos revolucionários e a 4a Internacional de massas.
Nos anos 50, o revisionismo encarregou o próprio stalinismo da tarefa de dirigir as lutas
revolucionárias das massas: "A burocracia stalinista”, declarava Pablo, “colocada nas condições da
‘guerra fria’, será obrigada a realizar o socialismo à sua maneira”.
Essa linha continua caracterizando a DS e a organização internacional da qual ela é membro, o SU.
Um exemplo do abandono dos princípios e da orientação trotskista pode ser visto nas declarações
de Peter Uhl, então militante do SU da Tchecoslovaquia, diretor da agência oficial de imprensa do
governo da restauração capitalista presidido por Vaclav Havel:
“Existem não apenas os Gorbachev, mas também os leltsin, que representam uma verdadeira ala
esquerda no seio do partido . . . Tenho muita simpatia por Yeltsin, sua posição é quase idêntica à
nossa. Salvo sobre um pequeno aspecto: ele acredita na possibilidade de reformar o sistema político
na URSS, no sentido da democratização".
Ora, as teses desde então defendidas por Yeltsin, que hoje coloca em prática à frente do governo
da Rússia, são as de aplicação dos planos do FMI, enfim a restauração capitalista, o que não é "um
pequeno aspecto"!"
“Pouca gente discute o fato de que as empresas soviéticas têm pessoal de sobra e que a eficácia
econômica requer uma nova distribuição e, portanto uma certa mobilidade da mão-de-obra. Por
outro lado, os trabalhadores soviéticos acabaram considerando como um direito adquirido a
estabilidade no emprego que existe ...”
Eis aonde levam as posições pablistas do SU, a eterna esperança de que os podres aparelhos
stalinistas possam se regenerar.
O revisionismo pablista combinava a capitulação aos aparelhos com a tendência - o outro extremo
- em “resolver” o problema da construção dos partidos revolucionários e da 4a Internacional sobre a
base da auto-proclamação. Este é, por exemplo, o método retomado por outra organização que
também se reivindica trotskista, a LIT (Liga Internacional dos Trabalhadores) e suas principais
seções: o MAS argentino e a Convergência Socialista no Brasil. Tendência auto-proclamatória que
se combina com a retomada de uma posição já combatida pelo próprio Trotsky; a da pretensa
acumulação de forças “nacionais” antes de colocar a tarefa de construção da Internacional. No caso
da LIT este desvario voluntarista conduz à afirmação, em 1990, antes da crise destruidora do MAS,
de que o centro da revolução mundial, da qual emanariam as forças para a construção da
internacional, era a Argentina e, logicamente a LIT.
Levada por sua própria direção a uma política de capitulação aos aparelhos contra-revolucionários,
a 4a Internacional atravessou uma série de crises e rupturas que culminaram em 1952 com a
exclusão da seção francesa, por recusar a linha revisionista, que exigia a sua dissolução no partido
stalinista na França. Assim, iniciou-se uma cisão da Internacional, que levou de fato à sua
destruição como Internacional democraticamente centralizada. Uma cisão destrutiva, que impediu
que os trotskistas ocupassem plenamente seu lugar nas lutas revolucionárias que ocorreram nestas
últimas décadas.
Essa resistência concentrou, durante dez anos, as duas principais seções da 4a Internacional - a
seção francesa (PCI) e a seção dos EUA (SWP) -juntamente com outras organizações, no chamado
Comitê Internacional. No entanto, o SWP, que possuía na época maior autoridade política para
dirigir a Internacional (era a mais antiga e mais prestigiosa organização trotskista do mundo,
construída com a interferência direta de Trotsky durante o seu exílio no México), caiu no desvio
que criticamos atrás em relação à LIT, o nacional-trotskismo. Separando a construção do partido
nos EUA, que devia vir “primeiro”, da construção da Internacional, os dirigentes do SWP deixaram
de travar o combate político necessário para derrotar o revisionismo pablista em escala mundial.
Em 1963, o SWP decidiu juntar-se aos revisionistas, influenciado pela experiência da Revolução
Cubana. Esta parecia confirmar algumas teses pablistas, já que Fidel Castro e seu Movimento 26 de
Julho encabeçaram uma revolução anti imperialista que deu origem ao primeiro Estado operário na
América Latina. Parecia, finalmente, que alguém fora da 4a Internacional e não vinculado então ao
aparelho stalinista, podia dirigir uma revolução socialista. O ‘‘alívio” dessa falsa conclusão era
semelhante ao que, dez anos antes, o pablismo tentara trazer os trotskistas podiam desembaraçar-se
da enorme responsabilidade de construir partidos revolucionários e a Internacional para dirigir as
massas até a vitória, pois alguém (o stalinismo para Pablo, Castro para o SWP) faria isso para eles.
Bastava-lhes aplaudir!
Essa tese capituladora impediu que o SWP, como as organizações que o seguiram, tirassem as
conclusões do que ocorreu depois. O stalinismo em Cuba, que tinha combatido Fidel e apoiado a
ditadura de Batista, depois de derrotado pelas massas revolucionárias, “girou” 180 graus e fundiu-se
com o grupo de Fidel, incorporando-o à sua política internacional de defesa da coexistência
pacífica. Com a autoridade que a revolução cubana lhe deu, Fidel passou a apoiar todos os governos
nacionalistas burgueses ou de frente popular (como João Goulart no Brasil e a Unidade Popular de
Allende no Chile), induzindo os revolucionários latino-americanos a trágicas derrotas, o mesmo
ocorrendo com seu apoio às fracassadas aventuras guerrilheiras. Dependente da burocracia da
URSS, ele apoiou a invasão dos tanques contra a “Primavera de Praga" (1968), a repressão ao
Solidariedade na Polônia e os massacres da Praça da Paz Celestial em 1989 na China. Internamente,
o Estado Operário cubano foi logo burocratizado, com regime de partido único (PCC), controle dos
sindicatos pelo Estado e repressão política e cultural pela burocracia.
O SWP não viu nada disso. Estava satisfeito por encontrar revolucionários “naturais”, que não
precisaram passar pela escola marxista internacionalista. Sua união com os revisionistas foi ajudada
pelo truque destes, que expulsaram Pablo mantendo sua teorias principais, e pela dificuldade das
demais organizações do Comitê Internacional em compreender o verdadeiro conteúdo da revolução
cubana, o que as levou a uma posição sectária num primeiro momento. Por isso, enquanto os
pablistas e o SWP negavam-se a construir uma seção da 4a Internacional em Cuba (pois não
consideravam mais necessário), o Comitê Internacional ficou impossibilitado de fazê-lo, uma vez
que sua orientação impedia-o de dialogar com as massas e os militantes revolucionários para
aprofundar as conquistas da revolução.
Restaram dois agrupamentos que tinham seguido o SWP, a Fração Bolchevique (dirigida por
Nahuel Moreno) e a Tendência Leninista-Trotskista (TLT). Em 1979, elas foram expulsas do SU,
por discordarem do apoio incondicional da maioria de sua direção à Frente Sandinista (FSLN) na
Nicarágua, num momento em que esta organizava um governo de coalizão com a burguesia após a
derrubada do ditador Somoza pelas massas.
Por seu lado, as organizações que preservaram o combate pelo programa da 4a Internacional
contra o revisionismo pablista fundaram, em 1972, o Comitê de Organização pela Reconstrução da
4a Internacional (CORQUI). Foi sob seu impulso que nasceu a corrente O TRABALHO no Brasil,
em 1976, com o nome de Organização Socialista internacionalista (OSI), a partir da fusão de
pequenos grupos identificados com a luta pela reconstrução da 4a Internacional.
Após a expulsão da FB e TLT pelo SU, o CORQUI propôs a estas duas correntes a formação de
um Comitê Paritário que avançasse na reconstrução da 4a Internacional. Em dezembro de 1980,
uma conferência internacional convocada pelo Comitê Paritário fundou a 4a Internacional (Comitê
Internacional) e iniciou um processo de fusão, em cada país, das organizações participantes das três
correntes (FB, TLT e CORQUI). Teria sido um golpe profundo nos aparelhos contra-revolucioná-
rios e revisionistas se esse processo tivesse se realizado. No Brasil, por exemplo, a fusão da OSI e
CS (ligada à FB), teria dado origem a uma forte seção trotskista de 2000 militantes nos primórdios
do PT!
Porém, mais uma vez, as sobrevivências do pablismo jogaram um papel destruidor. Moreno,
dirigente da ex-FB e da 4a Internacional (Cl), iniciou uma ofensiva divisionista sem qualquer
discussão política real nas organizações-membros, que acabou levando à cisão da Ql (Cl). Os more-
nistas fundaram a LIT e abandonaram as teses e resoluções votadas em comum. Em pouco tempo,
os verdadeiros motivos da cisão apareceram. A principal seção da LIT, o MAS da Argentina,
passou a levar uma política de capitulação ao stalinismo, ajudando o desmoralizado PC local (que
apoiara a ditadura militar) a revigorar-se. A CS, no Brasil, abandonando a defesa da independência
de classe do PT e atacando-o publicamente, “pela esquerda”. É a linha da auto-proclamação,
portanto, que conduz a CS a abandonar o PT e capitanear a aventura do PSTU, partido que elege
como inimigo principal... o PT! Sob o argumento de que o "PT já era ”, “passou para o lado da
ordem burguesa”, “virou social-democrata”
Por seu lado, as organizações que prosseguiram o combate pela reconstrução da 4a Internacional,
constituíram a 4a Internacional (Centro Internacional de Reconstrução) em 1982, da qual "O
Trabalho”, corrente do PT, era a seção brasileira.
A derrocada dos PCs desmonta um dos maiores obstáculos colocados à luta pelo socialismo.
A tentativa da social-democracia em ocupar o lugar dos PCs esbarra no papel objetivo que seus
partidos e seus governos jogam na aplicação dos planos do FMI e de apoio à construção da Nova
Ordem Mundial. Do corrupto Andres Perez, na Venezuela, afastado por corrupção, a Mitterrand, na
França, a social-democracia tem sido correia de transmissão dos planos de ajuste do FMI e em geral
dos interesses imperialistas.
Por isso mesmo, temos assistido, em toda a parte, uma busca por parte dos trabalhadores, de um
novo eixo em torno do qual se organizar. Fugindo dos aparelhos em crise, multiplicam-se os
“sindicatos livres” nos países da Europa do Leste e da ex-URSS assim como iniciativas que podem
desembocar em partidos operários independentes em todo o mundo. Confusamente eles procuram
assegurar a defesa de suas reivindicações, combatendo os planos do FMI, do Banco Mundial, da
CEE, do GATT.
Poderia perguntar o leitor “Por que a luta por uma Internacional, se vocês já dizem que são a 4a
Internacional?” Ou, ao inverso: “Por que juntar-se à 4a internacional, se a internacional operária
está por ser construída?”
A resposta a estas perguntas está colocada no próprio Programa de Transição, que explica que os
militantes da 4a internacional “propõem (à classe operária) um programa baseado sobre a
experiência internacional da luta emancipadora do proletariado e de todos os oprimidos do mundo”.
Por que “propõem”?
Porque, como Marx, consideramos que “a emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios
trabalhadores”. Para que a classe operária se emancipe por ela mesma, seu movimento precisa ser
consciente e livre. O papel do partido operário revolucionário consiste não em impor, menos ainda
em manipular as massas, mas sim em propor a cada momento da luta uma perspectiva política, as
medidas práticas da luta, palavras-de-ordem etc.
Não somos e não pretendemos ser “chefes” e não procuramos “chefes” revolucionários que
mandem nas massas. A construção de partidos revolucionários e da internacional, quer dizer, da
direção internacional revolucionária dos trabalhadores, não pode dar-se por aplicação mecânica e
autoritária de “diretrizes” mandadas “por cima”. Só pode dar-se pela nossa capacidade em construir
essa direção, essa internacional, fazendo progredir no próprio processo da luta de classes as
organizações membros da 4a internacional e aquelas que, não sendo membros da 4a Internacional,
rompem com o stalinismo, a social-democracia ou o nacionalismo burguês e pequeno-burguês.
Foi esse o método de Trotsky desde a fundação da 4a Internacional em 1938. Assim, por exemplo,
dirigindo-se ao PSOP (Partido Socialista Operário e Camponês), partido centrista constituído a
partir de uma cisão com a social-democracia na França, Trotsky escreveu:
“Aqui está a proposta concreta que me permito fazer ”de fora": começar de imediato o exame e a
elaboração de um programa internacional do proletariado e editar uma revista que, no plano
internacional, será em especial consagrada à discussão desta questão. Proponho que se coloque na
base desta discussão o programa da 4a Internacional - “A agonia do capitalismo e as tarefas da 4a
Internacional". Mas é óbvio que nossa Internacional está disposta a aceitar como base de discussão
até um outro projeto, se este for apresentado. Pode ser que M. Pivert (dirigente principal do PSOP)
e seus amigos aceitem nossa proposta. Permitiria darmos sem dúvida um passo para frente".
Na última década, aqui no Brasil com o PT e também em escala internacional, diversas correntes,
organizações e militantes romperam ou estão em ruptura com o stalinismo, a social-democracia e as
várias formas de nacionalismo pequeno-burguês, procurando construir novos partidos operários
independentes.
Foi, assim, baseado neste método que parte das necessidades objetivas das massas e que procura
ser um fator consciente no processo de ruptura com as posições dos aparelhos, contribuindo para a
organização independente dos trabalhadores - que a 4a Internacional (CIR) impulsionou, a partir de
suas seções, nós últimos anos, importantes atividades na linha da frente-única em defesa das
reivindicações:
- Tribunal Internacional de Uma contra a Dívida Externa - Setembro de 1989 - Lima - Peru.
- 1º ELASPE ( Encontro Latina Americano em Defesa dos Serviços Públicos e das Estatais)
maio de 1991 - Brasília - DF.
O sucesso alcançado com este método, no sentido de agrupar partidos, grupos e militantes
independentes, em ações comuns em defesa das reivindicações, assegurar uma 2a Conferência
Mundial Aberta representativa e exitosa, no sentido do balanço dos encaminhamentos das
atividades decididas na 1a CMA, como também nas importantes resoluções aprovadas por
unanimidade e que já se colocam em prática, como o 3° ELASPE e a delegação ao FMI.
Mas é importante ressaltar para que a 2a CMA fosse um êxito, para que suas resoluções pudessem
estar de acordo com as necessidades postas pela luta de classes em escala internacional foi preciso o
concurso decisivo da 4a Internacional -CIR-.
Por isso mesmo, por entender o papel imprescindível da 4a Internacional neste processo de
recomposição política da organização da classe operária em escala mundial, é que a Conferência
Mundial de Seções decidiu pela Reproclamação da 4a Internacional. O testo submetido à discussão
e aprovado pela Conferência sublinhava:
E mais:
Certamente o caminho não será fácil, mas a decisão de reproclamar - reconstruir a 4a Internacional
constitui o primeiro passo à frente essencial. Repetindo: a Conferência decidiu a reproclamação,
trata-se então de elaborar os passos práticos que permitirão prosseguir a ampliação do trabalho
organizado, perseverante, coerente e sistemático".
A 4a Internacional reproclamada em junho de 1993, tem plena consciênda do papel que precisa
desenvolver, procurando inserir-se no movimento real dos trabalhadores a partir de ações prática?
que correspondam às necessidades das massas ... trabalhadoras e exploradas.
Reforçar a 4a Internacional corresponde ... o movimento independente dos trabalhadoi •• defesa
de suas reivindicações e luta pela … ção do Socialismo.
Lutamos, na sua fundação, por sua ... por um “PT sem patrões”, pelo lanç ... candidaturas
próprias em 1982, pela fundação da CUT em 1983, em defesa das liberdades democráticas contra a
Ditadura Militar, pelas Diretas, pela Assembléia Nacional Constituinte Livre, Soberana e
Democrática, pelo boicote ao Colégio Eleitoral, pelo Fora Collor,...
Ou seja , em todos os momentos de vida do PT temos sido defensores intransigentes de que nosso
partido se coloque à frente da luta que corresponda aos anseios e necessidades da classe
trabalhadora e do povo brasileiro. Temos combatido para que o PT assuma posições anti-
imperialistas e de combate aos planos do FMI (luta contra as privatizações, contra a Revisão
Constitucional, contra o Tripartismo nos Sindicatos, pelo não pagamento da Dívida Externa).
Leituras
básicas:
- O Programa de Transição
- Revista “A Verdade” nº 5
- Revista “A verdade” n° 7
para aprofundamento:
VOCABULARIO
antiguidade - período da História humana, entre os anos de 4.000 a.C. (época dos primeiros
documentos escritos) e 476 d.C. (que marca o fim do Império Romano no Ocidente).
automação - processo industrial realizado por mecanismos que verificam seu próprio
funcionamento, fazem medições e introduzem correções, sem participação do homem.
burguesia - a ciasse dos proprietários dos grandes meios de produção: industriais, banqueiros,
latifundiários, grandes comerciantes, etc.
camarilha - grupo que cerca um chefe de Estado ou chefe de serviço, procurando influir em suas
decisões.
capital - a moeda que, acumulada em mãos de particulares no sistema capitalista, passa a ter a
propriedade de produzir renda e aumentar de valor. Isto é obtido através da relação de exploração
da força de trabalho do operário, da qual o capitalista extrai a mais-valia.
capital financeiro - fusão do capital industrial com o capital bancário que caracteriza o
imperialismo, fase final do capitalismo.
capitalismo ascendente - período do capitalismo anterior ao século 20, quando ele ainda
desenvolvia as forças produtivas e conduzia a algum crescimento da riqueza material da
humanidade. Com o imperialismo, começa sua fase de entrave às forças produtivas, cessando
qualquer papel positivo.
cartel - acordo entre empresas produtoras, criando uma espécie de sindicato para impor preços,
dividir o mercado e eliminar a livre concorrência.
casta - originalmente, designa camada social hereditária, cujos membros pertencem à mesma raça
ou etnia. Por extensão, utilizado para indicar uma camada social privilegiada, unida por interesses
materiais.
classe social - conjunto de pessoas que ocupam o mesmo lugar no processo de produção material de
uma sociedade. No capitalismo, ... duas classes fundamentais são a burguesia proletariado. I
coexistência pacífica - termo utilizado designar as relações entre o imperialism burocracia
stalinista, particularmente após. até sua derrocada. As duas partes proc ... conter o ascenso
revolucionário mundial, ... metendo-se a manter de pé o sistema ca ... Isso não impedia a
continuidade de pre ... imperialismo contra as conquistas tra ... revolução na URSS, Europa do
Leste, e
Comuna de Paris - em 1871 , os operários tomaram pela primeira vez na história o poder, em
Paris, capital da França. O governo ali formado foi chamado de “Comuna de Paris” e inspirou Marx
e Engels e outros revolucionários sobre o caráter do estado operário. A Comuna foi derrotada após
algumas semanas, pelo esforço conjunto das burguesias alemã e francesa, que estavam em guerra
mas juntaram-se contra o proletariado.
comunismo - estágio da sociedade após o socialismo, em que as classes sociais terão desaparecido
e, com elas, o Estado. A repartição dos bens de consumo se dará segundo as necessidades de cada
um.
crédito - adiantamento de dinheiro que será investido em algum negócio, com pagamento posterior
acrescido de juros. Mecanismo que possibilita o crescimento mais rápido do capital, pois os bancos
adiantam ao capitalista a mais-valia que ele só realizará depois de vender sua mercadoria. Através
dele, também, os bancos estenderam seu domínio sobre as empresas.
divisão social do trabalho - sistema de relações sociais nos quais os produtores criam produtos
variados. O que os toma equivalentes, na hora da troca, é a quantidade de trabalho humano contido
em cada um.
dogma - ponto fundamental e indiscutível, que não se pode contestar, de alguma religião ou sistema
filosófico, político, etc
especulação - operação em que se procura obter lucros com a oscilação de preços. Um exem-... o é
a aplicação em ações na Bolsa de Valores.
....
.... tichismo- culto existente em antigas civiliza- ... a objetos, que se acreditava ligados aos ......
Passavam a representá-los sim- ... Marx falava do “caráter fetichista da
..... ...... bjetos 'uma mercadoria por outra), menos p' r'
feudal, que exista na Europa, durante a Idade Média, caracterizada pelo enfraquecimento de um
poder central e predomínio da nobreza como grande proprietária de terras. Suas classes
fundamentais eram os servos (trabalhadores da agricultura) e os senhores feudais, de quem os
primeiros dependiam e a quem deviam obediência.
fisiologismo - prática política oportunista, apoio ou associação a setores dominantes num governo.
frente popular - forma de governo de colaboração de classes em que um ou mais partidos operários
ocupam lugar de destaque, dando aos trabalhadores a ilusão de que se trata de um governo seu. A
aliança com setores da burguesia, no entanto, lhes dá um caráter de defesa das instituições
ameaçadas pela revolução.
frente única - unidade das organizações e das massas operárias em tomo de suas reinvidicações
contra a burguesia, que é essencial para a vitória da revolução. Nos países atrasados, a frente única
operária deve assumir um caráter antiimperialista, arrastando atrás de si todos os setores oprimidos
que se opõem ao imperialismo.
guerra fria - situação de tensão entre o imperialismo e as burocracias stalinistas, após a Segunda
Guerra Mundial. Seu auge foi na década de 50 e 60. O imperialismo, sem condições políticas de
atacar militarmente a URSS e os demais Estados operários burocráticos, desenvolvia uma política
de pressão e hostilidades com o objetivo de arrancar concessões maiores das burocracias.
Idade Média - período histórico do Ocidente que vai de 476 (fim do império Romano) até 1453
(tomada de Constantinopla pelos Turcos), correspondente ao modo de produção feudal.
ideologia - maneira de pensar ou ver o mundo, por parte dos membros de uma classe social. Esta
visão corresponde não à realidade da vida social em si, mas à representação deformada que tal
classe faz da realidade, a partir de seus interesses e aspirações. As ideias dominantes de uma
sociedade são sempre as da ciasse dominante. Em nossa época, as da burguesia.
Iniciativa para as Américas - plano lançado pelo ex-presidente norte-americano George Bush,
com o objetico de construir um mercado “do Alasca à Patagônia”, ou seja, fazer com que o
imperialismo dos EUA tenha um acesso mais direto a todos os mercados da América, desde o
Canadá até a América do Sul.
liberalismo - doutrina que orientou o capitalismo em seu início. Segundo ela. o Estado não deve
interferir nas relações econômicas, as quais seriam conduzidas pela livre concorrência entre as
empresas. A utilização do conceito de “neoliberalismo” para caracterizar a política atual do
imperialismo, embora muito comum, é incorreta. Não há um novo surto de desenvolvimento do
capitalismo, mas sim o impasse de um sistema falido, que procura sobreviver, atacando mais
duramente os trabalhadores e os povos.
livre concorrência - sistema na qual o Estado não limita a iniciativa da indústria e do comércio,
que disputam assim o mercado sem entraves. Correspondeu ao capitalismo em sua fase ascendente,
mas desapareceu com o surgimento da fase imperialista.
luta de classes - oposição entre opressores e oprimidos que marca a História humana em todos os
seus períodos. No capitalismo, esta luta se toma mais clara e mais direta, opondo burguesia (que
detém os meios de produção) e proletariado (que possui apenas sua força de trabalho para vender
aos burgueses).
mencheviques - Ala reformista do Partido Operário Social Democrata Russo. A ala revolucionária
eram os bolcheviques, liderados por Lênin. Depois as duas frações constituíram partidos distintos, e
os mencheviques opuseram-se à Revolução de Outubro de 1917.
modo de produção - um certo nível de desenvolvimento das forças produtivas e das relações
sociais, que caracteriza uma época histórica. Exemplo: modo de produção feudal, modo de
produção capitalista, etc.
monopólio - em geral, designa um privilégio legal de uma empresa ou governo para desenvolver
alguma atividade econômica. Por exemplo, no Brasil, o Estado tem o monopólio da exploração do
petróleo. No sentido estudado por Lenin no imperialismo, significa um acordo entre grandes
empresas, que concentram a produção, para controlar e dividir entre si o mercado, esmagando os
pequenos concorrentes.
moratória - suspensão temporária dos pagamentos de uma dívida, com o compromisso de retomada
assim que forem superados os motivos excepcionais para a suspensão.
multinacionais - empresas que mantém negócios em diversos países, embora tenham como origem
um capital nacional de um país imperialista.
nomenklatura - os integrantes do apa ... perior da burocracia stalinista na ex-URSS ... ses da
Europa do Leste, que usufruíam .... sos privilégios, não acessíveis aos trab .... em geral.
nova ordem mundial - nome com que foi batizada a tentativa de estabilizar a situação mundial
após a virada histórica decorrente da queda do muro de Berlim (1989) e o desabamento do
stalinismo. Um de seus atos iniciais seria a Guerra do Golfo, em 1991. Ao contrário das pretensões
dos governos imperialistas, no entanto, a situação mundial apresenta sinais de crescente desordem e
instabilidade.
oligarquia - grupo limitado de pessoas que detêm o poder ou a influência em um pais ou negócio.
No imperialismo, é uma oligarquia financeira, formada pelos grandes banqueiros, que domina a
maior parte dos negócios.
oportunismo - prática de aproveitar-se de uma situação ou adaptar-se a ela, sem tentar mudá-la,
com o objetivo de tirar proveito. Designa os setores à direita do movimento operário, que têm esta
atitude em relação à ordem burguesa, como é o caso da social-democracia.
pablismo - revisionismo que tomou conta da direção da 4ª Internacional em 1950, levando então à
sua destruição como organização centralizada. A expressão vem do nome de Michel Pablo, antigo
secretário-geral da Internacional. Na época, seus partidários pregavam a entrada dos trotskistas nos
Partidos Comunistas em vez da construção da Internacional e suas seções em todos os países. Hoje,
os pablistas se organizam no chamado Secretariado Unificado (SU), que tem defendido posições de
capitulação à social-democracia e aos restos do stalinismo, falando de forma fraudulenta em nome
da 4ª Internacional. Uma das expressões desta corrente é o belga Ernest Mandel. No Brasil é
representada pela Democracia Socialista (DS).
Pacto de Varsóvia - aliança militar entre a ex-URSS e os países do Leste europeu. Foram as ... do
Pado de Varsóvia, formalmente, que ... a Tchecoslováquia em 1968 e reprimi- .... movimento por
liberdades conhecido como lhes Primavera de Praga”.
aproprt.es atrasados - países dominados pelo im- ..... São as antigas colônias de toda a ..... Latina,
África e maior parte da Ásia. ...... natureza, designa ação de
.... .... vegetal que retira de outro seu alimento, .... .... debilitando-o. Na
ceiro, que se “alimentam” da produção para sugar as maiores possibilidades de lucro, especulando.
pilhagem - saque, devastação provocada por tropas que conquistam uma cidade ou país. Por
extensão, qualquer política de saque às riquezas de um país.
populismo - movimento ou partido que diz defender as causas populares, mas provém da burguesia
ou pequeno-burguesia. Procura substituir os trabalhadores e indicar-lhes o que fazer no lugar de
organizá-los e incentivar sua ação independente. O termo é geralmente utilizado, de forma
imprecisa, para designar os governos bonapartistas dos países atrasados que se apóiam parcialmente
nas massas, como o de Vargas no Brasil.
proletariado - a classe dos que possuem apenas sua força de trabalho, que é vendida aos
capitalistas em troca de um salário. Por seu lugar na produção, no sistema capitalista, é a classe que
tem condições de constituir o partido revolucionário e dar consequência à luta pelo socialismo.
propriedade privada - posse dos meios de produção por parte de indivíduos, que compõem a
classe dos burgueses.
propriedade social - posse coletiva dos meios de produção, por parte da classe operária e os setores
oprimidos no capitalismo, que são a maioria da sociedade.
reação - oposição às mudanças políticas e sociais; apego à situação e tentativa de volta ao passado.
revisionismo - atitude de afastar-se de uma teoria, realizando uma revisão de seus fundamentos,
enquanto continua se reivindicando dela. Um exemplo é o que fazem os pablistas em relação ao
programa e á atividade da 4a Internacional.
robotização - substituição dos trabalhadores por máquinas que realizam trabalhos e movimentos
humanos.
semicolonial - país que formalmente é independente, mas está atrelado por relações de dependência
econômica às potências imperialistas. É a situação de países atrasados, como o Brasil.
superestrutura - conjunto das instituições, das ideias e da cultura de uma sociedade, que se apoia e
se relaciona com sua base econômica material, que é a infra-estrutura.
termidor - nome do mês no calendário criado pela Revolução Francesa em que a grande burguesia
tomou o poder das mãos dos jacobinos, corrente revolucionária radical paquero-burguesa. Marca o
recuo da Revolução Francesa. Trotsky utilizou o termo para comparar o papel da burocracia
stalinista na Revolução Russa ao dos dirigentes da reação termidoriana.
truste - associação financeira que funde várias firmas em uma única empresa.
união nacional - forma de colaboração de ciasses em que organizações ou partidos operários dão
apoio à burguesia, sob o pretexto de que a nação sofre algum abalo, catástrofe , etc. Ao final da
Segunda Guerra Mundial por exemplo, os PCs da Europa ajudaram na reconstrução dos estados
burgueses, freando as greves, mobilizações e ocupações.
utopia - modelo ideal de sociedade, com instituições altamente aperfeiçoadas. O termo tem origem
no livro escrito pelo inglês Thomas Morus (1480-1535), descrevendo um país imaginário perfeito
chamado Utopia (em grego, “de nenhum lugar”).
vandalismo - destruição de valores da civilização e da cultura. O nome vem dos vândalos, tribo
germânica que invadiu o sul europeu e o norte da África na Antiguidade.
voluntarista - o que age apenas de acordo com sua própria vontade, sem importar-se com as
possibilidades reais de concretização do que faz.
NOTAS BIOGRAFICAS
Allende (Salvador Allende) - membro do Partido Socialista Chileno. Foi eleito presidente do país e
realizou um governo de frente popular. Em setembro de 1973 foi derrubado por um golpe dado por
Pinochet
Bismarck (Otto Von Bismarck, 1816-1898) -estadista alemão, chanceler da Prússia. Unificou os
estados alemães separados num só império sob a égide da Prússia. Chanceler do Reich (império)
alemão de 1871 a 1890.
Brejnev (Leonid lllitch Brejnev, 1906-1982) -burocrata que governou a URSS de 1964 até o ano de
sua morte.
Franco (Francisco Franco) - general espanhol ...... derrubou o governo de de frente popular,
após ... Guerra Civil (1936 a 1939). Governou a Espa- ... com uma feroz ditadura até sua morte
em ... , deixando o poder para a monarquia,
Getúlio Vargas (1883-1954) - governou o país .... períodos: o período da ditadura, de 1930 ....., e o
período de 1950 a 1954, como presi- .... eleito. Bonapartista, procurou se apoiar nos ..... adores. Em
seu segundo governo tomou ..... ... nacionalistas limitadas. Criou a estrutura ....... no estado,
inspirada no fascismo.
....... (Georg Wílhelm Friedrich Hegel, 1770-1831) - filósofo idealista alemão, que desenvolveu a
dialética.
Hitler - (Adolf Hitler) - beneficiado pela divisão do proletariado alemão causada pelo Partido
Comunista, chegou ao poder em 1933 e instaurou um governo fascista, arrasando todas as
organizações operárias. Inicia a Segunda Guerra Mundial ao invadir a Polônia em 1939. Suicidou-
se em 1945, quando a Alemanha já estava derrotada.
Kruchev (Nikita Kruchev) - burocrata que dirigiu o Partido Comunista da URSS e o governo
soviético após a morte de Stalin (1953), até 1964. Denunciou os “crimes” de Stalin no 20°
Congresso do Partido, em 1956.
Lenin (Vladimir llitch Ulianov, 1870-1924) - principal dirigente do Partido Bolchevique e um dos
mais importantes teóricos do marxismo. Dirigiu ao lado de Trotsky a Revolução Russa de outubro
de 1917 e após sua vitória foi presidente do Conselho dos Comissários do Povo (chefe de governo).
Deixou ampla obra, estudando vários aspectos da luta dos trabalhadores. Antes de morrer, iniciara
uma luta contra a burocratização do Estado Operário, que não pôde desenvolver. Foi também um
dos principais dirigentes da 3a Internacional, fundada em 1919.
Liebknecht (Karl Liebknecht, 1871-1919)- único deputado social-democrata alemão a votar contra
a concessão de créditos para a guerra, em 1914. Fundador, juntamente com Rosa Luxemburgo e
outros, da Liga Spartaquista (1916) e do Partido Comunista Alemão (1918). Foi assassinado após
ser preso com Rosa, por soldados a mando do governo do qual faziam parte os social-democratas.
Mário Pedrosa (1900-1981) - ingressou no Partido Comunista do Brasil em 1926. No ano seguinte,
enviado pelo partido à URSS, adoece na Alemanha e não chega ao seu destino. Estreita seus
contatos com a Oposição de Esquerda Internacional, aderindo a ela. Retomando em 1929, funda a
revista “Luta de Ciasse”, agrupando os opositores ao stalinismo. Expulso do PC em 1930, aglutina
os trotskistas. Obrigado a voltar à Europa por perseguições políticas, participa da conferência de
fundação da IV Internacional em 1938. Em 1940 se afasta da IV Internacional. Quarenta anos
depois seria o filiado número 1 do PT.
Marx (Karl Marx, 1818-1883) - revolucionário nascido na Alemanha, escreveu com Engels o
“Manifesto do Partido Comunista”, em 1848, e com ele formulou os princípios do socialismo
científico. Fundador e dirigente da 1a Internacional. Escreveu “O Capital”, entre outros livros
fundamentais para o entendimento do capitalismo. Seu nome ficou associado à doutrina que
desenvolveu a partir do materialismo histórico (o marxismo) e que deu as bases científicas para o
combate do proletariado pelo socialismo.
Mussolini (Benito Mussolini) - governante fascista da Itália de 1922 a 1943. Aliou-se a Hitler
durante a Segunda Guerra Mundial.
Pinochet (Augusto Pinochet) - general chileno, comandou o sangrento golpe que derrubou Allen-de
em 1973. Ditador daquele ano até as eleições de 1989, ainda hoje (1994) é o comandante das forças
armadas chilenas.
Trotsky (Leon Trotsky ou Lev Davidovitch Bronstein, 1879-1940) - dirigiu ao lado de Lenin a
Revolução Russa de outubro de 1917 e integrou o novo governo revolucionário. Organizou, nas
piores condições, o Exército Vermelho, que combateu e derrotou os exércitos imperialistas que
invadiram a URSS na guerra civil. Após a morte de Lenin, em 1924, combateu a burocratização do
Partido Comunista e do governo soviético, dirigindo a Oposição de Esquerda. Expulso da URSS,
viveu no exílio em diversos países. Foi também um importante teórico, desenvolvendo em
particular a teoria da Revolução Permanente. Fundador e principal dirigente da 4a Internacional, em
1938, foi assassinado por um agente a mando de Stalin, no México. O nome trotskismo ficou
associado ao marxismo de nossos dias.