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HISTÓRICO-
FILOSÓFICAS DA
EDUCAÇÃO FÍSICA
E DO ESPORTE
Introdução
A atitude filosófica começa quando as certezas passam a ser questiona-
das. A condição filosófica surge quando se olha o mundo com espanto,
suspeita, estranhamento, surpresa e questionamento. Nesse sentido, o
pensamento filosófico questiona a realidade a partir da razão crítica e da
reflexão para chegar a uma explicação sobre as coisas.
Neste capítulo, você vai estudar o surgimento da filosofia na Grécia e
a evolução do pensamento filosófico. Vai ver também como os filósofos
pré-socráticos distanciaram-se do mito e inauguraram uma nova forma
de pensar o princípio constituidor das coisas, instaurando a ideia de
physis. Por fim, você vai ver como a filosofia mudou de paradigma com
os sofistas e com Sócrates.
[...] quando a Filosofia busca reunir e sistematizar tudo quanto foi pensado
sobre a cosmologia e a antropologia, interessando-se sobretudo em mostrar
que tudo pode ser objeto do conhecimento filosófico, desde que as leis do
pensamento e de suas demonstrações estejam firmemente estabelecidas
para oferecer os critérios da verdade e da ciência (CHAUÍ, 2013, docu-
mento on-line);
Você sabe apontar a diferença entre mito e filosofia? Sabe o que favoreceu o surgimento
da filosofia?
O mito é uma forma de explicar como as coisas eram num passado imemorial,
longínquo e fabuloso. A filosofia parte de outro ponto de vista: a origem não está
somente no passado, mas na totalidade do tempo. Então, a filosofia busca explicar
como e por que as coisas são o que são.
Ferry (2007, p. 35) sugere que:
Da physis ao anthropos
A história da Grécia costuma ser dividida pelos historiadores em quatro grandes
fases ou épocas, segundo Chauí (2013, documento on-line):
De maneira geral, você pode considerar que Platão buscou legar à filosofia uma síntese
sobre as principais ideias dos pré-socráticos. De Heráclito e de Parmênides, Platão toma
a ideia de que as coisas mudam, ou seja, se vale da ideia do devir de Heráclito e da
ideia de ser de Parmênides. Ele desenvolve ainda sua teoria do mundo das ideias.
De acordo com essa teoria, no mundo sensível, as coisas existem apenas enquanto
cópias, pois a verdadeira realidade está no mundo das ideias, em que as ideias existem
enquanto essências.
Protágoras foi o mais famoso dos sofistas. Nasceu em Abdera entre 491 e
481 a.C. Sua célebre frase “O homem é a medida de todas as coisas, daquelas que
são por aquilo que são e daquelas que não são por aquilo que não são” aponta
para o aspecto antropológico de sua filosofia. Segundo essa ideia, a ética e os
costumes deveriam basear-se nas normas de juízo construídas pelo homem. O
homem é o critério para a política e para a educação, e não um critério absoluto
que discrimina ser e não ser ou falso e verdadeiro. Em sua educação, Protágoras
buscava fazer com que o jovem aprendesse a criticar e a discutir, pois entendia
que em cada coisa havia a possibilidade de dois raciocínios: em cada coisa seria
possível dizer e contradizer (REALE; ANTISERI, 1990).
Para Reale e Antiseri (1990, p. 77), “A virtude que Protágoras ensinava
era exatamente essa habilidade de saber fazer prevalecer qualquer ponto de
vista sobre a opinião oposta”. Portanto, para Protágoras não há uma verdade
absoluta, pois as verdades são relativas. Da mesma forma, não existem valores
morais absolutos, mas relativos.
Górgias nasceu na Sicília por volta de 485 a.C. Ele escreveu um tratado
chamado Sobre a natureza ou sobre o não ser, em que acentua o pensamento
niilista baseado em três premissas: “O ser não existe, ou seja, existe o nada [...]
se o ser existisse, ele não poderia ser cognoscível [...] mesmo se fosse pensável,
o ser permaneceria inexprimível” (REALE; ANTISERI, 1990, p. 78–79). Se
existe uma verdade absoluta, ela é inalcançável, afirmava Górgias. Mas a
doxa (opinião) também não era uma via que Górgias seguia. Ao contrário:
ele a considerava a mais pérfida das coisas. “Ele procura então um terceiro
caminho, o da razão que se limita a iluminar circunstâncias e situações de
vida dos homens e das cidades” (REALE; ANTISERI, 1990, p. 79).
Como você viu, os sofistas deslocaram o eixo filosófico do cosmos para o
homem. Eles negavam os deuses, rejeitavam a ideia de princípio, criticavam
valores e virtudes dos gregos antigos. Mas, ao voltar suas críticas para a filo-
sofia prática, abriram campo para que se estabelecesse um pensamento sobre
a moral. As bases da filosofia grega antiga foram abaladas com os sofistas por
meio do relativismo, da crítica à verdade e ao não ser. Em síntese, Sócrates
é a tentativa de recuperar as bases sólidas do homem em que a cultura grega
apostava. Com os sofistas, essas bases são sacudidas.
Para Sócrates, a filosofia deveria ser prática, algo que guiaria o homem em
sua vida. Ela deveria ensinar o homem a viver, a conhecer o bem e o mal e a
ter consciência sobre o seu destino. Nos diálogos de Platão, aparece a figura de
Sócrates discutindo conceitos com os sofistas, a quem tanto Sócrates quanto
Platão combateram. Esses diálogos estão escritos na forma de perguntas e
respostas. Alguns dos principais diálogos em que Platão apresenta Sócrates
ensinando são: Fédon, Sofista, O Banquete, Alcibíades e Fedro.
Sócrates abordava as pessoas nas praças e nas ruas exortando-as a melho-
rarem a alma, a cuidarem de si e a aprimorarem a cidade. De acordo com a
obra Apologia de Sócrates, em que Platão trata da condenação e da defesa de
seu mestre, ao abordar as pessoas nas ruas e nas praças, Sócrates realizava
uma missão conferida pelos deuses.
O método que Sócrates utilizava para abordar as pessoas era a maiêutica.
Esse método era indutivo-dialético e utilizado para fazer com que o interlo-
cutor questionasse seu saber, considerado superficial pelo filósofo. Sócrates
buscava um conhecimento crítico. Assim, a maiêutica seria a arte de fazer
com que nascessem ideias.
A finalidade dos diálogos socráticos era chegar até a verdade por meio do
diálogo. Isso envolvia dois passos: a ironia e a refutação. Ou seja, Sócrates
interpelava pessoas comuns e questionava o que elas entendiam sobre deter-
minada ideia. Logo após, ele ironizava tal compreensão, inserindo perguntas
para que o sujeito se complicasse em sua resposta. Depois, Sócrates fazia com
16 Os pré-socráticos e Sócrates
Sócrates fazia perguntas sobre as ideias, sobre os valores nos quais os gregos
acreditavam e que julgavam conhecer. Suas perguntas deixavam os interlocu-
tores embaraçados, irritados, curiosos, pois, quando tentavam responder ao
célebre “o que é?”, descobriam, surpresos, que não sabiam responder e que
nunca tinham pensado em suas crenças, seus valores e suas ideias (CHAUÍ,
2013, documento on-line).
O que Sócrates procurava com seus diálogos? De acordo com Chauí (2013),
ele buscava a verdade, a essência das coisas, o valor. Ele procurava o conceito
e não a mera opinião. A opinião varia de acordo com a pessoa, o lugar e a
situação. Em contraponto, o conceito é imutável, universal e necessário. As
questões de Sócrates diziam respeito àquilo que as pessoas pensavam sobre
si mesmas, mas também àquilo que pensavam sobre a pólis e os valores, que
eram tidos como tradicionais e certos.
O fato de Sócrates realizar uma educação crítica e tratar de assuntos que iam desde
a moral até a política de Atenas incomodou alguns personagens atenienses. No
ano 399 a.C., Sócrates foi condenado à pena de morte por corromper a juventude e
fazer com que ela questionasse a sua época e os valores que vigoravam. Também foi
condenado por não respeitar os deuses ancestrais da cidade e fazer com que seus
discípulos desacreditassem nesses deuses. Por último, foi condenado por contrariar
a democracia ao criticar alguns políticos e dizer que eles não tinham compromisso
com a verdade, mas apenas com a vitória em discussões na ágora (espécie de praça
central da pólis onde ocorriam as discussões sobre a política).
Os pré-socráticos e Sócrates 17
Leituras recomendadas
ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo:
Moderna, 2009.
RODRIGUES, R. As origens egípcias das doutrinas não escritas de Platão. In: Segundas
Filosóficas. 2014. Disponível em: <http://segundasfilosoficas.org/as-origens-egipcias-
das-doutrinas-nao-escritas-de-platao/>. Acesso em: 19 ago. 2018.
VERNANT, J. P. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Difel, 2002.