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Platão

- Filosofia como libertação da alma

Platão - Filosofia como libertação da alma

Figura 1- Fragmento de A Escola de Atenas - Rafael - afresco - 1508-1511 - Museu do Vaticano

Platão (c. 428/427 a.C. – c.348/347 a.C.) foi um dos principais filósofos gregos da Antiguidade. Aluno de Sócrates – e
professor de Aristóteles (c. 384 a.C. – c. 322 a.C.). Criador da Academia em Atenas, foi responsável por desenvolver
pensamentos a partir do dualismo presente nas teorias sobre o Mundo Sensível vs. Mundo Inteligível. Abordaremos
suas ideias principais e sua obra mais conhecida, A República, na qual encontramos o Mito da Caverna.

No afresco A Escola de Atenas, de Rafael, Platão e Aristóteles estão retratados no centro da pintura. O primeiro está com o
dedo apontado para cima, já seu pupilo aponta para baixo. O significado disso é que Platão era o filósofo que acreditava
que o mundo das ideias fornecia o conhecimento verdadeiro sobre o homem e o todo. Já Aristóteles foi o que discutiu sobre
a existência da forma (eidos) e da matéria (hyle). Porém, o que foi esse mundo das ideias de Platão?

Nasceu em uma família aristocrática de Atenas, inclusive acredita-se que tinha ligação com o antigo legislador Sólon por
parte de mãe. Seus irmãos Glaucon e Adeimantus, por exemplo, foram colocados como interlocutores de Sócrates em A
República. Ou seja, sua relação e posição familiar foi importante para a construção do seu pensamento. Viu de perto as
consequências da derrota na Guerra do Peloponeso. Platão afirmava que a democracia ateniense não dava espaço para o
desenvolvimento dos cargos públicos, que tinham uma duração limitada e não estimularem a tirania, por exemplo. Para
ele, o político não buscava o bem comum, e nem sempre a maioria tinha a melhor solução para os problemas gerais.
Figura 2 - Platão na Academia - Carl Wahlbom - 1879

Outra figura importante, e já citado, foi Sócrates, que o influenciou com sua busca pela verdade. Após sua morte, Platão
viajou pela Grécia, Itália, Ásia Menor e Egito, e passou a formular seus diálogos e teorias metafísicas e políticas. Em A
República, composta por 10 livros e tendo seu professor como aquele que instiga a discussão, discorre sobre diversos
assuntos e temas que se relacionam com a vontade de destrinçar o mundo e o homem.

Ao discutir a ideia de Justiça, Platão começa a definir os conceitos de bem, mal e a natureza do homem. Para isso, crias as
diversas alegorias interpretativas, como os mitos, o já conhecido Mito da Caverna, o Anel de Giges e o Mito de Er. Em
um dos primeiros livros começa a delinear a sua ideia de cidade ideal, a partir da qual expõe seu pensamento acerca da
política e da organização social, que deveriam ser mais justas. Esta questão permeia todo o diálogo, e passa a estipular
que é por meio da educação, a Paideia, que o conhecimento é adquirido e um melhor sistema político desenvolvido. A base
educacional seria a música, aqui em um sentido mais amplo do que canções, abarca poesia também – que foi bastante
criticada por ele – e a ginastica. Os dois tópicos são o alicerce para a fundação da cidade justa, que deveria surgir do
equilíbrio de ambos.

Para Platão, portanto, os filósofos seriam os mediadores certos para o melhor sistema político, pois não eram corruptíveis.
Isso se dava porque a busca pelo conhecimento deveria ser o ponto inicial para qualquer atuação política, mas o que ele
via era o discurso e a oratória construídos para beneficiarem poucos. Lembrem-se que a democracia ateniense era feita
apenas para e pelos cidadãos, o que era extremamente restrito, como vemos em Antiguidade Clássica: Grécia Antiga
(LINK).

Se o filósofo era o apto para governar, significa que a razão capacitava quem governa com a ideia do bem comum. Esse
pensamento se relaciona diretamente com a teoria sobre o mundo sensível e inteligível. O Mito da Caverna ilustra bem
esse ponto. Essa alegoria diz que havia algumas pessoas que cresceram presas em uma caverna, e ficaram de costas para
a entrada e de frente para uma parede onde eram projetadas as sombras de tudo o que acontecia do lado de fora. Estas
representações da realidade eram percebidas como verdade para eles, já que era o que conheciam através da experiência.
Em um determinado dia, um deles se libertou e saiu da caverna, quando teve contato com a verdade e percebeu que
conhecia apenas uma imitação da realidade. Voltou à caverna para soltar seus companheiros e introduzi-los no mundo
verdadeiro, mas eles não acreditaram no seu relato e o mataram. Essa história se relaciona à situação vivida por Sócrates
em Atenas, e é a alegoria do filósofo que foi iluminado pelo conhecimento real adquirido pelo bem e com a capacidade de
contemplar as ideias.

Para Platão, a verdade existe e não é opinião, o que observamos na construção metafísica dos dois mundos:

- Mundo inteligível – mundo das ideias, que são as estruturas imutáveis da realidade. Existe a questão da ideia
anteceder à experiência, ou seja, antes de se observar a matéria, ela já existe como conceito no plano ideal, onde tudo é
perfeito.

- Mundo sensível – é aquele vivido sensorialmente, e por causa disso, é mutável e imperfeito, pois nada alcança a
idealização do mundo das ideias. Ele é uma representação, portanto, não é harmônico.

É como se só conseguíssemos entender a existência material a partir da ideia prévia que possuímos dela. O saber consiste
da busca ao mundo inteligível, por meio da dialética, quando a pessoa sai do senso comum e atinge a episteme, que para
Platão é o conhecimento verdadeiro. E quem consegue alcançar esse patamar? Os filósofos, pois fazem essa transição para
rememorar aquilo que estava no mundo perfeito.

O homem, para Platão, era composto pelo corpo – forma material – e pela alma, que é sua essência e vem do mundo das
ideias. Isto é, temos uma parte desse plano perfeito que, ao nascermos, fica adormecido. A alma é formada por três
características que são diretamente conectadas:

- Apetitiva: se refere à subsistência no mundo sensível;

- Emotiva: onde estão nossas emoções;

- Racional: a mais importante e todas devem culminar nela, pois é superior e por meio dela acessamos o conhecimento
inteligível.

Quando Platão insere o questionamento sobre a Justiça e descreve a cidade ideal como aquela governada pelos educados,
ele desenvolve seu processo dialético de saída do mundo obscuro da doxa para a luz trazida pela iluminação do
conhecimento. A filosofia liberta a alma.

Platão foi muito influente nos filósofos posteriores, inclusive na Idade Média. É um dos pensadores mais cobrados nos
vestibulares. A diferença entre Mundo das Ideias e Mundo Sensível é fundamental, assim como o Mito da Caverna, pois a
partir dele conseguimos entender os caminhos das suas ideias.

1. (Upe-ssa 1 2018) Leia o texto a seguir sobre o pensamento grego:

Platão escreveu diálogos filosóficos, verdadeiros dramas em prosa. Foi um dos maiores escritores de todos os tempos, e
ninguém conseguiu, como ele, unir as questões filosóficas à tamanha beleza literária. As ideias filosóficas de Platão é a
primeira grande síntese do pensamento antigo. (Adaptado)

(REZENDE, Antonio. Curso de Filosofia, Rio de Janeiro: Zahar, 1998, p. 46.)

No tocante a essa temática, assinale a alternativa CORRETA sobre o pensamento de Platão.

a) Enfatiza as ideias no mundo sensível, buscando a verdade na natureza.

b) Retrata a doutrina das ideias e salienta a existência do mundo ideal para fazer possível a verdadeira ciência.

c) Prioriza a verdade do mundo concreto com a confiança no conhecimento dos sentidos.

d) Sinaliza o valor dos sentidos como condição para o alcance da verdade.

e) Atenta para o significado da razão no plano da existência da realidade sensível.

2. (Uece 2019) Atente para as seguintes citações:

“Temos assim três virtudes que foram descobertas na nossa cidade: sabedoria, coragem e moderação para os chefes;
coragem e moderação para os guardas; moderação para o povo. No que diz respeito à quarta, pela qual esta cidade
também participa na virtude, que poderá ser? É evidente que é a justiça” (Platão, Rep., 432b).

“O princípio que de entrada estabelecemos que se devia observar em todas as circunstâncias quando fundamos a cidade,
esse princípio é, segundo me parece, ou ele ou uma de suas formas, a justiça. Ora, nós estabelecemos, segundo suponho, e
repetimo-lo muitas vezes, se bem te lembras, que cada um deve ocupar-se de uma função na cidade, aquela para a qual a
sua natureza é mais adequada” (Platão, Rep., 433a).

Considerando a teoria platônica das virtudes, escreva V ou F conforme seja verdadeiro ou falso o que se afirma a seguir:

( ) Nessa teoria das virtudes, cada grupo desenvolve a(s) virtude(s) que lhe é (ou são) própria(s).

( ) Só pode ser justa a cidade em que os grupos que dela participam e nela agem o fazem de acordo com sua natureza.

( ) Quando sabedoria, coragem e moderação se realizam de modo adequado, temos a justiça.

( ) Existe uma relação entre a natureza dos indivíduos, o grupo de que devem fazer parte na cidade, as virtudes que lhes
são adequadas e, em consequência, a função que nela devem desempenhar.

A sequência correta, de cima para baixo, é:

a) V, V, V, V.

b) V, F, F, V.

c) F, F, V, F.

d) F, V, F, F.

Gabarito:

Questão 1 - [B] – A essência dita por Platão corresponde ao Mundo das Ideais, com conhecimentos acessíveis pela razão.
Questão 2 - [A] – O trecho da questão fala sobre justiça e a Teoria das Virtudes. Cada um está inclinado a uma
característica específica, ou seja, a natureza do indivíduo é fundamental para uma sociedade justa.

Platão: dualidade entre o Mundo Sensível e o Mundo das Ideias. Alma Tripartite: Racional, Apetitiva, Emotiva. Influência
de Parmênides. Mito da Caverna.

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