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Cursinho Popular Resistência da Ilha

“A mente que se abre a uma nova


Filosofia – Aula 01 - 2019 ideia jamais volta ao seu tamanho
original”. Albert Einstein
Prof. Mônica de Andrade
a

FILOSOFIA ANTIGA

O surgimento da filosofia na Grécia Antiga, em torno do séc. V a.C. foi denominado “o milagre grego”
por alguns historiadores. Mas que novidade era essa? O que faz do pensamento racional uma
mentalidade diferente da forma anterior de pensar e interpretar o mundo?
Por volta do séc. VI a.C., as cidades-Estado gregas ainda viviam sob o regime aristocrático, no qual
o poder era transmitido hereditariamente. Os aristocratas eram considerados descendentes dos deuses
e concentravam o poder militar, governando através da Ecclesia, uma espécie de assembleia que
legislava e julgava. Especialmente Atenas, nesse período, vivia uma crescente prosperidade econômica
dos comerciantes e agricultores que ansiavam por poder político, pois eram explorados e sentiam-se
injustiçados pela aristocracia. Conflitos sucederam-se e graças às reformas políticas de legisladores
como Sólon e Clístenes esses conflitos foram amenizados ampliando a participação política aos
cidadãos atenienses. Surgia a Democracia. Nesse contexto, o exercício do poder dependia de uma
atividade nova, que ganhava cada vez mais relevância: saber usar a palavra a fim de convencer um
público, argumentar, ser um bom orador. A lei passa a ser uma construção coletiva, elaborada segundo
critérios racionais e avaliada por muitos (muito parecido com os moldes não só da política atual, mas
também da comunidade científica internacional!). Uma mentalidade nova começa a surgir.
Questionamentos sobre a melhor forma de governo. A dúvida acerca do que era dado como certo no
senso comum. A admiração com a observação dos fenômenos naturais. O raciocínio lógico, a busca
de uma unidade que desse ordem à diversidade. Tudo é Um!
Uma nova forma de captar o sentido das coisas por meio da observação daquilo que os cinco
sentidos podem colher: a razão (em grego, logos). Em grego, a palavra logos designa tanto a
capacidade humana de conhecer, como a razão de ser das coisas, a ordem do universo. Os primeiros
filósofos inauguram o que os especialistas chamam de correspondência da razão do mundo com a
nossa razão pessoal.

MITO RAZÃO
Discurso narrativo, alegórico, predominantemente Discurso argumentativo, racional,
oral. predomina a escrita.
Crenças dogmáticas, inquestionáveis. Raciocínio dedutivo, criticável,
Pluralidade de causas irracionais para os observação (theorós) da natureza (physis).
fenômenos.
Cosmogonia: conta a história da gênese do mundo Cosmologia: busca explicar a essência, a
arché ou princípio constitutivo da realidade
Fontes tradicionais, Poetas: Hesíodo, Filosofia, geometria, astronomia,
Homero, Sófocles. matemática, historiografia.
Utiliza-se de fábulas e recursos artísticos para Elabora respostas lógicas, coerentes e racionais
orientar o comportamento segundo tradições. para os problemas humanos.
Contexto político: aristocracia Contexto político: democracia

Pré-Socráticos

A filosofia pré-socrática se preocupava fundamentalmente em explicar o princípio das coisas, a substância


(physys) primordial do universo, denominada nessa corrente filosófica de arché. É importante ressaltar que
a filosofia, o pensamento racional não rompeu bruscamente com o pensamento mítico. Certas
estruturas de pensamento arcaicas permanecem até hoje, tanto no senso comum, quanto na própria tradição
científica e filosófica.

Tales de Mileto: considerado o primeiro filósofo grego, propôs ser a água o elemento primordial do universo.
Como arché, princípio vital, a água tudo penetra e tudo anima, é pela diferenciação da água que tudo se
forma. No que sobrou de seus escritos, encontra-se a expressão “Tudo está cheio de deuses”, pois entendia
a água também como alma ou psyché, não fazendo divisão entre o sagrado e o profano. Considerada a
primeira concepção monista da filosofia, pois sintetiza toda a multiplicidade da realidade em um único
princípio ou realidade fundamental.

Anaximandro de Mileto: como discípulo de Tales,


Anaximandro pensou que a arché deveria ser algo mais
abstrato, não representável por uma substância material.
E propôs o conceito de ápeiron (em grego, o
indeterminado, indefinido). Através de processos
naturais de diferenciação de contrários, evaporação, o
ápeiron, “massa geradora” dos seres e do cosmos,
estende-se infinitamente no espaço, mantendo o
cosmos num processo de compensações cíclicas entre contrários (como as estações do ano).

Anaxímenes de Mileto: buscou uma síntese entre os dois mestres anteriores. Embora não concordasse
com um princípio tão denso como o de Tales, também afirmou que a arché não poderia ser algo tão fora dos
limites do observável. Assim, chegou à concepção do ar como princípio de todas as coisas. O universo seria
uma espécie de respiração gigante, com o ar (infinito e ilimitado) se condensado e rarefazendo, constituindo
assim todos os elementos formadores da physis.

Pitágoras de Samos: profundo estudioso da matemática, defendeu que tudo é número. Conta-se que, para
chegar a essa tese, primeiro teria percebido que à harmonia dos acordes correspondiam certas proporções
aritméticas. Unindo essa suposição aos seus conhecimentos de astronomia, concebeu a ideia de um cosmo
harmônico regido por relações matemáticas. Observe que, pela primeira vez na história, se introduz um
elemento formal, fundado na ordem e na medida, como explicação da realidade.
Os pitagóricos também associaram essa concepção a uma visão espiritual, mística, da realidade. Praticaram
um estilo de vida baseado na crença de que a alma é prisioneira do corpo e dele se libera após a morte,
podendo reencarnar-se em uma forma de existência mais elevada, dependendo do grau de crescimento e
virtude que a pessoa tivesse alcançado. Assim, para eles, o objetivo primordial da existência era o de purificar
a alma e elevar suas virtudes. Tal doutrina exerceu profunda influência sobre Platão e o platonismo.

Heráclito de Éfeso: diferente dos milésios, concentrou-se no que muda: tudo flui, nada persiste nem
permanece o mesmo, “não podemos entrar duas vezes
no mesmo rio”. É considerado por historiadores como o
primeiro teórico do pensamento dialético, pela
importância que atribuiu à mudança e à luta dos
contrários em seu pensamento: “a luta (guerra) é a mãe,
rainha e princípio de todas as coisas”, “Este mundo, que
é o mesmo para todos, nenhum dos deuses ou dos
homens o fez, mas foi sempre, é e será, um fogo
eternamente vivo, que se acende com medida e se apaga com medida”.

Parmênides de Eléia: defendeu que grande equívoco cometem as pessoas e os sábios ao concederem
demasiada importância aos dados dos sentidos. Como se poderia buscar a essência em algo transitório? Ou
supor que algo permanente pudesse transformar-se em algo impermanente. Resolveu dar ouvidos à pura
razão e defendeu: “o ser é e o não-ser não é”. Em vista dessa formulação, Parmênides foi considerado o
primeiro filósofo a expor o princípio de identidade (A=A) e de não-contradição (se A = A, é impossível que,
ao mesmo tempo, e na mesma relação, A = não-A), cuja argumentação depois será bem desenvolvida na
lógica de Aristóteles.

Empédocles: aceitava a ideia de Parmênides que afirma a permanência do ser, mas procurava uma forma
de articulá-la com os dados dos sentidos. Defendeu a existência de quatro elementos primordiais: a terra, o
fogo, a água e o ar. Em função de duas forças primordiais, o amor (philia, em grego, força de atração, união
e harmonização das coisas) e o ódio (neikos, em grego, força de repulsão, destruição , desagregação e
decadência), os quatro elementos formariam toda a realidade, toda a diversidade infinita de formas do
cosmos.

Demócrito de Abdera: destacou-se na busca pela arché por propor o modelo do átomo (a=não, tomo
=divisão, parte). Junto com seu mestre, Leucipo, foi responsável por fundar a doutrina atomista. Concordava
com a necessidade da permanência e plenitude do Ser, mas não aceitava que o não-ser fosse uma ilusão.
Para ele, o não-ser era justamente o vazio entre os átomos, evidenciado pelo movimento, que não seria
possível, segundo ele, se não houvesse o vazio.

Como ele considerava que “nada nasce do nada e nada retorna ao nada”, tudo tem uma causa, os átomos
são a causa última do mundo. Essa arché tem um caráter bastante materialista, para alguns intérpretes do
pensamento de Demócrito. Nesse sentido, sua concepção seria mecanicista, pois o movimento dos átomos
ocorreria tal qual o movimento de uma máquina, sem uma finalidade superior e transcendente, como que ao
acaso, ou pela simples causalidade do movimento anterior.

QUESTÕES
1.(ENEM2017) A representação de Demócrito é semelhante à de Anaxágoras, na medida em que um infinitamente
múltiplo é a origem; mas nele a determinação dos princípios fundamentais aparece de maneira tal que contém aquilo
que para o que foi formado não é, absolutamente, o aspecto simples para si. Por exemplo, partículas de carne e de
ouro seriam princípios que, através de sua concentração, formam aquilo que aparece como figura.
HEGEL, G. W. F. Crítica moderna. In: SOUZA, J. C. (Org.). Os pré-socráticos: vida e obra. São Paulo: Nova Cultural, 2000 (adaptado).

O texto faz uma apresentação crítica acerca do pensamento de Demócrito, segundo o qual o “princípio constitutivo
das coisas” estava representado pelo(a)

A) número, que fundamenta a criação dos deuses.


B) devir, que simboliza o constante movimento dos objetos.
C) água, que expressa a causa material da origem do universo.
D) imobilidade, que sustenta a existência do ser atemporal. E átomo, que explica o surgimento dos entes.

2.(ENEM2015) A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água é a origem e a
matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e leva-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro
lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imaginação
e fabulação; enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado de crisálida, está contido o pensamento:
Tudo é um. NIETZSCHE, F. Crítica moderna. In: Os pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

O que, de acordo com Nietzsche, caracteriza o surgimento da filosofia entre os gregos?

A) O impulso para transformar, mediante justificativas, os elementos sensíveis em verdades racionais. O desejo de
explicar, usando metáforas, a origem dos seres e das coisas.
B) A necessidade de buscar, de forma racional, a causa primeira das coisas existentes.
C) A ambição de expor, de maneira metódica, as diferenças entre as coisas.
D) A tentativa de justificar, a partir de elementos empíricos, o que existe no real.

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