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Palavra chave: Ideologia burguesa, produção capitalista, forças produtivas, relações de classe.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo pretende analisar a trajetória da construção da ideologia burguesa, na
perspectiva de evidenciar a sua importância para a manutenção do modo de produção
capitalista, na medida em que a mesma contribui para a diminuição das tensões causadas pelas
constantes crises inerentes ao modo de produção capitalista. Tenta discutir como a ideologia
burguesa atua de forma repressiva impedindo a realização completa das forças produtivas
visando a continuação do desenvolvimento de novas relações de produção.
A ideologia burguesa direciona as relações de produção capitalista para eliminar ou
dificultar a produção e a reprodução de novas relações que são determinadas pelo estágio dos
instrumentos de produção, “naturalizando” o modo capitalista de produção, tentando fazer
com que os homens, em geral, percam a noção de história e sua própria identidade como
sujeitos que transformam suas condições de vida, a partir da interação com a natureza.
Com efeito, a falsa noção do real na vida das pessoas foram e ainda são, um dos
problemas mais discutidos por pensadores do mundo inteiro. No pensamento ocidental, Platão
1
Assistente social, doutora em sociologia do trabalho pela Université de Picardie “Jules Verne”, Amiens-France;
professora do curso de Graduação e Pós-Graduação em Serviço Social-Universidade Federal do Pará.
2
Assistente Social, discente do curso de mestrado em Social Social-Universidade Federal do Pará-UFPA; bosista
da CAPES.
e Aristóteles marcaram o nascimento de duas matrizes teóricas que buscam explicar esse
fenômeno - o mundo dividiu-se: de um lado os idealistas e de outro os materialistas.
Para os idealistas, segundo Platão, a realidade sensível é apenas a expressão das idéias,
mas não corresponderia a realidade, pois, trata-se apenas de uma imagem: o que é verdadeiro
é imutável, só é igual a si mesmo. As idéias são para Platão a parte inteligível do ser, que
pode ser decodificada pela mente humana. Contrariamente, os materialistas – dentre os quais
se destaca Aristóteles – acreditam que o real é o que pode ser sentido, percebido pelos nossos
sentidos. Para ele, a razão poderia decodificar a aparência sensível das coisas, sendo assim,
possível escapar do erro de considerar somente a matéria e enxergar a sua razão ou essência.
No século XXI, a burguesia faz um grande esforço para apagar da mente humana, a
originalidade, como se as relações sociais só se reproduzissem e nunca se transformassem.
Esse papel castrador do progresso humano é realizado pela ideologia burguesa que tenta
cristalizar, o que é perecível.
A burguesia construiu uma estrutura ideológica como suporte à sua apropriação dos
meios de produção e a utiliza para justificar sua posição de classe dominante na sociedade
contemporânea. Segundo essa ideologia, as conquistas e o progresso do modo de produção
capitalista são pra todos.
A tentativa de evidenciar o uso conservador que a sociedade burguesa faz dos
conceitos de Democracia, Direitos Humanos e Liberdade, dentre outros, torna-se importante
voltar, ainda que de forma breve, ao nascimento da sociedade moderna onde se rascunhou
pela primeira vez ou se resgatou, embora de forma diferente, alguns desses conceitos. Para tal,
tomou-se como ponto de partida, o contexto histórico que conduziu à Revolução Francesa.
Segundo Huberman (1976), a sociedade francesa, até o século XVIII, estava
organizada em três níveis ou estados. No primeiro, se destacava o Clero que monopolizava o
poder espiritual, ético e moral, e os impunha a todos. No segundo, estava a Nobreza que
monopolizava o poder político e gozava juntamente com o Clero de uma gama de privilégios
políticos, econômicos e sociais que ao povo era negado e, no terceiro estado estava o Povo
que era formado, basicamente, por artesões, camponeses e por uma classe média que
enriquecia cada vez mais com a manufatura e o comércio. Este grupo devia obediência e
tributos ao Clero e a Nobreza.
O feudalismo sinalizava sua decadência desde o Renascimento quando o homem
passou a ser o centro das reflexões sobre o mundo e, se intensificou com o surgimento do
Estado-nação, com o mercantilismo e com a descoberta do novo mundo. Essas
transformações foram financiadas por uma classe que emergia com muito poder econômico,
mas sem prestígio e status social. Essa nova classe, que mais tarde constituirá a burguesia, via
no clero o eixo central da organização da sociedade feudal e precisava enfraquecê-la para
continuar o seu desenvolvimento.
A burguesia pelo interesse de expandir seu poder econômico e político precisava
diminuir a influência da Igreja Católica na vida das pessoas e da sociedade. Para ela, a
estrutura social e econômica da sociedade feudal limitava o seu desenvolvimento, pois, cada
feudo tinha leis e taxas próprias, por isso passou a financiar alguns senhores feudais, que
cresceram em poder e passaram a submeter os outros ao seu poder, surgindo assim os Estado-
nação, os quais possibilitariam uma outra estrutura político-administrativa que não
prejudicasse seus negócios, isto é: um governo forte que centralizasse o poder, capaz de impor
certa ordem à sociedade, por meio de instrumentos legais e o monopólio da força, visto que
havia a “Necessidade de uma autoridade central, um Estado nacional. Um poder supremo que
pudesse colocar ordem no caos feudal” (HUBERMAN, 1976, p. 80). Nasce, nasce assim, o
absolutismo que foi o sistema político e administrativo que vigorou do século XVI ao XVIII.
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O sentido usado aqui para o termo “ideologia” é o sentido utilizado por Marx, a qual expressa uma falsa
noção de real materialmente concebida.
consciência do homem diluiu-se e ele, inspirado na história, voltou a colocar-se no centro
como medidas de todas as coisas.
A Revolução Francesa expressou concretamente que no século XVIII, uma nova
atmosfera de pensamentos encadeados de forma racional que se expandia pela velha Europa.
Esse período foi chamado de Iluminismo: uma nova forma de ver o mundo que criticava a
Idade Média e as relações feudais, pois, acreditava-se que nesse período imperava a
escuridão. O iluminismo marcava, assim, o nascimento da humanidade dos homens que para
os pensadores da época representava o progresso deste ser pautado na racionalidade e na
noção dialética da história.
Surge aqui, a figura do indivíduo como ser capaz de se constitui socialmente, que
pensa autonomamente e, quer decidir sobre sua própria vida, independente das tradições, quer
construir a própria história. O indivíduo moderno questiona a ordem da sociedade,
acreditando que poder fazer escolhas e escrever sua história. A burguesia se identificava com
essa figura que nasce questionando sua situação social e a estrutura social vigente.
Segundo Coutinho (1972), o grande legado desse movimento progressista ascendente
que buscava a construção de uma racionalidade humanista e dialética, foram: o humanismo, o
historicismo e a razão dialética, o quê explica porque, após a Revolução Francesa, a burguesia
fará um grande esforço para tentar deslegitimar tais conquistas. Para este autor “As categorias
do humanismo, do historicismo e Razão dialética são os únicos instrumentos capazes de
fundar cientificamente a ética e a ontologia. Por isso, a tendência ideologizante da decadência
começa exatamente por romper com tais categorias” (COUTINHO, 1972, p. 16).
A burguesia via no Iluminismo a oportunidade de conquistar uma dimensão
importante na sua luta pelo poder que era a mente dos homens, por isso passou a financiar
esses pensadores. A nova classe, então, vestiu-se de revolucionária contra os desmandos dos
reis, principalmente, no campo econômico, voltando-se contra o mercantilismo, os privilégios
da nobreza e do clero, a favor de uma sociedade justa, onde todos tivessem liberdade e fossem
iguais.
A Revolução Francesa pode ser entendida como o apogeu do pensamento racionalista,
que criticava a forma irracional como o rei e a nobreza conduzia o país. Neste momento, não
havia outra coisa a ser feita que não derrubar o regime vigente e instaurar uma sociedade
alicerçada pela nova ideologia. Para tanto, a burguesia dispunha da organização e do dinheiro,
necessários à uma revolução, mas faltavam-lhes homens revoltados com sua situação de
extrema pobreza, por isso, segundo Huberman (1976, p. 159) “A burguesia insuflou a
revolução porque tinha que fazê-lo. Se não derrubassem seus opressores, teria sido por eles
esmagada.” A burguesia uniu-se a revolta do povo, mas, seus projetos não eram os mesmos.
O primeiro lutava por um Laissez-faire no comércio e na indústria e, o segundo lutava por
liberdade e justiça social.
Para Comte, só seria possível ao homem, através de apreciações sistemáticas dos fatos
existentes, o conhecimento das leis gerais deste, nunca sua origem (essência) ou destino (vir a
ser). Mesmo o conhecimento dessas leis gerais não é absoluto, é apenas relativo, pois os
meios utilizados nas pesquisas são sempre imperfeitos, sendo, portanto, impossível de fato
conhecer apenas aproximar-se da existência real das coisas, não se trata aqui da dialética das
coisas, do eterno vir-a-ser das coisas, é tão somente a impossibilidade dos homens
conhecerem o real. Para este autor, mesmo essa aproximação do que possa ter, o real não é
algo possível a todos os homens, mas somente o intelectual que teria este privilégio.
Na filosofia de Comte e, posteriormente, no método positivista de Durkheim, as
categorias da razão dialética (tese, antítese e síntese), da historicidade (história feita pelos
homens em seu processo de desenvolvimento) e do humanismo são abandonadas. Por isso, a
burguesia absorverá sua filosofia, pois, ela não se choca com seus interesses, pelo contrário, a
burguesia, agora, conservadora não tem interesse em transformar a realidade a partir do
confronto de suas contradições, muito menos, estimular nos homens a busca por sua
humanidade, entendida como amadurecimento intelectual e percepção no mundo.
Com o positivismo, as palavras liberdade, igualdade e fraternidade já são outros, não
fazem mais alusão à necessidade de mudança na ordem social, seus sentidos foram
reformulados para justamente cimentarem a manutenção da ordem burguesa conforme a
filosofia positivista, segundo a qual, para que haja uma perfeita harmonia na sociedade os
indivíduos devem à ela se ajustar segundo suas funções e lugar na estrutura social.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
7 REFERÊNCIAS
ANTUNES, Ricardo, Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do
mundo do trabalho. 12.ed. – São Paulo: Cortez, 2007
MORIN, Edgar. Ciência com Consciência. Tradução de Maria D. Alexandre e Maria Alice
S. Dória. Ed. revista e modificada pelo autor – 12ª. ed., Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.