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Filosofia Grega

O termo Filosofia Grega é utilizado para designar o período que se estende desde
o nascimento da filosofia na Grécia Antiga, no final do século VII a.C. ao fim do
período helenístico e a consolidação do período medieval da filosofia, no século VI
d.C..

A filosofia grega é dividida entre três períodos principais: pré-socrático,


socrático (clássico ou antropológico) e o helenístico.

O "Milagre Grego"

O chamado "milagre grego" tem referência a uma transição relativamente rápida


da consciência mítica para a consciência filosófica na Grécia Antiga.

Os gregos possuíam uma forte tradição oral pautada nas narrativas dos mitos, o
que dava conta de construir o pensamento coletivo e sua leitura de mundo.

A partir do final do século VII a.C., surge a filosofia como a atitude de explicar
o mundo de forma lógica e racional.

Durante muitos anos, considerou-se essa passagem da mitologia para a filosofia


como algo sem muita explicação, um milagre.

Entretanto, não foi propriamente um milagre o que levou os gregos a filosofar.


Uma série de fatores afetaram o contexto grego e culminaram nessa mudança:

 o comércio, as navegações e a diversidade cultural;


 o surgimento da escrita alfabética;
 o surgimento da moeda;
 a invenção do calendário;
 o surgimento da vida pública (a política).

Todos esses fatores reunidos tornaram possível que os gregos buscassem um


conhecimento mais desmistificado que se aproximasse das questões humanas.
Encontraram na razão humana, uma ferramenta para a construção de um novo tipo de
conhecimento.

Através do pensamento metódico e regrado oferecido pela razão, os gregos


passaram a racionalizar as questões práticas do cotidiano e encontrar uma certa
ordenação das coisas e do universo.
Os primeiros filósofos buscaram encontrar uma ordem na physis (natureza)

Os primeiros filósofos, conhecidos como filósofos da natureza (physis)


ou filósofos pré-socráticos foram os responsáveis pelo estabelecimento da filosofia
como área do conhecimento.

Buscaram estabelecer princípios lógicos para a formação do mundo. A natureza


desmitificada (sem o auxílio das explicações míticas) era o objeto de estudo.

Alguns pensadores do período se destacaram e passaram a desenvolver uma


cosmologia (estudo do universo) com o intuito de produzir um conhecimento racional
sobre a natureza:

1. Tales de Mileto
Escultura de Tales de Mileto, primeiro filósofo

Nascido na cidade de Mileto, região da Jônia, Tales de Mileto (624 a.C. - 548


a.C.) acreditava que a água era o principal elemento, ou seja, era a essência de todas as
coisas.

Tudo é água.

2. Anaximandro de Mileto

Representação do mapa do mundo proposto por Anaximandro

Anaximandro (610 a.C. - 547 a.C.), discípulo de Tales, ambos nascidos na


cidade de Mileto, afimava que o princípio de tudo estava no “ápeiron”, uma espécie de
matéria infinita da qual o universo seria constituído.

O ilimitado (ápeiron) é eterno, imortal e indissolúvel.

3. Anaxímenes de Mileto
Desenho representativo de Anaxímenes de Mileto

Para Anaxímenes (588 a.C. - 524 a.C.), discípulo de Anaximandro, o princípio


de todas as coisas estava no elemento ar.

Como nossa alma, que é ar, nos mantém unidos, assim um espírito e o ar
mantêm unido também o mundo inteiro; espírito e ar significam a mesma
coisa.

4. Heráclito de Éfeso

Heráclito, pintura de Johannes Moreelse (1630)

Considerado o “Pai da Dialética”, Heráclito (540 a.C. - 476 a.C.) nasceu em


Éfeso e explorou a ideia do devir (fluidez das coisas). Para ele, o princípio de todas as
coisas estava contido no elemento fogo.
Não poderias entrar duas vezes no mesmo rio.

Nada é permanente, exceto a mudança.

5. Pitágoras de Samos

Pitágoras, pintura de Jusepe Ribera (1630)

Filósofo e matemático nascido na cidade de Samos, Pitágoras (570 a.C. - 497


a.C.) afirma que os números foram seus principais elementos de estudo e reflexão, do
qual se destaca o “Teorema de Pitágoras”.

Ele também foi responsável por chamar de "amantes do conhecimento" aqueles


que buscavam explicações racionais para a realidade, dando origem ao termo filosofia
("amor ao conhecimento").

O universo é uma harmonia de contrários.

6. Xenófanes de Cólofon

Representação de Xenófanes presente no livro A História da Filosofia, de Thomas


Stanley (1655)
Nascido em Cólofon, Xenófanes (570 a.C. - 475 a.C.) foi um dos fundadores da
Escola Eleática, opondo-se ao misticismo na filosofia e o antropomorfismo.

Enquanto eterno, o ente também é ilimitado, pois não possui começo a


partir do qual pudesse ser, nem fim, onde desapareça.

7. Parmênides de Eleia

Busto de Parmênides de Eleia

Discípulo de Xenófanes, Parmênides (530 a.C. - 460 a.C.) nasceu em Eleia.


Focou nos conceitos de “aletheia” e “doxa”, onde o primeiro significa a luz da verdade,
e o segundo, é relativo à opinião.

O ser é e o não ser não é.

8. Zenão de Eleia

Zenão de Eleia mostrando as portas da verdade e da falsidade para seus discípulos


Zenão (490 a.C. - 430 a.C.) foi discípulo de Parmênides, nasceu em Eleia. Foi
grande defensor das ideias de seu mestre, sobretudo, acerca dos conceitos de “Dialética”
e “Paradoxo”.

O que se move sempre está no mesmo lugar agora.

9. Demócrito de Abdera

Detalhe da pintura Demócrito, de Hendrick ter Brugghen (1628)

Nascido na cidade de Abdera, Demócrito (460 a.C. - 370 a.C.) foi discípulo de


Leucipo. Para ele, o átomo (o indivisível) era o princípio de todas as coisas,
desenvolvendo assim, a “Teoria Atômica”.

Nada existe além de átomos e do vazio.

Período Antropológico, Socrático ou Clássico


Afresco pintado por Rafael no Palácio Apostólico no Vaticano, Escola de
Atenas (1509–1511) retrata diversos filósofos do período grego. Ao centro: Platão e
Aristóteles

Este segundo período é certamente o mais representativo da filosofia grega.


Talvez por isso, possua três definições diferentes (socrático, clássico e antropológico).

Filósofos Clássicos Gregos

Gradativamente, as preocupações voltadas para a relação com a natureza


(physis) vão dando lugar ao pensamento sobre as atividades humanas. Isto justifica o
termo "antropológico", que tem origem nas palavras gregas, anthropos, "ser humano"
e lógos, "razão", "pensamento", "discurso".

No período destacam-se:

1. Sócrates

O período tem como marco principal o pensamento desenvolvido por Sócrates 


(469-399 a.C.). Sócrates é conhecido como o "pai da filosofia". Mesmo não sendo o seu
precursor, ele estruturou a forma de busca pelo conhecimento que fundamentou a
filosofia. Daí, o termo "período socrático".
Busto romano de Sócrates

A inscrição "conhece-te a ti mesmo" encontrada no pórtico do templo de Apolo,


deus da beleza e da razão, é tomada como lema da filosofia, que se institui como busca
pelo conhecimento.

Só sei que nada sei.

2. Platão

Platão (428-347 a.C.), discípulo de Sócrates, foi responsável pela maior parte da


informação. Dando sequência aos ensinamentos socráticos, desenvolveu um modo de
aquisição do conhecimento e busca pela verdade que influenciou toda a filosofia desde
então.

Busto de Platão

A distinção entre aparência e essência afirmada em sua "teoria das ideias", bem
como a relação entre alma e corpo, serviu de base para todo o pensamento ocidental.

Tudo o que é dito por qualquer um de nós só pode ser imitação e


representação.
3. Aristóteles

Fechando o período, Aristóteles (384-322 a.C.), discípulo e crítico de Platão,


desenvolve ainda mais o pensamento filosófico e estabelece métodos que influenciam a
ciência até os dias de hoje. O modo de classificação aristotélico ainda é visto, por
exemplo, na classificação dos seres vivos.

Busto de Aristóteles

O homem é por natureza um animal político.

O alcance da cultura grega muito se deve ao mais célebre aluno de


Aristóteles, Alexandre, O Grande. O império alexandrino se estendeu por boa parte da
Europa mediterrânea até a Ásia, passando por todo o Oriente Médio.

As conquistas de Alexandre foram responsáveis pela expansão da filosofia como


marca da cultura grega (helênica).

Período Helenístico
Principais períodos, pensadores e sua localização na Grécia Antiga
A filosofia helenística se desenvolve a partir da morte de Alexandre, O Grande e
o domínio do Império Romano. A pólis grega deixa de ser a grande referência, surge a
ideia do cosmopolitismo, que fez compreender os gregos como cidadãos do mundo.

Os filósofos do período passam a ser grandes críticos da filosofia clássica grega,


sobretudo, Platão e Aristóteles. O tema principal passa a ser a ética, há um
distanciamento dos indivíduos com as questões naturais e religiosas.

Escolas Helenísticas

A Filosofia passa a se desenvolver em distintas doutrinas de pensamento,


representadas pelas principais escolas:

1. Ceticismo

Representação de Pirro de Élis, do livro A História da Filosofia, de Thomas Stanley


(1655)

O ceticismo é representado principalmente pela figura do filósofo Pirro de Élis


(c. 360-270 a.C.). Com grande influência dos sofistas, afirmava a impossibilidade do
conhecimento da verdade.

Outra vitória como esta e estaremos perdidos

Na concepção cética, qualquer conhecimento pode ser refutado por outros


argumentos igualmente válidos, gerando a suspensão do juízo. Essa suspensão do juízo
traria tranquilidade e paz aos indivíduos.
Outros importantes nomes do ceticismo foram: Carnéades de Cirene, Enesidemo
e Sexto Empírico.

2. Epicurismo

Estátua de Epicuro
Doutrina filosófica desenvolvida pelo filósofo Epicuro (341-260 a.C.) baseada
na busca pela felicidade a partir da simplicidade e do prazer. Para o epicurismo, tudo o
que gera prazer é moralmente bom e o que gera a dor é mau, mas pode ser suportado.

A filosofia epicurista afirma que uma vida feliz é aquela pautada pela amizade e
pela ausência de dor, isso seria a causa da tranquilidade da alma.

Nenhum prazer é em si mesmo um mal, mas aquilo que produz certos


prazeres acarreta sofrimentos bem maiores do que os prazeres. (Epicuro
de Samos)

3. Estoicismo

Busto do Imperador Romano Marco


Aurélio, representante do estoicismo
O estoicismo é uma doutrina filosófica desenvolvida por Zenão de Cítio (333-
263 a.C.). Nela, os adeptos afirmam que não há uma divisão entre o mundo sensível e
um mundo suprassensível.

Os seres humanos seriam dotados de instintos como os outros animais, mas


participariam da Razão Universal e, por isso, são dotados de razão e vontade. A vida
bem vivida seria aquela em conformidade com as leis que regem a natureza.

A doutrina estoica teve uma grande popularidade dentro do Império Romano,


influenciando também a doutrina cristã e sua visão de mundo.

A filosofia não visa a assegurar qualquer coisa externa ao homem. Isso


seria admitir algo que está além de seu próprio objeto. Pois assim como o
material do carpinteiro é a madeira, e o do estatuário é o bronze, a
matéria-prima da arte de viver é a própria vida de cada pessoa. (Epiteto)

4. Cinismo

Diógenes em sua casa, cercado pelos cães. Diógenes, pintura de Jean-Léon Gérôme


(1860)

O Cinismo era baseado na concepção de que a vida deveria ser desenvolvida a


partir da virtude e da conformidade com a natureza. O grande nome do pensamento
cínico é o filósofo Diógenes (404-323 a.C.).

Diógenes optou por morar em um barril nas ruas de Atenas sob a companhia dos
cães. Ele afirmava que a pobreza extrema seria uma virtude.
A sabedoria serve de freio à juventude, de consolação à velhice, de
riqueza aos pobres e de ornamento aos ricos.

Uma interessante passagem ilustra a filosofia cínica. É refente a um diálogo


entre Diógenes e Alexandre, O Grande.

O imperador, grande admirador do pensamento de Diógenes, resolveu fazer-lhe


uma visita em seu barril. E, generosamente, ofereceu ao filósofo uma ajuda, ele poderia
pedir-lhe qualquer coisa.

Ao ser perguntado, Diógenes disse a Alexandre, O Grande que a única coisa que
queria, de fato, era que o Imperador saísse da frente do Sol, pois estava fazendo sombra
sobre ele.

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