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CURSO “INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DA HISTÓRIA”: ROTEIRO DE ESTUDO

8ª versão (17 set. 2022)

MÓDULO 1. DA JUVENTUDE À MATURIDADE

1. Período de juventude, com ambiguidades (1842-1844)

Resumo: A transformação revolucionária pressupõe a consciência revolucionária; o proletariado está preso


a ilusões; a consciência revolucionária é fornecida pela teoria e por filósofos. Essa ideia convive com a tese
de maturidade (a revolução se processa pela mediação necessária das ilusões – ver adiante).

Trecho: “Assim como a filosofia encontra suas armas materiais no proletariado, o proletariado encontra na
filosofia suas armas espirituais, e tão logo o relâmpago do pensamento tenha penetrado profundamente
nesse ingênuo solo do povo, a emancipação dos alemães em homens se completará. [...] A única libertação
praticamente possível da Alemanha é a libertação do ponto de vista da teoria que declara o homem como o
ser supremo do homem. [...] A cabeça dessa emancipação é a filosofia, o proletariado é seu coração” (Marx,
Introdução à crítica da filosofia do direito de Hegel).

2. Período de maturação, com ambiguidades (1844-1849)

Resumo: A transformação revolucionária pressupõe a consciência revolucionária; o proletariado pode se


libertar das ilusões; a sociedade burguesa dissolve as ilusões. Essa ideia convive com a tese de maturidade (a
revolução se processa pela mediação necessária das ilusões – ver adiante).

Trecho: “A burguesia não pode existir sem revolucionar incessantemente os instrumentos de produção, por
conseguinte, as relações de produção e com isso, todas as relações sociais. [...] Dissolvem-se todas as relações
sociais antigas e cristalizadas, com seu cortejo de concepções e de ideias secularmente veneradas; as relações
que as substituem tornam-se antiquadas antes de se consolidarem. Tudo o que era sólido e estável se
desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado e os homens são obrigados finalmente a encarar sem
ilusões a sua posição social e as suas relações com os outros homens” (Marx e Engels, Manifesto comunista).

Trecho: “O socialismo é, ao mesmo tempo, a expressão mais resoluta da irreligiosidade que reina entre os
operários, irreligiosidade inconsciente, visto que exclusivamente prática, uma vez que com frequência os
operários hesitam em admiti-la; mas, também aqui, a necessidade constrangerá os operários a abandonar
uma fé que, e eles o compreendem cada vez mais claramente, serve apenas para enfraquecê-los e torná-los
resignados ante a sua sorte, obedientes e servis à classe proprietária que os dessangra” (Engels, A situação
da classe trabalhadora na Inglaterra).

3. Período de maturidade, sem síntese (1850-1864):

Resumo: As formas falsas da consciência são produzidas pelas relações a transformar; a transformação
pressupõe, portanto, as formas ideológicas que as relações vigentes vão produzir; razão pelas qual, nas
sociedades de classe, a mudança se impõe como determinação econômica em última instância (como luta
entre classes); quer dizer, a necessidade econômica impõe-se de modo inconsciente, pois mediada por
ideologias (falsa consciência).

Trecho: “Surge então uma época de revolução social. A transformação da base econômica altera, mais ou
menos rapidamente, toda a imensa superestrutura. Ao considerar tais alterações é necessário sempre
distinguir entre a alteração material [...] das condições econômicas da produção, e as formas jurídicas,
políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, em resumo, as formas ideológicas pelas quais os homens tomam
consciência deste conflito, levando-o às últimas consequências. Assim como não se julga um indivíduo pela
ideia que ele faz de si próprio, não se poderá julgar uma época de transformação pela mesma consciência
de si; é preciso, pelo contrário, explicitar essa consciência pelas contradições da vida material, pelo conflito
que existe entre as forças produtivas sociais e as relações de produção” (Marx, Prefácio de 1859).

Resumo: A tese é em seguida integrada à análise das formas (ideológicas) assumidas pelos conflitos que se
desenrolam também sob sociedade burguesa; formas estas antecipadas teoricamente à partir da “tendência
histórica da acumulação capitalista” na direção do “processo capitalista de produção desenvolvido”. A tese
assumida no período anterior (dissolução das ilusões, sob a sociedade burguesa), é reintegrado à análise
como efeito de uma época de transição.

Trecho: “No evolver da produção capitalista desenvolve-se uma classe de trabalhadores que, por educação,
tradição e hábito, reconhece as exigências desse modo de produção como leis naturais e evidentes por si
mesmas. A organização do processo capitalista de produção desenvolvido quebra toda a resistência; a
constante geração de uma superpopulação relativa mantém a lei da oferta e da demanda de trabalho, e,
portanto, o salário, nos trilhos convenientes às necessidades de valorização do capital; a coerção muda
exercida pelas relações econômicas sela o domínio do capitalista sobre o trabalhador. A violência extra-
econômica, direta, continua, é claro, a ser empregada, mas apenas excepcionalmente. Para o curso usual das
coisas, é possível confiar o trabalhador às ‘leis naturais da produção’, isto é, à dependência em que ele
mesmo se encontra em relação ao capital, dependência que tem origem nas próprias condições de produção
e que por elas é garantida e perpetuada. Diferente era a situação durante a gênese histórica da produção
capitalista. A burguesia emergente requer e usa a força do Estado para “regular” o salário, isto é, para
comprimi-lo dentro dos limites favoráveis à produção de mais-valor, a fim de prolongar a jornada de trabalho
e manter o próprio trabalhador num grau normal de dependência. Esse é um momento essencial da assim
chamada acumulação primitiva” (Marx, O capital: livro 1).

5. Período de maturidade, com síntese (1865-1883)

Resumo: Consolidação da formulação anterior, agora sintetizada sob a noção da pré-história da humanidade
(época das sociedades de classe) como processo “histórico-natural” ou “natural-espontâneo” (ou seja, que
se realiza inconscientemente, sob formas falsas de consciência ou ideologias). As expressões aparecem em
O Capital, livro 1, sobretudo em passagens modificadas ou acrescentadas na 2ª ed. alemã (1873).

Trecho: “Ao descrever de modo tão acertado meu verdadeiro método, bem como a aplicação pessoal que
faço deste último, que outra coisa fez o autor [Kaufmann] senão descrever o método dialético? [...] ‘Marx
concebe o movimento social como um processo histórico-natural, regido por leis que não só são
independentes da vontade, consciência e intenção dos homens, mas que, pelo contrário, determinam sua
vontade, consciência e intenções [...]. Se o elemento consciente desempenha papel tão subalterno na história
da civilização, é evidente que a crítica que tem por objeto a própria civilização está impossibilitada [...] de ter
como fundamento uma forma ou resultado qualquer da consciência. Ou seja, o que lhe pode servir de ponto
de partida não é a ideia, mas unicamente o fenômeno externo. A crítica terá de limitar-se a cotejar e
confrontar um fato não com a ideia, mas com outro fato’” (Marx, Posfácio à 2ª ed. alemã de O Capital, 1)

6. Período de sistematização (1883-1895)

Resumo: Sistematização da tese anterior, por Engels, e para fins de divulgação e desenvolvimento, produzida
no período posterior à morte de Marx. Isso inclui a correspondência de Engels, na qual busca esclarecer e
equacionar a noção de “determinação econômica em última instância”.

Trecho: “Assim como Darwin descobriu a lei do desenvolvimento da natureza orgânica, Marx descobriu a lei
do desenvolvimento da história humana: o fato tão simples, mas que até ele se mantinha oculto pelo ervaçal
ideológico, de que o homem precisa, em primeiro lugar, comer, beber, ter um teto e vestir-se antes de poder
fazer política, ciência, arte, religião, etc.; que, portanto, a produção dos meios de subsistência imediatos,
materiais e, por conseguinte, a correspondente fase econômica, de desenvolvimento de um povo ou de uma
época é a base a partir da qual se desenvolveram as instituições políticas, as concepções jurídicas, as ideias
artísticas e inclusive as ideias religiosas dos homens e de acordo com a qual devem, portanto, explicar-se; e
não ao contrário, como se vinha fazendo até então” (Engels, Discurso diante da sepultura de Marx).

MÓDULO 2. DA MATURIDADE À JUVENTUDE (RELIGIÃO E REVOLUÇÃO)

1. Formulação de maturidade, no período de sistematização

“A Idade Média anexou à teologia, convertendo em seus apêndices, todas as demais formas ideológicas: a
filosofia, a política, a jurisprudência. Obrigava, com isso, todo movimento social e político a revestir uma
forma teológica; ao espírito das massas, alimentado exclusivamente com a religião, não restava outro
caminho senão apresentar seus interesses sob um disfarce religioso, se se desejasse levantar uma grande
tempestade. [...] também a heresia protestante desdobra-se em pouco tempo numa ala burguesa moderada
e em outra plebeia-revolucionária, execrada pelos próprios hereges burgueses” (Engels, Ludwig Feuerbach e
o fim da filosofia clássica alemã).

2. Formulação de maturidade, no período de maturidade (Engels)

“Na minha exposição, na qual me limito a descrever a traços largos o curso histórico da luta, procuro explicar
a origem da guerra camponesa, a posição ocupada pelos diferentes partidos que nela intervêm, as teorias
políticas e religiosas com que esses partidos buscavam explicar a si mesmos e a sua posição e, finalmente, o
próprio desenlace da luta como uma consequência necessária das condições históricas da vida social dessas
classes naquela época. [...] Essa concepção da história – a única concepção materialista – não foi criada por
mim, antes pertencendo a Marx e constituindo a base de seus trabalhos sobre a revolução francesa de 1848-
1849 [...] e de O 18 Brumário de Luís Bonaparte” (Engels, Prefácio à 2ª ed. alemã de As guerras camponesas
na Alemanha).

3. Formulação de maturidade, no período de maturidade (Marx)

“O reflexo religioso do mundo real só pode desaparecer quando as relações cotidianas da vida prática se
apresentam diariamente para os próprios homens como relações transparentes e racionais que eles
estabelecem entre si e com a natureza. A figura do processo social de vida, isto é, do processo material de
produção, só se livra de seu místico véu de névoa quando, como produto de homens livremente socializados,
encontra-se sob seu controle consciente e planejado. Para isso, requer-se uma base material da sociedade
ou uma série de condições materiais de existência que, por sua vez, são elas próprias o produto natural-
espontâneo de uma longa e excruciante história de desenvolvimento” (Marx, O Capital, livro 1).

4. Formulação de maturidade, no período de maturação

“’Mas’ — dirão — ‘as ideias religiosas, morais, filosóficas, políticas, jurídicas etc. modificaram-se no curso do
desenvolvimento histórico. A religião, a moral, a filosofia, a política, o direito sobreviveram sempre a essas
transformações. [...]’. A que se reduz essa acusação? A história de toda a sociedade até nossos dias moveu-
se em antagonismos de classes, antagonismos que se têm revestido de formas diferentes nas diferentes
épocas. Mas qualquer que tenha sido a forma assumida, a exploração de uma parte da sociedade por outra
é um fato comum a todos os séculos anteriores. Portanto, não é de espantar que a consciência social de
todos os séculos, apesar de toda sua variedade e diversidade, se tenha movido sempre sob certas formas
comuns, formas de consciência que só se dissolverão completamente com o desaparecimento total dos
antagonismos de classes” (Marx e Engels, Manifesto comunista).

6. Formulação de maturidade, no período de juventude (Marx)

“O homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. Esse Estado e essa sociedade produzem a religião,
uma consciência invertida do mundo, porque eles são um mundo invertido. A religião é a teoria geral deste
mundo, seu compêndio enciclopédico, sua lógica em forma popular, seu point d'honneur [ponto de honra]
espiritualista, seu entusiasmo, sua sanção moral, seu complemento solene, sua base geral de consolação e
de justificação. Ela é a realização fantástica da essência humana, porque a essência humana não possui uma
realidade verdadeira. Por conseguinte, a luta contra a religião é, indiretamente, contra aquele mundo cujo
aroma espiritual é a religião. A miséria religiosa constitui ao mesmo tempo a expressão da miséria real e o
protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração,
assim como o espírito de estados de coisas embrutecidos. Ela é o ópio do povo” (Marx, Introdução à crítica
da filosofia do direito de Hegel).

7. Formulação de maturidade, no período de juventude (Engels)

“O socialismo é, ao mesmo tempo, a expressão mais resoluta da irreligiosidade que reina entre os operários,
irreligiosidade inconsciente, visto que exclusivamente prática, uma vez que com frequência os operários
hesitam em admiti-la; mas, também aqui, a necessidade constrangerá os operários a abandonar uma fé que,
e eles o compreendem cada vez mais claramente, serve apenas para enfraquecê-los e torná-los resignados
ante a sua sorte, obedientes e servis à classe proprietária que os dessangra” (Engels, A situação da classe
trabalhadora na Inglaterra).

MÓDULOS 3. ALGUMAS IMPLICAÇÕES ESTRATÉGICAS

1. Estrutura x Superestrutura

1.1. Escravismo antigo (Política) x Feudalismo (Religião)

“É claro que a Idade Média não podia viver do catolicismo, assim como o mundo antigo não podia viver da
política. Ao contrário, é o modo como eles produziam sua vida que explica por que lá era a política, aqui o
catolicismo que desempenhava o papel principal. Além do mais, não é preciso grande conhecimento, por
exemplo, da história da República romana para saber que sua história secreta se encontra na história da
propriedade fundiária” (Marx, Capital: livro 1).

1.2. Feudalismo (Religião) x Capitalismo (Direito)

“Na Idade Média, a concepção de mundo era essencialmente teológica. [...] Entretanto, no seio da
feudalidade desenvolvia-se o poder da burguesia. [...] O dogma e o direito divino eram substituídos pelo
direito humano, e a Igreja pelo Estado. [...] Visto que o desenvolvimento pleno do intercâmbio de
mercadorias em escala social [...] engendra complicadas relações contratuais recíprocas e exige regras
universalmente válidas, que só poderiam ser estabelecidas pela comunidade – normas jurídicas estabelecidas
pelo Estado –, imaginou-se que tais normas não proviessem dos fatos econômicos, mas dos decretos formais
do Estado” (Engels e Kautsky, O socialismo jurídico).

2. Proletariado x Luta de classes

2.1. Condições de existência x Interesses de classe

“Uma classe na qual os interesses revolucionários da sociedade se concentram encontra, no momento em


que ascende, diretamente em sua própria condição, o conteúdo e o material de sua atividade revolucionária:
abater inimigos e adotar as medidas exigidas pela necessidade da luta; são as consequências de seus próprios
feitos que a impulsionam a prosseguir. Ela não faz investigações teóricas sobre a tarefa que lhe cabe” (Marx,
As lutas de classes na França, 1850).

2.2. Interesses de classe x Formas ideológicas (Direito)

“Na primeira versão da Constituição, formulada pelas jornadas de junho [de 1848], ainda constava [...] o
direito ao trabalho, a primeira fórmula desajeitada, que sintetizava as reivindicações revolucionárias do
proletariado. [...] Para o senso burguês, o direito ao trabalho é um contrassenso, um miserável desejo
piedoso, mas por trás do direito ao trabalho está o poder sobre o capital, por trás do poder sobre o capital,
a apropriação dos meios de produção, seu submetimento à classe operária associada, portanto, a supressão
do trabalho assalariado, do capital e de sua relação de troca. Por trás do ‘direito ao trabalho’ estava a
Insurreição de Junho” (Marx, As lutas de classes na França, 1850).

3. Comunistas x Luta de classes

3.1. Condições de existência x Formas ideológicas

“A transformação, pela divisão do trabalho, de forças (relações) pessoais em forças reificadas não pode ser
superada arrancando-se da cabeça a representação geral dessas forças, mas apenas se os indivíduos
voltarem a subsumir essas forças reificadas a si mesmos e superarem a divisão do trabalho” (Marx e Engels,
A ideologia alemã).

3.2. Formas ideológicas x Ciência da história

“[...] forma particular de produção, a produção de mercadorias [...], continua a aparecer, para aqueles que
se encontram no interior das relações de produção das mercadorias, como algo definitivo, mesmo depois
daquela descoberta {fetichismo da mercadoria}, do mesmo modo como a decomposição científica do ar em
seus elementos deixou intacta a forma do ar como forma física corpórea” (Marx, O Capital, livro 1).

3.3. Ciência da história x Proletariado

“Na prática, os comunistas constituem a fração mais resoluta dos partidos operários de cada país, a fração
que impulsiona as demais; teoricamente têm sobre o resto do proletariado a vantagem de uma compreensão
nítida das condições, do curso e dos fins gerais do movimento proletário. O objetivo imediato dos comunistas
é o mesmo que o de todos os demais partidos proletários: constituição do proletariado em classe, derrubada
da supremacia burguesa, conquista do poder político pelo proletariado” (Marx e Engels, Manifesto
comunista, 1848).

3.4. Proletariado x Condições de existência

“[...] a questão é a seguinte: como o proletariado, durante o período de luta para derrubar a antiga sociedade,
ainda age com base na antiga sociedade e, por conseguinte, continua a se mover entre formas políticas que
mais ou menos pertenciam àquela sociedade, ele ainda não encontra, durante esse período, sua constituição
definitiva e emprega meios para sua libertação que, depois dessa libertação, deixam de existir; por isso, o sr.
B[akunin] conclui que seria melhor o proletariado não fazer nada [...] e esperar pelo [...] dia do juízo final”
(Marx, Resumo crítico de Estatismo e Anarquia de Mikhail Bakunin, 1875).

4. Comunistas x Comunistas

4.1. Ciência da história x Teleologia

“Uma vez reconhecido o homem como a essência, como a base de todas as atividades e dos estados
humanos, apenas a ‘Crítica’ pode inventar novas categorias e transformar de novo o próprio homem [...] em
uma categoria e no princípio de toda uma série de categorias, atitude com a qual a humanidade teológica
atemorizada e perseguida abraça, por certo, o último caminho de salvação que ainda lhe restava livre. A
História não faz nada, ‘não possui nenhuma riqueza imensa’, ‘não luta nenhum tipo de luta’! Quem faz tudo
isso, quem possui e luta é, muito antes, o homem, o homem real, que vive; não é, por certo, a ‘História’, que
utiliza o homem como meio para alcançar seus fins – como se se tratasse de uma pessoa à parte –, pois a
História não é senão a atividade do homem que persegue seus objetivos” (Marx e Engels, A sagrada família).

4.2. Ciência da história x Economicismo


“Quanto mais [...] as condições da classe dominante desenvolvem sua oposição às forças produtivas [...],
quanto mais cresce [...] a discórdia na própria classe dominante e entre esta e a classe dominada, é claro que
tanto mais inautêntica se torna a consciência que [...] correspondia a essa forma de intercâmbio, [...] e tanto
mais as representações sobre essas relações [...] descambam para meras frases de efeito idealizadoras, para
a ilusão consciente, para a hipocrisia proposital. Porém, quanto mais elas são desmentidas pela vida e quanto
menos valem para a própria consciência, tanto mais resolutamente são afirmadas, tanto mais hipócrita,
moralista e santa se torna a linguagem [...]” (Marx e Engels, A ideologia alemã, 1846).

4.3. Ciência da história x Politicismo

“Essa contradição entre as forças produtivas e a forma de intercâmbio, que, como vimos, ocorreu várias vezes
na história anterior sem, no entanto, ameaçar o seu fundamento, teve de irromper numa revolução em que
a contradição assumiu ao mesmo tempo diversas formas acessórias, tais como [...] contradição da
consciência, luta de ideias, luta política etc. De um ponto de vista limitado, pode-se isolar, então, uma dessas
formas acessórias e considerá-la como a base dessas revoluções, o que é tanto mais fácil na medida em que
os indivíduos que promoveram as revoluções guardavam ilusões sobre sua própria atividade, segundo seu
grau de formação e seu estágio de desenvolvimento histórico” (Marx e Engels, A ideologia alemã, 1846).

4.4. Ciência da história x Vanguardismo

“Certa vez, um nobre homem imaginou que os seres humanos se afogavam na água apenas porque estavam
possuídos pela ideia da gravidade. Se afastassem essa representação da cabeça, por exemplo esclarecendo-
a como uma representação supersticiosa, religiosa, eles estariam livres de todo e qualquer perigo de
afogamento. Durante toda a sua vida combateu a ilusão da gravidade, de cujas danosas consequências todas
as estatísticas lhe forneciam novas e numerosas provas. Aquele nobre homem era do tipo dos novos filósofos
revolucionários alemães” (Marx e Engels, A ideologia alemã, 1846).

5. Comunistas x Comunismo

5.1. Transição x Condições de existência

“O comunismo não é para nós um estado de coisas [...] que deve ser instaurado, um Ideal para o qual a
realidade deverá se direcionar. Chamamos de comunismo o movimento real que supera o estado de coisas
atual. As condições desse movimento [...] resultam dos pressupostos atualmente existentes” (Marx e Engels,
A ideologia alemã, 1846).

5.2. Transição x Formas ideológicas

“Nosso objeto aqui é uma sociedade comunista, não como ela se desenvolveu a partir de suas próprias bases,
mas, ao contrário, como ela acaba de sair da sociedade capitalista, portanto trazendo de nascença as marcas
econômicas, morais e espirituais herdadas da velha sociedade de cujo ventre ela saiu” (Marx, Crítica ao
programa de Gotha, 1875).

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