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Pré-socráticos III

Prof. Marcelo Feijó - Filosofia


Introdução

 Os pré-socráticos buscavam, além de falar sobre a origem das coisas,


mostrar que a physis (naturezas) passava por constantes mudanças e
cosmologia

que essas eram provocadas por alguma coisa que tentavam conhecer.
Por causa das viagens marítimas, da invenção do calendário, da
invenção da moeda, do surgimento das polis, da invenção da escrita e
da política os gregos passaram a perceber que nada ocorria por acaso
e que não existia a interferência de deuses relatados no período
mitológico.
COSMOLOGIA

A cosmologia surgiu como a parte da filosofia


que estuda a estrutura, a evolução e
composição do universo, sendo a primeira
Pensar a realidade

expressão filosófica apresentada no Período


pré-socrático ou cosmológico. Suas principais
características são: a substituição da
explicação da origem e transformação da
natureza através de mitos e divindades por
explicações racionais que identificam as
causas de tais alterações, defende a criação
do mundo a partir de um princípio natural e
que a natureza cria seres mortais a partir de
sua imortalidade.
O princípio de todas as coisas : Arkhé
Os primeiros pensadores centraram a atenção na
natureza e elaboraram diversas concepções de
cosmologia (procurar a racionalidade constitutiva
do universo), explicar, diante da mudança (do
Arkhé

devir) a estabilidade, o uno. Ao perguntarem como


seria possível emergir o cosmo do caos (da
confusão inicial surge o mundo ordenado), os pré-
socráticos buscam o princípio (em grego, arkhé)
de todas as coisas, entendido não como aquilo que
antecede no tempo, mas como fundamento do ser.
Buscar a arkhé é explicar qual o elemento
constitutivo de todas as coisas.
Heráclito(535-475 a.C.)
 Como o próprio nome indica, nasceu na cidade de Éfeso, mereceu lugar
de destaque sendo considerado um dos filósofos mais fascinantes,
apesar de suas ideias meio confusas, por isso recebeu o apelido de “O
Obscuro”. Esse cientista transmitia seus ensinamentos em forma de
jogos de palavras e charadas que levavam as pessoas a pensar, refletir.

 Em razão da forma de expor suas ideias, Heráclito vem provocando


debates acirrados há mais de vinte séculos. Os gregos e romanos já
discutiam sobre ele, e mais tarde foi tema de debates entre cristãos e
muçulmanos. Já na filosofia moderna e contemporânea sempre ressurge
assuntos ligados a esse cientista.
“Nada é permanente, exceto a mudança.”

Arkhé = fogo
 O filósofo possuía um caráter altivo e melancólico, recusou-se a intervir na
política, manifestou desprezo pelos antigos poetas, era contra os filósofos
de sua época e até contra a religião.

 Heráclito nomeou o princípio organizador que governa o mundo de “logos”,


são dele as seguintes frases:

"Da luta dos contrários é que nasce a harmonia.”


“Tudo o que é fixo é ilusão.”
“Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio.”
“Não escutem a mim e sim ao logos.”
“Das coisas surge a unidade. E, da unidade, todas as coisas.”
 Ele queria transmitir a ideia de que tudo que existe é
uma manifestação da unidade da qual o homem faz
parte. As transformações, segundo o filósofo, são
consequências da tensão entre os opostos, da ação e
reação. Segundo ele, o sol é novo a cada dia e o
universo muda e se transforma infinitamente a cada
instante. Para exemplificar, compare essa ideia com os
símbolos taoístas de ying e yang:
Os opostos se completam

 Como se vê, os opostos fazem parte de um único todo,


esse símbolo representa a teoria descrita onde tudo
está em um fluxo constante mantendo uma unidade
absoluta através do “logos”. Esta teria sido a grande
descoberta do cientista: existe uma harmonia oculta
das forças opostas, como a do arco e fecha.
 Heráclito recebeu o nome de filósofo do fogo, por que
defendia a ideia de que o agente transformador é o
fogo: ele purifica e faz parte do espírito dos homens.
Esses conceitos inspiraram os primeiros cientistas que
exploraram na prática a união do material e o imaterial
através do fogo: os famosos Alquimistas.
Parmênides 530 a 460 a.C.

 Parmênides é considerado pelos historiadores da Filosofia como


o pensador do imobilismo universal.
 Em seu poema, Parmênides narra o que disse ter ouvido das
musas que por uma carruagem puxada por corsas, conduzem-no
à luz da verdade (alethéia). A verdade é, pois, o caminho do
pensamento, já que o ser, o que existe é tudo aquilo que pode ser
pensado. Dessa forma, o que não é, o não ser, o que não existe,
não pode ser pensado nem, portanto, dito, sendo este um
caminho ilusório.

O pai da metafísica
 A via da verdade é o pensamento que Parmênides
identifica com o ser. Mas o ser para existir tem de ser
dito, logo, há uma identidade entre SER, PENSAR E
DIZER. Sendo a verdade exclusiva dos deuses, entre
os mortais há a via da opinião (dóxa), causada pelas
ilusões dos nossos sentidos.
 Hoje podemos dizer que a ontologia (estudo sobre o
ser) de Parmênides refere-se a uma lógica material,
como se o discurso estivesse compactado à
experiência física. Assim, podemos ver porque ele
disse que “o ser é, o não ser não é”. O filósofo
apontava para unicidade do ser acreditando que toda
forma de movimento era ilusória (e só Newton, no
séc.XVIII, com a física conseguiu resolver esse
problema!).
 Parmênides julgava o ser uno, imóvel, indestrutível,
ingênito (isto é, incriado, não nascido, não gerado) e
eterno. Segundo seu modo de pensar, o não ser, o nada
não existe e não pode ser nem dito nem pensado.
Portanto, o ser não pode ter surgido, porque ou teria
surgido do nada, o que é impossível, ou teria surgido de
outro ser, justificando que o ser já era e sempre será;
logo, é eterno. Nem também o ser pode se movimentar,
pois se se altera (o movimento em grego era tido como
deslocamento, crescimento, diminuição e alteração) será
outro ser, mesmo continuando a ser e, por isso, dois seres
são impensáveis, apenas um ser é pensável. E se não foi
criado, nem gerado, também não pode ser destruído, já
que se destruído, algo ficará e assim permanecerá sendo.
 Por mais que se possa acreditar que Parmênides seja
o iniciador da lógica, sua lógica ainda é vinculada à
ontologia, isto é, ao ser, não podendo ser considerada
formal. Em linguagem moderna, poderíamos dizer que
Parmênides fala da MATÉRIA, amorfa, de modo geral
e que tudo o que existe é matéria, não podendo existir
o vácuo nem o vazio. E que apesar das suas mudanças
em vários elementos, substâncias, coisas e pessoas,
ela, a matéria, é o princípio uno e total, causa de toda
a realidade.
 Pode-se também pensar que a filosofia de
Parmênides, isto é, a do imobilismo universal ou teoria
do repouso absoluto, foi usada pelas tradições
religiosas (principalmente a cristã) para descrever
Deus e o céu. Notem que, em geral, os mortos são
enterrados com máximas que dizem: “Aqui jaz
(repousa) fulano...”. Deus seria esse princípio Uno e
Todo sem partes divididas ou vazias que deveria ser
compreendido, através do pensamento, como princípio
de todo o conhecimento.
 É também interessante notar como a identidade entre
SER e PENSAMENTO e LINGUAGEM, de Parmênides
também associa-se com a tradição do Antigo
Testamento. Neste, Deus se revela como o VERBO.
Em grego, o verbo é o LÓGOS, é palavra, discurso e
razão. E se para Parmênides o lógos é também o
pensar e o ser, então é a divindade que fala e que
fornece a base para conhecermos, isto é, a via da
verdade é a razão, o lógos divino. Por isso,
Parmênides concebe o ser de forma circular, pois é,
entre os gregos, a forma da perfeição.
FIM

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